sexta-feira, abril 24, 2015

JOSEFINA HORTÊNCIA DE CAMARGO E MARIA INÊS CAMARGO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS 

JOÃO UMBERTO NASSIF 

Jornalista e Radialista 
joaonassif@gmail.com 
Sábado 25 de abril de 2015.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana 

As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 

ENTREVISTADAS: JOSEFINA HORTÊNCIA DE CAMARGO E                                     MARIA INÊS CAMARGO



                                Da esquerda para a direita as irmãs Maria Inês e Josefina


Duas irmãs, uma advogada e uma jornalista, buscam resgatar a passado da família. Pesquisadoras incansáveis nasceram e residem em São Paulo, decididas, tomaram como rumo a cidade de Piracicaba. Sabem que muito da história de seus ascendentes está em nossa cidade. Revelam ainda que a família foi proprietária de dois ícones do comércio piracicabano, as lojas “A Porta Larga” e “Loja Duas Âncoras”.
Qual é o seu nome?
Josefina Hortência de Camargo, meu nome tem origem no nome da minha avó, a piracicabana Josephina Hortência Soares de Camargo, casada com o piracicabano João Baptista de Camargo. Eles residiram em Piracicaba até 1920. Sou a neta mais nova dela, em sua homenagem recebi o seu nome. Eu nasci na cidade de São Paulo, no bairro da Lapa a 4 de outubro. Meu pai, Ismael Camargo, filho do casal João Baptista e Josephina. Ele nasceu em Piracicaba, foi ainda muito jovem para São Paulo, estudou no colégio São Bento. Fez o curso de medicina, e acabou não voltando mais para Piracicaba. Minha mãe, Maria Paula Camargo, nasceu no Rio de Janeiro e mudou-se ainda menina para São Paulo.
Maria Inês Camargo, você nasceu em São Paulo onde exerceu qual profissão?
Nasci em São Paulo a 18 de setembro, sou jornalista.
Maria Inês como surgiu o interesse em fazer essa pesquisa com tanta dedicação de ambas?
Acredito que com o passar do tempo passamos a sentir saudade de todos nossos entes queridos que já nos deixaram. Coloco a cabeça no travesseiro e lembro-me de uma frase qualquer, penso: “Isso aqui o meu pai dizia e é a realidade!” Os anos passam a tecnologia muda, tanta coisa mudou, mas continuo pensando “- É aquilo mesmo que meu pai falou! Ele estava certo!” Ou foi algo que alguma tia falou. Esse sentimento despertou o interesse em pesquisar a história mais próxima, que é a da sua família, e descobre várias pérolas.
O que vocês descobriram, por exemplo?
Descobrimos que o nosso avô João Baptista de Camargo teve treze filhos: Nasceram em Piracicaba: João Baptista Jr, Maria Angélica Camargo Almeida, Antonio Bento de Camargo Neto, Josephina Camargo Silveira, José de Camargo, Ismael Camargo, Joanna D!Arc Camargo Jany. Nasceram em São Paulo: Isabel Camargo Simões, Paulo de Camargo, Beatriz de Camargo Pujó, Eliza de Camargo, Helena Soares de Camargo e Jorge de Camargo.  Os oito primeiros filhos nasceram em Piracicaba, os outros cinco nasceram em São Paulo, quando meu avô vendeu seus negócios em Piracicaba e transferiu-se para São Paulo.



Maria Inês, o seu avô atuava no comércio em Piracicaba?
Meu avô fundou a Loja “A Porta Larga” em sociedade com o irmão dele José Basílio de Camargo. (Cabe observar que o livro ACIPI 80 anos, editado em 2013, na página 58, cita que o nome “Porta Larga” surgiu em fevereiro de 1884 quando Eduardo de Paula Carvalho abriu uma sapataria a rua do Commercio (Governador Pedro de Toledo) canto (esquina) com a rua Direita ( Moraes Barros).O proprietário trazia as últimas novidades das melhores lojas da Corte, calçados e também armarinho, chapéus de sol e “lindíssimos artigos da moda”. O texto prossegue afirmando que no final de 1887 João Baptista de Camargo e seu irmão José Basílio de Camargo, compraram a loja e participaram seus fregueses que estavam mudando seu depósito de secos para o prédio onde ficava a Porta Larga. Em 1895 a loja passa por uma reforma). A loja ficava inicialmente na esquina da Rua Governador com Moraes Barros, ao lado direito da Rua Moraes Barros no sentido centro para o bairro, mais tarde ali funcionou a Farmácia do Povo. João Baptista de Camargo e seu irmão José Basílio de Camargo fundaram “A Porta Larga” em um prédio na mesma esquina do lado esquerdo da Rua Moraes Barros, onde funcionou até se dar o seu encerramento em 2006.  Em 1921 foi vendida para Pelippe Zaidan Maluf com a ajuda de Elias Zaidan, Jorge e Hide Maluf).

