sexta-feira, maio 23, 2014

MARLY TERESINHA PEREIRA, LUCAS TEIXEIRA FRANCO DE MORAES, TXANA MASHA E TXANA DASU.


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 24 de maio de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/



ENTREVISTADOS: MARLY TERESINHA PEREIRA, LUCAS TEIXEIRA FRANCO DE MORAES, TXANA MASHA E TXANA DASU.

Marly Teresinha Pereira, Lucas Teixeira Franco de Moraes, Txana Masha, Txana Dasu e sua esposa constituiram um encontro do conhecimento cientififico e do prático-espiritual da natureza. Uma aproximação importante entre culturas diferentes mas com os mesmos interesses. Conhecer suas relações com a natureza é uma das grandes buscas que o homem “civilizado” tem como meta. A tecnologia deu um enorme salto nas últimas décadas. A humanidade tomada por um encantamento onde tudo que é prático e com tecnologia de ponta torna-se objeto de aspiração e consumo, alem da parafernália tecnológica, a alimentação industrializada, tratamentos de saúde inovadores e medicamentos de refinado estudo químico faz parte da vida do homem da nossa época. É tido e sabido que a indústria farmacêutica é um dos negócios mais rentáveis sendo que algumas têm como acionistas grandes instituições financeiras. São conglomerados com enorme poder econômico e político, investem bilhões de dólares em pesquisas, contratam grades cientistas, possuem tecnologia de ponta, sempre a procura da cura para as doenças que afligem a humanidade. Todos conhecemos ou sabemos de casos de pacientes que buscaram a cura na medicina milenar, baseada na cura pelas plantas, transmitida de individuo à individuo ao correr dos séculos. Reunimos em torno de uma mesa a professora doutora Marly Teresinha Pereira que possui graduação em Engenharia Agronômica (1970) e mestrado em Economia Agrária (1990) pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo e doutorado em Estudos das Sociedades Latino-americanas - área de Sociologia (2003), pela Universidad Artes y Ciéncias Sociales - ARCIS, de Santiago de Chile. É professora doutora do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da ESALQ-USP, desde maio de 1985. Gestora Estadual da RedeFito Mata Atlântica, do Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos - PNPMF, junto ao Núcleo de Gestão em Biodiversidade e Saúde NGBS, vinculado ao Centro de Produtos Naturais de Farmanguinhos/Fiocruz - Ministério da Saúde. Ocupou o cargo de Secretária Executiva do Conselho Estadual do Pronaf (2007-2009) e do Conselho Estadual de Desenvolvimento da Agricultura Familiar - CEDAF (2009- 2010) junto à Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Tem experiência na área de Sociologia e Extensão Rural, atuando principalmente nos seguintes temas: desenvolvimento rural sustentável e solidário, políticas públicas para agricultura familiar, territórios rurais, comunicação rural, organização rural, difusão de tecnologia, crédito rural, PRONAF. Integrando a mesa estavam o formando pela Esalq,  Lucas Teixeira Franco de Moraes, três indígenas de Tarauacá (Acre), sendo um estudante de medicinina alternativa, Txana Masha acompanhado de Txana Dasu que é lider de uma aldeia o qual trouxe sua esposa. Embora usando roupas normais do homem branco, estavam caracterizados com colares, cocares, pulseiras e pinturas na face. Cada um desses adereços tem um significado, que na cultura indígena é considerado sagrado.

 

 Txana Masha entre você e Txana Dasu qual dos dois tem um grau de importância maior dentro da aldeia?

Txana Dasu é lider de uma aldeia, e eu sou estudante de medicina alternativa, o pajé com seu conhecimento ancestral transmite-os. É ele quem me conduz até a floresta, onde mostra as éspécies de plantas, quais suas finalidades, como deve ser administrada, cultivada. O aprendizado é feito por tada a minha existência.   Nasci no Acre, no distrito de Tarauacá na fronteira com o Peru.

Quais recursos médicos existem lá?

Em terras indigenas há frequência de médicos tradionais, temos dois médicos indigenas que estão se formando em Cuba.

Qual motivo levou esses dois indigenas a estudarem medicina regular em Cuba?

Foi um projeto promovido pelo governo que os levou para lá. Foram oferecidas duas vagas aos indios que tivessem concluido o ensino de segundo grau. Uma vez por ano eles nos visitam, falam o idioma da nossa etnia, o huni kuî.

Txana Dasu você nasceu em que dia?

Nasci no dia 10 de agosto de 1986, de parto natural, na própria aldeia. O nome indigena da minha mãe é Daní, significa tudo que existe sobre a superfície da Terra. O nome do meu pai é Nuí cujo significado pode ser saudade, sentimento profundo. Por parte de mãe sou filho único, por parte de pai tenho cerca de 15 irmãos e irmãs, o meu pai teve várias esposas.

O homem assume a manutenção de todas as esposas e filhos?

Se ele teve uma esposa, ao deixá-la é costume que ela cuide de si e dos filhos. Ele irá criar uma nova família.

Você acredita em Deus?

Acredito. Eu acredito em um Deus que criou a Terra e o Céu e todo o Planeta. Não posso afirmar que Ele tenha forma humana. Ele está em todas as partes, na diversidade que ele criou. Nas plantas. Nos seres que tem vida. Se não existisse Deus não haveria vida. Deus está vivo em cada ser que vive. Nas pessoas, nas plantas, na terra, na água, nas pedras.

Esse é o motivo pelo qual os indígenas respeitam muito as plantas e os animais?

Na história do povo indígena, a medicina no passado era uma pessoa, ela passou por uma transformação que chamamos de morte. Ela passa do mundo material para o mundo invisível. Ocorre com a pessoa que tem uma preparação de espiritualidade mais avançada, ela se encarna como se fosse uma planta, tem o sentido de ouvir o que você está falando. O índio pega uma planta, fala que quer tirá-la para ajudá-lo no sentido em que ele está precisando. Na saúde ou no que ele possa receber. O índio pede à planta uma autorização para tirar dela a sua propriedade medicinal.

Estou observando que ao falar com alguém você olha diretamente nos olhos da pessoa. É uma característica sua?

Para nós significa uma firmeza e a verdade. Quando você tem uma verdade você tem que encarar as coisas com o olhar vivo. Você nunca deve falar e ficar olhando para outro lado, dessa forma nunca saberá o que de fato está acontecendo. Você tem que ter essa firmeza dentro de você. Não é você quem fala, é seu espírito que fala por você.

Você constituiu família?

Tenho esposa, chama-se Batani, somos casados há três anos. Não tenho filho ainda.

Você e sua esposa moram em que tipo de casa?

Moramos nós dois, em uma casa normal, de madeira e coberta com palha. Banho  nós tomamos no rio. Quando queremos comer algum tipo de carne vamos à floresta, caçar. Pescamos no rio.

Vocês cultuam os antepassados?

O índio já nasce com aquele espírito que já é próprio do seu avô ou avó, para que a cultura nunca se acabe. Uma pessoa que viveu, foi ótima, quando desencarna temos toda reverência, pelo que ele fez, pela sua bondade, e reverência a Deus para que ele possa estar em um plano astral em um mundo invisível, com uma espiritualidade mais elevada, que ele seja um protetor para aquela nação e um guia iluminado para que possa ajudar outras pessoas necessitadas.

Você está usando um cocar muito vistoso, qual é o significado dele?

