segunda-feira, agosto 24, 2009

PIRACICABANO BRILHA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

Prof.Dr. Jayme Antonio Cardoso e sua esposa Profa.Dra.Suely

O piracicabano Prof.Dr. Jayme Antonio Cardoso brilha na Universidade Federal do Paraná.

A Universidade Federal do Paraná, criada em 1912, é sua casa há 51 anos; mesmo aposentado, voluntariamente ele continua dando cursos que são solicitados. Recebeu do Conselho Universitário o título de Professor Emérito. A sessão solene e pública foi realizada no dia 21 de agosto e nela também recebeu o título de Doutor Honoris Causa um americano amigo do Brasil , o importante cientista Doutor Stuart Schwartz. Além de colegas e amigos, sua família(Luiz Henrique, Walter e Quéia, e sua esposa Suely, sua filha Cristina, Antonio e Lucas, além de sua cunhada Rose) esteve lá, representando também os que moram fora: Clóvis; Ricardo que também é membro do Conselho Universitário enquanto diretor do Setor de Ciências Jurídicas.

sábado, agosto 22, 2009

NORIVAL TEDESCO
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS

JOÃO UMBERTO NASSIF Jornalista e Radialista joaonassif@gmail.com
Sábado 22 de agosto de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana

As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.tribunatp.com.br/
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ENTREVISTADO: NORIVAL TEDESCO