Quando João Baptista de Camargo vendeu a loja "A Porta Larga" entre outros itens comercializava louças importadas, estas duas peças ainda existem e a fotografia é uma cortesia da proprietária.   
Maria Inês essa loja trabalhava com o que?
Eles tinham várias coisas, vi referências, anúncios de jornal da época, dizendo que eles tinham desde gêneros alimentícios até produtos para uso doméstico, agrícola.
Josefina complementa:
O que as tias contavam é que o pai (João Baptista de Camargo ou então o irmão e sócio João Basílio de Camargo) ia de navio para a Europa, para adquirir louças finas, porcelanas, sedas, essas coisas mais sofisticadas. Ele fazia as compras e trazia para serem comercializadas pela sua loja.
Em que ano faleceu João Baptista de Camargo?
Ele nasceu a 16 de junho de 1870, faleceu em 1940.
Qual é a origem da família?
Josefina responde: “- É o que estamos pesquisando!” O pai da minha avó Josephina Hortência Soares de Camargo era português. Veio de Portugal para Piracicaba, ele trabalhava como lavrador. O pai do meu avô João Baptista de Camargo, não tenho certeza se era piracicabano ou não, mas eles tinham vinculo com Piracicaba através do Antonio Bento e do irmão Joaquim Cipriano de Camargo. Joaquim Cipriano de Camargo foi o padre que celebrou a missa na inauguração do Cemitério da Saudade. Na família todos tratavam como “tio padre”, descobrimos isso recentemente. Ele tinha uma tia, Maria Justina de Camargo, diziam que era uma excelente quituteira. Procurei saber quais eram os quitutes da época, eles comiam o que plantavam e o que criavam. Tinha muitas receitas a base de porcos e frangos, muitos alimentos feitos a base de mandioca: sopas, ensopados, farinha de mandioca era utilizada em lugar do trigo, que praticamente não existia. Conhecer os costumes da época despertou-me muita curiosidade.  Maria Justina de Camargo, tia do meu bisavô, isso por volta de 1870. A maior dificuldade é encontrar documentos dessa época.
Josefina, qual era a principal fonte de lazer dessa época?
Percebi que o grande divertimento deles era em função da igreja. Divertiam-se através das festas religiosas. Era o núcleo deles. Até a proclamação da república os registros eram todos feitos nas igrejas. Consegui ver os registros de nascimento de João Baptista de Camargo, de Josephina Hortência Soares de Camargo, do falecimento do Antonio Bento de Camargo, pai de João Baptista de Camargo. Antonio Bento de Camargo está sepultado aqui no Cemitério da Saudade de Piracicaba. Há uma rua com o nome dele aqui em Piracicaba.
Maria Inês, como era o seu avô João Baptista de Camargo?
Seus pais foram Antonio Bento de Camargo e Sebastiana do Amaral Gurgel, que tiveram cinco filhos: Antonia, José Basílio, João Baptista, Pedro e Maria Angélica. Um fato curioso é Pedro de Camargo foi o fundador e proprietário de uma loja muito conhecida na época: a loja “Duas Âncoras” que de certa forma concorria com “A Porta Larga”.  Pedro de Camargo permaneceu em Piracicaba até por volta dos anos 50. Meu avô João Baptista, ao voltar para São Paulo, acabou envolvendo-se com o comércio novamente. Teve uma loja chamada “Ao Bandeirante”, que ficava no chamado “centro velho” nas proximidades da Praça Julio de Mesquita. Era similar ao que foi a Porta Larga. Nessa loja ele acabou contratando um rapaz para ajudar no atendimento ao público. Esse rapaz chamava-se Gabriel Gonçalves, que com aquele aprendizado, acabou montando seu próprio negocio e tornou-se um grande nome do comércio de São Paulo, montou uma rede de lojas chamada Gabriel Gonçalves conhecido como “GG Presentes”. Na Revolução Constitucionalista de 1932 meu avô aderiu plenamente na luta de São Paulo contra o Governo Federal. São Paulo queria uma constituição, Getulio Vargas negava. Meu avô já era uma pessoa mais idosa, na faixa de mais de 60 anos, os filhos foram lutar na frente de batalha paulista, meu avô ficou em São Paulo e fazia a Ronda Noturna, percorria o quarteirão onde morava, na Rua General Jardim, na Vila Buarque. Havia o temor de que como a maior parte dos homens estava servindo em combate, alguém se aproveitasse disso para invadir alguma residência. Os homens mais velhos das famílias, quase em sua totalidade circulavam durante a noite em cada quarteirão. No inicio da Segunda Guerra Mundial meu avô já estava idoso, vendeu seus negócios e encerrou as atividades comerciais.
Josefina com relação a “A Porta Larga” também havia uma vigilância à noite?
Isso eu descobri na pesquisa, ele e outros comerciantes da região faziam a ronda também com o intuito de segurança, era um grupo de comerciantes que se revezavam, cada noite ia um deles. Eles trabalhavam na loja durante o dia e a noite faziam essa ronda. Foram os primeiros guardas-noturnos. Essa ronda deu origem a Guarda Municipal, isso deve ter sido entre 1890 a 1900.
Em sua busca pela origem dos seus antepassados até que época sua pesquisa abrange?
Chegamos até por volta de 1500, com um ascendente nosso chamado Fernão Ortiz de Camargo, ele era espanhol. Percorrendo a linha do tempo chegamos a Marta de Camargo, que teve treze filhos. Uma das suas filhas é Maria Joaquina de Camargo, que supostamente seria a mãe do Padre Diogo de Feijó. O Padre Diogo de Feijó seria o provável pai de Antonio Bento, na época era muito comum terem filhos, eles não eram a favor do celibato.
Existe alguma documentação a respeito?
Descobri recentemente em Piracicaba, um primo que é filho de José Basílio, esse meu primo disse que toda documentação que tinham sobre Feijó foi entregue à Cúria. Estive nas Cúrias de Piracicaba e de São Paulo, mas não consegui levantar nada a respeito. Em alguns livros, Feijó se declara filho de Maria Gertrudes, que era filha da Marta e irmã de Maria Joaquina. Feijó era uma pessoa muito culta, com grande participação política, foi o fundador de uma loja maçônica, mas com o seu envolvimento com a Corte, com o Império, ele não levou adiante suas atividades maçônicas.
O que motiva vocês duas a se deslocarem de São Paulo a Piracicaba apenas para pesquisar o assunto?
Tudo começou comigo, Josefina. Embora a Inês goste muito também.  Comecei a perguntar-me: Como era o meu passado? Quais informações eu tenho? Vi que tinha muito pouca história. Baseei-me um pouco na história do meu marido, a família dele é espanhola, por parte de pai e de mãe, ele conseguiu fazer a árvore genealógica dele, no ano passado tivemos a felicidade de poder ir para a Espanha e nós fomos à cidade, à igreja, vimos os livros dos registros dos avós, bisavós, dele, aquilo me acendeu uma chama.
Maria Inês, você é jornalista, trabalhou na grande imprensa paulista por alguns anos.
Trabalhei, estudei jornalismo na Universidade de São Paulo – ECA, meu primeiro emprego foi no Jornal da Tarde, do Grupo Estado de São Paulo, permaneci por 10 anos na empresa, trabalhava na reportagem de “Cidades” principalmente. Trabalhei em outros veículos de comunicação, em revistas, em jornalismo especializado na área de construção. Trabalhei no então Diário Popular, que foi vendido e passou a se chamar Diário de São Paulo.
Como era o seu pai?
Meu pai Ismael Camargo, médico, nasceu em Piracicaba, era o sexto filho do casal João Baptista de Camargo e Josephina Hortência Soares de Camargo. Ele estudou na Faculdade de Medicina de Pinheiros, incorporada mais tarde a Universidade de São Paulo. Foi um grande médico, cirurgião, fazia a área de ginecologia e obstetrícia, ele foi assistente do médico que introduziu a cesárea no Brasil, Raul Briquet. Quando meu pai formou-se em 1928 a sua tese já era sobre cesárea. Ele era um médico que se dedicava integralmente a profissão. Ele teve consultório no centro de São Paulo, na Rua Barão de Itapetininga,  trabalhou muito tempo no Hospital Matarazzo, na Maternidade São Paulo, que era uma referência na área, depois trabalhou na rede publica de saúde, inclusive no Hospital Sorocabana.
Maria Inês lembra-se de uma particularidade a respeito do seu pai.
Ele saiu de Piracicaba ainda criança. Conheceu minha mãe em São Paulo, onde se casou. Uma particularidade dele era quando estava chateado ou aborrecido punha-se a cantar o Hino de Piracicaba, lembro-me de um trecho: “Ninguém compreende a grande dor que sente o filho ausente a suspirar por ti...”



Josefina complementa
Lembro-me que meu pai não gostava de dirigir, como tínhamos acabado de nos habilitarmos, adorávamos sair. Ele então pedia para levá-lo para fazer as visitas aos seus pacientes no hospital. Chegou uma época que ninguém mais queria levá-lo nessas visitas, nós ficávamos aguardando no carro dentro do estacionamento, alguém chamava ele entrava em cirurgia. De tanto que ele gostava ficava fazendo cirurgia e ficávamos lá em baixo esperando! Não era uma cirurgia que estava programada, alguém o chamava e ele entrava na sala cirúrgica. Nós às vezes ficávamos horas esperando por ele.
Quando seus pais se casaram foram morar onde?
Na Avenida Dr. Arnaldo, no bairro Sumaré, eles tinham uma diferença de 30 anos de idade. Uma diferença muito grande, mas era um casal muito harmonioso. Ele tinha 50 anos, minha mãe 24. Davam-se muito bem, ficaram casados quase 30 anos. Ele faleceu em 1980. A minha mãe está com 84 anos, uma cabeça excelente!
Maria Inês, com sua experiência e vivencia em grandes veículos de comunicação, a seu ver, porque Piracicaba encanta tanto?
Acho que Piracicaba é uma grande metrópole. A primeira vez que estive aqui foi há uns 30 anos, ao retornar notei que a cidade cresceu muito. As grandes empresas deram um eixo econômico para a cidade. A cana-de-açúcar deu um grande impulso. A Escola de Agronomia Luiz de Queiroz é uma referência para o país todo. Foram dois grandes marcos. È uma cidade que parece oferecer uma qualidade de vida muito boa.
Josefina, o que significa para você esse mergulho ao passado?
Acho que é a busca pela minha origem. De onde vim. Comecei a descobrir na família personagens que me chamaram muito a minha atenção, uma delas é a Maria Justina de Camargo, tia de Antonio Bento de Camargo e Joaquim Cipriano de Camargo. Não me considero uma boa cozinheira, mas descobri um livro chamado “As Receitas do Imperador”, ele é rico em fotos e curiosidades, mostra como faziam as comidas naquela época. Usavam banha que chamavam de “manteiga de leite”. Os doces eram feitos a base de frutas. Faziam compotas. Tentei cozinhar alguns pratos baseando-me naquelas receitas. Tive que fazer algumas adaptações de ingredientes. Tem uma receita de peru recheado que desperta a salivação.  Eles faziam a farofa com pão colocavam diversos ingredientes, aquilo parece que deve ficar muito bom! Era comum ele comerem muito peru. Outra coisa que me chamou muito a a atenção é que nessa época eles descobriram o banho-maria. Os banquetes eram feitos para muitas pessoas, as mesas das famílias eram muito grandes, com isso preparam tudo com antecedência, havia a dificuldade em aquecer o alimento na hora de servir. Descobriram aquela tampa usada para o prato não esfriar. (Cloché ou abafador).
Qual religião era seguida pela família?