Na minha língua é chamado de “maiti”. É um diploma muito sagrado para a nação indígena e símbolo mais importante dentro de uma tribo.

Você é a pessoa mais importante dentro da tribo?

Onde eu moro estou representando a espiritualidade como se fosse um padre ou um pastor. E aquela pessoa que está estudando o conhecimento da cultura, espiritualidade, medicina, história, divindade. Dentro desse estudo o que fortalece é você representar um líder espiritual, tendo um diploma desses como uma coroa de um líder.

Qual é a hierarquia dentro da tribo?

O cacique trabalha com a burocracia, é o político. O pajé é o doutor. É a pessoa que está trabalhando na cura, estudando a medicina. O cacique respeita o pajé. Tudo que o cacique vai fazer ele consulta o pajé se é uma atitude acertada ou não.

Há quanto tempo você recebeu esse cocar?

Há uns três anos. Demorei mais de 10 anos para recebê-lo. Aprendi com outro pajé. Minha mãe é pajé. É um dos raros casos de pajé feminino. Existem outros pajés onde você vai buscar a experiência, eles irão lhe ensinar.

Existe uma espécie de reserva quanto a passar todas as informações de um pajé mais experiente para um pajé menos experiente?

Tudo tem um segredo, ele ensina, mas tem um mistério que reserva só para si, é uma forma de proteção. Ele tem que analisar se aquele filho está preparado para receber aquele tipo de ensinamento. Há uma complexidade, uma seriedade muito grande.

Existe o pajé do bem e o pajé do mal?

A história diz que havia o pajé do bem e que se fosse provocada a sua ira ele praticava o mal. Existe outra linha de pensamento que ao encontrar uma pessoa que esteja fazendo o mal o pajé entrega para Deus. O pajé sempre deseja fazer o bem.

Você está com vários adereços, a gargantilha significa o que?

É uma estrela em formato de flor, representa a Mãe Terra, é aquela que brota e supre a necessidade de todos os filhos que estão em cima dela. Outro colar representa também a mãe terra e o meu nome como Beija-Flor e tem um beija-flor beijando a flor. É aquele que só toma néctar Divino de Deus.

Qual é a sua alimentação habitual?

É baseado em batata, banana, melancia, mamão, amendoim, caças, peixes.

Você come algum alimento industrializado?

Quando estou na cidade e não tenho outra opção procuro selecionar os menos industrializados.

Você já tomou um famoso refrigerante muito consumido pelos brancos?

Já tomei. Mas é raríssimo isso acontecer.

Qual seu alimento preferido?

Na aldeia é o mingau da banana. A banana grande tem que estar madura, minha mãe cozinha, pisa naturalmente, faz um mingau e tomamos.

E bebida?

A água! Não usamos bebida alcoólica. Só tem uma bebida que é da própria macaxeira mesmo (uma espécie de mandioca a macaxeira pode ser descascada mesmo crua). É utilizado em cerimônias, para a gente se fortalecer. Ele deixa leve e mais forte para fazer os trabalhos.

Como funciona e quando se dá um cerimonial?

O cerimonial é voltado mais à espiritualidade em busca de falar com os espíritos indígenas, principalmente os pajés desencarnados. Fazemos o cerimonial evocando todos os elementos da floresta, os espíritos encantados, espíritos da luz em reverência ao que você quer  fazer aquele cerimonial, por exemplo uma cura, uma libertação, e tudo tem uma preparação antes de ser realizada. Três dias antes da realização do cerimonial não se come carne vermelha, não pratica o sexo. Há toda uma consciência pura de coração, saúde, para que naquele cerimonial que vai envolver uma medicina poderosa, que leva ao plano astral onde você irá conhecer o presente, o passado e o futuro, faz com que traga sua própria força de vida para conhecer seu interior fortalecendo aquilo que você quer trabalhar. Tem os cânticos, batidos, tudo que existe em uma cerimônia voltada para a espiritualidade da própria tradição.

Esse cerimonial é aberto a presença do homem branco?

Tem alguns rituais que é aberto ao público. E tem rituais que só são permitidos para os que estão estudando, os iniciados.

Existe um processo determinando a passagem da criança para jovem e do jovem para adulto?

Tudo tem uma preparação. Quando era pré-adolescente existe um ritual para quando ele chegue na adolescência já com firmeza, para que não venha a fazer algo que prejudique a sua saúde, ou algo que mais tarde o leve a se arrepender de ter feito. Ele irá chegar a maturidade e irá sentir que foi bem cuidado, fez as coisas certinhas, para que atinja o seu objetivo de vida. Há rituais desde o nascimento até quando desencarna.

O que é feito com uma pessoa que não é desejada dentro do contexto da tribo?

Sabemos que cada pessoa tem sua conduta individual. Quando ele comete algo que seja fora do contexto, temos a facilidade de chamá-lo, fazemos um circulo em torno dele e conversamos, porque cometeu tal ato, qual é o sentido daquilo. Se está sendo importante para ele ou não está. Temos uma conversa para que ele possa compreender e não faça mais aquilo que é errado. Poderá prejudicar a nossa tradição e a própria imagem dos indígenas. Atualmente vemos muita descriminação com os indígenas. Se algo acontece no Centro-Oeste do pais, envolvendo indígenas, toda a etnia indígena é prejudicada. Por isso temos esse amor para com essa pessoa, para que não faça mais aquilo.

E se ele persistir no erro?

Deixamos claro que ele está conhecendo a lei indígena, no caso de continuar no erro ele irá conhecer a lei que os brancos impõem. Se for preso sentirá aquilo tudo muito pesado para ele, não cometerá mais o erro.

Vocês têm alguma lei que pune quem age de forma errada?

Temos, mas é totalmente voltada à espiritualidade. Se ele fez um erro, tem medicina que o fará compreender que aquilo que ele fez é errado. Bater ou expulsar é mais pesado para nós fazermos.

Vocês fazem o uso da Ayahuasca? (Ayahuasca[][] também chamada hoasca, daime, iagê ou mariri, é uma bebida produzida a partir de duas plantas amazônicas para fins rituais e utilizada na medicina tradicional dos povos da Amazônia).

Os pajés trazem essa medicina para nós. A Ayahuasca, o rapé, a Sananga e outras formas de medicina. A Sananga é um colírio indígena para os olhos. A pessoa que tem um problema de visão irá fazer com que a pessoa não precise usar óculos de grau, por exemplo. Tem muito índio que com 70 anos de vida ainda coloca linha no furo da agulha, sem óculos. É muito utilizada para prevenir e curar catarata. A Sananga é usada dentro de um ritual e por aquelas pessoas que vem utilizando a medicina indígena. (O rapé é utilizado para muitos fins. Os principais são as mazelas do corpo físico, como dor de cabeça, sinusite, nariz congestionado, até mesmo as mazelas do espírito. Assim quando se usa o rapé deve-se ter em mente que o que entra em você são as plantas da floresta e também espíritos de cura da floresta.).

Txana Mashã qual é a sua função dentro da tribo?