Norival Tedesco é uma pessoa muito conhecida em Piracicaba, tanto pela sua atividade profissional como pela sua atuação social. Acometido por uma doença crônica e progressiva, conseguiu com sucesso o domínio da mesma. Há muitos anos ele realiza o trabalho de auxílio na recuperação de pessoas que são dependentes químicos (álcool, drogas), uma atividade voluntária e sem nenhuma remuneração. É idealizador e o fundador da irmandade dos Narcóticos Anônimos em Piracicaba, que na época foi criado de forma intuitiva para atender a necessidade de tratamento de uma pessoa que Norival conhecia. Carismático, com uma franqueza própria daqueles que dizem aquilo que o coração manda, aos poucos ele envolve desde um ouvinte até uma enorme platéia, situações corriqueiras em sua vida. Defensor ferrenho do livre arbítrio, nunca critica qualquer ser humano. Sob o seu conceito, as pessoas é que devem escolher o que acham ser o melhor da vida. Norival é respeitado por todos que o conhecem. Por muitos até admirado. Nascido em Torrinha, no dia 15 de dezembro de 1931, é um dos doze filhos de João Tedesco e Maria Sapia Tedesco. Norival é casado com Da. Maria Lina dos Santos Tedesco.
Qual era a atividade do seu pai em Torrinha?
Ele tinha uma linha de ônibus, o percurso era feito com a então chamada jardineira. A princípio ele fazia o percurso Piracicaba a Torrinha. Resolveu vender parte da linha, que fazia o trecho de São Pedro até Piracicaba, ficando com a parte da linha que ia de São Pedro até Torrinha.
Antes dessa linha de ônibus de Piracicaba á Torrinha ele teve uma outra linha?
Meu pai e meu tio Miguel Tedesco foram sócios em um ônibus que ia de Piracicaba até Rio Claro. Havia uma outra pessoa que fazia a mesma linha. Houve um acordo entre eles para estabelecer um preço único da passagem, 15 unidades da moeda da época. Logo depois, o concorrente do meu pai abaixou a passagem para 13 unidades, pois um passageiro disse que pagou 14 unidades (afirmação incorreta), ao fazer o trajeto com o ônibus do meu pai. E assim ambos os ônibus foram abaixando as tarifas, a ponto de levarem o passageiro de graça e ainda pagavam o almoço para o então feliz passageiro! Chegaram ao extremo: a viagem era de graça e incluía gratuitamente um almoço e uma cerveja! Quando acabou o dinheiro, meu pai e meu tio pararam de fazer o transporte de passageiros. Só então ficaram sabendo que o concorrente tinha recursos para trabalhar mais uma semana e deveria parar. Esse concorrente tornou-se dono do Expresso de Prata. Muito tempo depois, meu pai estava em condições financeiras desfavoráveis, o dono dessa empresa ofereceu um ônibus de presente para o meu pai, que talvez por brio, não aceitou.
Qual era a marca do ônibus utilizado pelo seu pai nessa época?
Era um Ford, acredito que levava uns 15 passageiros, já era o modelo fechado. Ele teve um ônibus aberto, que fazia o percurso de São Pedro á Brotas, a estrada era muito ruim. Nós a chamávamos de “Gateada”, o motivo desse nome também não sei.
A viagem de São Pedro á Torrinha era feita diariamente?
Era feita uma viagem de ida e volta todos os dias, a estrada era de terra, na serra era bem apedregulhada.
Quando a sua família mudou-se para Piracicaba?
Acredito ser em 1937, eu tinha seis anos na época, viemos morar na Rua Regente Feijó, em frente ao campo do XV de Novembro. Sou quinzista daquele tempo, sempre arrumava um jeitinho de entrar, por ser menor, estando acompanhado eu não pagava e meu pai sempre assistia aos jogos.
Aconteceu uma fatalidade com seu pai em um desses jogos?
Meu pai morreu no campo do XV de Novembro. O jogo era XV de Piracicaba que fez 2 gols e Guarani que marcou 1 gol, o XV ganhou o jogo. Naquele ano, 1978, o Guarani foi campeão brasileiro, no domingo seguinte, dia 3 de setembro de 1978 veio jogar contra o XV em Piracicaba, no término do jogo, meu pai levantou e tornou a sentar-se, morreu naquele instante. Havia um médico presente, que fez tudo que pode, mas não tinha mais como devolver-lhe a vida. A primeira bandeira do XV, meu pai ajudou a comprar e seu caixão foi coberto com ela. Aquele dia eu não estava no campo.
Como quinzista, você guarda muitas lembranças daquela época?
Tenho uma grande saudade daqueles tempos. Lembro-me do goleiro do XV, Eduardo Farah, ficou na memória. Um time muito bom tinha em seu quadro o trio final: Índio, Raul e Renato.
O senhor estudou em que escola?
Estudei no Grupo Escolar Moraes Barros, havia um respeito muito grande pelo professor. O mais importante, e que hoje acredito existirem bem poucos, eram os professores que nos ensinavam a aprender. Ensinaram que a leitura iria ser importante na minha vida. Sempre gostei de ler. O primeiro livro que li foi Idéias de Jeca Tatu de Monteiro Lobato. Fiquei tão entusiasmado com aquelas histórias, nesse tempo a biblioteca pública ficava na Rua Governador esquina com Rua Prudente de Moraes, onde hoje está o prédio do Cristóvão Colombo, ela passou a emprestar livros para crianças, eu ficava por dois dias com o livro emprestado.
Com quantos anos você começou a trabalhar em uma livraria?
Faltavam dois dias para que eu completasse onze anos. A Livraria Brasil ficava aonde mais tarde veio a ser o Banco do Estado de São Paulo, hoje Santander, quase em frente ao Jornal de Piracicaba. Um fato curioso aconteceu nesse prédio da livraria, eu já não trabalhava mais lá quando isso aconteceu. Durante a construção do prédio do Banco do Estado, o prédio da livraria, que ficava ao lado, caiu. Deu tempo de quem estava dentro da livraria sair correndo. A livraria passou para a Rua Governador. O Hotel Central ficava ao lado da Catedral de Piracicaba. Pegado ao Hotel Central existia o Bar Comercial, era um sobrado muito antigo, na parte superior foi sede da UDN. Tinha baile de carnaval. Naquela época dançávamos ali e no Teatro Santo Estevão, onde no tempo de carnaval havia a Boca do Diabo.
Muitos já falaram a respeito desse baile da Boca do Diabo, mas ninguém contou os detalhes.
As músicas eram executadas por uma orquestra. Quando ia começar o baile de carnaval, o responsável pelo baile dirigia-se ao público dizendo: “-Por favor, se tiver presente aqui alguma moça de família, pedimos que se retire, porque nós não nos responsabilizamos pelo que possa ocorrer.” A coisa era brava! Eu era “freguesão”! . Na verdade, as moças que permaneciam eram moças mais modernas para a época. Se o rapaz começasse com muita graça, tinha alguém que vinha adverti-lo. Era um baile avançado para aqueles tempos. Hoje seria encarado de forma diferente.
Onde hoje existe a Galeria Gianetti, era o que antes?
Era o quintal do Hotel Central. Ainda ao lado da Catedral, do lado esquerdo para quem a vê de frente, hoje existe um barzinho que vende pastel, foi a primeira sede da Viação Piracicabana, começou a trabalhar com os carros Ford 1929. A corrida de um carro de praça, hoje chamado táxi, era coisa de 5 cruzeiros, dentro da cidade. Atílio Gianetti colocou o Ford 1929 cobrando 3 cruzeiros. Foi assim que apareceram o Fordinho número 1, depois o número 2, o número 3. Em seguida ele colocou um carro melhor para levar as noivas ao casamento.
Existia uma fábrica de bebidas chamada Andrade, você a conheceu?
Quanto tempo que eu perdia nessa fábrica! Eu ia entregar encomendas da livraria, quando passava pelo Andrade, situada em frente ao Grupo Moraes Barros, eu ficava contando ás garrafas que estouravam, o sistema de pressão era muito forte, ao ser enchidas muitas das garrafas não agüentavam. E assim eu permanecia pensando: “-Vou esperar estourar mais uma!”.
Quem eram os proprietários da Livraria Brasil?
Eram Francisco Brasil, Paulo Brasil e Ary Brasil. Devo muito a eles, me ensinaram o valor da honestidade. Sempre diziam para mim: “-Se você caminhar pelo caminho da honestidade, ele será longo, mas você nunca irá chegar cansado”. Conheci Thales Castanho de Andrade, era um senhor baixinho, gordinho, muito simpático. Algumas vezes cheguei a atendê-lo na livraria. Um dia eles me deram 5 cruzeiros para abrir uma caderneta na Caixa Econômica. Tive orgulho em ver o meu nome na caderneta! Passei a economizar, juntar papel que a livraria descartava, era na época da guerra, papel dava um bom dinheirinho. Eu morava pegado onde hoje existe a Padaria Assagio. Eu vendia balas no Cinema São José, as balas eram feitas pela Dona Rosa do Amaral. Vendia também amendoim. Isso tudo em um tabuleiro que era dependurado no pescoço por uma correia de couro.
