sexta-feira, abril 28, 2017

DULCE ANA DA SILVA FERNANDEZ


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 29 de abril de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/            




ENTREVISTADA: DULCE ANA DA SILVA FERNANDEZ

 

Dulce Ana da Silva Fernandez, escritora, poetisa, professora aposentada, tem em seu currículo um grande número de premiações e participações em antologias literárias. Nascida em Tietê a 24 de novembro de 1935, filha de Paschoal André da Silva, e Maria Berengam da Silva que tiveram oito filhos: Nair, Ida, Dulce, José Carlos, Moacir, Sonia, João e Lourenço. O pai de Dulce era comerciante. Alguns dos títulos e prêmios recebidos por Dulce em concursos literários: Tietê 1993 Conto: Lembranças; Tietê 1998 Conto: Bons tempos aqueles; Alumínio 1998 Conto: Bons tempos aqueles; Tietê 1999 Conto: No Arrulhar dos Pombos; São Vicente 1999 Conto: Nhá Dita; Tietê 1999 Poesia: Quem somos nós? ; Piracicaba 2000 Poesia: Gavetas da História; Tietê 2000 Poesia: Eternas Lembranças; Tietê 2000 Conto: A Esteira dos Peixinhos Dourados; Mogi-Guaçu Poesia: Vovó Mil Olhos; Tietê 2001 Poesia: Síndrome da Solidão; Tietê 2001 Conto: Valeriana; Tietê: 2002 Conto: Uma inacreditável Fênix; Cerquilho 2003 Conto: Uma inacreditável Fênix. Participação em Antologias Literárias: Almas Densas-1999-Barra Bonita; Meu Tirano Rio Tietê (conto); XVI Concurso de Poesias Mogi-Guaçu Vovó Mil Olhos (poesia); Concurso de Poesias Monteiro Lobato 2000 Taubaté Poema das Cores (poesia); Festival Literário da Terceira Idade 2000 Piracicaba- Gavetas da História (poesia); 500 Outonos 2000 São Paulo Eternas Lembranças I Repique do Réquiem (poesias); E por falar em Amor 2001 São Paulo Quadro Único (conto); Sinfonia Falada Opus I 2001 Itapetininga A Promessa (conto); Reverberações 2001 São Paulo Sempre há Tempo – Eternas Lembranças (poesias); E por falar em Amor II 2002 São Paulo Sinfonia de Mi-a-Dó (poesia e crônica); Escrevendo Mulheres 2002 São Paulo Nhá Dita (conto); Talentos da Maior Idade 2002 São Paulo Tonga (conto); Luz e Sombra 2002 São Paulo História de Pescadores I (conto); Energia Latente 2002 São Paulo O Faraó Destituído (conto); A Forja da Liberdade São Paulo História de Pescador II (conto); A Árvore da Vida 2003 São Paulo Caminhada alegre e ruidosa (conto); Prêmio Literário Cidade de Itapetininga 2003 Bicho-Homem (poesia); Marcas do Tempo V-2003 Descalvado Mulheres (poesia); Dias de Poesia  Itapetininga Vovó 1000 Olhos – Dulce Ana da Silva Fernandez; Dias de Poesia 2003 Itapetininga Efemeridade- Estações da Vida Versos Soltos; Sinfonia Falada Opus II 2003 Itapetininga; Rebuscando Emoções O Dia “D” Normalidade Efêmera (mini-contos) Idiossincrasias 2004 São Paulo O jogo do destino (crônica e poesia).

A senhora formou-se professora em qual cidade?

Sou formada professora pela Escola Normal de Tietê.
O início da sua carreira como professora foi em qual cidade?

Comecei a lecionar em São Paulo, com 21 anos, eu tinha a tia Clementina que morava em São Paulo, foi onde me hospedei. Naquele tempo uma viagem de ônibus para São Paulo levava quatro horas. Eu morava no Brás e lecionava na Vila Maria. Permaneci lá por um ano.
                                                       FESTA DE SÃO BENEDITO


Como era dar aulas naquela época?

Era uma beleza! Isso porque naquela época o aluno ia com uma fome de novos conhecimentos, de saber. Ele não tinha acesso a televisão, as mídias, eletrônicas, isso fazia com que o aluno adorasse em ir à escola. Era uma forma de distração para o aluno. Nós tínhamos muita facilidade em manter a disciplina. Quando o professor entrava na sala de aula os alunos levantavam-se. Havia um grande interesse pela história, eu sempre tive muita facilidade em alfabetizar. O professor era respeitado pelos alunos e muito querido pelos pais dos alunos. O salário do professor proporcionava-lhe uma vida com dignidade. Eu também dava aulas para duas turmas do SESI a tarde, das seis da tarde às nove da noite. Das seis as sete e meia era uma turma e das sete e meia às nove horas da noite era outra turma.  


                                            MICHEL TEMER NASCEU EM TIETÊ

           MICHEL TEMER RECITA O POEMA E CONTA A HISTÓRIA DO RELÓGIO


Como a senhora ia do Brás até a Vila Maria?

Ia de bonde até o Largo da Concórdia, lá pegava o ônibus até a Vila Maria. O bonde era aberto nas laterais. No Largo da Concórdia havia um banco onde esperávamos o ônibus chegar. Foi ali que conheci o meu marido. Tudo começou com um flerte, eu sentada, ele em pé, naquele tempo havia um respeito muito grande, era normal os homens usarem paletó e gravata. O nome dele era Jose Carpintero Fernandez, natural da Espanha. Ele veio com o pai dele, quando tinha 19 a 20 anos. No início tive um pouco de receio, ele era de um país estrangeiro, com idioma diferente, mesmo eu tendo facilidade em entender o que ele dizia.

Após casarem a senhora passou a dominar a culinária espanhola?

Aprendi muita coisa, entre eles o famoso puchero. Doces diferentes. Estive por duas vezes na Espanha, uma vez fiquei por 30 dias, outra por 59 dias, aprendi algumas receitas.

Quantos filhos você tiveram?

Tivemos três filhos: Carmen, José Ricardo e Fernando Henrique. Tenho cinco netos.

A senhora conciliava o trabalho de dona de casa, mãe, esposa, com o seu trabalho como professora?

Conciliava bem! Eu tinha uma pessoa que ajudava no trabalho doméstico.

Após casar-se a senhora e seu marido foram morar em que bairro de São Paulo?

Fomos morar na Vila Maria! A nossa casa ficava próxima a escola e ao serviço do meu marido. Ele trabalhava na CMTC – Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos, na parte administrativa. Naquela época Jânio Quadros costumava visitar os hospitais, a CMTC, geralmente eram visitas de surpresa. Ele era um político muito querido naquela época.

A senhora é também poetisa?

Sou! Tenho lançados quatro livros: “Cirandeira” é o primeiro livro, onde eu conto a história dos meus familiares. O segundo livro é “Pescadora de Emoções”, é um livro em que tenho contos, o terceiro livro é “Uma Aventura Divertida”, é um livro infantil, o quarto livro é um de poemas “Janelas da Vida” O primeiro livro “Cirandeira” é em prosa e verso.

Em São Paulo a senhora permaneceu por quanto tempo?

Fiquei uns dois anos, em seguida fui para a localidade de Iepê, situada depois de Assis. Meu marido saiu da CMTC e mudamos para aquela localidade na divisa com o Paraná, atravessando o rio já estava no Estado do Paraná. Lá eu permaneci por um ano e depois escolhi uma escola próxima a Itaquaquecetuba, meu marido montou nessa localidade um comércio. Ali permanecemos por uns 12 anos.  Eu sempre queria voltar para Tietê.



O que a cidade de Tietê tem de tão atrativo?

Meus familiares eram todos de Tietê. É uma cidade hospitaleira, o povo é muito carinhoso, as amizades desde a infância, É uma grande família.


                                                              Tietê antigamente

Tietê tem  famas marcantes, uma delas são os doces caseiros, inigualáveis.

Tietê mantém até hoje essa fama e a qualidade dos seus doces. Além de ser a terra de Cornélio Pires, nascido em Tietê, São Paulo, em 1884, foi escritor, compositor, conferencista, jornalista, contador de causos, folclorista e poeta. Gravou Jorginho do Sertão, folclore paulista adaptado por Cornélio Pires, lançado em 1929 por Mariano e Caçula. A primeira moda de viola gravada no Brasil.

Outra característica, quase folclórica, é que todos são conhecidos por um apelido.