Sou professor, graduado em Letras, curso realizado no municipio de Tarauacá, represento uma aldeia com 17 famílias, composta por 90 pessoas, a minha área de pesquisa é voltada ao mundo espiritual. Passei por uma formação, uma dieta, hoje com 33 anos tenho 19 anos dedicados ao mundo espiritual. Eu nasci no dia 10 de abril de 1980. Minha mãe chama-se Sabiani, meu pai não é indigena, meu pai é cearense. Quem me criou foi minha mãe e meus irmãos mais velhos, tenho 12 irmãos, seis por parte de mãe e seis por parte de pai, tenho cinco irmãs, tres por parte de pai e duas por parte de mãe. O pajé renuunciou ao cargo e eu com 33 anos recebi esse tipo de trabalho. Rituais com Ayahuasca, o rapé, a Sananga. Aprender muito mais. Minha esposa chama-se Biruani.

Normalmente com que idade vocês se casam?

Depende do jovem. A partir de 15 anos, 20 anos.

(CONTINUA)

sábado, maio 17, 2014

KARIN IZABEL FITAS LOUREIRO – CECAN


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de maio de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
 


ENTREVISTADA: KARIN  IZABEL FITAS LOUREIRO –
CECAN -CENTRO  DO CÂNCER DA SANTA CASA DE PIRACICABA ( INSTITUTO DE ONCOLOGIA CLÍNICA DE PIRACICABA)

 

Karin Izabel Fitas Loureiro nasceu na cidade de São Paulo a 27 de agosto de 1975, filha de Antonio Augusto Loureiro e Emília Fitas Loureiro. Foi aluna do Colégio Santana, fez magistério no Cefam- Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério formou-se em Tecnologia de Processamento de Dados pela Universidade de Guarulhos.

Em que ano você veio para Piracicaba?

Foi no ano de 2005, vim trabalhar no CECAN convidadda pelo Dr. André Moraes para trabalhar na parte de pesquisa clínica.

No que consiste essa pesquisa clínica?

São estudos para a administração de novos medicamentos. Todo medicamento existente no mercado já passou por estudos clinicos. Existe várias fases de estudo de uma droga nova, são fases: 1, 2, 3, 4 e 5. Normalmente fazemos estudos das fases 3 e 4. A maioria dessses estudos envolvem outros países, é um intercâmbio internacional. Geralmente um medicamento já em uso é comparado ao uso e resultados de um novo medicamento. Esses estudos são aprovados pela ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária, pelo Food and Drug Administration (FDA) norte-americano. O Estudo clínico ao mesmo tempo em que é feito no Brasil também se realiza em vários outros países. Há um trâmite regulatório imenso. Um exemplo, a paciente tem câncer de mama, já realizou um tratamento, é oferecida uma outra opção, se a paciente concorda, é feito um contato com uma central, normalmente fora do país, é dado um número aleiatório (randômico) a paciente, o medicamento vem por lote e numeração. Determinada pessoa que recebe esse número, será sempre o mesmo número no mundo todo. Todos os dados do paciente é informado a essa central, menos a identidade. Todos os exames, de sangue, imagem , são analisados no exterior.

Quantos centros de estudos nesses moldes existem no Brasil?

São muitos. Em Barretos, Jaú. Em São Paulo quase todas as faculdades tem esses centros de estudos.

Quantos pacientes o Cecan atende por mês?

Entre quimioterapia e radioterapia por mês são atendidos por volta de 600 pacientes.
 
Qual a faixa etária dos pacientes atendidos pelo Cecan?

A partir dos 18 anos de idade. Aqui só atendemos pacientes adultos.

A incidência maior de câncer no homem atinge qual parte do seu organismo?

A próstata. Na mulher a mama.

O câncer de próstata tem cura?

Pode ser curado, desde que se faça o tratamento, seja diagnosticado o quanto antes possível, através de exames regulares, assim como o câncer de mama. A mulher ao menos uma vez ao ano deve ir ao ginecologista, pode detectar logo no inicio um câncer de ovário ou de mama.

O Cecan atende aos pacientes da Santa Casa?

Atendemos todos os pacientes da Santa Casa, que necessitem do tratamento para câncer, isso envolve pacientes particulares, conveniados , pacientes do SUS.

A partir do diagnóstico positivo é feito o tratamento que no Cecan envolve quais procedimentos?

A confirmação da existência do câncer se dá através da biópsia. Os pacientes que chegam aqui já fizeram a biópsia. Eles então recebem a quimioterapia, que pode ser venosa ou oral. Ou é feita a radioterapia, que é na própria região afetada. Há pacientes que fazem ambos tratamentos. Muitas vezes é feita a quimioterapia, para diminuir o tamanho da área afetada e depois fazer a cirurgia. De acordo com o resultado da cirurgia o paciente pode retornar para continuar o tratamento.

Há quanto tempo você trabalha no Cecan?

Ha nove anos.

Nesse período você tem visto muitos pacientes com sobrevida?

Bastante! Depende do diagnóstico, depende da doença e o que interfere muito, é a vontade da pessoa de viver. Desde que estou aqui a cada dia aprendo mais, e fica evidente a importância da garra que o paciente tem em querer viver. Isso faz a diferença. E também o apoio da família. Cerca e 70% dos pacientes que atendemos é através do SUS. Muitos deles vem até aqui sem ninguém acompanhando-os. Muitos são com poucos recursos financeiros, tem habitos como tabagismo, fazem ingestão de alcool. Estão bem debilitados. Alguns  nunca se cuidaram da forma correta. Outros não tem noção da importância do mal que os acomete. Dizem “tenho aquela doença” não querem dizer o nome. Algumas famílias pedem que não seja dito ao paciente que ele está com câncer. Ele não sabe.

No seu ponto de vista você acha que o paciente tem que ter consciência da doença que têm?

Na minha opinião ele deve saber. Caso o paciente saiba que sua sobrevida é de três ou quatro meses ele irá tomar algumas atitudes que nunca teve coragem de tomar.


A sua função dentro do Cecan qual é?

Sou coordenadora de pesquisa clínica e gerente de Relações Humanas.


Quantos médicos atendem no Cecan?

São oito médicos.Na parte de quimioterapia temos 11 enfermeiros e técnicos. Na Radioterapia temos 6 técnicos. Dois dosemetristas e dois físico-médicos. São eles que fazem os cálculos de doses a serem ministradas nos pacientes.

O tratamento do câncer é de um custo elevado, como vocês mantém esse tratamento?

Recebemos através do SUS, dos convênios.

O Cecan tem uma boa imagem junto a população e a seus pacientes.

O Cecan recebe o paciente para tratamento, ele não vem até aqui para falecer. Temos que atende-lo com alegria, dar carinho, acolhimento ao paciente. Ele tem que se sentir bem aqui. Sem medo ou receio. Tentamos sempre fazer o tratamento confortável. Ele precisa disso. Como cuido do departamento de Relações Humanas procuro incentivar  o bom humor entre nosso pessoal. Implantamos entre os funcionários e pacientes um brechó, com a autorização dos responsáveis pelo Cecan. Em um sábado realizamos a venda simbólica dos bens que cada um voluntariamente deu. Com o resultado apurado na páscoa enfeitamos a clinica com motivos alusivos a data e conseguimos dar um chocolate para cada paciente,  isso é muito importante para ele: sentiu-se lembrado! No Natal fizemos um bingo. No dia das mães fizemos um evento, chamamos o pessoal da Mary Key que sempre nos apoia, fizemos a semana da beleza, todos voluntários. Enquanto a paciente estava esperando durante a quimioterapia, era feita a unha dela, uma maquiagem, uma massagem. Você sente pela expressão do rosto da paciente que ela está gostando. No ano passado fizemos um show junto com a Regina Gomes, falando da vida de Elis Regina. Foi realizado no Teatro da Unimep. Vieram vários músicos para acompanhá-la no show, um deles toca no conjunto do Roberto Carlos. No mês de junho, durante todo o mês realizo festas juninas, dentro da clínica. Fazemos umas barraquinhas, tudo é decorado como alusões a data, faço pipoca, chá de gengibre, tem paçoca. Fica o dia todo para o paciente comer. Eles adoram. Cria um clima diferenrente do cotidiano. Chegamos a dançar quadrilha com os pacientes. Vestimos um paciente de noivo, uma das médicas foi a noiva. É muito gratificante a reação deles. A alegria deles é enorme com o mínimo de atenção que recebam.

