Jornalista e Radialista
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Sábado 16 de abril de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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Aos 58 anos de idade, com cinco hérnias de disco, hipertenso, com seqüelas no joelho em decorrência das inúmeras partidas que jogou, o ex-jogador de futebol encara mais um desafio, movido pela sua fé. Estacionada em sua garagem, separada em duas partes que se encaixam através de dispositivos próprios, está uma enorme cruz de madeira, a primeira bi-articulada de que se tem noticia Dejandir nasceu em Piracicaba no dia 12 de janeiro de 1953 filho de Oswaldo Odilon Miller e Maria Sturion Miller. Ele projetou e construiu a maior cruz de madeira de que se tem noticia: 30 metros de comprimento, para se ter uma idéia ela é bi-articulada para dobrar as esquinas, Nenê como é conhecido, juntamente com seus filhos, os artistas Willyan e Wellington irão levar nos ombros essa cruz até Bom Jesus de Pirapora. Um desafio que envolve muita fé e disposição física, o peso da ponta da cruz nos ombros é mais do que 40 quilos, em uma jornada com mais de 100 quilômetros.
Em que bairro de Piracicaba você residiu em sua infância?
Sempre morei na Paulista, morei na Avenida do Café, era uma chácara e tinha o Campo do MAF nos fundos de casa. Cresci aprendendo a chutar as bolas no campo de terra vermelha do MAF. Fiz os meus estudos no Grupo Escolar Dr. João Conceição, no Colégio Dr. Jorge Coury conclui o curso colegial no Sud Mennucci. , fiz curso profissionalizante no SENAI.
Qual atividade você passou a exercer?
Tornei-me jogador profissional de futebol Sou diplomado como Torneiro Mecânico, embora nunca tenha exercido essa profissão. Aos 16 anos eu jogava no juvenil do Jaraguá quando surgiu a oportunidade para jogar na seleção amadora de futebol, onde acabei sendo titular, sendo campeão, bi-campeão e tri-campeão dos jogos regionais, bi-campeão e tri-campeão dos jogos abertos, defendendo na época a CME Comissão Municipal de Esportes. O Seu Gaspar e o Seu Dema eram treinadores do XV de Novembro na época, me levaram para o XV de Novembro, onde com 17 anos me tornei profissional. A primeira partida da qual participei foi contra o Noroeste de Bauru onde perdemos por 3 a 1 sendo que eu tive a felicidade de fazer o gol do XV.
Em qual posição você jogava?
No XV fui lateral direito, embora fosse polivalente, substituía todos os jogadores da zaga, inclusive em Campeonato Brasileiro tenha substituído o goleiro Getulio, só não joguei de ponta esquerda. Na ocasião da Taça São Paulo de futebol Junior substituindo o Ricardo, joguei no gol contra o América do Rio e depois contra o Internacional de Porto Alegre, que tinha entre seus jogadores o Falcão. Acabei sendo considerado um dos melhores goleiros da Taça São Paulo. Na posição de lateral direito foi onde me tornei campeão paulista da segunda divisão por duas vezes, uma pelo XV e outra pela Ponte. Fui jogador profissional de futebol por 16 anos. Muitos clubes como XV de Jaú, Ponte Preta e mesmo o Santos me olhavam com admiração e respeito profissional. A minha postura em não ser conivente com atitudes anti esportivas fez com que tivesse sérias divergências com o treinador do Santos da época, isso me valeu o desligamento do clube, mesmo tendo a admiração e o carinho da torcida santista.
Essas coisas ruins ficaram marcadas em sua vida?
Sem duvida que sim, mas as boas coisas superaram parei de jogar em 1984, conservo meus amigos e sou muito bem recebido em todas as cidades onde joguei. Vou ao campo assisto XV, toco, sofro, adoro o XV que foi o time que me abriu a porta para o mundo.
Qual atividade você exerce atualmente?
