domingo, julho 09, 2017

ELIANA ROSSO COSTA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 08 de julho de 2017.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/


http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: ELIANA ROSSO COSTA


 

Eliana Rosso Costa nasceu em São Paulo a 12 de outubro de 1928, seu pai fez questão em registrá-la no registro civil no dia 1º de novembro, dia de Todos os Santos. (São Paulo naquela época era considerada uma cidade pequena) . São Paulo passou de centro regional a metrópole nacional, se industrializando e chegando a seu primeiro milhão de habitantes  em 1928. Em 1929 São Paulo ganha seu primeiro arranha-céu, o edifício Martinelli.












 A partir da década de 1920 com a retificação do curso de rio Pinheiros e reversão de suas águas para alimentar a Usina Hidrelétrica Henry Borden, terminaram os alagamentos nas proximidades daquele rio, permitindo que surgisse na zona oeste de São Paulo, loteamentos de alto padrão conhecidos hoje como a "Região dos Jardins”.  Eliana Rosso Costa tem uma sólida formação escolar e acadêmica. Estudou inicialmente no Liceu Rio Branco Uma entidade escolar do mais alto nível do país. O Colégio Rio Branco é uma escola brasileira particular da cidade de São Paulo e tem como finalidade maior formar as crianças desde a educação infantil até o ensino médio. Com mais de 70 anos de história, é considerado um dos mais tradicionais colégios da cidade de São Paulo. O colégio faz parte do Programa de Escolas Associadas da UNESCO, que o qualifica para partilhar práticas educacionais com instituições de todas as partes do mundo, por meio de projetos inovadores nas áreas de Ciência e Cultura.Instalado em duas unidades, uma no bairro de Higienópolis, em São Paulo, com mais de 15.000m² de área construída, e outra na Granja Viana, município de Cotia, com área total de 80.000m² e 23.000m² de área construída. O colégio foi fundado por Savério Cristóforo, professor de um curso preparatório ao exame de admissão. Com o tempo, o curso se expandiu e precisou aumentar o espaço físico, mudando para outro local, e passou a chamar-se Instituto Rio Branco. Em 1926 foi trocado o nome para Liceu Nacional Rio Branco, passando por nova ampliação de suas instalações. Falecendo o professor Savério, em 1945, o Liceu foi comprado por dr. Antônio Sampaio Dória, mas acabou encerrando suas atividades logo no primeiro semestre.José Ermírio de Moraes, que foi senador da República por Pernambuco em 1963, vendo que a escola tinha um valor institucional, adquiriu o Liceu em 1945, e deu-lhe o nome de Colégio Rio Branco. Em 1946, o colégio foi doado à Fundação de Rotarianos de São Paulo. Nessa época localizava-se na Rua Doutor Vila Nova, onde atualmente é o Tribunal de Justiça da Polícia Militar; posteriormente, nos anos 60, transferiu-se para o atual prédio da unidade Higienópolis, o Edifício Rotary (Rotary International).O Teatro Rio Branco revelou atores como Antonio Fagundes, Dan Stulbach e Odilon Wagner.Outras pessoas notórias que também estudaram na instituição incluem o locutor e narrador esportivo Galvão Bueno, o piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna, o humorista e apresentador Carlos Alberto de Nóbrega, o zoólogo e compositor Paulo Vanzolini e o cantor e compositor Jair de Oliveira.


                                                      SÃO PAULO DE ANTIGAMENTE

Qual era a atividade de seus pais?

O meu pai Chiafredo Rossi veio da Itália, ele casou-se com a minha mãe, Aurora Baratti Rosso, filha de italianos. Tiveram três filhos: Rovana Rosso, Hélio Rosso e Eliana Rosso. O meu pai nasceu entre 1988 a 1989, ainda moço, em 1910 ele veio para o Brasil, por conta própria, não veio com alguma das levas de imigrantes, em 1914 teve que voltar para a Itália convocado pelo governo para servir as forças italianas durante a Primeira Grande Guerra Mundial. Em 1918 ou 1919 ele voltou para o Brasil ele e mamãe casaram-se, já haviam se conhecido anteriormente no Brasil. Mamãe, como de hábito naquela época cuidava da casa e dos filhos. Papai tinha escritório de importação e exportação, chamava-se DECAL – Despachos de Cabotagem Ltda.

A senhora nasceu quando a sua família morava em que bairro?

A nossa família morava na primeira travessa da Avenida da Consolação, para quem se dirige no sentido bairro–centro, ao lado direito. Era uma casa enorme com um quintal imenso. Ao fundo tínhamos a Avenida Nove de Julho, já estava traçada a avenida mas era em chão de terra batida! Tinha um barranco que dava para a futura Avenida Nove de Julho. Nós íamos para o escritório do papai lá pelas cinco e meia da tarde, mamãe de chapéu, eu de chapeuzinho também, íamos buscá-lo na DECAL. Ficava na primeira travessa da Rua Direita, no centro de São Paulo. Íamos a pé, até a Rua da Consolação, pegávamos o Viaduto do Chá e entrávamos na Rua Direita.








A senhora conheceu a antiga Igreja da Sé?

Não. Nós freqüentávamos a Igreja da Consolação. Eu estudei no Liceu Nacional Rio Branco que era perto do Mackenzie. É interessante observar que o Liceu Rio Branco tinha uma área em uma quadra e outra na quadra em frente, para os alunos passarem sem correrem riscos havia uma galeria subterrânea que atravessava a Avenida Higienópolis. Entrávamos pela entrada principal, nesse prédio tínhamos aulas, outras aulas eram dadas no prédio do outro lado da rua, para chegarmos até lá atravessávamos o subterrâneo. O Jardim da Infância eu estudei no Sagrado Coração de Jesus, situava-se na esquina da Avenida Consolação. A minha irmã fez todo o curso dela nessa escola.

A senhora conheceu o Mappin?

O Mappin era na Praça Ramos de Azevedo, em frente ao Teatro Municipal. Tinha o famoso Salão de Chá, freqüentado pela elite de São Paulo. Eu era muita nova, não me lembro em detalhes. Era enorme, muito grande, seus proprietários eram estrangeiros. Lembro-me da Casa Fretin, existe até hoje. Ao lado do Mappin, na Rua Xavier de Toledo esquina com o Viaduto do Chá havia a Light, que fornecia energia elétrica para São Paulo.




MAPPIN





MAPPIN






MAPPIN




A Praça da República era bonita?

Muito bonita e bem cuidada. Havia diversos cinemas nas imediações, entre eles o Odeon, com duas salas: Sala Vermelha e Sala Azul.




Seus estudos no Liceu Rio Brancos deram-se após o término do jardim da infância?

Na época nós mudamos e o Liceu Rio Branco ficava mais próximo de casa. Conclui o primário e o ginásio no Rio Branco. O Clássico eu fiz em um colégio italiano, o Dante Alighieri. Na Alameda Jaú.  Naquela época os professores eram todos europeus.

O idioma falado era o italiano?

Não podia! Falavam português, mas ensinavam o italiano. Os professores não eram apenas italianos, mas também franceses, ingleses, alemães.

Quais idiomas eram lecionados?

Além do português, aprendemos grego, latim, italiano, francês, inglês, espanhol. A Avenida Paulista era muito bonita, praticamente havia só as mansões. Não havia prédio.











Qual era a mansão mais bonita?

Cada uma tinha uma característica própria, eram muito lindas, a muito famosa era a “Casa das Rosas” que é preservada até hoje. Acredito que a mais bonita e com certeza a maior era a do Conde Francisco Matarazzo. Era todo de mármore.


                                                       FRANCISCO MATARAZZO


                                               MANSÃO MATARAZZO DEMOLIDA...


                                           MAUSOLEO DA FAMÍLIA MATARAZZO                                     

Como era a área onde hoje se situam os bairros denominados de Jardins?

Era um local muito bonito! O meio de transporte que mais usávamos era o bonde, havia o bonde aberto nas laterais e o bonde fechado, também conhecido como “Camarão” pela sua cor vermelha.

O pai da senhora trabalhava em São Paulo?

O escritório dele situava-se em São Paulo, mais tarde colocou um segundo escritório em Santos.

A senhora formou-se em que área?

Formei-me pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da USP. Após concluir a faculdade fui lecionar em escolas privadas e depois prestei concursos para me efetivar no Estado.
A postura dos alunos em sala de aula era muito diferente?

Muito diferente! O aluno poderia até sofrer a sanção máxima que era a expulsão da escola. No ginásio eu aprendi francês e inglês. No clássico aprendi latim e grego.

O grego é uma língua mais complexa para aprendermos?

O alfabeto grego é diferente do nosso. Inicialmente tínhamos que estudar o alfabeto grego.

