PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 09 de março de 2019
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 09 de março de 2019
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: AMÉRICO SIDNEI RISSATO
Dr. Américo
Sidnei Rissato é o Delegado Seccional de Polícia de Piracicaba De uma
simplicidade admirável apesar do cargo importante que ocupa. Os comentários de
moradores de cidades onde anteriormente foi delegado de polícia, o elogiam pela
sua competência, têm admiração pelo seu profissionalismo e quase todos os que
postam mensagens pedem a Deus que o abençoe. Sua porta permanece sempre aberta
para àqueles que necessitam falar com ele, sem que isso deteriore a ordem e paz
do ambiente.
O senhor é natural de Piracicaba?
Nasci em Mogi
Mirim a 17 de abril de 1958. (Quem nasce na cidade de Moji Mirim
é chamado de Mogi-Miriano). Sou filho de João Rissato e Carmem Roman Rissato,
minha mãe nasceu na Espanha, tenho parentes em Málaga. O meu pai serviu o
Exército no tempo em que havia a Cavalaria Montada, em Ponta Porã, Mato Grosso do Sul, seguiu[U1] carreira no Exército. Deixou o Exército
e entrou para a Força Pública, hoje denominada Polícia Militar. Depois
trabalhou na segurança privada, terminou a carreira dele na Alpargatas de Mogi
Mirim, onde foi chefe de segurança. Eles tiveram seis filhos: Sonia, Américo, João
Luiz, Sandra, Rosangela, João Henrique. Todos com formação superior em diversas
áreas. Meu pai está com 87 anos e minha mãe com 82 anos.
Seus estudos iniciaram em Mogi Mirim?
Estudei
o curso primário no Grupo Escolar “Coronel Venâncio” o segundo grau estudei na
Escola Estadual "Monsenhor Nora". Mogi
Mirim é reduto de grandes juristas. Tive a honra de ter estudado com muitos
juristas importantes. Depois passei a trabalhar durante o dia na Champion Papel Celulose e estudei em Espirito Santo do Pinhal. Foi com muita dificuldade.
Entrava na Champion às sete e meia da manhã, tinha que pegar o ônibus às seis
horas da manhã, saía do trabalho às seis horas da tarde, ia para casa em Mogi
Mirim, chegava as sete horas da noite, pegava outro ônibus as sete e dez, sete
e quinze. Se tomasse banho não jantava, se jantasse não dava tempo de tomar
banho. Ia para a faculdade, voltava da faculdade a uma hora da manhã. No dia
seguinte era o mesmo procedimento. Saí da faculdade com 23 anos. Foi uma época
muito difícil, não tinha dinheiro para ir para a cantina comer alguma coisa.
E livros, como o senhor fazia?
Emprestava na biblioteca, dos
amigos.
Naquela época não existia
internet!
Fato pelo qual não me tornou uma
vítima, graças a isso hoje dou mais valor a certas coisas. A dificuldade para
conseguir só serviu para valorizar cada conquista. Tinha que trabalhar para
pagar os estudos.
Após formar-se em Direito, qual
foi o próximo passo?
Em 1983 comecei a fazer o estágio da OAB Ordem dos
Advogados do Brasil Tinha que fazer dois anos de estágio, no meu caso era não
remunerado. Em 1984 fiz o exame da OAB. Isso significava que aos finais de
semana tinha que ir à faculdade ou à uma faculdade que a OAB tinha um convênio,
lá tinha que fazer as provas, as peças, também tinha dias alternados que tinha
que ir ao fórum. Acompanhar audiências. Ir até a Delegacia de Polícia,
plantões. Flagrantes. Existia uma carteirinha azul, onde assinavam, o juiz, o
promotor, o delegado, eles assinavam atestando o comparecimento, carimbavam,
aquilo valia ponto para a OAB. Feito isso, quando saía da faculdade, prestava
um exame da Ordem e já saía ou não, com a sua carteira definitiva, aquela
vermelhinha. Em 1984 saí da faculdade. Fui advogar por quase dois anos. Atuei
nas áreas criminal e cível. O meu sonho era ser Delegado de Polícia.
