A dermopigmentação é o ato de pigmentar ou colorir a pele. Também chamada de tatuagem, em francês tatouage ou tattoo em inglês. O termo tem sua origem em línguas polinésias na palavra tatau. Era o som feito durante a execução da tatuagem,onde se utilizavam ossos finos como agulhas e uma espécie de martelinho para introduzir a tinta na pele. Pesquisas arqueológicas afirmam que já foram feitas tatuagens no Egito entre 4.000 a.C e 2.000 a.C. Nativos da Polinésia, Filipinas, Indonésia e Nova Zelândia, tatuavam-se em rituais ligados a religião. Na Idade Média baniu-se a tatuagem da Europa. Em 787 ela foi proibida. Qualquer cicatriz, má formação ou desenho na pele não eram vistos com bons olhos. No século XVIII, porém, a tatuagem se tornou bastante popular entre os marinheiros. Com a circulação dos marinheiros ingleses, a tatuagem e a palavra tattoo entraram em contato com diversas outras civilizações novamente. Em 1879 o governo da Inglaterra adotou a tatuagem como uma forma de identificação de criminosos. A partir daí a tatuagem ganhou uma conotação fora-da-lei no Ocidente. Durante a Segunda Guerra Mundial, a tatuagem foi muito utilizada por soldados e marinheiros, que gravavam o nome da pessoa amada em seus corpos. Para identificação, nos campos de concentração os segregados eram tatuados no antebraço com números de série, ou outras identificações. Prática muito utilizada para identificar o povo judeu no período nazista. Com a evolução dos meios de comunicação, a tatagem passou a ser uma opção pessoal. São inúmeros os motivos que levam uma pessoa a marcar em seu próprio corpo um símbolo que ela poderá manter pela vida toda. O cantor Chico Buarque junto com Rui Guerra são autores da música cujo título é Tatuagem, composta em 1972 para a peça teatral Calabar:
Quero ficar no teu corpo feito tatuagemQue é pra te dar coragemPra seguir viagemQuando a noite vemE também pra me perpetuar em tua escravaQue você pega, esfrega, negaMas não lavaQuero brincar no teu corpo feito bailarinaQue logo se alucinaSalta e te iluminaQuando a noite vemE nos músculos exaustos do teu braçoRepousar frouxa, murcha, fartaMorta de cansaçoQuero pesar feito cruz nas tuas costasQue te retalha em postasMas no fundo gostasQuando a noite vemQuero ser a cicatriz risonha e corrosivaMarcada a frio, a ferro e fogoEm carne vivaCorações de mãeArpões, sereias e serpentesQue te rabiscam o corpo todoMas não sentes.
Adilson Vicente Scarpelim é um nome pouco conhecido em Piracicaba. Mas se for chamado pelo apelido de Garoa, veremos que é uma pessoa bem popular, principalmente entre aqueles que apreciam a arte da tatuagem. É interessante notar que de calça e camiseta Garoa não parece estar tatuado. Só quando retira sua camiseta é que percebemos o seu apreço pela atividade que realiza seus ombros, tórax, costas e braços estão estampando figuras, usando a própria pele como tela de pintura.
Garoa, você é um tatuador profissional, reconhecido pela qualidade do seu trabalho, não só em Piracicaba como em outras localidades onde já atuou. Quando foi despertado seu interesse pela arte de tatuar pessoas?
