domingo, março 26, 2017

ANTÔNIO FERRAZ DE OLIVEIRA (DUZENTÃO)


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 04 de março de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/





ENTREVISTADO: ANTÔNIO FERRAZ DE OLIVEIRA  (DUZENTÃO)

Antonio Ferraz de Oliveira, o Duzentão, nasceu a 23 de maço de 1939, filho de Antonio Felipe de Oliveira e Francisca Ferraz de Godoy que tiveram sete filhos, sendo que um faleceu precocemente: Lázaro, Benedita, Maria, Vicente, Terezinha, Antônio.

Qual era a atividade profissional do pai do senhor?

Ele era agricultor, tinha um sítio no bairro rural Paredão Vermelho onde plantava arroz, feijão, nós tínhamos animais. Pelo fato de ser o mais novo dos irmãos, naquela época eu era menino ainda, quase não fazia nada, tratava dos animais, levava a comida para as pessoas da família que estavam trabalhando no campo. Como meus irmãos e irmãs estavam na idade de freqüentar a escola e lá não havia nenhuma nas imediações, meu pai decidiu vender o sítio e mudar-se para a cidade de Piracicaba. Matriculou meus irmãos e irmãs nas escolas da cidade.

Em Piracicaba a família passou a residir em que local?

A primeira casa em que moramos foi a Rua Voluntários de Piracicaba, no Bairro dos Alemães, próximo ao Bar Pingüim, que atualmente já não existe. Esse bar ficava entre a Rua Santa Cruz e a Rua São João, era bar e tinha um jogo de boche grande. As ruas eram de terra ainda. A casa era alugada, o dinheiro apurado na venda do sítio meu pai depositou na Caixa Econômica Estadual, situada na Rua Santo Antonio esquina com a Praça José Bonifácio, o prédio existe até hoje.

Em Piracicaba o pai do senhor passou a trabalhar em qual atividade?

Ele passou a produzir e vender doces, já tinha experiência de fabricar doces nas festas que eram feitas quando morávamos no sítio fazia doce de abóbora, cidra, paçoquinha. Ele vendia para os funcionários da Boyes, tinha freguesia cedo e a tarde. Os funcionários tinham meia hora para almoçarem e meia hora para jantarem. No início ele levava uma cesta, depois passou a vender também abacaxi, melancia, aí já ia com um carrinho de mão. Nessa época eu ajudava também. Naquela época os funcionários almoçavam ou jantavam a comida que a família mandava, não havia restaurante dentro da empresa, tinha que comer embaixo das árvores.

Havia clientes que consumiam os doces e frutas e pagavam quando recebiam o salário?

Alguns pagavam ao comprar, outros pagavam por mês. Havia uma caderneta onde era marcado o nome da pessoa, o que era consumido e o valor. Em seguida mudamos para a Rua XV de Novembro, um quarteirão acima do Rio Piracicaba. Ficava próxima a Escola Normal do Porto, o prédio existe até hoje, está bem conservado, só que com outra finalidade. Eu entrei nessa escola depois fui estudar no Grupo Escolar Dr. Prudente de Moraes onde tive aulas com o professor Alfredo Novembre. Concluí o ensino no Grupo Escolar Dr. Prudente de Moraes e estudei por um ano no Colégio Industrial. Meu pai precisa que eu o ajudasse, deixei a escola e fui trabalhar com ele. Mais tarde meu pai foi trabalhar como guarda em uma empresa que beneficiava algodão de propriedade de Adib Zaidan Maluf, ficava na Rua Ipiranga. Tinha umas 14 a 15 pessoas que trabalhavam a noite. O meu pai além de vender doces durante o dia a noite trabalhava lá. Ele mesmo fazia os doces, um deles era paçoca com carne seca. Era colocada em um cartucho de papel. Era muito gostoso. Ele tinha uma boa freguesia. Nessa época ele adquiriu uma casa na Rua Dr. Alvim. Essa casa mais tarde foi derrubada, e atualmente o espaço é ocupado por uma torre de transmissão. O jornalista, radialista e comentarista Márcio Terra morava a poucos metros da nossa casa. Ele dedicou-se ao XV de Novembro, foi vereador. Tive um tio, irmão da minha mãe, Dr. Nélio Ferraz de Arruda Campos que foi prefeito de Piracicaba. (Há uma possível divergência da grafia do nome do Dr, Nélio Ferraz de Arruda, como consta em documentos oficiais conhecidos. Nélio é filho de Fernando Ferrraz de Arruda Pinto e Ana Cândido do Amaral Melo. Político, professor, advogado,escritor, empresário, radialista. Nasceu na Fazenda Milhã. Em 1963 foi eleito vice-prefeito da cidade para o período 1964 a 1968, sendo que em julho de 1968 assumiu como prefeito em decorrência do falecimento do prefeito Luciano Guidotti. Atuou com prefeito até fevereiro de1969).

O senhor tem ligações de amizade e parentesco com figuras proeminentes de Piracicaba.

Tive um primo que foi o homem mais valente da cidade, muito famoso e respeitdo, chamava-se Diogo, chamavam-no de “Diogão”. O seu pai chamava-se Lazinho, era carteiro, entregava correspondências com carrinho de tração animal. Ele morava perto da cadeia velha, situada na Rua São José. O Lazinho tinha três filhas e um filho, o Diogo. A Maria, irmã do Diogo era casada com o meu primo Pedro Adamoli, tiveram um único filho, o Pedrinho, que faleceu ainda muito jovem.

Como era a Rua do Porto?

Era uma rua aonde moravam muitos pescadores. Havia o Elias Rocha que fazia bonecos, eue depois tornaram-se famosos. O Elias foi jogador de futebol, jogou no União Porto. O irmão do Elias, o Nelson Rocha, jogou no XV de Piracicaba, era reserva do Idiarte Massariol, isso no tempo da “Panela de Pressão” como era chamado o Estádio Roberto Gomes Pedrosa, que foi vendido e hoje a área abriga o Supermercado Extra, formado pelo quadrilátero: Rua Governador Pedro de Toledo, Rua Regente Feijó,  Rua Monsenhor Manoel Francisco Rosa e Rua Santo Antonio. Ha pouco empo faleceu um dos mais antigos jogadores do XV de Novembro, o Cardeal, trabalhava na ESALQ. Ele jogou muito nesse estádio como ponta direita.

O senhor acompanha o XV de Novembro desde que ano?

Desde 1949. Eu era sócio com carteirinha. Lembro-me do João Guidotti que foi presidente do XV, Bento Dias Gonzaga (Bentão). Uma das lembranças de quando eu era jovem, foi quando faleceu um homem, meu pai foi para prestar as últimas homenagens ao falecido, pediu-me que o acompanhasse. Fomos. Não sabíamos o motivo da morte. Ao chegarmos à casa do morto soubemos que ele havia se enforcado, estavam esperando as providências legais para remover o corpo. Vi o homem enforcado por suicídio. Era irmão de uma das mais célebres figuras do cururu de Piracicaba.

O senhor ia de bonde ou a pé para a escola?

Ia a pé. Ali por duas vezes eu estava no bonde da Escola Agrícola quando os estudantes derrubaram o bonde. Para não ter aula.  Isso bem na curva da Rua Marechal Deodoro para seguir rumo a ESALQ. Dez a doze estudantes conseguiam tombar o bonde. Meu pai disse que se eu quisesse andar de bonde só deveria ir para a Vila Rezende ou para a Paulista. Naquela época havia uma rixa muito grande entre os jovens da Vila Rezende e os jovens que moravam depois da ponte. O jovem que fosse até a Vila Rezende apanhava. O jovem rezendino que viesse até a “cidade” apanhava. Tinha um jogador do XV de Novembro, o Cardeal, que namorava uma moça da Vila Rezende, tentaram pegá-lo. Ele fez um acordo, jogar por dois anos sem cobrar nada para o Clube Atlético Piracicabano, da Vila Rezende. Para deixarem ele namorar e casar com a moça da Vila Rezende. Aí deixaram.

