PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 26 de abril de 2013.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 26 de abril de 2013.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: MILTON COSTA
Milton Costa é piracicabano, nascido a 6 de
fevereiro de 1967, filho de José Costa e Maria Regina Paulino Costa que tiveram
cinco filhos: Paulino, Milton, Vanderlei, Carlos Alberto e Luiz Fernando. Milton
é casado com Silvana Aparecida Rodrigues, é pai de Caroline, Pedro Henrique,
Amanda Beatriz e Gabriel.
Qual era a atividade do seu pai?
Era
caminhoneiro, trabalhava na Monflex.- Industria
de Moveis Estofados Monflex. Ltda.
Ele era conhecido por “Zélão”. Ele dirigia um caminhão Mercedes-Benz, modelo
conhecido popularmente como “Cara Chata”, furgão. Na época morávamos na Rua
Ipiranga, próximo a MAUSA. Freqüentamos muito o Oratório Dom Bosco, próximo ao
SENAI, isso na época do Padre Bordignon (Padre
Luiz Ignácio Bordignon Fernandes, nascido em Brazópolis, MG em 20/04/1921 e
falecido em Araras no dia 22/03/2006). Freqüentávamos as missas, onde
ganhávamos pontinhos pela freqüência e no final do ano ganhávamos prêmios. Sou
oratoriano dessa época.
Havia incentivo à pratica de
esporte?
O esporte era
muito incentivado! Lá foi um caminho muito abençoado na nossa vida. Éramos
cinco irmãos, cinco crianças de uma família pobre. O Oratório Salesiano Dom
Bosco é uma historia de Domingos Sávio que acolhia as crianças da rua e levava
para Dom Bosco dar ensinamentos salesianos. Nós aprendíamos as orações e depois
fazíamos a prática de esporte. O sonho do oratoriano era ser salesiano. Era ser
estudante do Dom Bosco. Era uma escola particular de elite. Como freqüentadores
do oratório entravamos umas três horas da tarde, o padre nos levava para as
quadras. Havia as quadras para os oratorianos e para os salesianos. Em alguns
momentos ambos os grupos usavam as mesmas quadras. Esse padre conseguiu uma
área só para os oratorianos, deixou a parte de cima para os salesianos. Ele
ainda conseguiu um espaço onde fez salão de jogos para os oratorianos, snooker,
xadrez, ping-pong.
A disciplina talvez tenha sido uma
dos fatores muito importantes nessa convivência?
Foi maravilhosa!
Foi o que deu Norte para sermos uma pessoa do bem! O Oratório Salesiano
recuperou muita criança! Quando eu tinha oito anos a minha mãe faleceu. Meu pai
lutava pela sobrevivência, viajava muito dirigindo o caminhão. Quando perdi a
minha mãe estava interno em um colégio em Ferraz de Vasconcelos.
Como você foi parar lá?
A minha mãe vendo
as dificuldades que enfrentávamos aqui em Piracicaba, decidiu mudar-se para São
Paulo, levando consigo os cinco filhos. A princípio fomos morar no bairro Barra
Funda, havia uma empresa que era ligada a Martini, fábrica de doces. Minha mãe
foi trabalhar lá. Não era possível ela trabalhar levando ao serviço os cinco
filhos juntos. Um dos filhos ficou
morando na casa do meu avô Benedito Paulino Filho, uma personalidade muito
conhecida em Piracicaba pelos famosos bailes que promovia. Meu avô era o famoso
“Bidito”! Uma das minhas tias, Vilma Paulino, sensibilizada com a nossa
situação foi nos buscar, assim voltei a morar em Piracicaba na Rua Bernardino
de Campos, 802, em frente ao Palmeirinha. Nessa época eu tinha de 12 a 13 anos. Eu já tinha
freqüentado anteriormente a escola no Grupo Escolar Barão do Rio Banco, na Rua
Governador Pedro de Toledo, em Piracicaba, isso quando morava na Rua Ipiranga,
vi construir o Teatro Losso Netto. Brincávamos lá na época. Do Grupo Escolar
Barão do Rio Branco fui estudar no Grupo Escolar Dr. Alfredo Cardoso. Por uma
temporada fomos morar na casa do Tio Dirceu, ele era pintor de paredes. Com
muitas crianças na mesma casa, nós acabamos indo para a Casa do Bom Menino.
O que era a Casa do Bom Menino?
Uma
instituição que agrega crianças de rua, abandonados pela família. Vinha muita
criança da FEBEM ( Fundação do Bem Estar do Menor) de São Paulo para
Piracicaba. Tanto que encontrei alguns meninos que haviam estado comigo na casa
de Ferraz de Vasconcelos aqui na Casa do Bom Menino. Isso depois de muitos
anos.