Existem pacientes que permanecem internos?

Não, eles vem e saem todos os dias. Aqui só realizam consultas e tratamento. Procedimentos cirurgicos são realizados dentro da Santa Casa.

Quando um paciente tem um câncer a família fica também doente?

Tem muitas famílias que ficam. Há pacientes que ficam com depressão. A psicologa faz o seu trabalho, muitas vezes tem que cuidar até da própria família do paciente. Para a mulher existe alguns momentos em que ela se abala muito, principalmente quando perde os cabelos. Para algumas é o momento mais difícil do tratamento. Mexe com a vaidade, com a auto estima feminina. Tem algumas voluntárias que vem ensinar a colocar o lenço, como fazer um visual diferente.

O homem é mais depressivo do que a mulher nesses casos?

Eles não demonstram tanto, não exteriorizam, mas na minha opinião são mais depressivos do que a mulher.

Você demonstra uma energia muito forte para trabalhar com essas situações, isso é uma característica pessoal sua?

Acredito que sim, e trabalhando aqui sinto mais motivação em ajudá-los. Existem muitas pessoas necessitando de ajuda, um pequeno gesto já é muito importante para eles que estão muito sensiveis. Tem o caso de um paciente que está fazendo radioterapia hoje, ele mora em uma determinada cidade próxima, o transporte da prefeitura da localidade passa na casa dele as quinze para quatro horas da manhã. Outro dia ele chegou antes das seis horas da manhã e o transporte veio buscá-lo só as sete horas da noite.

E a alimentação desse homem?

Alguns pacientes trazem algo para comer, outros não trazem nada. Simplesmente eles não têm nada para trazer para comer. Muitas vezes pedimos à Santa Casa, eles mandam, a título de caridade. As vezes o paciente passa mal, não em função do tratamento, mas sim porque estava sem comer nada. As próprias enfermeiras acabam comprando um suco, uma bolacha para dar ao paciente.

O Cecan é uma entidade terceirizada da Santa Casa?

Exatamente, mantemos um contrato com a Santa Casa.

O paciente residente em Piracicaba tem transporte que faz sua locomoção?

A prefeitura se encarrega disso. Nossa assistente social, Karina Vieira se encarrega de providenciar isso tudo. Alguns pacientes vem uma vez por mês, pegam o remédio e tomam em sua própria casa.

Há pacientes que persistem em manter habitos que prejudicam sua saúde?

Tem paciente que faz radioterapia, quimioterapia, acaba de realizar o procedimento de tratamento e vai para o lado exterior do prédio fumar pela traqueostomia. (Traqueostomia é um orifício artificial criado cirurgicamente através da frente de seu pescoço e em sua traquéia). A primeira vez que vi não acreditei naquilo. Infelizmente isso existe.

A incidência de câncer está cada vez maior?

Está. A meu ver o stress, a alimentação, a qualidade de vida, isso tudo contribui. O alto nível de consumismo impulsiona o ritmo de vida. O ser humano busca cada vez mais a aquisição de bens sem desfrutar plenamente o que já conquistou. As pessoas se auto impõem um ritmo de trabalho alucinante.


O tratamento realizado pelo Cecan em Piracicaba pode ser considerado equivalente aos procedimentos realizados nos grandes centros?

A tecnologia permite que o mesmo tratamento realizado em renomados hospitais de São Paulo sejam identicos aos procedimentos feitos pelo Cecan. O corpo clínico é altamente qualificado.

Na nossa região há muitos casos de câncer de pele?

Por muito tempo descuidou-se da proteção contra os raios solares. Atualmente a população está mais bem informada, cuida-se melhor. Usam protetores solares, bonés, chapéus. Hoje temos condições de diagnosticar a doença e tratá-la, antigamente a pessoa ia a óbito sem saber o motivo. Há um volume maior de informações, a medicina é mais acessível.

O Cecan pode ser acessado pela internet?

Estamos elaborando nosso site, acredito que até julho deverá estar disponível ao público.


Há uma pré-disposição para o Cecan informar melhor a população sobre o câncer, prevenções e tratamento, em particular em grupos que solicitem esse tipo de informação?

Acredito que sim, nós não temos uma estrutura voltada para esse tipo de trabalho, porém é passivel de estudo formarmos um polo que possa divulgar o mínimo necessário. Grande parte da população não tem a mínima noção do que é uma radioterapia. Um procedimento que geralmente é feito em apenas quinze minutos, por um período pré-determinado. Por exemplo, trinta aplicações uma a cada dia, em um período de trinta dias. São tratamentos dados em dosagem pré-calculadas e dispersos nos correr dos dias. A radioterapia é feita muito para aliviar a dor.


No seu ponto de vista, convivendo com tantos pacientes, você acredita que a pessoa que tem um espírito elevado, popularmente chamado de “alto-astral” é um bom caminho para combater o câncer?

Acredito muito nisso. Já vi muitos pacientes com garra vencerem a doença. Analisando casos percebo que pessoas rancorosas, que guardam mágoas, coincidentemente constituem um número maior de portador de câncer. O inverso também ocorre, pacientes com famílias esfaceladas, problemáticas, mas que mantém o espírito de solidariedade, de auxiliar ao próximo, vencem barreiras enormes.

Vocês fazem o transpante de medula?

Temos profissionais habilitados para isso, mas nessse caso encaminhamos o paciente para São Paulo ou outras regiões que realizem esse procedimento.

Há como clubes de serviços, entidades beneficentes contribuirem com o Cecan?

Pelo fato de atendermos a população nas faixas de A até Z, os voluntários podem contribuirem com o que quiserem. Sempre haverá alguma coisa em possam ajudar. Hoje por exemplo, ganhei duas caixas grandes de bolacha. Vou embalar em pequenas porções e dar aos pacientes. Geralmente os doadores são pesssoas anonimas, familias de pacientes que são tratados aqui, os Doutores da Alegria nos ajudam sempre, estão presentes em todos eventos que realizamos.

Como é a história dos Super Herois?

Pessoas com roupas de super herois iniciaram o seu trabalho na luta contra o câncer infantil, viram que funciona, decidiram fazer visitas para adultos. Você não tem noção da reação dos pacientes. Toda sexta-feira eles vem até aqui, normalmente 10 horas da manhã. Os pacientes ficam fascinados. Até mesmo os mais idosos. É uma animação enorme. Os pacientes adoram. É um momento de descontração, o paciente esquece que está em tratamento. Tem quimioterapia que demora seis a sete horas, com o paciente sentado na poltrona, se você fizer um bingo das 9 horas da manhã até o meio dia o paciente não percebe o tempo passar. Alguns acabam o tratamento e permanecem jogando. Outro não é o dia de ele vir ele vem para participar do bingo. A carência deles é enorme. Na minha opinião a população pode ajudar mais.