É também conhecida como cidade dos apelidos, tanto que segundo contam, um senhor fez uma aposta com um amigo de que iria até Tietê e permaneceria por alguns dias sem que ganhasse qualquer apelido. Hospedou-se em um hotel, e de lá não saiu nesse período, a não ser para de tempos em tempos fumar na sacada do apartamento. Após alguns dias, ciente de ter ganhado a aposta, desceu de mala e cuia, para rumar à sua cidade de origem e embolsar a aposta certamente ganha. Estava de plantão apenas o camareiro, que prontamente chamou o gerente do hotel nos seguintes termos: “Seu gerente, o senhor pode vir até aqui que o hospede do apartamento 21 vai-se embora, o Cuco!” O hospede saia na sacada, à semelhança de um cuco de relógio! Ganhou um apelido e perdeu a aposta! O apelido do meu marido era Espanhol.



Por manter suas tradições, preservar a arquitetura, a cidade tem um aspecto muito próprio.

Inclusive as igrejas são muito famosas. A igreja matriz é uma igreja muito bonita. A Igreja São Benedito é centenária. Todos os anos têm procissão, com a vinda de pessoas de longe para participar das cerimônias religiosas ali realizadas. A Igreja Santa Terezinha é anexa ao local onde se formam padres.

Tietê tem bailes de carnaval muito famosos?

Tietê teve antigamente bailes de carnaval muito famosos, embora eu não participasse desses bailes porque havia algumas regras que meu pai fazia questão em manter, entre elas era o horário que tínhamos que estar em casa, geralmente em torno das dez horas da noite. Os bailes geralmente começavam às onze horas da noite.

Lá existiam vários clubes, mas dois eram muito conhecidos, havia até certa disputa entre eles?

Existe até hoje, são os clubes Recreativa (Sociedade Recreativa de Tietê) e Esportiva-Tietê Esportiva Clube (TEC). Há o conhecido e tradicional Hotel Cuitelo. Há uma pensão tradicional, muito boa, é a Pensão do Lazarim. No meu tempo de menina em Tietê havia pouquíssimos automóveis, a criançada brincava na rua, eu morava a uma quadra do jardim, brincávamos onde chamávamos de coléginho. Em Porto Feliz, Laranjal Paulista, Conchas não havia a Escola Normal, as estudantes vinham e ficavam no Colégio das Madres. Naquele tempo fechavam as portas das casas que se abriam para a rua somente na hora de dormir. Tanto as portas como janelas ficavam abertas.

A senhora lembra-se dos doces feitos na época?

A tradicional e famosa goiabada, pessegada, cocada, doce de abóbora, doce de batata, todos doces caseiros. Até hoje existe esses doces. A goiabada cascão é muito procurada. A minha mãe fazia esses doces. Papai gostava de pescar, o Rio Tietê era maravilhoso, as águas eram prateadas, não havia poluição. Pescava o peixe dourado, grande. Quando ia de bote trazia os peixes cascudos espada, em casa havia duas cozinhas, a cozinha externa tinha fogão a lenha, colocávamos para “moquear” os cascudos. O cascudo espada é grande, tem uns dois palmos aproximadamente. Colocávamos no fogão, quem ia passando por perto do fogão dava uma virada, para soltar o couro dele. Daí, fazíamos uma suculenta sopa de cascudo! Era deliciosa! Em casa tinha caldeirões de alumínio grande, ficava cheio de peixes fritos. Lembro-me de que havia o Hotel Lenzi, e mais três ou quatros hotéis, algumas vezes eles nos procuravam para adquirir peixes, tal era a quantidade que o Rio Tietê fornecia.

Quais eram as brincadeiras infantis da época?

Os meninos brincavam de pega-pega. As meninas brincavam de casamento espanhol, ficava um grupo de um lado e outro grupo de outro lado, os meninos escolhiam as meninas com quem queriam se casar, no final, quando todos tinham sido escolhidos, dava o braço e dirigiam-se ao altar que tinham montado, ali havia um menino que fazia o papel do padre. Em seguida todos voltavam a sentar-se. Às vezes fazíamos uns docinhos. Tinha uma amiga que morava no Pátio do Mercado no lugar onde é a prefeitura atualmente, como o quintal era grande a sua mãe deixava armar uma barraquinha e montar um circo. A entrada para o circo eram cinco palitos de fósforo sem ter sido usado. E levavam os docinhos também, algumas meninas vendiam os docinhos. Tietê tinha um cinema. As terça e quinta feiras a entrada era mais barata. Passavam filmes de Flash Gordon.

E rádio como era?

Rádio tinha! Não existia televisão! Ouvia novelas, muitas casas tinha a chamada vitrola onde eram tocadas músicas da época.

Do período da Segunda Guerra a senhora lembra-se de alguma coisa?

Lembro-me que foi para a guerra um rapaz de uma família conhecida em Tietê, combateu na Itália, e ao término da guerra voltou para Tietê. Ele narrava que nas trincheiras, muitas vezes insetos, pequenos animais, subiam pelas roupas, eles não podiam fazer um movimento sequer, para não serem notados.

Quando a senhora tornou-se uma jovem, qual era a distração preferida em Tietê?

Tínhamos o hábito de passear pelo jardim, havia a reta que ia e a reta que voltava, ali que fazíamos as chamadas “paqueras” ou flertes. O rapaz dava um sinal e a moça saia do meio das outras para conversar com o moço.

Como era dado esse sinal?

Era com a cabeça, nós já sabíamos o significado, então a moça ia para a segunda reta, que era a chamada “reta dos namorados”.

Onde a senhora busca inspiração para as suas poesias?

Minhas poesias nascem em qualquer lugar! Em uma folha, em uma gota de água. Em um olhar, em um passeio, uma caminhada. Elas brotam conforme a inspiração. Muitas vezes chega a inspiração, eu estou fazendo o almoço, tenho que desligar o fogão e fazer a poesia, tem que ser naquela hora. Às vezes de madrugada eu perco o sono, encosto no travesseiro e já escrevo. Eu tenho muita facilidade para escrever os contos.

Como a senhora vê o jovem atualmente?

A meu ver, a mídia eletrônica chegou de forma atropelada, muita novidade em curto espaço de tempo, acredito que ainda não existiu o tempo suficiente para definir o espaço que cada elemento deve ocupar. O essencial que é a leitura, os livros, estão sendo substituídos por um meio de comunicação que é mais fácil e mais rápido. Não vejo isso com bons olhos. Acredito que é importantíssimo o aluno ler e escrever. Infelizmente sente-se que muitos jovens não têm o habito de escrever. A falta do habito de escrever faz com que ele escreva de forma errada.  Essa realidade está evidenciada nas redações de vestibular, onde há alunos cuja nota é zero. Estamos retrocedendo! Até o homem da caverna escrevia nas paredes das cavernas! Tinha vontade de escrever! Uma maioria dos alunos de hoje não tem essa vontade. Perderam!

De certa forma, os símbolos esculpidos nas paredes das cavernas foram substituídos por símbolos tecnológicos, deixando de lado a ordenação gramática e literária?

O homem da caverna não tinha outra opção, não detinha conhecimentos, o homem de hoje têm opções, pode obter esses conhecimentos. Simplesmente ele busca o caminho mais fácil, há uma pressa descomedida.

Qual é a importância da leitura para uma pessoa?

A leitura é maravilhosa! Ela transporta as pessoas, faz com que conheça novos lugares, desenvolve os neurônios, faz com que a pessoa raciocine,

O leitor deve apenas ler, ou ler e analisar aquilo que foi escrito?

Com o passar do tempo, após adquirir o habito de ler, surge a facilidade de ler, analisar e reter aquilo que está lendo. Entender qual é o objetivo que o autor busca.

Há autores que escrevem ao vento, ou seja, mais para se vangloriarem de que escreveram algo?

Infelizmente isso ocorre. Só que o leitor é de certa forma crítico o suficiente para ver que ali não há nenhum conteúdo, nenhuma mensagem, ele simplesmente abandona aquela leitura vazia.

O chamado livro de auto-ajuda como a senhora vê?

Acho bom. Há pessoas que não tem facilidade em ter um pensamento positivo. Esses livros ajudam a pessoa analisarem melhor seus pensamentos. Temos cerca de 60.000 pensamentos por dia, sendo que quarenta por cento deles são perfeitamente descartáveis. Um livro que melhore a qualidade desses pensamentos pode ajudar muito.

Atualmente recebemos uma carga de informações muito grande, isso exige uma filtragem maior?

