domingo, agosto 07, 2011

PAULO ROGÉRIO ARANTES

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 30 de julho de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: PAULO ROGÉRIO ARANTES
A Escola de Música de Piracicaba “Maestro Ernst Mahle” é um patrimônio cultural de inestimável valor para Piracicaba. Desde os seus primórdios, contando com nomes importantes da cultura piracicabana, entre outros: Leandro Guerrini, Maria Olívia e Dr. Nelson Ferraz Meirelles, Maria Dirce de Almeida Camargo, ela notabilizou-se por reunir pessoas com apurada sensibilidade á musica. Ernst e Maria Aparecida Mahle é um casal cuja dedicação de quase cinco décadas consolidou o sonho dos pioneiros. Abnegados, dedicaram todos seus esforços para formar uma cultura musical na cidade. De forma muitas vezes anônima, aplicaram recursos pessoais em prol da causa, jamais tiveram qualquer espécie de remuneração pelos serviços prestados mesmo ocupando cargos de direção. Com absoluta certeza Ernst e Maria Aparecida são os grandes patronos da expressiva importância que Piracicaba ganhou no cenário internacional da música. Para certificar-se disso basta olhar quantos alunos que se iniciaram na Escola de Musica de Piracicaba e hoje são estrelas de grandes orquestras nos mais diversos pontos do planeta. O árduo trabalho do casal Mahle, coadjuvado por inúmeros piracicabanos a cada dia traz mais resultados, provando que investimento em educação a médio e longo prazo é a opção correta. Neste mês de julho, Piracicaba sediou o II Festival Internacional de Música Erudita de Piracicaba. Foi extremamente gratificante á cidade poder assistir as apresentações de alguns ex-alunos da escola que atuam profissionalmente nas mais afamadas orquestras do exterior, entre eles Paulo Rogério Arantes. Nascido em 3 de dezembro de 1956 na vizinha cidade de Americana, filho de Odilon Martins Arantes, protético, e Mercedes Argentim Arantes.
O senhor passou a morar em Piracicaba em que ano?
Em 1971 nossa família mudou-se de São Paulo para Piracicaba, viemos morar em uma casa situada na Rua Treze de Maio esquina com a Rua Benjamin Constant. Tive o privilégio de estudar em um ginásio denominado GEP-3 Ginásio Estadual Pluricurricular, a intenção era proporcionar uma cultura mais abrangente aos alunos, isso incluía o ensino de música e artes plásticas. Lá aprendi a tocar um pequeno instrumento, uma flauta Bloch, mais conhecida como flauta doce. Passei a estudar no Ginásio Dr. Jorge Coury, ao comparar com a escola de onde eu vinha achei esta escola muito chata. Naquela época meninos e meninas que estudavam no Jorge Coury no horário do recreio não se misturavam, cada qual ficava em determinada área do pátio, o mesmo procedimento era adotado ao dirigirem-se ás classes, primeiro entravam as meninas, depois os meninos. Isso foi em 1972. Decidi um dia levar a minha flauta e tocar no período de recreio. Sentei em um cantinho e passei a tocar. A Professora Jandira Ramos, professora de música, passou, me viu e perguntou: “Você gosta de música?”. Disse-lhe que gostava muito. Ela então me perguntou se eu gostaria de me aprofundar no estudo de musica, ao que lhe respondi que estava além das minhas possibilidades, arcar com o custo de uma escola de musica. Ela disse-me: “-Aqui há uma escola de música que dá bolsa de estudo se você for aprender a tocar algum instrumento raro!”. Perguntei-lhe o que era um instrumento raro, e sua resposta foi: “-Fagote, Oboé!” Eu não sabia que tipos de instrumentos eram! Fui com a Professora Jandira Ramos até a Escola de Musica, a secretária disse que havia uma bolsa de estudos para oboé. Ai entra Ernst Mahle na minha vida, fiz o teste, passei e comecei a estudar oboé na Escola de Musica de Piracicaba, hoje Escola de Musica de Piracicaba Ernst Mahle.
Quem foi o seu primeiro professor de oboé?
Foi José Davino Rosa, de São Paulo, me ensinou muito. Parte da pedagogia do Mahle era colocar os alunos tocando em grupo. Após três ou quatro meses de estudo de oboé ele me colocou na orquestra infantil, com 30 a 40 componentes com idade de 7 a 14 anos. Diariamente eu saia do Colégio Jorge Coury, onde estudava na parte da manhã, ia á Escola de Musica onde permanecia o resto do dia.
Qual era impressão dos seus pais com relação ao fato do senhor permanecer por tanto tempo estudando musica?
Meu pai gostava um dia ele ficou preocupado, achava que eu não me alimentava bem. Na verdade à noite eu comia bem. Meus pais me apoiaram muito, embora eu ache que no começo eles não imaginavam que eu me tornaria um musico profissional, e naquela época nem era esse o meu objetivo. Fui para conhecer e acabei gostando. Em 1975 eu já estava em certo nível, foi na época dos festivais de férias, que eu acho uma época de ouro, havia muito incentivo do governo para o acontecimento desses festivais, vinham do exterior professores extraordinários. Em Piracicaba havia o Concurso Jovens Instrumentistas do Brasil, instituído pelo Mahle e Da. Cidinha. Fiz a segunda, terceira e quarta edição nos anos de 1973, 1975 e 1977. Eles tinham dividido o concurso em vários ciclos etários, entrei no segundo ciclo, onde enfrentei instrumentistas com mais tempo de oboé. O objetivo não era ganhar um premio e sim participar, e através dessa participação fazer um programa, isso motivou uma aceleração do progresso técnico, tinha que estudar muito mesmo, e as peças não eram fáceis, vinha participantes de todo Brasil. Em 1974 ocorreu o Festival de Campos de Jordão, que naquele ano foi em São Paulo, e do qual eu participei e gostei muito, realizou-se no Teatro Municipal de São Paulo. Tive o privilégio de participar do concerto final, o professor gostou do meu trabalho e me colocou para tocar a Nona Sinfonia de Beethoven. Em 1975 ocorreu um festival em Curitiba, que foi chave para a minha carreira. Da Alemanha veio o professor Ingo Goritzki, que dava aula em Hanover, fui junto com Luiz Carlos Justi. Éramos oito alunos na classe do professor Ingo, esses festivais tinham como praxe cada aluno tocar uma peça, ele disse que não iríamos tocar a peça, pois isso não adiantaria nada se não soubéssemos a base. Em junho de 1976 ele veio á Brasília, fui até lá, no final do ano Ingo veio á Salvador eu estive lá, em 1977 ele veio a Curitiba, para onde fui de novo e ele me deu uma carta para ir para a Alemanha. Foi decisivo, com ele fui aprendendo, seu objetivo era de formar uma escola de oboé no Brasil. Muitos oboístas que estão hoje por ai foram alunos dele.
Quem patrocinava?
Eram bolsas! Acredito que com as relações que o Mahle tinha no mundo musical e com o bom currículo que tínhamos conseguíamos bolsas, esses festivais eram caros, a mensalidade do meu curso custava o dobro do salário do meu pai. Com a vinda do Ingo todos nós começamos a focalizar a Alemanha. O Luis Carlos Justi foi o primeiro dos oboístas bolsista do DAD que é o organismo de intercâmbio acadêmico da Alemanha, ele foi estudar na classe de Ingo Goritzki. Após receber a carta convite de Ingo fiz o pedido de bolsa, passei a me preparar para ir, tinha que fazer o programa, realizar exames. O irmão do Luis Carlos, o Paulo Justi era professor de biologia no Mello Ayres e aos 25 anos resolveu aprender a tocar fagote. Um dia por acaso, fomos á Praça da Catedral e com um flautista, Cristhian, tocamos, descompromissadamente. Após apresentarmos várias peças, um senhor começou a conversar conosco, pediu para tirar uma fotografia. Não sabíamos, ele era do Jornal de Piracicaba, e publicou um artigo a respeito da nossa apresentação. No domingo seguinte tocamos novamente, o mesmo senhor voltou, e perguntou qual era a nossa finalidade em tocar em praça pública aos domingos. Dissemos então que era para mostrar outro tipo de musica, diferente do samba e ritmos populares. Tocávamos Vivaldi, Bach. O Paulo teve a iniciativa de dizer: “Nós estamos a vontade, quase Ad libitum”. (Ad libitum é uma expressão latina que significa "à vontade”). Esse virou o nome do trio. Na época havia o empréstimo compulsório de 16.000 cruzeiros para o turista que fosse viajar ao exterior. O Paulo, o Cristhian e eu queríamos ir para a Alemanha, mas não tínhamos o dinheiro para realizar esse empréstimo compulsório. Em 1977 houve em Piracicaba o concurso Jovens Instrumentistas, na banca estava um senhor chamado Guniov, que era da Radio Bremen da Alemanha, e amigo da família de Cristhian. Ele nos deu um convite para tocarmos na rádio. Decidimos usar esse convite para sermos dispensados do Depósito Compulsório. Passamos a cuidar dos papéis para a viagem á Alemanha, ocorreram muitas passagens anedóticas em nossa peregrinação pelos mais diversos órgãos oficiais responsáveis pela concessão da isenção do depósito. Fizemos inúmeras viagens á São Paulo, e conhecemos o zelo extremo pela burocracia existente na época. Quando tudo parecia ter chegado ao fim aparecia uma nova solicitação de preenchimento de novos documentos ou autorizações oficiais. O auge foi ter que pedir a assinatura do Secretário da Cultura, do Estado de São Paulo, algo que o funcionário que nos atendia julgava impossível. Felizmente conseguimos, nesses postos há também pessoas dispostas a ajudar. No dia 5 de dezembro seria feita a viagem á Europa, fizemos os papeis, mas estava tudo acertado de nessa oportunidade eu não iria, em função do custo do vôo. No dia do meu aniversário, meu pai perguntou-me o que eu desejava como presente de aniversário. Disse-lhe que nem imaginava, poderia ser uma camisa, ou talvez um barbeador elétrico. Foi quando ele perguntou-me: “-Você não queria ir para a Alemanha?”. Disse-lhe: “-Claro! Só que não temos os recursos!” Foi quando ele respondeu: “- Claro que temos, o dinheiro está na frente da nossa porta!”. Papai tinha um fusquinha 1300, novo, que ele havia adquirido. Sua proposta foi de vender e adquirir um veículo usado. Consultando o Paulo Justi, e realizando os cálculos meu pai disse que dava para pagar a passagem, mas o dinheiro não dava para pagar o período da minha estadia. O Paulo afirmou que muitos amigos poderiam ajudar, comecei a fazer uma vaquinha até surgir 500 dólares, foi interessante como surgiram muitas mãos que me ajudaram. Serviu para mostrar que não somos nada quando estamos sozinhos. Assim fui para a Alemanha para ficar por dois meses.
Isso foi em que cidade?
Foi em Hanover. O tempo foi passando, chegou a hora de voltar ao Brasil, eu deveria retornar á Alemanha em junho, tanto o Ingo como o Luiz Carlos ponderaram que eu deveria aproveitar esse tempo para me aperfeiçoar mais. A minha pergunta foi de que forma eu iria me sustentar na Alemanha. Uma colega, Cornelia Mutzenbecher, tinha alunos de flauta doce, ela propôs que eu assumisse seus alunos e ganhasse pelas aulas. O Luis Carlos disse-me: “Eu tenho alguém que paga o alojamento para você, sob a condição de que essa pessoa se mantenha anônima.”. Muitos anos depois fiquei sabendo que essa pessoa era Dona Cidinha Mahle. A diretora da Casa do Estudante permitiu que eu ficasse lá, embora já não tivesse mais vagas.
Como você se comunicava com seus alunos?
Muito mal! Quando eles falavam e eu não entendia nada. De repente como se ocorresse um “clique” passei a entender da mesma forma que uma criança aprende a falar. O Luis Carlos me passou mais alguns alunos de outra escola. Nisso saiu a bolsa de estudos que eu havia pleiteado. Fui para Freiburg para aprender alemão corretamente. Voltei para Hanover para estudar. No final da bolsa tive que tomar a decisão de voltar ao Brasil ou permanecer na Alemanha. Decidi ficar. Prestei um concurso na Orquestra Sinfônica de Nuremberg, onde ingressei, já era então musico profissional. Continuei estudando paralelamente, junto com Goritzki, até 1982. No começo de 1983 fui para a França, a minha esposa era francesa. Estudei por três anos na Escola Nacional do Raincy perto de Paris, com o professor Alain Denis, lá eu tive contato com o professor Maurice Bourgue, que é um dos nomes com mais peso no oboé francês. Ocorreu a oportunidade de fazer um concurso na Alemanha, na Orquestra Filarmônica de Gelsenkirchen onde permaneci de 1986 até 1989. Ai houve uma surpresa, em Nuremberg há duas orquestras, a Orquestra Sinfônica onde eu já havia ocupado um cargo, outra, maior, é a Orquestra Estatal Filarmônica de Nuremberg que é a orquestra da ópera. Um colega resolveu sair da orquestra para lecionar no conservatório da cidade. Pleiteei, fiz o concurso e estou desde 1989 até hoje.
Quantos músicos compõem essa orquestra?
No momento são 90 profissionais, é um conjunto grande. Nosso teatro foi o primeiro do mundo a montar Der Ring des Nibelungen (O Anel do Nibelungo), de Richard Wagner em Pequim. Até hoje ninguém mais tocou essa obra completa na China. São quatro óperas que Wagner escreveu, chama-se trilogia com um preludio, Das Rheingold (O Ouro do Reno), Die Walküre (A Valquíria), Siegfried e Götterdämmerung (O Crepúsculo dos Deuses), ao todo são 17 horas de música. Tocavamos um dia, no dia seguinte faziamos a pausa, e assim permanecemos por 17 dias na China.
O II Festival Internacional de Musica Erudita de Piracicaba abrange que atividades?
É um curso de férias com concertos com alunos e professores do Brasil e do Exterior. É um excelente acontecimento.

