PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado, 21 outubro de 2017.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado, 21 outubro de 2017.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADO: LUIZ ANGELO MARCHINI
ENTREVISTADO: LUIZ ANGELO MARCHINI
Luiz Ângelo Marchini nasceu a 6
de março de 1945 no bairro Água Branca, Piracicaba. Filho de Luiz Marchini e
Margarida Razera Marchini que tiveram 11 filhos: Luiz Ângelo, José Antonio,
Maria Elisa, João José, Maria Inês, Sueli Margarida, Marcos Francisco, Pedro
Roberto, Humberto Sávio, Roberto Sávio e Maria Regina. Sendo que Humberto e
Roberto são gêmeos, assim como José Antonio e Maria Elisa são gêmeos também.
Qual era a atividade do seu pai?
Meu pai tinha olaria, plantava
cana, tinha leiteria, uma fábrica de rapadura, fábrica de melado, onde a
criançada estava empregada. O primeiro engenho ele adquiriu de José Nassif, era
um engenho de tração animal, com três cilindros de ferro. Eu cheguei a tocar o
burro que puxava o varal e movia as moendas. Na época eu tinha de 12 a 14 anos.
O burro era mansinho, virava sozinho, às vezes ficava muito lerdo tinha que
apressar o passo dele. A cana-de-açúcar era produzida no próprio sítio. Calculo
que era moída uma tonelada de cana por dia. Havia um tacho muito grande,
fazíamos muita rapadura, tinha o formato de um tijolo medindo 10 centímetros de
largura por 20 centímetros de comprimento, uns 4 centímetros de espessura. Eram
embrulhadas em papel celofane, uma a uma.
Quem fazia a rapadura?
Minha mãe era a técnica! Eu
também aprendi e de vez em quando ainda faço, limpo a cana como se fosse fazer
garapa, sai uma garapa clara, depois que passo a cana na escova, lavo a cana,
coloco no engenho de inox, para não oxidar a garapa, depois em um tacho de
inox, coloca-se no fogo por umas cinco horas. No sítio aproveitávamos o próprio
bagaço da cana para fazer o fogo na fornalha. Antes eram colocados em uma
cerca, como se fosse um varal, onde secavam. Depois meu pai adquiriu um engenho
maior, já com o cilindro deitado, o de tração animal tinha o cilindro em pé.
Esse segundo engenho era movido por um motor a gasolina de um Chevrolet 1928. O
radiador era um tambor de 200 litros de água, saia a água fria embaixo e jogava
a água quente em cima. Funcionava o dia inteiro. Depois veio a energia
elétrica, ai o motor do Chevrolet foi substituído por um motor elétrico de 10
HP.
Como essa rapadura chegava a São
Paulo?
No inicio a produção era menor,
trazia com carrinho de tração animal até a Estação da Companhia Paulista de
Estradas de Ferro. Despachava também latas de melado com capacidade para 20
litros. Meu pai comprava as latas vazias, daquelas que tem a tampa maior, igual
às utilizadas para tintas, não havia rotulo, nada que identificasse. O nível de
exigência era bem diferente.
Havia funcionários no engenho?
Sempre tinha algum. A maior parte
eram pessoas da nossa família que trabalhavam no engenho. Na olaria que ficava
paralela ao engenho tinha os funcionários, foram construídas casas para eles.
O sítio tinha quantos alqueires?
Eram nove alqueires, era uma área
bem aproveitada, tinha pasto, vacas de leite. Faziamos até queijo, manteiga. Trabalhei
mais na rapadura e na olaria. Na época fabricávamos só tijolos. No início a
produção era de uns 3.000 tijolos por dia, tudo artesanal. Quando chegou a
energia elétrica colocamos máquinas, que faziam 1.500 tijolos por hora.
Quem fazia as entregas?
Teve época em era só eu que fazia
as entregas, com um caminhão F-6 ano 1951. Um Ford a gasolina, transportava
1.500 tijolos a cada viagem. O tijolo era grande. O tamanho padrão dos tijolos
foi diminuindo, passei a levar 2.000 tijolos e cheguei a levar até 3.000
tijolos. O tijolo passou a ser metade do que era antes. E hoje está menor
ainda!
Você lembra-se de alguns lugares
onde entregou tijolos?
