sábado, dezembro 27, 2014

MARIA LAURA COSTA AGGIO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 20 dezembro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADA: MARIA LAURA COSTA AGGIO

 

 Maria Laura Costa Aggio nasceu a 1 de junho de 1946, na cidade de Pirassununga,  é filha de João Aggio Neto e Hermínia Costa Aggio, que tiveram também os filhos João Carlos e Carlos Alberto.  Seu pai era desenhista do hoje IBAMA, antes denominado Superintendência de Pesca (Sudepe), ele ilustrava livros técnicos de piscicultura. Era um verdadeiro artista, reproduzia com perfeição todas as espécies e evoluções de peixes existentes no Brasil. Eram ilustrações feitas a “bico de pena”, que permite aos artistas usufruir facilmente do chamado "efeito fino-grosso" do traço.  A letra existente na famosa “Caninha Pirassununga” é obra dele, foi ele quem fez o primeiro rótulo da famosa aguardente “51”. Além de excelente artista era também advogado, concluiu a faculdade com 59 anos. Maria Laura casou-se com Paulo Hyppolito de Oliveira em 1 de novembro de 2007.

Em que escola você estudou em Pirassununga?

Estudei no Instituto de Educação Pirassununga, desde o grupo escolar até o Curso Normal, o hoje denominado magistério. Formei-me como professora.

Pirassununga na época era uma cidade relativamente pequena?

Era uma cidade relativamente pequena, mas dotada de instituições reconhecidas não só no Brasil como no exterior. Em 1971 a Academia da Força Aérea (AFA) foi transferida para suas novas instalações em Pirassununga, município que reunia as melhores condições de clima e temperatura de todo o país para a prática de atividades de instrução aérea. da Força Aérea (AFA). Em Pirassununga está o 13º Regimento de Cavalaria Mecanizada ou Esquadrão Anhangüera, aprendi a nadar no quartel, não havia outra piscina na cidade. O meu pai tinha excelentes relações de amizade com os oficiais que nos convidavam para nadar. Aos dois anos de idade aprendi a nadar nessa piscina. Papai e mamãe gostavam muito de natação, fizeram a travessia de São Paulo a Nado, na época da Maria Lenk (Maria Emma Hulga Lenk Zigler principal nadadora brasileira, a única mulher do país a ser introduzida no Swimming Hall of Fame, em Fort Lauderdale, Flórida). Meus pais eram amigos da Maria Lenk.

Como era essa Travessia de São Paulo a Nado?

Era no Rio Tietê. Eles nadavam em uma piscina de madeira dentro do Rio Tietê. A Travessia de São Paulo a Nado era o mais badalado evento esportivo do rio e chegou a reunir 1.900 atletas. O Clube não tinha piscina. Para treinar seus nadadores e jogadores de pólo aquático, o clube, mandou fazer uma 'piscina' de 25 metros de cumprimento por uns 10 de largura. A 'piscina' consistia em dois pontões de ripas de madeira ( mais  ou  menos de 10 cm de largura e 10 metros de cumprimento, formando um retângulo). Em baixo desse pontão eram colocados tambores vazios de óleo de 200 litros. Com isso, os pontões flutuavam à beira do rio, em uma distância entre eles de 25 metros. Entre os pontões eram colocadas raias dando a impressão perfeita de uma piscina de concreto. Ali treinavam seus nadadores e jogadores de pólo aquático.
Para os sócios havia duas 'piscinas' que eram feitas da seguinte maneira: construíram uma espécie de gaiola com 1,20 de profundidade com beiradas que formavam uma espécie de corredor.  Era um retângulo de 15 metros de cumprimento, 10 de largura e 1,20 metros (uma) e 1,80 metros (a outra) de profundidade com ripas que tinham cerca de 10 centímetros de largura e deixaram um espaço entre elas para que a água entrasse. Os corredores eram feitos de tábuas que ficavam juntas umas às outras, formando um passadiço (abaixo desses passadiços eram colocados tambores vazios).
O fundo da 'piscina' era também de ripa. Essa piscina era feita de ripas de madeira e tábuas nas beiradas formando corredores em volta. Duas dessas 'caixas de sapatos' enormes eram colocadas à margem do rio e nelas, os sócios nadavam e brincavam.

Você chegou a nadar no Rio Tietê?

No Tietê não, competi em natação por uns cinco anos. Medalhas de ouro devo ter umas trinta. Minha mãe tinha muitas medalhas que conquistou na natação, ela e papai nadaram muito com Maria Lenk. Eles eram sócios do Clube Tietê moravam em São Paulo. Meu pai nessa época trabalhava no bairro Água Branca. Depois foram morar no Rio de Janeiro, em 1941 eles estava morando lá, na Praia de Icaraí, em Niterói, meu pai trabalhava junto ao entreposto de pesca. Após permanecer um tempo no Rio de Janeiro meu pai foi transferido para Pirassununga que foi quando nasci.

Até que idade você morou em Pirassununga?

Até uns 22 anos. A diversão dos jovens era “quadrar o jardim”, a rua do comércio era a Rua Duque de Caxias, Rua XV de Novembro.

Como eram os desfiles comemorativos a 7 de Setembro em Pirassununga?

Meu irmão Carlos Alberto era o instrutor da fanfarra. Eu era baliza. Isso no Instituto de Educação Pirassununga. Nessa época eu estudava balé com a Dona Muni, uma alemã. Como baliza eu dava salto mortal no quarteirão inteiro, durante o trajeto, a luva branca em pouco tempo já estava negra. Nos aniversários de cidades vizinhas como Leme, Araras, Porto Ferreira, nós íamos desfilar. Era uma fanfarra grande, muito bonita, toda uniformizada. Eu usava um tênis branco e uma polainazinha. Desfilei dos onze aos quinze anos.

Você participava dos bailes de carnaval?

Sempre ganhava premio, na maioria das vezes prêmio de originalidade. Minha mãe entrava no “quarto dos milagres”, aquele quarto onde guardamos um pouco de tudo, aos oito meses eu já estava fantasiada de Carmem Miranda, com tamanquinho de cortiça. Outro dia fui de coelhinha. Fui premiada! Ia no colo da minha mãe. Naquela época não havia carros alegóricos, tínhamos o chamado corso. Isso tudo ocorria dentro do Clube Pirassununga, onde inclusive papai foi presidente por duas vezes. Depois fui fantasiada de Marilyn Monroe, minha mãe desfiou fez a tanga, o bustiê, tudo com saco de estopa. Ganhei em primeiro lugar na categoria originalidade. Eu tinha uns sete anos, era loirinha. Outra ocasião fui fantasiada de Nega Maluca. Ganhava sempre na categoria originalidade. Eu gostava muito de dançar nos bailes de carnaval. A última fantasia que usei foi de múmia, meu pai tinha um mosqueteiro que usava quando viajava para o Mato Grosso, cortei em tiras largas, fui para o clube, toda enfaixada, tive que ir em pé, a sorte é que sou baixinha, o carro que me levou era um fusca! Por baixo eu estava com um pijama, era um calor insuportável, tomava líquido (água, refrigerante) através de um canudinho. Foi uma fantasia bem original, ganhei em primeiro lugar!

Os jornais publicavam?

Acho que nem tinha jornais em Pirassununga ainda, as fotografias ficavam expostas no próprio clube. Participei de bailes de carnaval até os meus 18 anos.

Para externar essa animação e alegria toda, você ingeria algum tipo de bebida alcoólica?

Nunca bebi nada de álcool. Na época era permitido o uso de lança-perfume, nunca utilizei esse tipo de estimulante. Alguns inalavam propositadamente e tinham paradas cardíacas. A minha alegria era espontânea! Eu acho que é uma injuria muito forte à Deus o uso de estimulantes, ele já nos deu o dom de sermos alegres. Se sentir-se constrangido em pular carnaval então não vá! Antigamente havia um grande respeito em bailes de carnaval, as famílias acompanhavam os filhos. Com o passar do tempo as coisas foram mudando. Perdi o entusiasmo em participar de bailes de carnaval.