EROTIDES GIL BOSSHARD

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 23 de julho de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: EROTIDES GIL BOSSHARD
A diplomacia é a arte de conversar e se entender com pessoas de culturas e costumes diferentes do seu país de origem. Entre os principais assuntos que os diplomatas tratam, temos assuntos relativos à Guerra, Paz, Comércio Exterior e acordos de cooperação geral entre os países. Embaixadores são uma parte vital das relações internacionais, gestão de pessoal técnico e pessoal da administração é um componente chave para qualquer embaixador. Erotides Gil Bosshard chegou a realizar exames para ingressar na carreira diplomática, no tradicional Instituto Rio Branco, por circunstâncias alheias a sua vontade regressou a Piracicaba. Ele nasceu em Bauru em 4 de janeiro de 1945, é filho de Aristides Bosshard e Meire Alaíde Bosshard. Sua mãe faleceu quando Erotides tinha apenas dois anos de idade, foi trazido á Piracicaba sendo adotado por Lazaro Gil e Carolina Berrini Gil. Fez o curso primário no Grupo Escolar João Conceição, ao lado da Igreja dos Frades. O ginásio cursou no Dom Bosco e o colégio no Sud Mennucci. Erotides Gil conserva as características de um bom diplomata, fluente em diversas línguas, possui um português impecável, vasta cultura geral, deixa transparecer em suas falas um profundo respeito ao ser humano. Jornalista, radialista, advogado com pós-graduação em Direito do Trabalho, administrador de empresas. Especialista em Relações Trabalhistas e Negociação Sindical. Especialista em Direção de Recursos Humanos, pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo. Doutor em Administração de Empresas pela FGV- SP. Foi Chefe de Gabinete dos Prefeitos Luciano Guidotti e Homero Paes de Atayde. Diretor da Imprensa Oficial do Município de 1966 a 1968. Participou de transmissões esportivas importantes a partir de 1962, além de todas as grandes conquistas do XV de Novembro de Piracicaba, futebol e basquetebol, do Bicampeonato Mundial Interclubes do Santos em 1963; da série classificatória do Brasil em 1969 e Copa do Mundo de 1970, entre outras. Hoje continua a atividade no jornalismo esportivo da Rádio Onda Livre, AM, como comentarista de eventos esportivos e coordenador do Programa Esporte Livre Radiofônico às 20 horas das segundas feiras. Além dessas atividades jornalístico-radiofônicas, tem experiência de 37 anos na gestão do Jurídico Trabalhista e de Recursos Humanos em empresas como M. Dedini S/A Metalúrgica do ramo mecânico e metalúrgico, 1974 a 1979; Abril S/A/ Cultural e Industrial, do ramo de fascículos e livros, 1979 a 1982; Indústrias Romi S/A, do ramo mecânico, metalúrgico e eletrônico como fabricante de máquinas ferramenta, 1982 a 1987; Cosan, do setor sucroenergético, administradora das unidades produtoras de açúcar, álcool e energia, e terminais marítimos de açúcar e álcool . Atualmente é Consultor Interno de Recursos Humanos da Abengoa Bioenegia Brasil. Gil é casado com Alba Helena Cera Gil, tem 3 filhos e 5 netos. Está prestes a completar 50 anos de rádio.
Como se deu o seu primeiro contato com o rádio?
Antonio Sidnei Cantarelli tinha um programa na “Rádio A Voz Agrícola do Brasil” instalada na Rua XV de Novembro, na parte superior do prédio onde hoje é o Supermercado Jaú. Ele, o Professor João Chiarini, o Vitti do Jornal de Piracicaba, fizeram um concurso sobre a história de Piracicaba, que já estava se preparando com a antecedência de cinco anos para a comemoração do bicentenário da cidade. Naquela época o programa “O Céu é o Limite”, o Cantarelli resolveu fazer algo parecido. Participei desse concurso, o Sidnei disse que eu tinha boas condições para trabalhar em rádio. Em 1962 comecei a freqüentar a rádio, fui registrado em carteira profissional como funcionário da Rádio Difusora de Piracicaba em 2 de março de 1963. O Cantarelli foi trabalhar na Rádio Difusora e pediu que eu me apresentasse ao Caldeira, que era o gerente, o Seu Figueiredo tinha falecido em outubro de 1962. O Caldeira era o braço direito da Dona Maria Figueiredo, que era quem de fato dirigia a emissora. Antonio Jorge fazia a parte comercial, ele tinha vindo da Record de São Paulo para Piracicaba. Lembro-me que fiz uma gravação com Américo Martani, naquele tempo era em gravador de rolo ainda. Isso era por volta das 11 horas da manhã. Lembro-me que o Caldeira após ouvir a gravação disse: “-Então vai ao microfone!”. As 11:15 a Difusora apresentava o programa “Parada dos Esportes”, sentei-me ao lado de Antonio Ulisses Michi e do Márcio Terra para apresentar o programa, o que fiz de fato, apenas as minhas pernas tremiam demais! Eu tinha quase 17 anos de idade. Na rádio havia programas em horário que ninguém queria apresentar, por exemplo, no domingo pela manhã, a Difusora apresentava das 9 ás 10 horas o programa “Rago, o Mago do Violão”, das 10 ás 11 horas apresentavam-se Craveiro e Cravinho e das 11 ao meio dia o Cobrinha se apresentava. Eu fiz a minha estréia nesse horário, como locutor apresentador. A noite ninguém queria ficar na rádio das 20 ás 24 horas. Eu ficava. Naquela época o Michi tinha um programa de segunda a sexta feira que ia das 22 até as 24 horas, era o programa “Ritmos de Boate”. Quando o Michi passou a trabalhar na Itelpa ele ocupava um cargo intermediário entre gerente e diretor. Acabei herdando esse programa dele.
Havia a participação do ouvinte?
Muita gente ligava, dizendo: “Estamos aqui no aniversário de Fulano, ouvindo o programa”. Eu os imaginava divertindo-se na festa de aniversário e eu na rádio trabalhando. Inventei o primeiro “talk show” do rádio piracicabano. (O radialista realiza entrevistas coletivas e públicas em torno de um tema ou convidado). Eu levava os equipamentos da radio, transmitia e participava da festa. Deixava os textos de propaganda gravados no gravador de rolo e programava com o operador de mesa o momento em que tinha que entrar com os jingles. Euler Pitts Prado era o operador.
Qual foi o local onde você fez o primeiro talk show do rádio piracicabano?
Foi na casa do Senhor Arnaldo Ricciardi, na Rua Santo Antonio, onde hoje funciona o conhecido restaurante Monte Sul. Era a festa de aniversário da Beatriz, a filha mais velha do Seu Arnaldo. A alta sociedade de Piracicaba estava lá e eu quiz participar da festa também! A vida nos ensina muita coisa, mas certas coisas o rádio nos ensina um pouco mais. Eu ia ás festas e as pessoas ficavam em torno de mim, com o microfone na mão eu me movimentava e as pessoas me acompanhavam. Com o passar do tempo fui me tornando mais exigente e fui colocando pessoas em meu lugar. Quando tinha um evento mais importante pedia a um companheiro para ficar no programa “Ritmos de Boate”, enquanto eu ia sozinho á festa. Ninguém me notava! A verdade é que o microfone era o astro, e não eu!
Como funcionava essa operação de transmissão externa do programa “Ritmos de Boate”?
A festa começava por volta das 21:30 ou 22:00 horas, eu chegava, ás 21:00 horas, fazia uma ligação telefonica para a rádio, colocava o famoso “jacarezinho”, na maleta para sair um som com maior qualidade. Eu ia sozinho. Naquele tempo eu ia á Presidente Prudente, sozinho, para transmitir jogo de futebol, levava uma maleta com equipamento funcionando com valvulas, pesando quase vinte quilos. Ia de trem e não reclamava!
Não ocorria muitos defeitos técnicos, pelo fato de ser á valvula?
Na véspera o Américo fazia uma revisão muito eficiente do equipamento. Um vez fui fazer uma transmissão de Santos, não havia transistor e nem bateria, o equipamento era ligado na energia elétrica. Ocorre que a energia em Santos funciona com 220 volts e ele se esqueceu de virar a chave, o equpimento funcionou por uns tres ou quatro inutos e depois passou a soltar fumaça.
Nessas festas que você transmitia eram feitas entrevistas e descritos os trajes e ambientes?