Tem muitos lugares! Às vezes estou
passando em algum lugar e lembro-me de que aquele prédio foi construído com os
tijolos que entreguei. Fiz muita entrega de tijolos na Cidade Jardim, quem
construiu muito lá foi o João Fleury.
Você ia entregar com um ajudante?
Ia com ajudante, às vezes ia
sozinho. Comecei a puxar tijolo muito novo ainda. Muitas vezes vinha entregar
tijolos a noite, de madrugada, não dava tempo durante o dia. Às vezes deixava o
caminhão carregado e vinha entregar bem cedo. Quando o pedreiro chegava às sete
horas eu já tinha descarregado. O pedreiro assinava o “valinho”. Naquela época
a Guarda Civil fazia blitz na curva do “S”.
Você trabalhou nesse sítio até
que idade?
Estudei até o quarto ano, no
bairro Pau Queimado, ia a pé, naquela época não havia escola no bairro Nova
Suissa. A distância de casa até a escola era em torno de três quilômetros, ia
descalço, era comum andarmos descalços naquele tempo. Minha primeira professora
foi Dona Hilda e a última Dona Rute. Eu saí desse sítio quando tinha 22 anos. Com
22 anos, aluguei uma fazenda que tinha uma olaria grande, e fui tocar a
fazenda, sozinho. Era a fazenda do Santo Bueloni. Conheci muito o Francisco
(Chico) Bueloni. Lá moravam cinco famílias que trabalhavam na olaria, eu
alugava um pedaço, era uma fazenda muito grande. Eu produzia tijolos, depois
comecei a fabricar um pouco de telhas e um pouco de lajotas para pisos. O Santo
queria fazer uma sociedade comigo para modernizarmos, adquirir máquinas, mas
infelizmente ele logo faleceu. Pouco depois, minha família também estava
passando por um processo de mudanças, foi quando decidi vir para a cidade e
montei a Angemar. Lá se chamava cerâmica Angemar. Meu avô tinha falecido há
pouco tempo, o nome dele era Ângelo Marchini, o nome Angemar era em sua
homenagem.
Em que local você montou a
Angemar?
Na esquina da Rua do Rosário com
a Avenida Dona Jane Conceição havia dois lotes de terreno vazios, onde
periodicamente montavam circos, parques. Esse dois lotes eram de dois donos
distintos: o da esquina era de um membro da família Amstalden, e o outro era do
José Valério. Acabei comprando primeiro o lote do Valério, já pensando em
adquirir a esquina. Construí no primeiro lote.
No inicio eram só o lote com uma
edícula no fundo?
No inicio aluguei o terreno da
esquina, fiz uma cerca, uma edícula de taboa e a 1º de maio de 1969 comecei a
trabalhar comercializando tijolo, areia, pedra, cimento, cal, um pouco de
ferro, um pouco de manilha. Naquele tempo vendia-se muita manilha, não existia
tubo PVC! A manilha era produzida em Rio Claro. Comprei um caminhãozinho, um
Ford ano 1948, verde, funcionava bem, ficou por muitos anos trabalhando.
Era um tempo em que não havia os
problemas de segurança existentes atualmente?
Não tinha!
No início você já tinha o
caminhão para fazer entregas?
No inicio não, após um mês da
abertura do depósito o meu tio vendeu o caminhão para mim, para que eu pagasse
da forma que pudesse pagar. Em dezembro de 1969 acabei de pagar o caminhão. Foi
um período muito bom para a construção civil, meu estoque aumentou e consegui
pagar o caminhão. A carga tributária era menor. Quando comecei já contratei um
funcionário: Paulo Polva. Era um senhor já maduro, uma pessoa muito útil.
Honesto. Eu saia fazer entrega ele ficava no depósito, ele conhecia os preços,
tinha a lista de preços feita a caneta, ele vendia, fazia o troco. Logo depois
arrumei um motorista, Miguel Novelo conhecido como “Gué”, irmão do Zé
Lambretta. Era um bom motorista, às vezes o Paulo saia com ele, dependendo da
carga. O Gué nos ajudou muito, foi muito bom para nós.
Em seguida vocês construíram?
Compramos o lote vizinho,
trabalhando no lote da esquina fui construindo no lote anexo. Após construir e
mudar a empresa para lá consegui comprar o terreno da esquina, que ficou como
depósito.