O senhor cresceu, começou a trabalhar aonde?

Fui trabalhar na Casa Nelly, com calçados. Eu ia levar sapatos até a casa do cliente para ele escolher. Colocava diversos modelos, prendia as caixas com uma cinta e levava. A pessoa escolhia me pagava ou ia até a loja para pagar. O proprietário da loja era um português, sua esposa se chamava Nelly, por isso a loja levava esse nome. Ficava na Rua São José. Havia outra sapataria famosa, a Casa Henrique cujo proprietário chamava-se Valêncio.

Naquele tempo usavam-se sapatos masculinos com duas cores?

Existia sim! Eram mais utilizados no carnaval. Era preto na frente e a parte de trás era branca. Sambistas usavam muito o sapato de duas cores. Usavam-se sapatos de cromo alemão.

O senhor participou de alguma escola de samba?

Por quatro anos fui campeão pela Escola de Samba Vila Bacchi, situada na famosa Curva do “S”, na Avenida Armando Salles de Oliveira. O presidente da escola era João Chiarini.

Que instrumento o senhor tocava?

Surdo! A Escola foi ganhando fama e crescendo, todo mundo queria sair na Escola de Samba Vila Bacchi.  Eu saí da escola porque meu pai não gostava que eu ficasse no meio de tantas pessoas com hábitos e costumes diferentes, na época era muito jovem ainda. Havia outras escolas muito famosas como a Treze de Maio, a Flôr de Maio. Estas duas últimas escolas eram rivais acirradas, não podiam se encontrar que dava briga. Teve um período em que o Professor Benedito de Andrade foi presidente do Clube Treze de Maio. Na Rua do Porto havia um cordão muito famoso, chamava-se: “Não Empurre Que é Pior”. Outro cordão muito famoso era o “Leão da Paulicéia”. Na Paulicéia por muitos anos funcionou um salão de baile, o proprietário foi jogador do XV de Novembro, do Palmeirinhas era o Bidito. Os bailes do Salão do Bidito eram famosos, ficava no fim da Avenida São Paulo perto do Postão, nome popular do Posto Menegatti de combustível. Antes do Bidito falecer, meu pai foi internado no Hospital Santa Monica, que havia na Avenida Carlos Botelho, meu pai tomou soro e saiu, mas ao seu lado tinha dois conhecidos: Moacir de Moraes que foi jogador, treinador do XV de Novembro, da Ponte Preta, do Guarani, jogou com Athié Jorge Coury que era presidente do Santos e era piracicabano,  o outro paciente era Bidito. Ele faleceu lá.

O senhor conheceu o De Sordi?

Conheci! Ele era proprietário de uma vila de casas. O jogador Pepino também conheci, faleceu em Águas de São Pedro.

E Mazzola?

Conheci! José João Altafini, o Mazzola. Jogou no Clube Atlético Piracicabano. O Julião, cujo nome é Antonio Elias Julião, o Baltazar cujo nome era Oswaldo Silva e, quando ele começou a jogar futebol, não era conhecido como Baltazar, que por sinal era o nome do irmão dele.

O senhor fez o Tiro de Guerra?

Fiz, o Tiro de Guerra, naquele tempo era no Largo da Estação da Estrade de Ferro Sorocabana, entre hoje se encontram os terminais de onibs urbano e intermunicioal. No tempo do Subtenente Yamashiro. Um dos meus colegas de farda na época foi Waldemar Blatkauskas, ele era de São Carlos, vinha vindo de lá para Piracicaba quando sofreu um acidente fatal. Os exercícios práticos de tiro eram feitos nas imediações do Bongue, na Rua do Porto. Ali era o estande de tiro. Tive um amigo que foi desligado do serviço militar, ele errou o tiro e matou um cavalo.

Na época a Rua do Porto era bem diferente?

Uns diziam que ela começa perto da Boyes e terminava próximo ao campo do clube União Porto. Outros afirmavam o contrário. Era uma região com diversas olarias. Era uma região tipicamente habitada por pescadores: Elias, Totti, Bigu, Tangará, tinha muita gente conhecida.

O senhor chegou a nadar no Rio Piracicaba?

Só perto do trampolim, em frente ao Clube Regatas. No meio do rio meu pai não deixava. Não tinha as muretas que existem hoje, quando enchia o Rio Piracicaba entrava água nas casas próximas. Naquele tempo eu morava na Rua XV de Novembro, próxima a Rua do Sabão (Atual Rua Antonio Corrêa Barbosa), próximo a Escola Normal do Porto. Naquele tempo o Club de Regatas de Piracicaba era muito forte. Participei de muitos bailes de carnavais do Regatas. Frequentei o Teatro Santo Estevão, assisti a muito cururu apresentado lá, tempo do Zico Moreira, Pedro Chiquito, Sebastião Roque, Nhô Serrra, Parafuso, Luizinho Rosa. Teve uma época em que o cururu pegou fogo em Piracicaba. Eu ia assistir ao vivo no auditório da Rádio Difusora de Piracicaba a PRD-6, o locutor era Benedito Hilário. Era todo domingo, começava as 10 horas da manhã, era  uma hora e meia de cururu.

O senhor quando menino freqüentava a Rua do Porto, além de nadar fazia mais alguma coisa?

Ganhei muito dinheiro lá, nessa época, o Rio Piracicaba era cheio naquele tempo, pescava fácil, mandi, curimbatá. Vinha muito pescador de São Paulo, só que eles não tinham minhoca, eu sabia aonde tinha minhoca, lá perto do campo do União Porto. Ali tinha minhoca que dava medo! Comprei umas 20 a 30 latinhas de maça de tomate Elefante, enchia de minhoca, colocava um pouco de terra em cima. Alguém falou: “-Vim pescar, mas não tem minhoca!”. Eu disse: “- Eu tenho minhoca! Vendo. Quero duzentão!” Todo mundo comprava. No outro sábado era a mesma coisa. Um dia cheguei mais tarde, começaram a perguntar: “-Cadê o Duzentão?”. O apelido pegou até hoje. Meu pai às vezes dizia: “-Aonde você arrumou tanto dinheiro assim?” Eu dizia-lhe: “Eu vendi minhoca!”. Com esse dinheiro ia ao cinema, comprava doces. Época dos cines Broadway, São José, assisti muitos filmes nesses cinemas.

A Rua do Porto era uma família?

Para mim ali foi muito bom. O Antonio (Toninho) Benites era eu primo. Foi proprietário do Restaurante Mirante, que continua até hoje com a sua família.

Quando acabou o período em que o senhor serviu no Tiro de Guerra qual foi sua próxima atividade?

Entrei na Fábrica Boyes onde permaneci trabalhando por quatro anos. Comecei trabalhando na seção de sacaria. Louis Clement era o chefe geral. O Nico Fidelix era chefe de um departamento. Os fios vinham da empresa de fiação, ali tinha a tecelagem, a parte de costura de sacos de algodão brancos, para colocar açúcar, outra seção que carimbava, outra que fazia a contagem. Eu tinha um vizinho que era soldador no Dedini, foi ele que me apresentou para a empresa Dedini. Fui aceito, comecei a trabalhar como ajudante.

Lá o senhor conheceu o Comendador Mário Dedini?

Conheci, assim como Dovilio Ometto, Arnaldo Ricciardi. Eu trabalhava só na oficina, os montadores é que viajavam para montar as peças em usinas de açucar em todo o país e até mesmo no exterior. A aciariaria eu conheci, mas não cheguei a trabalhar. Era mais conhecida como laminação. É um lugar de grande risco e condiçoes de trabalho bem agressiavas em função da alta temperatura.