Por tratar-se de uma novidade, muita gente que ia a festa levava rádio portátil para ouvir a transmissão que estava sendo feita daquele local! Eu descrevia o convidado, elogiava o vestido, o bom gosto, eu não descrevia com riqueza de detalhes em termos de moda, apenas dizia que era um vestido bonito, qual era a cor, se tinha alguma pedra, botão todo encapado. Conhecimento de moda eu não tinha nenhum, não tenho jeito pra isso! Muitas senhoras chegavam próximas ao meu ouvido e iam relatando os detalhes próprios da roupa utilizada pela pessoa que eu descrevia. Uma palavra que até hoje me lembro de terem assoprado em meu ouvido era que determinada roupa usava “gripir”! Na hora da transmissão as senhoras da sociedade acabavam por me auxiliar passando detalhes técnicos das roupas de gala utilizadas na festa.
Na época você tinha 18 anos, essas apresentações lhe abriram uma série de portas?
Uma das coisas que credito ao meu trabalho na rádio, foi a relação muito profunda que estabeleci com a família Guidotti. Eu transmitia futebol, e o presidente do XV de Novembro era João Guidotti. Certo dia Luciano Guidotti estava na loja de propriedade do seu irmão João Guidotti, ele me chamou e perguntou se eu não queria assumir o recém-criado Diário Oficial. Eu tinha acabado de completar 21 anos, estava cursando direito e tinha informação jornalística. Fui muito bem assessorado, tinha ao meu lado o Bola, o Osvaldo Sobek, Mauricio Cardoso e Ari Pedroso. Passei a trabalhar como seu chefe do seu gabinete, tínhamos uma amizade muito forte, posso dizer que me sentia filho dele. Ele faleceu em 1968 com 63 anos.
Como era Luciano Guidotti?
O lo humano dele tinha seus erros, era meio estabanado, as vezes respondia meio acre. Lembro-me que quando a sua secretária Maria de Lourdes Azur tirou férias, fiquei com alguns encargos dela, uma vez levei alguns cheques para ele assinar. O cheque do seu salário a Maria de Lourdes já colocava com o verso voltado para cima, ele apenas endossava, eu não sabia, quando ele viu o valor do cheque perguntou-me: “-O que é isso?” Respondi-lhe: “- Esses são seus honorários, prefeito.”. Ele então respondeu: “ Tudo isso! Nossa que roubalheira!” Ele endossava o cheque porque o cheque era depositado em favor ao Lar dos Velhinhos. Nunca, nenhum cheque em nome de Luciano Guidotti foi depositado na conta dele. Apesar do folclore em torno de Luciano Guidotti ele era muito inteligente, muito capaz, muito bem informado sobre os fatos que ocorriam no mundo todo. Era um administrador por excelência. Eu tinha recebido um convite para fazer um curso de pós-graduação em processo penal na Itália, fui conversar com Luciano, foi quando ele me disse: “Acho que você não deve ir, estou no fim do meu mandato, prefeitura é ônus que temos que suportar por amor a nossa terra, mas que não dá camisa para ninguém. Se você for honesto não irá ganhar nada na prefeitura”. Ele abriu a mesa da gaveta dele, mostrou 28 projetos de obras, edifícios, casas, e por incrível que pareça, condomínios fechados, isso em junho de 1968. Ele disse: “Você vai trabalhar comigo quando eu terminar o meu mandato, ai sim você vai ganhar dinheiro”. Um mês depois ele faleceu.
A queda do Comurba foi durante uma das gestões de Luciano Guidotti?
Aconteceu a tragédia no dia 6 de novembro de 1964, sexta-feira, por volta das 13 horas e 52 minutos, eu era responsável pelo jornalismo da Difusora, às 14 horas eu entrava no ar para dar o noticiário de hora em hora, estava na sacada da Rádio Difusora, conversando com Waldemar Bilia, á 50 metros do prédio que ruiu, houve uma explosão e uma enorme nuvem de poeira, quando essa poeira abaixou percebi que o sol estava batendo no rosto do Bilia, foi então que percebi que o prédio havia caído. Disse: “- Bília! Olha o que aconteceu!” Até então não havíamos percebido que o prédio tinha ruído. O Luciano comandava todo o serviço de resgate, dizia-se que ouviam a voz de uma jovem que trabalhava na bomboniere do Cine Plaza. Era o desespero de tirar pedras, caminhões, tratores trabalhando. No domingo, dia 8 o helicóptero rodou e desceu em frente a Catedral de Santo Antonio,era o Governador Adhemar de Barros que tinha chegado. Naquele tempo como é hoje, a Rua Boa Morte começava na Rua Prudente de Moraes, o prédio Comurba ficava entre as ruas Prudente de Moraes e São José, de frente para a Rua Boa Morte. O governador ficou no jardim, já era quase meio dia, um sol de novembro, o deputado Domingos José Aldrovandi que era do PSP na oportunidade, ia até o prefeito e dizia: “- Prefeito! O Governador está ai!”. E o prefeito continuava no serviço de resgate. Constrangido, o deputado conduziu o governador até o prefeito. Ao chegar próximo do prefeito o governador que tinha uma forma estranha de cumprimentar, não estendia totalmente o braço, já estava em sua forma habitual de cumprimentar, o deputado Aldrovandi puxou o prefeito pelo braço e disse: “- Prefeito, o governador!”. Luciano simplesmente respondeu: “- Não dou a mão para ladrão!” e voltou a trabalhar nos serviços de resgate. Dr. Domingos Aldrovandi, muito inteligente contornou a situação. O governador conversou com alguns políticos, embarcou no helicóptero e voltou á São Paulo. Eu estava ao lado, eu ia entrevistar o governador. Nem entrevista teve.
Você foi chefe de gabinete do prefeito Luciano Guidotti e tinha um programa na Rádio Difusora?
Na rádio eu fazia jornalismo, fazia um programa chamado “Parada dos Esportes” das 11:15 até 11:45. E o programa “Sentinela Esportiva” que ia das 18:30 ás 19:00 horas. Eu editorava e redigia os textos do jornalismo.
Quais são as qualidades essenciais de um narrador esportivo?
A primeira coisa ele deve lembrar que o ouvinte não está vendo o jogo, ele tem que dar destaque a emoção para quem está ouvindo, muito mais do que simplesmente narrar a jogada que está ocorrendo. Eu me lembro que aqui no Roberto Gomes Pedrosa, o Xixico chutou uma bola que passou por cima da trave quase foi parar na Rua Santo Antonio, foi uito alto o chute dele, eu disse: “Raspa a trave!” o repórter Fausto Silva, que estava no começo da carreira, comentou: “- Ô louco Gil! Você precisa ir a um oftalmologista!”. O narrador de futebol pelo rádio tem que pintar o jogo. Um narrador da mesma época foi Luciano do Valle, ele trabalhava na Brasil Central de Campinas eu trabalhava na Difusora, chegamos a transmitir vários jogos dividindo a mesma cabine. Os estádios do passado não tinham essa estrutura que existe hoje. Cheguei a transmitir partidas no Maracanã tomando chuva. Em 1963 quando o Santos foi campeão pela segunda vez interrompemos a transmissão porque o nosso equipamento molhou e não tinha mais como transmitir o jogo.
Você conheceu Léo Batista?
Eu já tinha visto em Piracicaba e ouvido João Batista Belinazzo Neto pela Difusora de Piracicaba. Conheci o Leo Batista em 1963 quando recebi uma proposta para fazer esportes na antiga TV Rio, que em 1965 transformou-se na TV Globo. O Embaixador Paschoal Carlos Magno me apresentou á emissora, fui falar com o diretor de esportes, ao abrir a porta disse: “-Belinazzo!” Imediatamente ele me disse: “Aqui sou Léo Batista!”. Cheguei a ficar por dois meses na TV Rio, as minhas condições financeiras não permitiam arcar com as despesas. O meu grande sonho era cursar o Instituto Rio Branco, a escola de diplomacia. O Embaixador Paschoal Carlos Magno me apoiava muito.
Como você conheceu o Embaixador Paschoal Carlos Magno?
Eu estava apresentando um programa do Cobrinha, ele cantou Pierrot, sua interpretação foi tão perfeita, a letra é uma ode, quando Cobrinha terminou eu disse ao microfone: “-Meu Deus o autor dessa música deveria estar inspiradíssimo por algo sobrenatural quando escreveu isso. É um vocativo do amor!”. Fiz o comentário fruto da minha emoção. O programa continuou, isso no auditório da PRD-6, mais ou menos ás 11:50 horas entrou um senhor alto, cabeça branca, sentou-se ao fundo. Acabou o programa ele veio agradecer pelas palavras que eu tinha dito sobre a música Pierrot, ele era o autor: Embaixador Paschoal Carlos Magno, que por 16 anos foi embaixador do Brasil na Inglaterra. Ele tinha sido padrinho de casamento em Águas de São Pedro, estava passeando em Piracicaba com o rádio do carro ligado quando ouviu minhas palavras. A responsabilidade de quem está com o microfone na mão é muito grande.











