sábado, novembro 07, 2009

A presença masculina no ballet

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 07 de novembro de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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Legenda da Fotografia:
Da esquerda para a direita:
Sentadas: Cinthia Andriota Corrêa, Giulia Achek Torquetto, Mariana Etezarife de Toledo Ferreira. Logo atrás seus pares: Danilo Chiodi, Cesar Augusto Stenico da Silva, John Albert Almeida Machado da Silva. Em pé os professores: Marcelo Rodrigues de Moraes, Jussara Maria Siqueira Sansígolo e Dayane Keller Ribeiro . Foto: João Umberto Nassif.
ENTREVISTADOS: ALUNOS DO BALLET CLÁSSICO JUSSARA SANSÍGOLO
(A presença masculina no ballet)
Em Piracicaba a escola Ballet Jussara Sansígolo se empenha em desmistificar o balé para os rapazes. É emocionante ver a compenetrada Mariana Etezarif dançando com o pequeno John Albert. A dupla formada por e Giulia e Cesar Augusto parece estar dançando em meio a nuvens, hipnotizam a atenção de quem assiste. A sincronia de movimentos precisos, técnica perfeita da dupla Cinthia e Danilo mostra uma dança de muita expressão, grande vigor, fruto de provavelmente muitas horas de ensaio. Os professores de ballet Dayane e Marcelo formam um belo casal, já na fase dos preparativos para o casamento, entreolham-se de forma apaixonada na vida real, retratando o que ocorre no palco. John Albert Almeida Machado da Silva nasceu em 28 de julho de 2001 em Salvador, Bahia, é soteropolitano como faz questão de afirmar. Em poucos instantes percebe-se que é um garoto espontâneo, desinibido. Cesar Augusto Stenico da Silva nasceu em Piracicaba em 13 de abril de 1995, está em plena fase de adolescência. Danilo Chiodi é natural de Piracicaba, nascido em 8 de março de 1992, já planeja seu futuro com todas as opções que visualiza.
John Albert você é um bom aluno?
Sou! Estudo na segunda série. Sou capoeirista, jogo futebol no Pinta de Craque, onde sou meio de campo. Terça-feira meu time ganhou de 3 a 1, eu fiz 2 gols. Sou surfista, tenho uma prancha de um metro e meio, ela é vermelha e branca. Pratico o surf quando vou á praia, costumo freqüentar Iguape. Treino judô também.
O que você pensa em ser quando crescer?
Jogador de futebol da Seleção Brasileira, e pretendo continuar a dançar ballet.
Cesar Augusto como você descobriu o ballet?
Eu fazia dança de salão, quando a minha amiga e colega de escola, Luana, começou a falar sobre ballet. Faço a oitava série do estudo fundamental.
Danilo quando você conheceu o ballet?
Eu já nasci dançando! Desde que me conheço por gente eu já dançava, em casa, era só tocar uma música eu já estava dançando. Minha mãe conta que ainda muito pequeno eu gostava de dançar. Praticamente dançava dentro do berço! A minha atenção despertou para o ballet quando eu tinha 15 anos de idade, ao assistir a uma apresentação pela televisão. Passei a procurar uma escola de ballet, estou aqui com a professora Jussara já faz um ano. Estudo no terceiro ano colegial. Quando estou praticando o ballet despejo toda a pressão, stress do dia-a-dia. Se eu ficar uma semana sem ensaiar passo a me sentir estressado. A minha relação com o ballet é muito intensa. Eu trabalho dançando! É só estar tocando uma música que eu gosto e passo a ensaiar algum passo, não de forma tão explicita como na escola de ballet. Ao ouvir uma música posso criar um passo, e naquele exato momento tento ensaiar esse passo, se não fixar no momento exato mais tarde é difícil de lembrar. Isso as vezes pode ocorrer em meio a uma multidão!
Ao ouvir uma música sertaneja você acompanha os compassos da música dançando ballet?
Acompanho! Não que seja a minha música preferida para dançar, mas sou bem eclético.
Danilo, nessa fase da sua vida, existem inúmeras opções de carreiras a seguir, você já definiu alguma?
Há um leque de opções, tenho alguns planos. Para tomar a decisão acertada tem que ser fruto de uma análise cuidadosa. Trabalho em uma empresa já há dois anos.
Danilo, você percebe algum tipo de preconceito pelo fato de praticar ballet?
É interessante observar que da parte dos jovens da minha idade eu não sinto um preconceito efetivo, isso não significa que foi totalmente eliminado, mas as manifestações de preconceito são quase inexpressivas. Houve uma evolução da cultura, a geração atual está mais liberal. Algumas pessoas de gerações anteriores ainda conservam certos conceitos da sua época, onde havia um forte preconceito em relação ao ballet.
Cesar você recomenda o ballet como atividade física?
Para quem gosta de dançar eu recomendo. Para mim o ballet é mais do que uma dança.
Quando pratico o ballet me desligo bastante dos problemas do cotidiano.
Você já se pegou distraidamente ensaiando algum passo em plena rua?
Já! E bastante. Quando eu saio da aula de ballet, vou embora á pé, caminho ainda “viajando”!
Quando você está em casa, ao surgir uma cena de dança na televisão seus familiares o chamam para ver?
Esses dias em uma novela a Ana Botafogo, primeira-bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro estava participando. Minha avó e meu pai me chamaram para ver a apresentação dela.
John quem foi a primeira pessoa que você viu dançando ballet?
A minha mãe, que é professora de ballet. Eu disse que também queria dançar, isso foi em Salvador, só tinha eu como aluno, o resto da turma era formada por meninas.
Você achou bom em ser o único garoto entre tantas meninas?
Achei. Elas falavam que eu era bonitinho.
Quando você realizou sua primeira apresentação pública?
Eu tinha três anos de idade, foi “Soldadinho de Chumbo”. Dançar ballet me deixa muito feliz.
É fácil apoiar-se nas pontas dos dedos dos pés?
É só ficar na ponta dos dedos dos pés e ter postura, deixar á costa reta.
Mariana Etezarife de Toledo Ferreira, você nasceu em 1 de agosto de 2002, hoje tem sete anos de idade.
O John é seu parceiro de dança, qual é sua opinião sobre ele?
Ele é legal, muito divertido, acompanha meus movimentos.
Giulia Achek Torquetto você nasceu em Piracicaba em 18 de março de 1999. Quando você descobriu o ballet?
Eu sempre gostei muito de dança, a minha mãe freqüentava um curso, comecei a fazer-lhe companhia, foi quando vi uma moça dançando ballet. Curiosa, perguntei que dança era aquela. Logo depois passei matriculei-me na escola Jussara Sansígolo, e estou aqui já faz sete anos. Estudo na quarta série escolar.
Como é o Cesar Augusto como parceiro de dança?
Muito legal! Uma simpatia imensa.
O que as suas amigas acham do fato de você dançar ballet?
Todas as minhas amigas praticam algum tipo de dança. Elas me prestigiam bastante, vão assistir ás minhas apresentações.
Você faz algum tipo de regime alimentar?
Não faço nenhum tipo de regime. Como de tudo.
Você recomenda o ballet para manter a forma física?
Recomendo!
Cinthia Andriota Correa, você nasceu em Piracicaba a 31 de março de 1989, é parceira de dança do Danilo. Qual faculdade você freqüenta?
Estou cursando o terceiro ano de Direito.
Seus colegas de faculdade sabem que você dança ballet?
Sabem, eles adoram! Sempre me perguntam quando será a minha próxima apresentação.
Você pretende exercer a profissão de advogada?
Quero atuar na área, mantendo a também a minha dedicação ao ballet, pretendo ser professora de dança.
Em sua opinião, a atuação masculina no ballet tem alguma descriminação?
Acredito que o fator cultural influencia muito, mas vejo que há um preconceito, são pessoas que falam de um assunto que não conhecem.
Como é o ambiente com a participação dos rapazes?
É uma delícia! A cada dia sentimos sentimo-nos em uma família. Somos amigos em todos os momentos, nos dias felizes, em nossos desabafos.
Seu namorado não é uma pessoa que pratica ballet. Qual é a opinião dele?
Ele me apóia muito.
Qual é a sensação de se apresentar em um palco como bailarina?
É uma sensação inexplicável. Sinto tudo ao mesmo tempo, medo de errar, alegria, cada coreografia passa um sentimento.
A vida de uma bailarina é disciplinada?
Os hábitos devem ser os mais saudáveis possíveis. O consumo de álcool e o uso do tabaco são totalmente excluídos. Durmo cedo. O ballet reflete o estado de saúde da pessoa.
Como é o Danilo, seu parceiro de dança?
Faz tudo certinho! Ele tem uma estatura ótima para dançar com um metro e oitenta e cinco centímetros de altura.
Marcelo Rodrigues de Moraes, você é nascido em São Paulo, em 28 de novembro de 1973. Você chegou a Piracicaba quando?
Minha família veio residir em Piracicaba quando eu tinha 3 anos de idade. Fiz os estudos básicos, fui aluno da escola Sud Mennucci, fiz o curso de Tecnólogo em Sistemas Produtivos, conclui o curso de pós-graduação na área.
Como você conheceu o ballet?
Houve uma apresentação para os funcionários do então Banespa, no Teatro Municipal de Piracicaba, a minha tia era funcionária do banco e me convidou para assistir o espetáculo. Eu gostei do desempenho do artista, saltando, girando, até então eu tinha praticado caratê, jogava futebol. O que me despertou a atenção foi o fato de perceber que não era apenas uma seqüencia de movimentos mecânicos, a pessoa colocava a alma naquilo que estava apresentando. É inexplicável. Em 1992 iniciei o curso de ballet, em 1995 a Jussara precisava de um bailarino e eu vim para esta escola.
No inicio, passou pela sua cabeça o fato de haver quase que só mulheres como alunas?
No começo, que foi em outra academia, eu não comprei nenhum dos itens necessários á prática de ballet. Eu queria ter a certeza de que era isso mesmo que eu queria. Após 3 meses, percebi que o ballet estava me beneficiando, fui fazendo aulas, gostando. Em 1992 o preconceito era muito mais pesado do que é hoje, nem se compara. Senti isso até por parte do meu pai. Ele dizia que isso não é coisa que homem faz.
Isso é coisa que homem faz?
É. Qualquer coisa é permitida ao ser humano realizar. Temos mulheres dirigindo ônibus, jogando futebol. Para a pessoa fazer sua opção sexual ela não tem a necessidade de dançar ballet.
Dayane Keller Ribeiro com quantos anos você iniciou o ballet?
Eu tinha seis anos de idade, foi em 1985. Meu tio que também era meu padrinho me fez estudar ballet clássico, violão, depois me matriculou no curso de piano. Aos dez anos de idade ele achou que eu deveria fazer uma opção, pois eu estava já com muitas atividades simultâneas. Eu escolhi o ballet clássico. Meu inicio já foi na Academia Jussara Sansígolo.
O ballet é uma atividade que exige muita disciplina?
O ballet motiva tudo: disciplina, postura, educação. Amo o ballet, a minha terapia é a dança. Limpa o corpo, a alma. Não é apenas dançar, tem que ser trabalhado o corpo e a mente, é necessário o uso do raciocínio. Ballet é saúde, paz de espírito.
Você e o Marcelo são professores da escola, como é conviver com essas idades tão diferentes que freqüentam os cursos?
Eu dou aula para pequenos como o John, para adolescentes, e é interessante observar que os adolescentes que são nossos alunos não se enquadram na denominação “aborrecentes”. Isso dentro e fora da escola.
Quando você conheceu o Marcelo?
Foi em 1995, quando ele foi convidado para dançar aqui na academia, eu fazia o papel principal e era necessário ter um bailarino. Na época ele tinha uma namorada. Em 1996 dançamos o ano todo juntos, no final do ano, em novembro ele deixou a namorada. Até então éramos apenas bons amigos. No dias 26,27 e 28 de novembro de 1996 dançamos juntos. Em 1997 começamos a namorar.
Marcelo como você idealiza a cerimônia do seu casamento com a Dayane?
Nós queríamos dançar Pas de Deux de Quebra Nozes no Teatro Municipal. Hoje existe uma burocracia na igreja que impede a vinda do padre até o local. Há também a questão financeira relativa á locação do teatro. Nem que seja necessário ensaiar por seis meses, eu desejo realizar meu sonho.