Pode-se afirmar que há dois ramos: O irmão do João Baptista, o Pedro, era espírita, teve uma participação muito grande na Federação Espírita em São Paulo. Meu avô João Baptista também era espírita, embora não tivesse a mesma dedicação que seu irmão Pedro teve. Outro lado da família é católico. Meu pai era muito engraçado no que ele falava: “Eu sou ateu, graças a Deus!”. Duas gerações anteriores, dentro da família Camargo, têm muitos familiares que foram padres. Sebastiana do Amaral Gurgel era casada com Antonio Bento de Camargo, pais de João Baptista de Camargo, ela tinha um sobrinho Manoel Joaquim do Amaral Gurgel, isso por volta de 1870, ele era padre, deu o nome a Rua Amaral Gurgel, é tido como um excelente deputado. 

sexta-feira, abril 10, 2015

GUSTAVO GUEDES BORTOLETTO (GUSTAVO BOLEIRO)

Entrevista realizada no dia 31 de março de 2015 A Rua Prudente de Moraes, 470
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS 

JOÃO UMBERTO NASSIF 

Jornalista e Radialista 
joaonassif@gmail.com 
Sábado 11 de abril de 2015.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana 

As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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http://www.teleresponde.com.br/ 

ENTREVISTADO: GUSTAVO GUEDES BORTOLETTO 

                                               (GUSTAVO BOLEIRO)


O artista Gustavo Guedes Bortoletto é conhecido no meio artístico como Gustavo Boleiro, um cognome que adquiriu quando se dedicou ao futebol, esporte ao qual dedicou desde cedo muitos anos de treinamento e aperfeiçoamento, chegando mesmo quase a ser tornar um profissional do futebol. Desde os doze até os dezoito anos sempre jogou, tendo integrado os quadros dos times XV de Novembro de Piracicaba, Rio Branco de Americana, União de Araras, União Barbarense. Entre 17 e 18 anos foi para a Turquia onde fez um teste em um time local, foi aprovado, só que decidiu não permanecer naquele país. Gustavo nasceu a 10 de março de 1986, em Piracicaba, é filho de João Luiz Bortoletto e Rosangela Nogueira Guedes Bortoletto que tiveram os filhos Thaísa e Gustavo.  


Com que idade você já praticava esportes?
Acho que com três anos eu já chutava bola. A seguir entrei na escolinha de futebol do Clube de Campo, tive aula com o Américo, com Armando Bala (Filho do Cícero fotógrafo) permaneci lá até os 13 anos, quando comecei a jogar mais profissionalmente, fui jogar no mirim do XV. Hoje jogo como lateral direito, já joguei de meia, volante.
Você estudou em qual escola?
Estudei no Dom Bosco Assunção ate a oitava série, depois estudei em várias escolas: COC, Anglo Portal, Dr. Jorge Coury, em função da minha dedicação ao futebol. Fiz o curso de jornalismo na Unesp em Bauru. No segundo ano da faculdade comecei a me interessar por humor. Participei de grupos de teatro, extracurricular. Volteia à Piracicaba, fiz um curso de Arte Dramática no SENAC local. Eu queria dedicar-me a alguma coisa ligada ao teatro, em especial ao humor.

                                                        GUSTAVO E SEU PAI
Você tem a percepção de quando surgiu essa sua atração pelo humor?
Sempre gostei de piada, embora nunca tenha pensado em ser o apresentador das mesmas. Quando surgiu o stand-up (do inglês stand-up um termo que designa um espetáculo de humor executado por apenas um comediante, que se apresenta geralmente em pé), é um humor de cara limpa, você está sozinho no palco, o comediante, o microfone, contando fatos do cotidiano. Diz-se que stand-up é um termo utilizado não pelo fato de se estar em pé, mas sim por posicionar-se sobre um assunto. Tem que ser usado o texto autoral, são textos que o próprio apresentador cria, é permitido imitações. Tenho textos sobre o meu pai, sobre a minha mãe. Tenho piadas sobre Marcelo Rezende, Datena, eu abordo as coisas do cotidiano. (Nesse momento Gustavo imita Marcelo Rezende com grande semelhança.). A piada é relativa a forma como ele fala, O Marcelo Rezende vai falando de uma forma que você percebe que ele está sempre com o nariz entupido. Parece que está com rinite! E ele vai falando e vai perdendo o fôlego! Acho isso muito engraçado! Acabo levando para o palco observações do que vejo no cotidiano. Tudo pode virar piada, desde um celular que a pessoa não atende até um mosquito, uma notícia da política. Mantém a lente do humorista sempre atenta.

O humor é a forma mais eficaz de se fazer uma crítica?
Pelo menos acho que é uma forma eficaz de manter a atenção da pessoa, de elas entenderem e prestarem a atenção. Faço shows em empresas com caráter educativo sobre determinado assunto. A aprendizagem dos funcionários, dos colaboradores, é muito maior quando se transmite uma mensagem através do humor do que fazendo uma abordagem apenas técnica, sem um atrativo que prenda a atenção do ouvinte. Não tenho os dados precisos no momento, mas está confirmado que se utilizando do humor pode-se aprofundar por mais tempo uma exposição técnica sem que haja perda de interesse de quem assiste. A abordagem deve ser bastante técnica, bem elaborada, com consistência, dar consciência da importância do assunto, porém de forma extremamente agradável. Tenho uma apresentação destinada a corretores de imóveis, é muito interessante como os clientes valorizam termos em inglês utilizados pelos corretores. Aguça o interesse do cliente. Nesse meu show dou instruções adversas, com o objetivo de conscientizar o profissional. Crio situações inusitadas, totalmente absurdas, em um limite ridículo, para que o profissional examine como tem sido seu procedimento, possivelmente nunca tenha chegado a essas situações extremas, mas pode correr o risco de inadvertidamente perder uma negociação por um pequeno detalhe.


Você era o típico aluno que era o mais engraçado da turma?
Não muito, eu era muito tímido. Acho que descobri isso A minha faculdade tinha um projeto chamado Web Rádio Unesp Virtual, era uma rádio gerenciada somente pelos alunos. No primeiro ano entrei participando d um programa de esportes. No segundo ano criei um programa de tênis chamado “Top Spin”. Desde os onze ou doze anos que eu jogo tênis. Criei um programa de humor, chamado “Errando o Furo”, baseado no “furo” jornalístico, um radio jornal com notícias inventadas, onde era criador, redator, locutor, editor e editor geral. Nessa mesma época comecei a ter contato com vídeos de “stand up”, foi quando ele estava começando no Brasil. Quem fazia praticamente era o Rafinha Bastos, o Danilo Gentili.
Quais temas você aborda em seus shows?
Gosto muito de falar sobre família, profissões, coisas básicas do cotidiano. Tenho um texto sobre siglas. Que usamos no cotidiano. Temos siglas para tudo na vida. “Por exemplo: “Meu nome é Gustavo, nasci em BH, fui criado no ABC, moro no CDHU da ZL que fica na PQP e faço ADM na GV mas estou de DP. Estava na minha BMW ouvindo um CD do RPM no MP3 tomando energético TNT mexendo no GPS quando um PM pediu minha CNH. Como eu só tinha RG e CPF estava vencido o IPVA o PM me levou para a DP me botou no SPC fez um BO. Lá eles me torturaram passei 10 horas vendo numa TV de LCD em FULL HD todos os CDs do KLB”. Claro que é uma história fictícia.
Quem quiser entrar em contato com você pode fazer como?
Tenho meu e-mail:  contato@gustavoboleiro.com.br Faço shows, palestras, focadas em determinado assunto, mas com o humor sempre presente.

Você participa de peças publicitárias
Faço comerciais para a televisão. Acabei de fazer um teste para a Renault. Fiz comercial com o Rubinho Barrichello. Já fiz diversos comerciais que são veiculados pela Rede Globo.