A Casa
do Bom Menino acolhia só crianças abandonadas ou também crianças problemáticas?
Acolhia
a todos. Funcionava mais como um orfanato. Não era abrigo específico de menores
infratores. Eram crianças que por inúmeras razões estavam abandonadas a própria
sorte. Tivemos em Piracicaba outra instituição que por muitos anos acolheu e
educou crianças nessas condições, que foi o Lar Franciscano de Menores. Assim
como havia para as meninas o Lar Maria Nossa Mãe.
Com o
advento do polêmico Estatuto da Criança e Adolescente essas instituições
simplesmente foram extintas?
Foi
isso mesmo. No Lar do Bom Menino tínhamos um bom time de futebol.
Em que
posição você jogava?
Jogava
de meio direita. Eu era muito rápido e tinha o raciocínio rápido em campo.
Nesse
período em que permaneceu na Casa do Bom Menino você chegou a fazer algum
curso?
Estudava
na Escola
Estadual de Primeiro Grau Prof. Augusto Saes. A Casa do Bom Menino situava-se na Rua Machado de
Assis. Próximo ao Jardim Elite. Acordava as seis horas da manhã, ia até ao
Augusto Saes e depois ia até a Casa do Bom Menino. Era semi-interno. Eu dormia
na casa do meu tio e passava o dia na Casa do Bom Menino. Lá existia o curso de
marcenaria, a Philips mandava as bobinas para serem trabalhadas, havia a
serralheria. Conforme a vocação, um seguia um aprendizado. Os que gostavam de trabalhar
com móveis trabalhavam na marcenaria. Os equipamentos eram projetados para
oferecer a segurança adequada. Nessa época eu já estava com 16 a 17 anos.
Você
se identificou com qual atividade?
Eu
gostava de trabalhar com a Philips, era para passar quatro voltas de um fio em
uma bobininha, fazia 100, 200, isso rendia um dinheirinho bom. Eu gostava
também da marcenaria e do esporte. Havia um professor de educação física que
além de aulas regulares proporcionava também o jogo de futebol. Portanto eu
tinha o ensino regular na Escola Augusto Saes, almoçava na Casa do Bom Menino,
As cinco e meia já tinha tomado banho, jantado e estava pronto para voltar para
casa. Com o passar do tempo ia permanecendo cada vez mais na Casa do Bom
Menino, lá estavam meus amigos. Com o decorrer do tempo passei a ser interno da
Casa do Bom Menino.
Você
acha que se não tivesse esse apoio da Casa do Bom Menino sua vida poderia ter
seguido um rumo diferente?
Lá
aprendemos a seguir regras e a ter disciplina. Em nosso meio havia menores
infratores, que também seguiam as orientações que nos eram dadas. Só que éramos
adolescentes, oriundos das mais diversas origens, com formações familiares
distintas, era um convívio que às vezes gerava pequenos conflitos entre nós
mesmos. Quem zelava para que a ordem fosse mantida era o diretor Antonio Carlos
Danelon, o Totó, assistente social da Prefeitura Municipal. Ele sucedeu o
Mineirão, que tinha métodos extremamente rígidos com os jovens. O Paulino,
jogador do XV de Novembro, foi coordenador nosso na parte esportiva. O Paulino
era uma referência para nós, ele tinha sido jogador do Santos. Até hoje o Totó
me chama de filho! Lá que ele conheceu sua esposa Sueli. Era um período da
nossa vida em que como jovens estávamos formando nossa personalidade. Tempo em
que todos ambicionavam ter uma calça Lee, Lewis. Tínhamos a ânsia natural da
idade em nos auto-afirmarmos. Só que tínhamos que trabalhar. Posso afirmar que
o melhor conselho é o exemplo que recebemos de outras pessoas. Você sente que
realizar ou dizer algo errado é mais difícil.
Com
que idade você saiu da Casa do Bom Menino?
Sai de
lá com uns 18 anos. Fui ser servente de pedreiro, por um tempo voltei a morar
com a minha tia, depois acabei morando na rua. Dos 18 aos 20 anos fui morar na
rua. Ao lado da antiga revenda Chevrolet, a Colina, havia os ônibus da Viação
Prisma, havia um muro enorme do Posto dos Furlan, meu pai ficava com o caminhão
lá, passei a morar dentro do caminhão, só que ele tinha que sair cedo para
carregar o caminhão, e eu tinha que acordar cedo e sair do caminhão. Com o
passar do temo nós pulávamos o muro e dormíamos dentro dos caminhões da CCNC-
Comércio de Combustíveis Noiva da Colina. Eu passei a trabalhar como frentista
no posto de gasolina situado na Avenida Saldanha Marinho, eu tinha uns 20 anos.