O senhor frequentava o Restaurante Papini?

Era muito bom, a turma frequentava muito. Quem aposentava com 25 anos de serviços na Dedini recebia 10 salários e um relógio de ouro. O Scarpari era quem fornecia os relógios.

Em que ano o senhor aposentou-se?

Foi em 1983. Depois de aposentado fiz alguma coisa ou outra mas muito esporádicamente.

O senhor é músico de um conjunto?

Ultimamente eu estou cantando, o cantador oficial do grupo está sem voz. Na verdade eu toco surdo e pandeiro. Quem está tocando pandeiro é a Quimie, uma pandeirista de origem japonesa. Chama-se conjunto “Recordar”, composto por Élcio, Moacir, Francisco, Quimie, Diogo e Antonio. O correto mesmo é uma pessoa tocando surdo, um pandeirista, um sanfoneiro, um vilão e um cantor, no caso eu.

O que a música significa para o senhor?

Faz uns dez anos que eu toco nesse baile, eu comecei a gostar de música depois que fiquei viuvo. Fiquei 32 anos casado com Maria Basso. Após sete anos contrai segunda nupcia com Marlene Licciardello de Oliveira

Quanto tempo dura o show?

Normalmente tocamos por duas horas no Lar dos Velhinhos de Piracicaba, das 14:00 horas às 16:00 horas, toda quinta feira. A entrada é franca, tem espaço para dançar.

O senhor acompanha qualquer ritmo?

Tenho que encarar! Samba, bolero, arrasta-pé, valsa, choro e algum ritmo que aparecer. Eu tocava surdo, os demais instrumentos como violão, pandeiro, sanfona aprendi a tocar aqui no Lar dos Velhinhos.

O senhor jogava boche? (Bocha, boche ou boccie como é chamado)

Jogava! Parei por causa da coluna. Jogava a ponto, atirava de bota. Só que a coluna estava doendo, fui ao médico, mesmo após tomar o remédio receitado a dor não parou. Eu jogava boche de duas a três vezes por semana, ele disse-me para deixar de jogar por um tempo. Acabou a dor da coluna!

Por acaso o senhor conheceu um jogador de boche que marcou época por ser um exímio jogador?

Conheci! Era um árabe, conhecido por Michubishi ou Michi Bishi, ele atirava de bota a bola. Cheguei a ver ele e um tal de Pinheirinho jogarem. Esse de nome Pinheirinho morava na Rua Santa Cruz.

O senhor conheceu o famoso João Buriol?

Quando o conheci ele tinha bar a Rua Moraes Barros, o Bar Buriol. O Pedro Schimidt era dono do Bar Pinguim, único bar que tinha chapa para fazer lanche quente. Situava-se a Rua Santa Cruz esquina com a Rua Voluntários de Piracicaba.  Funcionava durante o dia e a noite, ele tinha jogo de boche. As bolas eram de madeira, depois que apareceram as bolas de massa. Ali o boche era forte. Ganhei muito dinheiro ali, como era adolescente não podia jogar, ficava olhando os pontos de quem era (marca o ponto quem aproximar mais a bola do balim, que é uma pequena bola). Isso para a pessoa não ter que atravessar a cancha toda só para medir a distância entre a bola e o balim. Às vezes ia buscar cerveja para eles. Às três horas ia buscar o resultado do jogo de bicho. Muitas vezes trazia o prêmio, em dinheiro, quando alguém ganhava. No centro da cidade havia um coreto onde era feito o jogo de bicho, alguém falou que ia dar o bicho cujo nome começava com a letra “A” todo mundo jogou no Avestruz e na Águia. Jogaram o dinheiro que podiam. Na hora de dar o resultado, tinha um grande numero de pessoas com o papelzinho na mão para receber, a pessoa anunciou o primeiro prêmio: Alefante. Isso é o que contavam!

O senhor conheceu o Bar Alvorada, de Oscar Nishimura, na Praça José Bonifácio?

Conheci! Ele era um japonês, de pequena estatura, faixa preta em jiu-jitsu. Havia um estudante da Escola Agrícola, era o sujeito mais forte conhecido na época, o seu apelido era Sansão. Ele foi ao Restaurante Alvorada, comeu e bebeu a vontade, ao sair disse: “-Sou Sansão, não vou pagar nada!”. O Oscar delicadamente disse-lhe: “-Aqui ninguém nunca fez isso!” O Oscar aplicou um corretivo no Sansão que nunca mais ele apareceu no restaurante.

Como o senhor conheceu João Chiarini?

Ele morava na Rua Alferes José Caetano e eu morava na Rua Monsenhor Rosa. A sua casa ficava um quarteirão abaixo da minha casa. Ele ia apresentar palestras e demonstrações de folclore em Piracicaba e região e passou a me convidar para tocar. Comecei a sair junto com ele. Freqüentei muito o Bar Quatizinho, ali era só samba.

E o famoso Bar Cruzeiro?

Antigamente era do João Buriol, freqüenta lá também. Conheci um dos primeiros sanfoneiros de Piracicaba, chamava-se Mario Moreno, tocava em todo lugar, salões com piso de terra, todos os bailes chamavam o Mario Moreno para tocar. Perto de casa tinha um homem que era benzedor, muito respeitado, chamava-se Lazinho Tabaré. Ele tinha três filhos: um era pandeirista, outro era sanfoneiro e outro batia surdo. O baile era ele que fazia. O Lazinho era benzedor de fazer e desmanchar casamentos. Na época vinha até Cadilac de São Paulo na casa dele. Ele morava na Rua Voluntários de Piracicaba, antes de chegar a Rua São João. Quando o Lazinho Tabaré ia assistir jogo de boche, aonde ele ficava olhando ninguém fazia ponto. Quando um dos filhos dele, o Zeza, estava jogando ninguém fazia ponto, perguntavam: “- Como essa bola foi para lá?” Alguém respondia: “-O Lazinho Tabaré está assistindo!”

sexta-feira, fevereiro 17, 2017

HÉLIO POMPEU

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 18 de fevereiro de 2017.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: HÉLIO POMPEU