Latim já é mais familiar?

Sim! É o nosso alfabeto. Ou seja, o nosso alfabeto é que vem do latim.

O que muda é a pronuncia do latim?

É difícil saber exatamente qual era a pronuncia! A escrita nós conhecemos, ela esta presente, mas como saberemos a pronuncia? Havia mais de uma pronuncia do latim. Isso tudo é suposição. Não existia nada a respeito da pronuncia.

Pelo que vemos, duas pessoas podem pronunciar a mesma palavra em latim, de formas diferentes e ambos dirão que estão corretos?

Correto!

E na verdade ambos poderão estar pronunciando de forma incorreta a palavra em latim?

 Não havia meios de preservar a palavra em sua forma oral de modo original. Não existia gravação da palavra!  O que temos são suposições de pronuncias, apenas isso. A letra “c” simbolizada pela letra “k”. Como exemplo temos Kikero, ou seja, Cícero! Isso é apenas uma suposição, não há nada gravado!

O fato de a senhora ter estudado profundamente o latim, tornou-a professora de latim?

Eu lecionava só latim, depois quando eliminaram o latim do programa de estudo, passei a lecionar português.

A senhora vivenciou uma época em que o professor era considerado uma autoridade, tal qual um promotor público, um juiz.?

Os nossos salários eram equiparados aos da magistratura! Na minha época quem ia ser professor eram pessoas da classe média e alta. Éramos obrigados a preparar as aulas. Corrigia os exercícios. Ensinava.

Como eram os seus alunos de latim?

Eles aprendiam! Eram classes de 50 alunos, porém não abriam a boca, prestavam muita atenção a aula. Quando o professor entrava na classe estavam todos em silêncio, em pé, o professor mandava sentarem-se, eles sentavam.  O professor era muito respeitado, mesmo os pais quando iam conversar conosco, sentíamos o respeito deles por nós. Agora, infelizmente o professor está lá embaixo. Naquela época as classes já eram mistas, meninas e meninos.

A seu ver, deveríamos voltar a estudar latim?

O português, francês, rumeno, espanhol, italiano são todas línguas latinas. França, Espanha, Portugal, Rumenia, Itália, faziam parte do Império Romano, todas essas línguas são latinas, elas se diferenciaram porque anteriormente nesses países já havia outra língua. Quando aprenderam o latim, modificaram o som, modificaram as palavras, assim através de muitos séculos, surgiu o espanhol, o português, o francês, o italiano, o rumeno e uma série de outros dialetos.

O Brasil não tem dialetos, há uma razão para isso?

Os antepassados eram indígenas, e os portugueses nunca incorporaram a língua indígena, o contato lingüístico foi mínimo, não houve influência.

Houve um período em que o colégio do Estado era muito bem conceituado e o colégio particular era tido como ensino de qualidade inferior?

Teve sim! Foi um período em que o colégio do Estado tinha melhor reputação do que o colégio particular. Era uma honra ser aluno do Estado. O colégio do Estado expulsava o aluno, desde que o mesmo apresentasse razões para tal. Havia incentivo ao civismo, cantava-se o Hino Nacional com regularidade. Valia a pena ser professor. A escola é muito importante, é o inicio da vida profissional da pessoa.

A senhora acredita que um dia o ensino possa ter uma qualidade melhor?

Não! Pode piorar, mas melhorar não! O ensino está de acordo com o estilo de vida atual. A criança hoje manda dentro de casa, quando éramos crianças obedecíamos.

A senhora casou-se?

Quando eu era criança dizia à minha mãe que eu queria ter catorze filhos! Nem imagino onde arrumei esse número, mas era o que eu queria! Depois de adulta tomei consciência de que dois filhos eram suficientes. Casei-me com Manoel Costa. Não tivemos filhos.  Quando éramos professoras do Estado, prestávamos concurso para escolher a escola onde iríamos lecionarmos, uma vez escolhi Santos, onde permaneci por cinco anos, na época não era casada.

A senhora dirige até hoje?

Dirijo! Tenho 88 anos, enxergo muito bem, nem óculos eu uso. Tenho uma “vantagem” que nasci com ela: com um olho enxergo muito bem de perto, sou capaz de ler letrinhas de um milímetro. (Nesse momento Da. Eliana pede algo escrito em letra minúscula para demonstrar sua capacidade de leitura, o que é nitidamente comprovada). Com o outro olho eu vejo longe. Sou capaz de contar os andares de um prédio a longa distância. Esse defeito só foi detectado quando entrei na faculdade. Eles faziam um exame rigorosíssimo.

Os professores da USP eram muito exigentes?

Eram! Tínhamos que estudar e estudar muito!

Qual seu tipo de música preferida?

Música clássica apenas! A música me traz uma sensação muito agradável! Desde muito pequena já tocava piano. Meu irmão e minha irmã começaram com violino, quando comecei aprender a tocar piano minha irmã também passou a aprender a tocar piano. Papai era muito rigoroso com relação a música, só deixava ouvirmos música clássica. Ele nos levava ao Teatro Municipal de São Paulo. Era incrível! Teatro, concertos.
                                           TEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO










                                  
                                        
             Salão dos Arcos no subsolo do Teatro Municipal





Como a senhora conheceu Piracicaba?

Por muito tempo eu quis sair de São Paulo, por causa da poluição. Visitei diversas cidades do interior. Fiquei sabendo de uma conferência que ia ser feita na USP. Inscrevi-me, quando cheguei, vi quem iria proferir a palestra, uma professora que tinha sido minha professora na USP: a Maria José! Antes de ela proferir a palestra fui conversar com ela, contei-lhe da minha vontade de deixar São Paulo, foi então que ela disse-me que estava morando em Piracicaba, eu iria adorar vir para cá. Quando cheguei a Piracicaba foi paixão a primeira vista, decidi que era aqui que iria morar o resto da minha vida.
                                                  Instituto Rio Branco






Uma grande história começa com uma formação moral e intelectual sólida, muito trabalho, disciplina e perseverança. Foi assim com Savério Cristófaro, professor dedicado, que ganhou fama e levou muitos candidatos a procurá-lo para aulas particulares, até fundar uma escola preparatória aos exames de admissão no centro de São Paulo. O número de alunos cresceu muito rapidamente. Tanto que o professor Savério precisou transferir sua escola para um local maior, que levou o nome de Instituto Rio Branco, em 1925, e, mais tarde, em 1926, Liceu Nacional Rio Branco. Começava aí a linda história de um dos melhores e mais tradicionais colégios de São Paulo. Em 22 de novembro de 1946, nasceu a Fundação de Rotarianos de São Paulo, a partir da união de 20 rotarianos do Rotary Club de São Paulo. Protagonistas de seu tempo, conscientes de seu potencial de intervenção pela melhoria da sociedade, os fundadores definiram, como princípio de atuação, o investimento em educação, comprometendo-se com a formação das futuras gerações do país.  A esta época, problemas administrativos e financeiros levaram ao fechamento do Liceu Rio Branco. José Ermírio de Moraes, um dos fundadores da FRSP, adquiriu a escola, que passou a chamar-se Colégio Rio Branco. A instituição foi, então, doada para a Fundação de Rotarianos de São Paulo.



                                                     O cine-teatro Odeon


O cine-teatro Odeon foi construído a rua da Consolação, 40-42, em parte se adaptando para isso uma antiga agência de automóveis, o Coliseu-Palácio e, de outro lado, construindo-se um prédio de quatro pavimentos. Entre os dois imóveis, abria-se a entrada do Odeon. O Escritório Técnico Júlio de Abreu Júnior, instalado na rua Barão de Itapetininga, 65, ficou encarregado da obra. O prédio do número 40 seria de quatro pavimentos (térreo mais três andares) sob sete colunas de cimento armado de 0,30x0,30 cm. O de número 42 seria aumentado em um pavimento, adaptando-se o Coliseu-Palácio para dois cines-teatro, que mais tarde levaram o nome de Odeon Sala Vermelha e Odeon Sala Azul (Lícia de Oliveira engana-se ao apontar que este seria o primeiro cinema com duas salas de projeção, já que o Central, de 1916, também tinha duas salas). A frente do cinema ocuparia 16 metros, contando com três portas de entrada, com 30 metros de fundo, sendo ladrilhada e coberta por uma estrutura de ferro sustentada por oito colunas de cimento armado, criando um vão livre para cada um dos palcos. Cada


um deles teria platéia, camarotes e três escadas de acesso aos camarotes. Janelas em arcos se abriam neste piso para a rua. Nos dois últimos pavimentos seriam construídos apartamentos. Mandado para análise de Benjamin Egas em 15 de março, ele informou que era proibida a construção de cinemas com pavimentos superiores (art. 167 do ato