WLASTERMILER TEIXEIRA DE MATTOS E LUCIANO FURLAN

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de julho de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADOS: WLASTERMILER TEIXEIRA DE MATTOS E LUCIANO FURLAN
No Brasil, o sedentarismo é um problema que vem assumindo grande importância. As pesquisas mostram que a população atual gasta bem menos calorias por dia, do que gastava há 100 anos, o sedentarismo atinge 70% da população brasileira. A atividade física é assunto de saúde pública. Em todo o mundo observa-se um aumento da obesidade, o que se relaciona pelo menos em parte à falta da prática de atividades físicas. É decorrência do estilo de vida moderno, onde grande parte do tempo livre é destinado para assistir programas de televisão e utilizar computadores. Uma pequena mudança nos hábitos é capaz de provocar uma grande melhora na saúde e na qualidade de vida do indivíduo. A atividade física pode também exercer efeitos no convívio social do indivíduo, tanto no ambiente de trabalho quanto no familiar. Não é necessária a prática intensa de atividade física para garantir seus benefícios para a saúde. A realização de exercícios físicos atua no equilíbrio das substâncias relacionadas ao sistema nervoso, melhora o fluxo de sangue para o cérebro, ajuda na capacidade de lidar com problemas e com o estresse. Auxilia na manutenção da abstinência de dependências químicas (álcool, tabaco, etc...) e na recuperação da auto-estima. Há redução da ansiedade e do estresse. A atividade física regular é uma importante aliada no combate a hoje considerada “doença da moda”: a depressão. O Brasil tem alcançado sucesso em diversas áreas esportivas. É inegável a importância do futebol por despertar o interesse da população por esportes, além dos nossos consagrados astros do futebol a cada dia surgem novos atletas brasileiros que se destacam em esportes considerados de elite ou menos populares no nosso país, o que mostra a riqueza da nossa diversidade de valores. Um dos esportes que tem elevado o nome do Brasil no exterior é o Jiu-Jitsu. Diz a tradição que ao norte da Índia, há 2.500 anos, nascia o príncipe Sidartha Gauthama, que mais tarde veio a ser conhecido como Buda - o Iluminado. Com o Budismo, surgiu também o Jiu-Jitsu em virtude da necessidade de defesa dos monges, os quais não podiam portar armas, por motivos religiosos. Dotados de grande conhecimento do corpo humano, criaram o Jiu-Jitsu, que tem na defesa pessoal a sua principal essência, baseados em leis físicas, tais como equilíbrio, momento de força, alavanca, inércia, centro de gravidade. No Japão, o Jiu-Jitsu teve grande repercussão. O Jiu-Jitsu chegou ao Brasil em meados da década de 20, trazido pelo campeão japonês Mitsuo Maeda Koma (o lendário Conde Koma), que aportou no Pará e conheceu Carlos Gracie, a quem ensinou o Jiu-Jitsu na condição de este ser mantido em segredo. Carlos Gracie não só aprendeu a técnica, como ensinou a seus irmãos. Helio Gracie, o caçula da família, veio a ser o grande gênio nessa arte, a ponto de hoje ser considerada como a arte marcial mais completa e eficiente do mundo, no exterior é conhecida como Brazilian Jiu-Jitsu. Em Piracicaba Wlastermiler Teixeira de Mattos, mestre em Jiu-Jitsu desenvolve um trabalho de divulgação dessa arte, aliado ao professor Luciano Furlan, diretor de uma das mais conhecidas academias de Piracicaba. Wlastermiler nasceu em Piracicaba, 06 de agosto de 1975, em Piracicaba, é filho de Herbert Barbosa de Mattos e Maria Cecília Teixeira de Mattos. Luciano nasceu em Piracicaba, a 19 de janeiro de 1980, filho de Antonio Furlan e Luiza Maria Sartori Furlan.
Luciano onde você realizou seus estudos?
A minha formação escolar foi no Colégio Dom Bosco, até ingressar na UNIMEP, onde conclui a faculdade e fiz especialização em Fisiologia em São Paulo.
Cuidar do corpo está na moda?
Há uma grande procura de academias de ginástica por razões de saúde e por razões estéticas também. Hoje a imagem idealizada é a do corpo sarado a famosa “barriga de tanquinho”, vemos as mais diversas atividades físicas realizadas nesse sentido. Algumas pessoas buscam a atividade física inclusive para se livrarem da dependência química de álcool, tabaco. A prática de atividade física é um fator que auxilia muito no combate á essas dependências, algumas pessoas conseguem sucesso, outras não. A participação do Estado como agente motivador de atividades físicas é muito tímida, muitos gastos em saúde feitos pelo Estado em sua rede de atendimento médico poderiam ser evitados ou minimizados se houvesse maior atenção á atividades físicas como preservação de saúde e qualidade de vida.
Há alunos tabagistas freqüentando a academia?
. Estimamos que cerca de 10% dos alunos são tabagistas. Houve uma redução, talvez até em decorrência de campanhas efetuadas conscientizando o usuário do tabaco dos seus malefícios á saúde. É impossível aliar bem estar físico ao alcoolismo ou tabagismo. Atualmente temos quase 1000 alunos na faixa etária de 14 a 70 anos. O aluno com idade mais avançada vem á academia na busca de saúde, qualidade de vida, lazer, ele realiza todo tipo de atividade física que um jovem faz, obedecendo a uma carga adequada, exercícios adequados, próprios ás suas condições físicas, seus limites necessariamente são respeitados, ele recebe uma educação especial do educador físico, do fisioterapeuta.
Há quanto tempo você trabalha nessa área?
Atuo há 10 anos, no Clube de Campo de Piracicaba trabalhei por 7 anos, lá eu era professor de musculação. Simultaneamente eu tinha uma academia na Rua Dona Eugênia. Mais tarde juntamente com o Mário Ângelo de Lima, montamos outra unidade maior, mantendo a da Rua Dona Eugenia.
Há uma migração de associados de clubes sociais e esportivos para academias particulares?
Acredito que sim, principalmente pela especialização das academias, em pessoal em equipamentos oferecidos aos freqüentadores das academias.
Wlastermiler você fez seus estudos onde?
Estudei no Grupo Escolara Barão do Rio Branco, em seguida fui aluno do Colégio Dom Bosco Assunção. Sou formado em Educação Física pela UNIMEP.
Quando iniciou o seu contato com o Jiu-Jitsu?
Foi em 1999, o que me atraiu muito foi a disciplina existente nesse esporte, o Jiu-Jitsu é uma arte, onde o indivíduo mais fraco aprende a defender-se do mais forte através de uma técnica muito aprimorada. Minha atenção foi despertada pelo equilíbrio das pessoas que ensinavam essa arte. Existe um grande respeito entre professores e alunos, a obediência a uma hierarquia é exemplar. Meu mestre é Roberto Tozzi, que possui uma academia em Campinas e outra em Valinhos.
Qual é a sua graduação em Jiu-Jitsu?
Há quatro anos sou faixa preta. Há 4 anos dou aulas, a idade mínima para começar é de 4 a 5 anos, existem freqüentadores de até 60 anos, geralmente são mestres. Eu sempre gostei de esporte, praticava muito futebol, com o tempo passei a me interessar mais pela arte do jiu-jitsu. Temos que observar que o fato de um aluno freqüentar as aulas de jiu-jitsu seja por um dia ou por um ano, não faz dele necessariamente um legitimo praticante da arte. Quem entende a essência do jiu-jitsu evita ao máximo envolver-se em conflitos gratuitos, é uma arte que proporciona mais equilíbrio, calma, paz. Às vezes após um longo dia de trabalho, chego cansado, estressado, assim que estou no tatame deixo ali o stress, a tensão, é prazeroso. Está ocorrendo uma divulgação maior do jiu-jitsu no interior do Estado de São Paulo, é a única arte onde o trabalho entre os competidores é realizado no chão, ela vem complementar uma série de artes marciais onde a disputa é feita em pé. O praticante de qualquer arte marcial que também praticar jiu-jitsu terá pleno domínio sobre seu adversário. Muitos profissionais, das mais diversas áreas e classes sociais têm procurado as nossas aulas, como forma de autodefesa, principalmente pela forma como é ensinado qual deve ser o seu comportamento diante de uma situação de alto risco. Atualmente até as mulheres buscam esse tipo de treinamento, temos um bom percentual feminino freqüentando as nossas aulas.

Luciano, o fato de estar havendo um grande crescimento do número de academias de ginástica, deve-se a maior preocupação com a saúde?

Isso decorre da procura da população por um local onde possa realizar atividades físicas, aliado ao fato de estar havendo um grande crescimento da cidade;

Quando o verão se aproxima há a corrida “ao milagre do corpo sarado” quase imediatamente?

As próprias novelas que mostram cenas com visuais maravilhosos, os atores interpretando suas personagens jogando vôlei, em cenas de praia, as imagens divulgadas por revistas, tudo isso motiva as pessoas a buscarem a forma física tida como ideal. Há pessoas que chegam aqui e dizem: “-Daqui a dois meses vou fazer uma viagem a Porto Seguro e preciso melhorar!” Alguns querem fazer um verdadeiro milagre, e não é assim que funciona! Temos relatos de alguns alunos que em função de freqüentarem a academia deixaram de freqüentarem a noite de forma compulsiva. A atividade física exige disciplina. Isso acaba refletindo positivamente na relação familiar, profissional e escolar.
Há rotatividade de alunos?
Existem alunos que freqüentam pouco tempo e desistem pelos mais variados motivos. Há também alunos que estão a anos conosco. Há casos onde o aluno matriculado deixa a academia por redução de despesas, mantendo em contrapartida hábitos dispendiosos, como bons restaurantes, boas viagens, bons vinhos. O ideal seria equilibrar saúde e lazer.
Wlastermiler essa preocupação com a prática de esportes é maior em outros países?
Por exemplo, os atletas americanos recebem todo tipo de suporte, material, treinamentos, médico. Aqui no Brasil, o cidadão tem um apoio incipiente, quase nulo.
Luciano complementa:
É uma questão de falta de vontade do governo. Uma questão cultural.
Wlastermiler
Acho que já melhorou só que falta muito para chegar ao nível de outros países. Aumentaram ás áreas de lazer. Tenho um projeto apresentado á Prefeitura de Piracicaba, “O Jiu-Jitsu e sua contribuição na inclusão social e no desenvolvimento integral de crianças e adolescentes”, voltado á criança carente, para tirar a criança da rua, da droga. Só que a Prefeitura não aprovou até o presente momento, não consegui nem retorno do projeto. Pode ser falta de verba, pode ser de natureza política. É um projeto muito barato, necessita de poucos recursos. Atualmente trabalho na formação de atletas para competirem em campeonato estadual, brasileiro e mundial. Dou as aulas para quem quiser conhecer a arte. A disputa é acirrada, quando competia conquistei o terceiro lugar na classificação estadual. Deixei de investir na minha formação como atleta de competição para poder investir na parte profissional de formação de atletas. Atualmente estou formando equipes para competição. Meu objetivo é destacar os atletas que se empenharem, irei dar todo o meu apoio á eles. A academia de onde venho, em Campinas, tem cerca de 1000 alunos em jiu-jutsu. Piracicaba tem aproximadamente 300 alunos, é uma arte que está crescendo de forma exponencial.
Qual é a relação entre o judô e o jiu-jitsu?
O judô é uma arte em pé, deu uma queda, pontua e parou. O jiu-jitsu começa onde o judô acaba. Um lutador que conhece as duas artes ele sabe disputar em pé e no chão. Um complementa o outro. Está havendo uma grande migração do pessoal do judô para o jiu-jitsu, surgindo uma nova arte que é o MMA - Mixed Martial Arts. Grandes professores do Brasil estão lecionando na Arábia, Abu Dabe, Europa, Estados Unidos. Um grande amigo formado comigo está dando aulas na Califórnia. Infelizmente eles saem do Brasil para formar novos valores em outros países por causa do apoio que recebem no exterior. Hoje a família Grace tem forte atuação nos Estados Unidos, Inglaterra, Japão.
Você tem noticias se policiais treinam jiu-jitsu?
Por dois anos dei aulas á um grupo de policiais militares, soldados, sargentos, tenentes.
Quem pagava essas aulas?
Os próprios alunos, do bolso deles.
O Bullying é um termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, que constantemente a mídia expõe como fato comum em alguns ambientes escolares, o jiu-jitsu pode ser a solução?
Com certeza deixaria de existir! O esporte socializa aquilo que ás vezes o aluno leva como ofensa, se estiver integrada a pessoa nem leva muitas brincadeiras como ofensa. Muitas ações tomadas de forma prejudiciais poderiam ser canalizadas para o lado positivo, com a ajuda do esporte.