Trabalho com arte desde criança, no início pintava telas, quadros, camisetas. Era um hobby. Com o tempo fui direcionando esse talento para essa área, que mais complexa. Essa atividade acabou gerando um recurso financeiro maior do que obteria com quadros e camisetas. A partir dos dezesseis anos de idade eu passei a ter acesso a materiais apropriados, eu também tinha evoluído minhas aptidões para o desenho. Considero que a partir desse período é que eu estava fazendo arte. Até então eu estava fazendo o que é chamado de laboratório, ou seja, experiências. Praticamente sem nenhum compromisso maior. Eu nasci no dia 5 de julho de 1964, em Piracicaba, na Vila Rezende, mais exatamente no então Bairro do Paieiro, situado na Avenida Armando Dedini (Essa avenida passa em frente ao Shopping Piracicaba Hotel Íbis, ao lado do Shopping Piracicaba). Para começar meus estudos eu tinha duas opções, iniciar o primeiro ano com seis anos e meio de idade ou esperar que completasse os sete anos de idade. A idade regulamentar para iniciar os estudos era 7 anos de idade. Na ocasião o Sesi 165, uma escola da Vila Rezende, através da sua direção resolveu realizar um teste comigo. Esse teste implicava entre outras coisas, desenhar a minha família. Fiz tão bem o desenho que os responsáveis pela escola consideraram que eu tinha estrutura para começar a freqüentar o ano letivo com seis anos e meio de idade.
O artista geralmente passa a ter seu trabalho reconhecido de forma mais expressiva após morrer, e você quis sair dessa circunstancia?
Eu resolvi não ficar esperando que isso ocorresse!
Outras pessoas da sua família também desenham?
Eu tenho uma sobrinha, a Caroline, que desenha muito bem. Meu irmão, que é o pai dela, incentiva o seu trabalho. A técnica que ela utiliza é baseada em grafite (lápis). Ela tem como eu tive em minha infância, muito contato com livros, revistas, isso desperta na criança, no adolescente o interesse. No caso da Caroline, ela teve sempre á sua disposição papéis e lápis á disposição para usar á vontade. Isso acabou desenvolvendo sua veia artística. Meu filho Juliano desenha muito bem, também. Eu não acredito muito na existência de talento de uma pessoa para arte. Acredito na prática e na oportunidade. Logicamente que deve haver interesse da pessoa por aquilo que ela tem á mão.
A profissão de tatuador é regulamentada?
Não. Mas existem portarias que regulamentam a fiscalização, em particular da vigilância sanitária. Pelo fato de trabalharmos utilizando objetos perfurocortantes, a secretaria olhou para essa questão e há uma fiscalização muito rígida, que considero muito importante. Isso valoriza o trabalho daqueles que trabalham de acordo com as normas da vigilância sanitária. Isso transmite tranqüilidade para aqueles que desejam serem tatuados.
Você tem uma aparência pessoal que não é muito comum entre os tatuadores profissionais, que tem um visual mais radical. Isso é fruto da sua formação educacional?
Com certeza! È fruto da educação que recebi, do meio em que cresci. Por muito tempo trabalhei como office-boy, fui guarda-mirim, aos 10 anos de idade. Por realizar a função de office-boy, na época, havia um contato próximo com executivos das grandes empresas estabelecidas na cidade. Era um trabalho de confiança, onde é exigido um bom comportamento e muito respeito e educação. O comportamento tem que ser bastante discreto. Acredito que essa é a origem da minha característica, de não ser uma pessoa espetaculosa. Não uso tatuagem no antebraço, piercing, isso não significa que eu reprove quem usa. Não tenho cabelo cumprido, apesar de o tempo ter levado uma boa parte! (risos). Algumas pessoas quando vão ao eu estúdio pela primeira vez, sofrem uma decepção em suas expectativas de encontrarem um profissional com visual gritante. Perguntam para mim: “Cadê o Garoa?”.
Como você analisa o fato de ter começado a trabalhar aos 10 anos de idade na Guarda Mirim?
