sábado, fevereiro 21, 2009

ISSA ELIAS RISK

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com

Sábado, 21 de fevereiro de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.tribunatp.com.br/
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http://blognassif.blogspot.com/



ENTREVISTADO: ISSA ELIAS RISK


Inúmeras cidades têm um local onde os moradores dessa cidade freqüentam até com certo orgulho. São Paulo é uma cidade pródiga nesses locais. Em frente ao Instituto Biológico, próximo ao Parque Ibirapuera, existe uma residência, que foi transformada em pizzaria e que é freqüentada já por muitos anos pelo atual governador José Serra e uma revoada de tucanos de alta plumagem. O dono é um piracicabano. A característica principal desses locais é que assumem a personalidade do proprietário. No Largo de Pinheiros existe uma lanchonete especializada em batidas de frutas, onde a principal atração é o malabarismo que os donos fazem com as garrafas e o gelo ao atenderem um cliente. Geralmente são lanchonetes, restaurantes, muitas vezes situados em locais bastante discretos, quase anônimos, mas que ganham fama e vida própria. Piracicaba tem vários desses locais, um deles é especializado em comida árabe. Situado á Rua Tiradentes, 740 o Restaurante Árabe do Issa é propriedade de Issa Elias Risk. Calmo, atencioso, sorridente e sempre muito solícito, com seus quibes, esfihas, homus, e demais delícias da cozinha árabe, Issa fisgou o piracicabano pela boca. É comum ver o Issa sentado em uma das mesas dispostas em frente ao seu estabelecimento, ocupado em alguma atividade referente ao restaurante. Em uma dessas tardes escaldantes de Piracicaba, a pessoa que conduzia um veículo, por motivos desconhecidos subiu pela calçada com o mesmo desgovernado, parando a poucos metros de onde Issa trabalhava. Além do grande susto, nada mais aconteceu a não ser danos de pequena monta no veículo. Logo se formou um grupo de pessoas em torno do local. Como se estivesse mentalmente viajando pela terra natal, Issa continuou seu trabalho placidamente. Alheio á toda aquela movimentação. A sua tranqüilidade chamava a atenção dos presentes ao fato. Nascido em Beirute, no Líbano, em 22 de fevereiro de 1932, filho de Elias Risk e Maria Risk, o cidadão piracicabano, título que lhe foi concedido pela câmara de vereadores, transformou seu restaurante em um local aprazível, típico. Com muitas fotos, títulos recebidos, quadros, tapetes, objetos decorativos, o Restaurante do Issa passou a ser uma galeria de memórias. O cliente sente-se como se estivesse na própria casa do Issa.
O senhor nasceu no Líbano, onde viveu, e depois foi para o Kwait?
Fiz o curso de cozinheiro em Beirute, em uma escola de hotelaria. Em 1952 fui para o Kwait. Era um país maravilhoso. Na ocasião havia um bom campo de trabalho. Lá é que me casei com a minha esposa que se chama Rosa. Temos três filhos: Loud que é médica, e está no Líbano, Eli é engenheiro-químico e está na Arábia Saudita, e a Lílian que é jornalista e mora na Inglaterra. Após permanecer por quinze anos no Kwait voltei para o Líbano, onde construí um prédio de três andares. Morava na parte superior e alugava as demais dependências. Permaneci no Líbano por dois anos. Em seguida fui para Trípoli na Líbia, na época governada pelo Rei Idris I. No período da Guerra dos Seis Dias que se iniciou em 5 de junho de 1967 eu estava lá, trabalhando. Com a minha família voltamos para o Líbano. No Líbano eu tinha um amigo que o filho dele era o proprietário de uma padaria na Rua 25 de Março em São Paulo. Fui convidado para ser o padrinho de casamento desse moço, aqui no Brasil. Após o casamento, fui visitar uns parentes deles em Botucatu. No trajeto houve um acidente com o nosso automóvel. Batemos na traseira de um caminhão, sendo que o meu lado foi o mais atingido. O carro era um Aero-Willys. Permaneci por dezoito dias no hospital em Botucatu. Os “patrícios” de São Paulo me transferiram para o Hospital Sírio-Libanês onde permaneci por oito meses. Fiquei com todo o corpo engessado. Após sair do hospital, fui para a casa de um amigo na Vila Mariana. Logo depois quebrei a perna. Fui para o então Hospital Matarazzo, em seguida para o Hospital das Clínicas, onde permaneci por mais alguns meses.
