sexta-feira, setembro 30, 2011

VOVÔS VOADORES - HELENA MENDES FERNANDES E JOSÉ FERNANDES MERLO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado de setembro de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/

ENTREVISTADOS: HELENA MENDES FERNANDES E JOSÉ FERNANDES MERLO

Segundo o Professor Luiz Machado, Ph.D.: “Estamos equipados com estruturas cerebrais para encontrar meios de ultrapassar obstáculos e vencer desafios. Precisamos distinguir entre obstáculos-ameaça e obstáculos-desafio. Desafios são obstáculos, dificuldades que não ultrapassem os limites até onde podem estender-se as capacidades humanas. Como viver é vencer desafios, a natureza equipou-nos para isso. Se não estamos aceitando os obstáculos como desafios, não estamos realmente vivendo e não estamos sendo felizes. Em situações normais, o ser humano usa apenas uma pequena parte de seu potencial, de suas reservas cerebrais”. O casal Helena Mendes Fernandes e José Fernandes Merlo é exemplo de disposição invejável. Residem no Lar dos Velhinhos, onde são conhecidos como “Vovôs voadores”, embora possuam automóvel ambos cortam a cidade diariamente em cima de uma motocicleta, trabalham na administração de um pensionato. Não haveria nada de extraordinário se ambos não contassem com mais de setenta anos! Helena é natural de Tabapuã, próximo a Catanduva, onde nasceu em 1 de novembro de 1932, filha de Raul Mendes e Clara dos Anjos de Souza Lobato, José nasceu em 17 de dezembro de 1933, em Catanduva, filho de Guilherme Fernandes Pastor e Maria Pastora Merlo.

 

Sr. José até que idade o senhor permaneceu morando em Catanduva?

Eu era criança de colo quando a nossa família mudou-se para São Paulo, fomos morar no bairro Itaim-Bibi na Rua Urupês (atual Rua Jesuino Arruda). Estudei no Grupo Escolar Aristides de Castro que na época ficava na Rua Joaquim Floriano (O antigo prédio dessa escola, chamada de “Grupo Escolar do Itahim”, ainda na Rua Joaquim Floriano com a Rua Urussuí, foi inaugurado em 1925.). Éramos em 10 irmãos. Meu pai era negociante. Naquele tempo era tudo chão de terra, a condução mais fácil era o bonde que passava pelo Jardim Europa. O meu pai cortava lenha no meio do mato que havia ali no Jardim Europa, para usarmos no fogão á lenha da nossa casa. Ainda muito jovem quando fui trabalhar na garagem de ônibus da CMTC que existia no Itaim Bibi. Minhas irmãs trabalhavam na Fábrica de Chocolates Kopenhagen localizada na Rua Joaquim Floriano, ao lado havia um rinque de patinação. Em frente á Kopenhagen havia um cinema. O meu pai vendeu a nossa casa no Itaim Bibi, a área do terreno era 1.000 metros quadrados, com esses recursos ele adquiriu duas casas em São Caetano do Sul.

O Senhor permaneceu trabalhando na CMTC?

Por ser muito distante de São Caetano eu sai da empresa, meu chefe queria me transferir para a garagem do Brás. Meu pai queria montar um comércio para todos nós trabalharmos juntos, mas infelizmente ele faleceu, isso foi em 1945. Fui trabalhar na Cerâmica São Caetano, era ajudande de prensista, recolhiamos os ladrilhos que a máquina prensava. Em 1957 passei a trabalhar na DKW Vemag, onde permaneci por oito anos e meio. Lembro-me dos testes que eles faziam subindo nos morros para ver se os veículos tinham potência necessária. De lá eu fui trabalhar na Mercedes-Benz, nessa época tomei uma vacina e peguei hepatite, permaneci tres anos “de molho”! Trabalhei na Ford, na Divisão de Caminhões que ficava na Rua Henry Ford no Ipiranga. Fui funcionário da General Motors. Em 1965 entrei na Volkswagen onde me aposentei em 1983. Quando produziam algum carro para exposição, para deixar o carro no capricho, eu era convidado para trabalhar a parte de tapeçaria, estofamento e vidros. Eu trabalhava na Ala 13 da Volkswagen da Via Anchieta.

O senhor participou das famosas greves do ABC?

Eu era lulista até debaixo de água. Por causa das greves chegamos a levar cacetadas da polícia, época em que o Paulo Maluf era governador do Estado de São Paulo. Connheci Vicentinho, Jair Meneghelli e outros sindicalistas que se tornaram famosos.

Até que idade a senhora permaneceu em Tabapuã?

Fiquei na fazenda de propriedade da nossa família até os meus 31 anos. Em 1975 nos casamos e fomos morar na Vila Califórinia em São Caetano do Sul. Meus irmãos tinham se casado, só eu e um irmão estavamos solteiros. Eu trabalhava na roça, ia com o carro de boi enchia de milho, trazia até o paiol. Plantava e colhia mamona, vinha sentada em cima da carga. Tudo sózinha. Esse boi que puxava o carro era lindo, chamava-se Galante. Eu galopava a cavalo, lembro-me da Pampinha.

Após se casar a senhora foi trabalhar onde?

Fui trabalhar na Chocolate Pan. Quando fui me candidatar á vaga, passei na cabelereira, mandei cortar o cabelo no estilo franja, fiz um penteado. Já funcionária da Pan, comprei uma enceradeira na Eletroradiobraz a Chocolate Pan ficou sabendo que eu era casada. Fui mandada embora, eles só admitiam mulheres solteiras. Depressa fui trabalhar na Alpargatas, na Avenida Radial Leste. Houve um inicio de incêndio, fui até a cozinha tirei rapidamente as toalhas da mesa, molhei e abafei o fogo. Eles me colocaram para fazer curso de bombeiro, recebi o certificado com nota 10. Nessa época a Alpargatas fabricava entre outros produtos, o jeans, faziam a famosa alpargatas de sola de corda. Ao deixar a Alpargatas fui trabalhar nas Linhas Correntes, na Rua do Manifesto, no Ipiranga. O chefe chamava-se Eduardo, disse-me que não tinha serviço para mim, só tinha vaga para varredeira. Disse-lhe que aceitava, eu precisava do emprego. Antes de 90 dias de empresa passei a encarregada da seção de tubos. Funcionárias com anos de empresa não gostaram da minha promoção tão rápida. Desci o “Chico Reio”! Mostrei serviço, fiquei magrinha. Quando tinha que levar o óleo nos regadores para as meninas colocarem nas poçinhas e lubrificarem as máquinas eu era rápida. Dois anos depois, minha perna travou, não andei mais. Meu filho pequeno que fazia a comida e trazia para mim. Eu fiquei deitada. Voltei, passei pelos médicos, após cinco anos me aposentaram.

Dona Helena o que os trouxe á Piracicaba?

A nossa filha veio estudar na Esalq, em 1983 mudamos para Piracicaba, alugamos uma casa de propriedade do Ludovico Trevizan. Chegamos aqui não tinhamos o que fazer, eu coletava papelão, um carrinho de papelão dava para comprar uma caixa de óleo. Íamos a São Paulo, compravamos carros lá e trazíamos para vender em Piracicaba. Com o tempo o lucro já não compensava. Inventei de colocar um pensionato, vi umas casinhas velhas, entrei em uma divida enorme,devagarinho fui ajeitando e aluguei para estudandes. Na época a TAM tinha muitos pilotos, instrutores, em Piracicaba e eles passaram a se hospedarem lá. Foi o que me ajudou muito.

Quando foi a decisão de virem morar no Lar dos Velhinhos?

Era meu sonho! Diz Dona Helena. Dia de São Pedro vai fazer 13 anos que vim falar com a Rose, aqui no Lar dos Velhinhos. Nosso chalé é amplo e confortável, no quintal plantei muitas frutas.

Como surgiu a moto na vida do casal ?

Dona Helena responde: “Meu filho anda de motocicleta desde pequeno, meu neto, minha filha ia para a faculdade de moto”. Seu José completa: “A primeira vez que andei foi em Piracicicaba, eu já tinha uns quarenta e poucos anos. Decidi tirar a carteira de habilitação de motociclista.” Andamos todos os dias de moto, em tempo de matrícula da Esalq já chegamos a ir de moto cinco vezes ao dia até o pensionato.

A senhora ganhou uma medalha recentemente?

Foi nos Jogos Abertos das Ollimpíadas da Terceira Idade, ganhei a medalha de ouro de Miss Simpatia e Luxo. Aprendi sozinha a trabalhar com bijouterias, faço colares, lenços, pego caixa de fósforos, encho de lantejoulas fica muito bonito para festas juninas

Seu José o senhor navega na internet?

Quando conheci um computador, gostei. Comprei monitor, depois teclado, CPU montei um equipamento. Passei a digitar. Resolvi entrar na internet. Gosto muito disso ai. Se eu tivesse uns quarenta anos iria fazer de tudo para me aprofundar no campo de informática, já mexo com a internet há uns tres anos, eu sou muito persistente. Coloquei webcam para falar com a minha filha no exterior. Hoje já tenho também um notebook.

O senhor acha que independente da faixa etária a pessoa tem que estar atualizada?

Eu acho, com 77 anos sou atualizado, moderno. Ando de moto entro na internet, onde inclusive pesquiso preços de viagens.

Nas Festas Juninas do Lar dos Velhinhos a senhora é a noiva?

Todos os anos me escolhem para noiva. Eu e meu marido que puxamos a quadrilha. Eu mesma que costuro as roupas minhas e do meu marido.

Qual é a receita que vocês dão para chegar nessa idade com essa disposição?

Dona Helena diz: “ A receita é trabalho, trabalho, trabalho!” Seu José completa: “A pessoa tem que se atualizar, velho parado é velho atrofiado. Tem pessoa com menos idade do que a minha e que está toda bombardeada, porque não pratica nenhuma atividade”.

No Natal a senhora usou uma fantasia especial?

Mostrando várias fotografias ela diz: “Neste último Natal me vesti de àrvore de natal, a roupa ia até os pés cheia de contas, entreguei ás velhinhas cadeirantes quarenta e poucos colares que eu mesma fiz, a minha roupa pesava mais de cinco quilos, para o José fiz a roupa de Papai Noel, compramos sabonetes e ele levando o tradicional saco de presentes distribuiu aos velhinhos, foi o melhor natal da minha vida. ”. Qualquer evento que acontece no Lar o pessoal já nos inclui. Um dos hobby do José é a fotografia. Somos conhecidos como “Vovôs Voadores” ou “Casal 20”. Quando há blitz policial nós nem somos parados. Trabalhos muito, não dá tempo de ficar olhando o que passou. Eu já estou fazendo as roupas que vamos usar no próximo ano, utilizo muito babados de cortinas.