Você teve um funcionário que o
mencionou com muito respeito e gratidão, trabalhava em uma das rádios da
cidade.
Tarciso Chiarinelli
! Ele foi muito útil para a Angemar!
Outro que foi muito bom, muito útil é José Ângelo Bonamin. Ele entrou menino,
aposentou-se e continou trabalhando. Era o financeiro da empresa. Honestíssimo.
Surgiu uma oportunidade para nós adquirirmos uma área com 1250 metros quadrados
em um local privilegiado. Precisamos de um sócio para fazer a aquisição, na
ocasião foi o Marcos Contarini, da Alvarco, que tornou-se nosso sócio. Èramos
em três sócios, eu, o Antonio, e o Marcos. Depois o Marcos faleceu fizemos uma
divisão, a esquina ficou com a viuva, e a àrea que tinhamos adquirido ficou
conosco. Mudamos a loja. Foi um período no mínimo desagradável, houve a
influência de terceiro que foi agregado a família do Marcos e que infelizmente
trouxe prejuizo para todos nós. Mudamos a loja para a Avenida Madre Maria
Teodora em 1992. Lá já morávamos na frente e tinhamos feito um barracão grande
no fundo. A minha casa e do Toninho era na frente. Demolimos a casa do Toninho
primeiro, depois demoli a minha casa. Expandimos a Angemar. Houve o interesse
de terceiros em estabelecerem-se naquele local, alugamos e decidimos encerrar
as atividades comerciais da Angemar. Ainda pór algum tempo emprestei o nome
Angemar para um ex-funcionário. Hoje já não existe mais essa loja.
Você
ainda lembra-se do número do telefone da Angemar?
Era um “telefone
quente”, Eu tinha
um telefone alugado! O número era 227174.
Nesse
período voce casou-se?
Em 19 de outubro
de 1968 eu casei com Maria Odete Valverde, na Igreja dos Frades, celebrado por
Frei Augusto, tivemos duas filhas, Márcia e Débora. Tenho os netos Rafael,
Isabela, Ana e Olívia. Meu genro Tiago mora em Cingapura, juntamente com minha
filha e minhas netas. São 27 horas de vôo.
Luiz Ângelo Marchini e sua esposa Maria Odete Valverde
Você
chegou a entregr tijolos na Igreja São José quando ela estava em construção?
Entregamos sim,
para o cônego Luiz. Meu pai fez doação. Também para o Lar dos Velhinhos, Igreja
Imaculada Conceição do Monsenhor Jorge, levamos muito tijolo na Igreja da
Paulicéia, Paróquia
Imaculado Coração de Maria do padre João de Echevarria.
Você conheceu a Serraria do Galesi, situada na Avenida
Dr. João Conceição?
Conheci! Ele fornecia algumas coisas para nós. Mais
abaixo, ficava o Ferrari, que fornecia para nós a carriola para puxar tijolo
dentro da olaria, era uma carriola manual, com dois varais e uma roda de
madeira como de carroça. Carregava uns 50 tijolos por viagem. Levava o tijolo
no forno para queimar e depois tirava do forno para por no caminhão. Depois
eles criaram a carriola com duas rodas e pneu de Gordini, DKW. Ai foi outra
história! Carregava mais e era mais suave.
Seu primeiro carro qual foi?
O meu primeiro carro, depois de casado, foi um DKW Fissore,
cor vinho. Era um carrão! O Waldemar Fornazier, vizinho de frente, tinha um
também. Conheci o Vittório Fornazier, proprietário de um armazém onde hoje
funciona o Supermercado Balan. O José A.(Juca) Dionisio, pai do vereador Vanderlei Luiz Dionísio trabalhou a vida inteira com
Vittório Fornazier. Na Praça Takaki tinha a sorveteria Bar da China de
propriedade de João Beduscchi, um comerciante que atendia a todos com muita
educação, de poucas palavras, mas muito prestativo. Só vendia sorvete. Na
esquina da Rua do Rosário com a Avenida Madre Maria Teodora havia o boche do
Aliberti e na Avenida Madre Maria Teodoro, a uns 50 metros de distância havia o
boche do Roque Bortoletto. Lembro-me da inauguração da Padaria Suissa, depois
passou a chamar-se Padaria Takaki por razões de contrato comercial entre os
envolvidos, Quem iniciou foi o Francisco (Chicão) Amstalden,filho de Thomaz (Bem-Te-Vi)
Amstalden.