Foi excelente! Na época a lei permitia. Nessa fase é que começam a serem formadas algumas características da moralidade, vão se formando os conceitos do indivíduo sobre a sociedade. Se não existir o contato com o mundo, com os princípios de responsabilidades, acabam se formando um vácuo, um vazio, na formação intelectual e moral da pessoa. O meu trabalho não afetava meu desenvolvimento físico, não era um trabalho braçal. Não atrapalhava meus estudos. E ainda eu tinha uma remuneração que ajudava. A lei que rege as normas a serem adotadas com relação ao menor é muito genérica. Ela acaba não cumprindo o seu papel social. Tem que ser estabelecidas emendas para regulamentar da melhor forma possível essa situação. È importante que os menores trabalhem em boas empresas, que sejam influenciados por essas empresas, com isso no futuro haverá um profissional já preparado para o mercado. Se tiver que esperar o jovem completar 18 anos de idade para então passar a se integrar no mercado de trabalho, somente após a sua formação acadêmica, cria-se um período em que não há pessoas para realizar atividades básicas. O que acontece é que se coloca uma pessoa com 20 anos de idade para realizar uma tarefa que qualquer garoto faz. Essa pessoa está em uma faixa etária em que deve realizar atividades mais importantes! Mais complexas. Com isso é tirada a oportunidade do menor ter uma formação adequada e cria um adulto frustrado por ocupar cargos que não o realizam plenamente.
Como surgiu o seu cognome de Garoa?
Surgiu quando eu tinha uns 12 anos de idade, fui morar em São Paulo, na casa de um primo, e quando eu voltava para Piracicaba, meus amigos perguntavam: “-Como é a terra da garoa?” Ficou essa coisa de garoa, garoa, pegando o apelido.
Quando surgiu a sua decisão de realizar tatuagens?
Se você observar, irá notar a necessidade do ser humano de registrar fases da vida. Os que mais sentem essa necessidade são os jovens, eles são mais abertos á novidade. O jovenzinho está sempre se cutucando, querendo fazer um sinalzinho. Na minha época, na escola, havia aqueles que usavam a ponta do compasso para fazerem algum tipo de marca. No afã das paixões, pode ser o nome de uma namorada, um coraçãozinho. Quando passei por esse período não fiquei só na ponta do compasso. Peguei agulhas e tintas e fiz em mim mesmo. Existe uma definição de uma socióloga que achei muito interessante. Ela diz que a tatuagem vem suprir as necessidades de rituais que faltam na nossa cultura. Temos poucos rituais que registram nossas fases de vida: batizado, crisma, casamento. È um número baixo de rituais. O ser humano tem uma necessidade intensa de registrar, marcar suas fases. Surge então o impulso de se tatuar. Hoje existem muitos casos em que a tatuagem deixou de simbolizar uma fase da vida do indivíduo e passou a ser adorno decorativo!
Além de ter começado fazendo tatuagem em você mesmo, quem mais foram as suas “cobaias”?
Meus amigos! Acho que fui o inimigo público número 1 do bairro! As mães não aprovavam tatuagens. O resultado obtido não era uma coisa tão bonita para ser apreciada. Era um trabalho grosseiro. Ficava mais como se estivesse manchando, sujando a pele do que algo bonito de se ver.
Quantas tatuagens você realiza por dia, em média?
Em torno de três por dia. Já faço tatuagens há 30 anos. Só que durante esse tempo, houve alguns intervalos na realização de tatuagens.
Em quanto tempo você realiza uma tatuagem relativamente simples?
Uns vinte minutos. Pode ser uma borboleta, uma flor. Um beija-flor.
Se um jovem menor de dezoito anos for fazer uma tatuagem é necessário ter autorização dos pais ou responsáveis?