domingo, novembro 01, 2009

PALESTRA IMPERDÍVEL

Dia 28 de Novembro, palestra de Jean-Claude Relegieux tendo como tema: “Engenho Central e Presença Francesa na Região de Piracicaba”



Local: Museu Pedagógico Prudente de Moraes, Rua Santo Antonio, 641


Horário: 9:00 horas da manhã. Entrada Franca.


                                          PEDRO CALDARI



PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 31 de outubro de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: PEDRO CALDARI

O presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, Pedro Caldari narra parte de sua trajetória desde o seu nascimento no bairro da Vila Rezende até os dias atuais. Pesquisador, escritor, cronista, carrega em sua memória os tipos e locais característicos de uma Vila Rezende que segundo ele afirma em sua apaixonada narrativa “por muito tempo foi a locomotiva de Piracicaba no aspecto econômico e financeiro”.



O umbigo de Piracicaba está na Vila Rezende?



Sim! Quando o Capitão Povoador Antonio Correa Barbosa veio á Piracicaba já existiam alguns moradores no local onde mais tarde foi construído o antigo Engenho Central. Eles aproveitavam as benesses do Rio Piracicaba, às facilidades ali existentes, entre elas as de pesca e caça.



A sua paixão pela Vila Rezende resultou nos seus dois volumes escritos sobre o bairro?



A minha paixão pela Vila é natural, eu nasci lá em 5 de setembro de 1938 sou filho de Catarina Furlan Caldari e Ricieri Caldari, ambos brasileiros e filhos de italianos. Sou formado em Contabilidade pela “Faculdade” do Prof. Antonio Zanin, a Escola Técnica de Comércio Cristóvão Colombo, nós dizemos que era uma faculdade porque a escola foi sempre um referencial na formação profissionalizante. Na época Piracicaba contava apenas com a Escola de Agronomia Luiz de Queiroz como curso de ensino superior, a faculdade de odontologia havia desaparecido para depois ser reinstalada. O curso primário eu fiz no Grupo Escolar José Romão, na época o diretor era o Prof. Leontino Ferreira de Albuquerque , mais tarde fomos companheiros de Rotary Club, ele no Rotary do centro e eu no Rotary da Vila Rezende, clube que ele foi um dos fundadores, junto com Losso Netto. Embora eu não tenha sido um dos fundadores do Rotary da Vila Rezende, eu fui um dos primeiros a serem admitidos no seu primeiro ano de existência. Aos dezessete anos de idade formei-me na Escola de Comércio. Um dos colegas de turma, de carteira escolar, é Tarcisio Mascarim, ele nasceu dois anos antes de mim, convivemos durante todo esse período até hoje como quase siameses. Ele trabalhou na Dedini eu trabalhei na filial ou filhote da Dedini, que é a Codistil. Permaneci na Codistil por 52 anos!



Com qual função o senhor entrou na Codistil?



Tanto eu como o Tarcísio entramos na mais humilde função, o que hoje se denomina office boy . Éramos entregadores de correspondência, ajudante de telefonista, naquela época ficávamos atrelados a telefonista. Os telefones eram muito poucos, precários. Não havia a profusão de ramais telefônicos como existem hoje. A telefonista era uma figura de proa dentro de uma empresa.



Com quantos anos de idade o senhor passou a trabalhar na empresa?



Eu tinha uns 10 anos de idade, usava calças curtas, pés descalços. Hoje falando que iniciei trabalhando dentro de uma oficina de caldeiraria de pés descalços, os defensores da política de erradicação do trabalho infantil encontrariam motivos para realizarem um tremendo processo. Essa postura dos que bradam contra o trabalho infantil é um grande mito. O trabalho sempre foi salutar e dignificante e continuará sendo.



Por quanto tempo o senhor trabalhou descalço?



Logo depois que entrei ganhei um par de alpargatas, porém continuava utilizando as calças curtas. Na naquela época a Vila Rezende era um bairro de operários, a hoje Avenida Rui Barbosa, era uma rua de terra, os trilhos dos bondes estavam assentados em dormentes a flor da terra, com pedriscos, pedregulhos. Sobre o leito da Avenida Rui Barbosa trafegava o bonde, logo abaixo existiam os trilhos da Sorocabana, e mais abaixo os dois trilhos da via férrea do Engenho Central.



Havia tempo para o lazer?



Para as crianças de hoje, rua é um perigo e os pais se preocupam muito com isso. No meu tempo de infância, a rua era a extensão da casa. Permanecíamos praticamente dia e noite na rua, com liberdade total. Era o local de convívio entre amigos e familiares. Nas noites de verão, em frente ás casas, nas calçadas ficavam rodas de famílias conversando, trocando idéias.



O senhor ainda criança nadou no Rio Piracicaba?



Nadei.



O senhor pertencia ao grupo que deixava as roupas á beira do rio, para não molhá-las e nadavam de forma naturalista?



Pertencia também!



Algum dia sumiu as suas roupas das margens do rio?



Isso era comum acontecer! Naquela época a criançada não se apertava muito, não havia nenhum atentado ao pudor. A Vila Rezende era um bairro operário.



Quando o senhor menciona Vila Rezende, na época como era delimitada?



Os traçados das principais avenidas permanecem até hoje, foram encomendados pelo próprio Barão de Rezende, isso permitiu com que a Vila Rezende surgisse como um bairro de Piracicaba e se desenvolvesse. Havia a Igreja Matriz, o Instituto Baronesa de Rezende ao lado, a igreja primitiva foi tristemente demolida. Era um monumento histórico. Eu mesmo ali fui batizado e ali também me casei. A maioria dos vilarezendinos teve a assistência religiosa do Monsenhor Gallo e depois do Monsenhor Jorge, nosso eterno Padre Jorge. Monsenhor Gallo morreu sendo chamado pela maioria dos fiéis como padre, uma questão de habito adquirido pela comunidade. São figuras que tiveram uma atividade espiritual e social muito acima da média, são verdadeiros exemplos.