Nós não dominamos essa carga, temos que selecionarmos o que serve e o que não serve.

A televisão sob seu ponto de vista exerce uma função importante?

Ela pode ser útil, basta sabermos fazer a seleção e o tempo de permanência diante dela. Há aspectos positivos e negativos, cabe a pessoa decidir o que pretende. É só selecionar o joio do trigo.

A senhora pratica exercícios físicos?

Faço. Musculação, oficina da memória e equilíbrio. Aos 81 anos é fundamental fazer exercícios. Sempre tive participação ativa junto aos alunos, nas aulas de ginástica, teatrinho, onde até interpretava alguma personagem. Todo sábado fazia o Culto à Bandeira, era uma hora de festa: com música, dança, quem tinha aptidão cantava, fazia teatro, quem tinha boa oratória lia uma poesia. Em Tietê eu participo das festividades alusivas a Cornélio Pires. Quando ele faleceu pediu que fosse sepultado de pijama, para que suas roupas fossem dadas aos pobres. Ele deixou para a cidade a Casa dos Meninos, que era uma chácara grande que ele tinha. Tietê teve também Benedicto Pires de Almeida, o Zico Pires, que escreveu em dois volumes a Cronologia Tieteense.

A senhora conquistou muitos prêmios, e tem uma memória privilegiada.

Ganhei alguns prêmios, e tem uma poesia da qual gosto muito, chama-se “Relicário de Um Vespertino” é sobre um raio de sol que visita a casa de uma idosa. (Dulce declama a poesia com total domínio trazendo muita emoção).

 


História do Município de IPIÊ
Fonte: Livro Iepê minha amada e querida de José Candido da Silva Filho
Famílias Pioneiras - Antônio de Almeida Prado, Francisco Severiano de Almeida, José Lino Santana, João Rudino Santana, Anfrísio Rodrigues, João Antônio Rodrigues, Tertuliano Machado Coutinho 1º Presbítero da Igreja Presbiteriana Independente, em cuja casa iniciou-se a primeira comunidade evangélica de Iepê. Em meados de 1917 chegam Anfrísio Rodrigues e Júlia Coutinho Rodrigues; dez anos depois Antônio Zanoni, em 1934 Germano Gonçalves dos Santos e Leônidas Ribeiro Passos, em 1937 Emiliano Salustiano e no ano de 1938 Antônio Francisco da Silva (Antônio Rosa) e José Cândido da Silva.  O Sertão dos Patos, onde se localiza Iepê atualmente, era povoado desde o ano de 1917 por algumas famílias. Neste mesmo ano, a Companhia Brasileira de Colonização (responsável pelo loteamento das terras da região), doou dez alqueires de terras para ser fundado o patrimônio de São Roque da Boa Esperança. Este estava localizado no município de Conceição do Monte Alegre, comarca de Campos Novos Paulista, nas proximidades do Córrego do Patos.  O local desenvolveu-se com o decorrer dos anos, no entanto, os moradores sentiram a necessidade de ser construída uma escola, para que seus filhos recebessem educação formal. Francisco Severiano de Almeida, mais conhecido por Chico Maria, tentando solucionar o problema, procurou os dirigentes locais solicitando autorização para a construção da escola.      Estes não aceitaram a sua proposta por questões meramente religiosas, pois Chico Maria era protestante e o Patrimônio pertencia à Igreja Católica. Então ele propôs que fundada a escola o professor seria católico. Mesmo assim, a idéia de Chico Maria não foi aceita.
A situação agravou-se mais ainda quando faleceu um protestante e foi sepultado no cemitério local. Os dirigentes do Patrimônio mandaram cercar o cemitério, deixando do lado de fora o túmulo do protestante.  Depois do ocorrido, Chico Maria foi à residência de João Santana comunicar-lhe a idéia de fundar um novo patrimônio, onde houvesse liberdade religiosa para todos os credos. Desta feita, os dois dirigiram-se à casa de Antônio de Almeida Prado, sobrinho de Chico Maria. Este, depois de saber dos planos do tio, doou dez alqueires de terra para a fundação do novo patrimônio.

     Em abril de 1923 foi criado o patrimônio de "Liberdade" nas terras recém doadas. No ano seguinte, ocorreu a primeira tentativa de criar o Distrito de Liberdade, mas não deu certo. Somente em 29 de dezembro de 1927 que Liberdade passou a ser um Distrito de Paz, com o nome de Iepê, sob jurisdição do município de Conceição do Monte Alegre. Caio Simões propôs o nome de Iepê, que na tradição lingüística Tupi-guarani significa liberdade, pois já existia no Estado de São Paulo um outro patrimônio com esta denominação.

Em 05 de julho de 1935, Iepê deixou de pertencer ao município de Conceição do Monte Alegre e passou à jurisdição de Rancharia, permanecendo até o ano de 1944. O distrito, em 5 de agosto de 1940, passou a ser constituído de duas zonas, sendo a primeira zona Iepê, e a segunda Alegria. Iepê só foi emancipada no dia 30 de novembro 1944. Esta data passou a ser comemorada a partir de 1990, pois antes a comemoração era feita no dia 24 de junho, dia de São João Batista, o padroeiro da cidade.

A instalação do município ocorreu no dia 1º de janeiro de 1945, com a nomeação do primeiro prefeito municipal de Iepê - Dr. Agenor Roberto Barbosa. O município era composto de dois distritos de Paz: Iepê e Agicê (ex-Alegria). Passados quatro anos, nesta mesma data, foi instalada a primeira Câmara Municipal da cidade, tendo como primeiro presidente o Sr. Odilon Amâncio Taveira.  Em 24 de dezembro de 1948, o Distrito de Paz de Agicê foi desmembrado de Iepê, no entanto, no dia 30 de dezembro de 1953 incorporou o Distrito de Nantes pelo Decreto - Lei nº 2456.      Em 1963, Iepê teve a sua primeira vara distrital criada, como não foi instalada, revogou-se a lei em 1969. No dia 7 de junho de 1988, foi aprovado, pela segunda vez, na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, o Projeto de Lei nº 725/87, a criação da Vara Distrital de Iepê, que foi instalada quatro anos depois


Cornélio Pires
(Tietê, 13 de julho de 1884São Paulo, 17 de fevereiro de 1958) foi  jornalista, escritor, folclorista, Empresário e [Ativista Cultural] brasileiro.
Iniciou a sua carreira viajando pelas cidades do interior do estado de São Paulo e outros, como humorista caipira.
Em 1910, Cornélio Pires apresentou no Colégio Mackenzie, hoje Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, um espetáculo que reuniu catireiros, cururueiros e duplas de cantadores do interior. O Colégio Mackenzie foi fundado e sempre mantido pela Igreja Presbiteriana, à qual Cornélio Pires pertencia.
Ambicionando cursar a Faculdade de Farmácia, deslocou-se de Tietê para a cidade de São Paulo, a fim de prestar concurso de admissão. Não tendo obtido sucesso em seu intento, conseguiu empregar-se na redação do jornal O Comércio de São Paulo. Posteriormente trabalhou no jornal O Estado de S. Paulo, onde desempenhou a função de revisor. A partir de 1914, passou a trabalhar no periódico O Pirralho.
Foi autor de mais de vinte livros, nos quais procurou registrar o vocabulário, as músicas, os termos e expressões usadas pelos caipiras. No livro "Conversas ao Pé do Fogo", Cornélio Pires faz uma descrição detalhada dos diversos tipos de caipiras e, ainda no mesmo livro, ele publica o seu "Dicionário do Caipira". Na obra "Sambas e Cateretês" recolhe inúmeras letras de composições populares, muitas das quais hoje teriam caído no esquecimento se não tivessem sido registradas nesse livro. A importância de sua pesquisa começa a ser reconhecida nos meios acadêmicos no uso e nas citações que de sua obra faz Antonio Candido, professor na Universidade de São Paulo, um dos grandes estudioso da sociedade e da cultura caipiras, especialmente no livro Os Parceiros do Rio Bonito.