1235), estando em desacordo com a legislação o piso da platéia e as portas de acesso à platéia obstaculizadas por cadeiras. O engenheiro Júlio Pacheco, do escritório técnico, foi convocado para dar explicações suplementares. Ele anotou no processo que os dois cine-teatros tinham “[...] entradas amplas e independentes por meio de largos planos inclinados, sem nenhum degrau, e saídas para as ruas Consolação e Epitácio Pessoa. E bom notar que esta grande segurança dadas pelas amplas e fáceis saídas é ainda aumentada por ser toda a construção de concreto armado e se acharem as cabines dos operadores cinematográficos [projecionistas] externas às salas de espetáculos”. Sobre o art. 167 nenhuma palavra. Dito isto, ele entrou com um pedido de reconsideração do despacho. Em 23 de março, provavelmente Arthur Saboya e o diretor da Diretoria de Obras foram em vistoria ao prédio. Ambos declararam “bem impressionados” com o projeto de adaptação, “[...] verificando que os diversos planos terão acesso inteiramente independentes. Quanto à superposição de pavimentos [os destinados a apartamentos], tratando-se de destinos equivalentes – Cinema e Teatro – não é o caso previsto na lei”. A Administração já era bem flexível quanto à construção de apartamentos ou escritórios sobre cinemas doze anos depois da lei. O alvará de construção foi concedido em 11/4/1928 (nº. 875, série 1), pagando-se custas em 19 de abril (nº. 718, série 8), no valor de Rs 1:405$100 (um conto e quatrocentos e cinco mil e cem réis). Inventário dos espaços de sociabilidade cinematográfica da cidade de São Paulo (1895-1929)


José Inácio de Melo Souza Parceria AHMWL /DPH/ SMC/ PMSP e Cinemateca Brasileira Programa de Pós-Doutorado – Bolsista do CNPq-Brasil http://www.arquivohistorico.sp.gov.br http://www.cinemateca.org.br 1 / 3 O Odeon foi arrendado para a Sociedade Anônima Empresa Serrador, sendo Inaugurado em 11/10/1928 com os filmes Lírio de Granada, com Lily Damita (Programa Serrador), na Sala Vermelha, e Quarteto de amor, com Florence Vidor, na Sala Azul (Programa Paramount). Nesse mesmo dia a empresa exibidora pediu a licença para funcionamento, cuja informação foi dada pelo engenheiro Antonio Fereira. Ele se limitou a dar a capacidade das salas: o Salão Vermelho tinha 30 frisas, 32 camarotes, 400 balcões e 1.680 poltronas; a Sala Azul era menor, com 18 camarotes, 240 balcões e 1600 poltronas. O alvará foi emitido no mesmo dia. Os ingressos para a estréia custavam dois mil réis e meia-entrada a Rs 1$500, somente na platéia porque frisas e camarotes estavam todos vendidos Segundo o site Almanack Paulistano, ele foi construído onde está hoje o estacionamento do edifício Zarvos, contando com 15 mil m2, cinco salões (dois cinemas, um bar, uma confeitaria-sorveteria com 300 mesas, dancing e uma sala


de exposições), intitulando-se o “maior centro de diversões da América Latina”, com capacidade para 15 mil pessoas. A Sala Vermelha seria mais requintada que a Azul, exigindo roupa de gala. Teria orquestra com 30 “professores”, uma Eletrola Ortofônica Auditorium para música de discos fabricada pela Victor Talking Machines, e apresentaria somente filmes em lançamento. Havia sessões especiais para as senhoritas nas quintas-feiras. As duas salas de projeções davam lugar a grandes bailes de carnaval, durante os festejos de Momo. O maestro da inauguração foi Antonio Giammarusti, apresentando-se no palco a cantora Ermelinda Cichero. Uma jazz-band animou o hall de entrada. Os escritórios da Empresa Serrador em São Paulo também foram transferidos para o prédio da rua da Consolação, 42, conforme pedido do gerente Júlio Llorente em


11/12/1928 (antes estavam na rua do Triunfo, 34). A capacidade de público da Sala Vermelha em 1939 era de 2.510 espectadores (1.740 na platéia, 315 nas frisas e 455 nos balcões); na Sala Azul cabia 2.020 espectadores (1.675 na platéia, 90 nas frisas e 255 nos balcões). MEMÓRIA Comentário do cronista Guilherme de Almeida: “Naturalmente para um cronista cinematográfico, gostosamente forçado a ‘torcer’ dia a dia pelo cinema, a inauguração de qualquer nova casa de exibições só pode ser motivo de júbilo. Ora, com a inauguração hoje, do ‘Odeon’, esse júbilo é particularmente grande, enorme, na mesma proporção da nova grande, enorme propriedade da Empresa Serrador. O ‘Odeon’ significa para o cinema e para São Paulo, um triunfo. Teatros, ‘bar’, confeitaria, ‘dancing’, galerias para exposições... tudo aí se reúne, tudo aí se confunde num microcosmo delicioso onde a vida correrá fácil e bonita entre as coisas gostosas e que são as únicas que justificam o inevitável sacrifício de viver... Ao cinema, o ‘Odeon’ dedica duas salas majestosas: a ‘Vermelha’ e a “Azul’. Aquela mais ‘rafinée’, mais feita para o ‘grand monde’... que por sinal, é bem Inventário dos espaços de sociabilidade cinematográfica da cidade de São Paulo (1895-1929) José Inácio de Melo Souza Parceria AHMWL /DPH/ SMC/ PMSP e Cinemateca Brasileira


                                                                   Light
Em 7 de abril de 1899, em Toronto, no Canadá, foi fundada The São Paulo Trainway, Light and Power Company, que em 17 de julho do mesmo ano, foi autorizada, por decreto do presidente Campos Salles, a atuar no Brasil. Sua atuação em São Paulo começou no mesmo ano, através da construção da Usina Hidrelétrica Edgard de Sousa em Santana de Parnaíba, concluída em 1901.
Posteriormente, a Light São Paulo passaria a operar os serviços de geração e distribuição de energia elétrica e os serviços de bondes elétricos do município de São Paulo, uma revolução para a época, quando havia apenas bondes puxados a burro.
No dia
9 de junho de 1904, os mesmos sócios canadenses criam a The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power. A partir de 1912, as duas empresas passaram a ser controladas pela holding Brazilian Traction Light and Power Co. Ltd.
Entre 1900 e 1930, a Light São Paulo realizou inúmeras obras de expansão dos serviços de energia elétrica na capital de São Paulo e municípios vizinhos, construindo em 1908 a
represa de Guarapiranga e usinas hidrelétricas, como Edgard de Souza e Rasgão, localizadas no Rio Tietê, em Santana do Parnaíba, a 40 quilômetros da capital. Eram obras necessárias para acompanhar o crescimento econômico e populacional da cidade e arredores e consecutivo aumento do consumo de energia elétrica.
Mais tarde, na década de 1940, a Light São Paulo também foi responsável pela retificação do rio Tietê, Rio Pinheiros e pela construção da represa Billings e da usina hidrelétrica Henry Borden.
Em meados da década de 1940, a Light São Paulo encerra os serviços de transporte público por meio de bondes elétricos, repassando-os à prefeitura de São Paulo, através da
CMTC, que extinguiria o serviço de bondes no fim dos anos 1960.
Em 1956, a holding Brazilian Traction Light and Power Co. Ltd. começa a atuar em inúmeros ramos, dentre os quais o imobiliário, hoteleiro, serviços de engenharia, agropecuária, entre outros, e muda de nome, passando-se a chamar Brascan - Brasil Canadá Ltda. A empresa São Paulo Tramway, Light and Power Company se funde com a Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company, numa única razão social, agora chamada de Light – Serviços de Eletricidade S/A, vinculada à
Brascan Ltda.

Fim das atividades

No final da década de 1970, durante o governo militar, o contrato de concessão da Light – Serviços de Eletricidade S/A com o governo federal, assinado no início do século e com validade de setenta anos, seria encerrado, com a entrega dos ativos investidos pela empresa ao governo brasileiro. Porém, em circunstâncias obscuras, o então ministro das Minas e Energia, Shigeaki Ueki, por meio da Eletrobrás, adquiriu o controle acionário da Light em 1979.
Na sequência, em
1981 o governo do estado de São Paulo adquiriu a Light paulista e criou a sua própria empresa de energia, com o nome de Eletropaulo, que na década de 1990 foi vendida em várias empresas de porte menor, sendo algumas privatizadas pelo governador Mário Covas.
O grupo
Brascan - Brasil Canadá Ltda., depois da venda da Light, continua operando no Brasil nos negócios remanescentes, nos ramos imobiliário, hoteleiro, serviços de engenharia, agropecuária, bancos, seguros e de shopping centers. É proprietário dos shoppings Rio Sul, Madureira Shopping, Bay Market, Paço do Ouvidor, Botafogo Praia Shopping e Centro Empresarial Mourisco – no Rio de Janeiro; Brascan Open Mall, Raposo Shopping, Pátio Higienópolis, Shopping Paulista, West Plaza – em São Paulo; Shopping Crystal – no Paraná; Shopping Cidade – em Belo Horizonte. Juntos, eles recebem 90 milhões de pessoas/ano, movimentando anualmente cerca de US$ 100 milhões em locação de lojas.