Como surgiu essa sua vontade de escrever?



Sempre gostei de escrever, fazia meus artigos e publicava no Jornal de Piracicaba, do qual sou um dos mais antigos colaboradores. Em determinada ocasião fui solicitado pelo jornal para fazer uma matéria sobre a Vila Rezende. Fiz despretensiosamente um artigo sobre a Vila Rezende, nessa época eu já era integrante do Rotary Club, Diretor Financeiro e Administrativo da Dedini, á essa altura dos fatos eu já pertencia a diversas instituições de benemerência. O piracicabano tem muito dessa vocação de pertencer, integrar, participar de entidades de benemerência, filantropia, instituições culturais. Após escrever essa matéria, em trinta dias escrevi o primeiro volume de “Memória da Vila Rezende”, o primeiro volume foi publicado em 1980, depois de nove anos fiz o segundo volume. Mais dez anos completei o terceiro volume, ainda não publicado. Já está pronto para ser editado, e aí vem outra dificuldade, a de financiamento.



Como presidente do IHGP o senhor encontra dificuldade em ter seu livro publicado?



O meu livro passa uma enorme dificuldade em ser editado, e não poderá ser editado pelo IHGP, embora seja um livro histórico. Por uma questão de ética, não posso publicar um livro sob os auspícios do IHGP. Deverá levar a chancela do Instituto.



Esse princípio ético é aplicado á diretoria da gestão do senhor?



Não. O IHGP sob a minha presidência e graças aos companheiros de diretoria que tenho hoje, profissionais da mais alta competência, historiadores, escritores, de uma cultura bastante privilegiada, que bem dignifica e exemplifica o que é Piracicaba no meio cultural, nos permitiu instituir uma comissão de publicação, que rege e disciplina todas as publicações do IHGP. As matérias são passadas por um crivo de análise e avaliação feita por uma comissão. Com isso passamos a ter um alto nível nas publicações, aumentamos e consolidamos as obras editadas pelo IHGP. Quando se vê uma matéria com a chancela do Instituto, independente do autor pode ter-se a segurança de que se trata de um trabalho merecedor de crédito e será referencia bibliográfica a partir da sua publicação. Trata-se de um critério utilizado pelas mais conceituadas instituições do gênero.



Qual é a forma predileta do senhor escrever, utilizando máquina de escrever, computador?



É uma mania minha, faço tudo manuscrito. Prefiro escrever á lápis ou com caneta tinteiro. Sempre fui exímio datilógrafo, entrei para a Escola de Datilografia Moraes Barros aos 10 anos de idade, a professora era a Dona Rosinha do Canto Braga. Fui companheiro do Sr. Ricardo Ferraz de Arruda, hoje nome da nossa biblioteca municipal.



Ele era oficial maior, dono de cartório em Piracicaba, e não sabia datilografar! Embora já tivesse até sido prefeito de Piracicaba, á essa altura fomos colegas de escola de datilografia. Eu com meus dez anos de idade e ele com setenta e tantos anos de idade! O Sr. Ricardo era de uma personalidade marcante, que dá orgulho de sermos piracicabanos e lembrar esse episódio.



O senhor tem um livro de crônicas?



Meus amigos dizem que sou um bom cronista, embora eu me considere um aprendiz de cronista, e serei sempre. Foi quando escrevi “O Cantar Do Passarinho”. Revela o lado do cronista para os aspectos do cotidiano. Ao meu entender, o cronista é o historiador nato, ele é o grande colaborador da história de todo e qualquer povo. Retrata com uma sutileza fenomenal os aspectos do cotidiano. Capta aquilo que escapa para a maioria das pessoas, que vê, mas não enxerga. O cronista vê enxerga e sente, e passa para o papel essa sua visão.



Embora o senhor seja um homem de números, demonstra ter uma sensibilidade aguçada.



Á medida que você trabalha com números, surgem números que não são de expressão monetária. Esses números podem representar vidas humanas, feitos humanos.



O senhor publicou um quarto livro?



Foi sobre os 50 anos de vida do Clube de Campo de Piracicaba. Como sócio assíduo, fui convidado a escrever esse livro. Abordei não só os aspectos esportivos e recreativos, mas também os aspectos culturais do Clube de Campo de Piracicaba. Eu já tinha sido diretor cultural do clube, ocasião em que dei a minha contribuição ao clube com a realização de eventos e instituição de eventos que passaram a ser oficiais do clube. Tive o privilégio de me responsabilizar pela reconstrução e preservação do palacete do Conde Rodolfo Lara Campos.



Como era o Conde Lara Campos?



Foi um fazendeiro, um homem de posses, era carioca, estabeleceu-se em Piracicaba, casou-se por duas vezes, construiu esse palacete que é uma bela obra arquitetônica, com o apoio da diretoria procedemos ao tombamento do imóvel justamente para preservá-lo, para que não corresse o risco futuro de vir abaixo, como já houvera intenção nesse sentido, só não foi por intervenção nossa. Foi alegado que o espaço após a demolição seria útil para outro tipo de construção. Como lamentavelmente ocorreu com a casa do Barão de Rezende, antiga prefeitura, veio abaixo a troco de nada. Hoje o que existe naquele local? Um estacionamento ridículo, que fica ao lado da Câmara Municipal e atrás da Igreja Matriz de São Benedito. Colocou-se abaixo uma obra digna de ser tombada não só pelo patrimônio histórico de Piracicaba, mas do Estado de São Paulo.



Como artista plástico, quantos quadros o senhor já pintou?



Essa é outra faceta minha. Devo ter duas centenas!



As suas obras têm um tema central?



Sempre fui passarinheiro. Acho que todo vilarezendino por influência herdada dos próprios índios paiaguás tem gosto pela natureza. Os animais silvestres são a grande riqueza nacional. Todo piracicabano, e em especial o vilarezendino tem paixão pelo papa-capim. Para minha surpresa, um vereador, que não sei se é piracicabano, tomou a iniciativa de formalizar por lei municipal, elegendo a ave símbolo de Piracicaba o curió.

A derrubada de matas para dar lugar aos canaviais, e o uso indiscriminado de herbicida e inseticida, pôs fim a maioria dos animais silvestres.



Qual é a árvore símbolo de Piracicaba?



A árvore símbolo de Piracicaba chama-se Tamboril (N.J. Enterolobium contortisiliquum. Nome Popular: Tamboril, timburi, timbaúva, tambori, timbíba, timbaúba, timboúva, timbó, tambaré, ximbó, tamburé, tamboi, tambor, tamburil, tamburiúva, tambuvé, tambuvi, timbaíba, timbaúva, timbori, timboril, timboúba, timbuíba, timburil, timbuva). Madeira de lei, frondosa, historicamente foi umas das responsáveis pela fixação do povoamento de Piracicaba, porque essa madeira presta-se para a construção de barcos. Os próprios indígenas faziam suas embarcações dessa madeira. È uma árvore frondosa, imprópria para calçadas, mas ideal para praças públicas. A Dra. Waldiza Capranico, é ambientalista, nossa associada, proporcionou nosso primeiro contado com o Sedema, através do Dr. Rogério, presidente do Sedema e a bióloga do Sedema Dra. Gisele, e já em janeiro será iniciada uma campanha de plantio do tamboril, as mudas já estão reservadas.



Sob a presidência do senhor, o IHGP instituiu uma série de palestras pré-determinadas?



Eu e meus companheiros! Fiz questão de ao postular pela segunda vez a presidência do instituto que nós constituíssemos uma diretoria bastante aberta ao diálogo e transparente, para imprimir ao instituto uma idéia de atividade em grupo, desenvolvida coletivamente. Sem a individualidade de impor na condição de ser o presidente.



Embora tome dianteira a decisão do senhor nunca é a única?



Ao assumir a presidência a diretoria constituída passou a ser convocada em reunião permanente, os oitos diretores devem atuar determinar e deliberar as providencias a serem tomadas pelo IHGP.



Porque cultura tem dificuldades em obter recursos?



O primeiro aspecto é que não dá votos ao político! O nosso país está dirigido por grupos que não condiz com o anseio popular, anseio do brasileiro em si. Todos os escândalos que hoje se vê na política nacional, esta vergonha chamada Congresso Nacional, que incorpora o Senado e a Câmara dos Deputados Federais, a base da legislatura brasileira, passa por um período crítico da sua história. Nunca foi tão crítico como hoje! A corrupção que se ouvia antigamente eram migalhas, perto do que vemos hoje, em termos de valores, de efeito social, de mortalidade. Da desgraça da humanidade sai a riqueza de uma minoria. As grandes potências mundiais não estão preocupadas em erradicar os males que acometem o mundo. Grande parte de seus governos são corrompidos. As guerras no mundo não ocorrem por acaso.