O que levou o senhor a ter esse
sonho?
Acho que tive influência do meu
pai. Ele gostava muito dessa área. Da maneira austera, da forma de ele ser. Eu
admirava muito a profissão de Delegado de Polícia. Também admirava muito alguns
delegados de polícia que passaram por Mogi Mirim: Nestor Sampaio, foi um nome
que marcou muito. Dr. Cyro Vidal Soares da Silva. Alcides Carmona.
Dr. Miranda. Muitos nem sabem que eu me espelhei neles. Eu achava que o
Delegado de Polícia tinha um papel muito importante na sociedade, um poder de
decisão rápido. Era uma autoridade que estava a todo momento, a todo instante a
disposição da população atendia o povo e decidia de imediato. E suas decisões
eram eficazes. Decisões que se materializavam imediatamente.
O senhor decidiu fazer o
concurso?
Passei no concurso para Delegado de Polícia. Estudei
muito para passar nesse concurso, tal era a minha vontade, me inscrevi em 1985
passei no concurso em 1986. Fui para a Academia
de Polícia `Dr. Coriolano Nogueira Cobra´ Polícia Civil do Estado de São Paulo,
na Cidade Universitária onde fiquei por seis meses, morando na Academia, muitos
colegas tinham condições de pagar para ficar em algum lugar, eu fiquei no
dormitório da Academia, no porão da mesma. Quando eu estava fazendo a faculdade
comprei um Chevette bege, ano 1975, tive que vender o Chevette para poder me
manter durante o curso. Comia ali no restaurante da USP. Muitos finais de
semana nem retornava para casa para não ter despesas. O aprendizado foi muito
importante, os colegas e professores permanecem em nossa memória. O homem
muitas vezes ainda não tem consciência de que ele está de passagem nessa vida,
onde ele passa deixa o seu rastro, bom ou ruim. Deixa seu histórico de vida,
seu histórico profissional. Muita gente não pensa nisso, vai tocando, da
maneira que vier, vai.
O
senhor é religioso?
Sou!
Procuro estar sempre junto a verdade, participei de grupos de orações, da
renovação carismática, estou sempre procurando a verdade onde ela existir. Eu
acho que cada ser tem um mundo dentro de si. Cada ser é especial, tem o mundo
dele, a visão dele.
O
senhor ocupa um cargo extremamente importante em Piracicaba, que é uma cidade
bem cotada no País.
Muito
bem cotada! É uma cidade grande não só no tamanho, mas grande em tudo. Nas
obras, nos homens, que labutam, trabalham, admiro muito a administração desta
cidade, não estou me referindo à política, estou me referindo a administração
como um todo. A união perfeita do Prefeito, Ministério Público, com as outras
instituições da segurança pública como a Guarda Municipal, Polícia Militar,
organização que tem na Associação Comercial, onde estive por várias vezes,
convidado para debater diversos assuntos. A organização que tem a Câmara
Municipal, o trabalho constante de vereadores.
O
senhor assumiu a Delegacia Seccional quando?
Faz
pouco tempo que estou aqui, cheguei dia 12 de julho de 2018. Aos sessenta anos
de idade, já dá para saber de onde vem a verdade e onde há um engodo. Os
vereadores falam o que o coração sente, dá para perceber. Falam com muito
orgulho desta cidade.
Até
chegar a posição que o senhor ocupa, há uma sequência natural na carreira. A
primeira cidade em que o senhor exerceu a profissão como delegado foi onde?
Comecei como plantonista no Primeiro Distrito de
Campinas. Naquela época não existia a DDM -
Delegacia de Defesa da Mulher, comecei no Setor de Atendimento da Mulher, isso
em 1987, depois fui chamado para trabalhar como Delegado Titular da Primeira
Delegacia de Polícia de Euclides da Cunha Paulista, na divisa de Mato Grosso do
Sul e Paraná. Região de Presidente Prudente, respondia para a Seccional de
Presidente Wenceslau. Onde teve a invasão de terras, onde estava o Bosanela, o
Rainha, era uma época violenta, lá era distrito, o município era Teodoro
Sampaio, que tinha também o distrito de Rosana, onde ficava o Porto Primavera.