Você tinha alguma atividade artística além do balé?

Pintei várias telas, cheguei a expor aqui no Clube Cristóvão Colombo, em Piracicaba,  onde sou sócia remida. Toquei piano por uns dez anos, hoje toco teclado. Tive aula coma a Cecília Belatto. Quando morei em Campo Grande quando íamos aos restaurantes almoçar ou jantar tinha aqueles conjuntos com artistas tocando harpa paraguaia, dois violões, contrabaixo. Havia também o Baile do Grito e o Baile do Fazendeiro. No meio do baile aquela harpa paraguaia! Davam uns gritos melódicos. Aquilo é típico de Campo Grande!  Dançava-se muito. Aqueles fazendeiros de terno, com a mão calejada da lide no campo. Tinha um deles que era conhecido como Zé do Boi, diziam que vendia boi por hora.

O que é vender boi por hora?

Diziam que abria a porteira e passava boi marcando o tempo e não número de animais, é o chamado “boi por hora”. 

Até que idade você permaneceu em Pirassununga?

Até meus 22 anos. Meu pai foi transferido para Campo Grande e mudamos para lá. Isso foi em 1968. Era uma cidade muito boa, tinha 70 anos de fundação. Eu tinha concluído o Curso Normal, após dois anos prestei o vestibular e entrei em medicina e odontologia de Campo Grande.

Como surgiu essa vocação para odontologia?

Fiz o vestibular para medicina e odontologia e entrei na Universidade Estadual de Mato Grosso. Eu tinha o dom de esculpir, me identifiquei mais com a odontologia. Eu estava cursando a faculdade, meu pai aposentou-se, e quis voltar a morar em São Paulo novamente.

Quanto tempo você morou em Campo Grande?

Foram quatro anos. Lecionei em uma escola particular: “O Reizinho”. Quando mudamos para Piracicaba fiz quatro provas para poder transferir-me para a Faculdade de Odontologia de Piracicaba, tirei dez em todas as provas. Isso foi em 1972. Sempre fui boa aluna, em Campo Grande era primeira aluna. No vestibular eu tinha passado em terceiro lugar. Aqui em Piracicaba havia cinco candidatos e eu consegui a vaga. Tive que fazer prova escrita, oral e teórica. Um dos componentes da banca examinadora foi o professor doutor Mauro Antonio de Arruda Nóbilo. Aqui tive aulas de ortodontia com o  professor e ortodontista Darcy Flávio Nouer, Dr. Miguel Morano Júnior, Dra. Clotildes Peters. O diretor era o Dr. Plínio Alves de Moraes. O primeiro consultório em que trabalhei foi no da Clotildes. Ela foi muito bacana comigo, eu não tinha ainda como montar meu consultório.

Você formou-se em que ano?

Foi em 1973. Trabalhei no consultório da Dra. Clotildes e trabalhei também no SOM – Serviço Odontológico da Prefeitura. Com o Dr. Gentil Calil Chain. Trabalhei na unidade de Tanquinho, no Centro Social Caritas. Trabalhei em diversas unidades da zona rural. Após dois anos montei meu consultório na Rua Benjamin Constant, em frente a antiga agência Ford. O dentista se não tiver um consultório montado, que custa o preço de um veículo, ele não tem como trabalhar. No início adquiri um consultório da marca Odontobrás, trabalhei um bom tempo com ele, depois é que adquiri um Dabi Atlante. Doei para o Lar Franciscano de Menores o consultório Odontobrás. Quando parei de trabalhar doei o Dabi Atlante para o Centro Social Caritas.

Quantos anos você trabalhou como dentista?

Foram 26 anos. A minha mãe era a minha enfermeira, ela trabalhou comigo por 23 anos. Ela aprendeu tudo, instrumentava. Tinha um banquinho para mim e outro para ela, trabalhávamos a quatro mãos. Minha especialidade era dentistica estética e reabilitação oral. Fiz uns dois anos de endodontia.

Em média quantos pacientes você atendia por dia?

Eu sempre trabalhei em pé, odontologia em si é um trabalho muito cansativo. A coluna sente muitas conseqüências. Isso porque não sou uma pessoa alta. A postura em que o dentista trabalha é sacrificante. Em média atendia um paciente por hora, quatro pela manhã e quatro a tarde. Quando trabalhei na prefeitura começava a trabalhar às sete horas da manhã e depois ia para a zona rural, Tanquinho, quem me levava era o motorista da prefeitura, o Seu Vitório. Eu voltava, almoçava, atendia meus clientes no consultório e ficava às vezes até as onze horas da noite. Depois mudei da Rua Benjamin Constant e adquiri minha sala no Racz Center e fiquei lá até 2000.

A seu ver qual é o maior problema da saúde bucal do brasileiro?

Em minha opinião, eu acho que a saúde bucal do brasileiro é conseqüência da própria educação. Se o Estado tivesse mais cuidado com a saúde do brasileiro a primeira medida seria instituir postos de odontologia. Educação básica de higiene bucal.

Nós temos na Faculdade de Odontologia de Piracicaba um “escovódromo” onde são dadas noções básicas.

Nós temos aqui, mas tem cidades que nem pensam nisso! De uns dez anos para cá estão se preocupando mais. É uma questão cultural. A boca é a entrada da saúde do ser humano.

A saúde bucal pode afetar inclusive a saúde cardiológica?

Pode afetar. Se tiver uma periodontite, muito pús. Pode dar uma endocardite.

Qual é a idade em que a criança deve aprender a escovar os dentes?

A partir dos dois anos, a criança quando começa a andar, a entender um pouco as coisas, nem que ela morda um pouco a escova, mas já educar, a ensinar.

Qual é a forma de escovação correta dos dentes?

Deve-se usar uma escova sempre macia, colocar pasta sem excesso, a escova tem que ser macia porque escova também a gengiva. Que entre nos espaços inter dentais. Na arcada dentária inferior, escovar de baixo para cima, levantando sempre a gengiva no dente. Massageando a gengiva para o dente. E na arcada dentaria superior massageando a gengiva para baixo.

Deve-se escovar o céu da boca?

O céu da boca deve ser escovado assim como a língua. Temos milhares de bactérias na boca. Não adianta escovar os dentes e não escovar o céu da boca e a língua. Sobrou bactéria lá!

Existe uma gama enorme de produtos utilizados como anticépticos bucais, qual é o mais indicado e acessível à população?

É o mais antiácido.

Algum produto “caseiro” pode ser utilizado?

Por muito tempo foi muito utilizado o bochecho de meio copo de água com uma colherinha de bicarbonato de sódio. Funciona. Só que não se deve esfregar o bicarbonato no dente porque ele é corrosivo, tira o esmalte.

Há uma história que afirma que algumas poucas gotas de água oxigenada diluídas em água pode ser eficiente, é lenda?

É bom quando se tem gengivite. Bochechos com Malvona é eficiente e tem um custo  acessível. A água oxigenada só pode ser utilizada se for 10 volumes, não pode usar aquela que se usa em cabelo. Não colocar mais do que quatro gotas em meio copo de água. Fazer o bochecho e cuspir, jamais engolir.

Há dentistas que acordam, tomam um belo café da manhã, escutam pássaros cantando, vão ao seu consultório, ao atender o primeiro paciente quando o mesmo abre a boca parece abrir uma boca de lobo, já aconteceu isso com você?

A gente passa até a não sentir mais o cheiro. A rinite ataca tanto com o cheiro de resina que neutraliza. Na realidade a gente sente, usa-se a mascara. O mau hálito pode ser tanto dos dentes, do estomago como até intestino. Às vezes tem pessoas que não tem nem cárie. Quando detectamos esse tipo de situação aconselhamos que consulte um médico gastroenterologista.

Quem tem mais problemas odontológicos o homem ou a mulher?