Você
chegou a fazer um barco inusitado junto com Pedrinho Silveira?
Quem
fez foi o Marco da Alvarco, com Pedrinho Silveira, Luiz Vargas e o Antonio (Gegé) Beneton. No início esse barco chamava-se “Barco
Quatro Amigos”.
Esse barco
existe até hoje?
Esse barco é meu! Eu adquiri a sucata dele, reformei
inteirinho, ele tinha afundado, ficou só o teto fora, estava na ponte do Rio
Tietê. Atualmente o barco tem dois quartos, doze camas, dois banheiros, cozinha
com fogão de seis bocas, pia de granito com dois metros de comprimento,
geladeira com trezentos e tantos litros, televisão, bar completo. Ele fica ancorado dentro da
água, pesa 20.000 quilos, o casco é de chapa.
Inicialmente esse barco foi construído sobre tambores de
200 litros?
No início era um barco sobre tambores, eu acompanhei a
história porque o Toninho trabalhava na Alvarco, quando começamos a Angemar,
começamos juntos. Depois o Marco da Alvarco ficou meu sócio. Constantemente eu
ia com o Marco até o barco. Esse barco foi sofrendo transformações, uma vez
fizeram uma reforma, o Marco colocou dois tubos grandes de aço e um assoalho. O
Pedrinho Silveira colocou uma carroceria de ônibus monobloco em cima. Funcionou
assim por um bom tempo. O primeiro motor era um Dodge a gasolina, seis cilindros,
depois mudou para um Mercedes-Benz 1111. Depois eu mudei para um MWM seis
cilindros.
Qual percurso você faz?
Não ando muito não, subo até perto de Tanquã, tem um
lugar bom ali para pescar umas trairas, pousar lá, é uma delícia, no dia
seguinte voltamos. É mais pelo passeio.
Você guarda recordações de moradores do bairro da
Paulista?
No bairro da Paulista tinha figuras marcantes: o juiz de
futebol José de Barros que trabalhava na Estação Paulista e aos finais de
semana apitava jogos de várzea. Lembro-me do José Grella, Augusto Grella, João
Sabino Barbosa, o José Grella era sogro do Hélio Saipp, que tinha os irmãos:
José Saipp e Alcides Saipp. O José Saipp trabalhou para mim por muitos anos,
era conhecido como “Tio Zé”. Todos gostavam muito dele, era vendedor de balcão.
O Hélio tinha a Casa do Lavrador, onde atualmente é uma casa de calçados. Em
determinada época ele montou uma serralheria, vendeu a Casa do Lavrador. Eu
comprei. O José Saipp veio trabalhar conosco, tinha muitos medicamentos
veterinários, e também para uso em plantas, quem entendia do assunto era o
José. O estoque foi vendido e ele continuou trabalhando conosco. Ao lado do
nosso depósito havia um açougue de propriedade de Mário Scarpari e seus filhos
Antonio e Alcides. Depois eles montaram um supermercado na esquina da Avenida
Madre Maria Teodora esquina com a Rua da Palma, foi possivelmente o primeiro
supermercado da região, mais tarde esse supermercado foi vendido para Décio
Canale, e passou a ser o Supermercado Canale.
Você usou muito o trem?
Eu ia para a escola de trem! Na época em que morava no
bairro Água Branca ia até bairro Chicó de trem. Eu nasci na Àgua Branca e mudei
para a Nova Suissa com onze anos. Comecei a escola no Chicó e terminei no
bairro Pau Queimado.
Esse trem passava pela Água Branca e pelo Chicó?
A Estrada de Ferro Sorocabana tinha uma plataforma quase
em frente a Igreja da Água Branca, eu morava ali perto. A criançada toda do
bairro ia de trem. Tinha uma carteirinha anual, não pagava nada.
Você conheceu uma paineira muito grande que havia nas
imediações de onde hoje há o terminal urbano?
Conheci! O João Maranhão morava ali perto.
Consta que essa paineira, por sua beleza e tamanho,
recebeu uma proteção legal no terreno que a circundava, documento devidamente
registrado em cartório público.