Hélio Pompeu narra um pouco da sua história, dos anônimos que enquanto a cidade dormia, eles trabalhavam para o bem estar da comunidade. Nascido em Campinas, a 11 de setembro de 1943, filho único de Zélio e Angelina. Fez seus primeiros estudos no Grupo Escolar Orozimbo Maia, em Campinas, a Rua Andrade Neves.
Em que bairro de Campinas o senhor morava quando era criança?
Eu nasci e vivi uma parte da minha vida a Rua Ferreira Penteado, no centro de Campinas. Morávamos com o meu avô a sua pensão chamava-se Pensão Colombo. Ele sempre teve bar ou pensão em torno da Estação da Estrada de Ferro Companhia Paulista em Campinas. Entre os parentes do lado paterno havia muitos ferroviários, com isso havia os “passes” eu tinha facilidade em viajar de trem, ia muito passear em diversas cidades: Rio Claro, Birigui, Araçatuba, meus parentes do lado paterno moravam nessas cidades. Meu avô paterno chamava-se Rafael Sanches e Maria Garcia, meu avo materno chamava-se Adolfo Pompeu e minha avó materna Maria Orlando.
O meu avô Rafael e a minha avó Maria Garcia, tinham muitos clientes que ficavam na pensão, eram pessoas que ele tinha conhecido em Araçatuba e região e vinham para consultas e tratamentos no Instituto Penido Burnier. Naquela época já era uma clínica famosa.
Ao terminar o curso primário o senhor continuou os estudos?
Como fui um dos três melhores alunos da classe, ganhei dois anos de bolsa integral no Colégio D.Pedro II para estudar na Escola de Comércio D.Pedro II, a noite. Fiz o curso de datilografia. Como eu necessitava trabalhar, deixei a escola.
Qual foi o primeiro emprego do senhor?
Fui trabalhar em uma tapeçaria de propriedade de Hugo Carcani, casado com Dona Irene, quem conseguiu esse emprego para mim foi meu tio chamado Alfredo Roque, eu tinha uns 12 anos. Com uns 14 a 15 anos mudei-me para Capivari. Isso na época em que havia os cinemas Politeama e Íris. O Cine Iris acabou e fizeram o Cine Vera Cruz, que existe até hoje. Em Capivari algumas pessoas da família estavam pensando em me colocar para trabalhar na roça. Foi quando decidi trabalhar em padaria.
O senhor começou o ofício de padeiro em qual padaria?
Comecei em Capivari na então “Padaria de Pedra” dos irmãos Roque, ficava na esquina próxima ao Cine Vera Cruz. O prédio onde era a padaria também permanece, só a padaria que não existe mais.
Que atividades o senhor tinha a fazer quando entrou na padaria?
 Quando comecei, ia buscar os animais no pasto, comecei a trabalhar a noite, sem ganhar nada, para aprender a profissão. Eu ganhava para ir buscar, tratar dos animais e carregar os carrinhos com pães. Eram sempre três, no máximo quatro carrinhos.
Eram carrinhos com carroceria de chapa, com tampa. As rodas eram de madeira com um aro de ferro em volta. As ruas eram de paralelepípedo, o barulho que fazia de madrugada era alto. Cada carrinho era tracionado por um único animal. Eram éguas, tinha a Neguinha, a Pinhona, a Calçada que tinha os quatro pés brancos, ela trotava muito bem. Elas acostumaram-se comigo. No inicio foi um desacerto, no pasto havia outros animais de outras padarias, tinha que trazer na mangueira, jogava o cabresto em uma delas, montava e trazia as outras. No inicio eu trazia, às vezes debaixo de chuva, de vez em quando a um quarteirão da padaria uma delas desembestava as demais acompanhavam. Eu chegava a sentar na guia e chorar quando aquilo acontecia. Naquela época era um trabalho comum. Carregava os carrinhos, eu saia com um pela cidade para entregar pão. Descia correndo, com os pães em uma cestinha, o condutor do carrinho ia para um lado eu ia para outro lado, entregando pães nas casas. O animal era ensinado, já conhecia a freguesia, ia andando sozinho. Nós batíamos a tampa que cobria a carroceria, após retirar os pães, o animal andava e parava logo adiante.
Esses animais eram acostumados a fazer sempre o mesmo roteiro?
Era difícil quando pegava uma égua que fazia outra freguesia, quando nós batíamos a tampa ela saia em disparada. Nesse caso tinha que trabalhar com rédea comprida, onde um de nós ficava segurando senão o animal desembestava. Ia parar na freguesia que estava acostumada a fazer.
Dentro dessa caixa de metal aonde eram acondicionados os pães, quantos pães cabiam?
Eu calculo que filão pequeno, bem arrumadinho, cabia uns mil.
Não era muito peso?
Para o animal não era. Mil filões, se considerarmos 50 gramas cada um, são 500 quilos. Essa éguinha, a Negrinha, na subida de Rafard ela parava no lugar certinho, sem se mexer, meu patrão batia com o cabo do reio na guardinha de madeira que existia no carrinho, ela saia sem dar um solavanco. Do lugar em que ela parava ela saia. Era impressionante a força que ela tinha. Tinha animal que quanto mais peso você colocava, mais valente ele ficava. Eram animais ensinados.
A seu ver, eles tinham algum tipo de raciocínio, ou seja, pensavam?
Essa égua preta tinha que comer amarrada e separada dos demais. Ela era pequena, acaba de comer o embornal dela, vinha, metia o pé em outro animal, tirava-o do lugar, comia o embornal do outro, fazia assim sucessivamente. Tinha algumas pessoas que ela não suportava, eu entregava pão em Rafard, tinha uma vendinha onde eu parava para entregar. Naquele tempo havia muito caminhão que levava o pessoal para cortar cana-de-açúcar, o chamado “caminhão de turma”. As ferramentas iam junto, inclusive na época havia os machadeiros. Uma pessoa carregando o machado caminhou em direção a Negrinha, do outro lado, onde eu estava entregando o pão presenciei a cena. Quando ela ia morder, você percebia que ela murchava a orelha. Ela estava em posição de morder, a pessoa encostou o machado junto a cabeça dela e disse: “-Morda! Morda!”. Devagarzinho ela foi erguendo a orelha, ela entendeu a mensagem. Eu tinha uns quinze anos, lembro-me disso até hoje. Ela era danada, não havia cerca que a segurasse, conseguia passar o chamado mata-burro.
As ferraduras eram trocadas de quanto em quanto tempo?
Quando havia o paralelepípedo, gastavam mais, as ferraduras eram trocadas a cada um mês mais ou menos.
No paralelepípedo, quando chovia, não era difícil andar com o carrinho, os animais não escorregavam?
O pior eram as estradas, o barro! Com as rodas de ferro ainda! Ficava o dobro do peso. Chegava a encostar o eixo da carroça no chão. Tinha que descer do carrinho e  ir ajudar, fazia força para que a roda virasse, empurrando com as mãos os raios da mesma.
Vocês sempre entregavam os pães em duas pessoas ou era um entregador apenas?
No inicio eu saia ajudando a entregar os pães, depois passei a ter um carrinho, ficou uma freguesia para mim.
O senhor deixava os pães nas chamadas vendas, hoje substituídas por supermercados, e deixava os pães em casas particulares. Como era feito o pagamento?