Eu ia para Rosana, um colega que entrou na polícia na mesma época, João Batista
Reinaldo, natural de Dois Córregos, ele pediu para trocar comigo, ele queria ir
para Rosana, onde tinha mais conhecimento da área, ali ele pode ficar em uma
cidade que existia para os funcionários da Usina
Hidrelétrica de Rosana. Eu fiquei em Euclides da Cunha Paulista, ali não se
conhecia asfalto e nem casa de alvenaria. Na época era uma cidade do
risca-faca! Era violento, com invasão de terras, na época eu era ainda
solteiro. Fiquei, passei dois natais e passagens de ano sozinho. Ficava a 840
quilômetros de Mogi Mirim, era muito longe. Quando vinha, vinha de carro.
Muitas vezes vinha de ônibus, ficava mais barato, vinha pela Viação Andorinha! Ia
até Presidente Prudente, depois ia pegando vários ônibus em cada trecho. Levava
muito tempo para chegar. Naquele lugar não havia telefone automático, você
discava e pedia para a telefonista completar a ligação.
E quando precisava de alguma informação?
Havia o aparelho de telex que ficava em Teodoro
Sampaio, distante 60 quilômetros! Nem a delegacia tinha! Cheguei lá com a
missão de montar a delegacia. Montei a Delegacia de Polícia em um imóvel
alugado pela prefeitura de Teodoro Sampaio, a cadeia era de madeira! No mesmo
prédio trabalhava a Polícia Militar. Trabalhávamos juntos.
Tinha crimes violentos ou eram mais desentendimentos?
Os crimes mais violentos eram
homicídios. Ocorriam muitos homicídios. Qualquer coisa já era motivo para dar desentendimentos,
briga de jogo de palitinho, o sujeito ia até a delegacia para dizer que iria
matar fulano. Ou diziam: “Ele colocou um apelido em mim”, ou “Tá mexendo com a
minha companheira. “-Vou matar esse cara!”. No início eu não acreditava, depois
vi que matavam mesmo! Não adiantava interferir, fazer inquérito sobre ameaça,
não adiantava nada, eles estavam decididos a matar e matavam. Não tinha jeito. Diziam:
“Onde mandarem esse caboclo, onde tiver terra vai virar lama, onde tiver lama,
vai virar terra. Mas que eu vou meter a peixeira nele, eu vou!”. Decidiam tudo
na faca. Era difícil atender uma ocorrência dessas, todos estavam bem
esquartejados. A identificação era relativamente fácil, ou vinham de Terra
Rica, que era divisa ali, ou de Angélica, Mato Grosso do Sul. Isso no tempo do
radialista e apresentador na televisão de Curitiba, de um programa que abordava
temas polêmicos, notícias policiais, Luiz Carlos Alborghetti, era muito famoso na época,
estava sempre com uma toalha no pescoço, o Ratinho era repórter de campo. O Alborghetti
era escandaloso ao extremo. Ali as estações de rádio e televisão eram
sintonizadas pelo sinal do Paraná. Para atravessar para o Estado do Paraná
tinha o Rio Paranapanema, atravessava de balsa. A mesma coisa para atravessar
para o Estado do Mato Grosso do Sul.
Os crimes tinham mais algum motivo para serem cometidos?
As invasões de terra, os “campeiros”
como eram chamados aqueles que protegiam as fazendas, e os invasores de terra.
Os campeiros seguravam aquilo na peixeira, andavam a cavalo, alguns de jipe,
caminhonete, as coisas eram resolvidas na bala ou na peixeira. Tinha também a
área do baixo meretrício, que por incrível que pareça era a área mais
respeitada!
E coronéis ainda tinha?