Fiquei uns três anos trabalhando no posto. Fui trabalhar em uma empresa de
comércio de combustíveis, meu serviço era o de limpar piche desses tanques que
são colocados no solo e funcionam como depósito de combustíveis de postos de
gasolina. Eu tinha que tirar aquele piche com querosene.
Pelo
lado externo ou interno do tanque?
Entrava no do tanque, sozinho, sujeito a um mal súbito, era
um ambiente bastante tóxico, sem ventilação, usava uma mascara de enfermagem,
botas, bermuda e sem camisa. Depois voltei a trabalhar no posto de gasolina.
Embora trabalhasse aos sábados até as oito horas da noite o salário era melhor
e o serviço mais saudável. Após algum tempo, com uns 22 anos, fui morar no
bairro rural Limoeiro, adiante de Artemis.
Como você foi parar no Limoeiro?
Eu tinha amizade com um grupo que era da família Broggio,
eram proprietários da indústria Santin, eles tinham uma chácara onde sempre
tinha festas e eu freqüentava. Em um carnaval teve uma festa, acabei perdendo a
hora de trabalho no posto de gasolina, perdi o emprego. Passei a trabalhar para
a família, como trabalhador rural, cuidando de porco, do jardim, era um serviço
mais sossegado, a alimentação era melhor. Morei na Fazenda Santo Antonio por
quatro anos mais três anos na chácara. Foi na fazenda que aprendi a trabalhar
com implementos agrícolas, domar cavalos, cuidar de gado.Curava bezerros, por
uma ano tratei de um touro nelore que tinha tido uma briga com um touro
holandês. Ganhei experiência em aplicar injeções em animais. Voltei
para a cidade, fui trabalhar na Nechar
em Rio das Pedras, saia as 4:15 da manhã de casa, pegava o ônibus da
empresa as 5 horas da manhã na Avenida Armando Salles, tinha voltado a morar
com minha tia Vilma, na Rua Bernardino de Campos. Essa minha tia foi
importantíssima na minha vida. Meu irmão mais velho nos deixou, foi seguir a
carreira esportiva. Eu fiquei com a incumbência de olhar pelos meus irmãos. Na
Nechar eu era terceirizado através de uma agência de Piracicaba, fui admitido
como funcionário da Nechar para trabalhar no estoque da empresa. Lá eu vi a
primeira greve na minha vida. Fui convidado a voltar a trabalhar na Fazenda
Santo Antonio, no Limoeiro. Voltei. Só que a minha visão sobre as coisas eram
diferentes, as coisas tinham mudado na fazenda. Voltei a morar com a minha tia.
Lembro-me que teve um domingo em que chorei o dia inteiro. Identifico-me muito
com o problema de outras pessoas. Na segunda feira consegui trabalho na
Gramarmo, de propriedade de José Benedito Longo. Ele me deu uma oportunidade,
eu cortava aproveitamento. Pedrinhas de 10X10; 5X5 centímetros. E assim por
diante. Eu não era serrador, era ajudante. Trabalhava em máquinas perigosas
como serrador e cortando aproveitamento sem experiência nenhuma. Fui pleitear
meu direito, o serrador tem o melhor salário de uma marmoraria. Vendo meu nível
de trabalho, colocaram-me no acabamento, na entrega, Sai da serra, que era uma
qualificação profissional em que deveria ter sido mantido e passei a ser
ajudante de entrega. Fui conhecer o mundo. A empresa era muito forte. A
Gramarmo tinha até premiações concedidas por órgãos do setor de rochas e
granito. Fizemos o serviço de mármore na casa do banqueiro dono do Banco Safra,
em São Paulo. Colocamos
muito mármore em mansões nos bairros Morumbi, Interlagos.
Você chegou a fazer um trabalho em que abaixo do piso de
mármore havia uma serpentina de cobre para aquecimento do mármore no inverno?