Dona Helena, vocês gostam de dançar?

Muito! Há uns cinco ou seis anos vencemos um Concurso de Dança por Resistência, quem ficasse mais tempo dançando ganharia o primeiro lugar. Foi uma promoção do Shopping Piracicaba, nós dois dançamos mais de duas horas. O prêmio foi um fim de semana no Hotel Fazenda Fonte Colina Verde, localizado na Estância Turística de São Pedro, o taxi nos levou na sexta feira e foi nos buscar no domingo, fomos tratados como principes.

A senhora acha que a falta de participação nas atividades coletivas piora a vida da pessoa?

A pessoa vai ficando velha! A pessoa se entrega, dorme o dia todo. Aos sábados temos o Clube do Vinil, depois tem o bingo. As quinta feiras temos um bailaço. Á noite eu fico fazendo minhas bijouterias, colares, e o meu marido fica na internet. Vamos dormir lá pela uma hora da manhã. No dia seguinte lavantamos as 8 ou 9 horas.
    
                                      

terça-feira, setembro 20, 2011

VANESSA DE GODOI CHIODI – GUARDA MIRIM

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de setembro de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/

ENTREVISTADA: VANESSA DE GODOI CHIODI – GUARDA MIRIM
As descobertas tecnológicas dos últimos 50 anos revolucionaram a humanidade. Tudo ocorre cada vez mais rápido. Se para o indivíduo adulto administrar seu comportamento diante de tantas inovações é difícil, para o jovem em formação é algo mais complexo. Isso é um fenômeno mundial. A força da mídia conduz como carneiros milhões de consumidores ávidos por símbolos de sucesso e bem estar, os resultados dessa busca desenfreada produz consumidores vorazes em uma sociedade onde o ter á mais valorizado do que o ser. Milhares de jovens vivem em situação de risco, envolve obstáculos individuais ou ambientais que aumentariam a vulnerabilidade dos jovens para resultados negativos no seu desenvolvimento. A família vem mudando muito nos últimos tempos, família hoje se resume em pessoas que dividem o mesmo teto tendo laços parentescos ou de afinidades. A família constitui o primeiro e o mais importante grupo social de toda a pessoa, bem como o seu quadro de referência. Piracicaba tem um grande privilégio, do qual muito se orgulha, é a Associação Guarda Mirim Municipal de Piracicaba. Fundada em 21 de abril de 1966 pelo prefeito Comendador Luciano Guidotti e representantes da Sociedade Civil entre eles Rotary Club, Lions, Maçonaria e Guarda Civil, conforme projeto de Lei 1.161 de 1962, apresentado pelo Vereador Prof. Rubens Leite do Canto Braga. O Sub Inspetor da Guarda Civil Elias Domingos da Silva, o “Sub Elias” teve importante participação na implantação inicial da Guarda Mirim. “Não obstante tenha entrado em atividade há somente pouco mais de três meses, a Guarda Mirim, criada pela lei 1262-64 e alterada pela lei 1404-66, já se tornou uma corporação admirada e respeitada pela prestação de excelente serviço á coletividade, principalmente no setor de auxiliar da fiscalização de trânsito.” (Jornal de Piracicaba, 31 de julho de 1966). Conforme entrevista concedida ao jornalista e radialista João Umberto Nassif pelo Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo Frederico Ciappina Neto, que foi responsável pela Guarda Mirim desde a sua fundação até 2 de abril de 1984 ele diz: “Era formada por 30 meninos, mas um desistiu. Eram meninos terríveis! A metade deles era muito difícil. O inicio foi na cozinha da Guarda Civil. Não tinha nenhuma cadeira para sentar! Na cozinha era o comando. Eu consegui junto a duas empresas uma mesinha e um armário. Uma cadeira emprestada da Guarda Civil.Uma máquina de escrever emprestada. No fundo tinha um barracão de uma água só, aberto por sinal, esse prédio ficava na Rua Moraes Barros, 527. Enquanto a Guarda Civil ficou ali nós ficamos juntos. Dando instrução e preparando. Precariamente, porque não existia nada. Devagar fomos conscientizando a sociedade, a prefeitura, a Guarda Mirim nasceu municipal, a prefeitura é que mantinha, dava 20% do salário mínimo para o menino ficar 4 horas no transito.Ele tinha que estudar em um período. Se não estudasse não tinha direito ao ingresso”.Ele prossegue: “A função da Guarda Mirim quando foi criada era de ser auxiliar de transito. Os meninos trabalhavam cortando o transito da rua, faziam isso na Rua Governador Pedro de Toledo e outras principais ruas. Criamos até uma guarita, o menino manipulava aquilo, era um orgulho! Os meninos eram elegantes, simpáticos, o povo adorava a Guarda Mirim!” Ciappina continua : “A idade mínima era de 12 anos.É fantástica a responsabilidade da criança. A criança tem uma cabeça bonita, boa, limpa. Com 12 anos a criança esta começando a ser púbere. Não sabe nada ainda. Mas tem uma inteligência fantástica. Assimila rapidamente o que é ministrado.Se ele ficar solto irá adquirir costumes que a sociedade impõe, o meio impõe, e se ele ficar no lugar adequado ele irá receber a educação que o meio oferece. Essa lei que proíbe o trabalho ao menor de 16 anos é boa. Porém esdrúxula! A lei é boa desde que haja uma separação do ponto de vista. Separação de situações. Você não vai comparar o menino que trabalha em uma carvoaria aos 12 anos de idade com um guardinha que sentia a felicidade de participar da Guarda Mirim! Ele tinha prazer, era uma loucura, temos testemunhos fantásticos, um testemunho de João Batista Alves que foi cientista econômico, proprietário de duas casas comerciais em Piracicaba, esse menino fala o que ele viveu. O Vanderlei Jangrossi que foi vereador em São Paulo, pastor, esse menino diz: - A época mais feliz da minha vida foi a que eu passei na Guarda Mirim! Ele entrou com 12 anos de idade. Vários médicos foram guardas mirins. Eram garotos problemas! O meio iria destruí-los. Em 1966, na primeira turma, tivemos o Wilson Roberto de Barros falecido recentemente aos 49 anos de idade. Ele foi um médico psiquiatra muito famoso em Piracicaba, clinicava em vários hospitais, tem uma família bonita, ele morava em Rio das Pedras, os seus três irmãos passaram pela Guarda Mirim, um viajou o mundo inteiro, ele aprendeu a trabalhar em gráfica junto comigo, ele foi para a Esalq, acabou administrando uma tipografia, foi trabalhar em uma grande multinacional, acabou conhecendo o mundo viajando por todos os paises a serviço dessa empresa. O terceiro irmão foi para o Correio. Já deve estar aposentando. A Guarda Mirim tinha um coral fantástico. Temos aqui um panfleto do festival Internacional de Coros, realizado em outubro de 1977, participaram 47 corais de toda a América do Sul, a Guarda Mirim foi classificada entre os 20 melhores corais que se apresentaram!”.A Guarda Mirim acaba de inaugurar um prédio próprio, na Rua Gonçalves Dias, 721. São dois andares de instalações físicas com recursos adequados. A Assistente de Relações Públicas Vanessa de Godoi Chiodi traça um perfil da instituição nos dias atuais.
Qual é o nome oficial da Guarda Mirim?
Associação Guarda Mirim Municipal de Piracicaba.
Qual é a idade mínima para ingressar na Guarda Mirim?
Temos dois projetos, o Centro de Educação Profissional, que é o projeto de aprendizagem na área administrativa e o Projeto Banda Escola, é um projeto de banda onde a criança entra com doze a treze anos, os meninos vêm aqui, tem aulas de palheta, metais, temos dois maestros que trabalham conosco, um professor de percussão, eles tem aulas práticas e teóricas na área musical. Nesse projeto temos aulas de cidadania, valorização pessoal. Para ser aprendiz o aluno deve ter de 15 para 16 anos, estamos selecionando os nascidos em 1996. Ele irá ficar conosco no Centro de Educação Profissional durante dois anos, as aulas são aqui na Guarda Mirim e faz a pratica de aprendizagem em 60 empresas conveniadas todos na área administrativa, o curso que oferecemos é de Assistente Administrativo. Hoje temos aproximadamente 400 alunos, sendo metade meninos e metade meninas. Integram a banda cerca de 70 alunos. De acordo com a Lei 10097 eles têm que fazer a prática de aprendizagem que é o trabalho nas empresas e o curso teórico. Temos aprendizes que trabalham de quatro a seis horas, eles passam uma hora conosco e depois vão trabalhar.
Quais são os locais de origem dos componentes da Guarda Mirim?
O nosso público alvo do Projeto Profissionalizante está na faixa dos 15 a 16 anos, com renda familiar de zero a quatro salários mínimos, trabalhamos com adolescentes em vulnerabilidade social. Ele tem que estar freqüentando a escola regular. São requisitos básicos para seu ingresso na Guarda Mirim. No processo de matricula em nossa instituição eles passam por uma entrevista com a nossa assistente social. Temos que dar oportunidade aqueles que mais necessitam. Eles vêm dos mais diversos bairros, inclusive das cidades de Rio das Pedras, Saltinho.
A locomoção do Guarda Mirim obedece a alguma regra especial?
Estando uniformizado eles não pagam passagem de ônibus, o ingresso é feito sem passar pela catraca, no caso entram pela porta traseira.
Quais são as mantenedoras da Guarda Mirim?
Ela se mantém com esses convênios que admitem os aprendizes. Os Guardas Mirins são contratados pelas empresas através da nossa entidade.
Como é a procura de candidatos á Guarda Mirim?
No ano passado disponibilizamos 210 vagas, houve uma procura por parte de 500 adolescentes. Hoje estamos inaugurando uma sede nova com quatro salas, sendo três salas de aulas e uma de informática. A Guarda Mirim é uma Organização Não Governamental, ONG, seu presidente é José Sérgio De Favari.
Você percebe que quando o aluno ingressa tem um comportamento, e ao longo do tempo vai mudando seu comportamento?
Isso é muito perceptível. No inicio, por três meses, damos um treinamento de noções básicas, ele permanece na nossa sede. Aprende desde a atender a um telefone, postura, até noções de higiene pessoal. A Guarda Mirim é que oferece o uniforme, calça azul marinho, camisa azul clara, jaqueta azul marinho e sapatos. Eles só podem trabalhar em ambiente salubre.
Você percebe que os Guardas Mirins têm um comportamento diferenciado dos jovens da mesma idade que não freqüentam a Guarda?
Eles são mais responsáveis, esse processo de trabalhar e estudar, acaba provocando uma responsabilidade mais cedo. Nós temos o Projeto Iandê. (Segundo Cleuza Pio e Fernanda Aguillera a palavra 'Iandê' vem da língua Tupi Guarani e significa 'você'. A escolha do nome para o projeto desenvolvido na Associação Guarda Mirim Municipal de Piracicaba, se deu a partir do próprio significado e da constatação de que não era dada nenhuma orientação em termos de mercado de trabalho e recolocação profissional para o adolescente desligado da entidade. O adolescente em meio ao processo de saída em que deixa amigos, uniformes, cursos profissionalizantes, se vê de repente, sem rumo. Terrivelmente se sente só, desamparado e sem saber qual caminho seguir. Assim, a intenção do Projeto Iandê é orientar esse (essa) adolescente a trilhar um novo caminho agora com as próprias pernas. Porém, esta orientação educacional é a curto-prazo e tem o intuito de preparar o adolescente para que este consiga um trabalho fora da entidade).
Quando é mencionado que esse adolescente está em circunstância de risco, se ele não tivesse sido acolhido pela Guarda Mirim possivelmente estaria correndo um risco maior?
Aqui eles seguem o melhor caminho, que é o da educação, da assistência social, da valorização humana, trabalhamos nesse sentido.
Qual é a postura dos pais?
Os pais incentivam o ingresso de seus filhos.
Como é a apresentação da Banda da Guarda Mirim?
É sempre emocionante, temos um concerto todos os anos, “Viagem Através da Musica” acontece no mês de julho, a apresentação é no Teatro Municipal, com a presença dos pais, convidados. A Banda é o cartão postal da Guarda Mirim. Músicos famosos iniciaram sua carreira na banda, alguns seguem carreira fora do país. Nesse último concerto tivemos a participação de muitos músicos profissionais que foram guardas mirins. Marco Abreu que é um músico consagrado dá aulas aqui. Isso é um incentivo para os meninos.
Para eles o que significa a banda?
Eles são apaixonados pela musica! Alguns continuam na Banda e fazem o Conservatório de Tatuí.
Eles recebem alimentação?
Existe o restaurante da Guarda Mirim, fica na Rua Dom Pedro II, eles almoçam lá diariamente. Há uma médica para atendê-los todos os dias. Assim como psicóloga, assistente social, pedagoga. Temos também um projeto com os pais, achamos importante fortalecer esse vinculo familiar. Procuramos fazer com que os pais participem mais da vida dos seus filhos. Nesse sentido temos dois projetos: O Grupo de Diálogo Para Pais onde discutimos temas sobre o relacionamento familiar. Procuramos trazer um especialista sobre o tema que eles trazem.
Com as mudanças ocorridas na sociedade o adolescente está mais exposto ao assédio da mídia em todos os sentidos, como isso é trabalhado aqui?
Por isso temos o atendimento social e psicológico. A maioria colabora com a renda familiar. Nas aulas com a psicóloga há um grupo de diálogos, incluindo mídia, estimula os meninos a pensarem, a questão da cidadania é um traço muito forte aqui dentro. Aqui eles se sentem incluídos.
A paternidade precoce tem ocorrido com maior freqüência, isso acontece aqui?
Aqui não temos nenhum Guarda Mirim que seja pai! Trabalhamos temas como planejamento familiar, sexualidade na adolescência, saúde do adolescente. Eles têm atividade o dia todo, trabalham, estudam, fazem atividades aos sábados. A Guarda Mirim é uma entidade que muda a vida do adolescente. Mais de 70% ao sair da Guarda Mirim já estão empregados. Quem já foi Guarda Mirim acaba criando uma identidade.
Para quem trabalha com eles qual é o sentimento?
É ai que se vê como é gratificante trabalhar na área de assistência social. Os depoimentos de adultos muito bem sucedidos que foram da Guarda Mirim é altamente gratificante.
Há outro projeto desenvolvido com os pais?
Coordeno um projeto que é de culinária, chama-se “Projeto Sabor”, onde dividimos em módulos durante o ano, trabalhamos com as mães, pai ainda não apareceu nenhum, o curso é das 17:00 ás 20:00 horas, o primeiro módulo foi de panificação, padaria artesanal, outro foi de culinária trivial, e agora estamos fazendo o curso de salgadeiro e especial de Natal. São cursos de três meses, incentivamos as mães a comercializarem os produtos que elas aprendem a fazer, durante o curso trabalhamos também a questão do vinculo familiar, conversamos sempre sobre isso. A maioria das mães trabalha fora de casa.
Há muitas crianças com pai ausente?
Na própria sociedade é reduzido o numero de família modelo: papai, mamãe e filhinho. Hoje a família estruturada é composta por uma mãe que batalha, que luta para criar seus filhos, uma avó dedicada, ou até mesmo filhos criados só pelo pai. O importante é os pais se fazerem presentes na vida dos filhos, acompanharem, incentivarem.
O que afeta mais o adolescente?
É a falta de participação dos pais na vida dos filhos, muitas vezes gerada pela necessidade dos pais trabalharem e se ausentarem por longos períodos.
A Guarda Mirim tem um grupo de teatro?
É o Grupo Ronaumrose formado por Guardas Mirins, Ex-Guardas Mirins e aberto á comunidade. Quem dá as aulas é a Rosangela Pereira e a Magna Eliez do Grupo Guarantã, a Rosangela também é Ex-Guarda Mirim. Atualmente eles estão apresentando a peça “Acompanhe a Vida Escolar do Seu Filho”. É uma peça dinâmica e educativa, conta com uns 12 atores. Quem tiver interesse, basta encaminhar um ofício á Guarda Mirim, não necessita de palco especial. Tem a duração de 40 minutos.