Como o senhor veio para Piracicaba?
Os patrícios (libaneses, sírios) de Piracicaba me visitavam no hospital. Eles me convidaram para vir para Piracicaba. Entre muitos posso citar alguns como Elias Sallum, Abrahão Maluf, Dr. Adilson Benedito Maluf que na época já era prefeito de Piracicaba. Já em Piracicaba fui convidado para ir á um jantar, quebrei a perna de novo. Fui para a Santa Casa, lá recomendaram para fazer a cirurgia no Hospital das Clínicas. Fui encaminhado para lá, onde fui operado.
O senhor, já curado, voltou para Piracicaba?
Exatamente. Os dólares que eu tinha já estavam acabando. Pedi ao Dr. Adilson para montar uma banca de frutas atrás da Catedral. Ele me disse que ia pensar no assunto. Eu estava louco para trabalhar. Na época eu morava na Vila Rezende. Atrás do Hospital dos Plantadores de Cana, tinha um circo. Fui até lá para comprar uma barraca. Comprei com a condição de tirar na hora. Eu coloquei a barraca ao lado do ponto de táxi, atrás da catedral. Estava ainda escrito nas laterais da barraca as atrações do circo: leão, macaco. Dr. Adilson ficou bravo quando soube. Ficou nervoso. Eu disse que iria tirar a barraca de lá. Um dos seus secretários pediu que esperasse e foi ver a barraca. Ele então disse que eu deveria pintar os dizeres originais daquela barraca que um dia foi de um circo. Assim, passei a trabalhar, e após quatro anos mandei trazer a minha família. Na ocasião meus filhos que já estavam quase formados teriam que começar de novo seus estudos. Na ocasião o Prof. Elias Sallum correu muito para tentar resolver o impasse. Mas infelizmente não era possível fazer nada, eles então voltaram. Lílian estudou na Inglaterra. Load e Eli em Paris.
No início a banca que o senhor montou trabalhava só com frutas?
Trabalhava com frutas, eram frutas selecionadas. Na época não havia o Ceasa em Piracicaba. Por volta da meia noite começava o comércio de frutas em frente ao prédio do Mercado Municipal. Com o tempo comprei uma perua Kombi, usada, e passei a ir para São Paulo. Passei a fornecer pão sírio, doces típicos, pistache. Tinham muitas famílias que encomendavam. Nesse período entrei em uma concorrência pública para montar um restaurante dentro do Ceagesp em São Paulo. Acabei ganhando. No dia da inauguração estavam presentes diversas autoridades, como o Prefeito Adilson Maluf, o Deputado Francisco Antonio Coelho (Coelhinho), já falecido, Fernando Henrique Cardoso. (Issa mostra a fotografia que comprova o fato). Permaneci por oito anos com o restaurante no Ceasa de São Paulo. Com o passar do tempo percebi que não compensava. Os custos eram decorrentes do mês inteiro, só que lá só funcionava 12 dias por mês, 3 dias por semana.
O senhor fez o que?
Após terminar o período do contrato, voltei para Piracicaba, onde montei um depósito de bebidas (refrigerantes). Com o passar do tempo aumentou a minha dificuldade em ficar carregando caixas para fazer as entregas. Resolvi montar o restaurante.
Há quanto tempo o senhor montou o restaurante?
Estou aqui há 25 anos, foi em 1983.
Qual era a sua expectativa quando começou?
Quis montar um restaurante árabe. Pratos frios e quentes. Salgados e doces.
O piracicabano gosta da comida árabe?
A maioria gosta.
O senhor já recebeu muitas personalidades em seu restaurante?
Graças a Deus sim. Vem gente muito boa. O Adilson Maluf. Todos os deputados: Roberto Felício, Roberto Moraes, Antonio Carlos Mendes Thame, João Hermann Neto. Vem muitas pessoas importantes da cidade.
Um dos pratos muito procurados é o carneiro?
No ano passado fiz 55 carneiros assados e recheados. A procura é muito grande no Natal e no final de ano. O recheio é composto por pistache, carne do próprio carneiro, especiarias. Faço também lingüiça de carneiro. O segredo da cozinha é preparar o prato na hora, em 10 minutos fica pronto o kibe crú. Não deve se deixar comida no balcão (refrigerado) de um dia para outro. Coalhada seca, fresca, charuto de folha de uva isso temos sempre.