Viajo muito com os meus filhos Willyan e Wellington, que formam a dupla sertaneja hoje conhecida no Brasil todo. Já faz 10 anos que eu os acompanho em todos os eventos. A partir de 2003 encerrei uma empresa que atuava no ramo de eletricidade, meus filhos passaram a dedicar-se exclusivamente a carreira musical, hoje tem quatro CDs gravados e um DVD gravado aqui no Engenho Central, para orgulho da nossa cidade. Atualmente trabalhos pelo Brasil afora, temos profissionais da área de divulgação trabalhando em parceria conosco. Esse DVD foi lançado em Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Brasília Tocantins, Rondônia. Fazemos a Expo-Bauru, Expo-Jau, Rodeio de São José do Rio Preto. A dupla realiza constantemente apresentações em locais menores, junto a um publico que é bastante fiel. Tivemos duas músicas que foram sucesso nacional, por falta de recursos financeiros da nossa parte não pudemos dar a divulgação em larga escala, que implica inicialmente em investimento significativo, outro cantor com maiores recursos a lançou e emplacou é a “Beber, cair e levantar”, a composição é do Marcelo Marrone da Bahia, que por sinal não teve o merecido retorno financeiro. Willyan e Wellington estavam esperando sair o registro, quando o André Adriano soltou a musica no mercado sem registro sem nada, acabou pagando uma multa que se mostrou irrisória diante do sucesso de alcance nacional.
Houve outra situação similar?
Uma autêntica jóia de musica “Pense em Mim” foi gravada pela primeira vez pela dupla Willyan e Wellington, por uns seis meses procuraram um investidor para fazer a divulgação em âmbito nacional, tem que ter muito recurso para investir na divulgação de uma musica. Lucas e Luan jogaram um caminhão de dinheiro na divulgação dessa musica e até hoje fazem sucesso em cima da musica “Pense em Mim”. Nós já tínhamos lançado a musica em outubro enquanto corríamos atrás do dinheiro para o lançamento, oito meses depois eles a lançaram.
Podemos observar nas dependências da sua casa algo inacreditável, você pode explicar melhor do que se trata?
Podemos observar nas dependências da sua casa algo inacreditável, você pode explicar melhor do que se trata?
São dois módulos de madeira que totalizam trinta metros. Formando uma cruz, composta por vigotas de dezesseis, por cinco e meio, a madeira é araucária, formada com muita fibra, embora comprida não se quebra muito fácil e nem é tão pesada como outras madeiras. São seis peças de cinco metros e meio, mede da ponta até o final trinta metros, o braço mede dois metros e oitenta da mesma madeira. As emendas são feitas com chapas de ferros. Temos que tomar cuidado porque a cruz balança vibra muito, e a quilometragem é longa, uns falam de cento e vinte quilômetros outros de cento e quarenta.
De quem é o projeto dessa cruz?
Foi eu, o Willyan e o Wellington, por vinte anos fui até Bom Jesus de Pirapora a pé, sem cruz, por quatorze anos fui sem nada, apenas com a mochila nas costas. Na época em que jogava futebol cheguei a sair daqui na quarta feira a noite, depois do jogo do XV no Barão de Serra Negra, chegava na quinta feira a noite, sem descansar. Fiz esse trecho por 14 anos seguidos. A seguir por seis anos fui com meus filhos, sem cruz. Eles começaram a levar cruz, eu os acompanhei, a nossa primeira cruz tinha 15 metros, isso a 10 anos atrás. No ano passado levamos uma cruz de arrasto com 11 metros, é uma cruz sem rodinhas atrás, é a madeira esfregando no chão. Ela cala no ombro, é a mais sofrida de ser levada. Quando fizemos a primeira com15 metros projetamos o sistema de estirante, um na parte de baixo e um em cada lateral. O debaixo irá envergar a madeira para cima, formando uma espécie de arco, irá evitar quebrar no balanço para baixo, e os dois das laterais irá evitar que ela entorte, pelo fato de ser muito comprida ela joga.
Qual é o comprimento dessa cruz que vocês estão levando neste ano?