domingo, agosto 07, 2011

LUIS CARLOS JUSTI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS

JOÃO UMBERTO NASSIF

Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com

Sábado 7 de agosto de 2011

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana

As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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ENTREVISTADO: LUIS CARLOS JUSTI

Afirmar que música erudita é uma manifestação cultural da elite poderia soar de forma estranha na antiga U.R.S.S. fonte de inspiração para regimes socialistas implantados em muitos países. Antes de esfacelar-se, a poderosa União Soviética tinha até como peça de propaganda músicos exímios, orquestras de altíssimo nível, orgulho da população. Hoje há uma inércia contemplativa com a qual o Brasil convive diante de uma mídia voraz, que por incompetência ou absoluta visão distorcida de valores básicos educa grande massa da população conforme o tilintar da moeda fácil em seus caixas. O compromisso dos veículos de comunicação é de educar, a medida que esse principio básico é relevado, compromete não só a si mesmo como também o futuro de uma nação. Os exemplos são claros, as grandes potências investem muito na formação cultural do seu povo, em um regime democrático não se pode interferir na preferência cultural do individuo, mas é obrigação do Estado e dos veículos de comunicação arcar com suas responsabilidades. Um exemplo de iniciativa bem sucedida é o Quinteto Villa-Lobos conjunto musical brasileiro de sopros, fundado em 1962, com a proposta de divulgar a música de câmara brasileira. Atualmente é formado por Antonio Carrasqueira (flauta), Luis Carlos Justi (oboé), Paulo Sérgio Santos (clarineta), Philip Doyle (trompa) e Aloysio Fagerlande (fagote). São profissionais com profundos conhecimentos de música, que encantam as mais exigentes platéias dos inúmeros paises em que se apresentam, assim como executam concertos e realizam oficinas em comunidades carentes, com público de todas as faixas etárias. Um exemplo de que a musica erudita não é um privilégio de uma casta, e nem é necessário ter o ranço dos pseudo inteletuais para vivenciar a beleza da musica erudita. Luis Carlos Justi nasceu em.Piracicaba, a 26 de janeiro de 1955, é um dos cinco filhos de João Justi e Olga Rovina Justi. Seu pai era metalúrgico, trabalhou por muitos anos na MAUSA onde aposentou-se, sua mãe até se casar trabalhou na Fábrica de Tecidos Boyes. Cursou o Sud Mennucci, onde sua primeira professora foi Da. Terezinha Kraide. Da. Cléia Manfrinato foi sua professora de inglês, e mais tarde tornou-se sua sogra.

Luis Carlos você ingressou inicialmente em qual curso superior?

Comecei a fazer agronomia na Esalq, onde permaneci por dois anos e meio, até descobrir que o meu curso iria ser concluido em nove ou dez anos. Eu não me aprovava nas matérias, só estudava música. Ia para as aulas de cálculo que eram ministradas no prédio da engenharia, que tem um lago na frente, contemplando o maravilhoso lago eu ficava após o almoço fazendo exercícios de harmonia musical, para mais tarde entregar ao Maestro Ernst Mahle. Acabei por desistir de cursar agronomia.

Quando foi o seu primeiro contato com a Escola de Musica de Piracicaba?

Quem me levou para a escola de música foi meu irmão mais velho, o Paulo, que havia estudado como aluno interno no Seminário Diocesano, situado na antiga estrada para Botucatu, em Piracicaba, lá ele aprendeu a tocar piano. O seminário foi extinto, meu irmão foi estudar biologia em Rio Claro. Na época um dos jornais publicou que a escola de música estava oferecendo bolsas de estudo para trompete, trombone, contrabaixo, oboé, fagote. Me interessei em estudar trompete, eu não sabia o quera fagote, oboé. O Mahle então disse-me: “- Vamos experimentar o oboé, o trompete muitas vezes o aluno me abandona, vai tocar em carnaval, eu fico sem o musico para tocar na orquestra”. O Mahle foi o meu primeiro professor, me deu uma palheta, ensinou-me o básico, e eu comecei a tocar oboé. Me apaixonei! N aépoca eu tinha 15 anos. Flauta doce fui aprender posteriormente.

Quantos instrumentos você toca?

Na verdade só toco oboé. Estudei um pouco de piano com a Da. Cidinha Mahle.

Qual foi a reação do seu pai ao vê-lo tocando oboé?

Acho que meu pai ficou feliz ao ver que eu tinha descoberto alguma coisa que eu gostava apaixonadamente. A única reação negativa que ele teve nessa história da musica e da vida “normal” foi quando eu decidi sair da Esalq. Na sua visão ele não conseguia entender como uma pessoa poderia deixar uma escola publica de agronomia, considerada como futuro certo dos piracicabanos, para ir tocar oboé! Na época ele ficou muito bravo.