A marca e empresa Light, apesar de há muito tempo extinta pela sucessora Eletropaulo, deixou alguns legados pela cidade de São Paulo.


As estações de transmissão de energia elétrica mais antigas, como em Santana, Cambuci e Bela Vista, conservam traços do estilo arquitetônico da época e influências de arquitetos canadenses. O antigo edifício-sede da Light São Paulo, batizado de Alexandre Mackenzie, em homenagem a um dos sócios da empresa, localizado na Praça Ramos de Azevedo, ao lado do Teatro Municipal e do Viaduto do Chá, é considerado de relevante valor histórico e foi tombado pelo Condephaat. Construído na década de 1930, foi internamente adaptado para ser utilizado como um shopping center (o Shopping Light) na década de 1990, porém externamente conserva as características originais. Outro legado se observa nos postes ornamentais do centro histórico de São Paulo cujas peças foram importadas na primeira metade do século XX para a implantação do luz elétrica na cidade.
Ainda hoje, pais e avós, que viveram na época da Light, reclamam das elevadas contas de energia elétrica atuais e das luzes acesas sem necessidade aos filhos e netos dizendo "vocês acham que eu sou sócio da Light?", numa prova de que o nome da empresa extinta ainda é forte no inconsciente coletivo paulistano.
A Fundação Energia e Saneamento, criada em
1998 para preservar e divulgar o patrimônio histórico-cultural do setor energético, herdou boa parte de documentos e objetos antigos da Light e de outras antigas empresas de energia e saneamento já extintas.
A Light também era jocosamente chamada de "São Paulo Light and Too Much Power", ou seja, "São Paulo Luz e Poder Demais".

Os primeiros passos da Light começam em 7 de abril de 1899, em Toronto, no Canadá, onde foi fundada a São Paulo Tramway, Light and Power Company, que em 17 de julho do mesmo ano, foi autorizada, por decreto do presidente Campos Sales, a atuar no Brasil. Sua atuação em São Paulo começou no mesmo ano, através da construção da Usina Hidrelétrica Parnaíba, concluída em 1901, posteriormente passando a operar os serviços de geração e distribuição de energia elétrica e bondes elétricos do município de São Paulo.
A partir do sucesso da operação paulista, no dia 9 de junho de 1904, os mesmos sócios canadenses criaram no Canadá a The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power, o primeiro nome da Light no Rio de Janeiro, que recebeu autorização governamental para funcionar no Rio de Janeiro em 30 de maio de 1905. Nesse mesmo ano a The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power adquiriu o controle acionário da concessionária de iluminação a gás, a empresa belga Société Anonyme du Gás de Rio de Janeiro, serviço que foi controlado pela Light até 1969, quando foi transferido para o governo estadual.
Em 1905, o Brasil ainda não era um país industrializado e a Light dava início à construção da então maior e mais moderna usina hidrelétrica do país, a Usina de Fontes, situada no município de Piraí, no estado do Rio de Janeiro. Nas décadas seguintes, conforme o Rio de Janeiro crescia, entraram em operação outras usinas: Ilha dos Pombos (1924), de Fontes Nova (1940), Santa Cecília (1952), Vigário (1952), Nilo Peçanha (1953) e Pereira Passos (1962).
Em 1907, a Light adquiriu e unificou diversas companhias de bondes e carris urbanos que funcionavam na cidade, controlando o serviço até 1963, alargando a zona urbana do Rio de Janeiro, contribuindo para o surgimento de vários bairros como Leme, Copacabana, Ipanema e Leblon. Além dos bondes, em 1918 investiu no ônibus elétrico que percorria a avenida Rio Branco e circulou até 1927. Um ano antes, criou a Viação Excelsior, os modernos ônibus com cigarra e cobrador. Em 1928, surge o Imperial, ônibus de dois andares, logo apelidado de chope duplo pelo carioca, que utilizou a condução até 1948.
A Light adquiriu ainda, de um consórcio alemão, a concessão do serviço telefônico, passando a controlar as comunicações nas duas principais cidades do país, Rio de Janeiro e São Paulo, quando em 1966 passa o serviço para o governo federal.
A partir de 1912, a The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power passa a ser controlada pela holding também canadense Brazilian Traction Light and Power Co. Ltd. - Batraco, que também se transforma em controladora da Light de São Paulo.
Ao longo de quase cinquenta anos a vida e a aparência da cidade do Rio de Janeiro foi modificada pela empresa, que substituiu o bonde puxado a burro pelo elétrico, o lampião a gás pela luz elétrica, o fogão a lenha pelo gás canalizado, o mensageiro pelo telefone.

Alteração de denominação

Em 1956, a holding Brazilian Traction Light and Power Co. Ltd. começa a atuar em inúmeros ramos, dentre os quais o imobiliário, hoteleiro, serviços de engenharia, agropecuária, entre outros e mudou de nome, passando-se a chamar Brascan - Brasil Canadá Ltda. A empresa São Paulo Tramway, Light and Power Company se funde com a Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company, numa única razão social, agora chamada de Light – Serviços de Eletricidade S/A, vinculada à Brascan Ltda. A partir daí, o nome Light, já popularizado e consagrado pela população dos dois estados, seria a razão social da empresa.

Estatização

No final da década de 1970, o contrato de concessão da Light – Serviços de Eletricidade S/A com o governo federal, assinado no início do século e com validade de setenta anos seria encerrado, com a entrega dos ativos investidos pela empresa ao governo brasileiro. Porém em circunstâncias obscuras, principalmente no momento político vigente (regime militar), o então ministro das minas e energia Shigeaki Ueki, através da Eletrobrás, adquiriu o controle acionário da Light – Serviços de Eletricidade S/A e estatizou-a.
A justificativa oficial para a compra era a de que esta se fazia necessária, pois só tendo o governo como mediador a empresa conseguiria os empréstimos externos necessários aos investimentos na expansão de seus sistemas. Sem isso, o próprio desenvolvimento industrial das cidades do eixo Rio – São Paulo estaria em risco. A compra da Light marcou a conclusão do processo de nacionalização do setor de energia elétrica, iniciado em 1961 com a aprovação da lei que criou a Eletrobrás, consagrando a adoção da solução estatizante para o setor.
Na sequência, em 1981 o governo do estado de São Paulo adquiriu a parte paulista da Light e criou a sua própria empresa de energia, com o nome de Eletropaulo.
A parte fluminense da Light, por outro lado, virou uma empresa estatal federal voltada à holding estatal federal Eletrobrás, com a mesma denominação de antigamente, Light Rio ou Light, sendo uma das principais empresas estatais do estado, mantendo a responsabilidade pelo fornecimento de energia elétrica nas principais cidades da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e do Vale do Paraíba Fluminense.

Privatização

A Light foi privatizada pelo programa federal de desestatização através de leilão na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, em 21 de maio de 1996, onde os compradores da empresa foram as empresas/consórcios:
Estas empresas passaram a controlar cerca de oitenta por cento do capital da Light Rio, sendo os outros 20,6 por cento pertencentes acionistas minoritários.
Em fevereiro de 2002, foi concluído o processo de reestruturação societária, consolidando a EDF como principal acionista/acionista controladora da Light.
Para cumprimento da legislação vigente sobre o setor elétrico, em que as atividades de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica precisam ser alocadas em empresas diferentes, foi efetuado o processo de desverticalização da Light em 2005, originando as seguintes empresas:
  • Light Energia S.A., responsável pela geração/transmissão;
  • Light Serviços de Eletricidade S.A., responsável pela distribuição,
  • Light Esco Ltda, comercializadora;
  • holding Light S.A., controladora das três operacionais.
Estas empresas formam, atualmente, o Grupo Light.
Em 28 de março de 2006, foi celebrado o Contrato de Compra e Venda de Ações entre a EDF International S.A (EDFI) e a Rio Minas Energia Participações S.A. (RME), sendo assim a empresa RME a única controladora das empresas do grupo, com 52.46% da Light.
Em Dezembro de 2009, a Companhia Energética de Minas Gerais comprou as ações da Andrade Gutierrez Concessões S.A. (AG Concessões), Pactual Energia Participações S.A. (Pactual Energia) e Luce Brasil Fundo de Investimentos em Participações (Luce)e tonou-se assim a única acionista da RME, com 52,46 por cento da Light S.A.
Atualmente, é administrada pela Companhia Energética de Minas Gerais.