A maioria das entregas era em casas particulares. O acerto das contas era mensal, uns acertavam diretamente com o entregador, outros acertavam na padaria. O cliente marcava e o entregador marcava também, eram duas marcações. Era muito difícil dar alguma diferença.
Havia um pessoal que saia do baile, passava, via o pão fresquinho, apanhava, o cliente reclamava que o pão não tinha sido entregue?
Isso existia, vim ver muito disso aqui em Piracicaba. Lá em Capivari era muito difícil. Uma característica muito comum era quando íamos entregar pão, já sentíamos o cheiro de ovo e lingüiça fritos. Já estavam aguardando o pão. Algumas casas esperavam o padeiro chegar já com o café pronto. Diziam: “- O cafezinho está pronto padeiro!”. Os padeiros em benquistos. Entregávamos pães na Santa Casa de Capivari, a cozinheira, uma senhorinha, quando entrávamos para deixar os pães já tinha duas canequinhas com café nos esperando! Era muito bom, um café quentinho na madrugada gelada. A meu ver, naquele tempo a vegetação ocupava um espaço maior, isso fazia o frio ficar mais intenso.
A que horas vocês começavam a trabalhar?
A entrega de pães começa às três horas, três e meia continuava após o serviço da noite inteira. Só mesmo o pessoal que tinha freguesia é que chegavam só para entregar. Nós fazíamos o pão e íamos entregar isso foi no começo. Quando eu peguei uma freguesia teve um período em que eu fazia o pão e ia entregar. Depois teve uma época em que mudei de padaria, fui trabalhar na Panificadora Moderna na Rua XV de Novembro, quando eu entrei era do Palhares, quem montou a padaria foi um senhor de nome João Casellhas, que depois se mudou para São Paulo. Lá eu trabalhava de madrugada e entregava pão após o almoço. Eu saia com o carrinho, tinha uma buzina, geralmente um freguês fazia parar. Parava, apertava a buzina, vinha a quadra inteira. Ali já tinha a massa doce, o famoso pão doce, levava produtos diferentes. Algumas pessoas encomendavam doces. Quando eram encomendas para festas elas encomendavam na padaria. Começaram a aparecer os doces chamados de cremes, a bomba. Trabalhei na linha de fornecimento por uns dois ou três anos. Decidi parar de fazer a linha e ficar trabalhando só a noite. Entrava às nove e meia, dez horas da noite e saia às sete horas da manhã.
“Desmanchava”, ou seja, usava, quantos sacos de farinha de trigo por noite?
Em média quatro a cinco sacos. Na segunda padaria em que entrei já tinha modeladora. Nas outras padarias o filãozinho era feitos todos na mão ainda. Trabalhávamos em bastantes padeiros em volta da mesa. Um ia picando e os demais iam fazendo.
Como era calculado o peso do filãozinho?
A medida era feita na mão. Tem que prestar a atenção na massa, se ela está mais fina,, mais grossa.
A qualidade do trigo influencia muito?
A qualidade do trigo antigamente era muito boa. A farinha de trigo vinha do Uruguai, Argentina, União Soviética, esta última por sinal uma das melhores.
Quais eram os ingredientes utilizados para fazer o pão?
Trigo, sal, açúcar, fermento e água. Atualmente usam também o chamado “reforço”.
E o Bromato de Potássio?
O Bromato de Potássio é uma substância química que era utilizada por alguns padeiros para fazer o pão crescer. Esta substância é proibida pela ANVISA por causar câncer. Para pesar o Bromato tinha que ir à farmácia, precisava de uma balança de alta precisão. Em um litro de água colocava-se de 20 a 30 gramas de Bromato de Potássio, ele é em pó. A cada dois sacos de farinha de trigo colocava-se um copinho, daqueles utilizados como doses de aguardente. Imagine a força que o Bromato tem. Esse litro de água durava a semana inteira.
Qual era a função do Bromato de Potássio?
Era estufar o pão. Se enfiasse o dedo ele atravessava o pão. O pão feito com Bromato esfarelava muito. Foram feitos estudos, colocaram mais açúcar na massa para deixar mais macio.
O senhor ficou na Panificadora Moderna, em Capivari, até quando?
Até ser dispensado de servir no Tiro de Guerra. A minha mãe de Campinas foi trabalhar em São Paulo como doméstica na casa do juiz Sebastião Caboto Carreta, da família Carreta da cidade de São Pedro. Minha mãe disse-me que viria morar em Piracicaba. Eu tinha dois anos e meio quando meu pai faleceu. Até hoje mantemos os laços familiares com as minhas tias e tios, irmãos do meu pai. Minha mãe foi trabalhar como doméstica na casa do médico Dr Ben-Hur Carvalhaes de Paiva. Eu vim para Piracicaba, para passear, disse à minha mãe: “Angelina! Vou sair de Capivari!”. Eu a chamava pelo nome. Ele disse-me que se quisesse vir para Piracicaba havia como me alojar. Minha tia e meu tio que era aposentado do Engenho Central concordaram. Nisso Benedito Mateus, mais conhecido como Dito Botinha, parecia àquele personagem Amigo da Onça, Morava próximo a minha casa, na Vila Monteiro. Morávamos na Rua Alexandre Herculano. Ele morava descendo a Rua João Bacchi, na primeira casa da Rua da Paz. Ali era tudo mato nos anos 60. Nem asfalto não tinha, a energia elétrica tinha chegado a pouco tempo ali. Minha mãe foi à Capivari e disse-me que o Seu Dito tinha me convidado para vir trabalhar com ele quando eu quisesse. Na realidade em Piracicaba havia uma falta enorme de padeiros.
O senhor veio conversar com o Dito Botinha?
Vim! Fui até a casa dele, sentamos, conversamos generalidades, ele disse-me; “Apronte-se que a noite eu passo e levo você comigo para a padaria”. Fomos de ônibus, naquela época pegava o Ônibus Circular no Cemitério. Lá para baixo, onde morávamos, não havia ônibus.
Em qual padaria vocês foram trabalhar?
Na Padaria Brasileira, situada a Rua Alferes José Caetano, 701. O proprietário era José Ieda, casado com Dona Lucy Cardinalli. Ele não tinha chegado ainda. Entrei, fiquei esperando, dali a pouco ele chegou, o Dito me apresentou, aquela noite mesmo já comecei a trabalhar. No terceiro dia ele disse-me para levar a carteira de trabalho, para registrar. No dia 6 de janeiro de 1963 eu peguei a mão no cilindro. Perdi o dedo polegar após dois meses de tratamento. Fiquei afastado do trabalho por quatro meses. Voltei a trabalhar. No inicio foi difícil, eu tinha 19 anos, andava com a mão no bolso. Um dia o nosso chefe Ernesto Rampazzi comunicou-nos que o Pitangueira, que era o forneiro, ia sair da padaria. Eu disse: “Seu Ernesto, onde eu morava, eu enfornava pão!. Só não tinha essa pilha de tabuleiros de pães!”
Na Padaria Brasileira vocês “desmanchavam” quantos sacos de farinha de trigo por noite?
Em média uns doze sacos! Era bastante, era tabuleiro ainda de madeira, pesados. A padaria tinha dois fornos, um bem grande e outro menor. Quando a pilha de tabuleiros começava a aumentar muito, alguém saia da mesa e vinha enfornar no segundo forno, que era menor. Funcionavam os dois a noite inteira. Comecei trabalhando no forno menor, na folga do forneiro eu passava a trabalhar no forno maior. No fornão iam 12 tabuleiros com 25 bengalas cada um. Eram 600 bengalas a cada enfornada.