Fizemos esse trabalho na mansão do Jair Coelho, “Rei das
Quentinhas”, no Rio de Janeiro. (Famoso fornecedor de refeições que servia a 6.500 presos do Estado do Rio de Janeiro) Era mármore transparente, mármore-ônix, importado. Durante
essas viagens ficava hospedado em hotel. Permaneci na Gramarmo por uns seis anos. Fui
trabalhar na Casarin, logo em seguida trabalhei na Marmo
Itália Mármores
E Granitos Ltda. Fui convidado por um sindicalista de Campinas de nome Alcides
e por Sebastião Antonio de Moraes. O sindicato existe desde 1947. Em 1999 vim
prestar serviços no sindicato. Em 2003 assumiu a presidência do sindicato Edson
Batista dos Santos que exerceu dois mandatos. Em 25 de agosto de 2010, após
eleito, assumi a presidência do sindicato.
Quantos diretores tem o sindicado?
São 16 diretores, sendo que 14 permanecem trabalhando nas
respectivas empresas e apenas dois estão afastados dedicando-se exclusivamente
ao sindicato. Temos um grupo de 15 funcionários que trabalham no sindicato. No
período em que o Edson foi presidente assumi a pasta da Co-Emprego, do Conselho
de Saúde, Comitê Permanente Regional sobre Condições e Meio Ambiente do
Trabalho na Indústria da Construção – CPR, Comsepre (Conselho Municipal de Prevenção de Acidentes do Trabalho), Comitê Permanente Nacional – CPN e a Feticom- SP (Federação dos
Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário no Estado de São
Paulo) onde fui diretor regional, diretor de formação e hoje sou diretor
tesoureiro.
Você tem um lema?
Tenho: “Quem quer faz, que não quer fazer cria problemas”,
esse ditado me foi passado pela minha tia-mãe, a tia Vilma. Ela disse isso em
uma ocasião em que argumentei algo sobre a dificuldade em fazer determinada
tarefa Nunca mais esqueci isso na minha vida. Por isso fiquei um pouco
arrojado. Somos o que desejamos ser.
Quantos associados existem no sindicato?
Começamos no ano 2.000 com 380 associados. Hoje temos 6.500
associados com carteirinha, de um total de 11.000 sendo que a Categoria Geral
de Trabalhadores são 20.000 trabalhadores.
Qual é a região que abrange o SINTICOMPI?
Abrange São Pedro, Águas de São Pedro, Santa Maria da Serra,
Ipeuna, Charqueada, Rio das Pedras, Anhembi, Torrinha. Estamos abrindo sub-sede
em São Pedro
e outra sub-sede em Rio das Pedras. Há um projeto de 2016 sair de Santa Maria
da Serra a primeira barcaça. Essa é a promessa dos governos estadual e federal.
O SINTICOMPI oferece uma série de cursos e campanhas aos seus
associados, pode citar alguns?
Temos um grande número de cursos de formação profissional,
além de campanhas como a do fim da marmita.
A mulher está despontando no setor da construção civil?
Tivemos no passado na direção uma mulher. Hoje o sindicalismo
é muito dinâmico e muitas vezes exige estar fora de casa, o que nem sempre é
possível a mulher que acumula tarefas, profissionais e domésticas. No canteiro
de obra a presença da mulher já é uma realidade.
Como é a relação da mulher com relação aos colegas do sexo
masculino?
Esse é um dos primeiros impactos. Por natureza a mulher é
mais dedicada aos estudos do que o homem. Ela tem a sensibilidade mais apurada.
Ela vai para o canteiro de obras com grande s vantagens sobre o elemento
masculino.
A mulher realiza serviços com mais perfeição do que o homem?
Faz. E ela assume a responsabilidade pelo que faz. Ela se
propõe a desafios, temos mulheres que trabalham em cadeirinha de balanço
fazendo pinturas externas em prédios. O SINTICOMPI é um sindicato participativo, um sindicato
cidadão. Oferecemos aos associados colônia de férias, dentistas, Cabeleireiras,
médicos, advogados, oftalmologistas, cursos de computação. Nosso desejo é “Peão
não! Cidadão!”. Esse é o nosso projeto na saúde, segurança e direito
relacionado ao trabalho. Através do sistema “S” de serviço, como se trata da
indústria da construção, temos o SESI como ponto de lazer. Temos dentro das
instalações do sindicato um curso de alfabetização para os associados, temos a
ConsFort, que é uma parceria terceirizada, onde qualquer pessoa interessada
pode participar, é um curso livre, sem custo, com os cursos de Mestre de Obras,
Pedreiro de Alvenaria, Pedreiros de Revestimento Argamassa, Pedreiros Pisos
Cerâmicos, Paisagismo, Controladores Lógicos Programáveis, Comandos Elétricos,
Eletricista Instalador (Predial), NR 10, NR 10 Reciclagem. O maior piso
salarial da categoria no Estado de São Paulo é o de Piracicaba.
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