Tinha! Nossa! Eles costumavam oferecer
para a polícia auxiliares, só que já sabíamos que esses auxiliares eram para
legitimar algum ato deles. Permaneci lá por volta de dois anos, e sem falsa
modéstia fiz um bom trabalho. Na época foi reconhecido pelo Delegado Geral de
Polícia. Ele me promoveu e ofereceu o Primeiro Distrito de Mogi Mirim. Cidade
dos meus pais. Só que na realidade eu não tinha como dizer para ele que eu não
queria trabalhar na cidade onde nasci e fui criado. Como não tinha como dizer
não para ele, fui para lá e por lá fiquei por nove meses. Ai vagou a Delegacia
de Polícia de Artur Nogueira, eu já conhecia de passagem, inclusive quando era
mais jovem, pensava: “Quando for delegado de polícia, vou ser delegado aqui!”.
Após nove meses, o Delegado Seccional me chamou, estava havendo problemas em
Artur Nogueira, que deveriam ser sanados. Em cidades menores é muito comum
autoridades constituídas não obedecerem uma área de atuação bem delimitada pela
própria Constituição Federal. O Seccional perguntou se eu aceitava, disse que
sim, fui ser o Delegado Titular de Artur Nogueira. Lá eu conheci a minha
esposa, lá me casei com Simone Sia. Nasceu o meu primeiro filho, Lucas Sia
Rissato, que é o segundo vereador mais bem votado de Artur Nogueira. Ele
elegeu-se com 25 anos. Ele só veio me comunicar que tinha sido eleito. Sempre
fui muito democrático, embora delegado de polícia, e alguns acham que delegado
de polícia é truculento, a maioria dos delegados que conheço são bem
democráticos. Procuram garantir os direitos das pessoas, e isso começa em casa!
Quanto tempo o senhor permaneceu em
Artur Nogueira?
Fiquei
ali por cerca de 10 anos, fui trabalhar em Americana como assistente do
Delegado de Polícia Dr. Paulo Roberto Rodrigues Jodas. Trabalhei com ele, foi
um dos melhores Delegados de Polícia que conheci também. Um homem muito sério,
muito competente. Dali fui ser Delegado Titular de Cosmópolis, após algum tempo
fui ser titular em Sumaré. Fiquei um ano em Sumaré, aí fui fazer o Curso Superior de Polícia Integrado. Fiquei um ano, foi em 2013. Logo em
seguida fui indicado para a Classe Especial, Delegados Classe Especial são
poucos. O curso CSP indica que você está preparado para ser um delegado da
Classe Especial, mas não significa que deverá ser. Tem que haver indicação de
dentro da Instituição, alguém que reconheça o seu trabalho. O Conselho se
reúne, vota. Acabei sendo promovido à Classe Especial, que é a última classe. Poucos
chegam a Classe Especial, deve ter 160 delegados que pertencem a Classe
Especial em um universo de 4.000 delegados.
Após terminar o curso o senhor assumiu qual delegacia?
Voltei para Sumaré onde fiquei um
mês e novamente fui chamado para ser assistente da Delegacia de Americana. Eu
queria dar um pouco mais de mim para a minha instituição, queria assumir uma
seccional. Mudar a maneira de administrar, tentar montar uma nova dinâmica de
administração em uma seccional. Depois em um departamento, como diretor, tentar
mudar alguma coisa, meu sonho sempre foi esse. Eu tenho a certeza de que estou
fazendo o melhor de mim aqui em Piracicaba, minha porta sempre aberta, um
atendimento aos colegas muito cordial, tenho que atender os colegas muitíssimo
bem. Qualquer instituição em que não exista respeito entre seus membros, ela é
fadada ao insucesso. Temos que sermos unidos. Se não temos tantas condições de
trabalho isso não depende de nós, a nossa união depende de nós. Esse processo
por ser inovador, nem sempre é entendido por todos de plano. É característico
de cada ser humano. Uns absorvem rapidamente, conhecem imediatamente o grau de
autonomia e o limite. As lamentações intermináveis acaba criando um ambiente
altamente contagiante e negativo. Você tem que fazer alguma coisa para melhorar
o ambiente em que você está, com aquilo que dispõe no momento. Lamentações só
destroem qualquer iniciativa que existe e pode melhorar o ambiente, obter
resultados positivos.