Você faz shows em Piracicaba?
Aqui faço na “Cachaçaria Água Doce” uma vez por mês, todos os meses, isso já há uns 18 meses. Stand Up já faço há quase seis anos. O CQC surgiu quando encontraram o pessoal apresentando-se em um bar. Os produtores argentinos do “Quatro Cabezas” que são os produtores do “Gora é Tarde” do “CQC”, o Diego, se não me engano, foi ao bar, assistiu ao show de Stand Up do “Clube da Comédia” apresentado por Oscar Filho, Rafinha Bastos, Danilo Gentili, e Marcela Leal acho que Marcelo Mendes estava no elenco nessa época. Ele gostou e levou esse pessoal para fazer um teste. Ai surgiu o CQC que é um marco no humor brasileiro.
O que você acha do humor feito pelo programa Pânico?
Em minha opinião só quem trabalha com humor sabe como é difícil obter conteúdo para gerar um programa de duas a duas horas e meia por semana. Tem quadros mais elaborados, que eu gosto, assim como tem quadros que passam a impressão de que foram colocados para completar o programa.
O publico brasileiro aceita passivamente programas de qualidade duvidosa?
Isso é uma questão de cultura popular. Muitas vezes não têm nem outra programação para usar como referência. A revista Piauí é uma revista de humor só que grande parte da população nem sabe da existência dessa revista.
Durante uma apresentação há pessoas que são inconvenientes?
Todo artista tem muita história sobre o comportamento do seu público, inclusive de alguns raros inconvenientes. Normalmente apresento espetáculo com outros artistas que também se apresentam. Um comediante apresenta-se, em seguida chama o próximo, e assim todos se apresentam, individualmente. Aqui em Piracicaba desempenho o papel de mestre de cerimônias. Entro, coloco o publico a vontade, busco descontrair o ambiente, e assim vou chamando os comediantes a cada intervalo. O nome do show chama-se “Gustavo Boleiro Convida”. Todo show trago três convidados diferentes, normalmente faço o show na terceira ou quarta semana. O espetáculo dura de uma e quinze minutos a uma hora e meia. Meus vídeos estão todos no You Tube. Co relação a interação com a platéia, certa vez estava realizando um show em uma casa noturna de uma cidade próxima, um dos clientes, excedeu-se na ingestão de bebida, e tornou-se inconveniente, interferindo sempre que podia. Foi quando perguntei ao público: “- Após conhecer uma garota, após quanto tempo é recomendável que se telefone para ela?” Imediatamente o sujeito embriagado, com voz pastosa disse: “-Imediatamente!” Respondi-lhe: “-Está vendo porque você está desacompanhado?”. O publico veio abaixo. Foi um delírio só! O show em si é baseado em um texto. Esse é o roteiro básico, se alguém falar alguma coisa eu não posso ignorar. Há o contato direto com o público. Fiz um curso de improviso durante três anos.

Você costuma assistira gravações de artistas que fizeram sucesso?
Às vezes ocorre sim. Tem um vídeo do Chico Anísio fazendo a entrega do Prêmio Roquette Pinto fazendo Stand Up mesmo. Sensacional! Ronald Golias era muito bom também. É um pessoal de outra escola. O Golias era engraçado naturalmente, o Oscar Filho disse que encontrou o Golias uma vez, e um consultório aguardando para ser atendido. O Golias com seu jeito característico de falar disse-lhe: “- Sabe meu amigo o que eu queria agora? Queria dormir!”. Ri muito só de ele ter falado isso! A própria Dercy Gonçalves, não era moldada para os padrões da televisão, era muito ela mesma.

Quantos comediantes de Stand Up existem hoje no Brasil?
Estávamos discutindo isso esses dias! Acho que vivem mesmo de comédia não existem nem mil.
É bastante?
Não é bastante! Quantos dentistas, médicos existem? Basta imaginar quantos bares, teatros, casas de shows existem em todo o Brasil. Tem espaço para todo mundo que quiser, que é bom. Cada um cria seu espaço também.
A comédia é melhor para quem apresenta ou para quem assiste?
Comecei a fazer de tanto gostar de assistir. Para mim a comédia é uma necessidade. Não me imagino parara de fazer teatro, comédia. Acredito que não consigo. Mesmo que pare de fazer profissionalmente vou ficar todo dia postando uma piada no face book.
Você acredita que exista talentos ainda não descobertos?
Penso que não adianta ter apenas talento. Tem que haver dedicação.  Em Piracicaba meu show está bem, lotado, mas estamos sempre cuidando para que continue assim. Só ter talento e não dedicar-se para escrever uma piada nova, não produz um show, ai fica difícil. Tem comediante que está com o mesmo show há 10 anos.
Existe apresentador de stand up que usa serviços de algum redator?
Eu já escrevi algumas coisas para alguns amigos. Escrevi uma série de humor chamada “Consultor de Carreira”. O consultor Max Gehringer responde dúvidas corporativas. Fazíamos um consultor aconselhando o  contrário da maneira correta de ser feita. Algo sem lógica.   
Gustavo você aceita convites para shows em eventos domésticos?
O humor é semre bem vindo em qualquer evento. Tenho essa disposição para estar presente em confraternizações, celebrações, onde houver um público. Basta entrar em contato pelo e-mail contato@gustavoboleiro.com.br. Atualmente tenho três shows corporativos, u é especializado na área imobiliária. Outro que é voltado pró-atividade, segurança do trabalho. Outro show é o Happy Hour que faço junto com Jansen Serra, focado principalmente em segurança do trabalho. Temos outros shows abordando espírito de equipe, produtividade, liderança. São shows com orientações corporativas.
Você tem um grande admirador, é uma pessoa especial em sua vida e em sua carreira?
É meu pai João Luiz Bortoletto! Admirador e fonte de inspiração! É onde busco boa parte das minhas piadas! As coisas louças que ele faz! Eu tinha piadas sobre ele e não tinha sobre a minha mãe, ai descobri que ela fala sozinha quando lava louça. Na hora pensei: “-Preciso contar isso!”.
Gustavo, você tem uma sensibilidade aguçada?

Tem que treinar! Criatividade é muito treino! Já é muito difícil fazer rir. Eu faço o humor que eu acho engraçado, não me preocupo em passar determinada mensagem. O show corporativo é diferente, através do humor são passadas as mensagens. 

sexta-feira, abril 03, 2015

JOÃO DE OLIVEIRA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 28 de março de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: JOÃO ANTONIO TEODORO DE OLIVEIRA

                                 JOÃO DE OLIVEIRA)