A mulher tem mais problemas em ortodontia. Posicionamento dos dentes. Isso é transmitido aos filhos mais pela mãe. Pelo menos na minha época estudávamos isso, que a hereditariedade maior é da mãe para o filho. Carie é uma incidência com hereditariedade maior transmitida pelo pai.  

Você chegou a pegar a fase em que o paciente pedia para extrair todos os dentes?

Tive um caso em que um médico neurologista, já falecido, mandou-me uma solicitação de extração de todos os dentes de um jovem de 19 anos. O rapaz não tinha uma cárie, mas estava com uma gengivite terrível, uma periodontite avançada. Examinei, mandei uma carta para o médico, comunicando que ele não tinha nenhum problema nos dentes, e sim na gengiva em decorrência do medicamento que ele estava receitando ao jovem. Quase todos os psicotrópicos causam gengivite. Eu tinha o Cavitron (ultrassom), tirei todo o tártaro, deixei linda a gengiva dele.

O que é psicotrópico?

São remédios que vão para o sistema nervoso central.

Hoje o Brasil é o país que consome a maior tonelagem de um determinado medicamento antidepressivo.

É mania! Às vezes não é necessário! Um medicamento mais suave pode resolver.

Porque o brasileiro tem tanto medo de ir ao dentista?

Porque antigamente o tratamento era sem anestesia, esse sentimento passou de pai para filho. Normalmente o local de trabalho eram as barbearias onde havia os barbeiros ou tiradentes. Não se tratava, tiravam o dente, na época não havia anestesia. Hoje isso mudou muito, as crianças estão indo ao dentista e gostando de tratar dos dentes. Muitos são exemplos para os próprios pais. Cuidam mais, tem um poder aquisitivo melhor. O dentista tem que usar um bom material para poder fazer uma boa odontologia.

Há alguns dentistas que durante o procedimento sem perceber acabam criando uma situação inusitada. O paciente com a boca imobilizada, com algodão, não tem como dialogar, mesmo assim cria-se um monologo.

Realmente, em alguns casos cria-se um monologo, o dentista pergunta e ele mesmo responde aquilo que o paciente iria responder. Tem uma passagem, verídica, quando eu estava na faculdade, tinha um colega fazendo uma cirurgia e nós estávamos assistindo, ele estava extraindo um molar, são três raízes, uma é a raiz palatina, se na extração quebra a pontinha dessa raiz tem que ser feita uma cirurgia maior, ao extrair, quebrou e foi no seio maxilar. A pontinha da raiz estava em comunicação com o seio maxilar. O professor tirou a radiografia. A paciente era uma senhora, de seios fartos, um decote acentuado em seu vestido. O professor examinando a radiografia disse ao aluno: “-A raiz caiu no seio”. (Ele queria afirmar que tinha caído no seio maxilar). Imediatamente a senhora prestativa disse: “Pode deixar, eu a pego e dirigiu sua mão ao decote”.

PAULO HYPPOLITO DE OLIVEIRA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 06 dezembro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
 

ENTREVISTADO: PAULO HYPPOLITO DE OLIVEIRA

 

O Lar dos Velhinhos de Piracicaba, a Primeira Cidade Geriátrica do Brasil abriga pessoas que têm uma sabedoria imensa, adquirida através de experiências vividas ao correr dos anos. Muitos irradiam felicidade, espantam os fantasmas da depressão com a simples alegria de viver. Casado em segundas núpcias com a dentista Dra. Maria Laura Costa Aggio, Paulo Hyppolito de Oliveira nasceu a 6 de dezembro de 1927 na Fazenda Capoava, em Porto Feliz. Seu avô paterno veio como imigrante alemão aos oito anos de idade, tendo seu nome aportuguesado. Paulo é filho de Antonio Kerches de Oliveira e Maria Antonia de Oliveira que tiveram os filhos: João, Benedito, José (Zéca), Paulo, Maria José, Olga, Lourdes, Maria Iraides.  Seu pai era proprietário de uma fazenda onde era cultivado principalmente café. Com a "quebra" da Bolsa de Valores americana em 1929, o Brasil teve a primeira grande crise de superprodução do café, seu pai vendeu a fazenda e aplicou os valores apurados em imóveis na cidade de Porto Feliz.

Em Porto Feliz a família passou a morar em que local?

Entre as propriedades adquiridas, uma delas foi uma chacara dentro da cidade. Mesmo tendo seu sustento e da familia assegurados, meu pai continuava a trabalhar na roça, ele gostava de trabalhar.

Em PortoFeliz o senhor concluiu o curso primário?

No quarto ano primário sofri um acidente grave. Por um verdadeiro milagre não tive que amputar a perna direita. Ainda menino, fui nadar em um tanque vizinho a nossa chacara, em uma briga de criança, um dos meninos atirou uma colher de pedreiro que estava abandonada no local. A ponta da colher cravou no meu joelho provocando uma profunda lesão. Nessa época eu tinha sete anos. Os recursos médicos eram precários. Dr. Sacramento, primo da minha mãe, foi quem cuidou de mim.

Quanto tempo demorou para curar?

Foi um longo tempo, cerca de um ano, fomos á Pirapora, tinhamos feito essa promessa. Mesmo acidentado conclui o quarto ano primário, a professora era Dona Filomena. Nossa família era muito bem conceituda na cidade, lembro-me que eu era reconhecido como “filho do Hyppolito”. Quando eu tinha dez anos meu pai faleceu. Minha mãe tinha um irmão, Alberto Paes de Arruda, que morava em São Paulo, era gerente da fábrica de fechaduras La Fonte, por sinal ele foi o responsável pelas fechaduras terem esse nome “La Fonte”. Ele era o mestre da fábrica. (Atualmente a La Fonte Participações S. A. é uma holding brasileira que controla empresas como a Iguatemi Empresa de Shopping Centers S.A., o Grande Moinho Cearense e é grande acionista de empresas de telecomunicações. Seu controlador é Carlos Francisco Ribeiro Jereissati).

O senhor lembra-se quem era o proprietário da empresa na época?

Não me lembro, sei apenas que eram muito ligados ao Governador Adhemar de Barros.

Em que bairro de São Paulo localizava-se a La Fonte?

A principio era na Vila Mariana, depois mudou-se para o bairro de Santana, quem seguia para o final da Rua Voluntários da Pátria, á direita era a fábrica. No início fui sozinho morar com a família do meu tio. Fiz o curso de ajustador na La Fonte. Tinha uns doze anos na época. Minha irmã Maria mudou-se para São Paulo, Eu trabalhava na La Fonte, tinha uns quatorze anos, foi quando Adhemar de Barros (nascido em Piracicaba a 22 de abril de 1901) pediu que ajudasse em sua campanha política. O comitê político de Adhemar Pereira de Barros era no centro de São Paulo. Cheguei a ir muitas vezes ao Palácio dos Campos Elísios (antigo "Palacete Elias Chaves"), situado na Avenida Rio Branco. Ajudei em duas de suas candidaturas. Nessa época que conheci sua esposa, a Dona Leonor Mendes de Barros, através de sua ajuda é que fiz a preparação para ingressar no curso ginasial na famosa escola Caetano de Campos,  na Praça da Republica. Mais tarde conheci Paulo Maluf.

Mas o Dr. Adhemar de Barros e Paulo Maluf tinham bom relacionamento?

De nenhuma forma!

Quando o senhor trabalhou para o Adhemar de Barros ele já era proprietário da Chocolates Lacta?

Já era dono da Lacta.

Foi no período em que ele construiu o Hospital das Clínicas de São Paulo?

Também! Adhemar de Barros construiu muita coisa em São Paulo. Da mesma forma que Paulo Maluf também construiu. Assisti a muitos comícios de Adhemar de Barros.

Após a La Fonte onde o senhor foi trabalhar?