Qual foi o seu próximo passo na
carreira profissional?
Fui para São Paulo. Sempre gostei
muito da parte de inteligência. Me chamaram em São Paulo, comecei a trabalhar
com aplicativos de inteligência de computador, celular, isso chamou a atenção,
de que eu entendia a respeito. Não era uma parte que eu estava procurando, na
verdade eu queria ser seccional mesmo! Fui chamado como Divisionário
da Assistência Policial do Dipol - Departamento de Inteligência da Polícia Civil
de São Paulo. Um cargo importantíssimo. Permaneci lá de 11 de janeiro de 2014
até setembro de 2015. Meu pai não estava bem, pedi para retornar para o
interior. Fui trabalhar de novo como assistente da Delegacia Seccional de
Americana. Já tinha desistido do meu sonho de assumir uma seccional no
interior, aposentar-me como seccional e fazer alguma coisa que eu achava que
podia fazer melhor. Pedi as minhas licenças que deixei para tirar em outro
momento oportuno, para aposentar-me. Em junho de 2018 estive com o Dr. Paulo
Bicudo, que era Diretor aqui, tive uma conversa com ele, disse da minha
intenção de aposentar-me, como delegado da região, gostaria de encerrar a minha
carreira aqui, mostrar que eu consigo administrar uma seccional. Ele disse-me:
“Você chegou a ser Divisionário de um Departamento como o Dipol Departamento de
Inteligência, departamento tão importante!”. Disse-lhe que eu gostaria de fazer
alguma coisa pela minha região, se não fosse bem na minha região que fosse no
interior do Estado. Sou do interior e tenho muito orgulho de ser do interior.
Sou caipira do interior, gosto do interior, quero fazer algo pelo meu interior.
Entrei com o meu pedido de aposentadoria, fui para casa tirar as minhas
licenças. Nesse interim Dr. Paulo Bicudo foi chamado para ser Delegado Geral.
Ele levou o Delegado Seccional junto, para trabalhar com ele, Dr. Glauco Roberto Rufino. Um belo dia Dr. Paulo
Afonso Bicudo me chamou. Disse-me: “Retire seu pedido de
aposentadoria e assuma a Seccional de Piracicaba! Você vai me ajudar muito, eu
gosto muito de Piracicaba”. E aqui estou eu! No começo do ano chegou o Dr. Kleber Antonio
Torquato Altale.
Dr. Américo, há uma corrente de
pensamento que afirma que o problema criminal é decorrência do problema social.
Qual deles temos que resolver primeiro?
O ser humano é um ser
eminentemente social. Ele não consegue viver fora do meio em que ele nasce,
vive, é criado. Não consegue viver fora da disputa, da contenda. Onde está o
ser humano, está o problema. As instituições funcionam muito bem se não tiver a
interferência do ser humano, de forma negativa. Todas instituições são perfeitas,
embora criadas por seres humanos são perfeitas.
O que podemos melhorar no Brasil?
A meu ver o que falta no Brasil é
o amor à Pátria, amor ao Brasil. Se todo aquele que assumisse um cargo público,
seja ele eletivo ou através de concurso, que ele assumisse e fizesse aquilo
como se fosse uma empresa dele. Como aquilo fosse dele. Tratasse do público
dele como ele gostaria de ser tratado. A política da enganação não teria mais
espaço. A política do “esperto” não teria mais espaço!” O povo por mais inculto
que ele seja, o povo não é bobo! Embora nossa democracia seja um pouco nova, o
povo está percebendo a enganação! É incrível como eles tem o poder de se
reinventar, esses políticos se reinventam, conseguem aperfeiçoar as práticas de
enganar o povo. Quando o povo começa a perceber eles mudam a prática! Se
aperfeiçoam! Tenho notado que o povo está muito “vacinado”! Mas ainda caem em
muitas armadilhas! O brasileiro criou a cultura da Lei de Gerson: Levar
vantagem em tudo! A qualquer custo, de qualquer maneira. O que está faltando ao
nosso país é mais amor. Amor ao próximo. Amor à Pátria. Amor à bandeira. Amor
ao que é seu! Está faltando mais amor! Infelizmente o brasileiro vai atrás da
vantagem pela vantagem! Isso vemos até nas conversas mais corriqueiras, como em
futebol por exemplo. O torcedor de um time afirma que o time do outro ganhou
porque o árbitro favoreceu o time vencedor, o gol foi marcado com a bola
batendo na mão do jogador. O torcedor do time vencedor alega que o jogador é
“experto”! O gol foi com a mão, mas valeu! O juiz não viu, é nosso o gol! Falta
ética como um todo. Alguns tem plano de saúde, não importa como ele quer usar!