Você trabalhava na ocasião?

Até então eu só estudava, mas como meu pai não considerava a música como um estudo propriamente, ele disse: “-Aqui em casa quem não estuda trabalha!”. Ai eu tive que trabalhar. Felizmente o Mahle compreendendo essa situação disse-me: “-Então venha trabalhar na Escola de Musica!”. Isso foi decisivo para que eu continuasse estudando musica. Fui organizar a biblioteca da escola, aprendi a datilografar, posso afirmar que datilografo super rápido e super bem, herança daquela época. Aprendi a tocar flauta doce, passei a dar aulas de flauta doce. E auxiliava o Mahle em algumas coisas que ele necessitava, o que foi fundamental para o meu desenvolvimento. Uma série de atividades que aparentemente na época não pareciam ter muita importância mais tarde mostraram terem sidi esssenciais. A convivência com o Mahle mostrou-me que para mim ele é uma referencia que extrapola a musica, é uma refencia de vida. Conhece-se muito pouco do trabalho realizado pelo Mahle. As vezes ele faz um arranjo simples, para as crianças tocarem, a principio quem ouve comenta: “-Ele fez uma arranjo que usa corda solta, e as crianças estão juntas”. O pensamento do Mahle vai muito além daquela realização estritamente musical, ele esta colocando juntas crianças que tem que conviver, tem que ouvir. “-Agora você fala mais alto!, é o seu instrumento que está tocando” ou então “-Agora você se retrai tem que ouvir, porque é outro instrumento que está tocando”. É uma educação implicita nesse trabalho, é uma coisa absolutamente maravilhosa, até hoje não sei se alguém olhou para esse lado da importancia pedagogica, social, formadora de carater, de relacionamento, de educação global.

Se O Maestro Mahle estivesse realizando seu trabalho em algum centro maior, como São Paulo, Rio de Janeiro ou em alguma cidade do exterior, a visão a respeito seria outra?

Houve um período em que cheguei a perguntar ao Mahle e á Cidinha porque cargas d´agua vocês vieram á Piracicaba? Por que não foram para um centro maior? Em São com certeza haveriam mais pessoas que compreenderiam esse trabalho, inclusive a importancia do Mahle como compositor. Em Piracicaba o Mahle sempre foi criticado por determinadas pessoas, que dizem que ele faz composições de uma maneira muito hermética, que fugiam da compreensão das pessoas. Na verdade, quando você se aprofunda na música vê que o Mahle é um compositor tradicional no aspecto formal, harmonico da musica. O Mahle batia em uma muralha de incompreensão, derivada da ignorancia do mundo musical, que certamente deve ter provocado alguma diferença para ele. Pelo fato de ele ser uma pessoa muito consciente do que ele pretendia realizar, e por considerar que o destino dele estava ligado no trabaho na Escola de Musica de Piracicaba, na educação que ele de fato prpoporcionou, nas obras que ele realizou, ele não se abalou. Talvez se ele estivesse tido mais recnhecimento e maior incentivo do que teve em Piracicaba as coisas fossem diferentes. Mas foi aqui que ele fez isso, e graças a Deus por isso eu toco, e muitos outros assim o fazem.

No fundo o Mahle tomou a atitude correta?

Acredito quie sim. A Escola de Musica sempre foi uma escola privada, mas eu nunca paguei um centavo para estudar lá. Apesar de ser uma escola pequena comparada á outras, o numero de bons músicos, e músicos relevantes que sairam daqui e estão pelo Brasil e pelo mundo afora, é um número muito expressivo. Onde está o segredo de um trabalho de uma pessoa, de uma escola privada, com um numero menor de alunos, mas que forma proporcionalmente muito mais gente e muito boa, a ponto de estarem ai afora, em Campinas, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em outros países.ocupando cargos importantes. Isso é fruto do trabalho do Mahle, que na minha opininão é absolutamente indossiável do trabalho da Cidinha. O Mahle não existe sem a Cidinha, e vice-versa. O Mahle não seria e não teria feito tudo que fez sem a Cidinha. Ela é a viabilização do potencial humano, artistico, pedagogico, do Mahle, sendo ela própria uma pedagoga. Ha uma incompreensão da cidade com relação ao casal, a Cidinha sempre carregou o fardo da chata, ela carrega até hoje uma fama injusta da pessoa que impedia o Mahle de fazer certas coisas, e é exatamente o contrário, a Cidinha viabilizou o Mahle. Ela é uma pessoa determinada, que sabe onde pretende chegar e tira as pedras do caminho, amparadas pelo fato de que ela sim sempre teve consciencia do valor e da importancia do trabalho do Mahle. Tudo que foi realizado é fruto do trabalho dos dois, na verdade eles reunem duas pessoas em uma única de grandiosidade maior. É possível que com o passar do tempo as pessoas venham a entender.

Por quanto tempo você permaneceu na Escola de Musica de Piracicaba?

Sai daqui em 1976 para a Alemanha, de onde retornei em 1979. Em Piracicaba tinha a Dona Brigitte Folz que foi minha professora de alemão.

Você fala quantos idiomas?

Falo italiano, espanhol, inglês, alemão e francês por causa de Dona Levica Meirelles, esposa do Dr. Meirelles., Ela era uma pesoa que merece um destaque em Piracicaba, ela sabia francês muito mais do que eu sei portugues, ela era genial, era uma pessoa culta, bonisssima, não me lembro de nunca ter pago por uma aula dela. Li todos os grandes classicos francêses. Sei muito frances por conta dela, é a lingua que falo melhor. Dona Levica ocupa um lugar muito especial para mim.

Como você foi á Alemanha?

Pedi uma bolsa ao governo alemão, na segunda vez em que pedi, consegui com o DAAD. Isso foi em 1976. O governo brasileiro só atrapalhou. Fui para Hanover. Na Alemanha, por um período fiz regência, tinha a intenção de me tornar maestro. Posteriormente o oboé começou a me abosrver, e eu queria tocar muito bem. No seu intrumento você se realiza, você se expressa musicalmente, a regencia não é uma coisa direta,voce tem que levar as pessoas a fazerem a musica que você pensa. Isso para mim é um bloqueio, eu teria que deixar o oboé de lado. Com o oboé eu tenho muito prazer de me expressar. A regencia envolve outras qualidades, relações pessoais, muita psicologia, muita coisa que os regentes costumam não ter.

Quando você voltou da Alemanha?

Após três anos e meio, meu professor me aconselhou a permanecer ele acahava que eu tinha grandes possibilidades de integrar qualquer orquestra alemã. Um fato curioso, foi no inicio da constituição da Comunidade Européia, fizeram uma orquestra com convidados de vários paises, e tinha uma violinista, uma menina muito bonita, uma alemã, que eu estava de olho, e que eu sabia que tinha sido chamada para tocar violino na orquestra. Fui lá e implorei ao meu professor que me colocasse nessa orquestra. Ele me disse: “-Como vou colocar um brasileiro em uma orquestra da Comunidade Eurpéia?” Respondi: “-Me coloca como português!” Ele me colocou na orquestra, viajamos até Genebra, e outros lugares. Foi uma ótima experiencia musical. Com a menina não tive nenhum progresso. Posso dizer que toquei na orquestra da Comunidade Européia.

Voltando da Alemanha você radicou-se onde?

Vim á Piracicaba, achei até uma forma de mostrar a minha gratidão ao Mahle, quando tinha ido a Alemanha, eu não tinha nem instrumento, o Mahle foi quem me emprestou.

Com as economias que fiz com a bolsa dada pelo governoa alemão consegui comprar meu instrumento e pude devolver o qua havia emprestado. Em1980 permaneci em Piracicaba, e passei a ser professor de oboé na Unicamp, até 1985 fiz esse trabalho. Acontecia em Blumenau uns festivais de musica quem organizava era o Norton Morozowicz, Jose Botelho. Fazer musica de câmera com eles foi fantástico. Fiquei fascinado com aquilo. Eles me disseram que havia uma vaga na Orquestra Sinfônica Brasileira, no Rio de Janeiro, quem tocava com eles era o oboísta Paolo Nardi, que tinha voltado á Itália. Conversei com a minha esposa Lilia Manfrinato Justi, e decidimos ir ao Rio de Janeiro.

Atualmente quais atividades musicais você exerce?

Há seis anos sai de todas as orquestras das quais participava, sou professor universitário há muito tempo na UNIRIO e toco no Quinteto Villa Lobos, uma entidade que fará no próximo ano 50 anos de existência. Eu estou no Quinteto há 26 anos.