Quem quiser colaborar pode procurar você aqui no Cecan, que fica anexo a Santa Casa de Piracicaba?

Pode me procurar que dependendo do que a pessoa for fazer eu ajudo. Vamos criar, fazer.

Uma contadora de histórias pode vir até aqui?

Apoio e ajudo no que for necessário.

Existem muitas famílias que apoiam o paciente, mas existe também famílias que abandonam o paciente?

Existe sim, são famílias que internam o paciente e o deixam internado na Santa Casa. Muitas vezes o paciente tem alta eles nem vem buscar.

São pessoas carentes?

Acredito que todos são carentes de afeto, mas nesses casos são pessoas que também são carentes financeiramente. Há paciente que vem sozinho, nunca vimos ninguém da sua família. Atualmente a demanda para tratamento é muito grande.

sábado, maio 10, 2014

MARCELO COSTA PIACENTINI


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 19 de abril de 2013.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/








ENTREVISTADO: MARCELO COSTA PIACENTINI

 

Em 26 de novembro de 1958, moradores da Vila Rezende, preocupados com os problemas do bairro, formaram a Sociedade Amigos de Vila Rezende, (SAVIRE) para reivindicar soluções junto aos poderes públicos e atender famílias necessitadas com cestas básicas. A Prefeitura Municipal que na época tinha como Prefeito o Comendador Luciano Guidotti, sempre os atendeu prontamente. Percebeu-se então a necessidade da criação de uma creche e berçário para que as mães, com filhos menores e de baixo poder aquisitivo, pudessem trabalhar e melhorar suas condições de vida ajudando, assim, no orçamento familiar. Depois de muita luta junto às autoridades, conseguiu-se da Prefeitura Municipal a doação de um terreno localizado próximo ao Hospital dos Fornecedores de Cana, com uma área de 4.480 m² , para a construção da sede própria da Savire, que provisoriamente funcionava no Instituto Baronesa de Rezende. Assim que se concretizou tal doação iniciaram os trabalhos preliminares da obra e elaborou-se uma planta para a construção de área de 700 m², onde seria construída a creche cuja capacidade inicial era para atender 100 crianças. Realizaram-se campanhas junto a população, indústrias e comércio do bairro para angariar fundos. Em 1º de agosto de 1977, foi inaugurada a Creche e Berçário “Ada Dedini Ometto” que atua até hoje com crianças na faixa etária de 04 meses à 12/13 anos, com atendimento assistencial e educacional em período integral.

Marcelo Costa Piacentini nasceu a 25 de setembro de 1981, em Piracicaba, filho de Antonio Francisco Piacentini e Vanda Helena Costa Piacentini, que tiveram os filhos: Rodrigo, Elaine e Marcelo. Marcelo é sócio-proprietário em uma empresa situada no centro de Piracicaba tem uma atividade intensa como voluntário na assistência social.

Em quais entidades você presta serviço voluntário?

Sou vice-presidente da Creche Ada Dedini Ometto que abriga 140 crianças na faixa de 04 meses a 13 anos. O presidente é Waldir Mutti. São 12 diretores, todos voluntários, cada um tem sua ocupação profissional fora da creche. As mães deixam essas crianças pela manhã, vão trabalhar e ao final da tarde buscam-nas. Lá essas crianças recebem o café da manhã, almoço e café da tarde. É uma entidade que depende do voluntariado, da colaboração das empresas, é mantida apenas com esses recursos. Estamos implantando algumas atividades como judô para os meninos e ballet para as meninas, aulas de inglês, horta comunitária. Temos uma sala de informática. Temos dois salões que são alugados para festas de casamentos, formaturas.


As crianças têm ensino regular?

As crianças recebem aulas de pedagogos, temos o suporte de psicólogas, assistentes sociais, ao todo são cerca de 35 profissionais que trabalham na creche.

Como vocês conseguem arrecadar recursos para manter essa estrutura?

Além das empresas que colaboram há anos com a creche, dependemos de eventos. Há algum tempo fizemos um jantar italiano, trouxemos Tony Angeli que é considerado hoje o maior interprete da música italiana no Brasil. Foi um sucesso. Ainda recentemente fizemos um chá beneficente, com galinhada, tivemos a presença de cerca de 450 pessoas em nosso salão.

A creche estará representando um país na tradicional Festa das Nações? 

 Estaremos representando a Itália na 31ª Festa das Nações que irá acontecer no período de 14 a 18 de maio no Engenho Central Nesses cinco dias deverão passar pela nossa barraca cerca de 8.000 pessoas. Servimos massas, pratos típicos da Itália, a famosa caçarola italiana, servimos vinho nacional, assim como vinho italiano. Na quarta e quinta feira são festas fechadas, recebemos por noite 400 pessoas que adquirem seus convites antecipadamente, serve-se a vontade, com bebidas a parte. Na sexta, sábado e domingo são festas abertas, a comida é servida por quilo. Todas as noites das sete horas até a uma hora da manhã temos musica italiana ao vivo. Nas sextas, sábados e domingos o público permanece até as duas ou três horas da manhã. Todos os voluntários vestem roupas com as cores da bandeira da Itália. A barraca é decorada com motivos alusivos à Itália. Neste ano com o apoio de alguns empresários, investimos na decoração, acredito que temos algumas surpresas para oferecer ao público. Temos profissionais de todas as áreas que trabalham como voluntários nessas cinco noites.

Você participa de outras ações sociais?

Participo do Projeto Viva Feliz na Terceira Idade, junto com profissionais da saúde, do direito, realizamos palestras sobre prevenções, sobre legislação, é um projeto que envolve cerca de 50 pessoas. O objetivo principal é esclarecer, prevenir eventos que possam afetar a saúde e qualidade de vida do idoso. Visitamos grupos que se reúnem em centros comunitários, salões de igrejas. Na Estação Idoso “José Nassif”, na Paulista fazemos reuniões com seis grupos.

Nesses chás de idosos algumas vezes ocorre jogos, brincadeiras, e um deles, é o bingo, que na região também é conhecido como “tômbola”, com prêmios não em dinheiro, mas em objetos. Como você passou a “cantar” bingo nessas entidades?

Foi em uma dessas visitas a um grupo de idosos, pediram que eu narrasse o bingo. Nunca tinha feito, mas acabei narrando. Logo outro grupo me pediu e assim sem perceber eu passei a ser procurado pelos grupos de terceira idade para narrar bingos beneficentes. Hoje chego a cantar a de 15 a 20 bingos por mês.

Você ganha alguma coisa com isso?

Não ganho nada. Nunca ganhei um centavo com esse trabalho. Em quatro anos que comecei a ser convidado a cantar bingos em entidades assistenciais, já cheguei a ir a um a tarde e outro a noite. São aproximadamente oito horas em pé. São muitas entidades que necessitam de recursos, tem dificuldade em conseguir prendas para o sorteio, todos que trabalham são voluntários. Já cantei bingo para 1200 pessoas no salão ao lado da Igreja São Pedro, na Vila Rezende, toda a arrecadação foi em benefício do Ceacan Centro de Apoio a Prevenção Ao Câncer, Doenças Degenerativas e Deficiências Socias Multiníveis e já cantei bingo para cinco pessoas. Não sei falar de valores que uma entidade arrecada, nunca tive essa preocupação. Fiquei muito emocionado quando fui cantar um bingo no Lar dos Velhinhos e quase 600 pessoas me aplaudiram em pé.