Onde o senhor arruma as folhas de uva para fazer os charutos?
Eu tinha uma parreira. Hoje vem de São Paulo.
Aqui na parede do restaurante tem uma foto do senhor vestido a caráter, como um sheik árabe, quando foi tirada essa fotografia?
Nós temos uma entidade sírio-libanesa situada á Rua Governador Pedro de Toledo. Todos os anos, na data de comemoração da independência deste querido país que é o Brasil, nós participamos do desfile. Colocaram um carrinho para que eu saísse caracterizado dessa forma. Neste carnaval a Ekyperalta vai representar a Sociedade Sírio-Libanesa. Eu estarei lá, na avenida.
Qual é a religião do senhor?
Católico maronita. Todo mês é celebrada a missa na Catedral de Santo Antonio, onde o pároco é Monsenhor Jamil Nassif Abib. O Bispo Maronita de São Paulo esteve aqui em Piracicaba.
Como é a relação entre árabes e judeus aqui no Brasil?
Tenho amigos que são judeus, sunitas, católicos ortodoxos. Lá no Oriente Médio o motivo é religioso, árabe não gosta de judeu, judeu não gosta de árabe.
Como o senhor vê o futuro do Brasil?
Maravilhoso. Houve um encontro com alunos de faculdade, na Rua Boa Morte. Olhando para cada aluno eu vi o rosto de Deus. Não estampam mágoas, ódios. Estávamos apresentando uma palestra, eu e Jayme Rosenthal.
Do que o senhor mais tem saudade do Líbano?
É a minha terra natal. Eu nem para São Paulo tenho ido mais.
O senhor gosta de dançar?
Adoro dançar. Gosto de todo tipo de música. Na Sociedade Sírio-Libanesa recentemente foi realizada uma festa maravilhosa com a presença da Secretária Municipal de Cultura Rosangela Camolesi e seu marido, onde a Ekyperalta animou com um samba. Eu até sambei.
O senhor lê e escreve o árabe?
Leio e escrevo. É interessante um fato que vem ocorrendo. Muitas moças querem fazer uma tatuagem com o nome "do querido dela", do noivo. Tatuam-se nas costas. Eu escrevo em árabe o nome ou a frase que elas desejam tatuar. Elas então levam o modelo para a pessoa que faz a tatuagem.
O brasileiro deveria conhecer melhor a cultura árabe?
No período em que a Turquia dominou o Líbano no final do século XIX, vinham para o Brasil com o passaporte turco, isso gerou muita confusão e preconceito. Os árabes vieram para o Brasil com pouco dinheiro, sem saber falar nada em português. Hoje a maioria tem filhos que se destacam em suas profissões, como médicos, engenheiros, advogados e outras.
Quando o senhor chegou ao Brasil, sabia alguma palavra em português?
Nada. Nem para falar colher. Garfo. Faca. Tenho orgulho da nossa comunidade. Os primeiros que vieram iam de porta em porta, oferecendo mercadorias. Não havia estradas, transportes, hotel. Dormiam em casas particulares, no dia seguinte presenteavam a pessoa que o acolhia com um lenço, ou alguma outra lembrança. Teve imigrante que veio de São Paulo á Campinas a pé. Hoje a maioria tem filhos com diploma de curso superior.
O senhor tem algum Masbaha?
Tenho dois. Um no carro outro em casa. (N.J.Conhecido no Oriente como Masbaha e na Grécia como Comboloi, é chamado também de terço grego, terço árabe e terço islâmico, e usado por todas as religiões para meditação, orações e pedidos de auxílio. Criado há milênios por mestres orientais, é um acumulador e transmissor de energias positivas, além de eliminador de tensão nervosa).
E o narguile?
Tenho dois. Só não dá tempo de usar. O narguile simboliza a hospitalidade, serenidade e a harmonia. Deve ser fumado em grupos, para os fumantes conversarem entre si.
Como é feito o café árabe?
O bom não café não é filtrado, é decantado. Existem pessoas que sabem ler o que significa o pó de café que fica no fundo, se tem sorte. Não se põem açúcar no café. É colocada uma semente de snubar no café.
O senhor sabe ler o pó de café?
Eu sei um pouquinho.
Qual é o significado do cedro para o Líbano?
É a árvore que não morre. Ele está presente na nossa bandeira. Veja uma foto onde há neve, com vinte graus negativos, ele permanece vivo. No Líbano não se corta o cedro. Ele possui um perfume natural. O cedro só nasce na montanha.
O senhor sabe a letra do Hino Nacional do Líbano?
(Imediatamente Issa põe-se a cantar em árabe):