Com isso você aproveitava para ver os filmes?
Eu assistia vinte e poucos filmes por semana! Com os outros baleiros, apostávamos quem lia de trás para frente á legenda, de tanta prática que adquirimos em ver as legendas. Éramos quatro baleiros: Geraldo Pinto Pereira, Antonio de Barros, eu e mais outro, que no momento não me lembro do seu nome. Nós tínhamos o Cine São José voltado ao público popular e o Broadway, que era o cinema dos “granfinos”. Foi no Broadway que alguns estudantes da agronomia soltaram um urubu em plena sessão de cinema, causando grande alvoroço.
Você conheceu uma ex-escrava?
Conheci, era a Nhá Izabé, ela morava bem na esquina das Ruas do Rosário com a Rua XV de Novembro, ao lado do Dispensário dos Pobres. Ela era uma figura muito popular, conhecida na cidade inteira, todos gostavam muito dela. Se não me engano ela ganhou aquela esquina do pai ou do próprio Luiz Dias Gonzaga. Uma das filhas dela, a Conceição, foi empregada do meu avô.
Das muitas lembranças do centro de Piracicaba, algumas são muito marcantes?
A Leiteria Brasileira ficava embaixo do Clube Coronel Barbosa, bem na esquina. Eu passava para ir ali para ir até o correio que ficava na Rua Alferes José Caetano, esquina com a Rua Treze de Maio, onde hoje está instalada a Pizza do Bira. Um dia entrei na Leiteria Brasileira e pedi um café, que custava trinta centavos. Um senhor deve ter achado inusitado para aquela época, um menino tomando café. Disse-me: “-Deixe que eu pago para você!”. Eu gostei da idéia. Quando via o homem lá eu entrava para tomar um café. Ele pagava. Um dia iam servir o meu café quando ele chegou. Perguntei-lhe: “-O senhor quer tomar um café comigo?”. Ao que ele respondeu: “-Hoje vou aceitar o cafézinho seu”. Passei-lhe os 30 centavos e disse-lhe: “-Então o senhor toma o meu porque eu só tenho 30 centavos!”. Aí ele pagou tudo. Do outro lado, onde foi o prédio Comurba, da Rua São José para a Rua Prudente de Moraes, na esquina da Rua São José havia a Garaparia Seleta, logo em seguida era o Chalé do Losso, mais á frente era o depósito Maluf, não sei para qual dos membros da família Maluf pertencia. Era depósito de açúcar preto, o açúcar mascavo, nós pegávamos aquele açúcar de sacos que ás vezes estava furado. O que comíamos de açúcar mascavo! Mais a frente, havia a farmácia que mais tarde passou a chamar-se Farmácia São Paulo. Na Rua Prudente de Moraes esquina coma a Rua Alferes José Caetano havia a Loja da Lua. Em frente á mesma, havia a Farmácia Popular. Eu passava lá, ele me dava uma caixa de Cafiaspirina, que passava a ser a minha bolsa, onde punha meus caderninhos. Quando estava muito velha a caixa, eu pegava outra nova.
Há uma passagem marcante de um natal em sua família?
Eu tinha nove anos de idade. Era véspera de natal. Dois dos meus irmãos, já um pouco maiores do que os demais, já tinham conhecimento da existência de Papai Noel. Fui com eles até uma loja, era um irmão e uma irmã. A minha missão era induzi-los a gostar e querer ganhar o presente mais barato que pudesse encontrar. A nossa situação financeira era muito difícil. Minha mãe havia me incumbido de levá-los até lá, consegui convencer a minha irmãzinha a ganhar uma boneca de pano e para meu irmão um carrinho de madeira. Á noite, umas nove horas, os dois irmãozinhos foram dormir contentes porque iriam ganhar o presente de Papai Noel. Meu pai naquela época tinha caminhão de transportes, ele não havia chegado ainda. Quando ele não conseguia serviço, voltava bravo e sem dinheiro. Aquela noite, com certeza ele deveria chegar bem tarde e as crianças não teriam o presente de Papai Noel. Minha mãe começou a chorar. Ao vê-la assim, sai, fui até a loja, a dona era brava, disse-lhe que a minha mãe estava doente, se ela não poderia dar aquela boneca de pano e o caminhãozinho, para a minha mãe ver, se ela gostasse lhe traria o dinheiro. A loja estava com muitos clientes, preocupada com as vendas a dona embrulhou os dois presentes. Eu cheguei com ele na nossa casa. Minha mãe ficou admirada, perguntou de onde era. Eu disse-lhe que era da francesa. Era a Loja do Francez, ficava quase na esquina da Rua Alferes José Caetano com a Rua Prudente de Moraes, onde mais tarde funcionou o Fórum. Nós morávamos na esquina da Rua São José com a Rua do Rosário, no dia seguinte meu irmãozinho queria brincar com o caminhãozinho, a um quarteirão da loja. Ele ia à direção á loja, eu ficava o dia inteiro tomando conta dele com medo que a dona confiscasse o seu caminhãozinho. Para ir estudar no Moraes Barros eu ia pela Rua Tiradentes, para não passar próximo da loja. Meus coleguinhas me perguntavam por que eu dava aquela volta. Respondia: “É porque eu gosto de andar!”. Sempre me lembrava dessa dívida para com a loja, quando eu tive condições de pagar a loja não existia mais.
Você conheceu a Relojoaria Muller?
Tinha as portas de madeira! O Muller gostava muito de ler, ao entrar na relojoaria, com todas aquelas jóias, relógios expostos, precisava bater palmas para que ele viesse atender. Eu ia entregar encomendas, tinha que bater palmas. Naquela época o ladrão que existia era conhecido de todos, roubava galinhas, ele era conhecido como Peru. Na Paulista eu me lembro quando a partir de onde hoje é a Avenida do Café era plantação de Algodão. Na época do carnaval não era permitida a venda de bebida alcoólica. Um soldado prendeu um homem do sítio, porque ele estava bêbado em cima do cavalo. Isso foi na Rua do Rosário. O soldado vinha puxando o cavalo, para conduzir á cadeia na Rua São José, e o homem em cima do cavalo. Quando chegou à esquina da minha casa o homem tirou o freio do cavalo, o soldado ficou só com a rédea na mão e ele subiu a Rua do Rosário levantando uma poeira só! E a criançada dando vaia no soldado.
O senhor conheceu o Comendador Mário Dedini?
Conheci. Era um homem de uma simpatia muito grande. Na época em que casou a filha dele Dona Anita Dedini com o Ricciardi, fui entregar os convites de casamento que tinham sido feitos em São Paulo. Na Livraria Brasil eu ganhava 60 cruzeiros por mês. Quando entreguei o pacote com os convites, na residência do Comendador Mário Dedini, na Rua Santo Antonio, recebi 60 cruzeiros de gorjeta, quase morri de susto.
Na Livraria Brasil o senhor trabalho por quanto tempo?
Trabalhei por seis anos. Aos dezessete anos de idade pedi a conta, o Brasil me deu mais 500 contos de presente, passei a trabalhar com o meu irmão que já tinha conhecimento na área após 10 anos de trabalho no ramo relojoeiro e de confecções de peças sob encomenda. O dinheiro que nós tínhamos disponíveis era suficiente para comprar as ferramentas essenciais, ou adquiria o laminador, onde é colocado o metal para ser laminado. Compramos na Casa Camargo, que ficava na Rua Governador com a Rua XV de Novembro, mais tarde foi a Casa Siqueira. As primeiras peças que nós fizemos nós conversamos com o motorneiro do bonde para que ele passasse bem devagar, o peso do bonde sobre o trilho laminava o ouro. Um dia 4 gramas de ouro baixo (ouro mais barato) ficaram grudadas na roda do bonde! Ficamos subindo descendo, ia até o Assunção lá em baixo, procurando, Tinha sumido. Quase quebrou a firma naquele dia. Meu tio Miguel Tedesco soube do caso e nos chamou. Disse que comprássemos o laminador, ele emprestaria o dinheiro para nós e devagar nós iríamos pagá-lo.
Na Rua do Rosário, na altura do número 2547 havia uma bomba de gasolina da bandeira Texaco, o senhor lembra-se dela?
Lembro-me sim. Ficava junto á calçada. Lembro-me até da cor, era vermelha. Ficava bem na esquina com a Rua Edgar Conceição. Era de propriedade de José Nassif.
O senhor conheceu Frei Paulo?
Eu tinha de 9 a 10 anos de idade, e os meus coleguinhas iam aprender desenho e pintura, com Frei Paulo de Sorocaba. Pedi que eles conversassem com o frei se eu poderia ir. No outro dia, eles disseram que Frei Paulo tinha dito que eu poderia ir. Fiquei todo feliz porque iria aprender. Quando eles passaram para me chamar, estavam todos de sapato. Eu não tinha sapato, fiquei com vergonha de ir, se eu tivesse ido acho que o Frei Paulo iria cuidar mais de mim do que dos outros.