João Antonio Teodoro de Oliveira nasceu a 19 de setembro de 1950 em Tomazina, estado do Paraná. João de Oliveira, como é muito conhecido, é filho de Antonio Teodoro de Oliveira e Maria Aparecida de Oliveira que tiveram o s filhos João Antonio, Maria Francisca, Maria das Graças, José Teodoro e Isabel e mais dois outros filhos falecidos ainda muito novos.
Até que idade você permaneceu em Tomazina?
Até meus treze anos. Meu pai era agricultor, cultivava arroz, feijão, frutas, minha mãe trabalhava em nossa casa. Estudei até o segundo ano de ginásio em Tomazina, no Grupo Escolar Carlos Gomes. Embora fosse uma cidade pequena, tinha também uma escola de comércio.
Você lembra-se do nome do seu primeiro professor?
Lembro-me! Foi um tio meu, Alcides, irmão do meu pai, pai do Teodoro da dupla Teodoro e Sampaio! Era uma classe mista, onde estudavam alunos do primeiro, segundo, terceiro e quarto anos, todos na mesma sala. Não foi em Tomazina! Foi em Sertão de Cima, era um povoado, ficava a seis léguas de Itararé. Nós moramos em várias cidades do Paraná, o meu pai era telegrafista substituto antes de dedicar-se a agricultura. Ele trabalhou na Estrada de Ferro Sorocabana. Pelo fato de ser telegrafista substituto ele ficava três meses em uma localidade, seis meses em outra. Eu tinha de sete para oito anos.
Você ia ver seu pai trabalhar como telegrafista?
Ia! Meu pai tentou me ensinar o código Morse, Ele trabalhava muito bem com o telegrafo, eu não me adaptei.
Você então é primo do Teodoro da dupla Teodoro e Sampaio?
Sou primo do Teodoro (Aldair Teodoro da Silva) tanto que meu nome é composto pelo sobrenome Teodoro. Às vezes tenho contato com ele. Ele fazia o terceiro ou quarto ano do grupo escolar eu fazia o primeiro, isso em Sertão de Cima. Estudamos na mesma sala de aula. Lá estudei só o primeiro ano, em seguida fomos morar em outro patrimônio: Euzébio de Oliveira, no fim do ramal da Sorocabana. Nessa época meu pai era feitor de uma turma que dava manutenção na estrada de ferro. Meu pai trabalhou por dois anos lá, onde fiz meu segundo ano escolar, a professora chamava-se Dona Inês Marques Leal. De lá fomo morar em Arapoti onde fiz o terceiro ano primário. De Arapoti fomos para Tomazina onde estudei o quarto ano primário, o professor era Seu Manoel de Almeida, um excelente professor. Ele também dava aula de matemática para o primeiro e segundo ano de ginásio. Tenho muita saudade dele. Ele cobrava muito dos alunos, mas a classe sabia muito também.
Isso era no tempo em que o aluno ficava em pé assim que o professor entrava na sala de aula?
Exatamente! E só sentávamos depois que ele mandava.
Quanto tempo seu pai permaneceu na atividade rural?
Acredito que tenha sido por uns dois anos.
Por que seu pai escolheu Piracicaba para vir morar?
Meu pai já conhecia Piracicaba. Ele tinha pessoas da família que moravam em Piracicaba, seus pais viveram e faleceram aqui.
Em que local vocês vieram morar quando vieram do Paraná para Piracicaba?
Fomos morar no Rancho Alegre. Na casa da Dona Joaninha, casada com o Seu Luiz Acs, o húngaro. Essa história foi muito interessante, viemos para cá com o nome e a roupa do corpo! Conseguimos alugar uma casa de dois cômodos nas dependências do Rancho Alegre, que era uma chácara enorme. Conheci a filha deles a Magali, esposa do Zezo, que até hoje moram ali, em frente onde foi o Rancho Alegre, em uma casa de esquina que eles construíram. Morei 10 anos ali. A minha mãe ajudava Dona Joaninha e Seu Luiz, eles trabalhavam com festas.
Que tipos de festas eram realizadas no Rancho Alegre?
Eram eventos finos, os casamentos mais chiques da época eram comemorados ali. O Seu Luiz Acs trabalhou como confeiteiro no tradicional restaurante Fasano em São Paulo antes de vir para Piracicaba. Ele gostava de fazer palavras cruzadas que vinham impressas na Gazeta Esportiva. O Rancho Alegre ficava a uns trinta ou quarenta metros de distância dessa casa que a Dona Joaninha alugou para nós. Ela foi até a nossa casa e disse: ”- Estou vendo a família aí, mas não vi chegar caminhão de mudança!”. Ela não sabia que não tínhamos nada. Ela olhou, viu a situação em que estávamos e disse à minha mãe: “-Aparecida, não se preocupe, vamos dar um jeito!”. Não sei se ela era espírita ou tinha muita amizade com pessoas ligadas ao espiritismo, em dois dias tínhamos de tudo dentro de casa! Tinha coisas novas, outras usadas, mas em excelente estado de conservação, Dona Joaninha foi uma santa para nós! É por isso que gosto tanto de Piracicaba! Eu só cresci aqui em Piracicaba! Desde a época em que cheguei.
Qual era o acesso para o Rancho Alegre?
Você descia a rua da Mausa, passava em frente a Mescli, passava a linha da Estrada de Ferro Paulista, entrava na Rua Higienópolis, ali tinha um caminho que cortava, passava a linha da Estrada de Ferro Sorocabana, e entrava no Rancho Alegre. Dava também para seguir pela linha de trem da Sorocabana e sair logo abaixo do Seminário Seráfico São Fidelis, onde tem a praça, próxima ao Teatro Municipal Losso Neto.
Você conheceu o Olho da Nhá Rita?
Conheci. Era a nascente de água. Não existia a Avenida 31 de Março. Lembro-me quando abriram a Avenida 31 de Março, onde o trator passou íamos jogar bola. Cheguei a pegar o trem da Sorocabana para ir jogar bola em Rio das Pedras, cheguei a fazer esse trecho com a Maria Fumaça. Era uma viagem demorada. Parava em todo quanto é lugar.
Nessa época seu pai trabalhava em que atividade?
Ele trabalhava com o engenheiro Alberto Coury. Eles estavam fazendo a fundação do Edifício Bandeirantes, aquele prédio ao lado do então Cine Broadway, na Rua São José entre a Praça José Bonifácio e a Rua Alferes José Caetano quando caiu o Edifício Luiz de Queiroz (Comurba) isso foi em 1964. Meu pai estava na obra quando o Comurba caiu, a distância entre os dois edifícios era de uns 100 metros mais ou menos. Naquela época telefone era uma raridade, mas o Rancho Alegre tinha, e meu pai conseguiu avisar a família que estava tudo bem com ele. A telefonia era tão precária que para pedir um interurbano e falar com alguém em São Paulo levava umas seis horas!
Que idade você tinha?
Eu estava com uns treze anos quando vim do Paraná para Piracicaba. Surgiu uma oportunidade para trabalhar com o meu primo Garcia Netto, que veio da Rádio Piratininga de São Paulo para trabalhar em Piracicaba, ele era gerente da Rádio “A Voz Agrícola”, ele me chamou, entrei como Office boy, ia buscar jornais, revistas, a Dona Joaninha que me levou até o juiz para que me autorizasse a trabalhar, eu não tinha 14 anos ainda. Fomos até o juiz de ônibus. O fórum ficava na Praça José Bonifácio, onde hoje funciona o Banco do Brasil, na esquina da Rua Santo Antonio com a Rua Prudente de Moraes. Naquela época desde que tivesse o diploma do primário o juiz autorizava a trabalhar mesmo que fosse menor de 14 anos. Devo ter essa autorização guardada até hoje. Na rádio pela manhã eu ajudava a Dona Maria Navarro, que era a mulher que cuidava da limpeza, lá pelas nove horas ia até as agências buscar os jornais e revistas.

Era a famosa época do “Gillete Press” recortavam-se as notícias publicadas em jornais, colava numa folha de papel jornal e entregava no estúdio, para o locutor do horário ler com aquele entusiasmo que dava a impressão de que o fato estava acontecendo naquele exato momento e na presença do repórter. As revistas da época eram a Fatos e Fotos, Cruzeiro, Manchete, Intervalo. Horóscopo de Omar Cardoso (Homar Henrique Nunes mais conhecido por Omar Cardoso). Trazia tudo para a rádio.  O Celso Ribeiro fazia o horário da uma hora da tarde às sete horas da noite. Ele disse-me: “-João, vem cá, você vai trabalhar na mesa!”. Fiquei lá uns quinze ou vinte dias. Fui pegando o jeito. Trabalhava com picape, era muito mais difícil de trabalhar. Gravador Akai. Para que o som não ficasse muito ruim, cortava-se a fita original e emendava-se com durex.

Tinha que ser meio mágico?

Tinha que gostar muito. Se passasse de um gravador para outro, o original já era ruim! O outro você nem entendia então. Na época futebol utilizava a linha física, se tivesse uma chuva forte no meio do caminho acabava a transmissão.

Pode-se dizer que Celso Ribeiro é o seu padrinho?

Foi o Celso quem me ensinou. Isso foi no final de 1964, começo de 1965.

Você conheceu figuras históricas nesse período todo que vem trabalhando com rádio?

No começo de 1965, eu já sabia trabalhar na mesa. O Garcia Neto ia para São Paulo, para a Rede Piratininga. Ia ser comentarista esportivo da Rede Piratininga junto com Wilson Brasil. Quem assumiu a Rádio “A Voz Agrícola” em Piracicaba foi Pantaleão Pirillo Júnior. O Celso de Moura ia sair de férias, o Pirillo Junior pediu para que eu cobrisse as férias dele. Até então eu não tinha carteira de trabalho assinada. Ele disse-me que iria providenciar minha carteira e eu iria trabalhar na rádio. Na época eu trabalhava com Garcia Neto que era comentarista, Ary Pedroso, que era o primeiro narrador, Jamil Netto que narrava basquete, vi absurdos acontecer no basquete, vi cesta contra, a parte técnica sempre acompanhava o locutor.