Uma bengala equivale a quantos filões de 50 gramas?
Em média cada bengala pesava 250 gramas, equivale a cinco filões.
O forno era a lenha, quem colocava a lenha?
Nós mesmos! Era forno continuo. Trabalhava dia e noite. Enquanto outras padarias tinham forno de descanso.
O que é forno de descanso?
O forno de descanso você tem que queimar ele durante o dia, por exemplo, queima a manhã inteira, até quando chega lá pelas duas horas da tarde. Acabou de queimar, você fecha o forno. A noite você o limpa por dentro, retira a cinza que sobrou da lenha queimada, coloca de três a cinco latas com água, essa água vai evaporar dentro do forno, ai passa a enfornar até o próximo dia pela manhã. Aos poucos ele vai enfraquecendo, então é colocado mais açúcar na massa para corar o pão. A lenha é colocada de novo só no dia seguinte a fornada. O forno que usávamos na Padaria Brasileira já tinha o marcador de temperatura. A maior produção da padaria era bengala e filãozinho.
Como era feita a entrega dos pães feitos na Padaria Brasileira?
Na época já eram três peruas Kombi. Havia um ou outro “frangueiro” que ia buscar pães para negociar na zona rural, mas eram poucos. 
A padaria Vosso Pão situava-se onde hoje é o Edifício Canadá, era gerenciada por uma senhora?
Era a Dona Augusta, que foi proprietária da Padaria Inca, muito tradicional. Ela foi proprietária da Fábrica de Bolachas Júpiter, uma indústria alimentícia que marcou época.
Quando o senhor saiu da Padaria Brasileira foi trabalhar em qual padaria?
Fui para a Padaria Nossa Senhora Aparecida – PANSA, situada na Avenida São Paulo. Na época era uma padaria com uma portinha só. Quem montou a padaria foi o Benzico, que era motorista de praça (taxista). Ele vendeu para  José Micheletti casado com Dona Domingas, eles tinham uma família grande, muitos filhos, todos trabalhavam muito na padaria. A PANSA “desmanchava” em média 15 a 16 sacos de farinha de trigo por dia. Eram 4.500 bengalas por dia. Por um longo período foi a padaria mais conceituada da cidade. Eram muito detalhistas e cuidadosos com os produtos que fabricavam. Eles contrataram um mestre italiano para fazer biscoitos de polvilho. Criaram uma fama enorme com o biscoito de polvilho.
Quantos forneiros trabalhavam na PANSA?
Tinha dois forneiros que trabalhavam regularmente, um terceiro forneiro que era o folguista, cobria a folga de um dos forneiros, dois cilindreiros, um masseiro, um mestre e um ajudante.
A que horas abria a PANSA ?
Às cinco e meia da manhã e ficava aberta até as dez horas da noite. Nós que trabalhávamos na produção chegávamos para trabalhar com o balcão aberto ainda, as dez horas da noite e trabalhava até as seis, sete horas da manhã.
A parte de confeitaria o senhor nunca fez?
Nunca gostei! Em Capivari, na esquina da Igreja Santa Cruz tinha o Bar da Bepa que só fazia doces caseiros: mamão verde, abóbora, batata doce, uma grande variedade, era só pegar algum dinheiro e o pessoal corria para o Bar da Bepa. De bar não tinha nada, só tinha doces, um mais gostoso do que o outro.
O senhor trabalhou na padaria Jacareí?
Trabalhei, o proprietário era o Adão Roque, a esposa dele era professora no Colégio Piracicabano.
É muito comum o padeiro sair e voltar a trabalhar em determinadas padarias?
É bastante comum, eu trabalhei em poucas padarias, porém entrei e sai várias vezes. Houve uma época em que o Faganelllo adquiriu as padarias Bom Jesus, Jacareí e Takaki e deixaram para o João Jorge administrar. Com isso eu passava uma semana em cada padaria.
A Padaria Jacareí é uma das mais antigas de Piracicaba?
Das padarias antigas que ainda estão abertas, acho que a Jacareí e a Central são as mais antigas. A Padaria Popular, no inicio trabalhava só como confeitaria. O José Ieda não se conformava de confeiteiro ficar junto com padeiro, saia muita briga, por causa do uso de forno. Os dois queriam usar o forno ao mesmo tempo. Ele abriu a Padaria Popular, mandava pão para lá e trazia doces para a Padaria Brasileira. Quem entregou pão com carrinho de tração animal, por muito tempo, foi o filho do dono da Padaria São José situada na Avenida Madre Maria Teodoro esquina com a Rua MMDC, o Alexandre Sacchi e seu irmão Roberto Sacchi. Depois foram donos da Pão Quente, da Padaria Independência.
Atualmente é mais fácil fazer pão?
Tem muita facilidade para fazer. É só jogar a farinha, água e fermento já faz pão!
A sua vida sempre foi em função de proporcionar a alimentação à população?
A minha vida sempre foi essa. E continua até hoje. Amanhã cedo mesmo eu vou trabalhar. Já faz 12 anos que me aposentei na Padaria Delicia, do Castilho.
O senhor ainda faz uns biquinhos por prazer?
Eu gosto de trabalhar na minha profissão! Antigamente o saco de farinha era de 60 quilos, hoje tem de 50 e de 25 quilos. Logo acaba o de 50 quilos. Era saco de tecido, hoje é de plástico. Antigamente quanto saco vazio eu vendi na Vila Monteiro para as pessoas fazerem lençóis, camisa, piquá (bolsa) para as crianças levarem material escolar.
O senhor tinha alguma forma de laser?
Tinha! Fui praticante de futebol. meia esquerda. Em Capivari cheguei a disputar o Campeonato Amador. Primeiro no infantil e juvenil do Capivariano Futebol Clube depois o time dispersou, fui parar no Rossi onde fui bi-campeão. Quando vim para Piracicaba comecei a brincar um pouco no Lusitano, da Vila Monteiro. A bola era pesada, matava ela no peito ficava a marca!
                                            CAPIVARIANO FUTEBOL CLUBE  
Qual outra atividade o atraia?
Eu gostava muito de cinema, de bailes, musica. Clássicos como Casablanca, E o Vento Levou, Ben-Hur, quando era criança gostava dos filmes mexicanos da PELMEX-Películas Mexicanas com Libertad Lamarque. Assisti Marcelino Pão e Vinho, depois de dois dias estava passando em Capivari, levei a minha avó para assistir no Cive Vera Cruz, que existe até hoje. Assisti muitos filmes fantásticos, como Amar é Sofrer . Têm pessoas que não gostam de filmes brasileiro, eu gosto muito de filme brasileiro. Principalmente da Atlântida Cinematográfica e Vera Cruz. Dificilmente teremos outro ator como Milton Ribeiro. Tornou-se conhecido por suas interpretações de homem mau do cinema brasileiro, vai ser dificil surgir um canastrão como ele interpretava. Um dos maiores sucessos do cinema brasileiro, que encontra-se na galeria mundial da fama é O Pagador de Promessas um filme brasileiro de 1962, um drama escrito e dirigido por Anselmo Duarte e baseado na peça teatral de Dias Gomes.Conheci Anselmo Duarte, ele era de Salto. A família Duarte é grande, ele tinha vários primos em Capivari.
O senhor conhece a história que Anselmo Duarte contava em suas palestras, sobre o milésimo gol do Pelé?
Em uma partida amistosa, realizada em uma longa excursão do Santos pela Europa, o time era uma máquina de fazer gols, até que com uma celebre goleada sobre o adversário o técnico brasileiro atendeu o apelo do time que estava passando por um vexame em sua própria casa e tirou Pelé do campo, durante a partida.  O ator Anselmo Duarte (que viajava com os santistas, numa espécie de cicerone do elenco), entrou em campo e marcou um gol!!!! Para não dar problemas com a CBD, o SFC informou que o gol tinha sido de Pelé. Isso foi narrado pelo próprio Anselmo Duarte em palestra proferida no SESC de Piracicaba. Essa excursão ele fez com o Santos já promovendo o filme “O Pagador de Promessas”. O filme já estava pronto, ele não tinha mandado para o festival ainda. ‘O Pagador de Promessas’, dirigido por Anselmo Duarte, conquistou o prêmio máximo do Festival de Cinema de Cannes, na França. A Palma de Ouro em 1962.
O senhor gosta de ler?
Gosto muito, um livro que gostei muito é Os Fantoches de Deus, de Morris West, Gosto de Jorge Amado, adoro as poesias de Pablo Neruda.
Assim que cheguei o senhor estava ouvindo una musica muito bonita.
Eu não sou musico, mas gosto de boa música. Estava ouvindo o show do Andrea Bocelli na Toscana, Itália. Ele montou um teatro em meio das montanhas na Itália.
O senhor toca algum instrumento?
Instrumento de couro eu bato bem sim. Já sai na escola de samba Unidos da Cidade Alta, era cordão depois passou a ser escola de samba, eu tocava tamborim, surdo. Conheci Bonga, Nardão.  Gostava muito de sair no coro dos puxadores de samba. Comecei a cantar em escola de Samba quando morava ainda em Capivari, saia na escola Pedrinho Motta.
O senhor vive momentos distintos, a arte de trabalhar com alimentos e o amor pela arte, com uma predileção intelectual muito seleta.
Na padaria, os meus colegas ficavam loucos com isso. Enquanto eles cantavam ou ouviam músicas do gosto popular, geralmente impostas pela mídia, eu chegava e cantava, por exemplo, Chico Buarque, Milton Nascimento, Ivan Lins, destoando totalmente doa preferência da maioria. Diziam: “-Esse rapaz está louco!”.
O senhor estava adiante do seu tempo!
Minha mãe dizia que eu estava além do meu tempo. E eu a considerava um pouco além do tempo em que ela vivia.
Uma análise do mundo atual e de uns 30 anos passados, o mundo mudou muito?