Não pode ser feita tatuagem em jovem menor de dezoito anos de idade. Existe a Lei Estadual de São Paulo de número 9.828, do Deputado Campos Machado, que proíbe desde 1997, a aplicação de piercings e tatuagem em menores de idade, mesmo com o consentimento dos pais. Essa lei existe pelo fato de uma menor, que durante a sua adolescência foi se tatuando e houve negligencia por parte dos pais na orientação dessa menina. Isso foi em São Paulo. Ela procurou um deputado pedindo que ele a ajudasse a remover as tatuagens que ela havia feito, no período em que ela não tinha total consciência, não tinha muita responsabilidade, inclusive ela acusou os pais de não a terem orientado da forma correta. Ele viu a necessidade de fazer uma lei para proteger menores de seus pais que forem considerados irresponsáveis. Existe, infelizmente, tatuadores que agem de forma irresponsável, tatuando, marcando as pessoas de forma definitiva. De novo a lei vem de uma maneira generalizada, ajuda no sentido de inibir, mas prejudica quem com bom senso, com responsabilidade, quer fazer uma tatuagem pequena, em uma parte discreta, que não irá afetar em nada o futuro dessa pessoa. Quando me procuram, mesmo a pessoa sendo adulta, eu converso bastante e procuro esclarecer que aquilo não irá sair mais. (N.J. No artigo 129 do Código Penal Brasileiro, nos parágrafos 9 e 10 consta que: “Equipara-se à lesão corporal simples a colocação de tatuagens, piercing em qualquer parte do corpo, de menor de 18 (dezoito) anos de idade e maior de 14 (catorze) anos. Aumenta-se a pena de um sexto se a vítima é menor de 14 (catorze) anos de idade.”).
Tatuagem envolvendo o nome da pessoa amada, no caso de uma separação é possível de ser mudada?
Dá para fazer uma alteração no desenho. Faço muito isso, assim como correção de trabalhos que não agradaram a pessoa. A pessoa faz a tatuagem: “Maria ama José”, rompe com José e passa a namorar o Paulo. Eu posso transformar essa tatuagem em diversas outras figuras: um dragão, um ramo de flor.
Qual a pessoa com idade mais elevada que você já tatuou?
Foi o Seu Salvador, aposentado, já na terceira idade. Tatuei em Barra do Sahy, ele é de Rio Claro e mora lá. Ele tinha uma cruz, tatuada no braço, de forma primitiva. Essa cruz virou o rosto de uma índia.
Você já fez tatuagens em regiões inusitadas do corpo?
Já! Inclusive no lado interno do lábio de três rapazes.
Você fez tatuagem em uma modelo que posou para a revista Playboy?
Fiz, foi uma fada tatuada na altura da cintura. Foi a Simone Dreyer Peres, mais conhecida como Syang. Têm várias que freqüentam a revista Caras e que eu tatuei.
Houve um caso em que o tatuado tinha vitiligo?
Foi em uma pessoa que tinha grande constrangimento por ter manchas na região peniana.
Quais os cuidados para se fazer uma tatuagem?
É obrigatório que o tatuador use luvas, máscara, óculos. O ambiente deve ser esterilizado. Uso de material descartável. O que não for descartável tem que ser feito uma assepsia em autoclave.
Você teve um caso em que a pessoa tatuou na sola do pé?
A pessoa tatuou um olho na sola do pé, ele brincava que era para ver bem onde pisava!
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terça-feira, setembro 23, 2008
Professora Doutora Neide Antonia Marcondes de Faria
A Professora Doutora Neide Antonia Marcondes de Faria estará lançando mais uma obra literária: “Na Trilha do Passado Paulista – Piracicaba, Século XIX, Fazendas, Engenhos e Usinas”. Será no próximo dia 26 de setembro, ás 19 horas e 30 minutos, na