Hino Nacional Libanês (tradução)
(Fonte: Embaixada do Líbano no Brasil)

Somos todos para a Pátria
Para a sublime, pela bandeira
Nossa espada, nossa pena
Fulguram aos olhos do tempo
Nossos vales e montes
São o berço dos bravos
Nossa palavra e ação, só buscam a perfeição

Somos todos para a Pátria
Para a sublime, pela bandeira
Somos todos para a Pátria
Velhos e moços ao apelo da Pátria
Investem, como leões da floresta,
Quando surgem os embates
Coração de nosso Oriente
Que Deus o preserve ao longo dos séculos

Seu mar, sua terra são a pérola dos dois Orientes
Sua opulência, sua caridade
Preenchem os dois pólos
Seu nome é seu triunfo
Desde a época de nossos ancestrais
Sua glória é seus cedros
Seu símbolo é para a eternidade

Somos todos para a Pátria
Para a sublime, pela bandeira
Somos todos para a Pátria






quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Leis Naturais
1- GUIA PRÁTICO DA CIÊNCIA MODERNA:
• 1. Se mexer, pertence à Biologia.
• 2. Se feder, pertence à Química.
• 3. Se não funciona, pertence à Física.
• 4. Se ninguém entende, é Matemática.
• 5. Se não faz sentido, é Economia ou Psicologia.
• 6. Se mexer, feder, não funcionar, ninguém entender e não fizer sentido, é INFORMÁTICA.
2- LEI DA PROCURA INDIRETA:
• 1. O modo mais rápido de se encontrar uma coisa é procurar outra.
• 2. Você sempre encontra aquilo que não está procurando.
3- LEI DA TELEFONIA:
• 1. Quando te ligam: se você tem caneta, não tem papel. Se tiver papel, não tem caneta. Se tiver ambos, ninguém liga.
• 2. Quando você liga para números errados de telefone, eles nunca estão ocupados.
• Parágrafo único: Todo corpo mergulhado numa banheira ou debaixo do chuveiro faz tocar o telefone.
4- LEI DAS UNIDADES DE MEDIDA:
• Se estiver escrito 'Tamanho Único', é porque não serve em ninguém, muito menos em você...
5- LEI DA GRAVIDADE:
• Se você consegue manter a cabeça enquanto à sua volta todos estão perdendo, provavelmente você não está entendendo a gravidade da situação.
6- LEI DOS CURSOS, PROVAS E AFINS:
• 80% da prova final será baseada na única aula a que você não compareceu, baseada no único livro que você não leu.
7- LEI DA QUEDA LIVRE:
• 1. Qualquer esforço para se agarrar um objeto em queda, provoca mais destruição do que se o deixássemos cair naturalmente.
• 2. A probabilidade de o pão cair com o lado da manteiga virado para baixo é proporcional ao valor do carpete.
8- LEI DAS FILAS E DOS ENGARRAFAMENTOS:
• A fila do lado sempre anda mais rápido.
• Parágrafo único: Não adianta mudar de fila. A outra é sempre mais rápida.
9- LEI DA RELATIVIDADE DOCUMENTADA:
• Nada é tão fácil quanto parece, nem tão difícil quanto a explicação do manual.
10- LEI DO ESPARADRAPO:
• Existem dois tipos de esparadrapo: o que não gruda e o que não sai.
11- LEI DA VIDA:
• 1. Uma pessoa saudável é aquela que não foi suficientemente examinada.
12- LEI DA ATRAÇÃO DE PARTÍCULAS:
• Toda partícula que voa sempre encontra um olho aberto.


Colaboração: Pircorococór





CRIATIVIDADE


Foto by J.U.Nassif



NOSTALGIA

Foto by J.U.Nassif


domingo, fevereiro 15, 2009

PAPO DE CRIANÇA MODERNA

CONVERSA ENTRE DUAS CRIANÇAS!!!!