Por sua vez, alguns exames caros e desnecessários são cobertos por esse plano,
que no final tem o custo diluído entre os associados encarecendo-os. É
incrível, o usuário por ter um plano de saúde acha que deve usufruir ao máximo,
mesmo que seja algo sem relevância médica. Os que faltam ao trabalho e “cavam”
um atestado médico. O brasileiro está tentando levar vantagem em tudo e todo
mundo tentando levar vantagem em tudo alguém fica na desvantagem! Com isso, o
que está acontecendo é que todos estão em desvantagem! O camarada tem um
discurso mas as atitudes dele é contra seu próprio discurso!
O senhor vê alguma perspectiva positiva
pela frente?
Acho que nós temos que nos
reinventarmos, não só na política, mas como Nação! Alguém tem que ter mais amor
pela pátria. É muito cedo ainda para dizer alguma coisa, espero que até julho o
país entre nos trilhos. Tem que haver mudança de hábitos.
O delegado tem aposentadoria
compulsória?
Tem, aos 75 anos. O que eu acho
um erro! Você não dá chance para quem está chegando! Simplesmente você abarrota
a instituição. Não existe aquela oxigenação natural que deve existir em toda
instituição. Se você chegar a qualquer empresa, onde a maioria da diretoria é
composta por pessoas acima de 65 a 70 anos e os jovens vão chegar lá com que
idade? Não estou afirmando que a velhice seja retrógrada, mas ela tem um
limite. Tudo tem o seu tempo. Por mais que eu queira fazer hoje com 60 anos de
idade não sou o mesmo que era com 25 anos. Como Delegado de Polícia aos 25 anos
de idade eu tinha pouca experiência mas tinha um “gás” tremendo! Dormia muito
pouco, trabalhava com muita intensidade. Hoje sou mais cauteloso. Não posso
errar. Até mesmo quando dirijo percebo que sou mais lento. Por que sou mais
lento? Porque estou mais velho e a velhice deixa mais lento? Não! Sou mais
lento porque sou mais cauteloso, antigamente eu dirigindo, saía para
ultrapassar olhava só uma vez no retrovisor. Hoje olho uma vez, olho duas vezes
para ultrapassar! Com isso perco alguns
segundos, mas faço uma manobra com absoluta certeza. Essa experiência é uma
vantagem. Sou da opinião que deveria existir uma espécie de Conselho da Polícia
Civil, com conselheiros aposentados, para ajudar, transmitir as experiências,
formatar novas diretrizes. Por muitos caminhos que os jovens estão passando
hoje, nós já passamos.
A Delegacia Seccional de
Piracicaba abrange quantas cidades?
Abrange 11 cidades: Piracicaba;
São Pedro; Águas de São Pedro; Charqueada; Santa Maria da Serra; Capivari;
Elias Fausto; Mombuca; Rafard; Rio das Pedras e Saltinho.
Diminuiu a criminalidade na nossa
região?
Diminuiu! E tem diminuído!
Procuramos identificar qual tipo de crime ou delito que ocorre em cada região.
Hoje eles fazem clínica geral. Antigamente era mais setorizado, onde havia mais
receptadores, locais onde havia mais ladrões. Antigamente Piracicaba era
comparada a Sumaré. Era uma região onde havia muita receptação. Piracicaba teve
uma fase muito feia em termos de criminalidade. Piracicaba melhorou muito,
muito mesmo.