Cornélio Pires foi o primeiro a conseguir que a indústria fonográfica brasileira lançasse, em 1928, em discos de 78 Rpm, a música caipira. Segundo José de Souza Martins, Cornélio Pires foi o criador da música sertaneja, mediante a adaptação da música caipira ao formato fonográfico e à natureza do espetáculo circense, já que a música caipira é originalmente música litúrgica do catolicismo popular, presente nas folias do Divino, no cateretê e na catira (dança ritual indígena, durante muito tempo vedada às mulheres, catolicizada no século XVI pelos padres jesuítas), no cururu (dança indígena que os missionários transformaram na dança de Santa Cruz, ainda hoje dançada no terreiro da igreja da Aldeia de Carapicuíba, em São Paulo, por descendentes dos antigos índios aldeados, nos primeiros dias de maio, na Festa da Santa Cruz, a mais caipira das festas rurais de São Paulo).
A criação de Cornélio Pires permitiu à nascente música caipira comercial, que chegou aos discos 78rpm, libertar-se da antiga música caipira original, ganhar vida própria e diversificar seu estilo. Atualmente a música caipira é chamada de música raiz para se diferenciar da música sertaneja. A música caipira dos discos 78rpm nasce, no final da década de 1920, como o último episódio de afirmação de uma identidade paulista após a abolição da escravatura, em 1888, que teve seu primeiro grande episódio na pintura, especialmente a do Ituano Almeida Júnior, expressa em obras como "Caipira picando fumo", "Amolação interrompida", dentre outras. A ironia e a crítica social da música sertaneja originalmente proposta por Cornélio Pires, situa-se na formação do nosso pensamento conservador, que se difundiu como crítica da modernidade urbana. O melhor exemplo disso é a "Moda do bonde camarão", uma das primeiras músicas sertanejas e uma ferina ironia sobre o mundo moderno.
Após encerrar a sua carreira jornalística, Cornélio Pires organizou o "Teatro Ambulante Cornélio Pires", viajando com o mesmo de cidade em cidade, aplaudido por onde passava.
Cornélio Pires é primo dos escritores Elsie Lessa, Orígenes Lessa, Ivan Lessa, Juliana Foster e Sergio Pinheiro Lopes.


                                          MUSEU HISTÓRICO CORNÉLIO PIRES
                                           JOÃO NEGRÃO E CORNÉLIO PIRES

Cornélio Pires e o espiritismo

Cornélio Pires pertencia a uma extensa família de presbiterianos e, na juventude, frequentava as reuniões da igreja com os seus familiares.
Durante as suas viagens pelo interior do país, teve contato com vários fenômenos mediúnicos, particularmente algumas comunicações do espírito Emílio de Menezes, que muito o impressionaram. A partir de então passou a estudar as obras espíritas principalmente as de Allan Kardec, Léon Denis, Albert de Rochas e alguns livros psicografados pelo então jovem médium Francisco Cândido Xavier. A partir de então dedicou-se ao Espiritismo, com particular interesse pelos fenômenos de efeitos físicos.
Nos anos de 1944 a 1947 escreveu os livros "Coisas do outro mundo" e "Onde estás, ó Morte?", tendo falecido quando se dedicava à redação da obra "Coletânea Espírita".
Pouco antes de falecer, retornou à sua cidade natal, onde adquiriu uma chácara, tendo fundado a instituição Granja de Jesus, um lar para crianças desamparadas, que não teve a oportunidade de ver implantado.
Foi tio do jornalista espírita José Herculano Pires, tradutor e estudioso das obras de Allan Kardec e associado à corrente científica do Espiritismo brasileiro.

sexta-feira, abril 21, 2017

TOGO EDGARD YEDA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 22 de abril de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/









ENTREVISTADO: TOGO EDGARD YEDA

Carlos José de Arruda Botelho nasceu em Piracicaba a 14 de maio de 1855, filho do coronel Antonio Carlos de Arruda Botelho, Conde de Pinhal, e de Da. Francisca de Arruda Botelho. Iniciou seus estudos em Piracicaba, terminou no Colégio de Itu. Em 1867 foi para o Rio de Janeiro onde cursou até o segundo ano de medicina, em 1875 viajou para a França, matriculando-se no terceiro ano da Faculdade de Medicina de Paris especializando-se em cirurgia. Dedicou-se ao exercício da medicina ao voltar para o Brasil. Fixou residência no Rio de Janeiro onde se casou com Constança de Brito Souza Figueiras. Carlos Botelho no governo de Jorge Tibiriçá foi Secretário da Agricultura englobando as pastas de Comércio, Obras Públicas, Viação, Navegação e Iluminação. Entre seus muitos feitos, resolveu dar impacto à cultura do algodão. Assim como incentivou a cultura do arroz, importado do Oriente. Carlos Botelho criou a Agencia Oficial de Colonização e Trabalho. Carlos Botelho estabeleceu diversos núcleos coloniais. Trouxe judeu-russos (Nova Odessa), espanhóis, italianos e japoneses. Antes da primeira imigração oficial de japoneses, providenciou a vinda de alguns deles, que foram para a Fazenda Dourados em Iguape.  Ao término de 1899, a armadora britânica Pacific Steam Navigator Company (PSNC) planejou um bom número de vapores destinados a renovar a sua frota. O primeiro foi lançado ao mar em junho de 1900, com o nome de Potosi, de desenho tradicionalmente britânico, com casa de comando separada da superestrutura central, eram navios destinados a ter capacidade mista. Possuía casco de aço, seis porões de carga, três conveses, duas hélices, única chaminé. Quando se encontrava em fase de acabamento, foi visitado por responsáveis da organização denominada Frota de Voluntários Russos (RVF), os quais procuraram na Inglaterra navios para comprar. O Potosi foi um dos escolhidos. Rebatizado Kazan, o vapor saiu, em setembro de 1900, de Newcastle para Odessa. Podia transportar cerca de dois mil homens e logo após a sua chegada ao porto russo foi integrado como navio auxiliar da Frota do Extremo Oriente. Em 1904, com a eclosão do conflito com o Japão, o Kazan foi transformado em navio-hospital. Capturado pelos japoneses passou ao serviço da Marinha Imperial do Japão, como transporte auxiliar, com o nome de Kasato Maru. No ano seguinte, o navio foi fretado à armadora Tokyo Kisen, e por esta, utilizado na inauguração da nova linha entre o Japão e a Costa Oeste da América do Sul. Em 1908, quando a Companhia Kokoku necessitava de um vapor para expedir seus primeiros imigrantes ao Brasil, é o Kasato Maru o navio escolhido.




 Esta leva de imigrantes nipônicos chegando a terras brasileiras era a conseqüência da assinatura, em 1906, de um acordo entre o Japão e o Brasil, estabelecendo um tratado de amizade entre as duas nações. O nome Kasato-Maru não é somente o nome próprio de uma embarcação. Para os japoneses que emigraram para o Brasil e seus descendentes, “Kasato-Maru” é também um símbolo.




A trajetória percorrida pelos japoneses e seus descendentes no Brasil tem seu ponto de partida na viagem do Kasato-Maru. Na tarde de 28 de abril de 1908, o sol se recolhia serenamente no porto da cidade de Kōbe. Debaixo dos fogos de artifício que anunciavam sua partida, o vapor Kasato-Maru pertencente à Companhia de Navegação a Vapor Oriental com capacidade de 6.167 toneladas zarpava em direção ao porto de Santos, levando os primeiros 781 emigrantes japoneses contratados para trabalharem no Brasil. Após mais de cinqüenta dias a bordo, os imigrantes desembarcaram no cais 14 de Santos na manhã de 18 de junho, tendo percorrido quase 12 mil milhas náuticas entre o início e o fim da viagem. Ao lado de Ryō Mizuno, presidente da Companhia Imperial de Colonização responsável pelo recrutamento dos imigrantes.  Esse dia é comemorado no Brasil como o Dia da Imigração Japonesa; no Japão, ele é o Dia da Emigração Ultramarina.  Ao longo dos anos e décadas seguintes à escala pioneira do Kasato Maru, numerosas embarcações do Japão trouxeram cerca de 260 mil imigrantes. Hoje a comunidade de japoneses e descendentes (já na quinta geração) soma aproximadamente 1 milhão e 200 mil pessoas. No dia 28 de junho de 1910, chegou a segunda remessa de imigrantes japoneses: 906 pessoas pelo vapor Royojun Maru. Elas seguiram para as fazendas da Alta Mogiana.