- E aí, véio?
- Beleza, cara?
- Ah, mais ou menos. Ando meio chateado com algumas coisas.
- Quer conversar sobre isso?
- É a minha mãe. Sei lá, ela anda falando umas coisas estranhas, me
botando um terror, sabe?
- Como assim?
- Por exemplo: há alguns dias, antes de dormir, ela veio com um papo doido
aí. Mandou eu dormir logo senão uma tal de Cuca ia vir me pegar. Mas
eu nem sei quem é essa Cuca, pô. O que eu fiz pra essa mina querer me
pegar?
Você me conhece desde que eu nasci, já me viu mexer com alguém?
- Nunca.
- Pois é. Mas o pior veio depois. O papo doido continuou. Minha mãe
disse que quando a tal da Cuca viesse, eu ia estar sozinho, porque meu
pai tinha ido pra roça e minha mãe passear. Mas tipo, o que meu pai
foi fazer na roça? E mais: como minha mãe foi passear se eu tava vendo
ela ali na minha frente? Será que eu sou adotado, cara?
- Sabe a sua vizinha ali da casa amarela? Minha mãe diz que ela tem uma
hortinha no fundo do quintal. Planta vários legumes. Será que sua mãe
não quis dizer que seu pai deu um pulo por lá?
- Hmmmm. pode ser. Mas o que será que ele foi fazer lá? VIXE! Será que meu
pai tem um caso com a vizinha?
- Como assim, véio?
- Pô, ela deixou bem claro que a minha mãe tinha ido passear. Então
ela não é minha mãe. Se meu pai foi na casa da vizinha, vai ver eles
dois tão de caso. Ele passou lá, pegou ela e os dois foram passear. É
isso, cara. Eu sou filho da vizinha. Só pode!
- Calma, maninho. Você tá nervoso e não pode tirar conclusões precipitadas.
- Sei lá. Por um lado pode até ser melhor assim, viu? Fiquei sabendo
de umas coisas estranhas sobre a minha mãe.
- Tipo o quê?
- Ela me contou um dia desses que pegou um pau e atirou em um gato. Assim,
do nada. Puta maldade, meu! Vê se isso é coisa que se faça com o bichano!
- Caramba! Mas por que ela fez isso?
- Pra matar o gato. Pura maldade mesmo. Mas parece que o gato não morreu.
- Ainda bem. Pô, sua mãe é perturbada, cara.
- E sabe a Francisca ali da esquina?
- A Dona Chica? Sei sim.
- Parece que ela tava junto na hora e não fez nada. Só ficou lá, paradona,
admirada vendo o gato berrar de dor.
- Putz grila. Esses adultos às vezes fazem cada coisa que não dá pra entender.
- Pois é. Vai ver é até melhor ela não ser minha mãe, né? Ela me
contou isso de boa, cantando, sabe? Como se estivesse feliz por ter
feito essa selvageria. Um absurdo. E eu percebo também que ela não
gosta muito de mim. Esses dias ela ficou tentando me assustar, fazendo
um monte de careta. Eu não achei legal, né. Aí ela começou a falar que
ia chamar um boi com cara preta pra me levar embora.
- Nossa, véio. Com certeza ela não é sua mãe. Nunca que uma mãe ia fazer
isso com o filho.
- Mas é ruim saber que o casamento deles é essa zoeira, né? Que meu pai sai
com a vizinha e tal. Apesar que um dia ela me contou que lá no bosque do final da rua mora um cara, que eu imagino que deva ser muito bonitão, porque ela
chama ele de 'Anjo'. E ela disse que o tal do Anjo roubou o coração
dela. Ela até falou um dia que se fosse a dona da rua, mandava colocar
ladrilho em tudo, só pra ele pode passar desfilando e tal.
- Nossa, que casamento bagunçado esse. Era melhor separar logo.
- É. só sei que tô cansado desses papos doidos dela, sabe? Às vezes
ela fala algumas coisas sem sentido nenhum. Ontem mesmo veio me falar
que a vizinha cria perereca em gaiola, cara. Vê se pode? Só tem louco
nessa rua.
- Ixi, cara. Mas a vizinha não é sua mãe?
- Putz, é mesmo! Tô ferrado de qualquer jeito.

sábado, fevereiro 14, 2009

PADRE JOSÉ CARLOS TADEU RIBEIRO (PADRE ZÉCA)

PADRE JOSÉ CARLOS TADEU RIBEIRO (PADRE ZÉCA)