Produção de energia

A Light Rio, através da Light Energia S.A, tem uma estrutura que inclui cinco usinas hidrelétricas, com capacidade instalada de 852 MW. São elas: Fontes Nova, Nilo Peçanha e Pereira Passos, localizadas no complexo hidrelétrico de Lajes (em Piraí, no Sul Fluminense), Ilha dos Pombos, no município de Carmo (divisa com Minas), e Santa Branca, no município paulista de mesmo nome.
A empresa possui também duas usinas elevatórias, Santa Cecília, em Barra do Piraí, e Vigário, em Piraí, responsáveis pelo bombeamento das águas do rio Paraíba do Sul e do rio Piraí, que geram energia. As águas do rio Piraí, além de aproveitadas para gerar energia, são utilizadas para abastecimento de água para o Grande Rio através do sistema Guandu, operado pela CEDAE.
Entretanto, a Light não produz toda a energia elétrica que distribui a seus clientes, necessitando comprar energia adicional de outras usinas/empresas geradoras, tais como o complexo nuclear de Angra dos Reis, Furnas Centrais Elétricas e Itaipu.
Em julho de 2011 seis bueiros da empresa explodiram simultaneamente.[7] Segundo empresa, o acidente pode ter sido por uma falha no sistema de transmissão



Bairro da República

 
A LUTA PELO TRANSPORTE EM SÃO PAULO

Filmagens antigas e raras de São Paulo anos 20 anos 40
evolução do ônibus




domingo, julho 02, 2017

JOSIANY LONGATTO (SHIMLA)


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 01 de julho de 2017.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/                     


http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: JOSIANY LONGATTO (SHIMLA)

 
Nascida a 24 de agosto na cidade de Piracicaba, na época moradora do bairro Vila Rezende, Joniany Longatto que tem o nome artístico de Shimla, é filha de Maria Calderan Longatto e Ari Longatto, que tiveram os filhos Josiany e Robson.  Iniciou seus estudos na escola SESI 85 que funcionava nas dependências da Escola Baroneza de Rezende onde cursou da primeira até a oitava série. A seguir estudou no Instituto Sud Mennucci, nessa época estudava em duas escolas, durante o dia no Sud Mennucci e a noite no Colégio Técnico em Contabilidade no Instituto Piracicabano. É formada em Ciências Contábeis pela Unimep.
O que a levou a estudar Ciências Contábeis?
O meu pai sempre foi empreendedor, a sua última empresa era uma mineração de calcário. Era o objetivo dos meus pais que eu ajudasse na administração da empresa. Aos dezessete anos entrei na faculdade de onde saí com vinte e um anos.
Após formar-se como Técnica em Contabilidade e em Ciências contábeis, você dedicou-se a profissão?
Foi uma fase em que senti que a dança começou a me atrair. Tomei consciência da veia artística que existia comigo. Era uma época em que não havia muito incentivo para as artes, eu sempre gostei, desde criança, de cantar, dançar. Cursei Balé Contemporâneo com o professor Ado Ravelli, no Clube Atlético Piracicabano. Era uma atividade que eu gostava, só pude fazer quando já tinha como escolher o que desejava, na época era uma atividade tida como supérflua. Havia a preocupação dos pais de que os filhos tivessem uma profissão que proporcionasse um futuro mais estável financeiramente.
Só que o encanto da dança tomou posse dos seus sentimentos?
A dança sempre esteve presente em minha vida. Até que com uns dezesseis anos fui a Festa das Nações e pude ver uma bailarina de dança do ventre. Ela era de São Paulo. Eu estava com um amigo Wagner Sturion, escritor, poeta. Ele escreveu uma peça de teatro chamada “Sonhando Acordado”, fui convidada por ele para ser a protagonista, em resumo a história era sobre uma menina humilde cujo sonho era realizar a Dança do Ventre. Nessa época eu fazia parte do teatro “Cochixo na Coxia” da Unimep. O diretor era José Antonio da Silva, o Chapéu.
ESQUETE TEATRAL "COCHIXO NA COXIA"

                                                    José Antonio da Silva, o Chapéu.
A dança do ventre atraiu você, pode-se dizer que a hipnotizou?
Passei a estudar dança do ventre com a síria Dona Marie Massuh Nimeh, que foi homenageada pela Câmara Municipal como a pioneira a dar aulas de Dança do Ventre em Piracicaba, ela morava em Piracicaba e me ensinou a dançar, pesquisar, eu ia a sua casa quase todos os dias nós pesquisávamos muito a respeito da dança, esse relacionamento transformou-se em uma grande amizade, tal como uma mãe e filha. Ela ia comigo e ficava até as madrugadas nas Festas das Nações! Me via dançar, apoiava muito. Quando eu comecei a dançar na Festa das Nações, fui convidada em 1994, até então quem dançava era Samira Samia uma das preletoras da dança do ventre no Brasil, um ícone da nossa dança, grande mestra. Fiz muitas aulas com ela. A filha dela está assumindo o Mercado Persa, que tem repercussão mundial, hoje tem a denominação de Congresso Internacional de Dança, Arte e Cultura Árabe. Começou no Clube Kolpinghaus e hoje está no WTC Events Center em São Paulo. Consta no Guiness Book como o maior evento de Dança do Ventre do Mundo. São três dias inenterruptos de danças com até cinco palcos simultâneos. Há competições de todos os tipos. Workshopping, vendas de produtos.




                     Apresentação da professora de dança, dançarina, coreógrafa Josiany Longatto
Você incorporou a cultura árabe?
De certa forma me sinto um pouco árabe. A minha “mãe” árabe que é a Dona Marie Massuh Nimeh, quando ela me acompanhava todo mundo achava que ela era realmente a minha mãe. Tinhamos uma relação de carinho muito grande. Ela era viuva, mãe de três filhos, não era bailarina, embora ela já tenha falecido, mantenho contado com seus filhos e famílias, para mim é como uma família.





Publicado em 23 de jul de 2015
Josiany Longatto e Isadora Neves partilham a beleza e a emoção da dança no Sarau Literário Piracicabano em 14 de Julho de 2015 nas de pendências do Museu da ESALQ- USP Ana Marly de Oliveira Jacobino Jacobino

Publicado em 1 de out de 2015
Apresentação de Dança de Isadora das Neves e Julia Rodrigues (alunas de Josiane Longatto - Shimla) em 22 de Setembro na Semana Cultural da Esalq_ USP no Sarau Literário Piracicabano Ana Marly de Oliveira Jacobino Jacobino

                                       
                                                          Super Noites no Harém





Samira Samia - Uma carreira Ímpar

                                              Shalimar Mattar - espada e véu
^                                                                Véu Fan