PAULO ROGÉRIO ARANTES

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 30 de julho de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: PAULO ROGÉRIO ARANTES
A Escola de Música de Piracicaba “Maestro Ernst Mahle” é um patrimônio cultural de inestimável valor para Piracicaba. Desde os seus primórdios, contando com nomes importantes da cultura piracicabana, entre outros: Leandro Guerrini, Maria Olívia e Dr. Nelson Ferraz Meirelles, Maria Dirce de Almeida Camargo, ela notabilizou-se por reunir pessoas com apurada sensibilidade á musica. Ernst e Maria Aparecida Mahle é um casal cuja dedicação de quase cinco décadas consolidou o sonho dos pioneiros. Abnegados, dedicaram todos seus esforços para formar uma cultura musical na cidade. De forma muitas vezes anônima, aplicaram recursos pessoais em prol da causa, jamais tiveram qualquer espécie de remuneração pelos serviços prestados mesmo ocupando cargos de direção. Com absoluta certeza Ernst e Maria Aparecida são os grandes patronos da expressiva importância que Piracicaba ganhou no cenário internacional da música. Para certificar-se disso basta olhar quantos alunos que se iniciaram na Escola de Musica de Piracicaba e hoje são estrelas de grandes orquestras nos mais diversos pontos do planeta. O árduo trabalho do casal Mahle, coadjuvado por inúmeros piracicabanos a cada dia traz mais resultados, provando que investimento em educação a médio e longo prazo é a opção correta. Neste mês de julho, Piracicaba sediou o II Festival Internacional de Música Erudita de Piracicaba. Foi extremamente gratificante á cidade poder assistir as apresentações de alguns ex-alunos da escola que atuam profissionalmente nas mais afamadas orquestras do exterior, entre eles Paulo Rogério Arantes. Nascido em 3 de dezembro de 1956 na vizinha cidade de Americana, filho de Odilon Martins Arantes, protético, e Mercedes Argentim Arantes.
O senhor passou a morar em Piracicaba em que ano?
Em 1971 nossa família mudou-se de São Paulo para Piracicaba, viemos morar em uma casa situada na Rua Treze de Maio esquina com a Rua Benjamin Constant. Tive o privilégio de estudar em um ginásio denominado GEP-3 Ginásio Estadual Pluricurricular, a intenção era proporcionar uma cultura mais abrangente aos alunos, isso incluía o ensino de música e artes plásticas. Lá aprendi a tocar um pequeno instrumento, uma flauta Bloch, mais conhecida como flauta doce. Passei a estudar no Ginásio Dr. Jorge Coury, ao comparar com a escola de onde eu vinha achei esta escola muito chata. Naquela época meninos e meninas que estudavam no Jorge Coury no horário do recreio não se misturavam, cada qual ficava em determinada área do pátio, o mesmo procedimento era adotado ao dirigirem-se ás classes, primeiro entravam as meninas, depois os meninos. Isso foi em 1972. Decidi um dia levar a minha flauta e tocar no período de recreio. Sentei em um cantinho e passei a tocar. A Professora Jandira Ramos, professora de música, passou, me viu e perguntou: “Você gosta de música?”. Disse-lhe que gostava muito. Ela então me perguntou se eu gostaria de me aprofundar no estudo de musica, ao que lhe respondi que estava além das minhas possibilidades, arcar com o custo de uma escola de musica. Ela disse-me: “-Aqui há uma escola de música que dá bolsa de estudo se você for aprender a tocar algum instrumento raro!”. Perguntei-lhe o que era um instrumento raro, e sua resposta foi: “-Fagote, Oboé!” Eu não sabia que tipos de instrumentos eram! Fui com a Professora Jandira Ramos até a Escola de Musica, a secretária disse que havia uma bolsa de estudos para oboé. Ai entra Ernst Mahle na minha vida, fiz o teste, passei e comecei a estudar oboé na Escola de Musica de Piracicaba, hoje Escola de Musica de Piracicaba Ernst Mahle.
Quem foi o seu primeiro professor de oboé?
Foi José Davino Rosa, de São Paulo, me ensinou muito. Parte da pedagogia do Mahle era colocar os alunos tocando em grupo. Após três ou quatro meses de estudo de oboé ele me colocou na orquestra infantil, com 30 a 40 componentes com idade de 7 a 14 anos. Diariamente eu saia do Colégio Jorge Coury, onde estudava na parte da manhã, ia á Escola de Musica onde permanecia o resto do dia.
Qual era impressão dos seus pais com relação ao fato do senhor permanecer por tanto tempo estudando musica?
Meu pai gostava um dia ele ficou preocupado, achava que eu não me alimentava bem. Na verdade à noite eu comia bem. Meus pais me apoiaram muito, embora eu ache que no começo eles não imaginavam que eu me tornaria um musico profissional, e naquela época nem era esse o meu objetivo. Fui para conhecer e acabei gostando. Em 1975 eu já estava em certo nível, foi na época dos festivais de férias, que eu acho uma época de ouro, havia muito incentivo do governo para o acontecimento desses festivais, vinham do exterior professores extraordinários. Em Piracicaba havia o Concurso Jovens Instrumentistas do Brasil, instituído pelo Mahle e Da. Cidinha. Fiz a segunda, terceira e quarta edição nos anos de 1973, 1975 e 1977. Eles tinham dividido o concurso em vários ciclos etários, entrei no segundo ciclo, onde enfrentei instrumentistas com mais tempo de oboé. O objetivo não era ganhar um premio e sim participar, e através dessa participação fazer um programa, isso motivou uma aceleração do progresso técnico, tinha que estudar muito mesmo, e as peças não eram fáceis, vinha participantes de todo Brasil. Em 1974 ocorreu o Festival de Campos de Jordão, que naquele ano foi em São Paulo, e do qual eu participei e gostei muito, realizou-se no Teatro Municipal de São Paulo. Tive o privilégio de participar do concerto final, o professor gostou do meu trabalho e me colocou para tocar a Nona Sinfonia de Beethoven. Em 1975 ocorreu um festival em Curitiba, que foi chave para a minha carreira. Da Alemanha veio o professor Ingo Goritzki, que dava aula em Hanover, fui junto com Luiz Carlos Justi. Éramos oito alunos na classe do professor Ingo, esses festivais tinham como praxe cada aluno tocar uma peça, ele disse que não iríamos tocar a peça, pois isso não adiantaria nada se não soubéssemos a base. Em junho de 1976 ele veio á Brasília, fui até lá, no final do ano Ingo veio á Salvador eu estive lá, em 1977 ele veio a Curitiba, para onde fui de novo e ele me deu uma carta para ir para a Alemanha. Foi decisivo, com ele fui aprendendo, seu objetivo era de formar uma escola de oboé no Brasil. Muitos oboístas que estão hoje por ai foram alunos dele.
Quem patrocinava?
Eram bolsas! Acredito que com as relações que o Mahle tinha no mundo musical e com o bom currículo que tínhamos conseguíamos bolsas, esses festivais eram caros, a mensalidade do meu curso custava o dobro do salário do meu pai. Com a vinda do Ingo todos nós começamos a focalizar a Alemanha. O Luis Carlos Justi foi o primeiro dos oboístas bolsista do DAD que é o organismo de intercâmbio acadêmico da Alemanha, ele foi estudar na classe de Ingo Goritzki. Após receber a carta convite de Ingo fiz o pedido de bolsa, passei a me preparar para ir, tinha que fazer o programa, realizar exames. O irmão do Luis Carlos, o Paulo Justi era professor de biologia no Mello Ayres e aos 25 anos resolveu aprender a tocar fagote. Um dia por acaso, fomos á Praça da Catedral e com um flautista, Cristhian, tocamos, descompromissadamente. Após apresentarmos várias peças, um senhor começou a conversar conosco, pediu para tirar uma fotografia. Não sabíamos, ele era do Jornal de Piracicaba, e publicou um artigo a respeito da nossa apresentação. No domingo seguinte tocamos novamente, o mesmo senhor voltou, e perguntou qual era a nossa finalidade em tocar em praça pública aos domingos. Dissemos então que era para mostrar outro tipo de musica, diferente do samba e ritmos populares. Tocávamos Vivaldi, Bach. O Paulo teve a iniciativa de dizer: “Nós estamos a vontade, quase Ad libitum”. (Ad libitum é uma expressão latina que significa "à vontade”). Esse virou o nome do trio. Na época havia o empréstimo compulsório de 16.000 cruzeiros para o turista que fosse viajar ao exterior. O Paulo, o Cristhian e eu queríamos ir para a Alemanha, mas não tínhamos o dinheiro para realizar esse empréstimo compulsório. Em 1977 houve em Piracicaba o concurso Jovens Instrumentistas, na banca estava um senhor chamado Guniov, que era da Radio Bremen da Alemanha, e amigo da família de Cristhian. Ele nos deu um convite para tocarmos na rádio. Decidimos usar esse convite para sermos dispensados do Depósito Compulsório. Passamos a cuidar dos papéis para a viagem á Alemanha, ocorreram muitas passagens anedóticas em nossa peregrinação pelos mais diversos órgãos oficiais responsáveis pela concessão da isenção do depósito. Fizemos inúmeras viagens á São Paulo, e conhecemos o zelo extremo pela burocracia existente na época. Quando tudo parecia ter chegado ao fim aparecia uma nova solicitação de preenchimento de novos documentos ou autorizações oficiais. O auge foi ter que pedir a assinatura do Secretário da Cultura, do Estado de São Paulo, algo que o funcionário que nos atendia julgava impossível. Felizmente conseguimos, nesses postos há também pessoas dispostas a ajudar. No dia 5 de dezembro seria feita a viagem á Europa, fizemos os papeis, mas estava tudo acertado de nessa oportunidade eu não iria, em função do custo do vôo. No dia do meu aniversário, meu pai perguntou-me o que eu desejava como presente de aniversário. Disse-lhe que nem imaginava, poderia ser uma camisa, ou talvez um barbeador elétrico. Foi quando ele perguntou-me: “-Você não queria ir para a Alemanha?”. Disse-lhe: “-Claro! Só que não temos os recursos!” Foi quando ele respondeu: “- Claro que temos, o dinheiro está na frente da nossa porta!”. Papai tinha um fusquinha 1300, novo, que ele havia adquirido. Sua proposta foi de vender e adquirir um veículo usado. Consultando o Paulo Justi, e realizando os cálculos meu pai disse que dava para pagar a passagem, mas o dinheiro não dava para pagar o período da minha estadia. O Paulo afirmou que muitos amigos poderiam ajudar, comecei a fazer uma vaquinha até surgir 500 dólares, foi interessante como surgiram muitas mãos que me ajudaram. Serviu para mostrar que não somos nada quando estamos sozinhos. Assim fui para a Alemanha para ficar por dois meses.
Isso foi em que cidade?
Foi em Hanover. O tempo foi passando, chegou a hora de voltar ao Brasil, eu deveria retornar á Alemanha em junho, tanto o Ingo como o Luiz Carlos ponderaram que eu deveria aproveitar esse tempo para me aperfeiçoar mais. A minha pergunta foi de que forma eu iria me sustentar na Alemanha. Uma colega, Cornelia Mutzenbecher, tinha alunos de flauta doce, ela propôs que eu assumisse seus alunos e ganhasse pelas aulas. O Luis Carlos disse-me: “Eu tenho alguém que paga o alojamento para você, sob a condição de que essa pessoa se mantenha anônima.”. Muitos anos depois fiquei sabendo que essa pessoa era Dona Cidinha Mahle. A diretora da Casa do Estudante permitiu que eu ficasse lá, embora já não tivesse mais vagas.
Como você se comunicava com seus alunos?
Muito mal! Quando eles falavam e eu não entendia nada. De repente como se ocorresse um “clique” passei a entender da mesma forma que uma criança aprende a falar. O Luis Carlos me passou mais alguns alunos de outra escola. Nisso saiu a bolsa de estudos que eu havia pleiteado. Fui para Freiburg para aprender alemão corretamente. Voltei para Hanover para estudar. No final da bolsa tive que tomar a decisão de voltar ao Brasil ou permanecer na Alemanha. Decidi ficar. Prestei um concurso na Orquestra Sinfônica de Nuremberg, onde ingressei, já era então musico profissional. Continuei estudando paralelamente, junto com Goritzki, até 1982. No começo de 1983 fui para a França, a minha esposa era francesa. Estudei por três anos na Escola Nacional do Raincy perto de Paris, com o professor Alain Denis, lá eu tive contato com o professor Maurice Bourgue, que é um dos nomes com mais peso no oboé francês. Ocorreu a oportunidade de fazer um concurso na Alemanha, na Orquestra Filarmônica de Gelsenkirchen onde permaneci de 1986 até 1989. Ai houve uma surpresa, em Nuremberg há duas orquestras, a Orquestra Sinfônica onde eu já havia ocupado um cargo, outra, maior, é a Orquestra Estatal Filarmônica de Nuremberg que é a orquestra da ópera. Um colega resolveu sair da orquestra para lecionar no conservatório da cidade. Pleiteei, fiz o concurso e estou desde 1989 até hoje.
Quantos músicos compõem essa orquestra?
No momento são 90 profissionais, é um conjunto grande. Nosso teatro foi o primeiro do mundo a montar Der Ring des Nibelungen (O Anel do Nibelungo), de Richard Wagner em Pequim. Até hoje ninguém mais tocou essa obra completa na China. São quatro óperas que Wagner escreveu, chama-se trilogia com um preludio, Das Rheingold (O Ouro do Reno), Die Walküre (A Valquíria), Siegfried e Götterdämmerung (O Crepúsculo dos Deuses), ao todo são 17 horas de música. Tocavamos um dia, no dia seguinte faziamos a pausa, e assim permanecemos por 17 dias na China.
O II Festival Internacional de Musica Erudita de Piracicaba abrange que atividades?
É um curso de férias com concertos com alunos e professores do Brasil e do Exterior. É um excelente acontecimento.