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com

Sábado, 14 de fevereiro de 2009.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/
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ENTREVISTADO: PADRE JOSÉ CARLOS TADEU RIBEIRO (PADRE ZÉCA)

A auto-realização é aparentemente a viagem mais longa que se faz através da vida. A vida no mundo deve ser muito honesta, muito ética. Quando o homem não observa a lei interior, que provém da lei de causas e efeitos, seus olhos estão fechados. Existe neste mundo muitos seres com os quais estamos ligados ou relacionados de muitas formas. A cada um devemos alguma coisa. A uns devemos consideração, a outros o respeito, a uns serviços, a outros a tolerância, a uns o perdão, a outros o auxílio. As religiões têm servido de referencial para nós e trouxe um grande avanço moral (família, estado e política). São Tomás de Aquino diz que: “A consciência moral é a voz interior que nos diz que devemos fazer o bem e evitar o mal”. O equilíbrio interno é a mola propulsora da harmonia, ter consciência é saber discernir com critérios justos e bons. No mundo contemporâneo, fala-se muito de liberdade de expressão, mas a vida tem regras para ser seguidas, regras essas que são impostas pela mesma liberdade e uma vez infringidas, acabam sofrendo conseqüências irreversíveis. Sabemos que ética no sentido absoluto, não é apenas aquilo que se costuma fazer em uma sociedade boa é aquilo que é bom em si mesmo. Aquilo que não é negociável, é algo que não se pode discutir nem transigir. O que é digno do ser humano, o que se opõe ao indigno. A velocidade de evolução tecnológica impôs um ritmo quase alucinante á humanidade. Quando a lei do materialismo rege os nossos atos e decide por nós, a ética desaparece e, com isso temos uma liberdade falsificada, um falso poder sobre essa liberdade. Ao líder espiritual de uma comunidade cabe uma tarefa sobre-humana: não nos deixar sair dos trilhos. O Padre José Carlos Tadeu Ribeiro, conhecido como Padre Zéca, é um líder espiritual. A sua fé o torna carismático. Religioso dedicado ao trabalho junto aos fiéis, não descuida de estar sempre estudando e conhecendo melhor a natureza humana.
Padre Zéca o senhor tem em sua família um irmão que também é padre?
Meu irmão Antonio é padre também, ele é o irmão mais velho. A seguir eu, que nasci no dia 27 de maio de 1964, e o Celso, que é Ministro Extraordinário da Eucaristia. Temos duas irmãs: a Andréia e a Silvanete. Somos filhos de Nair Granzotto Ribeiro e José Ribeiro.
Qual é a origem dessa forte religiosidade na família?
Nossos avós eram pessoas que freqüentavam a igreja, eram muito católicos. Quando a família participa da igreja ela tem muita influência na vida dos filhos.
O senhor iniciou seus estudos em Piracicaba?
Estudei na Escola Estadual Professora Jaçanã A. Pereira Guerrini da primeira até a oitava série. O colegial eu fiz na Escola Estadual. Professor José de Mello Moraes. Cursei o Magistério.
Quando se manifestou a vocação do senhor para ser padre?
Conheci Jesus através da bíblia. Tenho um grande amor á Deus. Quando meu irmão foi seguir o sacerdócio, eu tinha uns treze anos de idade. Nessa época eu já tinha um grande amor á Deus, ao ser humano, aos necessitados. Praticamente herdei esses sentimentos da minha família, pelo fato de ser muito religiosa.
Como o senhor entrou na vida religiosa?
Iniciei a minha caminhada em Jaú. Entrei para a Ordem Premonstratense, fundada em 1121, por São Norberto em Premontré, situado no norte da França. Essa ordem é responsável pela Paróquia São Judas Tadeu, aqui em Piracicaba. Eu sempre digo ás pessoas que o testemunho e o exemplo podem mudar a vida de uma pessoa. Um padre que marcou muito pela sua simplicidade, sua vocação para com o povo, foi o Padre Bruno. Ele dava a vida pelo povo. Quando eu assistia as celebrações realizadas por ele, pensava em meu interior, que se um dia eu chegasse a ser padre gostaria de ser como Padre Bruno. Um padre do povo.
Quantos anos de estudo o senhor realizou para ser ordenado como padre?