Existe alguma técnica para cantar bingo?

Acho que a única técnica é fazer com amor. Quando subo no palco penso no que estou fazendo e para quem estou fazendo. Observo a faixa etária, se for mais de idosos preciso fazer de forma mais pausada, se for composta por jovens, dou uma acelerada. Quando chego, não importa a quantidade de pessoas, cumprimento cada pessoa, individualmente. Não cheguei a cumprimentar os 1200 presentes naquele bingo. Chego de três a quatro horas antes de começar o bingo e cumprimento a todos, no ultimo foram 400 pessoas. Faço isso com carinho, de coração, muitas vezes deixo a minha família sábado á tarde, a noite, aos domingos, algumas vezes a minha família me acompanha.

Quantas pessoas participam da organização do bingo?

Hoje são aproximadamente 20 pessoas. Todos como voluntários. Todo resultado apurado em valores é destinado à entidade. Isso ocorre também na Festa das Nações, onde hoje temos perto de 120 voluntários, só na nossa barraca.

Esse projeto “Viva Feliz na Terceira Idade” foi criado por quem?

Juntos, a Eliana Pacheco e eu criamos esse projeto. Temos o “Espaço Saúde”, que é um dia em um bairro pré-determinado em que reunimos profissionais da área da saúde e fazemos um dia voltado à população daquele bairro. Esse trabalho ajudou muitos idosos a sair da depressão, conduzindo-os a participar de grupos da terceira idade. Criamos grupos de terceira idade em bairros. O objetivo é reunir pessoas da terceira idade e que estão sem nenhuma perspectiva a se juntarem a um grupo. Mostrar que a vida ainda é interessante para eles. Mostrar que a vida vale a pena.

Você já pensou em participar de alguma atividade política?

Já recebi convites, mas acho que se entrasse na área política minhas limitações seriam maiores, as cobranças seriam maiores. Hoje é muito mais fácil encarar uma pessoa e dizer-lhe: “-Olha, eu infelizmente não consigo lhe ajudar neste momento”, ela irá entender, eu ajudo sem nenhuma obrigação.  A partir do momento em que eu ocupar um cargo político a pressão é enorme para que atenda a necessidade daquela pessoa. Eu me sinto feliz em realizar esse trabalho social, faz bem até para minha saúde. Muitas vezes chego cansado em casa, de madrugada, para no dia seguinte estar trabalhando normalmente. Parece que no dia seguinte minha energia volta ao normal. Sinto-me feliz em ver uma criança feliz, em poder auxiliar um idoso. O que me gratifica é um elogio, um abraço, um “muito obrigado”.

Como empresário como você vê a iniciativa social de uma empresa?

Há muitos empresários que assumem essa responsabilidade social, abraçam uma causa. Assim como tem empresas que não tem o mínimo interesse em olhar o lado social. Não é só uma questão financeira, às vezes a simples presença da pessoa nos auxiliando na nossa barraca, visitando nossa entidade, isso nos fortalece. O voluntário não tem que ser convocado, ele tem que se oferecer. Trabalhei ensinando idosos a usarem celulares, a entrar na internet. Fazia isso como voluntário.

Qual é a imagem que os idosos fazem de você e do seu trabalho junto a eles?

Eles brincam dizendo que sou “um jovem na terceira idade”. Eu participo das viagens que eles fazem, de almoços, jantares que realizam. Vou aos bailes, danço. Meu divertimento é entre os idosos. E junto a eles me sinto cada dia mais jovem, a energia que eles têm a sabedoria, eu não consigo acompanhar. Eu me inspiro nos meus pais, eles que me deram essa educação. É uma satisfação ouvir dos meus pais quando dizem que têm orgulho de ter um filho como eu. Isso me enriquece. O projeto “Viva Feliz” com o apoio da Ótica Piacentini está fazendo uma mega campanha de doação de armação. É voltado para as pessoas que tem óculos antigos guardado em casa, não usa mais, incentivamos a doarem na Rua Governador Pedro de Toledo, 896. Temos uma parceria com os laboratórios que fazem a doação das lentes. Reformamos as armações, colocamos as lentes adequadas conforme receita médica e doamos as pessoas que necessitam e não tem condições de adquirir. Em 2013 doamos cerca de 230 óculos. Nosso objetivo em 2014 é atingir 500 óculos doados. Vemos na periferia, crianças, idosos, que passaram por uma consulta, uns até com sete graus de miopia, e não tem como adquirir óculos. A própria prefeitura tem um projeto que todo ano realiza um mutirão. Só que é muita gente para ser atendida. Um caso que marcou muito foi uma menina, cadeirante, mora em situação de risco, doamos óculos que necessitava. Em paralelo conseguimos uma pessoa que ministrasse um curso de informática para ela, conseguimos reformar a casa dela. Envolvemos-nos completamente, não ficamos apenas na doação dos óculos. Achamos importante que outras óticas participem também desse projeto.

De que forma os jovens podem participar dessas atitudes solidárias?

Existem muitas formas de participação, uma delas, que podemos fazer é o trote solidário, onde o calouro ao receber o trote quando ingressa no ensino superior, ele faça desse trote uma ação social. Algumas cidades já realizaram esse tipo de trabalho. Independente de profissão, religião, classe social, é gostoso poder ajudar outras pessoas, afinal somos todos iguais. Tempo existe, se a pessoa puder fazer um pouco que seja, para alguém mais próximo, da própria família, um amigo, teremos um mundo totalmente diferente. Hoje cuido de idosos, de crianças, da minha família, da minha casa, da minha empresa. Minha família ajuda, participa de alguns eventos. Temos que ter o apoio da família para continuar fazendo esse trabalho.

domingo, maio 04, 2014

ANTONIO CARLOS MORELATO JÚNIOR MOREL MORELATO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 29 de abril de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
 
 
ENTREVISTADO: ANTONIO CARLOS MORELATO JÚNIOR ( MOREL MORELATO)
 

Morelato é assim que muitos o chamam. Morel foi uma abreviatura criada pelas pessoas com maior convivência com o artista. A junção de Morel Morelato ficou sonora. Artista plástico, criador de novas técnicas, ele transformou o secular e trivial móvel infantil em uma expressão de arte. O que causa impacto a quem conhece as obras de Morelato é a contradição entre o mobiliário infantil, com motivos lúdicos, e sua arte, pinturas em tela, com expressão forte, pesada, densa. Se a vida imita a arte, a arte de Morelato retrata a pluralidade do ser humano.
Antonio Carlos Morelato Júnior nasceu a 7 de julho em Ribeirão Preto. É filho de Antonio Carlos Morelato e Mercedes Almeida Morelato que tiveram os filhos: Vera, Antonio Carlos, Maria e Sandra. 
Qual era a atividade profissional do seu pai?
Ele era proprietário de uma fábrica de balas. Começaram fabricando em Ribeirão Preto as balas Balas Rin Tin Tin, também fabricaram a bala Chita. A bala Rin Tin Tin começou quase em um fundo de quintal, depois que virou uma fábrica. Eu cresci em uma fábrica de doces, além das balas comuns, tinha as recheadas, tinha uma linha de chocolates, bombons, lembro-me de uma bala de menta recheada com licor de menta.
Você fez o curso primário em que escola de Ribeirão Preto?
Estudei no Colégio Marista, que inicialmente era denominado Marcelino Champagnat, lá estudei o primário e o ginásio. Tínhamos atividades esportivas, eu jogava futebol, era atacante.
Você chegou a ser motivado a seguir a carreira religiosa?
Eu era muito rebelde nessa parte religiosa, era um sacrifício ter que freqüentar as missas celebradas em latim. A igreja do Colégio Marista era muito bonita. Eu admirava aquelas santas que adornavam a igreja. Sentia uma atração muito grande pela arte com que eram feitas. Eram lindas. As imagens, o próprio altar, as peças em mármore. Eu me impressionava pela arte, não pela parte religiosa.