Mudou para pior! A tão decantada tecnologia eu não sei aonde irá nos levar. O povo brasileiro já não tem história. Tudo que aprendemos na escola foi desmitificado agora! Tiradentes não era o que disseram que era! A História que nos contaram não era a verdadeira! Tivemos um herói na Guerra do Paraguai que não saiu do Rio de Janeiro! Fabricamos um herói! Um país sem história, sem memória não é um país. Uma cidade que preserva sua história é a cidade de Itu. Lá você encontra história. Há a preocupação da cidade em preservar a sua memória. O Engenho Central, o Lar dos Velhinhos, estão onde se encontram graças a coragem de homens que lutaram e lutam pela sua preservação. A ambição sem escrúpulos e especulação desenfreada já teriam alterada a geografia da cidade. 

NOTAS:






Cervejaria Columbia

Publicado 21/05/2014 por lcs2308


  O italiano Ângelo Franceschini, veio da Itália para o Brasil em 1875 e, em 1880 junto com Ângelo Belluomini, seu sócio, fundou sua primeira fábrica de cerveja, a fábrica de Cerveja Guarany, na Rua Cônego Scipião (antiga Rua Vinte e Quatro de Maio), n. 19, prédio que até 1988 ainda resistia ao tempo. 

      Em 22 de agosto de 1885, o jornal Gazeta de Campinas, publicou que foi realizada nos salões da Faculdade de Direito, em São Paulo, a Exposição Provincial e que obtiveram prêmios nessa exposição diversos expositores de Campinas. Entre os produtos premiados constava a cerveja branca de A. Franceschini & A. Belluomini.

  Em 1906, através de seu fundador Ângelo Franceschini, a fábrica de cerveja e “Gelo Columbia”, começou a funcionar  no prédio de tijolo da  Avenida Andrade Neves, 103. Esse prédio construí­do em 1873 para abrigar a Cia. MacHardy, primeira fundição de Campinas. Foi comprado pela Columbia quando a Cia. MacHardy enfrentou problemas financeiros no final do sécu lo 19 e se transferiu para próximo de sua concorrente, a Fábrica Lidgerwood. 

        O capital empregado foi de 1,727:091$736 (1 milhão, 727 mil, 91 contos e 736 reis), todos os produtos eram elaborados com matéria-prima alemã£. Seus produtos receberam medalhas de ouro e diploma de honra nas exposições de Torino em 1911 e em Roma em 1913. 

        Fabricava entre outras, as cervejas: Franciscana, Duqueza, Colúmbia, Negrita e ainda o Guaraná Cristal. 

        A produção anual de cerveja, refrescos, gasosas, água mineral e xaropes eram de 15 mil hectolitros. Seu movimento era de cerca de 1500 contos por ano. A fábrica utilizava 70 empregados e tinha importação anual de 100:000$000 (cem mil contos de reis).



                    Acima o edifício da fábrica na Avenida Andrade Neves, números 80 e 82;

 Acima laboratório químico, vendo-se os Srs. Ângelo Franceschini, proprietário; Guido Franceschini, auxiliar; Luiz Helmpel, diretor técnico

                                       Acima seção de engarrafamento


                             Acima a seção de pasteurização, rotulagem e selagem


                                               Acima seção de fabricação de gelo.

A partir de 1930, foi fabricada uma cerveja preta, criada em homenagem ao cavalo de nome “Mossoró” que ganhou o 1º Grande Prêmio do Brasil, no rótulo da garrafa de cerveja estava estampada a cara do cavalo campeão.
          Em 1957, a fábrica foi incorporada pela Antarctica, transformando o prédio em deposito de sua fábrica que já existia ao lado. Gradativamente os produtos da Columbia deixaram de ser produzidos, a Antarctica ainda produziu por um certo tempo a cerveja preta Mossoró.
 No dia 1 de outubro de 2004, envolvendo a Prefeitura, a Sanasa e a AmBev; O terreno que tem 2.736,30 m2, dos quais 1.691,20 m2 de área construída e que se encontra vazio e abandonado desde 1989, foi desapropriado por decreto, pela Prefeitura.      
Cervejaria Columbia, e, 1921. Na foto da esquerda para direita: José Strazzacappa, Arthuro Santucci, Duílio Franceschini e Ângelo Franceschini.
Acervo Nelson Santucci Torres:
          Cervejaria Columbia. 1- Angelo Franceschini; 2- Artguro Santucci; 3- Orlando Santucci:


Theresa Gava Francheschini, Carolina Izabel Franceschini Santucci, Ida Franceschini Strazzacappa, Orestes Franceschini e Ângelo Franceschini (fundador da Cervejaria), por volta de de 1895/96: 



Pequena história dos cinemas em Capivari
por Arnaldo F. Battagin, março 2015


Todos (ou quase todos ) conhecem a história do Cine Vera Cruz, inaugurado em 21.5.1955 e que constitui o único cinema em funcionamento atualmente na nossa cidade. Recomendo o vídeo especial de 50 anos para os que ainda não o viram.




 Mas a história do cinema em Capivari começa muito antes. Em 10 de fevereiro de 1885, Capivari recebia a visita honrosa do grande republicano, Dr Prudente de Moraes Barros, que veio de Piracicaba. À noite, o ilustre deputado e futuro presidente da República, foi alvo de uma grande manifestação de apreço por parte de seus correligionários, oferecendo-lhe um lanche no Teatro Rinque (depois, Teatro São João). Em 1904, no dia 7 de fevereiro, inaugurou-se no Teatro São João a iluminação a gás acetileno. Esse fato concorreu para que o teatro, que ficava na praça central, na esquina das ruas XV de Novembro e Saldanha Marinho fosse palco das atividades cinematográficas em Capivari, por muitos anos. Foi sucedido em denominação por Cine Iris, que os capivarianos de mais de 70 anos, chegaram a conhecê-lo, como palco de diversão e muitos namoros. Assim noticiava a imprensa local: ”Em abril de 1908, tendo o Sr Amadeu Castanho adquirido em São Paulo um cinematógrafo, deu o primeiro espetáculo na noite de 23, tendo sido o primeiro cinematógrafo instalado definitivamente nesta cidade e que muito agradou ao povo, principalmente a revista cômica A PRANCHA, repetida mais de 20 vezes”. Outra noticia dava conta que em 1905, no dia 6 de fevereiro, tinha estreia no Teatro São João o cinematógrafo da empresa J.J. Martinelli. Em 29 de maio desse mesmo ano Capivari era brindada com o primeiro espetáculo de cinema falante, da empresa Candburg e assim reagiu a imprensa: De todos os cinematógrafos que vizitaram (sic) a nossa cidade, foi esse o mais aperfeiçoado, distinguindo-se os dois números ”Au Clair de la Lune” e “Ao telefone” Outra noticia, de 1909, mostrava empreendedores capivarianos dessa área. “ A 4 de abril de 1909, os senhores Benedito Pereira da Cunha(bisavô de Ricardo Cruzatto e ex prefeito) e Joaquim da Silva Jr instalaram no Teatro São João um cinematógrafo Pathé.( Essa empresa francesa, juntamente com a Lear e Melliés e outras americanas e inglesas ganharam o mundo a partir de 1895, quando Lumière “inventou” o cinema). Os primeiros espetáculos apanharam enchentes à cunha”. O equipamento não resistiu ao tempo, nem a gíria, que não entendemos mais. O empreendimento mudaria de mãos, conforme mostra anúncio de funcionamento em 1910 da empresa cinematográfica de Antonio Coelho, instalada no Teatro São João, com o nome de Cinema Brasil. Haveria ainda o Bijou Cinema, do mesmo Antonio Coelho, inaugurado em 27.8.1911 no local onde mais tarde foi construída a residência da Família Jarjura, na Rua XV de Novembro, logo abaixo da atual Prefeitura. Em 8 de janeiro de 1914, o Bijou Cinema passou a chamar-se Radium Cinema, sob a firma de Artur Afonso de Toledo, projetando a película Os Noivos, de Pasquali Film. O cine Politeama somente seria inaugurado em 12.10.1923.
Vinicio Stein de Campos, no seu livro Menino de Capivari II, edição de 1982, nos conta interessante historia sobre as origens do Politeama. O motivo da construção do prédio para abrigar o cinema deveu-se à disputa dos dois partidos políticos capivarianos na década de 20: o Maragato e o Democrata. O cine Iris pertencia ao Maragato e a rivalidade se acirrou quando ficou pronto o novo cinema. Certo tempo depois houve um congraçamento entre os partidos, mas a disputa entre os cinemas continuou por muito tempo. Nas noites em que o Politema exibia um filme de estreia ou de melhor qualidade e, portanto se cobrava mais por isso, o Iris, projetava de suas janelas no paredão da Câmara Municipal, filmes mais populares, curta metragens, etc., sessões que eram chamadas de “Cine Reclame” Essa sessões grátis despertava grande interesse do público em detrimento das sessões mais caras do Politeama. O processo continuou, com sessões regulares às sexta feiras agora não mais com aquela característica de disputa e concorrência, até que resultou por desgaste no desaparecimento do chamado ”cine reclame”.Infelizmente nessa disputa só houve perdedores, pois o Iris “morreu” no início da década de 50 e o Politeama nos anos 70 ou 80 (não consegui apurar) O certo é que eles morreram em nome do “progresso”, juntamente com o Coleginho, a Câmara Municipal, o Mercado. Uma pena!