Existem dois tipos de padres. Os padres que são religiosos moram em seminário, em vida comunitária, e existem os padres seculares, que são os padres que moram na paróquia. Hoje eu sou um padre secular, pertenço hoje á Arquidiocese de Montes Claros, Minas Gerais, cujo Bispo é Dom José. A paróquia é a de São Pedro Apóstolo. Sou o pároco lá. O Padre Alencar, que é um padre muito querido dos paroquianos, me auxilia. Geralmente a formação de um padre dura uns dez anos, a minha durou um pouco mais, de quatorze a quinze anos. Não tive muita pressa. Durante esse período eu sempre buscava em Deus a resposta se era o desejo dele que eu tornasse-me padre.
Cuidar de uma paróquia é muito difícil?
Quando trabalhamos com pessoas, duas coisas são fundamentais na vida cristã: humildade e mansidão. Como pregou Jesus: “Eu sou manso e humilde de coração”. Se essas duas atitudes não existirem, fica difícil. Principalmente na atual realidade os seres humanos complicam muito a vida. E a vida é muito simples. Como pessoas nós temos muitas dificuldades de diálogos, relacionamento. O amor de Deus que todos deveriam viver é um amor que almeja a realização e a felicidade dos seres humanos.
Como é a vida de um padre?
É muito corrida. Ao contrário do que muita gente pensa. Tem algumas pessoas que acham que padre não faz nada. Tenho 11 comunidades rurais e cinco comunidades urbanas. Chego a celebrar em um domingo de cinco a sete missas. Fora as reuniões. Levanto ás cinco horas da manhã. Temos como obrigação rezar a liturgia das horas: ela é feita de manhã, no almoço, á noite e um horário após as dez horas. Fiz a Faculdade de Filosofia, que é fundamental para a formação de um sacerdote, e a Faculdade de Teologia, que é o estudo de Deus. Como amo muito aos seres humanos, sou muito espiritualista, a dimensão espiritual do ser humano eu conheço muito bem. O que ás vezes é difícil de entender é o aspecto físico do ser humano, o que ele vive em seu interior. Para entender a dimensão espiritual de uma pessoa o fato de eu ser um sacerdote torna muito fácil essa compreensão. Um problema físico pode ser uma doença mental, emocional.
Atualmente a doença da vez é o stress?
Uma das coisas mais comuns é a depressão. É uma doença mental e física. É necessário que seja definida até que ponto é física e até que ponto é espiritual. Um psicólogo ou um médico pode enfrentar alguma dificuldade em entender a dimensão da doença espiritual.
A humanidade está doente?
Sim. De duas formas: fisicamente e espiritualmente. Há mais doentes espiritualmente. É a falta de Deus.
A célula mãe de qualquer sociedade é a família, está havendo uma perda dessa identidade?
Deus é a base, o alicerce da vida familiar. Se for feita uma construção sobre areia ela irá desmoronar. É o que está acontecendo com a família. Há uma grande dificuldade de relacionamento e convivência entre as pessoas. Quando essa dificuldade é superada a vida se constrói. Em uma família onde não existe dialogo, convivência fica difícil. Hoje cada membro de uma família dirige-se á uma ocupação, trabalho, estudo. Que momento a família tem para estar junto? Quase nenhum e geralmente á noite, quando voltam do serviço. Uns ficam em frente á televisão, á internet, e a família acaba não tendo tempo para ela mesma, como família ela deixa de existir. Não há dialogo. Há uma frase de São Paulo que diz: “Não deixe o sol se por sobre os seus problemas”. Na atual estrutura social, os problemas vão se acumulando. A nossa vida por mais que se busque a realização e a felicidade sempre iremos nos depararmos com as limitações humanas. E muitas vezes deixamos de perguntar como lidar com essas limitações. O que fazer com elas? O amor constrói, edifica a vida humana. O amor é solução para tudo. A resposta para essas indagações é amor.
O senhor está indo de encontro com a grande corrente atual da humanidade, que é basicamente materialista?
Percebo que os seres humanos têm uma dificuldade muito grande em lidar com Deus. Se relacionarem com Deus. De conviver com Deus. Acredito que o grande erro, que eu percebo nas faculdades, nas escolas, na busca do conhecimento, da sabedoria humana, é querer separar “o humano” do “divino”. O humano e o divino são duas realidades que caminham juntas. Há uma grande procura de realização, de felicidade, sendo que o centro dessas realizações é Deus. Muitas vezes há quem queira descartar Deus dessa felicidade, querendo preencher a vida com aquilo que é material. O que dá sentido a vida preenche os vazios, a essência da vida humana é Deus. A partir do momento em que se afasta dessa realidade busca-se o que é superficial, a aparência. Passa a ser uma vida pautada pela falsidade, pela aparência, tentando preencher as nossas insatisfações. O que preenche o ser humano é Deus e não o materialismo, o dinheiro.