Onde entra a cultura nessa história?



Á medida que o povo evolui culturalmente, á medida que se têm melhores escolhas melhores índices educacionais, profundidade na qualidade de ensino, incorpora-se tudo na cultura. Há interesse de quem prima pelas pequenas coisas que ocorrem no dia a dia, há interesse dos cidadãos responsáveis, conscientes, para quem deseja um mundo melhor.



Um psiquiatra da USP afirmou recentemente que o consumismo está empurrando os jovens em uma direção desenfreada enquanto um conhecido economista defendeu o consumo como maquina geradora do progresso. Qual é a visão do senhor?



Formei-me em Economia em 1967, na primeira turma da ECA, por oito anos fui professor de Introdução á Economia e Macroeconomia. Do ponto de vista econômico o consumismo é uma forte alavanca para o desenvolvimento econômico do país. Através do consumo movimenta-se a riqueza. O consumo não exagerado pode trazer benefícios á todos. A crise de 1929 foi saneada pelo Presidente Roosevelt da mesma forma que hoje é feito no Brasil: a distribuição de subsídios á população. Nada se cria tudo se copia.



CICLO DE PALESTRAS:



Hoje, sábado, 31 de outubro, palestra do médico oncologista DR. Rodrigo Ribas Dias Reis tendo como tema: “A Importância do Brasil nas Grandes Navegações do Século XV”.



Local: IHGP á Rua do Rosário, 781



Horário: 9:00 horas da manhã. Entrada Franca.











Dia 28 de Novembro, palestra de Jean-Claude Relegieux tendo como tema: “Engenho Central e Presença Francesa na Região de Piracicaba”



Local: Museu Pedagógico Prudente de Moraes, Rua Santo Antonio, 641



Horário: 9:00 horas da manhã. Entrada Franca.















                               Prof. Dr. Francisco Haiter Neto


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista / joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de outubro de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/
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ENTREVISTADO: Prof. Dr. Francisco Haiter Neto



A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em Piracicaba, realizou, entre 5 e 9 de outubro próximo passado, o 5º Congresso Internacional de Odontologia. Paralelamente, ocorreu a 16ª Jornada Odontológica de Piracicaba. O evento prestou uma homenagem ao Prof. Dr. Carlos Henrique Robertson Liberalli, primeiro diretor da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), em comemoração ao centenário de seu nascimento. Ele foi nomeado por Jânio Quadros em 21 de setembro de 1955 para exercer as funções de instalador e diretor da faculdade onde permaneceu até o final de 1967. Faleceu no dia 26 de setembro de 1970.


O Prof. Dr. Francisco Haiter Neto é o atual diretor da FOP.


Dr. Haiter o senhor é natural de Piracicaba?


Sou de Leme, adoro Piracicaba e principalmente a faculdade. Vim á Piracicaba para fazer mestrado, fiz doutorado em Bauru, o pós-doutorado eu realizei nos EUA. Voltei á Piracicaba, passei a ser o professor titular da área de radiologia odontológica e estou no cargo de diretor da FOP já há três anos e que deve se estender até dia 29 de agosto de 2010.


Qual é a idade do senhor?


Nasci no dia 12 de março de 1964, tenho 45 anos de idade. Para registro, sou o diretor mais novo a ocupar o cargo. Assumi a função aos 42 anos. Desde quando surgiu a FOP sou o décimo primeiro diretor. Sempre gostei da parte administrativa, em 2005 quando estava na defesa do meu concurso de titular, fui questionado quais seriam os meus projetos futuros, visto que estava alcançando o grau máximo dentro da escola, o de professor titular, com pouca idade. Na ocasião eu disse que meu objetivo era de ser o diretor da FOP. Eu adoro a escola, considero que ser diretor muito mais do que conferir importância ou poder, é ter a oportunidade de servir a unidade que tanto prezo.


A atuação do diretor da FOP é semelhante á de um prefeito de uma pequena cidade?


Praticamente é isso! Temos um orçamento, funcionários, dificuldades, a parte administrativa política, a nossa participação junto a toda administração da universidade em Campinas. Além das necessidades fundamentais para o funcionamento físico da unidade, existem os problemas acadêmicos, funcionais, de relacionamentos interpessoais.


Um bom administrador tem que escolher colaboradores com elevado grau de competência?


É importante que o administrador saiba sempre ouvir. Ter calma, ponderar. Toda história tem sempre três versões: a versão do narrador, uma segunda versão de outra fonte, e a terceira que é a de fato o ocorrido. Nessas situações a ponderação é fundamental para conseguir o discernir a versão correta. È essencial ter excelentes auxiliares. Não há tempo suficiente para o administrador abraçar todas as áreas e fazer tudo que deve ser feito.


A clássica figura do “chefe”, diretor de empresa, que passa junto aos subordinados ignorando-os formalmente, é uma postura ultrapassada?


Totalmente ultrapassada! Recebo em meu gabinete o aluno, o funcionário, o professor, a qualquer momento, desde que a agenda esteja livre. Hoje não existem funcionários, são colaboradores. A faculdade gira em função dos docentes, dos funcionários e dos alunos. Considero que é um tripé impossível de ser dissociado. A faculdade não existiria se não tivessem os alunos, funcionários e docentes.


O senhor concentra poder e delega poder, Um ditado popular diz que: “Se quiser conhecer uma pessoa dê-lhe poder”. Isso acontece de fato?


Sim, muito! Esse é um ditado extremamente verdadeiro! Nessas ocasiões é que você realmente conhece as pessoas. Muitas vezes, com um mínimo de poder a pessoa começa a extrapolar, julgam-se donas do mundo, que podem passar por cima das pessoas. Inclusive desrespeitando seus subordinados. Por outro lado, pessoas extremamente humildes, que apesar de deterem poder de decisão, ela não usa da sua posição para obter benefícios pessoais. Isso é próprio da personalidade do indivíduo.


O primeiro diretor da FOP foi o professor Liberalli?


O primeiro diretor foi o Prof. Dr. Carlos Henrique Robertson Liberalli. A história da FOP é muito bonita. Já tínhamos uma faculdade de odontologia. A 18 de novembro de 1914, em reunião no Theatro Santo Estevão, foi fundada a Escola de Pharmácia e Odontologia de Piracicaba, posteriormente chamada de Escola de Odontologia Washington Luiz. Depois de funcionar em vários locais, funcionou na Rua Santo Antonio, 641, antiga casa de Prudente de Moraes, hoje Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes, passando então a chamar-se Escola de Odontologia Prudente de Moraes. Após a Revolução Constitucionalista de 1932, Getúlio Vargas mandou fechar a Escola de Odontologia que funcionou até 1935, formando a sua última turma. Na década de 50 a sociedade piracicabana se mobilizou para que voltasse a ter uma faculdade de odontologia na cidade. A FOP veio de um ensejo, da vontade das forças vivas da época, de voltar a ter uma faculdade de odontologia. Na época ela chamava-se Faculdade de Farmácia e Odontologia, mas nunca chegou a ter o curso de farmácia. Considero como sendo os fundadores todas as entidades e pessoas envolvidas no processo de criação da faculdade: o Jornal de Piracicaba, com Losso Netto, o prefeito Luciano Guidotti, entidades de classe, que batalharam para que a faculdade fosse fundada. O Prof. Liberalli foi chamado para ser o primeiro diretor. Na época o Prof. Liberalli já era um expoente, uma pessoa muito culta, um líder na parte acadêmica, tinha muita credibilidade.


Colocaram a pessoa certa para evitar desacertos?


Exatamente. Foram buscar a pessoa certa porque na fase de iniciação era necessário ter uma pessoa com punho, com respeito, reconhecidamente com poder dentro da sociedade acadêmica.


O prédio utilizado fica na esquina das Ruas D, Pedro I com Rua Alferes José Caetano?


O prédio foi uma doação do prefeito Luciano Guidotti, a prefeitura adquiriu o prédio e passou para a faculdade. A própria faculdade em si era um instituto isolado. Somente após 10 anos de funcionamento ela acabou sendo incorporada a Unicamp. A FOP é um caso bastante peculiar, ela é 10 anos, mais velha do que a própria Unicamp! Quando foi criada a Unicamp existia a Faculdade de Medicina em Campinas e a Faculdade de Odontologia em Piracicaba, na época o Prof. Zeferino Vaz que é o criador da Unicamp junto ao governo estadual, decidiram que iniciariam a Unicamp já com as duas faculdades. O início da Unicamp foi com essas duas faculdades. A FOP sempre foi, e acredito que sempre será uma das unidades mais fortes dentro da Unicamp.


O prédio onde anteriormente funcionava a faculdade pertence a quem?