Fui trabalhar na fábrica de fogões a gás Dex. Acabei me especializando em fogão elétrico, com termostato, da mesma marca. Trabalhei desde fogão a querosene até fogão elétrico. Eu dava manutenção a todo tipo de fogão, viajava muito, lembro-me que fui até Araras no convento das freiras, arrumar o fogão para elas. Fogão indústrial. Eu tinha facilidade para descobrir a origem dos defeitos. Quando o fogão a gás começou a ser utilizado era o desejo de todas as famílias possuir um. A Dex fazia fogões também para gás encanado(gás de rua). Eu instalava esses fogões de gás de rua.  A presssão do gás é completamente diferente.

O senhor dava manutenção à hoteis, restaurantes?

Lembro-me de uma passagem, fui dar manutenção em um fogão no Restaurante Fasano, um templo da gastronomia até hoje, naquela época ele situava-se na Avenida Paulista. Eu cheguei quase na hora do almoço, Era um fogão enorme. Com a experiência e prática que eu tinha consertei rapidamente, mas tirei uma lição que nunca mais esqueci, presenciei uma cena onde vi que nenhum cozinheiro gosta de ser criticado pelo prato que preparou para o cliente. Nos bastidores eles ficam muito irritados se o pedido não saiu de acordo com o que o cliente pediu. Ao meu ver parece ser uma regra em todos os locais que servem refeições. Meu conselho é se o prato que você pediu não saiu a seu gosto, deixe-o de lado ou se estiver com muita fome coma assim mesmo.

Em primeiras nupcias o senhor casou-se em São Paulo?

Não, casei-me com Wanda Ribeiro de Oliveira, minha primeira esposa, em Capivari, o meu sogro trabalhava na Casa da Lavoura em Capivari. Tivemos quatro filhos: Paulo, Elzio, Ana Maria e Ana Paula. Fiz concurso para ser Despachante Policial, passei, e prestei serviços a muitas pessoas, inclusive para políticos como Paulo Maluf, Orestes Quercia.a atleta Hortência. Por muitas vezes vi Jânio Quadros. Em minha atividade como despachante fazia de tudo, vistos de viagem, passaportes, naturalização, permanência em país estrangeiro. Cheguei a ter vários escritórios funcionando simultâneamente, era conhecido como Hyppolito Despachante, comecei a trabalhar dentro de uma concessionária de veículos na Avenida Lins de Vasconcelos, depois passei a ter uma equipe de funcionários, inclusive um deles hoje é funcionário na Rede Globo. Fiz a naturalização de muitos alemães que vinham de Santa Catarina até São Paulo para se naturalizarem. Naturalização é um processo muito trabalhoso.

Para quais localidades eram emitidos o maior número de vistos em passaportes?

Para os Estados Unidos e para a Itália.

O senhor chegou a conhecer algum membro da família Matarazzo?

Trabalhei para eles. Cheguei a ver o Conde Francisco Matarazzo. Eu tratava diretamente com um senhor conhecido como Casagrande, que cuidava dessa parte de documentação da família, conheci a mansão da família Matarazzo na Avenida Paulista. Tive muitos amigos que era do circulo de amizade de Getulio Vargas.

Com toda a vivência que o senhor têm, qual é a visão do senhor sobre a justiça social no Brasil?

Sempre achei que a justiça social deixa muito a desejar em nosso país.

No período da Revolução de 1964 o senhor por dever de ofício tinha que frequentar repartições públicas, com isso conheceu de vista figuras de destaque?

Conheci pessoas que estavam na mídia da época, embora o contato direto não fosse com eles e sim com funcionários burocraticos. Eram pessoas temidas, como Ségio Paranhos Fleury. Conheci Romeu Tuma, o qual sempre me passou uma boa impressão. Luiz Inácio Lula da Silva conheci fazendo discurso em palanque. Eu não me envolvia em política. Limitava-me ao meu serviço de despachante. Era bem quisto por todos os setores.  Tinha que ter uma conduta irrepreensível para ser respeitado.

O senhor atuou como ator em uma peça de sucesso?

Em São Paulo eu morava ao lado de um local onde havia um centro religioso. A peça era “Auto da Compadecida” de Ariano Suassuna. Interpretei o bispo, a peça todas as vezes em que foi apresentada foi interrompida pelos aplausos do público. Foi um sucessso! É um drama nordestino apresentado em três atos. Contém elementos da literatura de cordel e está inserido no gênero da comédia, se aproximando do barroco católico brasileiro. Ensaiamos bastante e apresentamos no Teatro Arthur Vila Nova.

Qual é a importância para uma pessoa participar da encenação de uma peça?

Considero muito importante. Desenvolve maior compreensão dos momentos que se passa na vida. Desinibe o ator, a pessoa aprende a ficar mais desenvolvida. Desde que seja um bom texto eu recomendo que se pratique o teatro, em qualquer idade.

O senhor viveu um período nos Estados Unidos?

Residi na Flórida, por aproximadamente dez anos. Minha filha Ana Paula casou-se, tem um filho e mora naquele país.

Nesse período o senhor dirigia veículos de passeio da família?

Dirigia, o trânsito lá é maravilhoso! Dirigi até no centro de Nova Iorque. Qualquer garoto consegue dirigir em um transito daqueles.

E a alimentação nos Estados Unidos, o que o senhor achou?

Eu gostava, fazia minha própria comida!

O senhor é bom cozinheiro?

Dentro do limite do que sei fazer me considero um bom cozinheiro.

Qual é o prato que o quando o senhor faz ninguém quer deixar de comer?

A lasanha!  Em uma ocasião adquiri para uma das minhas filhas um local no ponto de alimentação do Shopping Tatuapé, chamava-se “Coxinha e Cia.”. Eu fazia a lasanha, vinham pessoas da Lapa, um bairro relativamente distante, para adquirir a lasanha. O meu neto nos Estados Unidos foi comigo em um local famoso pela lasanha, ele começou a comer, quando disse-me: “ Vô, porque não é igual a sua lasanha?”. Acabou deixando-a no prato.

O americano alimenta-se mal?

Muito mal!

O senhor fala inglês?

Na Flórida, pela influência de um grande número de imigrantes latinos, o idioma muito utilizado é o espanhol. Era nesse idioma que eu me comunicava quando ia fazer compras no mercado. Em 2001 foi a primeira vez que fui para os Estados Unidos. Eu estava lá quando ocorreu a queda das Torres Gêmeas. Foi indescritível o comportamento da população, mesmo estando na Flórida.

O senhor tem um tipo físico característico, a primeira vista imaginavam que sua origem era de qual país?

Por diversas vezes fui tratado como sendo originário da Itália.

Tendo a oportunidade de observar o comportamento do americano e conhecendo a nossa realidade, o senhor vê alguma possibilidade de haver uma aproximação maior entre os dois países?

São formas distintas de comportamento. Tanto o Brasil como os Estados Unidos tem visões muito diferentes de aspectos básicos.

O seu otimismo, seu bom humor, influencia na sua qualidade de vida?

Sem dúvida!

O senhor gosta de escrever?

Gosto, meu assunto preferido é sobre política, mas tratando-a de uma forma irreverente. Sou membro do Clube dos Escritores de Piracicaba.

A crítica política feita de forma cômica é a que produz resultados?

Funciona, sem dúvida.

Há um célebre e conhecido ditado que diz que: “Colhe-se o que se planta”. Em seu ponto de vista isso acontece de fato?

Acredito, sem duvida!

O senhor gosta de ler?

Gosto muito! O meu tema preferido é filosofia. Gosto de ler Paraíso Perdido de John Milton. (Paraíso Perdido (em inglês: Paradise Lost) é uma obra poética do século XVII, escrita por John Milton, originalmente publicada em 1667 em dez cantos. Uma segunda edição foi publicada em 1674 em doze cantos, em memória à Eneida de Virgílio com revisões menores ao longo do texto e notas sobre os versos.) Pronto! Está aqui o livro traduzido em português. É um livro formidável. Essa frase é profunda: “Ninguém, exceto Deus, ao justo pode calcular o valor do bem que encara”.

