Nascida entre editorias policiais, muitos jornalistas da década de 1970 e 1980 iniciaram a carreira na rádio-escuta. Hoje, apesar de não ser mais tão tradicional e de não representar o primeiro contato da maioria dos jornalistas com a redação, o rádio-escuta evoluiu, não perdeu seu valor e representa uma verdadeira central de informações e pautas. Veja a seguir algumas histórias curiosas recolhidas por esses profissionais.
Wiliam Thomazzi Salasar foi rádio-escuta da a Central Informativa Associada, agência de notícias dos Diários Associados no início de sua carreira na década de 1970. Foi a primeira vez que Salasar botou os pés em uma redação. Hoje, é superintendente de comunicação da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Em sua época como rádio-escuta, as principais notícias eram relacionadas a crimes, assaltos e outros temas da editoria policial. Em meio a tantos acontecimentos, um foi marcante para Salasar: "Uma realmente marcante foi o incêndio do Andraus em 1972. O primeiro grande incêndio em São Paulo. Os repórteres mandando a lista das pessoas mortas do IML e parentes dessas pessoas ligavam pra gente em busca de notícias. Eu tinha acabado de receber uma lista de mais vítimas confirmadas e assim que desliguei o telefone tocou de novo e a mulher perguntou de um nome que estava na minha frente. Eu não consegui responder e a pessoa começou a chorar, eu fiquei desnorteado, desliguei o telefone e não consegui voltar a trabalhar na hora. Isso foi muito marcante."
Ermelinda Rita está no Sistema Globo de Rádio há 23 anos. Entrou na emissora como estagiária em 1986. Hoje, é repórter da CBN e apesar de toda experiência profissional, nunca abandou a função de apuradora. Ermelinda conta que a função é muito interessante e chegam as mais diversas denúncias e solicitação de informações ao departamento. "Pedem muita informação para trabalho de escola, resolução de palavras cruzadas, tem de tudo." Veja a seguir duas histórias inusitadas que Ermelinda testemunhou em sua função de apuradora. "Teve um caso de uma senhora que esteve na caixa econômica federal que foi retirar a aposentadoria. Uma pessoa foi ajudá-la, mas era na verdade um ladrão que pegou todo o dinheiro da aposentada. O genro dela era ouvinte da rádio e ligou contando essa história. Descobrimos que a pessoa que a ajudou era amiga de um funcionário e a pessoa foi identificada e o dinheiro da senhora reavido. A senhora faz bem-casados e me mandou um monte como forma de agradecer. Teve também uma senhora que deu queixa do sequestro de um jabuti, o Kaká, que estava na família há 80 anos. Ela espalhou fotos do Kaká nos postes de luz do bairro e parece que o responsável pelo 'crime' foi um pedreiro que trabalhou na casa dela e teve divergências em relação ao pagamento. Recebemos uma denúncia de um morador dizendo que ouviu um homem negociando a venda de um jabuti. Até hoje o Kaká não apareceu."
José Armando Vanucci entrou na Jovem Pan como rádio-escuta há 19 anos. Atualmente é chefe de produção da rádio e acredita que todo jornalista deveria começar sua carreira na função. "A rádio-escuta é onde você pode mostrar seu talento", defende. Para exemplificar tal afirmação, Vanucci conta uma história de uma rádio-escuta que o marcou. "Houve um assalto no Rio de Janeiro com refém, eles entraram em uma agência bancária e renderam todo mundo que estava lá. A [funcionária na] rádio-escuta ouviu qual era a agência, conseguiu o telefone de lá e ligou. Todo mundo falou que ela era louca. O bandido atendeu e deu uma entrevista pra rádio. Colocamos o governador do Rio no ar também e foi super bacana."