O prédio da Rua Alferes com a Rua D. Pedro I, foi doado á Unicamp. Ali hoje se realizam dois trabalhos: o curso de Prótese Dentária, gratuito, para a formação de protéticos. E temos a parte social, que é um convenio entre a FOP, a APCD, Arcelor Mittal e a Prefeitura Municipal de Piracicaba, aonde são atendidas 3.000 crianças na faixa etária de 6 a 10 anos de idade, que pertencem á rede municipal de ensino. É um projeto muito interessante, as crianças vão de ônibus fretado para o prédio, lá existe uma sala de aula, a professora vai junto. A matéria do dia é ensinada normalmente, os alunos se revezam na saída da sala de aula dirigem-se até o consultório onde tratam dos dentes, e voltam para a aula normal. A classe inteira trata dos dentes. Há uma merenda que é servida para eles. Esta sendo construído no prédio um novo centro de especialidades odontológicas e faz parte de um projeto grande, que começou com o projeto Pró-Saúde do Governo Federal. A FOP foi contemplada com recursos, estamos atuando com sete Unidades Básicas de Saúde, as UBS, onde colocamos consultórios, nossos alunos vão até lá para atender, fazer parte dos atendimentos á família. Os atendimentos básicos são feitos nas UBS. Os atendimentos mais complexos deverão ser encaminhados para a unidade do centro, onde dentistas e alunos estarão trabalhando em 20 consultórios recém adquiridos.


Nesse prédio deverá existir um museu?


Temos um acordo com a APCD, que já tem um museu odontológico. Estamos cedendo um espaço para a instalação desse museu naquele prédio. A parte superior do edifício está precisando de alguns reparos que estão sendo providenciados pela faculdade e pela diretoria do museu.


O senhor considera relevante a existência desse museu?


Considero que o povo que não tem história não tem futuro. O museu sempre trás ensinamentos. É possível conhecer a odontologia do passado, os equipamentos que eram utilizados assim é que podemos projetar o que existirá no futuro.


Entre as atividades executadas pela FOP existem várias especialidades, uma delas é a Identificação Humana?


Temos diversos setores que presta serviços que chamamos de extensão a comunidade. Um deles é a Identificação Humana, que implica em exames de DNA, de ossadas encontradas em cemitérios, valas. É um processo muito interessante realizado pela área de Odontologia Legal. Temos o atendimento ás gestantes e bebes, até mesmo antes do nascimento é dada a orientação necessária ás gestantes. O Centro de Radiologia Odontológico, que faz exames radiológicos, para os dentistas externos. Atendemos pacientes especiais Em outra área há tratamento oncológicos e de doenças infectocontagiosas, portadores de AIDS, sífilis. Há uma prestação de serviços onde são feitas medições de flúor na água e em dentifrícios. São feitas analises de flúor em água para mais de 40 cidades.


A FOP é o “Hospital de Clinicas” odontológico?


É! Temos uma área de cirurgia bastante atuante, que atende aos pacientes poli-traumatizados, pacientes que colocam implante, pacientes que tem a necessidade de fazer alterações da face. Correções de mandíbulas.


O aumento expressivo de condutores de motocicletas teve como conseqüência um maior número de intervenções?


Temos convênios com hospitais de Piracicaba e região. Nosso serviço é bastante atuante, temos convênios com hospitais de Limeira, Rio Claro, Piracicaba.


O senhor disse que faz parte de seus planos, ao encerrar o período na direção da FOP voltar as suas atividades acadêmicas. Existe a possibilidade de o senhor considerar um convite para ser reitor da Unicamp?


Reitoria! Todo dirigente que gosta de dirigir, gosta de estar presente. Nunca digo não. Digo talvez! Gosto do que faço, sinto-me extremamente realizado como diretor.


Como é a relação da FOP dentro da Unicamp?


A FOP sempre foi muito forte dentro da Unicamp, o nosso segundo diretor o Dr. Plínio Alves de Moraes foi o segundo reitor da Unicamp. Temos um excelente relacionamento com o atual reitor, Dr. Fernando Ferreira Costa, com os pró-reitores, chefes de gabinetes, isso tem trazido um bom andamento dentro dos serviços. Eles costumam dizer que se a administração de um diretor for positiva reflete na própria Unicamp e se for negativa irá refletir também na administração da Universidade.


Existe a construção de uma obra no campus da FOP?


Estão sendo construídas mais duas clínicas, visando a aumentar o atendimento á população carente da região. Como somos uma entidade mantida por recursos arrecadados através de impostos no Estado de São Paulo, temos que dar o retorno para a população mais carente. Posso afirmar que a parte de recursos que são encaminhados ás universidade são muito bem empregados.


O senhor permaneceu por dois anos nos EUA, quais são os comparativos que podem ser feitos tanto de recursos materiais como formação profissional?


Morei na cidade de Seattle trabalhando na Universidade de Washington, de 1997 a 1999. No meu departamento não tínhamos nenhum equipamento tão avançado que nós não teríamos aqui. O que tínhamos era um pouco mais de organização e mais tranqüilidade para trabalhar. Lá tínhamos mais funcionários do temos aqui. Uma das coisas que acredito que ajudou muito o Brasil no desenvolvimento das universidades é a estabilidade da moeda. Principalmente na área odontológica não devemos nada a nenhum país. As faculdades possuem equipamentos de ponta para pesquisa em relação ao mundo. A odontologia no Brasil produz mais de dez por cento dos trabalhos publicados no mundo! Isso mostra o quanto á odontologia brasileira é desenvolvida.


Há estrangeiros estudando na FOP?


Cada vez mais está havendo esse intercambio de estrangeiros. Temos muitos alunos latino-americanos que vem fazer pós-graduação, mestrado, doutorado. Temos alguns alunos latinos americanos e africanos na própria graduação. Cada vez estamos aumentando esse intercambio.


O material utilizado na odontologia em grande parte ainda é importado?


Ainda é importado. O grande problema na odontologia é que o material utilizado ainda é caro. A indústria nacional ainda não consegue fornecer. Na graduação cada vez mais estão ingressando pessoas de baixa renda. A Unicamp tem um programa de afirmação social chamado PAAIS que é um programa de apoio a inclusão social, porém isso gera outro problema, o curso de odontologia é um curso caro, o estudante precisa adquirir seu ferramental. Em conjunto com a reitoria, conseguimos recursos para adquirir kits que são emprestados para esses alunos pelos quatro anos que permanecem aqui. É uma ajuda muito significativa. Em conjunto com a reitoria foi criado para a FOP um auxílio moradia. Após uma triagem, os alunos reconhecidamente carentes recebem esse incentivo.


A Unicamp estabelece cotas para o ingresso do aluno conforme sua ascendência?


Não existem cotas. Acredito que a Unicamp tem o processo de inclusão social mais inteligente possível. Ela fornece para os alunos carentes, que tem toda sua formação na rede pública, são pardos, negros, de origem indígena, pode ser branco mais tem que ser carente. Na média é necessário que o aluno atinja 500 pontos para ingressar na Unicamp, para essas pessoas a universidade oferece de 30 a 40 pontos. Essas pessoas entram para a universidade porque realmente merecem. Um estudo mais interessante é feito pela Unicamp, que acompanha esses alunos depois que entraram. Um ano após o seu ingresso eles não têm nenhum tipo de defasagem com relação aos que entraram sem nenhum tipo de pontuação inicial. Inclusive a maioria esforçou-se tanto que passam a ser os primeiros alunos da sala.





segunda-feira, outubro 19, 2009

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS



JOÃO UMBERTO NASSIF


Jornalista e Radialista


joaonassif@gmail.com






Sábado 17 de outubro de 2009


Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana


As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:


http://www.tribunatp.com.br/


http://www.teleresponde.com.br/














ENTREVISTADOS: ALINE INOCÊNCIO E SILVINO INOCÊNCIO


























A alma básica do ser humano é uma alma nômade. O espírito de busca do desconhecido sempre foi uma mola propulsora da humanidade. Quantos já não se colocaram a olhar para a lua, para o mar, para o infinito, dando corda á imaginação. Nos dias atuais, as notícias correm o planeta no momento em que ocorre o fato. Convivemos com o cotidiano de pessoas das mais diferentes nações. Essa familiaridade nos aproxima de nossos sonhos, e cada ser humano tem o seu. Os cruzeiros marítimos que até pouco tempo eram exclusividades de milionários tornaram-se acessíveis em até suaves prestações mensais. Há algumas décadas o programa de muitos paulistanos era ir até o Aeroporto de Congonhas para ver os aviões saírem ou chegarem. Tornam-se cada dia mais comum embarcar nos aviões e não apenas admirá-los. Algumas passagens de determinados vôos domésticos são mais baratas do que o mesmo trajeto de ônibus. Ir á Europa, Estados Unidos, Oriente, era apenas para os ungidos pela fortuna. Hoje temos muitos conhecidos, que graças a uma programação bem elaborada, conhecem dezenas de países. A similaridade de condições de vida, transporte, alimentação, hotelaria, hospedagem, propiciou a quebra de muitas barreiras estabelecidas pelos idiomas. É interessante falar a língua de outro povo, mas não é fator que impeça uma viagem á qualquer parte do mundo. Profissionais com experiência decidiram oferecer para a cidade de Rio das Pedras e região a possibilidade de acessarem as maravilhas do nosso país e concretizar o sonho de conhecer o exterior. Entre os pioneiros desse empreendimento, destacamos Silvino Inocêncio e Aline Inocêncio.