ELIAS SALUM


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 22 novembro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADO:  ELIAS SALUM

 


Elias Salum nasceu em Piracicaba a 20 de agosto de 1929. Filho de Issa Salum e Jamile Abdalla Salum que tiveram os filhos Antonio, Pedro,  Faride, Elias, João. Elias Salum é Ex-membro do Conselho de Ensino e Pesquisas da Unimep, Membro fundador do Primeiro Diretório da E.C.A. – Escola de Contabilidade e Administração, origem da Unimep, Ex-Chefe do Departamanto Municipal da Educação, Ex-Gerente Administrativo e Financeiro da CIPATEL, Companhia Telefônica de Piracicaba, Radioamador Classe “A”, remido da LABRE. Fundador de vários grupos de escoteiros em Piracicaba, Limeira, Americana, Fundador do Primeiro Jornal “O Funcionário Público” da municipalidade local. Membro do Conselho de Sentença do Fórum de Piracicaba. Membro fundador da ADERP (Associação dos Administradores de Empresas).  Membro fundador do Instituto Histórico e Geográfico do qual foi por duas vezes presidente. Membro fundador da Sociedade “Amigos do Museu Prudente de Moraes”. Presidente de Honra da Sociedade Sírio Libanesa. “Persona Grata” da Câmara de Comércio Árabe de São Paulo. Autor de dezenas de artigos jornalísticos.  Autor do livro “Memórias dos 20 anos do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba”. Por mais de 10 anos atuou como Relações Públicas da UNIMEP. Detentor de dezenas de diplomas e certificados de conclusão e participação em cursos em diversas áreas. Colaborador na criação da Universidade Metodista de Piracicaba. Presidiu a fundação do Instituto Histórico de Rio das Pedras. Detentor de inúmeras medalhas de mérito e condecorações culturais. Orador oficial da Academia Piracicabana de Letras. Professor 1º,2º,3º graus, Contabilista, Radiotécnico, Administrador de Empresas com especialização em Engenharia Econômica, Graduado em Letras e Literatura Luso Brasileira, Orador oficial do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, Delegado da LABRE (Liga Brasileira de Radioamadores). Participou de Conferências e Debates sobre Cultura Brasileira em 1990 na Syria, (Universidade de Damasco), na Jordânia, Universidade de Ibert-Amã. Orientador de vários Congressos Culturais e Técnicos Radio amadorísticos.   

O senhor sempre teve uma das mais intensas participações em inúmeros setores educacionais e culturais de Piracicaba. O que o motiva a esse dinamismo?

Meu pai, após a Primeira Guerra Mundial, participou em Damasco, na assistência aos feridos e sepultamentos dos que morriam combatendo. Após o término da guerra ele casou-se, meu irmão Antonio nasceu quando ainda meus pais moravam na Síria. Em 1918, após o termino da guerra meu pai decidiu imigrar para o Brasil, onde meus tios já se encontravam. A princípio ele veio para São José do Rio Preto, na década de 20 ele veio à Piracicaba. Quando éramos crianças, ele reunia os filhos, que sentados ouviam seus conselhos, entre eles que devíamos seguir a religião praticada no Brasil, a Católica Apostólica Romana e deveríamos aprender e falarmos o português. Entre suas orientações, uma delas é de que nunca deveríamos nos entregar ao desafio. Deveríamos enfrentá-lo. Outro conselho que sempre orientou a nossa vida, e que ele sempre dava: “- Façam o que puderem pela terra que nos abrigou!”. Éramos ainda crianças, mas ele já perguntava-nos o que tínhamos feito por Piracicaba!

O senhor iniciou seus estudos em qual escola?

Eu estudava no Grupo Escolar Alfredo Cardoso, localizado na Rua São José esquina com Alfredo Guedes, entrava no portãozinho, já ouvia meus coleguinhas alvoroçados dizendo: “ Turquinho chegou! Turquinho chegou!”. Eu chorava. Um dia cheguei em casa chorando, meu pai não tinha saído para o trabalho, ele quis saber o que tinha acontecido. Ele então me disse: “-Amanhã, antes de ir à escola fale primeiro comigo!”. Ele fez uma bandeirinha da Síria, que conservo até hoje. Disse-me então: “Amanhã quando for à escola, leve esta bandeira, abra o portão e fale em alto e bom tom: “-Turquinho chegou! Turquinho chegou!”. Era uma forma de neutralizar uma brincadeira que para os demais garotos era uma brincadeira inocente. Meu pai nos orientou bastante na vida, participei de dezenas de entidades. (Só os descendentes de sírios e libaneses sabiam qual era o sentimento de serem erroneamente chamados de turcos. A Turquia dominou uma grande região pelo terror. Nos passaportes dos imigrantes sírios e libaneses vinha o carimbo da Turquia que dominava politicamente a região. Portanto denominar de turco um sírio ou libanês trazia-lhe as lembranças dessa época, em que ele ou seus antepassados viveram).

O senhor nadou no Ribeirão Piracicamirim?

Aprendi a nadar no Piracicamirim, quando fui com o Gatão, célebre jogador de futebol e o meu irmão Pedro. Por muitos anos freqüentei o Clube de Regatas de Piracicaba, eu competia em salto do trampolim. Junto com Francisco Caldeira fomos classificados em primeiro lugar no salto em trampolim. Eu praticava halteres, um dia o Cantarelli pediu que eu simulasse uma luta com o ator Milton Ribeiro, estavam fazendo uma filmagem, só que ele não me explicou que deveria simular a vitória do Milton, acabei por colocá-lo em terra, fugindo do roteiro da gravação. Só depois é que o Cantarelli explicou-me como deveria ser feito.

O senhor atuou como cobrador de ônibus?

Na época do empresário João Marchiori, eu era criança quando tinha o ônibus que fazia o trajeto do centro até o cemitério indo pela Rua Moraes Barros. Depois voltava descendo a Avenida Independência que era chão de terra. Eu apanhava o ônibus que passava em frente a minha casa, não havia cobrador, o motorista pedia que eu cobrasse dos passageiros, facilitava o seu trabalho, com isso ele acabava não cobrando a minha passagem! Ainda criança, quando havia festa na Igreja Bom Jesus eu era engraxate. Por um ano fui engraxate, às vezes ia até a Praça José Bonifácio. No início lutamos com muita dificuldade.

Quando a Catedral de Santo Antonio pegou fogo o senhor chegou a ver?

Isso aconteceu quando eu morava perto do cemitério. Alguém passou e disse que estava pegando fogo na catedral. Peguei o cavalo, desci a Rua Moraes Barros, quando cheguei vi que o incêndio estava controlado. A Sociedade Sírio Libanesa doou uma parte dos vitrais das janelas, posteriormente.

O senhor lembra-se onde ficava o Hotel Orsini?

Ficava na Rua D.Pedro I com a Rua Boa Morte, o Hotel dos Viajantes situava-se na Rua D.Pedro II com a Rua Governador Pedro de Toledo, ao lado do Mercado Municipal. O Hotel Jardineira foi demolido há poucos anos, situava-se na Rua XV de Novembro esquina com a Rua Governador Pedro de Toledo.

O senhor é um dos primeiros radioamadores de Piracicaba?

Fundei a Associação dos Radioamadores de Piracicaba, na década de 1970,  radioamadorismo foi muito importante na época em que não havia televisão, telefone era precário, as comunicações eram muito difíceis, através do radioamador comunicava-se com o mundo todo. Guardo cerca de 1.000 cartões que foram enviados por radioamadores do mundo todo. Recebi do Japão uma homenagem de bronze. (O Professor Elias nesse momento profere palavras em japonês).

Quantos idiomas o senhor fala?

Português e árabe. Aprendi alguma coisa da língua japonesa.

O senhor tem uma paixão pela fotografia?

Sempre gostei muito, tirei muitas fotos, o Bishoff é quem revelava

Quando houve a queda do Comurba o senhor já era radioamador?