EROTIDES GIL BOSSHARD

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 23 de julho de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: EROTIDES GIL BOSSHARD
A diplomacia é a arte de conversar e se entender com pessoas de culturas e costumes diferentes do seu país de origem. Entre os principais assuntos que os diplomatas tratam, temos assuntos relativos à Guerra, Paz, Comércio Exterior e acordos de cooperação geral entre os países. Embaixadores são uma parte vital das relações internacionais, gestão de pessoal técnico e pessoal da administração é um componente chave para qualquer embaixador. Erotides Gil Bosshard chegou a realizar exames para ingressar na carreira diplomática, no tradicional Instituto Rio Branco, por circunstâncias alheias a sua vontade regressou a Piracicaba. Ele nasceu em Bauru em 4 de janeiro de 1945, é filho de Aristides Bosshard e Meire Alaíde Bosshard. Sua mãe faleceu quando Erotides tinha apenas dois anos de idade, foi trazido á Piracicaba sendo adotado por Lazaro Gil e Carolina Berrini Gil. Fez o curso primário no Grupo Escolar João Conceição, ao lado da Igreja dos Frades. O ginásio cursou no Dom Bosco e o colégio no Sud Mennucci. Erotides Gil conserva as características de um bom diplomata, fluente em diversas línguas, possui um português impecável, vasta cultura geral, deixa transparecer em suas falas um profundo respeito ao ser humano. Jornalista, radialista, advogado com pós-graduação em Direito do Trabalho, administrador de empresas. Especialista em Relações Trabalhistas e Negociação Sindical. Especialista em Direção de Recursos Humanos, pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo. Doutor em Administração de Empresas pela FGV- SP. Foi Chefe de Gabinete dos Prefeitos Luciano Guidotti e Homero Paes de Atayde. Diretor da Imprensa Oficial do Município de 1966 a 1968. Participou de transmissões esportivas importantes a partir de 1962, além de todas as grandes conquistas do XV de Novembro de Piracicaba, futebol e basquetebol, do Bicampeonato Mundial Interclubes do Santos em 1963; da série classificatória do Brasil em 1969 e Copa do Mundo de 1970, entre outras. Hoje continua a atividade no jornalismo esportivo da Rádio Onda Livre, AM, como comentarista de eventos esportivos e coordenador do Programa Esporte Livre Radiofônico às 20 horas das segundas feiras. Além dessas atividades jornalístico-radiofônicas, tem experiência de 37 anos na gestão do Jurídico Trabalhista e de Recursos Humanos em empresas como M. Dedini S/A Metalúrgica do ramo mecânico e metalúrgico, 1974 a 1979; Abril S/A/ Cultural e Industrial, do ramo de fascículos e livros, 1979 a 1982; Indústrias Romi S/A, do ramo mecânico, metalúrgico e eletrônico como fabricante de máquinas ferramenta, 1982 a 1987; Cosan, do setor sucroenergético, administradora das unidades produtoras de açúcar, álcool e energia, e terminais marítimos de açúcar e álcool . Atualmente é Consultor Interno de Recursos Humanos da Abengoa Bioenegia Brasil. Gil é casado com Alba Helena Cera Gil, tem 3 filhos e 5 netos. Está prestes a completar 50 anos de rádio.
Como se deu o seu primeiro contato com o rádio?
Antonio Sidnei Cantarelli tinha um programa na “Rádio A Voz Agrícola do Brasil” instalada na Rua XV de Novembro, na parte superior do prédio onde hoje é o Supermercado Jaú. Ele, o Professor João Chiarini, o Vitti do Jornal de Piracicaba, fizeram um concurso sobre a história de Piracicaba, que já estava se preparando com a antecedência de cinco anos para a comemoração do bicentenário da cidade. Naquela época o programa “O Céu é o Limite”, o Cantarelli resolveu fazer algo parecido. Participei desse concurso, o Sidnei disse que eu tinha boas condições para trabalhar em rádio. Em 1962 comecei a freqüentar a rádio, fui registrado em carteira profissional como funcionário da Rádio Difusora de Piracicaba em 2 de março de 1963. O Cantarelli foi trabalhar na Rádio Difusora e pediu que eu me apresentasse ao Caldeira, que era o gerente, o Seu Figueiredo tinha falecido em outubro de 1962. O Caldeira era o braço direito da Dona Maria Figueiredo, que era quem de fato dirigia a emissora. Antonio Jorge fazia a parte comercial, ele tinha vindo da Record de São Paulo para Piracicaba. Lembro-me que fiz uma gravação com Américo Martani, naquele tempo era em gravador de rolo ainda. Isso era por volta das 11 horas da manhã. Lembro-me que o Caldeira após ouvir a gravação disse: “-Então vai ao microfone!”. As 11:15 a Difusora apresentava o programa “Parada dos Esportes”, sentei-me ao lado de Antonio Ulisses Michi e do Márcio Terra para apresentar o programa, o que fiz de fato, apenas as minhas pernas tremiam demais! Eu tinha quase 17 anos de idade. Na rádio havia programas em horário que ninguém queria apresentar, por exemplo, no domingo pela manhã, a Difusora apresentava das 9 ás 10 horas o programa “Rago, o Mago do Violão”, das 10 ás 11 horas apresentavam-se Craveiro e Cravinho e das 11 ao meio dia o Cobrinha se apresentava. Eu fiz a minha estréia nesse horário, como locutor apresentador. A noite ninguém queria ficar na rádio das 20 ás 24 horas. Eu ficava. Naquela época o Michi tinha um programa de segunda a sexta feira que ia das 22 até as 24 horas, era o programa “Ritmos de Boate”. Quando o Michi passou a trabalhar na Itelpa ele ocupava um cargo intermediário entre gerente e diretor. Acabei herdando esse programa dele.
Havia a participação do ouvinte?
Muita gente ligava, dizendo: “Estamos aqui no aniversário de Fulano, ouvindo o programa”. Eu os imaginava divertindo-se na festa de aniversário e eu na rádio trabalhando. Inventei o primeiro “talk show” do rádio piracicabano. (O radialista realiza entrevistas coletivas e públicas em torno de um tema ou convidado). Eu levava os equipamentos da radio, transmitia e participava da festa. Deixava os textos de propaganda gravados no gravador de rolo e programava com o operador de mesa o momento em que tinha que entrar com os jingles. Euler Pitts Prado era o operador.
Qual foi o local onde você fez o primeiro talk show do rádio piracicabano?
Foi na casa do Senhor Arnaldo Ricciardi, na Rua Santo Antonio, onde hoje funciona o conhecido restaurante Monte Sul. Era a festa de aniversário da Beatriz, a filha mais velha do Seu Arnaldo. A alta sociedade de Piracicaba estava lá e eu quiz participar da festa também! A vida nos ensina muita coisa, mas certas coisas o rádio nos ensina um pouco mais. Eu ia ás festas e as pessoas ficavam em torno de mim, com o microfone na mão eu me movimentava e as pessoas me acompanhavam. Com o passar do tempo fui me tornando mais exigente e fui colocando pessoas em meu lugar. Quando tinha um evento mais importante pedia a um companheiro para ficar no programa “Ritmos de Boate”, enquanto eu ia sozinho á festa. Ninguém me notava! A verdade é que o microfone era o astro, e não eu!
Como funcionava essa operação de transmissão externa do programa “Ritmos de Boate”?
A festa começava por volta das 21:30 ou 22:00 horas, eu chegava, ás 21:00 horas, fazia uma ligação telefonica para a rádio, colocava o famoso “jacarezinho”, na maleta para sair um som com maior qualidade. Eu ia sozinho. Naquele tempo eu ia á Presidente Prudente, sozinho, para transmitir jogo de futebol, levava uma maleta com equipamento funcionando com valvulas, pesando quase vinte quilos. Ia de trem e não reclamava!
Não ocorria muitos defeitos técnicos, pelo fato de ser á valvula?
Na véspera o Américo fazia uma revisão muito eficiente do equipamento. Um vez fui fazer uma transmissão de Santos, não havia transistor e nem bateria, o equipamento era ligado na energia elétrica. Ocorre que a energia em Santos funciona com 220 volts e ele se esqueceu de virar a chave, o equpimento funcionou por uns tres ou quatro inutos e depois passou a soltar fumaça.
Nessas festas que você transmitia eram feitas entrevistas e descritos os trajes e ambientes?