Estação da Paulista. Em companhia do Professor Doutor Manoel Lelo Bellotto (pai de Tony Bellotto), ela esteve dia 20 de setembro, sábado passado, nos estúdios da Rádio Educadora de Piracicaba onde ambos participaram do programa Piracicaba Histórias e Memórias. Conforme o Professor Doutor Manoel Bellotto observa no preâmbulo do livro: “Neide Marcondes neste Na Trilha do Passado Paulista, permite-se descrever, abordar e analisar uma realidade geográfica, arquitetônica, agroindustrial e empresarial, que abrange não só uma poética dimensão histórica, pois se reporta às últimas décadas do século XIX e as primeiras do XX, mas que mostra também, exuberante e promissora nesta inquietante realidade. Sua definição espacial foi pela macro-região de Piracicaba, na então Província e no atual Estado de São Paulo; a preocupação fundamental foi , além das referências às terras piracicabanas e ás suas atraentes histórias, descrever e caracterizar o aí edificado patrimônio rural, construído e disseminado em fazendas, engenhos, usinas e engenhos-centrais, com suas arquiteturas, ambiências e entornos, e sua exuberante realização agrícola consubstanciada no plantio e na colheita do café e da cana, desta derivando a produção do açúcar, de amplo consumo no Brasil e no exterior”. A autora já publicou entre outras obras: “O Partido Arquitetônico Rural, São Paulo do Século XIX”, “Na Trilha do Passado Paulista: Jesuíno do Monte Carmelo, o Mestre de Itu”, “Entre Ville e Fazendas”, “(Des) velar a Arte”, “Bernini...O Êxtase Religioso em Dobras e Catástrofes”, “O êxtase do Martírio , São Sebastião em Bernini e Debussy”, “Labirintos e Nós: Imagens Ibéricas em Terras da América”, “Turbulência Cultural em Cenários de Transição, O Século XIX Ibero-Americano”, “Cidades Históricas, Mutações Desafios”. É intensa a promoção de exposições e instalações propiciadas por Neide Marcondes, com obras de sua autoria em inúmeras cidades do Brasil e do exterior como na Espanha, Itália, França, Holanda. Obras suas integram os acervos artístico-culturais da Universidade de Poitiers, na França.
A senhora escolheu a cidade de Piracicaba para fazer o lançamento do livro, principalmente por ser a região abordada por ele?
Esse trabalho é resultado de uma tese de doutorado defendida na Universidade de São Paulo, na Escola de Comunicação e Artes. Isso já faz algum tempo. Essa pesquisa foi toda elaborada para transformar-se em livro. Mais interessante para se ler do que propriamente uma tese com todas as fases científicas. Sou professora titular de História e Teoria da Arte da Unesp fiz livre docência também na Unesp, no Instituto de Artes e fui professora na Pós-Graduação da ECA, Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fiz meu doutorado.
Quanto tempo á senhora levou para escrever esse livro?
O início foi essa pesquisa de mestrado em artes, ainda na década de 70. Toda essa pesquisa realizada progrediu na década de 80 tornando-se quase uma continuação da pesquisa realizada para o mestrado.
Quantos livros a senhora já escreveu?
Além de artigos, periódicos, são oito livros. Alguns apenas coordenando junto com o Professor Bellotto e outros autores, inclusive espanhóis e portugueses. Em 1996 foi publicado um outro trabalho em que trata da influência dos mestres de obras italianos na propriedade rural paulista, aqui de Piracicaba e região de Tietê.
Como são escolhidas as capas dos seus livros?
Tenho escolhido as capas. Tenho uma filha que faz designer gráfico e em algumas das capas ela também trabalhou. Eu também faço uma linguagem artística de pintura e colagem.
Como foi que a senhora realizou as ilustrações e plantas dessas construções rurais?
As propriedades rurais geralmente não possuem plantas, nem a programação de todo o terreno, de toda a propriedade. Foi necessário que eu fizesse um croqui na hora da pesquisa. Nem a própria planta baixa da casa é encontrada. Existia a idéia ainda do chamado “risco no chão”. Era feito um risco no chão, que era por onde deveria subir as paredes. Para realizar essas plantas, fui fazendo esse risco no papel, e com a participação de arquitetos, como Edgar Couto, foi que procedeu nessa linguagem arquitetônica das plantas e da programação das próprias fazendas.
Se contarmos desde o início das pesquisas até hoje decorreram 38 anos, essas propriedades ainda permanecem?