Você tem um nome artístico?
O meu nome artístistico é Shimla, quem me deu esse nome foi a Lú Gorelli, ela me chamava para dançar na casa dela, um dia fui dançar na casa da sua irmã, foi uma festa muito importante, tinha diversos estilistas, o jornal Correio Popular de Campínas entrou em contato com ela, queria saber qual era o nome da bailarina, saiu a minha fotografia na coluna social, ela encontrou esse nome em um livro que tinha lido. Na época era chique ter um nome artístico. Acabei adotando esse nome. Na realidade Shimla é o nome de uma cidade da Índia, nem é árabe! A grafia está correta com o “m” antecedendo uma letra consoante, que no nosso idioma antecederia uma vogal. O significado desse fonema é “Botão de Flôr”.
Existe vários tipos de danças árabes?
Existem vários estilos! Costumamos dizer que existem mais de 5,000 ritmos, os mais conhecidos são cerca de 350 ritmos. Nós bailrinas dançamos os básicos. Com vários acessórios, temos a dança do bastão, smujs, do pandeiro, cimbalos,cimitarras (ou espadas).
Quantos anos levou para você atingir esse nível de perfeição na dança?
Este ano estou completando 25 anos de profissionalismo desde a minha primeira dança em 1992.
A dança é a sua profissão?
É a minha profissão! Trabalho só com isso. Vivo de arte!
Quantas dançarinas existem hoje em Piracicaba?
Não sei informar com precisão, mas sei que existem muitas. Formei professoras, elas já montaram suas academias, estão formando suas alunas. Eu me especializei na área, fiz vários cursos, workshops profissionais, tive aulas com professoras renomadas internacionais que vieram ao Brasil, do Egito, dos Estados Unidos, Argentina.
Há alguma alimentação restritiva para manter-se em forma?
Não, eu como muito bem! As minhas aulas são suaves, a pessoa não se cansa muito mas gasta bastante energia.
Tem homem que pratica a dança árabe?
Existe. Hoje temos as danças folclóricas específicas para o homem esse tipo de dança está sendo muito difundida. Em especial a Dança do Ventre é feita para a mulher, em seu benefício, tanto em sua saúde como em sua função energética e sexual da mulher. Facilita a sua parte reprodutiva, parto, existe uma filosofia que está anexada a essa dança. Hoje já existe concursos para danças masculinas folclóricas e para Dança do Ventre masculina.
A Dança do Ventre é uma ginastica eficiente?
Em minha opinião é a melhor ginática para a mulher.
A partir de que idade a mulher pode iniciar a dança?
A Dança do Ventre é uma dança que não tem impacto, qualquer pessoa pode fazer desde que não tenhe nenhuma restrição médica. As que mais estão me procurando estão na faixa de 40 a 50, 60 anos. Já dei aulas para mulheres na casa dos 70 anos. Inclusive tem uma que dançou comigo uma dança egipcia chamada Meleah Laff.
Existe esposas que tomam aulas de danças para apresentarem a seus maridos?
Existe! Nesse caso geralmente elas tomam aulas particulares. Monto uma coreografia, ensino a pessoa a colocar um pouco da sua improvisação pessoal e dou algumas dicas. Geralmente trata-se de uma comemoração muito especial, um aniversário, aniversário de casamento. É uma dança muito especial, para um momento especial. Jamais vulgarizando a dança. Isso tem sido ultimamente divulgado de forma erronea pela mídia, em especial pelas novelas. A origem da Dança do Ventre é uma dança sagrada, era feita apenas pelas sacerdotisas nas pirâmides sagradas. A mulher dançava apenas para o homem que ela tinha escolhido para ser o pai dos seus filhos.
Uma jovem que queira manter a saúde em perfeito estado, sem submeter-se a rotina de aparelhos de academia, ela pode usar a dança como um meio?
A Dança do  Ventre é uma prática prazeirosa, a pessoa gasta energia, fortalece a musculatura, afina a cintura, faz alongamento, melhora apostura, aumenta sua auto estima, podemos trabalhar terapêuticamente para a mulher se ver mais bonita. Através das roupas, maquiagem, das danças de apresentações. As que não queiram apresentarem-se em público fazemos eventos entre nós. Só com mulheres. É um ambiente onde encontra-se uma energia muito boa. A Dança do Ventre promomove uma auto-cura. Ela é terapeutica. Trabalha com respirção e movimentações que você pode liberar mágoas. Liberar couraças musculares, energias travadas.
O fato de ser uma dança milenar não é obra do acaso?
Ela não está voltada apenas para a parte produtiva, mas para o corpo como um todo. Eu trabalho não só como uma dança, mas como um todo. Tenho comigo, que o que faço é uma missão, a principio eu não tinha nada para voltar-me à dança, tornei-me pioneira da Dança do Ventre em Piracicaba, algo que nunca imaginei, sequer planejei. Acredito que isso tenha sido colocado em minha vida, por um poder superior, para resgatar a feminilidade das mulheres, resgatar a dança como dança sagrada, que ela é. Lembro-me que estava na época do Tcham, e as criancinhas dançando o Tcham. Foi quando dedicidi dar aulas para crianças, iniciei dando aulas na Creche Branca Azevedo: ensinava postura, delicadeza, acessórios de véu, coisas para crianças, para tirar a vulgaridade da dança do Tcham, criei um método especial para crianças que é diferenciado do adotado para adultos.
Existe uma simbologia na dança com véus?
Existe a lenda dos sete véus, dos sete portais, sete maravilhas do mundo. Há uma profusão de alusões. É mais lendário do que específico e técnico. Na época em que estudei não existia a internet, a Dona Marie importava vídeos, eu estudava através deles, direto da fonte. Estudava os movimentos das melhores bailarinas, muito renomadas, que estão vivas até hoje. Comecei a dançar como elas. Depois é que fui fazer cursos, até então eu só sabia dançar, com os cursos passei a ter condições de dar aulas. Não imaginava que iria ser a minha profissão.
A bailarina desperta a fantasia masculina?
Esse é um cuidado que sempre zelei em ter. A roupa necessita mostrar partes do corpo para mostrar a dança. Não é para mostrar o corpo de forma vulgar. Há ocasiões em que a dança usa roupas fechadas. Dancei muito para a Sociedade Sírio-Libanesa, fiquei vinte anos lá, dei aulas, A Dona Marie Massuh era de lá. Conheci todas as pessoas da entidade, sinto-me parte dela.
Quando uma dançarina põe-se a dançar modifica o ambiente, qual é a explicação?
A Dança do Ventre tem uma energia diferente, e não é só porque seja sensual. Embora o sensual seja sagrado.
O olhar de uma dançarina é diferente, ele é quase hipnótico.
Você conquista o publico através do olhar, o seu olhar é a sua conexão com o público. O olhar é a janela da alma. Um determinado diretor de um famoso clube social de Piracicaba, em uma ocasião, após apresentar-me dançando, disse-me: “Você sabe onde está sua sensualidade? No olhar! Você pode cobrir-se todinha para dançar!”
Isso para quem já assistiu a diversas apresentações sabe que não é uma característica exclusiva sua.
Na Dança do Ventre, nós incentivamos a mulher ter sua sensualidade natural. Não vamos aguçar a sensualidade. Vamos resgatar a sensualidade natural da mulher. Quando a mulher tem a sensualidade acentuada a Dança do Ventre equilibra os hormônios. Eu sei o que eu faço, sempre danço para reverberar a Luz, a positividade, transformar as energias, deixar o ambiente alegre, essa é a função da bailarina. Animar a festa! Qualquer dança libera a serotonina!
Você sabe aproximadamente quantas apresentações já realizou?
No inicio eu anotava, mas com o passar do tempo, o número de apresentações aumentou muito e eu deixei de anotar. Guardo maços de jornais e revistas onde há fotografias e referências ao meu trabalho. Já dei aulas em todos os clubes de Piracicaba e nas melhores academias. Apresento-me em Piracicaba, região, São Paulo, onde me contratarem. Já dancei na Casa de Chá Khan el Khalili que na época era a melhor casa de chá do Brasil, atualmente já existem outras. Para dançar lá tinha que passar por uma pré-seleção muito grande. Participei da primeira seleção, depois passava por uma segunda seleção e se aprovada era contratada. A banca tinha mais de 12 profissionais, bailarinas renomadas de São Paulo. A Casa de Chá Khan el Khalili tinha como proprietário Jorge Sabongi, onde estudei também. Está escrito na porta que é a Casa da Arte da Dança do Ventre. O público alvo, e quem mais gosta de lá são as mulheres.
Você já teve convite para ir para o exterior?
Fui pré-selecionada para ir para a Espanha e para uma temporada de seis meses em navio cruzeiro. Quando ia assinar o contrato meus pais ficaram preocupados. Achei por bem não aborrece-los. Seria o inicio de uma carreira internacional. Isso foi em 2004, o diretor disse-me: “ Josiany se você for não irá voltar mais, é a melhor bailarina que estará presente”.
Isso é uma demonstração de grande maturidade, de quem põe seus valores acima do sucesso a qualquer preço.
A Dança do Ventre veio em um “boon” mundial, no ano 2000, para a mulher resgatar a sua feminilidade, seu valor em sua essência feminina. Um valor que estava sendo perdido no dia a dia em busca da igualdade entre o homem e a mulher. Eu acredito que devemos ser tratados de forma igualitária, porém temos que respeitar a natureza de cada um. O homem e a mulher tem energias diferentes. Complementam-se. Não são competidores.
Você dá aulas prticulares e para grupos?
Dou aulas particulares, para grupos de pessoas, academias, clubes.
Após você ter tomado a iniciaiva em divulgar a Dança do Ventre em Piracicaba houve mudanças nesse aspepecto?
Em 1999 fui a quarta colocada no Concurso Profissional no Mercado Persa, esse evento que é o maior do mundo. A partir daí a Dança do Ventre em Piracicaba cresceu muito.
Piracicaba reconhece o seu trabalho?
Já fui homenageada na Semana da Cultura Árabe que se deu na Câmara Municipal, o Professor Elias Sallum concedeu-me uma medalha comemorativa de Honra ao Mérito pelos meus trabalhos de dança e promoção da cultura árabe.
Quem quiser saber como se sente pode fazer uma aula experimental?
Pode fazer, basta entrar em contato comigo atravez do telefone (19) 9 9736.5060. A primeira aula é gratuita.
A pessoa que tem uma vida sedentária, coluna travada, pode sentir-se melhor com a dança?
Inicialmente tem que ter o aval de um médico, mas a Dança do Ventre ajuda a articular a coluna vertebral. O movimento de ondulações faz com que as vértebras fiquem mais “soltas”. Qualquer pessoa pode estar fazendo, mesmo que esteja acima do peso. Há algumas pessoas que dizem: “Ah! Não é para a minha idade!”. Isso não é verdade! A Dança do Ventre ajuda e muito!