Em Ribeirão Preto você teve algum contato cultural além da escola?
Trabalhei no Museu Histórico e no Museu do Café. São dois museus no mesmo prédio, eles pertencem a municipalidade, mas é dirigido pela USP.
Como você ingressou no museu?
Fiz um concurso, eu tinha muita habilidade, fui contratado para trabalhar no museu, cuidava da manutenção, exposições. Fiz um curso com uma diretora de um museu do Rio de Janeiro, como eu tinha noção de arte procurei evitar que alterassem as características originais das peças existentes no processo de manutenção das mesmas. Já naquela época a idéia era de fazer um museu dinâmico, foi um período em que havia muitos jovens trabalhando lá, e a idéia de achar o museu estático era considerada um absurdo. O Museu do Café, que é ao lado, é em um casarão que pertenceu a Francisco Schmidt. Em 1913, Francisco Schimdt era o maior produtor de café do Brasil e recebeu o título de "Rei do Café". Ele construiu e morou nesse casarão, na época o local era uma fazenda. Ele alavancou muitas iniciativas econômicas e culturais em Ribeirão Preto. Trabalhando no museu, achamos que não deveria ser estático, as pessoas poderiam achar que estavam sempre vendo expostas as mesmas peças. Com o apoio de um diretor começamos a mudar o museu inteiro. Fizemos uma exposição revolucionária, o Pietro Maria Bardi esteve lá e me fez uma dedicatória dizendo que estava feliz em ver alguém tão novo já mostrando como um museu deveria ser. Até a pouco tempo tinha essa dedicatória guardada, perdi na ultima enchente do Rio Piracicaba, que transbordou e as águas destruíram tudo que atingiram. Outra pessoa que conheci foi Roberto Burle Marx.


O conceito de museu ainda não ficou muito claro para uma parte da população?
Museu é um local problemático. A pessoa tem uma garrafa velha que pertenceu a alguém, mas que não tem importância histórica nenhuma, a pessoa quer doar. Muitas vezes querem doar tudo que é coisa velha. Museu não é um depósito de coisas velhas. Nós conseguimos fazer uma reserva técnica ótima, conseguíamos substituir as coisas, a cara do museu estava sempre mudando. O Museu do Café em Ribeirão Preto parece que é o único cujas peças são originais, foram de fato utilizadas. Na época em que eu trabalhava lá, um pessoal de Tókio fez algumas réplicas de peças expostas no Museu do Café em Ribeirão Preto e fez um museu semelhante lá no Japão. Passaram meses e fizeram uma reprodução do nosso museu.
Até que idade você permaneceu trabalhando no Museu?
Até uns 26 anos. Foi quando conheci Henriete Bortoletto Maluf, mãe dos nossos filhos Laurita, Ramsés e Dark. Ela estudava biologia em Ribeirão Preto, eu trabalhava no museu, almoçávamos na USP, foi lá que nos conhecemos. Ela assumiu uma cadeira em uma escola em Santos, mudamos para Santos, no inicio moramos no Canal 5, depois fiz um ateliê em um bairro mais afastado chamado Humaitá. Lá me dei muito bem com os caiçaras. Havia um mangue rico em argila, fizemos grandes esculturas com esse material.
Quando estava no Museu do Café em Ribeirão Preto você já fazia arte sua?
Eu fazia pintura e escultura, trabalhei muito com argila e pedra sabão. Noventa por cento das peças mais antigas que eu tinha aqui foi perdida na enchente do Rio Piracicaba em 2011. Boa parte desse material não está mais comigo, eu vendi para um cientista francês, Christian Feller, que fazia um trabalho na ESALQ. Ele comprou um container de obras minhas. Todas as esculturas premiadas, trabalhos que eu tenho, estão na França.


Como foi o período em que você morou em Santos?
A pintura sempre foi o meu forte, eu comecei a entrar bastante em salões de arte e ganhar prêmios. Após uns três anos decidimos vir à Piracicaba.
Como você classifica sua arte?
Tem essa coisa mais comercial, que é a linha infantil, é arte, cada peça é única, um critico de arte, fez com que eu participasse de uma exposição no Museu de Arte Contemporânea da USP, ele me classifica como um expressionista nato, voltado muito para o expressionismo alemão. Ele também não entendia como de uma arte lúdica, infantil eu também fazia arte expressionista.


Você inconscientemente pode estar transmitindo em sua arte um conflito natural do ser humano com ele mesmo?
Acho que pode ser. Uma vez estava ouvindo Vinicius de Morais dizendo que o poeta é um grande mentiroso. Ele inventa uma dor onde não existe. Às vezes penso que é isso. Ou se artisticamente eu consigo transmitir o lado do sofrimento e o lado alegre.  
Qual técnica de pintura você usa em seus quadros?
É uma técnica mista, fui inventando, no inicio era com pigmento de casca de cebola, eu sempre ouvi falar que ao ferver a casca de cebola com o pigmento tingia-se cabelo. Isso é fácil de comprovar, basta cozer um ovo junto com casca de cebola, a casca do ovo ficará amarelada.  Hoje eu misturo muito, trabalho com pigmento de tinta industrial, verniz a base de água. O detalhe é que não uso quase o pincel, pinto com palha de aço, eu usava muito a ferrugem da palha de aço. Observando a ferrugem criada pela palha de aço na pia, percebi que era muito difícil de tirar a ferrugem da pedra.