O Kasato Maru partiu para o Brasil uma segunda vez, em dezembro de 1916, aportando em 1917, mas como cargueiro, a serviço da Osaka Sosen Kaisha (OSK) Line. Quando ele retornou, veio para fazer pesquisa de frete, com o objetivo de se instalar uma linha marítima comercial entre os dois países. Anos mais tarde, em1920, a OSK Line começou a receber subsídios do governo japonês para operar na linha para a América do Sul. Na época, a armadora tinha 11 navios mistos (de cargas e de passageiros), que continuaram no tráfego até 1935, quando a companhia adquiriu novas embarcações. A frota da OSK Line contou com navios como Buenos Aires Maru, Montevideo Maru, Santos Maru e Manila Maru, entre outros. Em sua primeira viagem o Kasato Maru  trazia 781 imigrantes lavradores japoneses, sendo 165 famílias mais ou menos e 48 avulsos. Conta-se que, na verdade, o registro de embarque indicava 780 imigrantes, porém durante a viagem foi encontrado mais um indivíduo, escondido no navio e aceito sem maiores problemas.




 A viagem durou por volta de 52 dias e o Kasato Maru passou somente por dois outros portos antes de chegar a Santos – Singapura, na Ásia e Cidade do Cabo, na África do Sul. Não houve mortes durante a viagem, algo incomum para uma estada tão longa em navio no início do século XX. Todos os imigrantes que estavam nesse navio, nessa viagem, passaram pela Hospedaria de Imigrantes do Brás. Passaram a noite do dia 18 a bordo e no dia 19 rumaram de trem à hospedaria. José Yeda um dos primeiros imigrantes japoneses, foi um dos passageiros da primeira viagem do Kasato Maru, na época tinha apenas 15 anos, veio acompanhado do seu tio que não quis ficar no Brasil, no Japão havia um comentário de que havia canibais no Brasil. Ao chegar ao porto de Santos e ver a movimentação de carga e descarga de navios, ficou muito impressionado com a grande quantidade de estivadores negros, uma raça totalmente desconhecida para ele. A neta de José Yeda, filha de Togo Yeda, pesquisando descobriu que o nome do seu avô na verdade era Iida Matagi, ao fazer a naturalização ficou sendo José Yeda Matani.




 De Santos José Yeda foi para São Paulo, ficou hospedado na Hospedaria dos Imigrantes, ao lado da hoje Estação Bresser do Metrô. Na hora de fazer a distribuição das famílias para o local destinado José Yeda acabou se perdendo indo parar em Poços de Caldas.

Togo Edgard Yeda é filho de José Yeda, ele prossegue nesse relato histórico.

O seu pai foi trabalhar em quê quando chegou a Poços de Caldas, totalmente perdido?

Meu pai, José Yeda foi trabalhar no Hotel Central de Poços de Caldas, como carregador de malas, depois ele passou a ser garçom, foi cozinheiro, nas horas vagas ele trabalhava no Cassino Palace Hotel como garçom. Naquela época em Poços de Caldas havia cassino, hotéis luxuosos, era uma cidade freqüentada pela mais alta camada da sociedade brasileira: Conde Francesco Matarazzo, Morganti, Pignatari e outros. O Conde Matarazzo fez a proposta para ele ir trabalhar como mordomo em sua mansão em São Paulo. Meu pai consultou a minha mãe que não quis ir para São Paulo. O Comendador Pedro Morganti fez a mesma proposta para ele, vir para Piracicaba, na mansão da Usina Monte Alegre, iria ser o seu mordomo.

Seu pai conheceu a sua mãe no Brasil?

Em Poços de Caldas meu pai conheceu a minha mãe Aurora Malpaci Yeda ela era italiana, veio com os pais quando tinha três anos de idade, era da cidade de Acerina. Tiveram dez filhos: Paulo, Nelson, Julia, Benedita, Durval, José Yeda Filho(Zézinho) casado com Luci Cardinali, donos da Padaria Brasileira, Silvia que faleceu ainda jovem, nascidos em Poços de Caldas. Em Piracicaba nasceram: Sérgio afilhados de Hélio Morganti, Togo afilhado de João Bottene, Arack afilhado de Marchetti que juntamente com o artista Alfredo Volpi pintou o interior da Igreja de São Pedro, mais conhecida como Capela do Monte Alegre.

O senhor nasceu em que dia e local?

Nasci na Usina Monte Alegre a 22 de fevereiro de 1937, atualmente resido em Pouso Alegre, Minas Gerais. A casa onde morávamos na Usina Monte Alegre, na chamada Vila Joaninha, a de número 1 era do meu pai, a de número dois era onde morava minha irmã Julia, o seu marido Antonio Inácio Pinto Fonseca era motorista de Lino Morganti. A nossa casa tinha no fundo a quadra de basquete do Grupo Escolar . Morei no Monte Alegre até 1950. A minha mãe tinha pensão, eu levava a marmita para o Baltazar, o Cabecinha de Ouro, Baltazar foi um dos grandes artilheiros do Sport Club Corinthians Paulista. Quando ele vinha pegar a marmita trazia um pacotinho com torrões de açúcar que eu ia comendo. Lembro-me da Teixeirada, do Clube de Campo, da biblioteca, do clube velho que tinha o boche, no clube novo não tinha. Meu irmão Nelson jogou futebol no União Monte Alegre, o UMA, isso no tempo do Piccolino estudante da Escola de Agronomia. Conheci Gatão, De Sordi. Helio Morganti era padrinho do meu irmão Sérgio.






O senhor freqüentava a mansão de Monte Alegre?

Quando Dona Bice chegava de São Paulo, logo mandava me chamar. Ela por diversas vezes quis me adotar, pediu à minha mãe. Eu era tratado por ela como um filho. A última vez em que vi as suas filhas Marisa e Cristina foi em 1951. Quando éramos crianças, brincávamos juntos. Anteriormente a piscina era com linhas retas, depois remodelaram. A água que enchia a piscina era de uma mina de água da própria usina. Perto da igreja havia uma caixa de água bem grande que fornecia água para a fazenda.  Havia um tanque que fornecia água para a usina, ali existiam peixes. A água vinha de uma nascente chamada Macabá, era a mina de água que abastecia as caldeiras. Lino Morganti construiu um local para as mulheres poderem lavar as roupas aproveitando a água do tanque, assim como foi feito um espaço grande para secar as roupas, inclusive foi feito um banheiro coletivo com água quente. Fui batizado na Igreja Monte Alegre, ou Igreja São Pedro que é seu nome oficial. Quando Alfredo Volpi veio pintar o interior da Igreja São Pedro, ele tomava as refeições na nossa casa. Ao lado do casarão onde eu morava, havia dois sobradinhos, em um deles ficava hospedado Alfredo Volpi e no outro o Odorico Marchetti. O Lino Morganti mandou trazer a planta Vitória Régia para por no lago que havia na usina. Lembro-me que em 1947 Dona Bice resolveu fazer o Baile da Primavera, o Seu Lino mandou limpar o depósito de açúcar e foi enfeitado com a flor primavera. Foi feito um concurso para Rainha da Primavera as candidatas eram: Isolina (Secretária do Seu Lino), Leonor Sapronha e Esther Zinziler, a disputa foi grande, todas elas eram muito bonitas. Venceu a Isolina. Dona Bice mandou fazer uma capa de veludo vermelho para colocar na rainha. Uma coroa dourada. Tinha que segurar a capa nas pontas eu e meu irmão Arack fomos indicados.  A Dona Bice mandou fazer roupas especiais para nós, toda de renda nos pulsos, meia branca até o joelho, sapato de verniz preto e luvas brancas.






Naquela época havia muitas festas na Usina Monte Alegre?

Aos sábados havia baile com a orquestra da usina. Todos os anos havia carnaval, com confeti e serpentina. Havia dois motoristas que gostavam de fazer serestas: Pretelli no violão e Vinicius como cantor, tinha uma bela voz, era o “crooner” da orquestra.




Quem administrava a Usina Monte Alegre?

Quem administrava era o Comendador Pedro, que era o patriarca. Os diretores eram os filhos e Dr. Alcides Ayrosa pai da Marisa. Meu pai aposentou-se em 1950.

O seu curso primário foi feito em qual escola?











Foi no Grupo Escolar Marquês de Monte Alegre, na Usina Monte Alegre. Naquele tempo havia dois períodos da manhã masculino das 7:00 às 11:00 horas e a tarde as mulheres das 13:00 às 16:00 horas. Os meninos hasteavam a bandeira e cantavam o hino nacional, as meninas arriavam a bandeira e cantavam o hino nacional. Todo material escolar era oferecido pela Usina Monte Alegre, nos cadernos vinham impressos os Hinos Nacional e da Bandeira. Havia dois serventes, um era o Seu José, que morava na usina, e outro era o Seu Maestro que dirigia os ônibus das professoras. O diretor era muito enérgico. Se o aluno fosse mal comportado o seu pai era chamado pelo gerente da usina. Nos finais de ano havia uma festa onde tinha uma sala para mostrar os trabalhos manuais realizados pelos alunos, eu mesmo fiz diversas toalhas bordadas, havia peças de teatro, um conjunto musical chamado “Chorinho da Escola”. Eram seis salas de aula. Os banheiros tinham inclusive chuveiros.