São 30 metros de comprimento, fui obrigado a projetar baseado nos princípios de uma carreta, com dispositivo próprio para dobrar nas esquinas. Em uma base de 3/16 fiz uma luva de ferro de 1/8 coloquei uma bola de engate de carro e na outra base coloquei um cano travando. Nós passamos por dentro de várias cidades; Rio das Pedras, Mombuca, Capivari, Itu, Cabreuva. Nós saímos de casa por volta das sete horas da manhã, o Padre Nivaldo Nascimento ele sai da igreja matriz do Itapuam, ele abençoa, fazemos uma oração e saímos em caminhada. Vou pelo bairro Matão, subo a Avenida Raposo Tavares, entro por trás da Femaq, a primeira parada para respirarmos um pouco é Bairro do Chicó. Paramos por uns vinte minutos, logo seguimos, cruzando o Anel Viário indo em estrada de terra até Rio das Pedras, onde chegamos por volta de onze horas, nessa hora entra os trabalhos das nossas esposas, parentes, da minha sobrinha Silvinha que todos os anos faz o almoço e leva para nós. Em Rio das Pedras paramos junto a uma empresa situada logo na saída para Mombuca, próxima a Painco. Em Mombuca passamos a noite, em um posto de gasolina cujo dono deixa a chave conosco, é onde descansamos, tomamos banho. Por volta das quatro e meia da manhã seguimos em direção á Capivari, onde as dez horas chegamos á praça central. Há uma sorveteria na praça cujo dono já nos conhece sendo que tomamos um sorvete, já se tornou tradição. Cabe lembrar que durante a nossa viagem ninguém ingere nada alcoólico. Na saída de Capivari com destino a Salto há um posto de gasolina chamado Cartola, é lá que tomamos um lanche, descansamos até umas duas e meia da tarde, há um pessoal de Piracicaba que nos leva o almoço. Continuamos andando por uns quatorzes quilômetros de terra até chegar a um lugar chamado Samambaia, lá há uma venda de beira de estrada, cujo dono é tratado por “João Ratão”. Esse apelido surgiu porque onde no antigo paiol onde a gente dorme existe ratazanas que não acaba mais é um senhor de família muito bondosa, que levanta ás quatro horas da manhã para servir o café para nós. Essas refeições são cobradas e por valores nada modestos. Nós saímos de Piracicaba no dia 16 no sábado e chegamos á Pirapora na quinta feira dia 21 na hora do almoço.
No transporte da cruz é uma pessoa só que a carrega?
É colocado um travesseiro no ombro, e a pessoa carrega até agüentar, sendo substituída por outra assim que não agüentar mais. Tanto na subida como na descida outros romeiros auxiliam, pois o peso é enorme. Ninguém leva uma cruz sozinho, quando ela é de 10, 15 metros um carrega outro vai atrás segurando para tirar o balanço dela senão ela quebra. Nunca vi ninguém que tenha levado a cruz sozinho.
Há alguma sinalização especial para ser usada a noite?
Aprendemos ao longo dos anos a não andarmos a noite, só se acontecer algum imprevisto. Na parte traseira colocamos um triangulo de carro, as pessoas que ficam na parte posterior sinalizam com lanternas, sinalizamos tanto a cruz como o braço que a compõem com tiras refletivas.
Nesses seis dias de viagem como é o comportamento do grupo?
Rezamos muito durante o trajeto, rezamos o terço, pedimos pela paz, fazemos nossas profundas reflexões. Nesses trinta anos é minha a responsabilidade de conduzir as orações.
Como é a recepção do romeiro em sua passagem por Itu?
Nós já passamos por tudo em Itu. O povo de lá não gosta muito de nós. Eles dizem palavras nada agradáveis, dizem que atrapalhamos o trânsito, nós que somos romeiros costumamos dizer que o pessoal de lá é meio nervoso! Assim como alguns nos desejam boa viagem outros dizem: “Larga mão disso! Vai trabalhar”. Sequer imaginam a benção, a graça, que alcançamos para estarmos levando essa nossa cruz em manifesto de gratidão. Não coloco nenhum nome na minha cruz, ela é em gratidão pelas graças que alcancei nesses anos todos da minha vida.
Na terça de manha a viagem continua?
Seguimos em frente até almoçarmos na Gruta, pela estrada do Romeiro, é uma estrada muito perigosa, vicinal sem acostamento, com aproximadamente 45 quilômetros. Por volta de 3 a 5 horas da tarde chegamos a Cabreuva, o prefeito libera o ginásio para a acomodação dos romeiros. Passamos a noite, descansamos até as duas horas da tarde, ale é o verdadeiro descanso do romeiro. Prosseguimos a caminhada por mais doze quilômetros até Bananal, que fica distante mais dezoito quilômetros de Pirapora. As cinco horas da manhã da quita feira prosseguimos nossa viagem chegando em Pirapora em torno do meio dia
Assim que chega qual é o procedimento?
Desmontamos os estirantes da cruz, os rodeiros, para entregar a cruz na sexta feira santa. Ficamos por cerca de 300 metros da igreja, não passamos a ponte antes da sexta feira. Do alto de um monte, as nove horas da manhã da sexta feira fazemos uma oração e descemos com a cruz. Na verdade não sou só eu e meus filhos que levamos as cruzes, há outros amigos que nos acompanham, como o Marquinho Cruz, o Tiquinho.