Por tratar-se de uma novidade, muita gente que ia a festa levava rádio portátil para ouvir a transmissão que estava sendo feita daquele local! Eu descrevia o convidado, elogiava o vestido, o bom gosto, eu não descrevia com riqueza de detalhes em termos de moda, apenas dizia que era um vestido bonito, qual era a cor, se tinha alguma pedra, botão todo encapado. Conhecimento de moda eu não tinha nenhum, não tenho jeito pra isso! Muitas senhoras chegavam próximas ao meu ouvido e iam relatando os detalhes próprios da roupa utilizada pela pessoa que eu descrevia. Uma palavra que até hoje me lembro de terem assoprado em meu ouvido era que determinada roupa usava “gripir”! Na hora da transmissão as senhoras da sociedade acabavam por me auxiliar passando detalhes técnicos das roupas de gala utilizadas na festa.
Na época você tinha 18 anos, essas apresentações lhe abriram uma série de portas?
Uma das coisas que credito ao meu trabalho na rádio, foi a relação muito profunda que estabeleci com a família Guidotti. Eu transmitia futebol, e o presidente do XV de Novembro era João Guidotti. Certo dia Luciano Guidotti estava na loja de propriedade do seu irmão João Guidotti, ele me chamou e perguntou se eu não queria assumir o recém-criado Diário Oficial. Eu tinha acabado de completar 21 anos, estava cursando direito e tinha informação jornalística. Fui muito bem assessorado, tinha ao meu lado o Bola, o Osvaldo Sobek, Mauricio Cardoso e Ari Pedroso. Passei a trabalhar como seu chefe do seu gabinete, tínhamos uma amizade muito forte, posso dizer que me sentia filho dele. Ele faleceu em 1968 com 63 anos.
Como era Luciano Guidotti?
O lo humano dele tinha seus erros, era meio estabanado, as vezes respondia meio acre. Lembro-me que quando a sua secretária Maria de Lourdes Azur tirou férias, fiquei com alguns encargos dela, uma vez levei alguns cheques para ele assinar. O cheque do seu salário a Maria de Lourdes já colocava com o verso voltado para cima, ele apenas endossava, eu não sabia, quando ele viu o valor do cheque perguntou-me: “-O que é isso?” Respondi-lhe: “- Esses são seus honorários, prefeito.”. Ele então respondeu: “ Tudo isso! Nossa que roubalheira!” Ele endossava o cheque porque o cheque era depositado em favor ao Lar dos Velhinhos. Nunca, nenhum cheque em nome de Luciano Guidotti foi depositado na conta dele. Apesar do folclore em torno de Luciano Guidotti ele era muito inteligente, muito capaz, muito bem informado sobre os fatos que ocorriam no mundo todo. Era um administrador por excelência. Eu tinha recebido um convite para fazer um curso de pós-graduação em processo penal na Itália, fui conversar com Luciano, foi quando ele me disse: “Acho que você não deve ir, estou no fim do meu mandato, prefeitura é ônus que temos que suportar por amor a nossa terra, mas que não dá camisa para ninguém. Se você for honesto não irá ganhar nada na prefeitura”. Ele abriu a mesa da gaveta dele, mostrou 28 projetos de obras, edifícios, casas, e por incrível que pareça, condomínios fechados, isso em junho de 1968. Ele disse: “Você vai trabalhar comigo quando eu terminar o meu mandato, ai sim você vai ganhar dinheiro”. Um mês depois ele faleceu.
A queda do Comurba foi durante uma das gestões de Luciano Guidotti?
Aconteceu a tragédia no dia 6 de novembro de 1964, sexta-feira, por volta das 13 horas e 52 minutos, eu era responsável pelo jornalismo da Difusora, às 14 horas eu entrava no ar para dar o noticiário de hora em hora, estava na sacada da Rádio Difusora, conversando com Waldemar Bilia, á 50 metros do prédio que ruiu, houve uma explosão e uma enorme nuvem de poeira, quando essa poeira abaixou percebi que o sol estava batendo no rosto do Bilia, foi então que percebi que o prédio havia caído. Disse: “- Bília! Olha o que aconteceu!” Até então não havíamos percebido que o prédio tinha ruído. O Luciano comandava todo o serviço de resgate, dizia-se que ouviam a voz de uma jovem que trabalhava na bomboniere do Cine Plaza. Era o desespero de tirar pedras, caminhões, tratores trabalhando. No domingo, dia 8 o helicóptero rodou e desceu em frente a Catedral de Santo Antonio,era o Governador Adhemar de Barros que tinha chegado. Naquele tempo como é hoje, a Rua Boa Morte começava na Rua Prudente de Moraes, o prédio Comurba ficava entre as ruas Prudente de Moraes e São José, de frente para a Rua Boa Morte. O governador ficou no jardim, já era quase meio dia, um sol de novembro, o deputado Domingos José Aldrovandi que era do PSP na oportunidade, ia até o prefeito e dizia: “- Prefeito! O Governador está ai!”. E o prefeito continuava no serviço de resgate. Constrangido, o deputado conduziu o governador até o prefeito. Ao chegar próximo do prefeito o governador que tinha uma forma estranha de cumprimentar, não estendia totalmente o braço, já estava em sua forma habitual de cumprimentar, o deputado Aldrovandi puxou o prefeito pelo braço e disse: “- Prefeito, o governador!”. Luciano simplesmente respondeu: “- Não dou a mão para ladrão!” e voltou a trabalhar nos serviços de resgate. Dr. Domingos Aldrovandi, muito inteligente contornou a situação. O governador conversou com alguns políticos, embarcou no helicóptero e voltou á São Paulo. Eu estava ao lado, eu ia entrevistar o governador. Nem entrevista teve.
Você foi chefe de gabinete do prefeito Luciano Guidotti e tinha um programa na Rádio Difusora?
Na rádio eu fazia jornalismo, fazia um programa chamado “Parada dos Esportes” das 11:15 até 11:45. E o programa “Sentinela Esportiva” que ia das 18:30 ás 19:00 horas. Eu editorava e redigia os textos do jornalismo.
Quais são as qualidades essenciais de um narrador esportivo?
A primeira coisa ele deve lembrar que o ouvinte não está vendo o jogo, ele tem que dar destaque a emoção para quem está ouvindo, muito mais do que simplesmente narrar a jogada que está ocorrendo. Eu me lembro que aqui no Roberto Gomes Pedrosa, o Xixico chutou uma bola que passou por cima da trave quase foi parar na Rua Santo Antonio, foi uito alto o chute dele, eu disse: “Raspa a trave!” o repórter Fausto Silva, que estava no começo da carreira, comentou: “- Ô louco Gil! Você precisa ir a um oftalmologista!”. O narrador de futebol pelo rádio tem que pintar o jogo. Um narrador da mesma época foi Luciano do Valle, ele trabalhava na Brasil Central de Campinas eu trabalhava na Difusora, chegamos a transmitir vários jogos dividindo a mesma cabine. Os estádios do passado não tinham essa estrutura que existe hoje. Cheguei a transmitir partidas no Maracanã tomando chuva. Em 1963 quando o Santos foi campeão pela segunda vez interrompemos a transmissão porque o nosso equipamento molhou e não tinha mais como transmitir o jogo.
Você conheceu Léo Batista?
Eu já tinha visto em Piracicaba e ouvido João Batista Belinazzo Neto pela Difusora de Piracicaba. Conheci o Leo Batista em 1963 quando recebi uma proposta para fazer esportes na antiga TV Rio, que em 1965 transformou-se na TV Globo. O Embaixador Paschoal Carlos Magno me apresentou á emissora, fui falar com o diretor de esportes, ao abrir a porta disse: “-Belinazzo!” Imediatamente ele me disse: “Aqui sou Léo Batista!”. Cheguei a ficar por dois meses na TV Rio, as minhas condições financeiras não permitiam arcar com as despesas. O meu grande sonho era cursar o Instituto Rio Branco, a escola de diplomacia. O Embaixador Paschoal Carlos Magno me apoiava muito.
Como você conheceu o Embaixador Paschoal Carlos Magno?
Eu estava apresentando um programa do Cobrinha, ele cantou Pierrot, sua interpretação foi tão perfeita, a letra é uma ode, quando Cobrinha terminou eu disse ao microfone: “-Meu Deus o autor dessa música deveria estar inspiradíssimo por algo sobrenatural quando escreveu isso. É um vocativo do amor!”. Fiz o comentário fruto da minha emoção. O programa continuou, isso no auditório da PRD-6, mais ou menos ás 11:50 horas entrou um senhor alto, cabeça branca, sentou-se ao fundo. Acabou o programa ele veio agradecer pelas palavras que eu tinha dito sobre a música Pierrot, ele era o autor: Embaixador Paschoal Carlos Magno, que por 16 anos foi embaixador do Brasil na Inglaterra. Ele tinha sido padrinho de casamento em Águas de São Pedro, estava passeando em Piracicaba com o rádio do carro ligado quando ouviu minhas palavras. A responsabilidade de quem está com o microfone na mão é muito grande.