Como era a Festa de São Pedro na Usina Monte Alegre?

Todos os anos no dia 29 de junho havia a Festa de São Pedro (Padroeiro da Usina), um dia antes havia a confissão para os que iam fazer a primeira comunhão, no dia seguinte havia a missa, comunhão e todos iam para a quadra de tênis que ficava na casa do Seu Lino Morganti, tomava-mos chocolate quente, lanche em seguida íamos até a escadaria da casa onde morava o Seu Lino e recebíamos cartuchos de doces distribuídos pela Dona Bice. As missas era celebradas por um frade do Seminário Seráfico São Fidelis, a usina mandava buscá-lo. Após a celebração o frade ia tomar café na mansão, servido pelo meu pai. A tarde havia aulas de catecismo ministradas por freiras do Lar Escola Coração De Maria, após as aulas elas iam tomar café na mansão, servidas pelo meu pai, por ordem da família Morganti.

Havia procissão?

Era feita a tarde, uma procissão com todos os santos, acompanhada pela Banda Marcial da própria usina, o maestro era o Seu Bilo, subiam pela Rua Dona Joaninha. Era a rua onde morávamos. O gerente do armazém que atendia aos moradores da usina era Gino Denucci, a filha dele, Maria Julia, era afilhada do Governador Adhemar de Barros, ela foi a primeira a sair na capa da Revista Mirante, edição número 1. Na usina tínhamos luz, água, saneamento básico, esgoto, ambulatório com dois médicos, dentista, posto de puericultura tudo sem pagar nada. O que adquiríamos no armazém era pago, desde alimentos até tecidos, linha, agulha, botão. Havia uma torrefação de café. Açougue. Recebíamos gratuitamente quatro litros de leite por dia, dois pela manhã e dois a tarde, havia um estábulo com diversas vacas leiteiras. A lenha para cozinhar era gratuita. Foi criada uma farmácia pelo farmacêutico Felix Zaca. Era uma pequena cidade, podia dormir com as portas sem trancá-las Existia guarda que apitavam, tínhamos segurança.

Como foram construídas as casas da usina?

Foram construídas com tijolos e telhas da própria cerâmica da usina, os tijolos tinham três furos, eram difíceis de quebrar. Nossa rua foi a primeira a receber calçamento de paralelepípedos, nessa rua morava o Regitano, lsaltino Rocha Mello, Manoel Enfermeiro, Mariano Bethiol, Família Bouchete, Ronco, Pedro Sapronha, Angelo Picaluga.

Havia campeonato de corte de cana?

Anualmente havia campeonato de melhor cortador de cana-de-açúcar, alguns vinham da Usina Tamoyo para concorrer com os da Usina Monte Alegre. Eram entregues prêmios, troféus, era uma festa sem fim, com churrasco no campo de futebol. Havia um refrão: “Na pelota e no podão, o Monte Alegre é Campeão”. Toda semana recebíamos um jornal editado pela tipografia de Aloísio Fernandes, situada em frente ao Cine Broadway. Era muito comum Lino Morganti fazer festas, churrascos, meu pai era o responsável pelo cardápio. No sábado de aleluia havia a malhação do Judas, escolhiam um eucalipto bem alto para fazer o famoso pau de sebo, tinha prêmios em mercadoria e até em dinheiro, depois da retirada do boneco (Judas) era uma festa a malhação.  Lembro-me quando Dona Bice e as crianças vinham passar as férias na usina, uma das noites após o jantar, as filhas Marisa, Maria Cristina e eu fomos ver o salão de baile onde estavam todos dançando, quando aparecemos na porta pararam de dançar, Dona Bice mandou continuar a dança. Mandou a seguir que eu e a Marisa fossemos dançar naquela época era disco de vinil. Tocou Tico-Tico no Fubá e Aquarela do Brasil. Eu e a Marisa rodopiando no salão. No dia seguinte foi o maior comentário, porque nunca tinha acontecido isso. Havia uma casinha feita nos moldes uma casa, está em pé até hoje, ali brincávamos de fazer comida. Meu pai é que preparava para comermos de fato. Após o almoço íamos andar a cavalo junto com o cocheiro, voltávamos e íamos nadar na piscina. Toda vez que Dona Bice vinha trazia-me um presente, um relógio, uma caneta, roupas. Nas férias vinha o Pedro Sérgio, Pedro Fúlvio, Marcos Fúlvio, Antonio Carlos (Irmão de Marcos Fúlvio), a mãe dele pedia a meu pai que cuidasse da alimentação dele, pois estava acima do peso, Em uma das vezes em que estávamos andando a cavalo fomos parar em uma plantação de cana onde morava uma descendente de escravos. O Marcos Fúlvio viu um porquinho e gostou tanto que a senhora deu-lhe de presente. Enquanto estava na fazenda ia todos os dias ver o porquinho que ficou em nosso quintal. Lembro-me quando o ator Helio Souto começou a flertar com Maria Helena, ela era muito bonita.

Como era o seu lanche na escola?

A nossa casa era vizinha a Escola, na hora do lanche ia até o muro e pegava o lanche. Tinha colegas que traziam as roupas e trocavam após as aulas, já iam cortar cana. Um dia eu fui também para aprender a cortar cana.

Como era transportada a cana-de-açúcar até a usina?

Eram utilizados carroções puxados por seis burros que traziam os feixes de cana cortados no canavial até os vagões. Lino Morganti adquiriu uma frota de caminhões para transportar do canavial até os vagões. Durante a Segunda Guerra Mundial houve problema de fornecimento de gasolina. Através de João Bottene as oficinas da Usina Monte Alegre adaptou os caminhões para utilizarem álcool com combustível. A Usina tinha uma estrada de ferro que transportava da descarregadeira a cana transportada pelos caminhões e levar para a produção. O açúcar er transportado para Santo por via férrea. A usina tinha a Fazenda Taquaral onde fazia conexão com a Estrada de Ferro da Companhia Paulista

Como era comemorado o dia Primeiro de Maio?

Era comemorado com um piquenique em um local com muitas árvores e grama. Era chamado de Guarantã pelas árvores existentes. Íamos de trem, em três vagões fechados,  iam as famílias dos gerentes, as mulheres de outros departamentos, e a banda musical, em cagões abertos iam os homens. Em outro vagão que era transportado o açúcar para Santos transformava-se em um verdadeiro bar, aonde iam as bebidas. Após o lanche havia diversas competições: corridas de saco, ovo na colher; bater no pote dependurado em uma árvore com os olhos vendados e outras brincadeiras.

 

Lembra-se do nome de alguma professora?  

Lembro-me sim! Dona Niobi Tricânico, Dona Alice, Dona Lavínia e sua irmã, Dona Rosália, e mais outras quatro professoras. Diretores nós tivemos: o Seu Oscar, Seu Carlos, Dona Guaraciaba Guerra cujo marido foi médico na usina.










O senhor prosseguiu seus estudos?

 Em seguida fui estudar no Colégio Dom Bosco, que se situava na época ao lado da Igreja Sagrado Coração de Jesus, mais conhecida como Igreja dos Frades. Depois é que foram para o Bairro Alto construíram em um terreno que foi doado para eles. Estudei um ano lá, fiz o ginásio no Colégio Piracicabano. Fui estudar na Escola Normal, situada no Instituto de Educação Sud Mennucci. Fiz na Faculdade de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração de Empresas Piracicabana Curso de Liderança e Relações Humanas com o Professor Dr. Mauro Pereira Viana. Sou Bacharel em Direito com Curso de Pós-Graduação pela Faculdade de Direito do Sul de Minas- FDSM- Pouso Alegre- MG. Atuando nas áreas Civis e Criminais desde 1980.

Com que idade o senhor começou a trabalhar?