Quando caiu o Comurba eu era radioamador, um fato pitoresco é que todas as emissoras de rádio e televisão divulgavam que tinha caído o Edifício Luiz de Queiroz, nome oficial do prédio, pessoas das mais longínquas localidades, como Ceará, Bahia, Amazonas, queriam maiores informações, muitos tinham filhos e parentes estudando na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. Junto com Arnaldo Ricciardi montamos uma estação de radioamador na Praça José Bonifácio e começamos a atender o público. Ficamos dois dias praticamente sem dormir, comunicando-nos: “ PY2-CLZ (Canadá,Londres,Zelândia - CLZ) Piracicaba. O radioamadorismo deu uma grande contribuição à Piracicaba, eu entrevistava muitas pessoas, eles vinham para cá, nos comunicávamos. Aproximava e ampliava o nome de Piracicaba no Brasil e no mundo.

O senhor apresentou um programa no rádio piracicabano?

Fui o primeiro técnico da rádio “A Voz Agrícola do Brasil de Piracicaba”, sou formado como rádio-técnico e em eletricidade também. Quando foi fundada a “Rádio A Voz Agricola” ficava no andar superior do local onde atualmente é um supermercado, na esquina da Rua XV de Novembro, atrás da Catedral de Santo Antonio. Comecei a trabalhar como técnico e depois como locutor de alguns programas, inclusive infantil. Depois reuni a Sociedade Sírio Libanesa de Piracicaba e todos os comerciantes de origem árabe passaram a patrocinar, participavam das aulas que eu lecionava em árabe, musicas árabe, chamava-se “Jóias Árabes”. Quando chegou um novo gerente da rádio, ele encarregou-me de ir até Uberaba entrevistar Chico Xavier. Antonio Cantarelli me incentivou a ir. Fui até Uberaba, expliquei à Chico Xavier , fui muito bem recebido, tirei umas fotografias junto a ele. Quando nasceram meus filhos voltei a Uberaba. Chico Xavier era uma das maiores luzes fulgurantes da humanidade. Lembro-me de uma passagem, onde havia muitas pessoas, todas tentando expor seus problemas. Ele as organizou, e passou a orar com elas: “Pai nosso que estais no céu, o pão nosso de cada dia e repetiu, o pão nosso de cada dia, até que alguém complementou a continuação da oração “perdoai as nossas ofensas assim como perdoamos a quem nos tem ofendido”, Chico Xavier então afirmou: “-De nada adianta orar se não praticar! Se você souber  apenas reclamar não adianta nada, tem que perdoar!”. Todos entenderam a mensagem, em 10 minutos esvaziou o salão que antes só tinha pessoas se lamentando. Chico Xavier era uma pessoa muito humilde, muito simples. Teve um episódio muito cômico, eu trabalhava como técnico na Rádio A Voz Agrícola de Piracicaba, levei todo o material para fazer a transmissão do jogo do XV de Novembro, o jogo era no Estádio Roberto Gomes Pedrosa, o locutor que ia transmitir o jogo não chegava, telefonei para o gerente da rádio, ele simplesmente disse-me: “Então você transmite o jogo!”.  Disse-lhe: “- Mas eu não entendo nada de futebol!”. Ele disse-me: “ Não tem problema, irradie assim mesmo!”. Transmiti o jogo inteiro: “ A bola está de posse de Piracicaba, agora está de posse de Itu, novamente está de posse de Piracicaba, Itu domina a bola agora!” Foi assim o jogo todo! Foi a primeira e última vez que narrei uma partida de futebol!

O senhor foi presidente do Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) em Piracicaba?

Fui presidente e membro fundador. Foi um movimento muito importante na vida de muitas pessoas, durante anos, jovens e adultos frequentaram as aulas do MOBRAL, cujo objetivo era propocionar alfabetização a pessoas acima da idade escolar convencional

Quantos filhos o senhor tem?

Sou casado com Maria Alice de Paiva Salum, temos dois filhos: André de Paiva Salum, médico, e minha filha Eliana Salum.

O senhor tem um carinho muito especial pela Sociedade Sírio Libanesa.

Nas décadas de 40 e 50 eu auxiliava o Padre Abdalla que vinha de Campinas celebrar a missa ortodoxa, na própria sede. Eu ajudava o padre, pegava o turíbulo e ele em árabe me dizia para colocar incenso. Eles falavam só em árabe e eu entendia muito bem. A Sociedade Sírio Libanesa teve como fundamento associar os imigrantes, acolheu e apoiou esses imigrantes. A grande maioria assim que chegava, queria ser mascate, assim como meu pai foi. Diziam a algum membro, como disseram para mim: “ –Elias, você vai com fulano e mostra onde fica o Bairro do Taquaral, Batistada, Tupi”. Por uns 15 dias acompanhava o imigrante recém-chegado, ia de carroça e cavalo. Meu pai foi mascate quase a vida inteira. Um fato curioso aconteceu no Bairro Taquaral, existe a linha da Estrada de Ferro da Companhia Paulista, eu estava na carroça, com meu pai, comendo um lanchinho. Chegou um garotinho e disse-nos: “- Dá uma esmolinha!”. Meu pai perguntou-me em árabe o que ele queria. Respondi a meu pai, em árabe, que o menino queria dinheiro. Meu pai tirou quinhentos réis e perguntou-me se era muito ou pouco. Entreguei. O menino curioso perguntou-me: “ – O que ele está falando?”. Disse-lhe que era em árabe. O menino aterrorizado disse: “-É turco!”, jogou o quinhentos réis no carrinho e disparou na estrada de ferro. Gritou: “Turco come gente!”. (Essa é mais uma lenda que segundo os estudiosos tem sua origem no fato de árabes apreciarem o quibe cru). Fui coroinha na Igreja Bom Jesus, com o Monsenhor Martinho Salgot. Já mais mocinho me formei como rádio técnico, montei alto-falantes dentro da Igreja Bom Jesus. O Monsenhor Martinho Salgot não gostou da forma como foi montado. Na época criticou meu trabalho. Só que esses alto falantes funcionaram por muito tempo. Com o passar do tempo tirei os alto falantes, subi no forro da Igreja Bom Jesus, até hoje meu alicate de corte deve estar lá, eu o esqueci! O Frei Paulo do Seminário Seráfico interessou-se pelos alto falantes, levamos para a Igreja dos Frades, e passamos a usá-los durante as missas.

A família do senhor teve um estabelecimento comercial?

Na Rua Governador Pedro de Toledo, ao lado onde atualmente é a Casas Bahia havia a loja Casa da Paz, trabalhava com tecidos e armarinhos, pertencia a nossa família. Não havia o trânsito que existe hoje. As pessoas vinham do sítio, eram convidados a entrar e normalmente adquiriam produtos. Naquele tempo havia muita troca de mercadorias por produtos agrícolas, animais, ovos. Aos sábados eu levava para Fernando Gutierrez as mercadorias, que ele iria despachar. Ele estava estabelecido próximo ao Teatro Municipal, em uma travessa. Naquela época eu fazia tudo a cavalo, levava mercadorias a cavalo. Meu pai às vezes trocava mercadorias com cavalo xucro, eu tinha o dom de amansar cavalo. Nessa época morávamos na Rua Moraes Barros esquina com a Avenida Independência. Onde hoje há uma árvore enorme era um bosque, daquela região tiravam saibro para fazer construção. Faziam muito buraco, os caminhões depositavam lixo nesses buracos. Onde hoje é o Estádio Barão de Serra Negra havia o Bosque Barão do Rio Branco. Eu vivia dentro do bosque, tinha muitos tipos de frutas, coquinho.  Quando dava tempestade e caiam os galhos, trazia para colocar em nosso fogão que era a lenha. O bosque era um lugar de lazer para as crianças da região. A Rua Moraes Barros era chão de terra, na década de 30 começaram a colocar paralelepípedo.

O cemitério era logo adiante?