domingo, agosto 16, 2009

RECORTES DE JORNAIS DE PIRACICABA- 1960/1970







MUSEU PRUDENTE DE MORAES - FACHADA












PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS

JOÃO UMBERTO NASSIF Jornalista e Radialista joaonassif@gmail.com
Sábado 15 de agosto de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADA: RENATA GAVA

Em 9 de novembro de 1.869, bem antes de tornar-se o primeiro presidente civil do Brasil, Prudente José de Moraes Barros, decidiu morar com a família na casa da rua Santo Antonio, esquina com a rua Treze de Maio. Durante 32 anos a casa pertenceu ao presidente, morto em 1902. Nesse endereço, o republicano promoveu inúmeras reuniões de onde saíram diretrizes políticas que fizeram à história do País. A planta original do prédio tombado é delineada em "L", contemplando duas casas em só corpo e um chalé que era utilizado por Prudente de Moraes como escritório de advocacia. A construção, em estilo colonial e imperial, é típica das residências urbanas da segunda metade do século 19. Antes de pertencer ao ilustre republicano, o imóvel pertenceu a José Lobo Albertini e foi adquirido por 10 mil réis. Dezessete anos após a morte do republicano, a casa tornou-se sede da antiga Faculdade de Odontologia "Washington Luiz", que teve seu nome mudado em 1932 para "Prudente de Moraes". Foi também escola de Farmácia. Em 1935, a faculdade encerrou suas atividades. Cedida pela família ao governo do Estado, o imóvel foi sede do Grupo Escolar Prudente de Moraes e da Delegacia de Ensino. Somente em 13 de agosto de 1956, seria fundado o Museu Histórico e Pedagógico, que, até 1968, ocupava somente uma sala do prédio. Em 35 anos de atuação, a Sampm (Sociedade Amigos do Museu Prudente de Moraes) empenhou-se pela restauração do prédio da Casa do Presidente e pela conservação do acervo, e para recuperar elementos originais da casa do primeiro presidente civil, tendo á frente a incansável Maria da Glória Silveira Mello, bisneta de Prudente de Moraes. A Secretaria Estadual de Cultura, o Prefeito Barjas Negri, a Secretária de Cultura Rosângela Camolesi além do restauro do prédio e acervo, trazem um conceito inovador para os mais diversos segmentos da população que devem visitar o Museu Prudente de Moraes.
Renata Gava é especialista em Patrimônio Histórico e atualmente Coordenadora Geral do Museu Prudente de Moraes. Renata nasceu em Piracicaba, em 29 de maio de 1978, realizou o curso de História na Unimep, trabalhou no acervo de João Chiarini, no acervo do Museu Profª. Jair Araújo. O Museu Prudente de Moraes é administrado por uma OS (Organização Social), a Candido Portinari, que é um novo sistema do governo estadual na abordagem da cultura. Estruturado em duas áreas distintas e complementares: a administrativa e financeira e a área técnica. Estabelece uma visão atualizada e dinâmica para tratar a cultura, com a participação efetiva dos mais diversos setores da sociedade.
Renata, o acervo do Museu Prudente de Moraes estará á disposição para consultas?
Vamos disponibilizar o nosso acervo para consultas, sob um controle efetivo, que será mais rigoroso se assim for necessário, visando a preservação do mesmo. O acesso é voltado para áreas afins. Através do nosso banco de dados, o interessado a irá escolher o objeto da consulta, realizará a sua pesquisa da maneira adequada, tratando a obra com os cuidados técnicos necessários (uso de luvas, máscaras), haverá uma supervisão técnica presente para ajudá-lo. É interessante observar que os procedimentos para essas consultas são diferentes daqueles adotados em uma biblioteca comum.
Alguns livros do acervo pertenceram a pessoas ilustres?
Alguns livros da área de direito pertenceram ao Dr. João Sampaio, genro de Prudente de Moraes. O Dr. João Sampaio iniciou sua atuação, como advogado, por intermédio de Prudente de Moraes, trabalharam juntos.
Durante o período da reforma do prédio o acervo permaneceu no prédio?
O acervo foi levado para um local permanentemente monitorado e que oferecia segurança para preservar a integridade do mesmo. Houve um grande trabalho de catalogação, organizado por tipologia, envolvendo uma equipe especializada de restauradores, museólogos, fizemos o arvoramento do nosso acervo, a higienização e a pesquisa histórica. Foram cinco frentes de trabalho que estavam coordenando, com grandes profissionais da área. A Organização e Higienização dirigida pela restauradora e conservadora Daisy Stra, na equipe de Catalogação e Arrolamento, tivemos grandes museólogos na supervisão. A Museografia, que implica no espaço expositivo, na cenografia, iluminação, como o acervo será tratado, como será exposto, na contextualização do objeto junto com o texto, nas ilustrações, tudo é feito para pensar no conjunto. Ambiente por ambiente é projetado. A forma de exposição, iluminação, qual o propósito. Foi feito o aforamento, conferida peça por peça, o Estado tem a listagem. Essa relação está em um banco de dados. Sou a coordenadora do Museu Prudente de Moraes, mas é importante destacar que a museóloga Angélica Fabri é a responsável pela direção de todo esse trabalho.
Atualmente qual é o horário de funcionamento do Museu Prudente de Moraes?
Funciona de terça-feira a domingo, no horário das 9:00 ás 17:00 horas, seguindo padrão internacional. A visitação é fechada ao público ás segundas feiras. É quando nós realizamos os trabalhos necessários para a reabertura na terça-feira.
Quanto custa o ingresso para visitar o Museu?
Nada! É curioso, mas algumas pessoas fazem essa mesma pergunta.
O Museu Prudente de Moraes tem projetos voltados á comunidade?
São projetos que vamos desenvolver com a sociedade. São vários níveis de atuação, abrangendo diversas faixas etárias.
Renata, como é “morar” durante o seu período de trabalho na casa em que Prudente de Moraes morou?
Fiz parte da equipe de elaboração do projeto museográfico, coordenado pela Cecília Machado, o Moacir Corsi que tratou a museografia (cenografia, iluminação), e três pesquisadores: Marcelo Cachioni, que tratou a evolução urbana de Piracicaba, a Maira Grigoleto cuidou do lado político de Prudente, e eu cuidei do aspecto político e privado de Prudente. Sou defensora nata de Prudente, a gente sente a energia, há um envolvimento pessoal. Aqui trabalho como coordenadora, participando de tudo, mas na minha casa, no meu final de semana, é estritamente direcionado á pesquisa. Você se envolve, vive ás 24 horas do dia isso tudo.
O que a impressionou em Prudente de Moraes?
O que direcionou o meu foco de pesquisa foi a sua fala dita ao ser eleito presidente da república: “Sou Prudente no nome, Prudente por princípios e Prudente por hábito, sou também Prudente procurando evitar questões pessoais odiosas.” Isso me chamou bastante a atenção, ele mesmo se auto-definia. O seu perfil como pessoa, pai de família e como político. Ele foi sempre muito meticuloso e articulado. Foi um grande propagandista. Sair de um sistema monárquico e passar para um sistema republicano, pode-se imaginar o que isso significou e como foi trabalhar toda uma nação. Teve que ser construída uma imagem, uma identidade. O sentimento de nação teve que ser construído. Essa gigantesca obra não foi só de Prudente, mas ele foi um dos principais articuladores dessa construção, da propaganda do ideal republicano.
A pesquisa sobre Prudente de Moraes foi realizada em que locais?
Ela foi realizada em nível nacional, foi feito um levantamento histórico! Encontramos no Rio de Janeiro muitas informações, em São Paulo, Itu, Presidente Prudente.
Quais são as diferenças de atuação do museu antes e depois da reforma e reestruturação?
Hoje é mais interativo. Ao mesmo tempo em que a pessoa está lendo um texto ela está vendo o objeto exposto, e a tecnologia (vídeo) interage. São informações oferecidas por várias maneiras. Era esse o nosso propósito. Hoje os museus trabalham com essa metodologia.
Qual foi a reação dos visitantes ao encontrarem o museu em sua nova fase?
As pessoas nos procuram para fazer elogios. Procuramos trabalhar com várias frentes de informações, isso não está explicito. Só que as pessoas percebem, elas não fazem uma análise técnica como nós, mas elogiaram muito o trabalho em si. Isso é muito gratificante.
Qual é a importância do Museu Prudente de Moraes para Piracicaba e para o Brasil?
Prudente de Moraes foi o primeiro presidente civil eleito pelo povo. Essa é uma grande importância. No contexto em que vivemos hoje, a República, existe graças também a ele. Temos que passar essa conscientização para a população. Se hoje somos cidadãos com direitos é uma conseqüência da própria República.
Como era Prudente de Moraes como pessoa?
Em relatos, cartas pessoais o que se nota é que era muito amável com os seus filhos. A sua preocupação era de ser uma pessoa correta, uma pessoa exemplar para seus filhos. Isso eu pude perceber nas suas cartas. Sem contestação, era uma pessoa regrada. Temos expostos cadernos de anotações dele. Ele era muito sistemático. Ao mesmo tempo era amável, procurava ajudar as pessoas, ele era uma pessoa justa. Honestíssimo, e não era rico. Eu o considero um grande propagandista da República. Ele acreditou, sonhou e lutou por isso.
Prudente de Moraes faleceu acometido por qual doença?
Pela tuberculose. Ele era uma pessoa sistemática, tinha um autocontrole de saúde imenso. No seu caderno de anotações marcava o seu peso, o peso da sua esposa. Era um homem alto e magro. Afastou-se por um período da vida publica para fazer uma cirurgia de extração de calculo renal. Isso em uma época em que o risco de morrer em uma operação dessa natureza era bastante alto.
Ele tinha alguma fruta preferida?
A jabuticaba! Ele tinha verdadeira paixão por jabuticaba. Nós plantamos simbolicamente, aqui no museu dois pés de jabuticaba, nossa idéia é usá-los para trabalharmos nas ações educativas a serem realizadas pelo museu.
O foco de trabalho do Museu é voltado para quais faixas etárias?
Vamos trabalhar com alunos do curso primário, do ensino médio, pessoas da terceira idade. Dentro de cada projeto iremos desenvolver as atividades pertinentes.
Qual são as reações das diversas faixas etárias em visita ao museu?
As reações mais engraçadas sempre são das crianças. Quando entram no museu elas vêm tudo diferente, observam de forma diferente, tanto os objetos, os textos como as imagens. Ao mesmo tempo em que falam da barba usada por Prudente de Moraes, hoje não é habito o uso de barba. Para uma pessoa de meia idade era usual!
Prudente de Moraes era uma pessoa reservada?
Era bem reservado. Mesmo sendo um homem que foi vereador, deputado provincial, deputado geral, governador, senador e presidente da república. Um dos seus apelidos era “Caipira de Piracicaba”, e isso é que traz admiração, como ele conseguiu chegar a tão grande nível. Deve se considerar que na época Piracicaba era uma cidade com bastante expressão no cenário nacional. Havia um grande número de escravos, isso significava que também havia um grupo maior de pessoas de elite, e a elite era política.
A reestruturação e reforma física do Museu Prudente de Moraes deve despertar maior interesse do público com relação à importância histórica de Prudente de Moraes?
O museu foi feito para a sociedade. Queremos trazê-la para dentro do museu. Estaremos desenvolvendo projetos e programas para que isso ocorra.
Como historiadora, para você, qual é a importância dessa nova fase do Museu Prudente de Moraes?
Eu cursei história focando a minha profissionalização na área da preservação, a minha especialização é em patrimônio histórico. Isso me faz muito feliz em poder estar trabalhando no Museu Prudente de Moraes. E acreditar nessas frentes de trabalho que serão desenvolvidas. Como coordenadora não fico restrita a cuidar apenas do museu, o museu é uma interação, não é apenas uma informação. Ao mesmo tempo em que há uma exposição, existe uma equipe cuidando da preservação. Isso é também uma frente de trabalho. Quando trazemos as crianças ao museu, é outra frente de trabalho, são ações educativas. A criança tem uma visão diferente do adulto. A pessoa de mais idade está focada no objeto, algo que a remete a um tempo que ela viveu. Ela não se atenta á informação. A criança tem o objeto, as ilustrações e faz a ligação desse todo com o texto.
A reserva técnica do museu já está organizada?
Quando falo em reserva técnica, me refiro a guarda de objetos. Ela já está montada, seguindo padrões internacionais.