Com 12 anos fui trabalhar na Loja Cruzeiro do Sul de tecidos, propriedade de Zacharias Salomão, situada na Rua Governador Pedro de Toledo esquina com a Rua Floriano Peixoto,ali permaneci por cinco anos, o Zacharias abriu uma segunda loja na Rua Benjamin Constant, em frente ao Posto do Jacinto Bonachella, hoje tem uma padaria no local, é na esquina com a Avenida Dr. Edgard Conceição. A seguir trabalhei na Mepir – Metalúrgica Piracicabana. Fui trabalhar com os Irmãos Adamoli: Zezé, Zoca, Carlos. Ainda em Piracicaba trabalhei na Refrigeração Guidotti na Rua Governador Pedro de Toledo. Fui para São Paulo, onde trabalhei na Cooperativa Central. Voltei para Piracicaba, para trabalhar na Padaria Brasileira de José Yeda Filho. Montamos o primeiro boliche de Piracicaba, posteriormente meu irmão José Yeda Filho e Pedro Fúlvio Morganti transformaram na Boate Jequibau com a presença de artistas de renome como Juca Chaves, Dekalafe, Wilson Simonal, Cauby Peixoto, e outros nomes importantes. Marcou época em Piracicaba.

Quando a boate encerrou as atividades qual foi seu próximo emprego?

Foi na SABIC- Administração de Serviços de Cobrança, em São Paulo. Depois trabalhei no Mappin, na Acrivideo-Palomar, Beta Indústrias de Jóias e Relógios, Malharia Campos de Jordão, MINAFE- Importadora de Ferramentas. Lembro-me do Viaduto do Chá, quando havia o namoro dos negros, em uma calçada iam as mulheres e em sentido contrario vinham os homens. Assim ficavam passeando, era um local quase demarcado por eles. Da Praça Patriarca até a Praça Ramos. Geralmente se encontravam na Praça Patriarca onde começavam o namoro. Os homens usavam paletó e gravata, as moças iam de vestido longo.

Como se chama a sua esposa?

Em primeiras núpcias casei-me com Maria Doracy Spoladore Yeda, tivemos três filhos: Gracia, Jefferson, Shizue, 5 netos e 3 bisnetos. Um dos netos toca violino na Orquestra Sinfônica de Piracicaba. Sou casado em segundas núpcias com Maria Nazaria Andrade. 

 


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sexta-feira, abril 14, 2017

SANDRA FERNANDES BANDEIRA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 15 de abril de 2017.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/



 





ENTREVISTADA: SANDRA FERNANDES BANDEIRA

 

Sandra Fernandes Bandeira nasceu em São Paulo a 24 de novembro de 1970, filha de Reinaldo da Silva Bandeira e Tercília Fernandes Bandeira que tiveram três filhas: Sandra, Cláudia e Márcia. Sua mãe é falecida há mais de 30 anos, sendo que seu pai contraiu novas núpcias. Sua segunda esposa já tinha uma filha, a Natália, que passou a ser a sua quarta filha (civilmente era padrasto), e mais uma nova irmã para Sandra.

Qual é a profissão do seu pai?

Meu pai é desenhista projetista. Atualmente atua como consultor.

Seus primeiros estudos foram feitos em que local?

Quando eu tinha cinco anos mudamos para Americana. Meu pai trabalhava na Philips que já estava com uma unidade em Piracicaba, minha mãe tinha uma tia em Americana, meus decidiram mudarem-se para Americana, que não é tão longe de Piracicaba, ao mesmo tempo em que ela tinha algum suporte da família, não estaria tão sozinha em uma nova cidade. Meu pai fazia essa viagem todos os dias de Americana à Piracicaba. Permanecemos em Americana por nove anos. Quando a minha mãe faleceu, viemos para Piracicaba em 1984. Em Americana estudei no Colégio Dom Bosco até a sétima série, a oitava série eu cursei em um colégio do Estado quase em frente a minha casa.

Você lembra-se do nome da sua primeira professora?

Era a Tia Inês! A segunda era a Tia Maria Aparecida, do terceiro ano era a Tia Leila e do quarto ano era a Tia Amália que há pouco tempo nos reencontramos através  do face book. Passei a estudar no Colégio Dom Bosco Cidade Alta. Fiz o vestibular, passei, estudei um semestre de jornalismo em Campinas, na PUC, eu era muito jovem, por uma série de motivos voltei para Piracicaba. Fiz seis meses de cursinho e entrei na ESALQ no curso de agronomia, isso foi em 1989. No final de 1988 meu pai foi transferido novamente para a Philips de São Paulo, uma parte do setor administrativo ia para São Paulo e outra parte para Manaus.  Esse finalzinho de ano eu fiquei na casa de uma amiga, em Piracicaba. Quando ingressei na Agronomia fui morar em uma república, chamava-se “Casa Verde”. Quando fui morar ela estava no bairro São Judas. Essa república mudou várias vezes de locais, existe até hoje em outro endereço.


Quantas alunas residiam na república?

Chegamos a morar em oito, na média as casas tinham dois banheiros, mas chegamos a morar em uma casa com um banheiro só. Era muito divertido, foi uma época em que república montava com o que tínhamos sobrando, não tínhamos telefone, celular, computador, não tinha dinheiro. A geladeira nós ganhamos de alguém que não queria mais, o sofá que quase não dava para sentar, se tivéssemos sorte tínhamos uma televisão. Fogão, os demais móveis, eram sempre tudo muito usado.




Qual era o seu meio de transporte para a ESALQ?

Ia de bicicleta. No máximo a distância era de dois quilômetros da escola.

Você formou-se em que ano?

Em 1993 formei-me como Engenheira Agrônoma.

Exerceu a profissão?

Ingressei. Comecei a trabalhar em Holambra, em uma empresa de mudas de crisântemo em uma empresa que hoje se chama Van Zanten Schoenmaker, trabalhei também em uma unidade de Artur Nogueira e outra unidade de Santo Antônio de Posse, eu era coordenadora de produção. Estava responsável naquela época por mudas de crisântemo.

Morar em Holambra deve ser muito interessante?

Foi muito gostoso, foi muito bom, naquela época cheguei a morar em Holambra e em Artur Nogueira. Lembro-me que em Holambra a minha casa tinha uma lareira, que era utilizada possívelmente uma vez ao ano, mas era charmoso entrar na sala e ter uma lareira. Nesse período todo eu morava sozinha.







Você chegou a se casar?

Em 1997 eu me casei com um holandês que conheci em Holambra. O casamento civil foi na Holanda, fui para lá. A família do meu primeiro marido era de Groningen, um estado ao norte da Holanda. Casamos em uma pequena cidade desse estado.

Como é o casamento na Holanda, igual ao do Brasil?

Totalmente diferente! Escolhemos uma juíza de paz, que falava inglês, meu pai e minhas irmãs foraram para a cerimônia do casamento civil na Holanda. Queríamos que todos entendessem. A juiza na semana anterior foi até a casa dos meus sogros, conversou conosco, quiz saber sobre os nossos habitos, costumes, como nos conhecemos, como era a nossa história. No dia da cerimônia ela vestiu uma beca, com chapéu de juiz, contou toda nossa história, a cerimonia é realizada na prefeitura. As noivas holandesas vão com vestido de noiva, como eu tinha a minha cultura de não usar vestido de noiva no casamento civil, fui com vestido social. Após ela falar sobre nós, disse-nos umas palavrinhas em português, ela foi estudar o português, descobrir como falar algumas coisas em português. No final ela disse: “-Declaro que vocês estão casados!” pega o martelinho de madeira e bate sobre uma mesa. Assinamos um livro pequeno, que é a certidão de casamento, os padrinhos assinam, é uma cerimonia em que você pode levar alguns convidados, fica em uma sala bonita. Se quisermos podemos sair de lá e ir para uma recepção. O casamento religioso foi no Brasil, em São Paulo. Uma característica própria da Holanda é que eles dão o nome para a pessoa como por exemplo Marinus Cornelis Brunssee, só que eles dão um tipo de apelido, um nome de chamada, como Maarten, são apelidos que não tem nenhuma ligação com o nome.

Você fala holandês?