Para adquirir uma obra de arte sua tem que estar com a carteira recheada?
(Risos) É difícil comercializar uma obra de arte quando não se está em um grande centro. Quase a totalidade dos artistas de Piracicaba não consegue sobreviver da venda dos seus quadros. Isso ocorre em outras áreas como escritor, músico. Não sei como é o mercado fora do Brasil, a impressão é de que há mais respeito pelos artistas.
Ainda vivemos resquícios do período colonial?
O homem que lê, que está bem informado torna-se um obstáculo aos que desejam o poder para se beneficiarem. Percebe-se que mesmo as grandes escolas particulares não levam as crianças para visitarem exposições. Sempre que vou dar oficinas nas escolas eu falo que felizmente estudei em uma escola que incentivava a arte. Na época os Maristas ensinavam música, esporte, futebol, cinema e já se preocupavam com ecologia, estamos falando de três décadas atrás.
As escolas, mesmo estaduais, ensinavam musica, arbitrariamente decidiram excluir música do ensino. Isso resultou no que temos hoje. Com a arte foi a mesma coisa?
Tive aulas de arte na escola. É importante dar essa formação para a criança até seus oito ou dez anos. Mesmo em escolas tidas como de alto nível, os próprios pais sequer conhecem a Casa do Povoador. Segundo alguns educadores, hoje há um grande temor em tirarem as crianças fora da escola pelo risco e pelo medo da violência. No meu ponto de vista, isso não se justifica. Há dez anos consegui levar crianças de seis anos para uma Bienal. Não aconteceu nada. Hoje já estão grandes, passam por mim e se lembram daquela visita a Bienal. Essa pessoa não irá esquecer nunca mais!  Ao que parece as escolas preparam o aluno para entrar na faculdade. Só isso. É um objetivo comercial. Não há a preocupação de formação da pessoa com filosofia, arte.
No seu ponto de vista o que é mais importante, o objetivo comercial, do aluno ser treinado para entrar em uma faculdade ou receber uma educação onde haja a formação humana?
Sem duvida, a formação humana é mais importante.
Ao seu ver, os sérios problemas éticos que encontramos em quase todas as áreas vem dessa formação incompleta do individuo?
Infelizmente a conduta de muitos indivíduos é movida pela falta de ética, má formação de caráter. Vemos diariamente desde alguém estacionando em local impróprio até pequenos delitos praticados por pessoas que o fazem pelo simples prazer de transgredir. Muitas vezes levam alguma coisa que nem vão usar, mas querem levar. È o desejo da posse.
Atualmente você trabalha em duas frentes, a sua arte expressionista e a arte lúdica. Como surgiu a arte lúdica em sua vida?
Comecei a fazer isso em Santos. Meus filhos eram pequenos, comecei a fazer quadros com desenhos infantis, usando giz de cera, a resgatar as brincadeiras de criança, eu escrevia muitos poemas. Tenho poemas voltados ao publico infantil e outra linha amarga. Quando vim para Piracicaba, o Colégio Piracicabano adquiriu uma série de trabalhos meus e recentemente eles me chamaram para dar uma oficina e me mostraram que meus trabalhos estão lá. Ainda em Santos percebi que não havia nada que eu gostasse para as crianças brincarem. As mesas eram brancas, com algum adesivo com motivo infantil. Passei a fazer dentro do apartamento mesmo, algumas peças já utilitárias. Logo em seguida viemos para Piracicaba, passei a fazer no apartamento em que viemos morar. Era tudo manual, na tinha equipamentos mais apropriados. Foi bom porque os meus filhos cresceram no meio disso. Em alguns quadros desses que foram para a França eu deixava que eles fizessem os desenhos deles, pequenininhos, para não interferir. A casa inteira era arte.
Alguém já lhe disse que fisicamente você lembra Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Ruiz y Picasso, ou simplesmente Pablo Picasso?

Já! (Risos) Eu queria ser um pouquinho dele!
O que os seus filhos acham de você trabalhar com arte?
Eles devem gostar. Tiveram uma infancia e cresceram de uma forma ludica, com arte, a mãe deles também gostava muito de ler. Eles tem um respeito muito grande pelas pessoas. São calmos, tranquilos, não se enveredaram pelos caminhos das drogas.

O momento de criação de um artista é sagrado. Cada um tem seu próprio clima para criação. Qual é o seu?
Ao criar minhas telas, tenho como companhia uma boa musica, um jazz ou blues e uma taça de vinho. Nada mais do que isso além do material para pintura.
Já aconteceu de alguém vizualizar em uma obra sua coisas que você nem de longe imaginou?
Pintura é como musica, se for bom musico tem que ensaiar todo dia. Pintar é a mesma coisa. Por isso sai facil a pintura. Muita coisa no quadro é acidental. A arte tem uma coisa muito interessante, as vezes você pinta algo aqui e tem alguém a milhares de quilômetros pintando alguma coisa muito parecida. (Nesse momento Morelato interrompe e vai buscar um trabalho seu, que é fruto das suas pesquisas com materiais alternativos). Você está vendo essa obra? Foi feita com bombril e alcool, raspando em cima de uma fotografia,  descobri que as fotos de papel que ficam escuras, ao serem raspadas com bombril e alcool formam essas figuras. Foi uma técnica que desenvolvi, ai em cima desse trabalho eu passo para uma tela maior. É impressionante como ao raspar surge a figura. Atualmente a maior dificuldade é conseguir fotografias de papel, inservíveis, para realizar esse trabalho. As fotos digitais suprimiram as fotografias reveladas em papel. Uso nos contornos o lápis dermatográfico, que é utilizado muito em cirurgias.

Você não pensa em dar oficinas para as crianças em escolas?
Andei dando oficinas nas escolas, nas particulares eu cobro, mas na pública além de não cobrar muitas vezes tenho que pagar o material que os alunos irão utilizar. Não é caro, mas se as pessoas apoiarem até abro mão do cachê. Na última que fiz dei o curso aos pais e aos alunos, mas no fim tive que levar o material, eu percebi a situação de precariedade deles. A oficina foi ótima. Uma lata de verniz custa em torno de R$ 50,00 , só que dá para dar oficina quase o ano inteiro. Esse ano já fui em duas escolas publicas sem ganhar nada. Muitas oficinas que dei em escolas particulares os alunos acabaram trazendo os pais para conhecerem o ateliê.

Você trabalhou com pessoas em situação de risco?
Trabalhei com psicóticos do Hospital Espirita Dr Cesario Motta Junior. Atualmente continua um grupo, e encontrei com uma das coordenadoras que me disse que tem pacientes ainda pintando por terem gostado muito.
Esse trabalho junto a detentos pode trazer bons resultados?
Funcionaria! Já pensei em fazer alguma coisa, não com o objetivo de industrializar. Já fiz trabalhos em comunidades de bairros distantes, como no Bosque do Lenheiro, alguns tem muito talento, o que falta é incentivar.

Sua linha ludica está em vário países?
Já vendi para pessoas de diversos países, holandeses gostam muito dessa linha. Tenho obras na Italia, França, Estados Unidos,  Teve caso em que tive que fazer o produto, e deixar pronto para o cliente montar no país dele. Recebi a visita de um general americano, do Texas, um homem enorme, que adquiriu alguns itens para decorar seu gabinete. Não contei, mas sei que produzi milhares de obras ludicas e estão espalhadas pelo mundo todo. Na linha lúdica uso de cinco a nove cores.
Você tem recebido visita des escolas em seu ateliê?
É um prazer receber as visitas das escolas, só peço que agendem com certa antecedência. Em abril deste ano, 2014, já vieram duas escolas. Acho importante que as escolas tragam seus alunos, muitos acham que artista só existe morto. Outro dia veio uma menina, de uns 8 anos, e disse-me que achou que eu era uma lenda, ja estivesse morto. Isso tem uma lógica: eles estudam os artistas que já morreram! Deduzem que todos os artistas estão mortos!
Você é um artista premiado?
Recebi prêmios em Ribeirão Preto, Santos, São Vicente, Cubatão, quando ganhei o Mapa Cultural aqui, os quadros foram adquiridos pelo Estado de São Paulo e estão na Pinacoteca do Estado de São Paulo como acervo., trata-se de uma série denominada: “ O Amor é Um Imenso Vazio Tentando Preencher Um Monte de Nada”. Morelato está no facebook como Made In Morelato.

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