Quando era ainda criança cheguei a lavar túmulos no cemitério. Lá não havia água, eu levava de casa. Por uns dois anos lavei sepulturas. O pessoal que vinha do sítio guardava as carroças e os cavalos na nossa casa, era uma área grande, ocupava meio quarteirão. Uma verdadeira chácara.

Não havia um pouco de superstição com relação ao cemitério?

As moças que moravam no Piracicamirim vinham quadrar o jardim, na Praça José Bofácio, à noite. Quando eram umas nove horas da noite elas subiam, nós garotos, pregávamos sustos nelas, com objetos imitando caveiras. Elas ficavam com medo, eu as acompanhava, embora fosse apenas um menino. Elas sempre e davam algo como recompensa, geralmente uma moeda. O cemitério fechava as seis horas da tarde ao toque de um sino. O porteiro era o Seu Antônio, que morava em uma rua próxima ao cemitério.  Algumas vezes ele fechava o portão e a pessoa fica dentro, ela batia o sino, eu ia correndo e quem tinha ficado pedia que abrisse o portão. Eu chamava Seu Antonio, ele abria o portão e a pessoa saía. Era muito comum acontecer isso.

O caixão com o falecido era carregado por pessoas que subiam a Rua Moraes Barros?

Quando mudamos para lá eu disse ao meu pai: “-Porque viemos morar aqui, pegado ao cemitério?”. Ele disse-me: “Morrem duas a três pessoas todos os dias, passam, nos cumprimentam, onde você vê coisa igual?” Os enterros eram todos feitos a pé, iam revezando na condução do caixão, todos seguiam caminhando, mais tarde providenciaram uma carroça funerária, depois passou a ser um carro fúnebre.

De certa forma era uma estratégia de marketing colocar a loja em um local onde algum dia obrigatoriamente alguém passava acompanhando o enterro?

Exato. No dia de finados vendíamos velas.

O que o senhor ia fazer na Estação da Companhia Paulista quando era menino?

Com 10 a 12 anos eu carregava malas, quando o passageiro chegava com o trem das 10 horas da noite eu carregava a mala e levava até o carro de praça que ficava estacionado em frente a estação. Ou então até o ponto do bonde que ficava logo na esquina em frente. Com isso eu ganhava duzentos réis, quinhentos réis.

Quais eram as atividades realizadas na Sociedade Sírio Libanesa?

Jogavam baralho, jogavam taule, um tradicional jogo de tabuleiro árabe para dois jogadores, por vezes chamado de "gamão árabe". O objetivo era a aproximação e convivência dos associados.A visitação entre as famílias árabes era muito constantes. Faziam a aproximação familiar, nessa aproximação acabava saindo casamentos. A Sociedade Sírio Libanesa tinha como principio agradecer, retribuir, o que o Brasil ofereceu aos imigrantes. Na época de Natal era feita a distribuição de presentes para pessoas mais necessitadas.

A Sociedade Sírio Libanesa tem sua sede na Rua Governador Pedro de Toledo, foi sempre ali?

A Sociedade Sírio Libanesa quando começou foi em um prédio a Rua Treze de Maio, 52. Proxima ao Grupo Escolar Moraes Barros. A Sociedade Beneficente Sirio Libanesa foi fundada a 16 de novembro de 1902 sendo a primeira reunião realizada na casa de Mansur Elias Zina, a reunião foi composta por vinte e oito pessoas. Naquela época os ônibus que se dirigiam à zona rural saiam do Largo São Benedito, próximo a Rua Treze de Maio. Foram abertos diversos estabelecimentos comerciaiais de sirios libaneses nas proximidades, até hoje existe o prédio onde foi o estabelecimento de Mario Neme na Rua Treze de Maio. Em 1926 Luiz Coury e outros membros da Sociedade Sirio Libanesa tiveram a iniciqativa de adquirir um prédio a Rua Governador Pedro de Toledo, o prédio foi reformado e a Sociedade Sirio Libanesa mudou-se para lá. A rua do comércio passou a ser a Rua Governador Pedro de Toledo, no sentido do centro para o bairro da Paulista. Os sirios libaneses passaram a abrir lojas na Rua Governador Pedro de Toledo. O prefeito Dr. Francisco Salgot Castillon cedeu a àrea onde situa-se a Praça Sirio-Libanesa. Entre a Rua Governador Pedro de Toledo e a Avenida Armando Salles de Oliveira. No centanário da Sociedade Sirio-Libanesa foi feita uma escadaria, com um portal artístico, unindo a Avenida Armando Salles de Oliveira com a Rua Governador Pedro de Toledo, simboliza a entrada dos árabes pela Rua Governador que era a rua do comércio. Por um longo período a maior parte do comércio na Rua Governador Pedro de Toledo era composta por árabes e seus descendentes. No livro Sociedade Beneficente Sirio Libanesa, Sua Gente e Sua História, que publiquei, há a relaçõao de todas essas casas comerciais e seus proprietários. Poucas pessoas conhecem isso.

Qual é a importância da Sociedade Sirio-Libanesa para a comunidade piracicabana?

É a beneficência, solidariedade, cultura. Na década de 70 dei o primeiro curso de língua árabe. Recentemente Elias Nader deu um curso completo sobre a língua árabe. Comemora as datas cívicas da independência da Síria, dia 16 de abri e do Líbano dia 19 de novembro.

Como é a relação de convivência entre árabes e judeus em Piracicaba?

Eu tenho uma fotografia com o Jayme Rosenthal, ele freqüentava muito a Sociedade Sirio Libanesa e eu freqüentava muito as iniciativas dele. Ele mandou cópia dessa fotografia para o Muro das Lamentações, colocou lá. A nossa amizade é muito fraterna. Não há problema de nenhuma natureza entre judeus e árabes em Piracicaba. Sempre houve muito respeito mutuo. É um exemplo de confraternização.

Piracicaba não tem mesquita, há alguma razão?

O que temos em Piracicaba é uma missa ortodoxa celebrada uma vez por mês na Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, junto ao Colégio Assunção-Dom Bosco, os padres maronitas vem na Catedral de Santo Antonio onde são recebidos pelo Monsenhor Jamil Nassif Abib, e celebram missas maronitas ai também.

Piracicaba teve uma sinagoga?

Teve uma sinagoga construída em 1926, na Rua Ipiranga, entre a Rua Governador Pedro de Toledo e a Rua da Boa Morte, que deixou de ser utilizada em 1946. Foi demolida e atualmente só existe o terreno vazio no local.

O senhor tem uma trajetória como professor universitário. Quantos livros os senhor publicou?

Praticamente três. Um sobre a Sociedade Sírio Libanesa, outro sobre o histórico do Instituto Histórico e Geográfico, e sobre a atuação administrativa dos militares, fui secretário do Serviço Militar, fiz a Escola Superior de Guerra. Junto com o prefeito Luciano Guidotti trouxemos para Piracicaba a apresentação do Batalhão de Campinas.

Como o senhor observou a Segunda Gurerra Mundial?

Em 1939 eu trabalhava na Casa Espéria. Era caixeiro. (vendedor). Saiu uma lei determinando que as entidades estrangeiras localizadas no Brasil não poderiam mais realizar reuniões. A chave da Sociedade Sírio Libanesa ficou sob meus cuidados. Desde essa época dedico-me à Sociedade Sírio Libanesa, são mais de sete décadas. A Sociedade Portuguesa ainda se reúne em uma casarão na Rua do Roásio, nós professores formados em 1950 as vezes nos reunimos lá.

Em Piracicaba é pequeno o número de imigrantes portugueses?

É pequeno. A grande força de Piracicaba é a imigração italiana e espanhola. Não tenho esses dados estatísticos, mas acredito que depois seja a colônia árabe, seguida de alemães e japoneses.

O senhor foi presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba?

Fui membro fundador. Assim como fui do Observatório Astronômico.

O Observatório Astronômico de Piracicaba foi uma grande luta para consegui-lo?