João, alguma vez você viu algum locutor narrando uma partida sem ver o jogo?

Já! Ouvindo outra rádio e transmitindo como se estivesse no local! Já vi locutor deixar de narrar um gol porque não viu.

Em que rádios você já trabalhou?

Na “Voz Agrícola”, que mudou de nome diversas vezes, lá eu trabalhei 25 anos. E depois trabalhei na Rádio Educadora. E desde 1999 eu trabalho também na Rádio Educativa.

João de Oliveira, você é um operador, um sonoplasta, que qualquer locutor sente muita segurança para trabalhar com você, qual é o segredo?

Os bons técnicos que eu conheci foram aqueles que nunca tiveram a ambição de ser locutor. É muito comum o técnico usar a mesa como um trampolim para a locução.

Uma grande parte do sucesso de um programa de rádio está na qualidade e profissionalismo do técnico?

Acredito que depende de ambos: operador e locutor, ambos tem que falarem a mesma linguagem. Um tem que olhar para o outro e conhecer. Trabalhando juntos se entendem pelo olhar.

O técnico sabe quando o locutor terá sucesso ou não?

Sabe! Alguns têm muita vontade, mas não tem futuro.

Com sua experiência, quais qualidades você acredita ser importante para um locutor ter sucesso?

A humildade é indispensável. Ler muito. Estar muito bem informado sempre. Isso dará um campo enorme para ele trabalhar. Fazer o rádio para os ouvintes e não para ele. A meu ver esse é o pecado maior do radialista, querer fazer o programa para ele. Quem tem que achar que o programa está bom é o ouvinte. O operador é a mesma coisa, não vou deixar de colocar uma música porque não gosto, não estou fazendo o programa para mim.

Houve uma grande evolução na parte técnica, no momento você está administrando quatro monitores, além de todo complexo de chaves e botões, isso requer uma qualificação muito especializada?

No inicio o técnico aprende o principal. A medida que vai evoluindo ganhará mais segurança para ir desenvolvendo seu aprendizado. Não dá para queimar etapas!

Você é o braço direito e esquerdo de uma figura muito importante do rádio piracicabano: Titio Luiz.  Como é trabalhar com um mito?

Damo-nos muito bem Com Titio Luiz trabalho já há 15 anos, temos uma excelente relação, ao entrarmos no estúdio já o fazemos de forma muito alegre, brincamos muito um com o outro, para descontrair um pouco. São três horas de programa ao vivo., diariamente. Titio Luiz não tem nada redigido, é tudo de improviso. É uma característica que poucos têm. Sempre dizemos que o locutor de AM é capaz de fazer o FM. O locutor de FM não faz o AM. Não é culpa dele, é o sistema em que ele trabalha.

Essa mudança que está havendo de tudo passar para FM, você acha que é bom para o rádio?

O radio em AM irá ganhar em qualidade. Poderá perder em alcance, se for ver que a internet permite com que seja sintonizada no mundo todo, então não perderá seu alcance. No receptor comum irá diminuir seu alcance. Creio que será mantida a rádio em AM. São dois segmentos diferentes com a mesma qualidade.

Você chegou a trabalhar com Nadir Roberto?

Trabalhei! Era fantástico! Era um grande companheiro, um grande vendedor, excelente profissional, eu trabalhei bastante tempo com Nadir. Tenho muita saudade dele. Com Marcio Terra trabalhei bastante tempo fazendo esporte, no olhar um para o outro eu já sabia o que ele queria. Ele também já sabia o que eu estava fazendo. Fiz esporte com Mario Luiz também. É mais agitado. É um ótimo narrador, ele fica preocupado às vezes com a transmissão. Quem está em casa não tem a menor idéia dos problemas que enfrentamos com linha de som. Temos que ir bem cedo para o estádio para deixar tudo em ordem. Com o Mário Luiz eu sempre consegui fazer uma excelente transmissão. Deixava tudo pronto, testadinho, dizia: “_Mário, pode vir !”.

João em sua trajetória, já aconteceu de estar o microfone aberto e a pessoa falar aquilo que não deseja que o ouvinte escute?

Isso acontece sempre! Para nossa sorte e também pelo próprio ambiente, o que vai para o ar geralmente é conversa sem nenhuma importância ou que cause impacto ao ouvinte.

Por muito tempo trabalhei com o Rubens Lemaire de Morais que cobria a polícia. Ele transmitia do carro, naquele tempo tinha muito ruído, dependendo do lugar não funcionava. Trabalhei com Roberto Cabrini, na rádio “A Voz Agrícola de Piracicaba” no tempo em que o Caldeira comandava a rádio. O Cabrini dizia: “- João eu vou para casa agora, qualquer noticia que chegue, seja a hora que for eu venho para a rádio.” Cabrini sempre teve o jornalismo no sangue. Era magrinho e alto. O Francisco Silva Caldeira trabalhou muito tempo como gerente da Rádio Difusora, foi trabalhar como diretor comercial da rádio “A Voz Agrícola”, era uma rádio bem mais simples e tinha certa dificuldade para vender publicidade. Situava-se na Rua Moraes Barros, 1191. O telefone da rádio era 27491. Era 590 Khertz, uma freqüência fantástica. Não sofria pressão de nenhuma outra rádio de São Paulo, ela pegava com 250 watts onde outra rádio precisava de 500 ou 1.000 para ir ao ar. Quem trouxe a radio para o meio do dial foi o Caldeira.

Isso foi em um tempo em que a audiência do rádio era muito grande?

Sem dúvida! Mesmo porque a transmissão da televisão era um desastre! Imagem ruim, em preto e branco. Saía fora do ar.

A internet ajudou ou atrapalhou o rádio?

Acho que ajudou. Se souber usar é uma das melhores ferramentas disponíveis. Para você fazer um programa de duas horas de jornalismo, é só selecionar o material que está a sua disposição. Coloca em uma pasta só para você, na hora em que abrir o programa é só abrir a pasta. Você não tem a menor dificuldade do mundo.

João você é casado?

Sou casado desde 1973 com Maria de Fátima Teles de Oliveira, nos casamos na igreja velha de São Judas Tadeu. Quando me casei o piso da igreja era terra. Eles estavam construindo a igreja nova por fora. A igreja velha estava dentro. O vestido de noiva da minha mulher ficou uma beleza! O véu arrastando na terra vermelha! Temos um sobrinho que é praticamente nosso filho, Rodrigo Teles, trabalha em rádio também.

Você tem algum hobby?

Gosto de futebol, sou corintiano, joguei futebol por alguns tempos, a turma do Rancho Alegre me conhecia pelo apelido, acho que poucas pessoas que moraram lá me conhece pelo nome.

Qual era o seu apelido, João?

Ratinho! Naquela época eu era pequeno. Desenvolvi-me bastante depois de fazer o Tiro de Guerra, que na época já estava na Avenida Dr. Paulo de Moraes. Eu era da turma do Sargento Guatura. Era muito enérgico, mas estava sempre de bom humor. Eu fazia o Tiro de Guerra das cinco às sete horas da manhã.

Você conheceu inúmeras personalidades trabalhando em rádio?

Principalmente cantores. O cantor Daniel, o próprio Nelson Gonçalves, Perla, Altemar Dutra, Nelson Ned, Cezar e Paulinho, João Mineiro e Marciano, Moacyr Franco, Milionário, Teodoro e Sampaio. Os principais nomes passaram pelo rádio. Além do talento esse pessoal lutou muito para vencer. Conheci a maioria dos políticos de renome que vieram a Piracicaba.

Pode-se dizer que hoje o sonoplasta recebe a programação praticamente pronta, com isso seu poder de decisão fica bem limitado?

Antes ficávamos bem mais a vontade.

João se você não trabalhasse em rádio em qual outra área você gostaria de trabalhar?