WLASTERMILER TEIXEIRA DE MATTOS E LUCIANO FURLAN

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de julho de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADOS: WLASTERMILER TEIXEIRA DE MATTOS E LUCIANO FURLAN
No Brasil, o sedentarismo é um problema que vem assumindo grande importância. As pesquisas mostram que a população atual gasta bem menos calorias por dia, do que gastava há 100 anos, o sedentarismo atinge 70% da população brasileira. A atividade física é assunto de saúde pública. Em todo o mundo observa-se um aumento da obesidade, o que se relaciona pelo menos em parte à falta da prática de atividades físicas. É decorrência do estilo de vida moderno, onde grande parte do tempo livre é destinado para assistir programas de televisão e utilizar computadores. Uma pequena mudança nos hábitos é capaz de provocar uma grande melhora na saúde e na qualidade de vida do indivíduo. A atividade física pode também exercer efeitos no convívio social do indivíduo, tanto no ambiente de trabalho quanto no familiar. Não é necessária a prática intensa de atividade física para garantir seus benefícios para a saúde. A realização de exercícios físicos atua no equilíbrio das substâncias relacionadas ao sistema nervoso, melhora o fluxo de sangue para o cérebro, ajuda na capacidade de lidar com problemas e com o estresse. Auxilia na manutenção da abstinência de dependências químicas (álcool, tabaco, etc...) e na recuperação da auto-estima. Há redução da ansiedade e do estresse. A atividade física regular é uma importante aliada no combate a hoje considerada “doença da moda”: a depressão. O Brasil tem alcançado sucesso em diversas áreas esportivas. É inegável a importância do futebol por despertar o interesse da população por esportes, além dos nossos consagrados astros do futebol a cada dia surgem novos atletas brasileiros que se destacam em esportes considerados de elite ou menos populares no nosso país, o que mostra a riqueza da nossa diversidade de valores. Um dos esportes que tem elevado o nome do Brasil no exterior é o Jiu-Jitsu. Diz a tradição que ao norte da Índia, há 2.500 anos, nascia o príncipe Sidartha Gauthama, que mais tarde veio a ser conhecido como Buda - o Iluminado. Com o Budismo, surgiu também o Jiu-Jitsu em virtude da necessidade de defesa dos monges, os quais não podiam portar armas, por motivos religiosos. Dotados de grande conhecimento do corpo humano, criaram o Jiu-Jitsu, que tem na defesa pessoal a sua principal essência, baseados em leis físicas, tais como equilíbrio, momento de força, alavanca, inércia, centro de gravidade. No Japão, o Jiu-Jitsu teve grande repercussão. O Jiu-Jitsu chegou ao Brasil em meados da década de 20, trazido pelo campeão japonês Mitsuo Maeda Koma (o lendário Conde Koma), que aportou no Pará e conheceu Carlos Gracie, a quem ensinou o Jiu-Jitsu na condição de este ser mantido em segredo. Carlos Gracie não só aprendeu a técnica, como ensinou a seus irmãos. Helio Gracie, o caçula da família, veio a ser o grande gênio nessa arte, a ponto de hoje ser considerada como a arte marcial mais completa e eficiente do mundo, no exterior é conhecida como Brazilian Jiu-Jitsu. Em Piracicaba Wlastermiler Teixeira de Mattos, mestre em Jiu-Jitsu desenvolve um trabalho de divulgação dessa arte, aliado ao professor Luciano Furlan, diretor de uma das mais conhecidas academias de Piracicaba. Wlastermiler nasceu em Piracicaba, 06 de agosto de 1975, em Piracicaba, é filho de Herbert Barbosa de Mattos e Maria Cecília Teixeira de Mattos. Luciano nasceu em Piracicaba, a 19 de janeiro de 1980, filho de Antonio Furlan e Luiza Maria Sartori Furlan.
Luciano onde você realizou seus estudos?
A minha formação escolar foi no Colégio Dom Bosco, até ingressar na UNIMEP, onde conclui a faculdade e fiz especialização em Fisiologia em São Paulo.
Cuidar do corpo está na moda?
Há uma grande procura de academias de ginástica por razões de saúde e por razões estéticas também. Hoje a imagem idealizada é a do corpo sarado a famosa “barriga de tanquinho”, vemos as mais diversas atividades físicas realizadas nesse sentido. Algumas pessoas buscam a atividade física inclusive para se livrarem da dependência química de álcool, tabaco. A prática de atividade física é um fator que auxilia muito no combate á essas dependências, algumas pessoas conseguem sucesso, outras não. A participação do Estado como agente motivador de atividades físicas é muito tímida, muitos gastos em saúde feitos pelo Estado em sua rede de atendimento médico poderiam ser evitados ou minimizados se houvesse maior atenção á atividades físicas como preservação de saúde e qualidade de vida.
Há alunos tabagistas freqüentando a academia?
. Estimamos que cerca de 10% dos alunos são tabagistas. Houve uma redução, talvez até em decorrência de campanhas efetuadas conscientizando o usuário do tabaco dos seus malefícios á saúde. É impossível aliar bem estar físico ao alcoolismo ou tabagismo. Atualmente temos quase 1000 alunos na faixa etária de 14 a 70 anos. O aluno com idade mais avançada vem á academia na busca de saúde, qualidade de vida, lazer, ele realiza todo tipo de atividade física que um jovem faz, obedecendo a uma carga adequada, exercícios adequados, próprios ás suas condições físicas, seus limites necessariamente são respeitados, ele recebe uma educação especial do educador físico, do fisioterapeuta.
Há quanto tempo você trabalha nessa área?
Atuo há 10 anos, no Clube de Campo de Piracicaba trabalhei por 7 anos, lá eu era professor de musculação. Simultaneamente eu tinha uma academia na Rua Dona Eugênia. Mais tarde juntamente com o Mário Ângelo de Lima, montamos outra unidade maior, mantendo a da Rua Dona Eugenia.
Há uma migração de associados de clubes sociais e esportivos para academias particulares?
Acredito que sim, principalmente pela especialização das academias, em pessoal em equipamentos oferecidos aos freqüentadores das academias.
Wlastermiler você fez seus estudos onde?
Estudei no Grupo Escolara Barão do Rio Branco, em seguida fui aluno do Colégio Dom Bosco Assunção. Sou formado em Educação Física pela UNIMEP.
Quando iniciou o seu contato com o Jiu-Jitsu?
Foi em 1999, o que me atraiu muito foi a disciplina existente nesse esporte, o Jiu-Jitsu é uma arte, onde o indivíduo mais fraco aprende a defender-se do mais forte através de uma técnica muito aprimorada. Minha atenção foi despertada pelo equilíbrio das pessoas que ensinavam essa arte. Existe um grande respeito entre professores e alunos, a obediência a uma hierarquia é exemplar. Meu mestre é Roberto Tozzi, que possui uma academia em Campinas e outra em Valinhos.
Qual é a sua graduação em Jiu-Jitsu?
Há quatro anos sou faixa preta. Há 4 anos dou aulas, a idade mínima para começar é de 4 a 5 anos, existem freqüentadores de até 60 anos, geralmente são mestres. Eu sempre gostei de esporte, praticava muito futebol, com o tempo passei a me interessar mais pela arte do jiu-jitsu. Temos que observar que o fato de um aluno freqüentar as aulas de jiu-jitsu seja por um dia ou por um ano, não faz dele necessariamente um legitimo praticante da arte. Quem entende a essência do jiu-jitsu evita ao máximo envolver-se em conflitos gratuitos, é uma arte que proporciona mais equilíbrio, calma, paz. Às vezes após um longo dia de trabalho, chego cansado, estressado, assim que estou no tatame deixo ali o stress, a tensão, é prazeroso. Está ocorrendo uma divulgação maior do jiu-jitsu no interior do Estado de São Paulo, é a única arte onde o trabalho entre os competidores é realizado no chão, ela vem complementar uma série de artes marciais onde a disputa é feita em pé. O praticante de qualquer arte marcial que também praticar jiu-jitsu terá pleno domínio sobre seu adversário. Muitos profissionais, das mais diversas áreas e classes sociais têm procurado as nossas aulas, como forma de autodefesa, principalmente pela forma como é ensinado qual deve ser o seu comportamento diante de uma situação de alto risco. Atualmente até as mulheres buscam esse tipo de treinamento, temos um bom percentual feminino freqüentando as nossas aulas.

Luciano, o fato de estar havendo um grande crescimento do número de academias de ginástica, deve-se a maior preocupação com a saúde?

Isso decorre da procura da população por um local onde possa realizar atividades físicas, aliado ao fato de estar havendo um grande crescimento da cidade;

Quando o verão se aproxima há a corrida “ao milagre do corpo sarado” quase imediatamente?

As próprias novelas que mostram cenas com visuais maravilhosos, os atores interpretando suas personagens jogando vôlei, em cenas de praia, as imagens divulgadas por revistas, tudo isso motiva as pessoas a buscarem a forma física tida como ideal. Há pessoas que chegam aqui e dizem: “-Daqui a dois meses vou fazer uma viagem a Porto Seguro e preciso melhorar!” Alguns querem fazer um verdadeiro milagre, e não é assim que funciona! Temos relatos de alguns alunos que em função de freqüentarem a academia deixaram de freqüentarem a noite de forma compulsiva. A atividade física exige disciplina. Isso acaba refletindo positivamente na relação familiar, profissional e escolar.
Há rotatividade de alunos?
Existem alunos que freqüentam pouco tempo e desistem pelos mais variados motivos. Há também alunos que estão a anos conosco. Há casos onde o aluno matriculado deixa a academia por redução de despesas, mantendo em contrapartida hábitos dispendiosos, como bons restaurantes, boas viagens, bons vinhos. O ideal seria equilibrar saúde e lazer.
Wlastermiler essa preocupação com a prática de esportes é maior em outros países?
Por exemplo, os atletas americanos recebem todo tipo de suporte, material, treinamentos, médico. Aqui no Brasil, o cidadão tem um apoio incipiente, quase nulo.
Luciano complementa:
É uma questão de falta de vontade do governo. Uma questão cultural.
Wlastermiler
Acho que já melhorou só que falta muito para chegar ao nível de outros países. Aumentaram ás áreas de lazer. Tenho um projeto apresentado á Prefeitura de Piracicaba, “O Jiu-Jitsu e sua contribuição na inclusão social e no desenvolvimento integral de crianças e adolescentes”, voltado á criança carente, para tirar a criança da rua, da droga. Só que a Prefeitura não aprovou até o presente momento, não consegui nem retorno do projeto. Pode ser falta de verba, pode ser de natureza política. É um projeto muito barato, necessita de poucos recursos. Atualmente trabalho na formação de atletas para competirem em campeonato estadual, brasileiro e mundial. Dou as aulas para quem quiser conhecer a arte. A disputa é acirrada, quando competia conquistei o terceiro lugar na classificação estadual. Deixei de investir na minha formação como atleta de competição para poder investir na parte profissional de formação de atletas. Atualmente estou formando equipes para competição. Meu objetivo é destacar os atletas que se empenharem, irei dar todo o meu apoio á eles. A academia de onde venho, em Campinas, tem cerca de 1000 alunos em jiu-jutsu. Piracicaba tem aproximadamente 300 alunos, é uma arte que está crescendo de forma exponencial.
Qual é a relação entre o judô e o jiu-jitsu?
O judô é uma arte em pé, deu uma queda, pontua e parou. O jiu-jitsu começa onde o judô acaba. Um lutador que conhece as duas artes ele sabe disputar em pé e no chão. Um complementa o outro. Está havendo uma grande migração do pessoal do judô para o jiu-jitsu, surgindo uma nova arte que é o MMA - Mixed Martial Arts. Grandes professores do Brasil estão lecionando na Arábia, Abu Dabe, Europa, Estados Unidos. Um grande amigo formado comigo está dando aulas na Califórnia. Infelizmente eles saem do Brasil para formar novos valores em outros países por causa do apoio que recebem no exterior. Hoje a família Grace tem forte atuação nos Estados Unidos, Inglaterra, Japão.
Você tem noticias se policiais treinam jiu-jitsu?
Por dois anos dei aulas á um grupo de policiais militares, soldados, sargentos, tenentes.
Quem pagava essas aulas?
Os próprios alunos, do bolso deles.
O Bullying é um termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, que constantemente a mídia expõe como fato comum em alguns ambientes escolares, o jiu-jitsu pode ser a solução?
Com certeza deixaria de existir! O esporte socializa aquilo que ás vezes o aluno leva como ofensa, se estiver integrada a pessoa nem leva muitas brincadeiras como ofensa. Muitas ações tomadas de forma prejudiciais poderiam ser canalizadas para o lado positivo, com a ajuda do esporte.

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