Silvino você é natural de qual cidade?


Nasci em Piracicaba, no dia 30 de setembro de 1960.


Aline e você?


Sou mineira de Poços de Caldas nasci no dia 12 de junho de 1980. Aos dezoito anos de idade fui ser comissária de bordo, anteriormente denominada aeromoça. Meu início foi na Varig, vim para Piracicaba onde fiz o curso de pós-graduação em Administração Hoteleira no Senac em Águas de São Pedro. Trabalhei em gerencia de hotel, em seguida fui trabalhar em uma conhecida agencia de turismo de Piracicaba. Com isso acumulei 10 anos de experiência na área de turismo.


Aline, seus pais são da área de turismo?


Não, meu pai é oficial do Exército Brasileiro e minha mãe dona de casa.


Qual foi a reação da sua mãe quando você disse que iria ser comissária de bordo?


Minha mãe quase morreu! Ela não gostou, achou que eu não teria família, que era um trabalho muito perigoso. Só que eu não me via fazendo outra coisa.


Quais são os pré-requisitos para exercer a atividade?


É feita uma pré-entrevista, é necessário ter um conhecimento básico de inglês, no mínino 18 anos de idade, 1,60 metros de altura. Muitos vêem o glamour da profissão, acham que são moças simpáticas e sorridentes atendendo as solicitações gastronômicas do viajante. E não é nada disso, o carrinho onde são conduzidos os lanches e bebidas é muito pesado. A chefia geral da aeronave é do comandante, mas as situações de pânico, de atendimento á alguém que está se sentindo mal, situações corriqueiras, isso fica a cargo da comissária. O próprio curso de formação de comissária implica no ensino de primeiros socorros até situações de maiores dificuldades. A profissão exige um controle emocional muito grande.


Antes só os ricos voavam?


Era muito elitizado, hoje voar é um turismo de massa. A relação custo-benefício é muito importante. Até Fortaleza se gasta via terrestre três dias. De avião gasta-se menos tempo e menos dinheiro.


Você realizou muitas viagens ao exterior?


Trabalhando em agencias de viagens, além das viagens de natureza pessoal, já estive em muitos países. Existe um programa chamado fantur aonde eu ia para conhecer os hotéis, os locais em que ficariam hospedados os viajantes clientes da nossa agencia.


Silvino, o brasileiro viaja muito?


Não sei precisar exatamente qual posição ele ocupa na escala de turistas, mas sei que está entre os cinco povos que mais viajam. Nós tivemos a oportunidade de fazer novas amizades, na França, na Itália, em Mônaco, Buenos Aires, sendo que nessas viagens também encontramos pessoas de Rio das Pedras, Piracicaba. Na hora pensamos: Nossa! Aqui encontramos essas pessoas da nossa cidade!


È clássico o turista brasileiro tentar fazer entender-se de qualquer maneira?


Isso é um fato que ocorre muito. Temos um amigo que chegou á uma loja, e em portunhol mostrou ao dono da loja que ele queria um tênis e tentava usando de todos s seus recursos comunicar-se com a pessoa. O dono da loja permaneceu quieto, escutando. Meu amigo disse para mim: “Ele não está me entendendo!”. Eu disse-lhe: “fale de novo!”. Até que o proprietário da loja falou no mais perfeito português: “Eu falo português!”.


Qual é de uma forma geral a sensação do brasileiro em viagem?


Vou dizer pelo que sinto. Primeiro que dá saudade do Brasil. Mas é uma sensação gratificante estar no Champs Elysée, em Paris. Mesmo sabendo que ali para tomar um café e uma água você paga 18 euros, equivalente a 54 reais! O que irá permanecer será a lembrança de que um dia você esteve no Camps Elysée, sentou em um bistrô e tomou um café!


Silvino você já esteve na China?


Já! Estive em Cantão, Dongwan, Hong Kong, Macau. (ex-colônia portuguesa na Ásia), na China o transito é extremamente complicado. Não existe contramão, não há conversão proibida, não tem placa pare, o semáforo tem as três cores mais ninguém respeita nenhuma. A primeira vez em que pegamos um taxi era uma van que nos conduzia do aeroporto para o hotel, o motorista chinês não conhecia a localização do hotel. Quando chegou ao pedágio ele perguntou. A pessoa informou-lhe que ele tinha que voltar, o hotel ficava do outro lado. O motorista simplesmente deu marcha ré por uns trezentos metros! Outra característica curiosa, o pedágio não tem cancela, o responsável pela cobrança após o pagamento feito sinaliza com a mão para seguir em frente. Do hotel onde estávamos filmávamos os carros, as manobras são feitas de tal fora que em determinada hora para tudo! E é interessante que dificilmente você vê uma batida de carros.


Você comeu algum prato típico na China?


Comi. Até por curiosidade. Foi uma serpente, que eles preparam á sua vista.


Cada país tem um aroma característico?


De certa forma sim. Os restaurantes chineses, eu acredito que por usarem óleo de soja não refinado, deixam um forte cheiro de óleo de soja. Em Paris sente-se uma fragrância de perfume. Na Itália, o aroma de pizza, que por sinal é bem diferente da nossa, eu prefiro a nossa!


Aline qual foi o motivo que a levou deixar de ser comissária de bordo?


Eu era muito jovem quando entrei quase uma menina ainda, a imagem que se tem é de um glamour, uma coisa muito linda. Na realidade é uma vida de muito sacrifício. Além de deixar a sua família, não existem dias certos para estar em casa. Você tem que abrir mão da sua vida pessoal.


Em determinada hora a pessoa cansa de ouvir turbinas de avião?


Cansa. Vira uma rotina Muitas vezes você vai até o local de destino, dorme em um hotel e volta. Não há a possibilidade de conhecer o lugar, passear. Hoje trabalhando com turismo, vamos a determinado local conhecer hotéis, ou conhecer um navio. Há pessoas que dizem: “Nossa que gostoso, que delícia!”. Só que nossa atenção está toda voltada para os detalhes do que é oferecido ao cliente. Temos que preencher relatórios é uma vista técnica. Conhecer o tamanho do quarto, a qualidade dos serviços oferecidos. Nós temos que estar super atentos, porque há locais que fazem uma maquiagem para nos impressionar. O que eles nos oferecem durante o período em que estamos avaliando o local não é oferecido ao nosso passageiro.


A capacidade da agencia de avaliar e selecionar torna-se muito importante?


Vemos muitas pessoas vendendo viagens como se vende calça jeans. Isso não existe. Há a necessidade de sentir o que realmente o passageiro precisa, do que ele gosta. O que pode ser um sonho para uma pessoa, para outro pode ser um pesadelo. É interessante não vender baseando-se somente pelo destino para onde todos estão indo. E sim o que ele quer o que irá gostar. Muitas vezes eu gasto duas horas com um passageiro só, entrevistando, pesquisando o que ele realmente espera da viagem. É um trabalho que exige uma psicologia muito grande da parte do profissional da agencia. Não basta mostrar uma imagem de um local, de um hotel. Tem que ser traçado um perfil do viajante, um filtro para saber se ele gosta de um hotel fazenda, onde há múltiplas atividades. Pela própria natureza da pessoa, às vezes ela não quer simplesmente permanecer em estado contemplativo da natureza. É importante satisfazer o passageiro, e não simplesmente atender aos apelos da mídia.


O perfil dos clientes da agencia é para viagem doméstica ou internacional?


Temos tido um pouco de tudo. Hoje saiu um grupo grande para a visita á Maria Fumaça. Viagem para Europa tem vendido bem.


Porque a agencia foi criada na cidade de Rio das Pedras?


Rio das Pedras abriga pessoas naturais de outras localidades e que precisam adquirir passagens para seus locais de origem. Boa parte da população que trabalha nas empresas de Rio das Pedras viaja para outras cidades, outros estados.


Há muita procura de passagens para o Rio de Janeiro?


Bastante, e com o Brasil sediando as Olimpíadas deverá haver uma procura maior. Uma das conseqüências deve ser o aumento da infra-estrutura para o turismo.


O europeu ainda tem a imagem de que no Brasil há cobras atravessando as ruas?


Infelizmente ainda pensa! Acha que só existem índios, carnaval, mulheres nuas. Essa imagem do Brasil com o evento das Olimpíadas deve melhorar. O turismo no Brasil tem que crescer muito, principalmente na mão de obra qualificada. O turismólogo não tem a sua profissão reconhecida.


O que é um turismólogo?


É a pessoa que faz a Faculdade de Turismo, um curso com quatro anos de duração. Fiz a faculdade de turismo em Minas Gerais. O turismólogo planeja os roteiros. Quando escolhemos a cidade de Rio das Pedras para montar a nossa agencia de viagem, fizemos um estudo, pesquisamos estradas, meios de transportes. O turismólogo qualifica as pessoas que vão trabalhar em hotéis, dá o treinamento, gerencia alimentos e bebidas. Se em um hotel os eventos não estão apropriados ele irá formar uma equipe para melhorar esses eventos. É uma faculdade muito abrangente, onde se aprende economia, administração, geografia, história, direito.