Museu Prudente de Moraes. Entrada gratuita ao público. Rua Santo Antônio, 641. Informações: 3422-3069.

terça-feira, agosto 11, 2009

MARIA JOSETE LATORRE BRAGION



PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS

JOÃO UMBERTO NASSIF

Jornalista e Radialista joaonassif@gmail.com
Sábado 08 de agosto de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADA : MARIA JOSETE LATORRE BRAGION

O Lar dos Velhinhos de Piracicaba foi fundado em 26 de agosto de 1906 por Pedro Alexandrino dos Santos. A princípio denominado como Asylo de Velhice e Mendicidade de Piracicaba, sempre contando com inúmeros colaboradores e beneméritos, muitos dos quais, anônimos. Sob a direção de Jairo Ribeiro de Mattos, transformou-se na Primeira Cidade Geriátrica do Brasil. O Lar não é um lugar de abrigo e esquecimento, um depósito, é uma cidade com habitantes que tem cada um sua moradia, entram e saem conforme a vontade e disposição de cada um. A beleza do lugar aquece os corações dos seus moradores e dos que ali passam. O desafio é diário para a existência desse complexo, que abriga também bom número de idosos quase sem recursos. Hoje é de fato uma cidade dentro da cidade de Piracicaba. Jairo Ribeiro de Mattos é o símbolo vivo do Lar dos Velhinhos. Aqueles que o acompanham de forma mais próxima sabem da sua luta, sua obstinação. Dr. Jairo fez do Lar a sua causa, e como é de seu caráter, resoluto, deixou muitas pessoas, inclusive autoridades de respeito em nosso país, simplesmente de boca aberta ao verem suas realizações. Com longo histórico de falta de recursos, graças á fé inabalável de Jairo, que transmite para todos que o rodeiam, Deus tem provido os mesmos. A Primeira Cidade Geriátrica de Piracicaba é uma das maravilhas da Noiva da Colina.
Professora Josete, como foi que a senhora escolheu o Lar para residir?
Pertenço a Instituição Vicentina, e nessa condição por muitas vezes vim procurar abrigo para as pessoas que atendemos. Vinha muito também para passear, olhar, ver as pessoas residentes aqui. Comecei a perceber que é um lugar muito bom. Em 2006 conversei com Dr. Jairo Ribeiro de Mattos e adquiri a casa onde hoje moro. Fiz uma reforma, adaptando-a conforme desejava. Passei a morar aqui em 2008.
Quando a senhora anunciou que mudaria para o Lar houve alguma reação por parte de alguns de seus amigos?
Alguns acharam que eu era demente! Não conseguiam entender o porquê da minha decisão de vir morar aqui. Chegaram a passar e-mails.
A senhora gosta de viajar?
Gosto! Acho que temos que viver. Não adianta se enclausurar. Faço parte do Friendship, já estive nos Estados Unidos, México, Alemanha, França, Holanda, Colômbia. Também já viajei pelo Brasil. Estou planejando uma vigem para a Rússia. Recebo regularmente correspondência dos amigos que fiz nesses países.
Em qual língua a senhora comunica-se?
Mímica! É divertido.
A senhora faz ginástica?
Faço hidroterapia na piscina térmica, aqui no Lar, quase no quintal da minha casa. Realizamos atividades de acordo com a idade da gente, sob a orientação de uma professora.
Qual foi a sua sensação no primeiro dia em passou a morar aqui?
Foi ótima, maravilhosa. Eu chamo o Lar de “Porta do Céu”! É tanta paz! Quando passamos pelo portão de entrada sentimos uma tranqüilidade, uma paz que é difícil explicar o porquê sentimos isso. Todas as pessoas que passam pela portaria falam a mesma coisa. Aqui temos os recursos que são necessários, além de convivermos com pessoas da mesma faixa etária. Nos dias atuais, temos que ter a consciência de que uma família tem suas obrigações diárias, filhos, faculdade. Uma pessoa com mais idade, exige cuidados especiais. Aqui temos as irmãs, as enfermeiras, médicos, ambulância, ônibus, perua, motorista. É um paraíso!
A convivência com pessoas de faixa etária semelhante é importante?
Eu acho! Todo mundo é alegre, todo mundo é feliz, um ajuda ao outro. É uma família. Existe muita amizade, muito respeito. Existe uma privacidade, mas também uma grande amizade, sem a intromissão. Minhas vizinhas vêm até a minha casa, jogamos cartas, damos risada, fazemos uma comidinha, uma sopa.
Quando a senhora entrou para a instituição dos Vicentinos?
Quando Geraldo faleceu, (o advogado Dr. Geraldo Bragion) fiquei por cerca de dois anos deprimida. Decidi que deveria voltar a fazer algo, sempre eu trabalhei bastante. Fui até a Igreja do Bom Jesus, conheci o grupo e entrei.
A senhora nasceu em Piracicaba?
Nasci em Itatiba, em 8 de janeiro de 1938, sou filha de Mariano Latorre e Noemia Pupo Latorre. Meu pai veio da Itália, de Tito, próxima a Nápoles. Minha mãe era itatibense. Meu pai veio como imigrante, os navios vinham para o Brasil ou para a Argentina, ás vezes fechava a imigração no Brasil eles iam para a Argentina. Existem irmãos do meu pai que moram na Argentina. Fui para a Itália, conheci a casa onde meu pai morou aonde ele dormia, a carreta em que o meu avô transportava as coisas com o boi.
Quando a senhora conheceu o seu marido Dr. Geraldo Bragion?
Conheci meu marido Geraldo Bragion, filho de Pedro Silvestre Bragion e Amália Túlio Bragion em Campinas. Fazíamos a Faculdade de Canto Orfeônico juntos. Ele estudava Direito de manhã e Canto Orfeônico á noite. Eu estudava como interna no Colégio Coração de Jesus. Eu tinha feito o curso de piano, o meu curso era dentro do colégio mais era o Conservatório de Campinas que vinha realizar os exames das alunas. O diploma tinha validade.
O primário a senhora estudou em qual cidade?
O primário eu estudei no Grupo Conde Parnaíba em Jundiaí. O ginásio eu fiz no colégio interno Coração de Jesus das freiras da ordem Nossa Senhora do Calvário. Permaneci interna por oito anos. Na minha família, quando nascia mulher ia para o Colégio Coração de Jesus. Meus pais tiveram quatro filhas.
Foi lá que a senhora aprendeu a pintar?