REITOR CLOVIS PINTO DE CASTRO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 8 de julho de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: REITOR CLOVIS PINTO DE CASTRO
Encontrar as melhores oportunidades, parar, pensar, decidir a melhor solução e finalmente agir, é a melhor forma para termos a receita para uma vida melhor em todas as áreas. Existem inúmeros exemplos como: Abraham Lincoln, Winston Churchill, Enrico Caruso, Helen Keller, Thomas Edison, inúmeros atletas como Brad Parks, Lionel Messi, Gilbert Arenas, Jeremy Wariner. Cientistas de todas as áreas, inventores, pessoas que com muita criatividade, persistência e disciplina idealizaram, projetaram, persistiram e transformaram pontos frágeis em grandes vantagens. São pessoas especiais para o desenvolvimento humano. Por diversos fatores, internos e externos, muitas instituições de ensino tiveram que rever seus conceitos e normas frente a novas realidades, algumas sucumbiram, outras adotaram práticas mais comerciais do que pedagógicas, a rigor todas lutaram pela sobrevivência diante das mudanças de regras institucionais. A UNIMEP, instituição de ensino com a qual o piracicabano identifica-se muito, não deixou de sentir o impacto que abalou todo ensino universitário não governamental. Clovis Pinto de Castro foi a pessoa escolhida pela alta direção da mantenedora para colocar ordem no caos. Fez-se o milagre, proprietária de uma magnífica área, exageradamente acima de suas necessidades pedagógicas, vizinha a bairros populares, a UNIMEP negociou com empreendedores particulares, e reservando um terço da área original para as atividades da UNIMEP, nas demais áreas está sendo criado um complexo envolvendo um grande Shopping Center, condomínio fechado, hotéis, enfim um novo vetor de desenvolvimento da cidade. Pode-se dizer que o Reitor Clovis Pinto de Castro veio, viu e venceu! Nascido em Ubá, Minas Gerais, em 3 de dezembro de 1958, sua mãe trabalhava como costureira e seu pai como motorista. Quando contava nove meses de idade a sua família mudou-se para Londrina.
O senhor fez seus primeiros estudos em que escola?
Foi no Grupo Escolar Hugo Simas, tida como a melhor escola pública de Londrina na época. O ginásio parte eu fiz no Colégio Marista e parte no Colégio Marcelino Champagnat, ambos de tradição católica. Fui católico até 14 anos aos 15 anos entrei para a Igreja Metodista. Sempre fui muito religioso, quando passei pelo colégio marista tive a influencia muito grande de um irmão marista que me ajudou a entender o Novo Testamento, os evangelhos, a primeira leitura da bíblia foi com esse marista Irmão Manssueto. Quando conheci a Igreja Metodista comecei a me apaixonar pela tradição do metodismo, é uma igreja que tem uma história muito bonita. O fundador do metodismo, John Wesley era uma pessoa que tinha uma visão social muito aguçada, escreveu centenas de livros, não só livros de teologia, ele escreveu gramática da língua inglesa, da língua francesa, livros na área de medicina, ele tinha uma formação acadêmica excepcional, e conseguiu traduzir em uma linguagem mais popular, conseguiu trabalhar com o povo inglês do século XVIII de uma forma extraordinária. Essa história dele me motivou muito a ficar na Igreja Metodista.
O senhor tem a visão das duas doutrinas a católica e a metodista. Ao que parece a católica prega o desprendimento dos bens materiais, a igreja metodista tem uma visão diferente, antagônica?
Para abordarmos o tema igreja, teremos que falar em igrejas: não existe uma só igreja católica, uma só igreja metodista. Dentro da igreja católica existem vários movimentos, a igreja católica é muito rica no sentido da sua história, da sua memória, das suas tradições, ela tem ordens religiosas que tratam cada uma um carisma: na área da saúde, questão operária, moradores de rua. São ordens milenares, outras mais recentes, elas conseguem dar diferentes conotações para a igreja católica. Além das ordens há os movimentos da igreja católica, um movimento que ficou muito conhecido na América Latina é o Movimento da Teologia da Libertação, um dos nossos professores, já falecido, Hugo Assmann foi um dos fundadores da Teologia da Libertação na América Latina, junto com o chileno Gustavo Gutierrez. A Teologia da Libertação tem sua origem em uma sociologia mais marxista, essa opção preferencial pelos pobres é muito forte na Teologia da Libertação, é o Jesus que se identifica com os pobres, o evangelho dá as boas novas aos pobres, a retomada do Reino de Deus muito mais sociológica do que teológica. A Teologia da Libertação revolucionou a Igreja Católica, assim como a dividiu também, levando a punição Leonardo Boff. A Teologia da Libertação influenciou também as igrejas históricas, a Igreja Metodista, a Igreja Presbiteriana, a Igreja Luterana, formando uma ala mais progressista, que tem uma preocupação política mais aguçada. Outro movimento que tinha raízes na década de 60 e surgiu com mais força na década de 70, intensificou-se muito na década de 80 e está presente com muita força atualmente na Igreja Católica e também na Igreja Metodista é o Movimento Carismático. É um movimento voltado para uma espiritualidade intimista. É uma espiritualidade que trabalha mais os valores morais. E há o Movimento Conservador, que sempre existiu na Igreja Católica e na Igreja Metodista. Podemos dizer que esses três movimentos sempre estão presentes em ambas as igrejas, em cada período histórico um deles se faz mais forte. Há outro movimento, que na Igreja Católica talvez não tenha tanto impacto, mas na Igreja Metodista e em outras igrejas históricas acaba tendo impacto, é o que chamamos de Pentecostalismo e Neo Pentecostalismo. O movimento Pentecostal é histórico, nasceu no inicio do século XX, por volta de 1910 com a Assembléia de Deus e com a Congregação Cristã. Na década de 60 surgem às igrejas Deus é Amor, Brasil Para Cristo, são as igrejas pentecostais históricas, que valorizavam muito a questão de usos e costumes, o batismo pelo Espírito Santo, falar em outras línguas. A Igreja Neo Pentecostal não tem mais essa preocupação com uso e costumes, não há proibições como cortar cabelo, o uso de saias ou bermudas, a ênfase é dada mais a uma espiritualidade individualista, e em muitos casos ao que chamamos de teologia da prosperidade. O povo está presente em todas as denominações religiosas sempre com muita fé, muita esperança.
O senhor é um estudioso da religião!
O meu doutorado é em Ciência da Religião. Já escrevi livros nessa área. Após concluir o ginásio, o colégio eu estudei em uma escola pública chamada Vicente Rijo, em Londrina. Em janeiro de 1977 vim para São Paulo para estudar na Faculdade de Teologia da Igreja Metodista que fica em Rudge Ramos, São Bernardo do Campo. Essa faculdade existe desde 1938, quando foi tomada a decisão de trazer as faculdades de teologia de Minas Gerais e de Porto Alegre para criar no então Bairro dos Meninos, hoje Rudge Ramos, a Faculdade de Teologia, que deu origem a Universidade Metodista existente hoje naquele local.
Após concluir o curso de teologia qual foi a próxima etapa que o senhor realizou?
Trabalhei por seis anos como pastor em Pato Branco, no Paraná. Até que fui convidado para trabalhar na instituição em que me formei. Em 1986 retomei meus estudos, fiz pedagogia. Vim para a UNIMEP onde fiz o Curso de Especialização na área de gestão educacional, aqui também fiz o mestrado em Filosofia da Educação. Fui convidado para ser reitor da Faculdade de Teologia. Nesse período, até assumir como reitor eu exerci diversas atividades como docente, coordenador acadêmico, assumi a coordenação de um campo avançado em Porto Velho, fui editor da imprensa metodista.
O seu ritmo de trabalho sempre foi intenso?
Venho de uma família muito pobre, comecei a trabalhar aos nove anos de idade, no Alves Hotel, em Londrina, o proprietário era meu tio, meu pai também trabalhava lá como gerente. Era um hotel mais freqüentado por viajantes, eu ajudava a servir as mesas com o café da manhã, cuidava do elevador, era daqueles de porta sanfonada, era acionado através de uma manivela, as malas que eu conseguia carregar ajudava a levar. Permaneci nesse serviço por dois anos. De lá fui trabalhar em um escritório de café, na época Londrina chegou a ser a Capital Mundial do Café. Trabalhei em uma agencia de empregos. Com 14 anos passei a trabalhar com Paulo Ângelo de Gois, posso dizer que ele foi meu segundo pai, muito do que sou devo a ele. Paulo era representante de 10 empresas de autopeças, ele viajava a semana inteira, usava um talão de pedido que eu tinha que desdobrar para pedidos próprios de cada empresa. Tudo era feito pelo correio, havia empresas que exigiam pedidos em seis vias! Com o tempo tornou-se o maior escritório de representações de peças do Paraná. Minha primeira experiência de gestão foi como gerente dessa empresa, aos 18 anos de idade.
Como o senhor vê o fato de trabalhar tão jovem?
Os contextos vão mudando muito, naquela época ser adolescente é diferente de ser adolescente hoje. A criança daquela época é diferente da criança de hoje. A categoria “adolescente” é recente na história da humanidade, do ponto de vista psicológico e até do ponto de vista sociológico. A criança no passado era um mini adulto. Se observarmos as fotografias antigas as próprias roupas eram de adultos. O amadurecimento rápido tem vantagens e desvantagens.
Com quantos anos o senhor assumiu a função de pastor?
Aos 21 anos, é comum jovem nessa idade assumirem o ministério pastoral, ou assumem igrejas pequenas ou são ajudantes em igrejas maiores. A Igreja de Pato Branco marcou a minha vida. Quando cheguei a Pato Branco me aproximei dos padres da cidade, eles tinham três emissoras de rádio, duas em Pato Branco e uma em Palmas que é uma cidade bem próxima. Em Pato Branco existiam a Rádio Pato Branco e a Rádio Serinalta, sendo que esta última tinha 25.000 watts de potencia. Tinha audiência no Rio Grande do Sul, Santa Catarina. Procurei ao Frei Nelson Rabelo, que se tornou um dos melhores amigos até hoje. Disse-lhe que estava chegando, assumindo uma igreja metodista, ecumênica, que gostaria de ter ou participar de algum programa de rádio. No primeiro momento ele foi muito fechado, eles tinham tido uma experiência anterior negativa com um pastor de outra igreja evangélica. Com o tempo nós fomos nos conhecendo em outros ambientes até que ele precisou viajar para a Alemanha, e ele tinha um programa chamado “A Bíblia Em Sua Vida”, começava as cinco e meia e ia até as seis horas, era um programa com muita audiência. Participei um mês junto com ele, apresentando o programa, assim que ele fosse para a Alemanha eu passaria a apresentar o programa sozinho até a sua volta. Ele voltou e nunca mais assumiu o programa, deixou na minha mão durante todo o período em que permaneci em Pato Branco.
Qual foi a reação dos ouvintes, uma rádio católica transmitindo as mensagens de um pastor metodista?
Foi uma coisa muito bonita, a aproximação que tive dos franciscanos foi uma experiência fantástica na minha vida. O acolhimento que eu tive foi excepcional. O que realizamos em conjunto, eu apresentava o programa de rádio, minha esposa apresentava um programa na mesma rádio das duas até as cinco horas da tarde, chamava-se “Sala de Visita”. Era um programa temático. Essa nossa participação na rádio abriu uma série de possibilidades para nós. Outra coisa que foi determinante, os franciscanos ganharam uma concessão de um canal de televisão. A primeira emissora católica do país, a TV Sudoeste, é de Pato Branco. Eles estavam buscando profissionais dessa área para montar o projeto técnico, eu conhecia engenheiros da Universidade Metodista, pessoas dessa área, que foram para lá, fizeram toda a parte de instalação técnica, arquitetura, acompanharam os tramites de importação, e essa mesma equipe liderada pó Davi Betts, foi até lá para fazer a montagem dos equipamentos.
Havia uma perfeita harmonia entre igreja católica e metodista!
Pato Branco participava de um programa chamado “Companheiro das Américas”, a cidade de Pato Branco e Dayton, em Ohio, são cidades irmãs. Precisavam escolher duas pessoas para representar Pato Branco em Ohio, escolheram Frei Nelson e eu. Foi interessante nos Estados Unidos, porque o padre pregava em alguma igreja metodista e eu pregava em igreja católica.
O senhor vem realizando um trabalho admirável junto a UNIMEP.
A UNIMEP tem um nome consolidado, é um nome que tem uma força e tradição muito grande. Em meu discurso de posse eu disse que não vim para ser o mágico de plantão, que o destino da instituição estava em nossas mentes criativas, em um trabalho colegiado. Nesses dois anos e meio que estou aqui tive apoio político muito forte das comunidades interna e externa. A UNIMEP tem uma presença pública, é a Universidade da cidade, temos o único reitor da cidade. Tive que aprender a lidar com essa dimensão publica da universidade, aos poucos fui tomando conhecimento do papel que eu tinha que representar. Meu trabalho era interno, meu perfil é acadêmico, era pesquisador.
Qual a área total da UNIMEP?
É de 1 milhão e duzentos mil metros quadrados. Estamos ficando com quatrocentos mil metros quadrados. Vendemos o terreno onde será instalado um Shopping, os empreendedores são do Rio de Janeiro, junto com a Tomazzi Camargo. Não temos nenhum vinculo com o Shopping. Temos outros três empreendimentos em conjunto com a Tomazzi Camargo, dois condomínios fechados e um condomínio vertical. O condomínio que passará a ser comercializado nesse fim de semana será junto com o Shopping, eles nascem juntos. A próxima etapa é um condomínio maior. A última etapa é um empreendimento mais corporativo com hotel, centro de convenções torres corporativas. Nesses empreendimentos temos cotas, esses valores obtidos com esses grandes empreendimentos serão direcionados no pagamento do passivo acumulado.
O senhor reverteu uma situação desfavorável e está transformando a face da cidade?
Esse vetor de crescimento está influenciando muito a cidade, costumo dizer que está nascendo uma cidade aqui dentro.