Fiquei dez anos lutando para conseguir, até que a prefeitura apoiasse, após 20 a 30 reuniões na Esalq, para que  que cedesse aquela área para nós o que ocorreu em 1992. Moacyr de Oliveira Camponês do Brasil, me ajudou bastante, fazia as reuniões lá na Esalq. Continuamos pedindo um local para instalar o observatório, tinha que ser um lugar escuro, movimentado, de acesso fácil. Em 1992 colocamos a pedra fundamental.

Qual é a capacidade do observatório?

Posso dizer que é um verdadeiro exemplo para o Brasil e para o mundo. Um dos maiores telescópios do Brasil está em Piracicaba. Juntamente com Nelson Travnik fundamos o observatório. O Observatório Astronômico de Piracicaba foi criado a partir de um convênio assinado entre a Prefeitura de Piracicaba, Associação dos Amadores de Astronomia de Piracicaba (AAAP) e a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz . A construção do prédio com 150.08m2 foi concluída em quatro meses e a inauguração ocorreu em 2 de outubro de 1992. No dia 17 de agosto de 2002 foi inaugurado um novo prédio: o Pavilhão de Observações, que abriga três novos telescópios oferecendo mais opções na observação dos corpos celestes.

Quem pode freqüentar o observatório?

É aberto ao público e é um dos maiores pontos turísticos de Piracicaba. Aos sábados, após as sete horas da noite, vem muita gente. As escolas levam centenas de alunos para assistirem palestras.

Quando será montado o planetário?

Já faz 30 anos que estou lutando pelo planetário, recentemente pedi uma audiência com o prefeito Gabriel Ferrato, o vereador José Aparecido Longatto está nos apoiando. Dei todo o planejamento ao Vice-Prefeito, Arquiteto JoãoChaddad, com os custos, cronograma, sugestão de localização.

Qual é a importância de um observatório para Piracicaba?

É despertar na consciência do ser humano a existência universal, a criação de um fato desconhecido que atribuímos ser criação de Deus. Somos muito limitados quanto ao conhecimento do universo. Já existe pessoas interessadas em irem à Marte.

Qual é o alcance dos equipamentos existente nesse observatório?

É de alcance quase ilimitado dentro do universo conhecido.

Pelas observações do senhor, pode-se afirmar que existe vida além da Terra?

No meu ponto de vista, para acreditar na existência de vida além da Terra teríamos que ver. Há uma busca de planetas onde exista água, o ser humano sem água não vive.

O senhor participou do Coral dos Funcionários da Prefeitura Municipal de Piracicaba?

Participei.

O senhor participou da implantação da AFPMP?

Fui membro fundador da AFPMP - Associação dos Funcionários Públicos Municipais de Piracicaba.

O senhor pertence a maçonaria?

Pertenço a Loja Maçônica, posso dizer que fui membro da fundação de três Lojas Maçônicas: a “Luz e Sabedoria”, a “Liberdade e Trabalho e a Loja Maçônica de Rio das Pedras. Sou maçom ativo desde 1970, grau 33.

O senhor foi fundador do escotismo em Piracicaba?

Fui. Fundei três grupos, entre eles o Tamandaré e o Paulista.

O senhor conheceu o Palacete do Barão de Serra Negra, situado na Rua Alferes José Caetano esquina com a Rua São José, que foi demolido e atualmente é um estacionamento?

Trabalhei naquele prédio! Lá funcionava a Prefeitura Municipal.

O que leva Piracicaba a demolir prédios históricos?

É a chamada modernização, como os engenheiros diziam. Onde era um palacete virou um estacionamento. D.Pedro II hospedou-se nesse palacete. Eu comecei a trabalhar lá junto com o prefeito Luciano Guidotti.

No ponto de vista do senhor, não existe algumas lacunas, o poder público tomba um imóvel, mas não oferece contrapartida que incentive o proprietário a manter as características originais do mesmo

Como professor universitário por quarenta anos, na Unimep, eu dava aulas sobre administração. Iniciava as aulas dizendo: prever, planejar, organizar, comandar e coordenar. Trabalhei com o Prefeito Luciano Guidotti, que me chamava de “Beduino”. Tínhamos um dialogo aberto e franco, sugeri a ele que um dia na semana dedicasse a ouvir a opinião pública, da própria população. Toda terça-feira ele ouvia o público. É ter a sensibilidade de sentir quais são as aspirações e interesses da comunidade. Deu um bom resultado.

O senhor conheceu o Teatro Santo Estevão?

Eu freqüentava muito! Gostava de ouvir o pai do nosso vice-prefeito, arquiteto João Chaddad.  Manoel Chaddad, seu pai, cantava cururu em português, mas com sotaque árabe. Ele participava do cururu que existia lá geralmente aos sábados à noite. Manoel Chaddad se destacava bem, era um bom cururueiro.

O Teatro Santo Estevão era bonito?

Era muito bonito, freqüentei muito. Quando Leandro Guerrini ficou secretário da Educação tinha seu escritório lá e eu freqüentava constantemente seu escritório.

O Teatro Santo Estevão foi derrubado porque oferecia algum risco?

Não. A alegação é de queriam fazer a praça. Atrás do Teatro Santo Estevão eu fazia toda solenidade festiva. Derrubaram provocando a revolta da maior parte da população, foi derrubado na calada da noite.

Na ante-sala do gabinete do prefeito havia um sofá, é verdade que determinado vereador simulava ler um jornal e ficava escutando pela porta entreaberta, as ordens do prefeito. Imediatamente esse vereador dirigia-se ao bairro objeto das melhorias e anunciava com antecedência as benfeitorias que seriam feitas como se fosse fruto da sua atuação?

Era o vereador (Elias dá o nome do vereador, já falecido). Isso era comum, e não foi atitude apenas desse vereador. A pessoa tinha a sensibilidade de sentir o que o prefeito iria planejar e com essa informação sobressaiam junto ao eleitorado. Luciano Guidotti foi uma mensagem de Deus para Piracicaba. O número de escolas que ele abriu, o Ribeirão Itapeva que cortava a cidade e ele canalizou, o número de ruas, avenidas, que ele fez. O advogado Jacob Dhiel Neto costumava me perguntar “-Beduino, o que vocês vão fazer em tal lugar?” O Jacob queria saber tudo que o Luciano iria fazer, ele era contra. Havia uma rivalidade pessoal entre os dois. . Dizia-lhe que não sabia e que tinha que fazer o que o prefeito pedisse.

O Monsenhor Jorge, da Matriz Imaculada Conceição, qual é seu sentimento em relação a ele?

É patrício. Nasceu para ser sacerdote. Tem a sensibilidade de ouvir as pessoas. Muito estimado pela população piracicabana. Pertence a Sociedade Sírio Libanesa, Continua dando às pessoas uma verdadeira luz de conhecimentos para uma vida melhor. Converso muito com ele, somos muito amigos. É uma pessoa de grande valor para a nossa cidade.

O que o senhor diz sobre Monsenhor Jamil Nassif Abib, pároco da Catedral de Santo Antonio?

É meu afilhado da Sociedade Sírio Libanesa. Semanalmente estamos juntos! Ele tem muito interesse no idioma árabe. É uma pessoa de cultura excepcional.

O que o senhor diz a respeito do escritor, jornalista, historiador, advogado, Cecílio Elias Netto?

Cecílio Elias Netto empresta o brilho da sua inteligência, registra a história de Piracicaba de uma maneira ampla, de conhecimento não só dos grandes intelectuais, como as pessoas mais simples. É um verdadeiro exemplo. Eu trabalhava com Tuffi Elias, que é o pai dele, lembro-me da persistência de Cecílio, é uma pessoa determinada. Um idealista. Admiro muito a cultura do Cecílio.

Elias Salum, quando encontro uma pessoa amiga de que forma devo cumprimentá-la?

(O Professor Elias Salum responde em árabe, pedimos que traduzisse, é o que se segue).

“Suas palavras passam a residir em meu coração, em minhas palavras, em minha boca, e em meu pensamento”. A resposta deverá ser: “Tomara a Deus que seja assim!”

 

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