Muito pouco! Ficamos na Holanda só na época do meu casamento, depois voltamos para o Brasil fomos morar no nordeste, fomos para Alagoas, Maceió. Eu tinha uma irmã que já estava morando lá ha algum tempo, fomos passar uns dias lá, nos encantamos com o lugar  e visualizamos uma oportunidade de negócio. Todo mundo lá só tinha em casa flores de plástico, adquirimos um sitiozinho em Chã do Pilar, a 26 quilômetros de Maceió, montamos uma estufa, e começamos a produzir flores. Em vaso e um pouquinho de flor de corte. Tinhamos um poço e a irrigação. Fizemos um sisteminha de irrigação por espaguete, Ficava um pouco caro porque trazia todo meu material de Holambra: vaso, irrigação, muitas vezes até o adubo, não havia o adubo para a irrigação. Ficamos lá dois anos e meio mais ou menos. Foi muito difícil no começo, eu tinha um estande dentro do supermercado Bompreço, ficava o tempo todo ao lado do estande, mostrando as plantas. Tinha que implantar a cultura de ter plantas naturais dentro de casa. Abasteciamos a rede Bompreço, eram oito lojas, em uma delas tinhamos um estande bem bonito. Tinhamos um quiosque dentro do Shopping, forneciamos flores para outras floriculturas da cidade. No primeiro Dia das Mães que fizemos lá, recebi um rapaz na minha chacara, ele era ali da cidade, e propos vender flores em uma barraquinha na estrada, mediante ua comissão. Na porta da nossa chácara. Ele chamava-se Antonio. Fizemos isso,embora eu tivessse alguma dúvida se alguém iria parar na estrada para comprar flôr. Construi uma barraquinha fixa, tirando o supermercardo ali era o meu maior ponto de venda. Parava muita gente, a chacara era na beira da pista. Os negócios iam bem. Mas eu sentia muita falta da minha avó Helena, do meu pai. Pensei muito e decidi voltar para São Paulo. Eu tinha uma amiga em São José do Rio Preto que tinha uma empresa tambémde produção de mudas, já tinha trabalhado comigo em Holambra e me chamou para vir para cá. Viemos para São José do Rio Preto, ficamos lá mais um ano, foi ai que terminamos nosso casamento. De São José de Rio Preto vim para Campinas, para a casa do meu pai, fiquei com ele uns dois ou tres meses até conseguir um novo trabalho, uma empresa de pesquisa de mercado agrícola a Kleffmann e Partner Assessoria e Mercado Agrícola. Era um trabalho que eu gostava muito de fazer. Permaneci de 199 até 2002.


Quantos idiomas você fala?

Além do português, inglês e espanhol.

Você casou-se de novo?

Casei-me com Sérgio Luis Frias com quem tive duas filhas Júlia e Clara. Voltei para Piracicaba onde fui trabalhar em uma empresa chamada Rigran, eu fazia assistência técnica para ela no Estado de São Paulo. Viajava muito nessa época. Eram produtos de alta tecnologia para agricultura pesada: adubação, melhoradores de solo.

Como foi seu ingresso no CREA?

Eu tinha prestado um concurso, passei e fui chamada. Trabalho no CREA-SP minha lotação hoje é Araraquara, atualmente estou como chefe da unidade de Araraquara abrangendo mais de 30 cidades. Além de Araraquara temos mais seis unidades menores.

O que é o CREA?

O CREA é o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia, a Arquitetura saiu já há alguns anos, antigamente ela pertencia ao CREA, atualmente ela tem um conselho só dela que é o CAU -  Conselho de Arquitetura e Urbanismo. O CREA é um regulador da profissão e um fiscalizador também. A nossa base é a fiscalização.

Quais são problemas mais comuns que o CREA encontra?

São obras irregulares e empresas que acham que não precisam de registro no CREA. Não só na área civil, mas também na área elétrica, mecânica, geologia, geografia, uma mineradora tem que ter registro no CREA.

Como o CREA consegue fiscalizar esse universo de obras?

O CREA exerce uma fiscalização administrativa. Buscamos o responsável técnico por toda e qualquer situação. Temos câmaras especializadas, com os nossos conselheiros, são profissionais das áreas respectivas. Quem dita as regras normativas é o CONFEA - Conselho Federal de Engenharia e Agronomia. Fica em Brasília, ele sim dá decisões plenárias, decisões normativas, ele que nos instrui desssa maneira.

Toda construção necessita de um responsável técnico?

Se você for construir uma casa simples, em um bairro simples, precisa ter um engenheiro. É ele quem vai garantir a segurança da sua obra. A pessoa pode até dizer: “Mas o meu pedreiro é bom! Conhece mais do que engenheiro!”. Só que se acontecer algum problema o responsável não é o pedreiro e sim o dono do imóvel. Porque não tem nenhum técnico ali! Isso pode acontecer em bairros mais retirados, ou até mesmo em uma reforma. As pessoas não tem noção do risco que muitas vezes correm e oferecem à terceiros. O engenheiro fica no mínimo 20 anos responsável pela sua casa.

As construtoras de porte maior seguem as regras do CREA em sua totalidade?

As construtoras maiores, são mais preocupadas com toda essa legalização, elas entendem muito bem o que pode oferecer riscos e que ela precisa fazer de maneira regular, legal. Os maiores riscos ocorrem quando você contrata alguém que aparentemente tem conhecimento técnico mas apenas conhece na pratica. Diante de um problema ou situação nova ele irá improvisar uma solução que pode ou não funcionar. Além da ilegalidade. As pessoas não estudam a toa. Não vamos a um consultório médico querendo ser atentido pelo farmacêutico, não que farmacêutico não tenha o seu valor, quando vou a um médico eu quero que um médico me atenda. Hoje a questão ambiental é muito forte, você não pode de maneira alguma sair extraindo areia, pedra, argila, a bel prazer.

Com relação a acidente com funcionário qual é a atuação do CREA?

Assim que ocorre o sinistro o CREA vai ao local e levanta todos os dados, de toda a situação, quem estava como responsável, há o levantamento documental da manutenção do objeto que provocou o sinistro, pelo cenário dos fatos. Tudo é documentado, pode tornar-se um processo dentro do CREA, vai para a Câmara de Ètica, e eles definem a punição ou não do profissional responsável. Nos casos de sinistro, invariavelmente acaba indo para o Ministério Público por outras vias, até mesmo por vias criminais, o Ministério Público sempre requisita o processo do CREA para embasar técnicamente o processo movido por ele.

O profissional pode sofrer punições dentro do CREA?

Ele pode até mesmo perder o próprio diploma, o próprio registro. Hoje nós temos uma gestão dentro do CREA – SP que assumiu em setembro do ano passado, a gestão do Engenheiro de Telecomunicações Vinicius Marchese Marinelli de visão extremamente responsável e transparente. Bastante jovem, tem muita energia, uma pessoa focadíssima, tem uma postura de muita regularidade. Ele dá para nós chefes e gerentes essa força, de estar trabalhando em um orgão muito responsável. Que quer fiscalizar, fazer as coisas funcionarem.

Vemos em muitos setores, como judiciário, legislativo, executivo, órgãos de classe, que aos poucos estamos mudando positivamente graças as novas gerações. Isso é altamente positivo para o país.

Muito positivo! Todos nós estamos sentindo essa diferença muito fortemente. Vemos esse gás novo chegando, isso é ótimo! Prazo é prazo! Tem que cumprir! Ir atrás! O Conselho está andando de uma maneira muito mais dinâmica. Hoje podemos notificar, multar, multar de novo.

E as multas são pesadas?

Depende da infração! Podem variar de R$ 500,00 até R$ 6.000,00, na reincidência o valor é dobrado. Hoje isso é cobrado de uma maneira muito mais eficaz se a pessoa não estiver na linha.

O CREA é um orgão público?

É uma Autarquia Pública Federal. Tem todas as caracteristicas de um órgão público mas não depende dos recursos financeiros da União. A Engenheira Civil Maria Edith Santos, Superintendente de Fiscalização é funcionária de carreira.

Piracicaba tem uma unidade do CREA?

Tem, é o Edson Ricci do Carmo, chefe da Unidade CREA. Ele é técnico, todos os técnicos da área devem se filiar ao CREA. A única exceção é o Técnico de Segurança do Trabalho.

Você casou-se novamente?

Em 2009 eu acabei me divorciando do pai das filhas. Em 2010 eu conheci meu atual marido, José Paulo Simões, na realidade já nos conhecemos desde a adolescência, ele se casou com uma colega de turma do terceiro colegial, teve uma filha, a Amanda, hoje com 19 anos, separou-se, nunca mais o vi não me lembro dele dessa época, acabei reencontrando, eu já estava divorciada, em novembro de 2016 casamos. Tenho uma relação excelente com a ex-mulher dele a Kelly que é uma pessoa incrível. Eu poderia mudar para Araraquara, mas não quero tirar o que as minhas filhas já têm aqui, amigos, escola, avós paternos, mãe e pai do meu ex-marido a Dona Sonia e Seu Hélio, são pessoas maravilhosas. Avós maravilhosos que fazem de tudo para essas netas.







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