PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 1 de agosto de 2015.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 1 de agosto de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://blognassif.blogspot.com/
Cassia , a senhora e seu marido foram fazer
uma visita ao cemitério e ocorreu um fato diferente?
Ao chegarmos, tinha um senhor
limpando um túmulo em frente ao túmulo da nossa família. Ele então narrou um
fato que havia ocorrido com ele e que o deixou muito chocado. Segundo narrou:
“Eu estava fazendo uma visitinha ao túmulo desse senhor, acho uma gracinha ele
com seu chapeuzinho, fazendo minha oração por ele, percebi que chegou ao meu
lado uma pessoa, quando olhei era a mesma pessoa que estava sepultada, levei um
grande susto, achei que era o próprio falecido”. Era Hilário, seu irmão gêmeo!
Isso ocorreu há uns dois ou três anos.
O senhor tinha parente residindo no bairro
dos Marins?
Nós morávamos em uma casa
pequena, meu tio Nicolau, era casado com a irmã do meu pai, chamava-se Dona
Emília. Eles tinham uma casa maior, na frente, ali foram realizados muitos
casamentos da família. Depois viemos morar na cidade de Piracicaba
no Bairro Alto, na Rua São João,
perto do campo do União São João. Dali fomos morar em frente ao Campo do
Palmeirinha.
Com quantos anos o senhor começou a
trabalhar?
A partir de uns dez anos eu
sempre trabalhei. Vendia banana, vendia tudo que aparecia pela frente. O
dinheiro que resultava das vendas eu entregava para a minha mãe. Naquele tempo
tinha muitas frutas para comprar e vender pelas ruas. Tinha muitas feiras pelas
ruas, hoje não existe mais, atualmente há os feirões. De lá da “Capelinha”,
situada lá em cima, no Bairro Alto, viemos morar na Rua Vergueiro. Ali morava
Benedito Teixeira, advogado, excelente pessoa. Aos treze anos fui trabalhar com
o Miro Pinassi, ele era sapateiro, tinha um estabelecimento em frente a Fábrica
de Tecido Boyes, Naquela época sapateiro não trabalhava no dia de São Crispim.
Eu estava parado, na porta da sapataria, o gerente da Fábrica Boyes, Seu
Ernesto, convidou-me para trabalhar na Boyes. Isso foi em 1932, tempo em que
Getulio Vargas estava no poder. Naquele tempo ao redor da Ponte do Mirante era
só mato. Chico Campeiro era o contramestre da seção. José Tosello era
enfermeiro da fábrica. Fui trabalhar como servente de pedreiro, dentro da
Fábrica Boyes. Trabalhei como servente de pedreiro na construção das casas da
Vila Boyes. Trabalhava com carroça e burro. Eu era mocinho, devia ter uns vinte
anos. Quando concluímos as casas voltamos para a fábrica onde construímos o
terceiro prédio. Trabalhávamos com carroça e burro. Aonde eu ia o burro
“Pinhão” ia atrás de mim. Eu tratava bem dele.
Há um desvio de água do Rio
Piracicaba junto a Fábrica Boyes, já havia naquela época?
Aquele córrego eu ajudei a fazer
o alicerce, da fábrica até a comporta. Fazia a caixa de madeira dos dois lados
e depois enchia de cimento. Sempre fui trabalhador, não parava de trabalhar.
Depois fui trabalhar na fábrica, na sala de pano.
Quem era o chefe geral da
fábrica?
Era o Boyes! Inclusive quando
estourou uma guerra seu filho queria ir servir, era piloto de avião de guerra. No
segundo dia em que ele estava na frente de combate foi morto.
Quantos funcionários trabalhavam
na Boyes?
Quando entrei na fábrica tinha 40
operários. A medida que foi ampliando o prédio também aumentou o número de
funcionários, chegando a ter mais de 1.000. Esse canal que desviava água movia
uma usina de energia que distribuía para a fábrica inteira.
Quanto tempo o senhor trabalhou
na Boyes?
Fiquei 43 anos. A Boyes recebia o algodão com
caroço, em frente à fábrica tinha um depósito, ali ficavam os fardos de algodão
bruto. A máquina tirava o caroço, que era vendido, com o algodão, fazia o fio.
O senhor morava em que local nessa época?
Contando
local onde eu resido atualmente morei em cinco lugares diferentes. Minha
esposa já é falecida, seu nome é Leonilda Lazaretto, eu a conhecia desde
criança, é filha de Romeu Lazaretto. Casamo-nos na Igreja Imaculada Conceição,
o celebrante foi o Monsenhor Gallo.
LEONILDA E HILÁRIO
LEONILDA E HILÁRIO
O senhor gostava de jogar futebol?
Joguei no Infantil XV de Novembro, no Juvenil
XV de Novembro e depois vim jogar no Sucrerie. Eu era bom de futebol, o
Baltazar, “Cabecinha de Ouro”, dizia que era um absurdo eu jogar bola como
jogava e muitos ganhando um dinheirão enquanto eu precisava pagar para jogar.
(Despesas normais com uniforme). Eu jogava como meia-direita.
Passava boi por aqui?
Naquele tempo passava muita
boiada, o cavaleiro ia com o berrante tocando, e a boiada ia toda atrás. Ia
para o matadouro.
O Mirante do Rio Piracicaba era
diferente?
Quem remodelou o Mirante foi o
prefeito Dr. Francisco Salgot Castillon. Antigamente existia um varão de ferro
que ia do inicio do Mirante até o Engenho Central, na Rua Maria Maniero.
O senhor atravessou o Rio
Piracicaba?