Aline, cada povo tem seu habito, isso é muito importante que o turista saiba?


Se uma turista brasileira for a Dubai, não poderá usar o seu habitual biquíni. No curso de comissária foram dadas aulas sobre costumes de alguns países, teve uma comissária que uma vez viu uma linda criança, e passou a mão no rosto dela, um habito nosso de mostrar carinho. Essa comissária levou um tapa no rosto, porque para a cultura daquela mãe a criança é pura, uma pessoa adulta é impura, não pode passar a mão no rosto da criança.


Aline é comum o brasileiro que viaja querer ingerir alimentos semelhantes ao que come aqui?


Tem muitas pessoas que desejam viajar e não querem usufruir da comida do local para onde vão, não querem saborear novos paladares. A idéia de viajar é sair da sua rotina e vivenciar coisas novas. Você deve experimentar o que o local está oferecendo, depois de determinado tempo, se quiser pode comer um arroz, feijão, para matar a vontade.


Silvino completa: “- O prato mais famoso que você encontra em diversos países é a feijoada.”


É uma feijoada igual a que se faz no Brasil?


Não! Em Macau as ruas e alamedas são todas escritas em português. Mas são muito poucos habitantes que falam português. Encontramos dois gaúchos que trabalhavam em um restaurante, fomos lá para comer feijoada. Não dá para dizer que se tratava de uma feijoada. É o mesmo que querer comer acarajé em Macau. O nome pode ser acarajé, só que não é o acarajé que conhecemos. Aline diz: “-Procuramos dar orientações sobre tudo, vestuário, que lugares que são interessantes para conhecer, os passeios que nós denominamos de “tabajara”, é aquele passeio que você perde tempo e é horrível.


O turista gosta de vez em quando fazer um passeio “tabajara”?


Não é por gostar, mas para dizer que esteve lá! Para visitar o Arco do Triunfo em Paris, você paga, sobe uma escada razoável, quando está lá em cima não tem mais nada para ser visto. É uma canseira, um lugar escuro e frio. Se me perguntarem se subiria de novo eu diria que não. Mas existem sempre os que vão pela primeira vez, pagam sete euros e sobem. Se você subir no portal que existe na entrada de Rio das Pedras deve ser mais bonito. Só que lá você está na França!


Silvino, o visto no passaporte de um viajante para a China tem uma particularidade?


Há uma observação, de que se o turista for pego portando droga sofrerá pena de morte.


Já há algum projeto para atender o publico que irá assistir á Copa de Futebol e para as Olimpíadas?


Trabalhamos em conjunto com as operadoras, e elas devem começar a montar os roteiros, a estrutura.


O ex-prefeito Galvão afirma com muito bom humor, que Piracicaba faz parte da Grande Rio das Pedras, assim como Saltinho, Mombuca e localidades próximas. Vocês irão montar uma programação especial envolvendo essa população?


A idéia é dar a oportunidade para que todos que puderem usufruam dessa estrutura, e desfrutem dos grandes eventos que devem se realizar no Brasil. Nunca foi tão fácil viajar. O parcelamento das viagens dá a oportunidade para viajar sem comprometer o orçamento.

segunda-feira, outubro 12, 2009

“ZÉZINHO DA FARMÁCIA DA VILA REZENDE”




PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF

Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com



Sábado 10 de outubro de 2009

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana

As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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ENTREVISTADO:
JOSÉ ARANTES DE CARVALHO - “ZÉZINHO DA FARMÁCIA DA VILA REZENDE”





Há duzentos anos não havia escolas de medicina e nem de farmácia no Brasil. Quando alguém precisava de tratamento, procurava os boticários ou os hospitais dos jesuítas, que mantinham boticas e produziam medicamentos com produtos que vinham de Portugal e fórmulas aprendidas com os pajés, feitas a partir de plantas medicinais. As primeiras escolas de medicina e farmácia foram fundadas com a vinda de D. João VI e a família real, em 1808. Os médicos a principio aprendiam com os farmacêuticos a arte de formular e manipular cientificamente. Todas as receitas de fórmulas manipuladas traziam a sigla FSA, que significa “Faça-se Segundo a Arte”. Nas cidades tradicionais brasileiras, a farmácia era um ponto de encontro, o lugar de conversa onde se reuniam os "homens bons da terra", as pessoas representativas da administração municipal, o padre, o juiz, funcionários públicos. A farmácia foi, sem dúvida, o embrião de clubes, de sociedades literárias, de partidos políticos etc. Alguns participavam visando melhorar seu status social, estando e sendo sempre visto na roda de conversa dos "importantes" da terra. Com o aparecimento do cinema, e outras formas de diversão esses encontros foram rareando.

Em Piracicaba uma das pessoas mais populares é o Zezinho da Farmácia. Hoje com diversas unidades espalhadas pela cidade, Zezinho com seu carisma pessoal conquistou com sua equipe de farmacêuticos, um grau elevado de confiabilidade da população. O exercício da ética profissional o faz respeitado entre seus pares e junto à classe médica.

Zezinho você nasceu em Piracicaba?

Não. Eu sou de Monte Aprazível, na época a comarca era Mirassol. Meus documentos todos são de Mirassol. Sou filho de Antonio Lopes de Carvalho e Nair Arantes de Carvalho. Meu pai era lavrador, tenho um irmão e quatro irmãs. Nasci no dia 5 de abril de 1930. Fiz o curso primário em Monte Aprazível, depois meu pai comprou um sítio em Tupã para onde nos mudamos. Lá estudei no Instituto de Ciências e Letras Guarani, cujo diretor era o Dr. Sebastião Lins, um advogado.

O seu primeiro emprego foi onde?

Fui trabalhar em uma farmácia, tinha doze anos de idade, usava calça curta ainda. Iniciei como varredor da farmácia, lavador de vidros, naquela época lavava-se muitos vidros para fazer manipulações, lavava-se cálices, grals, gral (terrina, pequeno vaso) de vidro, gral de porcelana com pistilo (espécie de pequeno pilão), eram utilizados para fazer pílulas, pomadas. Havia um jacaré de ferro, com diversas ranhuras em medidas diferentes, com uma dobradiça junto a sua cabeça, usando a sua cauda como alavanca, nós amassávamos rolhas de cortiça para caber no vidro. Isso porque na época havia diversos tipos de vidros e de rolhas e nem sempre o tamanho da rolha era idêntico á boca do vidro á ser tampado. No início pede-se dizer que comecei como servente dos manipuladores.

Qual era o nome dessa primeira farmácia onde você trabalhou em Tupã?

Era a Farmácia São Jorge, o proprietário era Juvenal Arantes Dias, apesar de ser Arantes, não era meu parente!

Com isso você passou a ir aprendendo o ofício?

Fui aprendendo, ajudando os farmacêuticos a fazerem os medicamentos, observando como eles trabalhavam. Após dois anos, um dos farmacêuticos, chamado João Machado Lopes, conhecido como Jango, disse-me: “-Zé você tem condições de fazer esta fórmula?”. Respondi “-Tenho!”. Fiz como ele costumava fazer, ele gostou, eu então fui promovido, passei a ser o titular daquela fórmula. Toda vez que era receitada eles a passavam para que eu fizesse. Era uma fórmula que muitos não gostavam de fazer, dava trabalho, tinha que triturar os sais, triturar a goma, colocar as tinturas, extratos, era bem trabalhosa. Com isso fui me aprimorando e passando a fazer praticamente todo tipo de fórmula.

Com que idade você passou a aplicar injeção?

Acredito que tinha quatorze anos.

Como os adultos viam uma criança aplicando injeção?

A cidade era pequena, todos se conheciam. A farmácia era muito conceituada, e os adultos tinham confiança. Por volta de 1943 a 1944, apareceu a penicilina, com isso a pneumonia, doenças venéreas, tiveram um tratamento mais eficaz. Na época a penicilina era sódica administrada de três em três horas. Passei muitas noites sem dormir, tinha 10 a 12 casas para aplicar injeções. Em determinada época houve um surto de pneumonia em Tupã, com isso eu passava a noite toda trabalhando. Ás seis da manhã, outro funcionário vinha me substituir. Em Tupã começaram a desbravar uma região, inclusive onde meu pai comprou o sítio, quando passaram a derrubar a mata, onde havia o Córrego de Iacã, começou a dar tanta maleita que morria gente na calçada. O hospital estava em construção, a pessoa que já estava doente, caia na calçada e lá morria. Não havia remédio para maleita. Aplicava-se Maleitosan, Maleisin Azul, uma injeção de quinino com azul de metileno, as nádegas da pessoa ficavam toda roxa. Alguns reagiam, mas a maioria morria. Hoje cura-se maleita com apenas cinco comprimidos!