Naquela época havia o Mato do Pupin, não tinha o Postão
ainda, a Estrada do Governo como era conhecida a hoje Rodovia Cornélio Pires,
era uma estrada bonita, boa, bem apedregulhada. Onde é a Avenida Luciano
Guidotti, Avenida 31 de Março, não havia nada. Era tudo pasto. Tinha hortas.
O caminho que você fazia para chegar até a cidade qual
era?
O sítio em que morávamos, era do meu avô, saia ali no
Postão. O sítio vinha até ali. Era estreito e comprido. Terminava onde hoje é
uma fábrica de blocos de cimento. A cidade terminava no Posto São Jorge, na
Avenida São Paulo que na época era uma estrada. Depois teve um progresso
rápido. Nessa região havia leiteria do Emílio Razera, tio da minha mãe, irmão
do meu avô pai da minha mãe. Luiz Razera. Ângelo Marchini era pai do meu pai.
Este ano está sendo comemorado 130 anos da imigração dos meus bisavôs, vieram
da Itália, da região da Sicília. Estamos organizando uma reunião dos
descendentes.
Quando você era jovem qual era a diversão mais comum?
Havia pouca diversão e muito trabalho. Nunca joguei
futebol. Não tinha dinheiro para ir ao cinema. Bailinho era pouco, lá pelo
sítio às vezes algum. Já moço, os pais não deixavam ficar até tarde.
A família tinha o habito de ir aos domingos à missa?
Todos os domingos meu pai enchia o Fordinho, minha mãe e
a criançada menor embaixo, os grandões em cima, na carroceria. Vinhamos para a
Igreja dos Frades. Quando chegava a família na igreja, enchia dois bancos, eram
treze pessoas! Meus avôs também freqüentavam a Igreja dos Frades, vinham de
charrete, de trole. Onde é atualmente a pracinha em frente a Igreja dos Frades
era o lugar onde guardavam os troles, os cavalos. A hoje praça, na época era um
terreno com um cercadinho. Havia um bebedouro de água para os animais. Em
frente o depósito de cargas da Estação da Paulista havia um bebedouro para animais,
existia um cano que despejava água, era comum colocarem o dedo impedindo que a
água saísse pelo cano, ela saia por um orifício superior tornando-se um
bebedouro para as pessoas. Possivelmente deveria ter uma nascente, a água
jorrava sem parar.
Você chegou a cortar cana-de-açúcar?
Cortava, carregava, entregava na usina. Naquele tempo não
queimava a cana. Meu pai comprou um sítio no Pau DÀlho e encheu de cana, com
isso eu tinha que puxar o tijolo, a lenha para queimar o tijolo e a cana na
safra. O caminhãozinho trabalhava dia e noite. A lenha comprava cortada, mas
tinha que ir buscar e carregar. As coisas mudaram muito, eu sou do tempo da
Maria Fumaça, é só comparar com a tecnologia do Metro, para perceber o salto da
tecnologia. Máquina de escrever é peça de museu.
Isso é bom para a humanidade?
É bom! Hoje se comunica muito pelo celular. Uso todos
esses melhoramentos tecnológicos. Hoje pela manhã conversei com a minha filha
em Singapura, ela estava dentro do Uber, estava indo para uma festa de aniversário.
Às seis horas da manhã estava conversando com a minha criançada!
Antigamente fazer um interurbano para são Paulo era uma
aventura!
Levava às vezes cinco horas para a telefonista completar
a ligação! Outra vantagem é que você pode escrever e a pessoa recebe a mensagem
imediatamente. A medicina evoluiu muito, lembro-me quando inaugurou o primeiro
pronto-socorro de Piracicaba, ficava em cima da rodoviária. Foi inaugurado pelo
Dr. Francisco Salgot Castillon. Não tinha nada, recorria-se a farmácia, o Lico tinha
farmácia na Rua Benjamin Constant. Os dois médicos mais acessíveis ao povo eram
Dr. Alfredo de Castro Neves e o Dr. Samuel de Castro Neves, filho e pai, ambos
até hoje venerados pela população. Consultavam gratuitamente e se o paciente
não pudesse adquirir os remédios eles davam gratuitamente. Atualmente é
obrigação do Estado o fornecimento ao paciente carente dos medicamentos
receitados. É vedado ao médico fornecer gratuitamente medicamentos de forma
regular. Tenho uma passagem marcante com o Dr. Alfredo (Alfredinho) de Castro
Neves. O motor Chevrolet que virava o engenho estava ruim de dar partida, eu
estava acertando o platinado dele. Com doze anos fiz curso de mecânica para dar
manutenção lá no sítio. Na Avenida Dona Jane Conceição, quase esquina com a Rua
da Glória, tinha uma oficina de caminhão, fui lá ajudar e aprender. Com isso
passei a trocar molas de caminhão, limpar carburador, regular o platinado. Eu
estava regulando o platinado do motorzinho, o botão da partida ficava longe, eu
tinha que apertar a partida para por o motor no ponto certo. Estava em
desequilíbrio, segurei na correia do gerador, virou na polia, abriu a ponta do
dedo da mão, meu pai me levou até o Dr. Alfredinho, já estava escuro, ele me
atendeu a noite, na casa dele, na Rua Alferes José Caetano entre a Rua Prudente
de Moraes e Rua 13 de Maio.