ARLETE MARIA RODRIGUES NEGRI


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 10 de junho de 2017.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/


http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: ARLETE MARIA RODRIGUES NEGRI


 

Arlet Maria Rodrigues Negri nasceu a 27 de outubro no bairro rural Guamium, em uma fazenda, ali havia um casarão onde moravam, de portas e janelas azuis, junto a Estrada dos Godinhos. Atualmente a região já está urbanizada. Seus pais, Antenor Rodrigues e Angelina Castelucci Rodrigues tiverem três filhos: Arlete Maria, José Adalberto e Antonio Wilson.

Seu pai trabalhava em qual atividade?

Meu pai trabalhava na empresa Tema Terra em Sumaré, ele foi trabalhar nessa empresa que naquele tempo ainda chamava-se Tratores do Brasil quando eu tinha sete anos, Lá ele trabalhou até aposentar-se. Morei em Sumaré por dois anos. Meus avós paternos eram Jorge Rodrigues e Ida Carletti Rodrigues. De Sumaré por dois anos morei na cidade de Três Pontas em Minas Gerais. Depois voltei para Piracicaba, fui morar com meus avós maternos Ephigênia Basso Zambon e Antonio Castelucci , com o meu tio Antonio José Castelucci que morava com seus pais, ou seja, morávamos todos nós meu tio, meus avós e eu, na mesma casa.

Em que bairro de Piracicaba você passou a residir?

Na Avenida Dom João Nery, na Vila Rezende. Eu tinha estudado em Sumaré, em Três Pontas, e aqui fui estudar na Escola Imaculada Conceição (Na época conhecido como “Carequinha”). Era comum dizer que estudava no Carequinha! Fiz o curso de auxiliar de escritório, em seguida o Curso Técnico em Contabilidade., depois fui fazer a faculdade em Tatuí.

Você começou a trabalhar a partir de quantos anos?

Meu avô Antonio Castelucci tinha um açougue, inicialmente situado na Avenida Dona Francisca depois passou a ser na Avenida Dom João Nery. Eu tinha de catorze para quinze anos, ajudava no açougue. Gostava de trabalhar, desossar, picar, fazia lingüiça, codeguim (o cudiguim (ou codeguim ou cotechino) é uma lingüiça fresca elaborada com carne suína, couro cozido e gordura, com boa quantidade de temperos como alho, cheiro verde, noz moscada, pimenta).

A que horas abria o açougue?

As cinco horas manhã abria, lá pelas onze horas fechava, depois do almoço, das duas horas até as cinco abria de novo. O meu tio Antonio José Castelucci fazia faculdade de matemática em Rio Claro. Ele ajudava no açougue na parte da manhã, levantava bem cedinho, deixava todas as encomendas prontas e depois ele ia para a faculdade. Aos sábados um outro tio, Miguel Biscalchim  ajudava também. O meu tio Antonio José Castellucci formou-se em matemática, fez carreira como professor acadêmico e é um dos pioneiros da implantação de cursos da UNIMEP no Campus de Santa Bárbara D`Oeste.

Você concluiu o curso de contabilidade e foi fazer a faculdade?

Fui fazer educação artística em Tatuí, na Faculdade de Ciências e Letras de Tatuí, que era o que eu gostava, aos doze anos, eu morava em Três Pontas, pintava telas com pinturas a óleo, eu tinha muita habilidade com trabalhos manuais. A Faculdade de Tatuí já era famosa, quem estudava lá: João Pedro Godinho, Cecília Neves, Isabel Guardia, Mércia Angeleli, a Cica. O João Chiarini dava aula para mim. Era bem incentivador.
                                                              JOÃO CHIARINI

Como vocês iam para Tatuí?

Íamos de ônibus, saíamos de Piracicaba às seis horas da tarde, o ônibus saía de frente da catedral, e voltava à meia-noite. Na época eu era solteira. Era um pessoal muito animado, valia a viagem. Foram três anos.

Nessa época você já estava namorando seu futuro marido?

O Wilson estudava o curso científico com o meu tio Antonio José Castellucci, em função dessa amizade com o meu tio ele freqüentava a nossa casa. A minha avó era comadre da mãe dele Ângela Alleoni Negri casada com Carlos Negri, meu sogro. Estávamos sempre juntos. Depois de muito tempo começamos a namorar. Ele foi fazer Engenharia Civil na Escola de Engenharia de Piracicaba. Ele gostava muito de eletrônica. Foi um dos pioneiros da informática em Piracicaba. Ele informatizou o SEMAE – Serviço Municipal de Águas e Esgotos; informatizou a Prefeitura Municipal de Piracicaba, o SEMUTRAN -  Secretaria Municipal de Trânsito e Transporte; foi um dos fundadores do CIAGRI - Centro de Informática da ESALQ, ele trabalhava na Escola de Agronomia Luiz de Queiroz. Ele fez Mestrado em drenagem e irrigação. Quando nos casamos ele dava aulas na UNIMEP, em Piracicaba e em Santa Bárbara D Oeste. Ultimamente lecionava na Escola de Engenharia de Piracicaba.


Em que ano vocês se casaram?

Foi a 19 de julho de 1978, na Matriz da Vila Rezende, o Padre Jorge foi o celebrante. Tivemos duas filhas: Patrícia e Mariana.
                              CENTENÁRIO PARÓQUIA IMACULADA CONCEIÇÃO


Quando vocês vieram morar na casa onde permanece por 37 anos o bairro era bem diferente?

Havia poucas casas, estavam começando, a nossa rua era a que mais tinha casas, mas o bairro em si era composto por poucas casas.
                      ARLETE AO LADO DO PÉ DE MAMÃO NA CALÇADA DA SUA CASA.
                      ELA AFIRMOU TER APENAS JOGADO AS SEMENTES.

                               VISTA PARCIAL DA PRAÇA EM FRENTE A SUA CASA, ONDE PLANTOU MUITAS ÀRVORES FRUTIFERAS. ENTRE AS DUAS ÀRVORES AO FUNDO, SEU MARIDO WILSON ESTIVACAVA UMA REDE PRESA ÀS DUAS ARVORES E FICAVA OLHANDO AS CRIANÇAS BRINCAREM NA PRAÇA.

Além de arte, que você gosta muito, há outras coisas que a atrai?

Gosto muito de móveis antigos. Tenho uma coleção de xícaras, as pessoas sabem e quando vão se desfazer de alguma coisa antiga me consultam se quero. Sabem que eu irei cuidar com carinho. Algumas vezes até restauro. As coisas antigas que possuo são presentes de diversas pessoas, vizinhas, amigas, parentes. Tenho uma peça que ganhei de uma amiga chamada Dona Vilma, ele ganhou da sogra dela. A Dona Vilma faleceu com 85 anos. Imagino que essa peça deve ter mais de cem anos! Tudo que tenho de antigo foi alguém que me deu. Muitas coisas eu restaurei. Uma pessoa de muita cultura, da nossa família, sugeriu que eu fizesse um curso de restauração na Europa, eu tenho uma mão considerada apropriada para a pintura e restauração. É o que chamam na arte de ter a mão “suave ou leve”. Tenho muitas pinturas em porcelana que eu mesma fiz, assim como vitral. Pintura em tecido, bordar, aprendi a fazer tudo isso.

                                  CAIXA COM MACHETARIA FEITA POR ARLETE
CRIADO MUDO ANTIGO, SENDO QUE A CAIXINHA DE MADEIRA EM CIMA DELE DEVE TER MAIS DE 100 ANOS !





                          PEÇAS EM PORCELANA (UMA DAS QUALIDADES DE ARLETE É PINTURA EM PORCELANA)

Você nunca pensou em fazer disso uma profissão?

Gosto muito de fazer, já trabalhei por cinco anos na Casa Campos, hoje loja Além da Lua, minhas filhas estavam estudando fora, meu marido trabalhando, eu para não ficar muito só em casa fui ajudar a minha amiga e no fim acabei ficando o período integral. É uma loja de artesanato. Na faculdade aprendemos a entalhar, fiz machetaria com a Isabel Guardia. (Machetaria é a arte ou técnica de ornamentar as superfícies planas de móveis, painéis, pisos, tetos, através da aplicação de materiais diversos, tais como: madeira, metais, madrepérola, pedras, plásticos, marfim e chifres de animais, tendo como principal suporte a madeira).