Bom, eu só fiz isso! Rádio para mim está no sangue! Mas antes de fazer rádio eu pensava em ser engenheiro. Sempre tive muita facilidade com ciências exatas. 

Atualmente você é o técnico de som, ou sonoplasta, com mais tempo de trabalho e que continua trabalhando?


Acho que sou! No dia 4 de abril vou completar 51 anos de trabalho em técnica de som. 

JACOB DAS ARTES

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 4 de abril de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: JACOB PIRES DE TOLEDO


                                (JACOB DAS ARTES)



Jacob Pires de Toledo, mais conhecido como Jacob das Artes, nascido a 23 de junho de 1977 em Piracicaba, é filho de Jonas de Toledo e Iraci da Conceição Pires de Toledo, seu pai era pedreiro, até falecer ele trabalhou muito tempo na Esalq. Seu avô Jacob Gil de Oliveira foi funcionário do Engenho Central até o mesmo encerrar as atividades. No inicio sua mãe trabalhou em casas de família, depois passou a trabalhar apenas em sua casa. Jacob tem dois irmãos: Eliane e Claudio. Casado com Eliana Correr, com quem tem um filho, Marchello.
Em que escola você estudou?
Até os 16 anos morei no Jardim Caxambu, estudei no APAF- Escola Estadual "Dr. Antonio Pinto de Almeida Ferraz", lá fiz desde o pré-escola até a oitava série. Depois mudei para o Tatuapé, no Jardim Itapuã, estudei na Escola Estadual Professor Jethro Vaz de Toledo onde fiz o primeiro e segundo colegial, depois fui estudar na Escola Estadual Sud Mennucci.
Nessa época você já trabalhava?
Trabalhava em loja de decoração. Aos finais de semana ajudava meu pai a construir nossa casa. Meu primeiro trabalho foi em um sítio, sempre gostei de animais, ajudava a tratar dos cavalos. Esse sítio era localizado entre o Parque Primeiro de Maio e o Jardim Caxambu. Era onde terminava a cidade. O proprietário explorava a venda de leite.
Como a arte entrou na sua vida?
Eu sempre vivia na beira do Rio Piracicaba, meu pai tinha bote, pescava. Ele mesmo tinha feito um bote de madeira, semelhante aos de alumínio. Lembro-me que ele fez uma impermeabilização muito bem feita. Ele e meu tio desceram o rio até Ártemis, levaram umas duas horas no percurso, sem motor. Em uma área deserta, a beira do rio, ele fez um ranchinho de madeira e deixou o barco lá. Ele ia até Ártemis de ônibus, eu o acompanhava, descíamos do ônibus e íamos a pé. Passávamos ali o final de semana. Nunca tive muitos brinquedos industrializados. Tinha que fabricar meu próprio brinquedo. Pegava as ferramentas do meu avô, fabricava coisas. Fiz muitos carrinhos para correr na rua. Não gostava de carrinho de rolemã porque fazia muito barulho. Pegava na época o que era chamado de Velotrol, geralmente a roda dianteira estava danificada enquanto as rodas traseiras estavam boas, eu as usava para fazer meus carrinhos. Minha diversão era subir até a esquina e descer a rua com esses carrinhos. Com isso fui desenvolvendo o espírito de criar.
Atualmente você está com um veículo que originalmente é uma Kombi, só que totalmente personalizada, inclusive com quatro rodas na parte traseira. Acho que nem a Volkswagen sabe que existe isso!
Adquiri essa Kombi para poder fazer as coletas, não só por ser uma Kombi, um veiculo que muita gente gosta, quando a adquiri há uns seis ou sete anos, não existia essa febre pela Kombi. Eu a adquiri pela sua mecânica simples, facilitava meu trabalho com meu artesanato. Até então eu estava em um segmento mais comercial, que era fazer móveis, eu fabrico móveis artesanais. A Kombi foi muito útil nessa época.  Depois, para poder chamar a atenção, fazer as pessoas olharem para os meus móveis, meu trabalho de arte, pintei a Kombi toda.






A sua Kombi é uma ferramenta de marketing?
È uma ferramenta de marketing! Toda essa logística para que eu possa sobreviver da arte, eu não tenho a segurança de um salário, não sou funcionário de uma empresa, tenho que sobreviver dos meus meios. A Kombi é um atrativo, as pessoas vêm junto à perua para serem fotografadas junto a ela, é uma forma de estabelecer um contato.
Foi você mesmo que desenvolveu e realizou as mudanças feitas nela?
Na realidade é uma coisa simples. Ela estava com o chassi comprometido, o ano de fabricação dela é de 1969, um veículo com mais de quarenta anos! Eu não conseguia soldar com o equipamento que eu tenho uma máquina de solda elétrica comum. Tirei toda a lataria, isso eu mesmo que fiz, deixei só a estrutura dela. Sem a lataria eu tinha acesso ao chassi. A parte de baixo é o chassi original, coloquei um reforço em cima,  outra chapa que ajuda, ela liga onde vai a suspensão dianteira até passar a suspensão traseira. Foi feito um reforço sobre o chassi. A ferragem eu adquiri onde vende material reciclado.
E a história da Kombi “trucada”, ou seja, com quatro rodas na parte traseira?
A questão do “truck” nada mais é do que quatro parafusos, soldados no final do chassi, nesses parafusos, posicionados de forma correta, eu encaixo o estepe. Ela não tem estepe no local original, que era atrás do banco dianteiro. É interessante porque desperta a imaginação de quem olha: será que essas rodas traseiras rodam? Elas abaixam? Elas são fixas, eu poderia fazer com que movimentassem, mas não teriam utilidade para mim. Na realidade são dois estepes, que estimulam a imaginação de quem olha. Abaixa? Não abaixa? Ela é útil para mim assim.
É movida a álcool ou a gasolina?
Funciona com gasolina.
Como a fiscalização vê essa Kombi tão diferente da original?
Tive que fazer algumas alterações na sua documentação, uma delas é a cor, ela não tem uma cor definida. Consta como “Fantasia”. Gosto muito de viajar com ela, atravessei São Paulo, marginal Tietê, já percorri o litoral paulista até a divisa do estado com ela, fui até Paraty, até Carrancas, Minas Gerais. Viajei pelo sul de Minas com ela.
Apesar de serem decorativas as rodas traseiras pagam pedágio?
Quando não existiam quatro rodas na traseira, era cobrado o pedágio normal. Por praticidade já peço que a pessoa da cabine de pedágio arrecade por três eixos, evita a dúvida, perda de tempo, elimina qualquer questionamento.
Bem na frente, logo acima do para brisas, você colocou o nome Jesus. Alguma razão especial?
Eu sou cristão, acredito que Cristo veio para ensinar a seguir a bíblia, procuro viver a minha vida em cima dos mandamentos que Ele deixou, o principal é “Amar ao seu próximo como a ti mesmo”.
Você fez uma decoração muito interessante em um estabelecimento situado na Rua do Rosário esquina com a Rua Monsenhor Francisco Rosa?
É um restaurante, chama-se “Porto do Norte”, um dos sócios é dono de outro restaurante situado na badalada Avenida Carlos Botelho, o “Manga Rosa”. Tenho obras de decoração interna em diversos estabelecimentos comerciais na área central de Piracicaba.
Como você foi descoberto?
Comecei a espalhar a minha arte, a fazer algumas exposições, eu tinha uma banquinha na Praça da Boyes, permaneci ali por dois anos.