Aqui em Piracicaba algumas casas já não existem mais. De uma forma geral todas permanecem. Inclusive algumas foram restauradas. Outras propriedades, como a antiga Usina Monte Alegre, os edifícios anteriormente utilizados para a produção, bem como as casas então denominadas de casas de colonos, estão completamente abandonados. O bairro ali está inteiro. O Engenho Central em Piracicaba está sendo utilizado com finalidades culturais. Quando eu fiz todo esse trabalho de pesquisa, houve também um processo de conscientização dos proprietários. Alguns diziam: “A senhora documenta e registra, porque isso eu vou por abaixo, de velho chega eu!”. Eu procurava dizer que o fato dele possuir tanto terreno permitia que ele preservasse aquele espaço. Acho que deveria haver um diário de pesquisa, porque muita coisa acontece! Alguns proprietários recebem o pesquisador muito bem, outros sentem um pouco de medo, são a princípio desconfiados. Para realizar as fotos é necessário enfrentar dificuldades naturais. Coisas interessantes acontecem! Ao lado desse levantamento de campo, há a idéia da pesquisa histórica junto a documentos da propriedade, e também o que foi feito no arquivo do Estado de São Paulo, no arquivo de Piracicaba, nos Cartórios, para termos a origem dessa terra.
Como a senhora vê a preservação de imóveis antigos, inclusive na área urbana?
Existem várias controvérsias. Alguns arquitetos defendem a restauração, mesmo que seja utilizado outro tipo de material diferente do utilizado originalmente. Outra idéia, muito comum na Europa, é permanecer a construção original, e eles constroem edifícios modernos ao lado ou atrás da construção primitiva. Um exemplo que temos em São Paulo foi o que aconteceu na Avenida Paulista na Casa das Rosas. Foi conservada a construção anterior e construído o edifício abraçando aquela casa. Há uma integração. Isso é bastante novo. O pensamento de algum tempo atrás era por abaixo e construir os novos edifícios. Esse novo conceito está prevalecendo agora, junto ao patrimônio, arquitetos e historiadores.
Existem casos em que construções históricas evaporaram na calada da noite.
Existe a atuação da especulação imobiliária. Foi o que aconteceu também na Avenida Paulista, em São Paulo, com a casa da família Matarazzo. O alto preço do metro quadrado praticado naquela região fez com que muitas casas construídas no período áureo do café, desaparecessem na calada da noite.
Quem perde com isso?
É uma situação de cultura. Naturalmente quem perde é a própria população, o entorno desse local.
A senhora acredita que é interessante para alguns não conservar marcas do passado?
Também! Por razões pessoais, ou por simplesmente não haver interesse.
Em seu livro a senhora cita que “só o novo, completo e belo é valorizado”.
Exatamente. Existe uma situação também em que o restauro é muito caro. É muito mais fácil e construir outra coisa.
São gastos milhões em outras atividades, porque não há interesse em investir em cultura?
Já existe uma ligeira idéia em investir-se em cultura. A publicação de livros, por exemplo, é uma ação muito dispendiosa. Tem que ser feito um trabalho árduo existe leis que regulamentam o setor, e o apoio pode sair ou não. Em particular, no caso deste livro, me sinto honrada por ter uma publicação do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba.
Qual foi a maior dificuldade que a senhora encontrou para realizar esse livro?
Fiz uma especialização em História da Arquitetura com Leonardo Benévolo (N.J. Nascido em Orta, Itália em 1923, Leonardo Benévolo estudou arquitetura em Roma e doutorou-se em 1946. Desde então passou a ensinar História da Arquitetura nas Universidades de Roma, Florença, Veneza e Palermo. Leonardo Benevolo é o mais conhecido estudioso italiano da história da arquitetura. Publicou já muitas obras dentro da sua área. Fonte de referência: Livraria Almedina) , quando ele esteve em São Paulo dando esse curso. Os professores Nestor Goulart, Benedito Lima de Toledo foram incentivadores desse trabalho. Inclusive o Professor Nestor, em tom de brincadeira disse-me para realizar um trabalho envolvendo o interior de São Paulo, porque os arquitetos não gostam muito de sair para longe da sua prancheta. Assim foi que comecei. Primeiro conheci a região localizando-a no mapa, a prefeitura ajudou muito contribuindo com idéias, e em seguida indo a campo. Pegando o carro e saindo! Foi necessário adaptar a linguagem para poder obter informações sobre as construções. Muitas vezes recebia a resposta; “Tem uma casa velha lá, aquela casa não serve para nada, porque a senhora quer ir para lá?” Eu então tinha que explicar. Foi um período de várias visitas á Piracicaba e região. Fazer esse trabalho de entrar, pedir. Em alguns momentos fui muito bem recebida. Como na Chácara Nazareth, pelo então Deputado João Pacheco e Chaves. Isso foi em 1980.