Ainda adolescente você trabalhou no açougue mas já estava tentando encontrar outra atividade profissional?

Fui fazer o curso de cabeleireira na Escola de Cabeleireiros Calazans, do Gilson Calazans. Trabalhei uns 20 anos nessa atividade, ainda trabalhando no açougue já fazia um pouco de cabelo. Depois que meu avô fechou o açougue passei a trabalhar como cabeleireira em tempo integral Naquela época não havia muitos cabeleireiros em Piracicaba. Eu era bem famosa aqui na Vila Rezende. Comecei trabalhando sozinha, depois passei a ter alguém que ajudava a fazer unhas. Trabalhava no fundo do quintal da minha avó. Fiz um quartinho, um banheiro, e fazia lá. Comprei o secador, lavatório era muito caro, não tinha. Coloquei duas colunas de concreto que adquiri na Artefatos de Cimento Coimbra, em cima coloquei uma pedra de granito, um espelho, que conservo até hoje, assim passei a trabalhar.
                                         SECADOR DE CABELO ANTIGO COM PEDESTAL


                                                              BOBES NO CABELO

O secador era aquele em que a mulher enfiava a cabeça dentro?

Era esse mesmo! Tinha um babyliss, que era um modelador para ficar enrolado, ao contrário da conhecida “chapinha” que alisa o cabelo. Essa moda de enrolar o cabelo está na moda de novo.

Naquela época era muito comum, as moças enrolarem o cabelo com bob de plástico, passar boa parte do dia com os bobs e um lenço sobre a cabeça para depois irem terminar o penteado?

Às sextas e sábados eu começava a atender às cinco horas da manhã, enrolar os cabelos das meninas. Elas colocavam um lenço cobrindo a cabeça e iam trabalhar. Quando saiam do serviço voltavam para arrumar o cabelo. A moça com bob na cabeça com certeza já sabia que a noite iria passear. Era chique até! Eu tinha clientes que moravam nas proximidades da Santa Casa de Piracicaba, a Neide Krahenbhul fazia unha comigo. As meninas que trabalhavam nas lojas do centro vinham bem cedinho para enrolar o cabelo, tinham que tomar o ônibus e chegar ao local de trabalho às sete horas.

   
O famoso cabeleireiro Nandi era seu vizinho?

Era meu vizinho! Na Vila Rezende era eu, o Nandi e a Alzira (Zaíra) Papini e a Marli Zurck.

Os produtos utilizados para “fazer a cabeça” das moças eram improvisados?

O laquê era fundamental! O cabelo era enrolado com cerveja! Passava cerveja no cabelo para ficar duro!

Não ficava o odor da cerveja?

Ele secava, ficava duro apenas. Tempo de produtos da marca Anaconda.

O salão de cabeleireiro é um local com alguma semelhança a uma sala de psicólogo, onde as pessoas desabafam seus males?

De certa forma sim. É essencial que o profissional mantenha o sigilo de tudo que ouve ou sabe, ou poderá naufragar o seu empreendimento. Há momentos em que a pessoa sente-se a vontade para revelar confidências, suas ou de uma terceira pessoa, e isso não deve virar a chamada fofoca.

Para ir para o centro você utilizava o bonde?

Quanto pegar o bonde! Um pouco antes da cabeceira da ponte sobre o Rio Piracicaba, havia uma porteira que era fechada para dar passagem ao trem particular do Engenho Central.

O local que por muitos anos foi denominado de “Bimboca” situa-se aonde de fato?

Se você for pela Avenida Dona Santina, irá passar por um posto de saúde, descendo a atual Rua Francisco de Souza, tem uma bica de água, ali é que era a Bimboca. Mais adiante tínhamos o famoso bairro do Pitá, assim denominado por ter a plantação de pita ou agave, material que o industrial Virgilio Lopes Fagundes utilizava em sua indústria de cordas. Atualmente essa área está toda urbanizada. Essa descida que temos na Avenida Manoel Conceição é denominada como pertencente ao Bairro São Luiz.

Você freqüentava os cinemas de Piracicaba?

Freqüentava o Politeama, comprava balas, chocolates, na “bombonière” situada entre os bancos Itaú e Bradesco, na Praça José Bonifácio nº 13 de propriedade de José Passarela. Ia a outros cinemas também, na época existiam o Broadway, o São José o Palácio e o Colonial na Rua Benjamim Constant. Eu gostava de ir ao Politeama, é onde a juventude reunia-se. Dizíamos de vez em quando que “íamos fazer a praça”. Tinha uma grande amiga Leila Pizelli, advogada, trabalhava na prefeitura. Íamos até o centro, o seu pai tinha uma caminhonete, dávamos uma volta de caminhonete no centro. Às vezes quadrávamos o jardim da Vila Rezende, era freqüentado mais pelos jovens da Vila Rezende, eles não se misturavam com o pessoal da “cidade”. Na época a Caninha Tatuzinho e a Caninha Cavalinho estavam em atividades intensas. Eu tinha bastante amigas que trabalhavam na Tatuzinho.

Quais eram os cortes e penteados de cabelo femininos mais na moda da época?           

Eram “Joãozinho”, Chanel, Coque, Banana, que era um penteado que ficava na parte posterior um formato parecido com uma banana.
        PENTEADO FEMININO CONHECIDO COMO "BANANA" MUITO USADO NA ÉPOCA

Você teve a oportunidade de conhecer diversos artistas de repercussão nacional, no auge da carreira?

Na década de 60, anos da Jovem Guarda, quando muitos artistas estavam no auge, houve um almoço em Sumaré, do qual eu participei, era composto basicamente por artistas de expressão: Jorge Bem, George Freedman, Martinha, Pedro Paulo Rangel.

E Milton Nascimento?

Ele era de Três Pontas, no período em que morei lá o conheci, na época eu era criança, tinha uns doze anos, ele estava começando a fazer sua carreira. Era praticamente um anônimo. Depois que ele fez sucesso e estourou. Gosto muito de teatro, quando vinham peças com artistas muito famosos, íamos meu marido e eu até o camarim, para conhecê-los, cumprimentá-los. Assisti um show de Roberto Carlos e André Rieu.no Chile.

De maneira geral nós não valorizamos muito a nossa história?

Nada! Vejo o que sobrou, edificações que a especulação imobiliaria ainda não derrubou. Sou conservadora. Em frente a minha casa nasceu um pé de mamão, está carregado. Do outro lado da rua tem uma praça, ali já plantei diversas mudas de àrvores frutiferas, Inclusive duas mangueiras, quando o bairro não era tão habitado, meu marido colocava uma rede entre as duas mangueiras e ali ficava, olhando as crianças que brincavam. Até hoje cuido dessas plantas, faço compostagem, coloco adubo natural, corto grama.

Você gosta de ler?

Devoro livros, prefiro os livros de leitura leve, também chamados de àgua-com-açúcar. Embora as vezes também leio livros utilizados pela minha filha que atua profissionalmente na área de psicologia. Leio jornais, do começo ao fim. Tenho o habito de recortar aquilo que me interessa e às minhas filhas.

Você participa de alguma instituição como voluntária?

Já estou ha 20 anos como voluntária da instituição Associação Viva a Vida - Mulheres Mastectomizadas, mais conhecida como “Viva a Vida” situada a Rua José Pinto de Almeida, 824. A Dona Vilma Almeida de Godoi, foi a primeira pessoa a se preocupar em dar suporte à mulheres com cancer de mama, iniciei fazendo pinturas em tecido e fazendo perucas para as pacientes. Sou a primeira pessoa não acometida pelo mal a ajudar. Um dia Dona Vilma aceitou que eu ajudasse a instituição. Passei a fazer de tudo um pouco. Ajudar a fazer a primeira prótese, para as pessoas que não tem condições de comprar. Fazemos uma de paninho, com os pesos certos, é colocado dentro do sutiam. Fazemos esse trabalho, faço artesanato com as pessoas. Temos psicólogos, fisioterapeutas, contribuímos com cestas básicas, tentamos elevar a auto-estima da pessoa. Ali é freqüentado por mulheres de todos os níveis. Temos o brechó que abre de segunda a quinta do meio dia e meia até as três e meia, às quintas feiras é das duas horas da tarde até as quatro horas. O primeiro bingo feito pela Associação foi organizado por mim, pelo meu marido Wilson e pelo saudoso Didi Cardinalli. Foi lá no Lar dos Velhinhos. Depois o Capitão Gomes passou a nos ajudar, fizemos reuniões beneficentes com jantares. Assim levantamos a Associação. O volume maior de pessoas assistidas por nós é de pessoas carentes.

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