JOÃO BOSCO DE FREITAS- Sociedade de São Vicente de Paulo

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 28 de junho de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: JOÃO BOSCO DE FREITAS- Sociedade de São Vicente de Paulo
Frederico Ozanam nasceu em 1813. Aos 20 anos em Paris deu início a uma obra que ajuda milhões de famílias há mais de 170 anos: a Sociedade de São Vicente de Paulo SSVP. A missão da Sociedade de São Vicente de Paulo é aliviar a miséria espiritual e material dos que vivem em situação de risco social. São Vicente de Paulo é considerado o patrono de todas as obras de caridade. Atualmente a Sociedade de São Vicente de Paulo está presente em 143 países e tem mais de 700 mil membros espalhados pelo mundo. O Brasil é o maior país vicentino, denominação dada a quem adere a SSVP, aqui a instituição nasceu em 1872, com a Conferência São José, no Rio de Janeiro. Conta com cerca de 250 mil voluntários, organizados em 20 mil Conferências e 33 Conselhos Metropolitanos. As Conferências Vicentinas são grupos formados por homens e mulheres e também por crianças e adolescentes. Os grupos se reúnem semanalmente para debater e sugerir maneiras de atender as famílias carentes, que são cadastradas após sindicância sócio-econômica. As Conferências são coordenadas por Conselhos, que direcionam os trabalhos e atividades seguindo os princípios e fundamentos da Regra da Sociedade de São Vicente de Paulo. A administração da Sociedade de São Vicente de Paulo no Brasil é de responsabilidade do Conselho Nacional do Brasil; e no mundo, do Conselho Geral Internacional, com sede em Paris. Os Vicentinos realizam o sonho Ozanam, que é "formar uma grande rede de caridade de ajuda ao próximo", uma realidade que alivia o sofrimento dos pobres e incentiva a promoção da dignidade humana. A SSVP recebe colaboração de benfeitores, que contribuem financeiramente com a instituição, a visita domiciliar é a principal atividade dos Vicentinos. Semanalmente são feitas mais de 200 mil visitas, em diferentes bolsões de miséria. Assim, todos que são amparados pela instituição são incentivados a melhorar suas vidas em todos os sentidos. O trabalho da SSVP abrange ainda as Obras Unidas. São creches, educandários, asilos, entre outras instituições todas mantidas e administradas pela organização. Diversas unidades Vicentinas promovem cursos que visam a inclusão social das famílias assistidas; como os de alfabetização e de geração de renda são as Obras Especiais. Atualmente, meio milhão de brasileiros recebe o apoio da SSVP. Semanalmente a instituição distribui mais de 800 mil quilos de alimentos, arrecadados por meio de campanhas junto aos colaboradores, além de remédios, roupas, materiais escolares e utensílios diversos. No Brasil, cerca de 100 mil jovens Vicentinos semeiam o futuro da SSVP, atuam cerca de 600 Conferências de Crianças e Adolescentes. A Sociedade São Vicente de Paulo une homens, mulheres e crianças num mesmo ideal: praticar o amor ao próximo. O vice-presidente do conselho da SSVP em Piracicaba, João Bosco de Freitas relata um pouco mais do trabalho realizado pela instituição. Paulista, nascido em Tapiratiba a 23 de agosto de 1937, seu pai era administrador de fazenda, faleceu em 1942 em Resende, no Rio de Janeiro. Sua mãe voltou com os filhos para a casa da sua família em São Joaquim da Barra. João estudou no Primeiro Grupo Primário de São Joaquim, cursou o Ginásio Municipal, que atualmente leva o nome da professora de artes manuais. Formou-se professor e é diplomado pela Escola Técnica de Contabilidade São José.
O senhor exerceu algum trabalho até obter o diploma de professor?
Nós éramos muito pobres, eu fazia pequenos trabalhos, desde regar um jardim ir buscar leite para algum vizinho, varrer uma calçada. Quando passei a fazer o curso de técnico em contabilidade a tarde trabalhava e um escritório local. Permaneci em São Joaquim da Barra até concluir o Tiro de Guerra.
De lá o senhor transferiu-se para onde?
Fui morar em São Paulo, um grande número de jovens tinha como aspiração ingressar no Banco do Brasil, era o grande emprego da época. Meu sonho era ser radialista. (Curso que João concluiu recentemente, com registro em carteira profissional). Quando eu era menino meu tio João, que era cego me ensinou a transmitir jogos de futebol. Outro tio trabalhava na Rádio Gazeta que ficava na Rua Casper Libero, uma noite fui visitá-lo, às 22 horas a rádio encerrava a sua programação, eu pude realizar meu sonho em falar ao microfone, mesmo com a emissora fora do ar, só com os alto falantes internos ligados. Transmiti um jogo hipotético entre Brasil e Argentina, eu tinha 14 anos. Lembro-me de que o São Paulo tinha feito uma excursão á Itália, o Geraldo José de Almeida acompanhou a comitiva do São Paulo. Em determinada noite ele transmitiu um jogo entre o São Paulo e o selecionado italiano. Um jogo em que o São Paulo perdeu, o placar era de 4 a 1 para a Itália, uma tristeza geral. Os comentários, a publicidade, tudo correndo conforme os hábitos da época. O jogo terminou, Geraldo José de Almeida saiu do ar, foi quando o plantão esportivo feito por Narciso Vernizzi anunciou que era o dia Primeiro de Abril e aquele jogo embora tivesse sido transmitido em sua integra, nunca de fato havia ocorrido. Era tudo uma brincadeira da rádio!
Em São Paulo o senhor lecionou?
Mandei convites da minha formatura á diversos familiares, entre eles havia um tio que tinha contatos importantes em São Paulo, entre eles com a Deputada Estadual Maria Conceição da Costa Neves (Conhecida também como Conceição Santa Maria). O Estado não conseguia suprir a necessidade de vagas escolares, em abril de 1956 o prefeito de São Paulo criou por decreto 900 classes, o professor nomeado tinha que arrumar uma sala em algum local de periferia e assumir o ensino dessa classe. Assim começou o ensino municipal em São Paulo! Com a influência do meu tio consegui uma classe no bairro hoje considerado como bairro de elite, o Real Parque Morumbi. Eu andava a pé cinco quilômetros para chegar lá, sendo que três quilômetros eram de terra nua. Descia do ônibus no ponto final, próximo a fábrica de Sorvetes Kibon, ia a pé até o Rio Pinheiros, atravessava a ponte e continuava já em chão sem calçamento. Eu lecionava na Escola Isolada do Real Parque Morumbi, hoje situada na Rua Barão de Melgaço.O magistério é gratificante, apesar das dificuldades. Antes tínhamos a dificuldade da distância a ser percorrida para lecionar, hoje a dificuldade é a falta de respeito do aluno para com o professor. Em 1959 eu comecei a trabalhar também no Diário Popular, na Rua do Carmo. O proprietário era José Walter, seu primo Newton Rodrigues era meu amigo e me convidou para ocupar uma vaga no jornal. Trabalhei como revisor, na época Joelmir Beting trabalhava na redação de esportes. Em 1962 fui trabalhar no Diário do Comércio, nessa época me casei e fui morar na Rua Visconde de Parnaíba. Nesse jornal entrei como revisor, passei a arquivista e fui seu redator. Em 22 de fevereiro de 1989 quando Dona Luiza Erundina foi eleita prefeita, não me enquadrei com os ideais políticos dela. Eu me aposentei.
Como educador qual é a opinião do senhor sobre a aprovação continuada?
É um desastre! Em qualquer coisa na nossa vida só podemos alcançar progresso pelo mérito. Exclusivamente pelo mérito!Quem criou a promoção continuada foi Dona Luiza Erundina quando foi prefeita de São Paulo. O Mario Covas era governador, gostou da idéia, o Estado assumiu. Dona Luiza Erundina, como assistente social por formação, entendia que a reprovação era desestimulante. Isso é perfeitamente correto, até a reprovação em um exame laboratorial é desestimulante! Foi com base nisso que ela achou que a criança sendo automaticamente promovida ela iria se estimular, sentir-se mais segura de si e apresentar bons resultados. Ledo engano! Ela apostou errado, outros apostaram errados e cada vez mais se aposta errado na educação.
Na visão do senhor qual é a saída?
É a saída adotada pelos Tigres Asiáticos, investir cada vez mais na educação, sem atrelar á política. A educação deve ser um instrumento de promoção da família, do bairro, da cidade, do país.
Como se deu a sua vinda a Piracicaba?
Minha esposa Deise Grillo de Freitas trabalhava na área comercial, soube que havia á venda uma loja no shopping em Piracicaba. Adquirimos a loja e viemos para cá, não me arrependo de ter vindo á Piracicaba, embora não possa dizer o mesmo do negócio, estabelecimentos comerciais em shopping em determinadas situações são belas ilusões. Poucos comerciantes que trabalham em shoppings centers conseguem obter algum lucro. Os proprietários dos shoppings são os grandes beneficiados, não perdem nunca.
Sua atividade junto a grupos religiosos iniciou-se em que local?
Quando mudamos para o bairro Nova Piracicaba, passamos a freqüentar o Santuário Nossa Senhora dos Prazeres, nessa época conheci alguns vicentinos. Fui convidado a ingressar na Sociedade São Vicente de Paulo, isso foi em 2002. Eu sentia a necessidade de ser útil para mim e para meu semelhante. Na Paróquia de Nossa Senhora dos Prazeres há duas Conferências, a de São Paulo Apóstolo e a de Nossa Senhora dos Prazeres.
O que é ser vicentino?
É ser tocado por Deus para olhar para seu semelhante, com caridade no coração ajudar, tentar pelo menos promover a família de um necessitado. É um momento grandioso na vida da gente. Engajar-se nesse movimento é muito bom. Quando Ozanam fundou esse movimento a miséria na França era muito grande. Somos apolíticos, nosso grande objetivo é a caridade com o sentido de promoção, não praticamos o assistencialismo, e exercemos a evangelização.
O senhor exerce qual cargo na instituição?
Na Conferência sou vice-presidente, para exemplificar, a Conferência equivale a um município de um país. A conferência agrupa até 15 pessoas, ela tem uma área de atuação na cidade e se reúne uma vez por semana. Não somos uma entidade assistencialista, somos pregadores da palavra, evangelizadores. É um movimento católico, embora admita em suas fileiras quem não seja católico, embora este não possa ocupar cargo. Pode existir Conferência isolada sem estar ligada a uma paróquia. Essas Conferências se agrupam em um numero mínimo de oito, formando o que chamamos de Conselho Particular. Os Conselhos Particulares se agrupam em um numero de pelo menos cinco, formando um Conselho Central. Esses Conselhos Centrais se agrupam em um Conselho Metropolitano, que por sua vez se agrupam no Conselho Nacional. Do dia 4 a 10 de julho teremos a semana missionária, é aberta ao público, na Capela São Luiz será na quarta feira dia 6 de julho, das 20 às 22 horas, o Padre Edson estará presente. Todos estão convidados. Piracicaba tem uma atuação vicentina muito forte, existem aproximadamente 500 vicentinos.
Os vicentinos assistem famílias evangélicas?
Dos meus assistidos 65% são evangélicos! Não olhamos a crença de ninguém. A Sociedade tem uma credibilidade muito grande. Assistimos cerca de 60 famílias no Bosque do Lenheiro, desde 1999 quando o bairro começou, as ruas eram de terra ainda. Visitamos as famílias semanalmente. As cestas básicas nós levamos geralmente aos sábados.
Mas e o programa da Bolsa Família não supre as necessidades mínimas dessas famílias?
Isso é uma forma de captar votos dos eleitores. Cento e poucos reais vai sustentar uma família de sete a oito pessoas? Se não fosse o trabalho dos vicentinos, de outras entidades, de pessoas que trabalham anonimamente, essas pessoas morreriam de fome!
Qual é o maior problema encontrado nessas áreas assistidas?
O problema cultural é gravíssimo! São bem poucos os que têm o ensino fundamental.
Isso é fruto da falta de interesse dessas pessoas ou falta a ação efetiva do Estado?
Credito ás duas partes. Especialmente dessas pessoas, mas o Estado não atua como deveria atuar. Como educador posso afirmar que o bairro está aparelhado fisicamente para atender as necessidades de educação, não existe motivação nem empenho para que os educadores e dirigentes cumpram sua missão, a orientação oficial não estimula o trabalho do educador.
O desenvolvimento e o futuro do menor é motivo de preocupação dos vicentinos?
A questão do menor nos preocupa muito. Infelizmente de um modo geral a família do menor não está estruturada, o responsável pelo menor não acredita que o fator cultural possa alterar a vida do mesmo. Se o exemplo dentro de casa é desfavorável a criança se envolve muito pouco com a escola. Para eles a escola não oferece atrativos quando se dirigem á ela vão contra a sua vontade. Eles não conseguem visualizar que a escola é um meio de melhorar a sua vida. Se a família também não tiver essa visão, as coisas ficam muito difíceis. Se a família for bem estruturada as crianças vão para a escola, apresentam bons resultados.