Capivariano Futebol Clube

O Capivariano Futebol Clube é um clube brasileiro de futebol da cidade de Capivari, interior do estado de São Paulo. Fundado no dia 12 de outubro de 1918, suas cores são vermelho e branco e a mascote é o "Leão". Atualmente disputa a Série A2 do Campeonato Paulista. Fundado em 1918, o Capivariano Futebol Clube é uma das equipes mais antigas da Região da Sorocabana, que era abastecida pela Companhia Estrada de Ferro Sorocabana. A linha ligava a capital paulista ao Oeste do Estado, chegando até a divisa com o Mato Grosso. Nos anos 1950, o Capivariano, que foi um tradicional participante de competições amadoras, montou um verdadeiro esquadrão e se tornou praticamente imbatível nos campeonatos do Interior, vencendo 32 títulos zonais. Devido a este extraordinário desempenho, começou a ser chamado de “Leão da Sorocabana”, apelido pelo qual é conhecido até hoje.[2]
Durante muitos anos, o Capivariano mandou os seus jogos no Estádio Municipal Fernando de Marco, próximo à estação da Sorocabana, hoje desativada. Atualmente, o clube joga na Arena Capivari (antigo Estádio Carlos Colnaghi), inaugurado em dezembro de 1992, reformado em 2014 e que tem capacidade para suportar até 19 mil torcedores segundo contagem da Federação Paulista de Futebol.
Sua primeira competição profissional foi em 1958, no Campeonato Paulista da Terceira Divisão (equivalente a atual Série A3), onde permaneceu até 1963 sem nenhum resultado expressivo.
A partir de 1964, o clube esteve por 11 anos licenciado, e retornou somente em 1976, na Segunda Divisão (Série A3). Em 1980, a nomenclatura dos campeonatos foi mudada e, a partir desse ano, o Capivariano disputou a Terceira Divisão (Série A3), onde permaneceu até 1984, quando foi campeão e promovido à Segunda Divisão (Série A2).
A equipe de Capivari permaneceu na Segunda Divisão até 1987, quando houve mais uma outra reordenação dos campeonatos e a "Segundona" passou a ser a Série Especial. Nesse ano, o clube foi rebaixado, disputando no ano seguinte o Campeonato Paulista da Segunda Divisão (que equivale à atual Série A3), conquistando o título e o acesso à Série Especial (Série A2), onde permaneceu até 1991.
Após ficar o ano de 1992 sem disputar competições profissionais, o Capivariano retornou em 1993 na Série A2 do Campeonato Paulista. Entretanto, caiu duas divisões e no ano seguinte esteve inscrito na Série B1A (equivalente a atual Segunda Divisão), onde permaneceu até 1997.
Também em 1997 foi novamente rebaixado, desta vez à B1B (quinto nível, sem equivalência no sistema atual), divisão que disputou até 1999. A partir daí, participou do Campeonato Paulista da Segunda Divisão B2 (quinto nível) até em 2005, quando houve nova reorganização na estrutura do futebol paulista e as então séries B1, B2 e B3 foram unificadas na atual Segunda Divisão Estadual.
No ano de estréia na nova Segundona, o Capivariano conseguiu avançar à segunda fase, mas acabou eliminada na seqüência. Também disputou a Segunda Divisão em 2006 (novamente eliminado na segunda fase), 2007 (eliminado na primeira fase) e em 2008 (eliminado na segunda fase), mas sem sucesso.
Ascensão e acesso à elite
Entre 2011 e 2012, o Capivariano conquistou um feito histórico, dois acessos consecutivos, em 2011 acesso à Série A3 de 2012 e em 2012, acesso à Série A2 de 2013.
Em 2013 na Série A2, o Capivariano fez uma boa campanha na fase inicial e terminou na 6ª posição, com 30 pontos, garantindo, assim, vaga no quadrangular final, num grupo com Portuguesa, Comercial e Catanduvense. Entretanto, no quadrangular final o Leão da Sorocabana fez uma campanha regular e terminou na 3° colocação do grupo com 7 pontos, o mesmo número de pontos do Comercial, porém a equipe de Ribeirão Preto ficou com o acesso por ter o saldo de gols maior: +5 a -1.
Em 2014, o Capivariano fez uma excelente campanha e conseguiu o acesso inédito para o Campeonato Paulista da Série A1 de 2015 com duas rodadas de antecedência em cima do Guarani, de virada por 2 a 1, gols de Silas aos 46 minutos do primeiro tempo e Rodolfo virando a partida aos 43 minutos do segundo tempo. O título veio na 19ª e última rodada, após bater em casa o Itapirense por 3 a 1, garantindo, de quebra, uma inédita vaga para a Copa do Brasil de 2015.

Principais artilheiros:

Romão foi um dos principais artilheiros dos últimos tempos na era profissional do Capivariano Futebol Clube. Hoje com 25 anos, o atleta viveu suas melhores fases dentro da equipe de Capivari. Em 2011, onde o Leão da Sorocabana dava início a uma arrancada heróica, da última divisão do Estado à Elite de São Paulo, o jogador fez 27 gols e tornou-se o maior artilheiro da "Segundona" do Paulista. Ao todo, ele marcou 49 gols com camisa da equipe profissional até aqui.

Silas foi outro nome importante na super arrancada leonina. Ele marcou 30 gols pelo clube. Mas no ano de 2015, em exame de rotina, o atleta teve problema com Leucemia detectado, e infelizmente, não foi possível disputar o Campeonato Paulista de Futebol 2015 - Série A1.

Principais revelações


A agremiação já revelou diversos atletas que já jogaram e que estão jogando em grandes times, como por exemplo o goleiro Zetti, o meio-campista Amaral que retornou a equipe em 2015, o lateral-direito Cicinho (atualmente no Sevilla) e o zagueiro Dante (atualmente no Bayern de Munique).

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