A alimentação no sítio era bem diferente?
Nós plantávamos arroz na várzea, feijão no meio da cana,
tinha horta, leite a vontade, milho, tratava de porcos, naquele tempo não se
usava óleo, minha mãe comprava óleo de algodão para colocar na salada. A comida
era feita com banha, não existia geladeira, era utilizado um tambor de leite,
cheio de banha e os pedaços de porco dentro. Dependurava lingüiça em cima do
fogão a lenha, ia depurando. Eu comprei até uma máquina para moer carne, para
fazer lingüiça. No sítio eu fazia, descascava alho, moia alho, usava pimenta do
reino, ensacava lingüiça. Eu fazia de tudo em casa, dava a mamadeira para o
irmão menorzinho, lavava louça, puxava tijolo,
O bairro da Paulista tinha tipos característicos.
Muitos permaneceram em
nossa lembrança, como o Geep, do Bar do Geep, Milton Scarpari, um bom mecânico,
o Ito que tinha banca no Mercado Municipal, Júlio Takaki, O José Martins seus
irmãos Alexandre e Cristóvão tinham um depósito de material de construção a Rua
Benjamin Constant quase esquina com a Avenida Dr. Edgar Conceição. Conheci
Jayme Pereira, morava na esquina da Rua Sud Mennucci com a Avenida Dona Jane
Conceição, foi vereador, era casado com uma das filhas de Vittório Fornazier.
Conheci seu pai, Abel Pereira. Sou amigo do Rubens Zillio, o Valdir Zillio mora
em Goiás, a família Zillio tinha um açougue na esquina da Avenida do Café com a
Rua do Rosário. Eles tiveram um sítio vizinho ao sítio do meu pai, abatiam boi,
distribuíam os miúdos com os vizinhos. Em frente tinha o estabelecimento do
Francisco(Chico) Sabino que permanece funcionando até hoje com seu filho
Giuseppe administrando. É a Loja do
Italiano. Tempo do Ciro Mendes Silveira e a Loja Lev Cred, Alcides Saipp,
Manoel Castillho. Lembro-me do Jacinto Bonachella, tinha um posto de gasolina
na Rua Benjamin Constant, esquina com a Avenida Dr. Edgard Conceição, onde
atualmente funciona uma padaria. Lembro-me do tempo em que a Avenida Dr. Paulo
de Moraes terminava na Rua do Rosário, dali para frente era a Chácara Nazareth.
O Romeu Gomes de Oliveira, dono da Rodomeu, quando adquiria carrocerias
Facchini era no mínimo um lote de 10, não adquiria uma carroceria apenas.
Naquele tempo havia muito consórcio de caminhão, conforme ele ia recebendo
o caminhão já ia colocando a carroceria.
Romeu tinha um Simca preto com estofamento vermelho. O Sr.
João Ferrazzo (Joane Vassoureiro)
subia quase todos os dias a Rua do Rosário, em um Simca Rally, vermelho,
dirigido pela sua filha. O Joane tocava bem um violão, o Zico Novello com a
sanfona e tinha mais alguém que batia alguma coisa formavam uma festa. Lembro-me
do Sebastião Rocha, tinha um caminhão que transportava combustível, Osário
Pantojo,trabalhou muito tempo na Companhia Paulista de Força e Luz. São pessoas
que permanecem em nossa lembran