segunda-feira, junho 27, 2011

RICARDO MARTINI E JOÃO AUGUSTO MARTINI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 17 de junho de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/

ENTREVISTADO: RICARDO MARTINI E JOÃO AUGUSTO MARTINI
Lembranças além de imagens trazem aromas e sabores. Atualmente as crianças e adolescentes consomem bolachas, principalmente as recheadas, devoram batatas fritas e salgadinhos, especialmente de uma marca líder de mercado. O consumo é alavancado por ações de marketing muito bem elaboradas. As crianças e adolescentes de algumas décadas passadas tinham outros hábitos alimentares, mesmo porque a maioria dos produtos consumidos atualmente não existia na época. O consumo de refrigerante era apenas em datas especiais: aniversários, casamentos, festas de fim de ano e mesmo assim de forma regrada, conforme ditava as normas do bom comportamento. O mesmo acontecia com os doces e salgadinhos. Restava a criança a opção do doce caseiro, obtido a partir das frutas mais abundantes: abóbora, mamão, laranja ou batata. Esses sim eram devorados com avidez, as famílias normalmente numerosas rapidamente consumiam a iguaria. Os folguedos, o trabalho precoce, o desenvolvimento físico, tudo colaborava para que as crianças e adolescentes encontrasse nos doces o repositório de energias. As tão famosas “vendas”, armazéns, ou padarias tinham sempre uma vitrine de doces, que aos olhos do pequeno cliente tinha o impacto de uma vitrine de joalheria. Uma figura que o tempo se encarregou de extinguir era a do ambulante, com sua cesta de vime coberta por um pano branco imaculado, levando quitutes aos consumidores. Tinham roteiro e freguesia já determinada, assobiavam, tocavam apitos ou gritavam refrões apregoando seus produtos. Eram pessoas queridas e respeitadas, quase faziam parte da família. O chamado “doce caseiro” teve como referência a cidade de Tietê, onde fervilhavam fabricas domésticas, com suas receitas passadas por gerações. Hoje muito pouco ou quase nada resta dessas fabricas de doces. Piracicaba é famosa pelas suas tradições: o Rio Piracicaba, a Escola de Agronomia, o Lar dos Velhinhos, O XV de Novembro, a Rua do Porto e seus peixes, a famosa cachaça, hoje mais difícil de ser encontrada, a pamonha, a Gengibirra do Orlando, os doces Stenico e Martini. Muitos piracicabanos, longe da terra natal chegam a sonhar com essas maravilhas. Mal colocam o pé na cidade e acorrem a cada um desses locais, um rito quase sagrado para quem esteve fora da terra abençoada, seja por pouco tempo ou por anos, o peso da saudade é sempre muito forte. Agostinho Martini Neto constituiu há 80 anos uma empresa que produz em escala industrial doces com as mesmas características do chamado doce caseiro. A partir de uma cesta de vime carregada embaixo do braço, determinado, ele chegou a fornecer doces para gigantes como a Volkswagen do Brasil. Sempre com a mesma qualidade. O seu aguçado espírito empresarial fez com que preservasse todos os itens que integraram o desenvolvimento da sua indústria, mantendo veículos e objetos em um local apropriado, um verdadeiro memorial da sua empresa. Muitas empresas já se preocupam em ter seu memorial, sabem do valor agregado que isso representa. Um acontecimento marcante na história de Piracicaba foi a celebração do casamento de Agostinho Martini Neto com Joana Rocha realizado em 1935 na Igreja Bom Jesus: o noivo ao invés do tradicional terno usava a farda verde do Integralismo, assim como muitos dos convidados envergavam suas fardas. (O Movimento Integralista foi fundado por Plínio Salgado no dia 7 de outubro de 1932, em síntese diz que o homem vale pelo trabalho, pelo sacrifício em favor da Família, da Pátria e da Sociedade, o Homem deve praticar as virtudes que o elevam e o aperfeiçoam).

Ricardo Martini, você é neto de Agostinho Martini Neto?

Sou, meu pai é João Augusto Martini e minha mãe Julieta Maria de Castro Martini, nasci em 15 de fevereiro de 1976. Sou engenheiro civil formado pela Escola de Engenharia de Piracicaba, tenho Pós-Graduação em Ciência dos Alimentos na ESALQ, onde a minha tese de mestrado aborda a produção de doces sem utilização de açúcar. Aos 21 anos fui morar por um ano em um kibutz em Israel (Combinando o socialismo e o sionismo no sionismo trabalhista, os kibutzim são uma experiência única israelita), em Londres permaneci por dois anos, tenho passaporte italiano, isso permitiu que eu trabalhasse como cidadão europeu. Entre outros serviços trabalhei na London Eye: uma elegante roda gigante às margens do Rio Tamisa, de onde se tem uma belíssima vista panorâmica de Londres, a duração da volta da roda é de meia hora, meu trabalho era servir champanhe e canapés durante esse giro, era um passeio especial, com um numero menor de pessoas, de 2 a 10, geralmente em cada ambiente cabem 25 pessoas.