Na época havia médicos em Tupã?

Existiam bastantes médicos, um deles Dr. Valter Montanha Peixoto da Silva, era um baiano, ele fez um ambiente em seu consultório, que era hermeticamente fechado, esterilizado, e operava ali apendicite, cirurgias mais simples, ou de urgências. Ele me chamava para ajudá-lo nas cirurgias.

Você nunca pensou em ser médico?

Pensar, eu pensei. Querer eu queria. Mas não tinha condições financeiras. O curso de medicina exige dedicação de tempo integral e infelizmente meu pai não tinha condições para me manter.

Quantos anos você permaneceu na atividade farmacêutica em Tupã?

De 1942 a 1946, de lá mudamos para Charqueada. Um primo da minha mãe, Seu Cristiano, era farmacêutico, proprietário da Farmácia Luz em Charqueada, ele que nos trouxe. Trabalhei três anos em Charqueada. Após esse período eu vim trabalhar com o Dr. Abério Sampaio, era dentista, professor da faculdade, químico e físico. Era uma pessoa muito importante. Isso foi em 1950.

Qual era a sua atividade?

Era a de manipular fórmulas. A farmácia do Dr. Abério ficava na Avenida Rui Barbosa, na Vila Rezende, chamava-se Farmácia Nossa Senhora Aparecida. Em 1954 ele mudou-se para São Paulo e vendeu a farmácia para mim. Arrumei um sócio e continuamos a trabalhar. Até 1959 continuamos com a Farmácia Nossa Senhora Aparecida.

Foi quando você montou outra farmácia?

Montei a Droga Vila.

Você é uma pessoa conhecida e estimada por muitos habitantes de Piracicaba, particularmente os da Vila Rezende.

Construímos um nome, procuramos sempre tratar as pessoas com bastante amizade, não temos tratamento diferenciado, sempre procurando atender com cortesia, lealdade, honestidade.

Você conheceu a família Papini?

O local onde é a farmácia da Avenida Rui Barbosa, eu comprei do Papini. Quando ele fechou o restaurante eu adquiri os fundos do restaurante e instalei a Droga Vila lá. O restaurante do Papini era ao lado, onde havia o restaurante, o jogo de bocha. Conheci a esposa dele, a Dona Gigeta.

Você conheceu personalidades ilustres da Vila Rezende?

Conheci o Comendador Mário Dedini. Comendador Humberto D`Abronzo vinha ás vezes até a farmácia.

Monsenhor Jorge é seu cliente?

É meu cliente e meu amigo! Ambos somos corintianos!

Você tem lembranças do bonde que passava na Avenida Barbosa?

Lembro-me sim. Havia o trem da Sorocabana passava no fundo da farmácia. O trem do Engenho Central cuja linha ficava abaixo, mais próxima do Rio Piracicaba. A estação do trem Sorocabana mais próxima era a Barão de Rezende.

Você chegou a conhecer os franceses que administravam o Engenho Central?

Fui fornecedor deles por muitos anos.

Conheceu Mário Áreas Vitier?

Conheci muito, era meu cliente.

Você conheceu a Avenida Manoel Conceição no tempo em que era um descampado?

Eu ia fazer injeções de bicicleta. Saia ás sete horas da manhã, levava o álcool para ferver. Era um estojo de metal com um suporte onde acendia o fogo e esterilizava a seringa de vidro.

Você chegou a fazer ou auxiliar algum parto?

Quando vim para Piracicaba Dona Maria (Mariquinha) Caldari, tia do Dr. Pedro Caldari, estava para dar a luz. Quem veio fazer o parto foi o Dr. João José Correa. Ele então orientava: “Zé aplica pituitina”, ou então “Zé aplica orastina”, que são medicamentos indicados para estimular a contração uterina, para facilitar o parto. Ele fazia o parto eu aplicava os medicamentos. Em Charqueda quando as parteiras tinham um parto complicado pela frente chamavam o Dr. Correia, meia hora depois ele estava lá, não tinha chuva ou temo ruim que o detivesse. Eu ia com ele na casa do paciente. Ele nunca deixou de me atender quando eu o chamei. Na época a maioria dos partos era feita em casa.

Quais são as doenças que hoje mais atormentam a humanidade?

A AIDS, o câncer. No momento a H1N1, popularmente conhecida como gripe suína é uma doença perigosa, principalmente para quem adquire o vírus sem estar com suas condições físicas satisfatórias. As pessoas que faleceram já tinham algum tipo de problema, de deficiência. Os demais que contraíram o vírus após o tratamento próprio, saram.

Qual é a sua opinião sobre a homeopatia?

Tenho um amigo, médico, que é grande defensor da homeopatia. Ela produz reações no organismo. É uma medicação centenária, mas é valida, porque ainda funciona.

O principio ativo dos remédios são derivados das plantas?

Nem todos. Hoje existem sintéticos. Mas a maioria é das plantas. A Ipeca (Psychotria Ipecacuanha), por exemplo, é muito comum no Mato Grosso. Ela tem várias ações: expectorantes, diarréicas e tem ação para provocar o vomito. O confrei (Symphytum officinale), utilizado muito pelo Dr. Walter Radamés Accorsi, a canela (Cinnamomum zeylanicum), servia muito para fazer poções.

Atualmente há uma procura muito grande por farmácias de manipulação?

O sal é o mesmo que é utilizado no produto ético. Só que sai bem mais barato. Com isso cresceu muito o número de farmácias de manipulação.

Qual é a receita para a pessoa ter uma boa saúde?

Em primeiro lugar evitar o uso do tabaco e da bebida. Saber comer, e comer regularmente.

O que é saber comer?

É não comer aquilo que possa lhe fazer mal, como carnes muito gordurosas. A digestão a noite é mais difícil. Comer com moderação. Comer muitas frutas, legumes, verduras. A carne tem proteína, só que a soja também tem muita proteína. Tenho amigos que não comem carne de forma alguma, só que eles repõem as proteínas com outros tipos de alimentos. Sabendo comer adquire-se mais saúde.

Está havendo uma conscientização da juventude a respeito?

Acho que a nossa juventude está melhorando. Há exceções.

Existe uma corrente de pensamento afirmando que a o ser humano está doente motivado pela velocidade com que a vida lhe imprime. É comum que as pessoas acometidas por sintomas típicos de ansiedade o procure?

Pelo fato de eu ser muito conhecido na cidade eles vem pedir a opinião da gente. Hoje o stress é muito grande. Aconselho que procurem um psiquiatra.

No conceito popular ainda persiste para alguns desinformados a idéia de que psiquiatra é “médico de louco”?

O psiquiatra é um médico que atende ao paciente procurando conhecer o intimo da mente da pessoa.

Quando a pessoa sofre uma fratura óssea procura um ortopedista, um problema ocular procura um oftalmologista, o brasileiro é muito preconceituoso, e quando está com stress, fica sem saber o que fazer?

Aconselho sempre que procure um médico psiquiatra.

O povo tem condições de ser atendido por médicos psiquiatras?

Infelizmente não tem. Nem todos possuem um sistema particular de saúde. O INPS oferece esse tipo de assistência, mas pela demanda torna-se muito demorado o atendimento.

Você acredita que a paz de espírito adquirida em uma crença religiosa, filosofia de vida, pode suprir a necessidade de um atendimento psiquiátrico?

Pode ajudar muito. A pessoa que acredita em Deus tem uma força muito grande.

Como surgiu o Cesário Mota em Piracicaba?

Teve muito da participação da minha mãe que era espírita.

Abrigava quem?

Pessoas com necessidade de tratamento mental.

O alcoolismo ainda é um dos fatores que provoca doenças mentais?

Cigarro e alcoolismo continuam sendo fatores de grande relevância. O alcoolismo é motivado por ser muito barato, e ambos, tabaco e alcoolismo são socialmente aceitáveis.

Hoje já se inicia uma conscientização, as famílias pressionam. Os médicos ajudam muito.

O terror do farmacêutico é a letra escrita pelo médico na receita?

Era! Hoje vem tudo digitado. Dr. Samuel Neves tinha uma caligrafia terrível, nem ele lia o que ele mesmo escrevia.


Qual é o seu hobby?

Pescar! No ano que vem vamos pescar no Rio Paraguai.

Qual foi o maior peixe que você pescou?

Foi um jaú de uns 40 quilos, no Mato Grosso, Rio Paraguai, eu e meu amigo que estava junto pescando levamos meia hora para tirar ele da água.
Comentários:
grande zezinho para bens em!!!!
# postado por Ana : 12:47 PM


PREZADA ANA,
O DIMINUTIVO DO NOME JOSÉ PARA ZÉZINHO, É A MODÉSTIA DE UM JOSÉ QUE É UM GIGANTE EM SUAS QUALIDADES COMO GENTE, SER HUMANO, DE UMA HONESTIDADE E GENEROSIDADE DIGNA DE SER LOUVADA E IMITADA.
ATENCIOSAMENTE
JOÃO.
# postado por NASSIF : 4:52 PM

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