Eu tinha dois botes e um motor,
aos sábados meu irmão Thomaz e eu pegávamos o bote que ficava no Asylo ( Lar
dos Velhinhos), ia até Caiuby depois as 4 e meia, cinco horas da tarde
descíamos pescando. Usávamos um motor 7e 1/2, Johnson. Naquele tempo trazíamos
o motor nas costas, do Lar dos Velhinhos até as imediações do Mirante, onde se
situava nossa casa. Hoje só jogo um truque (ou truco) com os amigos, tenho sete
medalhas de campeão de truco.
O senhor lembra-se do bonde?
Lembro-me sim! O meu cunhado Luiz
Angelocci era chefe de bonde. No sentido centro-bairro, o bonde quando chegava
ao final da ponte sobre o Rio Piracicaba virava a direita, ao lado direito
havia uma farmácia, a esquina era do Chico D`Abronzo, ele tinha uma venda, mais
abaixo era do filho dele, o Xandrico e ao lado esquerdo um sobrado.
O senhor chegou a conhecer a
fábrica de aguardente Tatuzinho?
Bem em frente a fabrica da
Tatuzinho, o Humberto D`Abronzo fez um túnel atravessando a Avenida Rui
Barbosa, o vasilhame vazio passava pelo túnel, enchia de aguardente e depois voltava
para a expedição, onde estacionavam os caminhões já aguardando as garrafas
cheias.
O senhor conheceu a Dra. Ana D` Àbronzo?
Gente queridíssima! Eu ia Restaurante do
Papini, comer frango com polenta. Jogava boche. Nós jogávamos disputando frango
mandava o Papini fazer e comíamos. O dono dos frangos junto conosco. Acabávamos
de comer, dizíamos: “-Você sabe de uma coisa? Esse frango tem um gosto de
fulano, que era o dono do frango!”. Os frangos eram todos da casa dele. A turma
do boche tinha trazido os frangos de lá. Cozinharam o frango, convidaram ele
para vir comer e ele veio.
O senhor conheceu Dona Gigeta, do Restaurante Papini?
Conheci, fazia pastéis que eram uma
maravilha! Conheci muito o “Joane Vassoureiro”, Giovanni Ferrazzo que mais
tarde mudou-se para a Paulista onde passou a fabricar as vasouras “Cantagalo”.
Na Vila ele fabricava as vassouras de marca “Elefante”. Onde é o hospital dos
Plantadores de Cana, antigamente o terreno era encharcado. O pessoal do Engenho
Central ia plantar cana de açúcar, Ali tinha muitos pintassilgos, paca capim.
Havia uma rivalidade entre o os jovens moradores na Vila Rezende e os
moradores de outros bairros além da ponte?
Havia e era levada a sério! O
pessoal da Vila Rezende não podia ir para a “cidade” e o pessoal da “cidade”
não podia vir até a Vila Rezende. Eu tinha uma grande vantagem, pelo fato de
ser bom jogador de futebol peguei muita amizade com essa turma da cidade. Havia
um cartório logo no inicio da Avenida Rui Barbosa, eles me disseram que iriam
me apresentar ao pessoal da Sucrerie para jogar pelo time deles. Foi assim que
passei a jogar defendendo as cores do Sucrerie. Onde hoje há um posto de
gasolina, na Rua Maria Maniero, esquina com a Avenida Barão de Serra Negra,
havia um moinho de fubá. Existiam duas linhas de trem, a da Estrada de Ferro
Sorocabana e a do Engenho Central, que transportava cana de açúcar. Quando o
trem cruzava a Avenida Barão de Serra Negra, na cabeceira da ponte tinha uma
cancela com uma tabuleta que impedia o transito de veículos dando passagem ao
trem. As locomotivas do Engenho Central eram fabricadas em Piracicaba pelo
gênio da mecânica João Bottene.
O senhor conheceu o Dr. Samuel
Neves?
Conheci muito. Uma ocasião fomos mordidos por
cachorro louco, ele que nos tratou. Naquele tempo havia muitos cães pelas ruas,
era o tempo em que a Prefeitura Municipal pegava cachorro com rede pelas vias
publicas.
Além de esporte o que mais o
senhor gostava de fazer como diversão?
Gostava muito de dançar, onde
tivesse baile eu ia. Na Vila Rezende tinha bailes no Clube Atlético, no Grêmio
da Cooperativa.
ENCHENTE RUA DO PORTO DIA 24 DE FEVEREIRO DE 1970
ENCHENTE RUA DO PORTO DIA 24 DE FEVEREIRO DE 1970
Quando falecia alguém onde era o
sepultamento?
Era no Cemitério da Saudade. O
caixão com o corpo era levado a pé, da Vila Rezende até o cemitério. Subia-se a
Rua Moraes Barros, o comércio fechava as suas portas em sinal de respeito
quando passava o féretro. Os acompanhantes iam de terno, com o calor, o peso.
Não era fácil. Andava um quarteirão e ia trocando quem carregava a urna com o
falecido. Um enterro levava no mínimo três horas de percurso.
A Avenida Rui Barbosa era bem
diferente?
Quando vim morar na Vila Rezende
a Avenida Rui Barbosa era chão de terra.
O senhor conheceu Mário Areas
Witier, o Mário da Baronesa?
Conheci! Brincava com o Mário,
com sua mãe, tinha uns negros que trabalhavam lá também. Conheci a Baronesa de
Rezende, era uma boa mulher. Naquele tempo meu pai conseguiu terreno para
plantar batatinha em uma parte do terreno pertencente a Baronesa. A casa da
Baronesa era em frente ao Engenho Central. Nós íamos até apanhar frutas lá,
lembro-me que tinha uns pés de jaca. Aqui era tudo chão de terra, do Engenho
Central adiante era plantação de algodão. Em frente ao jardim da Vila Rezende
havia um cinema, pertencia ao Atlético Clube.