Qual é a sensação de trabalhar como garçom na roda gigante London Eye?

Muito legal! Todos os dias eu fazia pelo menos um passeio na roda gigante, e ainda ganhava algum dinheiro pelo meu trabalho, que na realidade era um bico que eu fazia a noite, durante o dia trabalhava em uma empresa de pesquisas. As pessoas que freqüentavam a roda gigante eram muito comportadas, sem atitudes extravagantes, a cena mais inusitada que presenciei foi um pedido de casamento, o pretendente simulou que estava passando mal, todos acreditaram, inclusive eu, foi quando ele se ajoelhou e pediu a moça em casamento, isso tudo dentro da roda gigante! Foi bonito! Essa roda tem de 35 a 40 metros de altura.

Em que ano você voltou ao Brasil?

Voltei em 2001. Vim para trabalhar com a nossa família. Foi meu avô Agostinho Martini Neto que aos 16 anos iniciou essa empresa. Já naquela época meu avô tinha o apelido de Neguinho, mais tarde passou a ser chamado de Seu Neguinho, a origem desse apelido é desconhecida. Meus bisavôs Andrea Martini e Maria Fantazia tinham um bar na Rua Moraes Barros, próximo a Rua Santa Cruz, a minha bisavó fazia doces de abobora, batata e cocada e meu avô saia com cestos de palha vendendo os doces pelas ruas, além de venderem no próprio bar. Rapidamente as pessoas passaram a fazer encomendas de doces. A cidade embora fosse bem menor tinha moradores residindo em localidades dispersas, isso fez com que meu avô tivesse a necessidade de adquirir uma charrete e um cavalo isso foi em 1934. Em 1936 mudaram para o prédio onde até hoje se situa a fábrica, na Rua Ipiranga, 1725. Em 1938 ele adquiriu o primeiro veículo a motor, um Chevrolet 1928, que foi utilizado até 1950, na época ele já tinha cinco furgões que faziam entregas de doces pelos bares da cidade. Ele vendeu esse Chevrolet, a pessoa que adquiriu utilizou-o até 1970, foi quando ela ofereceu ao meu avô para recomprá-lo. Meu avô comprou o Chevrolet, restaurou, e ao construir a loja de vendas junto a fabrica colocamos esse veiculo e outras peças em um espaço que formam o acervo Martini, onde estão máquinas, equipamentos de escritório.

A Martini chegou a empregar quantos funcionários?

Chegamos a ter perto de 100 pessoas trabalhando conosco. Trabalhávamos com pêssegos, fazíamos extrato de tomate. Na década de 40 tínhamos forno a lenha, eram feitas queijadinhas, creme e outros doces. Foi quando surgiu o famoso doce “mata-fome”, que era na verdade um reaproveitamento de doces que no processo de fabricação quebravam, ou tinham tamanho fora do padrão, eram triturados, fazia-se um bolo com um creme em cima, era o famoso mata-fome! Eu não cheguei a comer, mas recebemos todo dia alguma pessoa que diz: “A época do mata-fome era boa!”. Chegam a pedir que voltemos a fazer só que não temos mais forno à lenha e nem todos os doces de forno que fazíamos na época são produzidos, torna-se inviável a fabricação do mata-fome.

Quantos filhos seu avô Agostinho Martini Neto teve?

Três filhos: Aljovil Martini (Homenageado com uma rua em seu nome no bairro Dois Córregos), João Augusto Martini, Lucio Carlos Martini (Titá). Dos 11 netos apenas eu permaneço trabalhando na Martini. Diante das circunstâncias econômicas e culturais do nosso país quem trabalha sério passa por muitas dificuldades: a carga tributária é muito grande, as margens de ganho são muito pequenas. Para ganhar dinheiro é mais fácil trabalhar como funcionário do governo ou em uma grande empresa, compensa muito mais do que ter seu próprio negócio. Em 1970 Pelé disse que devíamos cuidar das nossas crianças, quem sabe se a próxima geração tiver consciência de que a nossa sociedade deve mudar talvez daqui a umas duas gerações possamos chegar a viver em um país melhor. A nossa educação é deficitária, não temos pessoas qualificadas para mudar o país hoje. Há mais de uma década foram criadas leis que dão diplomas a quem nem sequer sabe ler. Não adianta ter um diploma se a pessoa não tem qualificação.

A sua vivência por diversos países propiciou conhecer a valorização que cada povo dá á produtos com tradição?

O piracicabano dá valor ás tradições como o peixe do Rio Piracicaba, o caldo de cana, a pamonha, o doce Martini. É comum chegar alguém afirmando que o filho ou parente próximo está na Europa e vai mandar um doce Martini. Até mesmo para piracicabanos residentes em outro estado são enviados doces de nossa fabricação. Dizem que a pessoa está com saudade de Piracicaba, alguém da família passa no Martini e compra um docinho para enviar á essa pessoa. Toda semana escutamos uma história envolvendo os doces fabricados pela Martini.

Quais os tipos de doces são fabricados atualmente?

Temos os doces em massa como a queijadinha, o creme, os doces típicos de festas juninas: paçoca, pé-de-moleque, cocada, torrone. Temos o doce sírio. Depois os doces em caldas e cremosos, todos a base de frutas. A partir de 1970 meu avô passou a fornecer para a Volkswagen, vendíamos caminhões de doces para ela que servia como sobremesa dos cerca de 20.000 funcionários. Até 1970 tínhamos fornos a lenha e produzíamos bolos de casamentos, minha avó com uma equipe de confeiteiras chegou a fazer 40 bolos em um fim de semana. Quando passamos a atender as cozinhas industriais substituímos os fornos a lenha, com isso alguns doces foram deixados de serem fabricados, inclusive os bolos. Nos anos 90 as empresas passaram a terceirizar as cozinhas, as condições de negociação foram modificadas, essas empresas terceirizadas passaram a impor até 70 dias de prazo para efetivarem os pagamentos dos produtos que entregávamos, além de estabelecerem preços de fornecimento aviltados, estabelecendo um leilão entre fornecedores e priorizando o menor preço em detrimento da qualidade.

Seu avô Agostinho Martini Neto fez muitas entregas com charrete?

No inicio ele trabalhou com charrete, depois ele adquiriu um Chevrolet ano 1928, fazia entregas em bares de Piracicaba, alguma coisa ele mandava para fora da cidade. Com esse veículo ele também ia buscar a matéria prima para fabricar os doces. Na época da guerra houve racionamento de açúcar, mesmo assim ele não deixou um dia sequer de funcionar a fábrica. Certa vez ele fez uma viagem de 12 horas de ida mais 12 horas de volta para ir buscar 10 sacos de trigo em Santos, isso com o Chevrolet 1928. Até uns 20 anos atrás todas as sexta feiras meu avô distribuía gratuitamente doces para as crianças que vinham á fábrica.

Como era seu avô?

Era muito trabalhador, levantava ás 5 horas da manhã e trabalhava até as 10 horas da noite. Quando o primeiro funcionário chegava a caldeira já estava ligada, as frutas quase todas descascadas. A empresa era uma grande família, era normal alguém vir trabalhar na empresa e logo em seguida trazer o irmão, primo para também trabalhar na Martini. O funcionário mais antigo está conosco há quase 50 anos. Dona Rosa trabalhou 50 anos conosco, hoje ela tem 100 anos, só não vem trabalhar pela dificuldade em andar, faz uns 10 anos que ela parou de trabalhar. Nos anos 40 meu avô era o único proprietário de carro e telefone que existiam no bairro, era comum ele ajudar a transportar pessoas, ceder o uso do telefone, era de número 587.

Você já recebeu visitantes estrangeiros?

No ano passado vieram dois ônibus com funcionários coreanos da Hyundai, eles comeram bastante pé-de-moleque. Muitas famílias piracicabanas trazem visitantes estrangeiros.

Quantos tipos de doces a Martini fabrica atualmente?

Entre caldas e massas são cerca de 50 doces. Em dezembro de 2010 abrimos uma segunda loja, fica no Mercado Municipal.

João Augusto Martini, filho de Agostinho Martini Neto, em que dia o senhor nasceu?

Nasci em 5 de janeiro de 1943, sou formado pela ESALQ e me formei na primeira turma de administração da UNIMEP

O doce sírio fabricado pela Martini é uma receita dada por alguém conhecido?

Foi Tuffi Elias quem ensinou ao meu pai a formulação e a fabricação do doce sírio.

Os doces Martini já estiveram presentes nos mais diversos locais.

Na Piracicaba de algumas décadas só tinha o Cemitério da Saudade, na época de finados ao longo do Estádio Barão de Serra Negra, em frente ao cemitério, montavam-se barracas vendendo os mais diversos artigos, os nossos doces estavam presentes. No início, ainda quando não existia o estádio era um bosque, com o Chevrolet 1928 levavam-se doces, mais tarde com o Chevrolet ano 1951 era feito o abastecimento de doces nessa barraca. No inicio era feita a venda de doces em praticamente todos os bares, armazéns e padarias, com visitas pelos menos 3 vezes por semana, lembro-me nitidamente do bar do Seu Augusto Cardinalli, pai do Didi Cardinalli, lá na Vila Rezende, aonde tinha o Valler. Santo Bueloni, Falanghe foram fornecedores que sempre que necessário deram crédito ao meu pai. Mais tarde chegamos a fornecer supermercados em nível nacional, só que o aumento dos custos de logística inviabilizou a manutenção dessas vendas. Passamos a atuar no mercado institucional das grandes indústrias, por volta de 69, 70 a indústria automobilística como Volkswagen, Mercedes Benz, Scania investiram nos refeitórios próprios, com o advento de planos econômicos elas passaram a terceirizar o serviço. A concorrência tornou-se feroz, as contratadas passaram a reduzir cada vez mais os custos, nós acompanhamos até o limite onde poderíamos manter nossa qualidade. Atualmente atendemos grandes empresas, um número menor delas, mas sempre com nosso padrão de qualidade.

 
João o seu pai participou de política?

O meu pai casou-se com o uniforme verde muitos dos convidados envergaram seus uniformes verdes, perfilados participaram da cerimônia, eram todos seguidores de Plínio Salgado do Partido Integralista. As vindas de Plínio Salgado á Piracicaba eram conduzidas pelo meu pai. A participação dele no meio social foi muito grande, a própria vinda do Corpo de Bombeiros de Piracicaba teve a participação dele, assim como a Guarda Mirim recebeu muito apoio dele. Os clubes sociais de Piracicaba tiveram nele um grande benemérito.





Postagem em destaque

História do Brasil: Juscelino Kubitschek