O que é pecado?
Vejo pecado como um mal existente no interior do ser humano. O pecado é aquilo que destrói o homem, que faz com que cada um perca a sua identidade como filho de Deus. A imagem e semelhança do Criador.
A Igreja Católica classifica tipos de pecados?
Existem os pecados leves, grave e os mortais. O pecado leve é aquele pecado mais comum, é o pecado do dia-a-dia. Um exemplo desse tipo de pecado pode ser a inveja, os ciúmes. O pecado mortal é o que proporciona a morte do ser humano, tanto a morte física como a espiritual. O pecado contra Deus é considerado mortal. O pecado mortal é um pecado que depois de cometido não tem como reparar-se. O aborto é um exemplo. É como um cristal que se quebra, não há como voltar a sua forma original. Quando atendemos a uma pessoa que realizou um aborto percebemos como é difícil essa pessoa ser curada. A pena de morte acompanha a pessoa por toda a sua vida. Vejo o aborto como uma atitude desumana. O nosso Deus é um Deus da vida, tem como objetivo gerar a vida dos seres humanos. Assim também deveria ser o objetivo dos seres humanos. A partir do momento em que você mata alguém, você estará matando a si próprio. Para citar um exemplo á respeito do assunto, uma mulher foi vítima de um estupro. A principio ela queria abortar. Acabou decidindo ter a criança. Hoje, essa criança é uma psicóloga que ajuda a muitas pessoas.
Qual é o melhor caminho para se conhecer mais a Deus?
É preciso buscar Deus!
Cada um tem uma imagem sobre Deus, como o senhor pode expressar essa imagem?
Eu tenho tido muitas surpresas com o Papa Bento XVI. Ele resumiu Deus em uma só palavra: Amor. Deus é isso!
Como o senhor vê o surgimento de inúmeras seitas religiosas?
Conheço muitos evangélicos, tenho muitos amigos evangélicos. Tem muitas pessoas que levam a sério aquilo que fazem. É interessante notar que a religião evangélica de certa forma já existia no tempo de Jesus. Os discípulos chegaram uma vez para Jesus e disseram: “–Jesus tem algumas pessoas que estão falando em seu nome e não são dos nossos”. Jesus respondeu: “-Se eles estão falando de Deus deixem que fale”. Existem também alguns que usando o nome de evangélicos são fornecedores de ilusão com objetivo puramente comercial.
Como o senhor define a importância do ato de confessar junto a um padre?
Existe um ditado que diz que o interior do coração do ser humano é um lugar onde nenhum ser humano consegue entrar. Deus consegue. A confissão é a permissão dada para Deus entrar em seu coração. O olhar de Deus é um olhar de misericórdia. A confissão é muito importante. Deus não irá julgar ou condenar como os homens fazem.
Em dias de movimento até quantos fiéis o senhor chega a confessar?
Eu sou um padre muito procurado. Dependendo da pessoa chego a ficar uma a duas horas no confessionário. Já ocorreu uma situação em que tinham quinhentas pessoas querendo confessar, o que lógico foi impossível. No máximo dá para atender cinqüenta pessoas, isso em confissões bastante breves. A confissão é feita sem anteparos. Eu sempre digo ás pessoas que a confissão é o encontro de você com você mesmo. Muitas pessoas vivem em um mundo fechado.
Com todo respeito, como sai o ouvido do senhor?
Acho que a pergunta correta deveria ser como sai o meu coração. Mexe muito comigo, saber que os seres humanos vivem em seu interior. Sofrem demais. A grande dificuldade da humanidade é buscar aquilo que realmente dá sentido á vida humana. Jesus mesmo fala: “Busque os tesouros do alto”.
Alguns católicos dizem que preferem fazer o contato direto com Deus, sem a intervenção de um padre. Como o senhor os classifica?
Esses cristãos são Cristãos Denorex. Parece, mas não é!
(O padre refere-se a um comercial que anunciava um produto chamado Denorex. O anúncio tinha o seguinte bordão: “Parece, mas não é”).


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