Fazíamos pinturas em quadros, bordados, crochet, tricot.
A que horas as alunas levantavam-se?
Ás cinco horas da manhã, todos os dias. Ás seis e meia ia para a missa na capela, o café era ás sete e meia, as aulas ás oito horas. Ao meio dia almoçava, tinha o recreio. Cada um tinha a sua carteira, aquelas de levantar a tampa. Levávamos o tinteiro em uma caixinha de pó de arroz, tínhamos as penas, mata-borrão. A caneta era composta por um cabinho de madeira e a pena na ponta. Trocávamos as penas.
Quais idiomas eram ensinados no colégio?
Latin, francês e inglês. A missa era celebrada em latin.
Como era o uniforme?
Era um vexame! Tínhamos vários uniformes. Para o dia-a-dia era uma saia azul marinho, uma blusa branca, de manga comprida. Por cima um avental xadrez quadriculado, quatro dedos acima da saia. O comprimento da saia ia quase até a canela, com as meias grossas e um sapato fechado. O uniforme para sair consistia em tirar o avental, trocar a blusa, que era de algodão e púnhamos uma blusa de seda. A saia era a mesma. O uniforme de gala consistia no uso de boina, havia um emblema na boina, usávamos luvas azul-marinho combinando com a saia. Sapato de verniz preto, meia de nylon. Nesse caso a saia era trocada por uma saia pregueada.
Havia algum dia de folga do colégio?
Se tivesse boa nota e disciplina, uma vez por vez saíamos para irmos até a casa dos pais. Usávamos o trem da Companhia Paulista. Nessa época o colégio tinha comprado uma chácara, onde hoje é o Colégio Coração de Jesus. Íamos a pé do colégio até essa chácara, atravessávamos pelo centro. Todas andando em fila! Passávamos o dia na chácara.
Vocês eram jovens, quais eram as peraltices que vocês faziam?
A parte mais difícil para nós era a hora do banho. Era tudo na base do sino. Sino para tirar roupa. Sino para abrir a água. Sino para se ensaboar. Ainda tinha que tomar banho com camisolão! Cada moça tinha um box individual, fechado, com porta.
Tomar banho com camisola não é anti-higiênico?
É! Havia um estrado de madeira, colocávamos a camisola sobre esse estrado e pisávamos em cima. Com isso podíamos tomar um banho de verdade. A freira responsável mandou cortar um palmo da porta na parte inferior da mesma. Eu achava um abuso. Isso fazia com que aprontássemos algumas artes para com as freiras. Trocávamos as roupas delas de lugar.
Quantas alunas havia no total?
Eram 120. Os ambientes eram separados por faixa etária. As pequenas era da ala “Anjo da Guarda”, a turma do ginásio era a “Nossa Senhora do Carmo”, a das mais velhas era a “Nossa Senhora Auxiliadora”. Em cada dormitório dormiam duas freiras, elas ficavam no que era chamado de “cela” eram fechadas por cortinas. Deitavam depois que nós dormíamos e levantavam antes.
Ao concluir o período do internato qual foi o passo seguinte?
Sai como professora e fui trabalhar no Sesi em Jundiaí. Isso foi em 1958. Em 22 de janeiro de 1959 eu casei-me e vim morar em Piracicaba. Meu sogro reformou uma casa para nós na Rua Boa Morte, ficava bem em frente ao Colégio Assunção, ao lado do Tola. Depois me mudei na casa vizinha a Padaria Jacareí, do Sartini, ainda na Rua Boa Morte. Nosso vizinho era o Julio Dihel. Eu gostava muito da grande amizade que existia entre os vinhos, o pessoal colocava as cadeiras nas frentes das casas ficávamos vendo o bonde passar. Lá pelas nove, nove e meia da noite entravamos em casa. Era muito bom.
Um familiar da senhora foi frade capuchinho?
Frei Estevão Maria de Piracicaba, irmão do meu sogro, o nome civil dele era Miguel Bragion, foi guardião da Igreja dos Frades, foi ele quem celebrou o meu casamento.
A senhora morou uma época na Rua do Rosário?
Morei 28 anos ali, em frente a atual biblioteca.
O tilintar do bonde permanece ainda em seu ouvido?
Está. Quando morei ao lado da Padaria Jacareí a nossa empregada levava os três meninos para passear de bonde. O motorneiro para fazer folia com as crianças ao passar em frente de casa, fazia barulho com a sineta do bonde. As crianças davam várias voltas de bonde, iam e voltavam por diversas vezes.
As primeiras aulas do Sesi em Piracicaba foram ministradas onde?
Comecei na Escola Assunção, as salas eram alugadas para o Sesi. Isso foi em 1962. Em 1964 fomos ocupar o prédio vazio que o Grupo Escolar Dr. João Conceição havia desocupado, ele havia mudado para o prédio novo. Veio então o Ginásio Estadual Dr. Jorge Coury, com aulas no período da tarde e período da noite. Depois o Colégio Jorge Coury quis o período da manhã. O Sesi foi então para á Rua Antonio Bacchi, 1030, onde funciona até hoje. A primeira coordenadora do Sesi 164, que é o número da escola, foi a Leonora Januzzi, depois foi Maria do Carmo Dias de Souza. Nós mudamos de prédio em 1965, a Avenida São Paulo ainda não era asfaltada, a torre da Igreja da Paulicéia ainda estava em construção.
Qual era o meio de transporte que a senhora usava para ir até a escola?
Era o “Fusca”, ás vezes nós revezamos de carro, outras subíamos de ônibus.
Quantos alunos existiam na época?
Mais ou menos 300 alunos. Naquele tempo não havia pré-escolar, a criança vinha “nua e crua”. Começávamos com treino ortográfico. Em agosto, setembro nós estávamos dando o primeiro livro.
Eram mais disciplinados?
Criança é criança. O método de ensino era muito eficiente. Quem sabe a tabuada faz qualquer conta. Hoje se você tirar a pilha da máquina de somar acabou o aluno.
Havia merenda na época?
O prefeito era Luciano Guidotti, foi quando começou a ter merenda na escola.
Havia um trabalho com os alunos no sentido de desenvolver o amor a Pátria?
Recebi ontem a visita de um ex-aluno que frisou bem essa parte. Eram incentivados a amar o Estado, a Família, tinha uma fanfarra, toda semana havia apresentação de teatro, hasteávamos a bandeira, cantava-se o hino nacional.