Você tem obras de sua autoria que estão fora de Piracicaba?
Nessas minhas viagens sempre acabo realizando algum tipo de negociação com o meu artesanato. Gosto muito de Ubatuba, tenho muitos trabalhos realizados lá. Uma prima levou uns trabalhos meus para a Espanha, portugueses, canadenses, já adquiriram trabalhos meus em Ilhabela. Atualmente tudo que faço é para poder viajar com a minha esposa, com meu filho. Sinto que a cada dia as pessoas distanciam mais das suas raízes.
Você pensa em conhecer locais fora do país?
Eu gostaria de conhecer alguns lugares dentro do meu país: Amazônia, algumas aldeias indígenas. Sou voltado a essa questão indígena. Tenho o desejo de conhecer o Nordeste do país, sua cultura. Enriquecer meus conhecimentos através da arte. Sempre que vou a alguma cidade de Minas Gerais, procuro conhecer o que aquela determinada região oferece de cultura.
Com qual material que você mais gosta de trabalhar?
O material que eu mais trabalho é a madeira. Para mim o ideal é a madeira que está em condições de uso e encontra-se jogada em alguma caçamba, ontem mesmo encontrei uma janela de peroba. Estava em uma caçamba de entulho. Às vezes o progresso se dá em prejuízo ao meio ambiente, infelizmente uma madeira nobre pode ter como destino servir como lenha para ser queimada. Se parar para pensar na história dessa madeira, ela não pode ser tratada dessa forma. Uma peroba, para ser cortada passou dezenas de anos se desenvolvendo. É diferente de um eucalipto, um pinus, que são madeiras de crescimento rápido, cujo objetivo é atender ao mercado de imediato. A meu ver, o ser humano está tomando um rumo diferente do que deveria ter, parece estar adormecido.
Você realiza trabalhos em casas particulares?
Já fiz em casas situadas em condomínios. Muitas vezes por mais elevado que seja o padrão de vida de uma família, há aqueles que se sentem atraídos pelo rústico. Basta você ver pessoas que residem em apartamento de alto luxo, quando saem passear muitos procuram a praia mais deserta possível, onde há areia, o mar e a mata. Por maior que seja seu poder aquisitivo, dentro dele sentirá uma atração por um local pouco explorado pelo homem. É o contraste. Tenho feito trabalhos que muitos arquitetos gostam.  Procuro fugir do padrão normal, fazer da minha forma. Não tenho medo de fazer uma ousadia.
Um trabalho de Jacob das Artes é caro?
Não sei afirmar se é caro ou barato. Coloco um valor que acho justo. O mais importante para mim é que o futuro proprietário de uma obra minha tenha gostado da mesma. Posso estipular um valor que não agrade ao interessado, essa obra então não será adquirida. Faço isso de forma consciente. Assim como posso estipular um valor bastante razoável pelo prazer que essa obra despertou na pessoa que a vê.  É uma luta diária dos meus pensamentos como artista conflitando com os pensamentos de uma sociedade capitalista que não mede esforços para conseguir suas metas. Se o rio ficar mais ou menos poluído para ela não importa, às vezes para ela ganhar dinheiro implica em poluir.
Quantas exposições individuais você já realizou?
Acredito que foram em torno de uma dezena.
Você tem comunicação com o público através de meios eletrônicos?
Tenho o meu Facebook “Jacob das Artes”. Acredito que o progresso é necessário, só que penso que o caminho que está sendo tomado provoca poluição, destruição da natureza, esse desrespeito provoca conseqüências graves. Já estamos vivendo uma delas, que é essa escassez de água. O planeta está em desequilíbrio.
É muito comum as pessoas procurarem atingir um objetivo financeiro, após um imenso esforço, conseguem e ai usa boa parte dessa conquista para sanear os problemas que provocou nessa corrida pelo seu objetivo.
É aquela velha teoria! Muitas vezes quando estou conversando com uma pessoa ela diz que encontram em mim coisas boas, que traz paz à elas. Sou muito transparente em tudo que faço. Prefiro assumir algum tipo de prejuízo a provocar prejuízo para alguém. Isso reflete através da emoção, é passada a pessoa com quem tenho algum diálogo. Isso exala para o próximo.
Você lê a bíblia?
Pela manhã, quando acordo,procuro buscar a palavra na bíblia. Ando sempre com a bíblia, ela me dá muitas respostas. É onde você consegue ver a mão de Deus trabalhar.
Jacob, a primeira vista, é difícil imaginá-lo lendo a bíblia!
É interessante, às vezes leio algumas passagens pela manhã e vejo que aquilo se concretizou até o final do dia! Faço sempre essa busca e as respostas chegam!
Como artista quais são as técnicas que você usa em seu trabalho?
Uso qualquer coisa, o que tiver ao alcance da mão. Já fiz esculturas com facão. Trabalho com solda, às vezes crio alguma coisa com solda. Trabalho com cimento, mosaico. Faço esculturas em paredes, com detalhes.
Quanto tempo você leva para fazer um trabalho como o que fez no restaurante Porto do Norte?
Lá foi um trabalho de meses. Pode acontecer de ter que mudar uma porta de lugar. Isso envolve o serviço de um pedreiro. Há diversas alterações internas que são às vezes necessárias para se realizar um trabalho de decoração interna.
O que a sua esposa pensa a respeito da sua arte?
Ela participa ativamente. É muito companheira. Meu filho também, ele está com 15 anos. Ele tem como objetivo estudar teologia.  Esta seguindo outro caminho. A orientação que eu dou-lhe é não entrar nessa vida maluca que muitos levam a busca da satisfação material.
Sob o seu ponto de vista falta a humanidade procurar desfrutar mais da vida?
Acho que falta esse espírito. Falta voltar as suas raízes principalmente com relação a questão alimentar. Hoje a máquina planta a semente na terra, a máquina colhe, a máquina processa o alimento, industrializa e embala. A máquina apita no supermercado, avisa que é seu aquele produto. O ser humano perdeu o contato da semente na palma da mão, a cova no chão, o pé no chão amassando a terra que cobre a semente. Às vezes quem planta faz uma oração junto aquele saco de semente pedindo a Deus que venha a chuva. Pedindo à natureza a proteção a lavoura. Quando é feita a colheita ela é celebrada com uma festa. Atualmente as festas tem o sentido comercial, a origem era as festas de agradecimento. Hoje vem alguém, analisa a terra, determina a deficiência de tal elemento, ele não irá fazer uma oração em benefício àquela terra, através de um processo químico ele irá jogar algum nutriente no solo. Planta-se a qualquer custo. O Brasil é um dos países onde mais se usa agrotóxicos e fertilizantes. Não há um estudo conclusivo sobre o que um alimento transgênico pode causar ao ser humano em longo prazo.  Foi estudado e chegou-se a conclusão de que terá uma produção maior, mas a conseqüência que poderá causar ao homem está muito distante de ser definida. Pode ser que alguns pensem que estou ficando louco, mas basta raciocinar e verá que todos com quem converso me dão razão. Poucos pensam em levar uma vida mais saudável.
Qual é a sua visão dos jovens atualmente?
A juventude está descontente com o mundo que ela tem hoje. A internet, a tecnologia, a medicina, tudo isso é bom. Só que estão tomando um rumo que estão se esquecendo das suas raízes. Você já viu uma árvore ficar em pé sem a sua raiz? Atualmente o ser humano abandonou suas raízes, como irá ficar em pé? Dia 19 de abril será o Dia do Índio. Aqui em Piracicaba você não vê um jornal anunciado: “Hoje é Dia do Índio, haverá uma comemoração na margem do Rio Piracicaba ao povo que deu origem ao nome da cidade!”. Todo dia 19 de abril vou para uma aldeia em Bertioga, onde nesse dia há uma comemoração. É a aldeia Rio Silveiras, fica em uma reserva indígena, formada por índios guaranis. Eles fizeram uma pintura em mim, de um camaleão, eu gostei tanto que mandei fazer uma tatuagem desse desenho.  Essa aldeia fica em uma reserva de terra determinada pela Funai, nessa aldeia, o cacique, Adolfo, líder da Funai no Estado de São Paulo, promove o festival indígena, onde cada ano traz etnias de regiões variadas do Brasil. É feita uma concentração, são realizados rituais, gosto de ficar ali.
Você gostaria de deixar uma mensagem aos leitores?
Penso que o ser humano terá que fazer uma reviravolta na sua forma de vida, o tipo de vida que está sendo levado está longe de ser o modelo ideal Esse modelo não existe pronto, tem que ser construído, um modelo correto de vida. O modelo que está aí irá levar a humanidade a sua própria destruição.
Você acredita que o ser humano morre e tudo acaba?
Não consigo ver um final, acho que uma essência permanece. Sigo o que diz a bíblia: a carne vai, seu espírito permanece, e aqui realmente é uma passagem. O que você fez de bom ou ruim terá um resultado. 

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