A senhora gosta de pescar?
Gosto muito. Acho que pesco desde quando nasci! O Geraldo, meu marido tinha uma tendência maior para a leitura, adorava literatura. Quando me aposentei, com o fundo de garantia adquiri um rancho, tenho que fazer uma reforma completa, está bem acabado.
Todo pescador um dia pegou um grande peixe, qual foi o maior peixe que a senhora já pescou?
Eu não pego peixe muito grande não! Meu filho Pedro está fazendo uma ceva, disse que um amigo dele foi pescar naquele local e pegou um peixe de 10 quilos. Eu tenho as minhas dúvidas, porque os peixes que eu pego não chegam a nem a 1 quilo. A graça da pescaria está em ficar na barranca, sentada, vendo o rio correr. É a paz!




terça-feira, agosto 04, 2009

MARIO ANTONIO CAVICCHIOLI (MARITO)





PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com

Sábado 01 de agosto de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADO: MARIO ANTONIO CAVICCHIOLI (MARITO)

As obras do artista plástico Mario Antonio Cavicchioli surpreendem pelo seu caráter inovador. Com sua habilidade de transformar materiais e criar ambientes, Mario revela um potencial já observado e reverenciado por um nome emblemático: Tarsila do Amaral. Entre suas inúmera intervenções e criações, Mario projetou a Praça Plínio Salgado, que fica no final da Rua Torta em Rio das Pedras. Uma praça que foge do lugar comum, onde o artista usou os desníveis do terreno criando um efeito visual lúdico. Executou a primeira escultura em cimento e argila, em tamanho natural, de São Francisco de Assis, exposto no jardim do Hospital São Vicente de Paulo (N.J. Alguns autores denominam São Vicente de Paula). Pintura e afresco do Altar Mor da Igreja Matriz de Rio das Pedras. Estabeleceu fortes laços de amizade com Noemia Mourão, viúva de Di Cavalcanti, onde aprendeu técnicas de pinturas e desenho. De 1996 a 2002 no espaço Agro-Castanheiras, Avenida Cidade Jardim, São Paulo, foi muito requisitado para decorações natalinas de empresas como Hoechst do Brasil Química Farmacêutica S/A, Rede Vida de Televisão, Silvio Brito, Ana Maria Braga, American Airlines, Parmalat, Bradesco, Igreja Cruz Torta (N.J. Uma das igrejas mais disputadas para casamentos em São Paulo), Igreja Nossa Senhora de Fátima, no Sumaré, Hotel Renaissance, Terraço Itália, Biblioteca Alceu Moroso Lima. Aluno do lendário professor Kislansky em São Paulo,conheceu Willian Hering bisneto do Barão de Serra Negra. É autor da escultura em tamanho natural de São Francisco de Assis instalada no Instituto Filosófico Provida em Piracicaba. Um dos seus trabalhos mais recentes é simplesmente impressionante. Mario realizou obras de grande porte, na escola Centro Educacional Natureza e Cultura, fez em argamassa esculturas de troncos com até cinco metros de altura, com perfeição absoluta a ponto de alguns vizinhos receitarem venenos para cupim próprios da madeira....Em tamanho natural moldou girafas, tucano, macaca, pombas, coruja. Construiu fontes realizou as pinturas com motivos infantis, jardinagem, tudo com o objetivo de encantar o público infantil. Com o apoio dos proprietários da escola Marito ousou, inovou, criou, deu asas a sua imaginação, utilizando material de baixo custo e colocando Rio das Pedras em destaque mundial na concepção de estabelecimentos de ensino voltados á criança. Além de dedicar-se a arte Mario Antonio Cavicchioli trabalhou em cinco empresas aéreas: Varig, Royal Air Maroc, Ladeco, Canadian Airlines, Air Canadá.
Marito, ou Marito Cavicchioli nasceu no município de Mombuca no dia 18 de agosto de 1949. Mora em Rio das Pedras, onde realizou o sonho de grande parte da humanidade, criou seu Jardim do Édem. O grande patrimônio de Marito é a sua criatividade. Funcionário de companhias aéreas percorreu inúmeros países, conheceu as mais diversas culturas. Hoje Marito em seu quintal, com pouco mais de duzentos metros quadrados traduz em cada detalhe, sutilmente, a experiência adquirida em suas incontáveis viagens, ele é uma própria usina de criatividade artística. A arte sempre esteve presente na vida de Marito. Seu pai foi músico e também maestro. Seu tio Antonio Otávio Cavicchiolo, o Néca, foi escultor em argila, madeira, além de ter sido também músico. Aos sete anos de idade Mario começou a realizar pinturas em aquarela, guache, lápis e presépio modulado em argila. Aos oito anos de idade teve vários contatos com Tarsila do Amaral, que freqüentava o atelier de costura da Tia Olga, isso em 1957 em Mombuca. A obra de Tarsila do Amaral denominada “As Costureiras” hoje no Palácio do Governo em Campos de Jordão nada mais é do que o atelier da Tia Olga.
Mario qual é o nome dos seus pais?
Mario Maria Cavicchioli e Isabel (Dona Belita) Gomes de Andrade Cavicchioli. Nós tínhamos uma olaria em Mombuca, denominada Irmãos Cavicchioli. Faziamos tijolos, telhas, que têm o nome Cavicchioli E Filhos impresso nas telhas e tijolos, eu ainda conservo algumas unidades. Meu tio fazia potes, esculturas em argila, estatuetas. Ele chegou a fazer um presépio para Tarsila do Amaral. A minha tinha Olga morava em Mombuca e era costureira da família da Tarsila do Amaral.
Como era a Tarsila do Amaral com relação a confecção das suas roupas?
Ela trazia os modelos de São Paulo, Paris e determinava o modelo que desejava A minha tia confeccionava.
Qual era a sua atividade na olaria?
Eu era um freqüentador da olaria. Quem trabalhava eram os meus pais, meus tios, meu avô Aristides Isaias Cavicchioli e sua esposa Maria Brandeileiro Cavicchioli, eram italianos, vieram de Veneto em 1892, desceram no porto de Santos, foram transportados pelo navio Arno. Essas informações eu obtive na Casa do Imigrante situada no Brás, em São Paulo. Quando meu avô veio da Itália dirigiu-se para a fazenda Cabras, próxima a Campinas, era de propriedade da família Mesquita de São Paulo. Meu avô tinha estudado no Liceu ainda na Itália, isso permitiu que ele não trabalhasse em serviço braçal. A família Mesquita colocou-o para trabalhar junto a parte administrativa da fazenda. O meu nono (N.J. avô em italiano), falava francês, lia muito, inclusive ele foi Juiz de Paz em Mombuca por muito tempo. Ele tinha um nível cultural e de educação muito elevado para a época. Quando montou a olaria, ele praticamente cuidava da parte administrativa enquanto os filhos trabalhavam na linha de produção. Essa olaria existia até pouco tempo, ficava bem no centro de Mombuca, após o falecimento do meu nono ela foi decaindo até desaparecer. A minha noção de arte iniciou-se pela influência do meu tio Néca.
Você lembra-se do seu primeiro trabalho artístico?
O poder aquisitivo naquela época era muito baixo, além da dificuldade em encontrar produtos para compra. No período de Natal eu queria comprar um presépio, meu tio Néca disse: “-Por que você não faz de barro?”. Fiz as pecinhas do presépio em barro, meu tio cozinhou no forno (N.J. Neste momento a emoção toma conta de Mário). E assim fiz o presépio de barro. Devo ter ainda algumas pecinhas que sobraram do presépio.
Você colocou esse presépio na sala da sua casa?
Coloquei na sala de casa, isso foi quando eu tinha sete anos de idade. A família achou aquilo fantástico, uma criança realizar um trabalho daqueles.
A partir daquele momento você achou que o seu rumo era o mundo da arte?
Eu sempre gostei de arte, tanto que quando conheci Tarsila do Amaral no ateliê da minha tia eu estava desenhando. Eu passava o tempo inteiro desenhando. Em uma dessas oportunidades, Tarsila me pegou desenhando em um papel. Ela me perguntou se eu gostava de arte, de desenhar. Disse-me então que ela era uma pintora, e que iria pintar um quadrinho para mim. Ela pediu que eu arrumasse um azulejo branco. Uma senhora que era a cozinheira da nossa fazenda levou o azulejo, e Tarsila pintou esse azulejo para mim. É a única obra de Tarsila do Amaral, pintada em azulejo, e que permanece ainda como minha propriedade. É um anjo da guarda. Com isso estabeleceu-se uma relação muito agradável entre ela e eu. Em todas vezes em que ela vinha até o atelier da minha tia Olga ela conversava comigo, era uma pessoa muito calma, ponderada. Como criança eu não tinha noção da grandeza daqueles momentos, só mais tarde, recordando aquelas passagens é que fui compondo uma visão mais ampla de tudo que ela tinha feito por mim. Sempre que ela ia á fazenda, gostava de levar argila, ela pedia para que meu tio separasse uma porção de argila para ela levar. Ela também gostava de modelar.
Seus pais tiveram quantos filhos?
Dois filhos: minha irmã Ana Maria e eu.
Você começou a estudar em Mombuca?
Estudei no Grupo Escolar Bispo Dom Mateus. Essa escola foi derrubada, não existe mais. Papai veio para Rio das Pedras como maestro da banda, e assim mudamos para Rio das Pedras.
O seu pai além de trabalhar na olaria era músico?
Eles trabalhavam na olaria, só que a família toda era composta por músicos. Tios, sobrinhos. Os sobrinhos tiveram a “Jazz Band Mombuca”. Era o costume da época, animavam os bailes, as festas. O meu pai veio para Rio das Pedras para ser maestro da banda em Rio das Pedras, contratado pelo prefeito da época. Além de ser maestro da banda ele trabalhava na prefeitura. O meu nono Aristides era agrimensor, meu pai adquiriu conhecimento de agrimensura com ele. A maior parte da rede de esgoto de Rio das Pedras foi traçada pelo meu pai. Mesmo depois de aposentado, o pessoal da prefeitura o procurava em sua casa para obter informações relativas á rede de esgoto. Isso foi em 1960. Meu pai permaneceu por 26 anos como maestro da banda de Rio das Pedras, a Corporação Musical Santa Cecília.
Você toca algum instrumento?
Sempre gostei de música mais nunca aprendi a tocar nenhum instrumento. A minha arte foi na pintura e na escultura. Em Rio das Pedras estudei no Grupo Escolar Barão de Serra Negra e depois no Manoel da Costa Neves. Em Piracicaba estudei no Sud Mennucci, no Colégio Piracicabano, entrei na Unimep fazendo parte da primeira turma de formandos em Letras. Literatura Portuguesa e Inglesa. Isso foi ainda no prédio situado á Rua Boa Morte, o reitor era o Dr. Senn.
Você estudava e trabalhava?
Estudava em Piracicaba e era contínuo no Banco Moreira Salles em Rio das Pedras. Entrei com 18 anos no banco, aos 21 anos de idade me formei em letras. Decidi ir para a Inglaterra fazer aperfeiçoamento em inglês. Viajei pela companhia aérea Britsh Caledonian, fui morar em um bairro de Londres chamado Woak Wood, morava em uma casa de família.
Você foi sozinho de Rio das Pedras á Londres?
Era para viajar com um amigo também de Rio das Pedras. Por motivos profissionais ele acabou retardando a sua ida, com isso fui sozinho, falando o inglês aprendido em faculdade. Foi uma experiência inédita. Sempre fui muito comunicativo. Ainda aqui no aeroporto conheci uma pessoa que ia fazer o mesmo curso. Isso foi em 31 de dezembro de 1970.
Teve festa a bordo do avião?
Teve, com champanhe, aeronave enfeitada internamente. Foi um reveillon no ar.
Hábitos tidos por nós como corriqueiros como eram lá?
Estávamos em plena crise do petróleo. A casa em que morávamos tinha um regime muito rigoroso, só podíamos tomar banho duas vezes por semana. A proprietária da casa onde ficamos era muito severa. Como jovem, sempre havia uma forma de contornar essa situação. Tomávamos banho por partes, na própria pia do banheiro, de tal forma que passassem despercebidos “os banhos extras”. Quando comentei que gostávamos de comer feijão, ela foi muito gentil, serviu feijão ás sete horas da manhã, juntamente com o café da manhã!
Você visitou todos os pontos turísticos de Londres. Por acaso chegou a realizar a famosa arte característica dos brasileiros, de fazer o sisudo guarda real sorrir?
Éramos moleques! Coloquei a mão na frente dele, fiz o possível para tirá-lo de sua concentração. Ele permaneceu extremamente sério. É muito interessante a disciplina e o controle desses soldados ingleses. Em Londres tivemos a oportunidade de freqüentar teatros com peças famosas, cinemas, pubs.
Quantos idiomas você fala?
Inglês, francês, espanhol, italiano, alemão e um pouco de árabe.
Você conheceu na Alemanha um padre muito famoso?
Conheci em Münster, o Padre Antonio Maria, ele era ainda postulante, é um artista plástico com obras maravilhosas.
O que você achou da obra Mona Lisa?
A principio achei uma obra maravilhosa. Também é decepcionante, principalmente porque fomos orientados a imaginar um quadro de grandes proporções, quando na verdade é um quadro de proporções pequenas (N.J. mede apenas 77 por 53 centímetros).
Como artista qual é a sua analise pessoal sobre o quadro Mona Lisa?
Eu pesquisei bastante. Além de ver o quadro, há a curiosidade em saber o que existe sob o aspecto histórico da obra. Ela passa mistério. Existem teorias de que a Mona Lisa não era uma mulher e sim um homem. A explicação é de que o pintor tinha um caso com um pastor de ovelhas, e que ele retratou esse pastor no quadro Mona Lisa. É interessante observar que ela não tem traços femininos. Ela tem linhas mais masculinas do que femininas. Visitei a Mona Lisa do Louvre e a Mona Lisa que existe no Museu do Prado em Madrid, existe uma disputa entre as duas Monas Lisas. Cada museu acha que a sua é a original. O que diferencia uma da outra é o fundo do quadro. Uma tem o fundo com ciprestes, outra tem um fundo escuro, próprio de estúdio.
Você é o responsável pelas palmeiras existentes na entrada da cidade de Rio das Pedras?
Na época eu ocupava uma função pública, Rio das Pedras fez oitenta anos, eu plantei oitenta palmeiras imperiais na entrada da cidade. Fui até Limeira buscar as mudas. Nem todas sobreviveram, algumas foram derrubadas por acidentes de veículos.

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