Em suas pesquisas de campo foram encontradas telhas, tijolos com marcas identificando-os?
Encontrei! Telhas da Fazenda Milhã, tijolos com algumas iniciais. Guardo algumas peças comigo. Geralmente eram símbolos das próprias olarias. Na Fazenda Pau D`Alho o que pode ser chamada de senzala tanto a estrutura como as paredes eram feitas com pedras.
Existe alguma diferença entre as fazendas da região de Piracicaba e as do Vale do Paraíba?
Na História da Arte conheci a arquitetura exuberante, deslumbrante, que nós temos do Norte, do Nordeste, da Bahia, do Rio de Janeiro. São Paulo sempre teve essa arquitetura, das casas bandeiristas, da casa do Padre Inácio. (O Sítio do Padre Inácio, com sua casa grande, tombado pelo IPHAN, constitui marco importantedo ciclo bandeirista-jesuístico e depois tropeiro na cidade de Cotia). São construções com soluções plásticas muito significativas, embora bastante simples. As casas do Vale do Paraíba são mais antigas, pela entrada do café, que se iniciou no Vale do Paraíba e depois veio para São Paulo e Oeste de São Paulo. Hoje existem muitas casas restauradas, que se transformaram em pousadas. São casas mais bem elaboradas plasticamente. Inclusive em seu mobiliário.
A senhora freqüenta um ambiente bastante intelectualizado em São Paulo e também o ambiente mais simples do interior. Como o intelectual do grande centro vê o interior?
Há um interesse muito grande no interior de São Paulo, que é um interior muito rico culturalmente. Estão descobrindo esta parte do interior de São Paulo. Inclusive esse trabalho já foi apresentado em um congresso em Carmona, Sevilha. A arquitetura rural, especialmente a de Piracicaba, foi apresentada aos espanhóis. Já há um interesse muito grande nesse interior, particularmente de São Paulo.
O Brasil que se resumia no eixo Rio-São Paulo está voltando seus olhos para o interior?
Sim. Inclusive com preocupação com essa plantação progressiva da cana de açúcar. Podemos imaginar essa plantação próxima do Pantanal, próxima da Floresta Amazônica. Em 1980, quando fui entrevistar o dono da Fazenda Milhã, ele disse-me que estava bastante preocupado. Note que isso foi em 1980. Ele disse-me: “Em qualquer época vamos ter só cana, não teremos mais arroz e feijão. Isso me preocupa”.
Essas propriedades que a senhora visitou são todas produtivas?
Todas elas são produtivas. Algumas com produção de subsistência. Todas elas tem uma produção.
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Estação da Paulista. Em companhia do Professor Doutor Manoel Lelo Bellotto (pai de Tony Bellotto), ela esteve dia 20 de setembro, sábado passado, nos estúdios da Rádio Educadora de Piracicaba onde ambos participaram do programa Piracicaba Histórias e Memórias. Conforme o Professor Doutor Manoel Bellotto observa no preâmbulo do livro: “Neide Marcondes neste Na Trilha do Passado Paulista, permite-se descrever, abordar e analisar uma realidade geográfica, arquitetônica, agroindustrial e empresarial, que abrange não só uma poética dimensão histórica, pois se reporta às últimas décadas do século XIX e as primeiras do XX, mas que mostra também, exuberante e promissora nesta inquietante realidade. Sua definição espacial foi pela macro-região de Piracicaba, na então Província e no atual Estado de São Paulo; a preocupação fundamental foi , além das referências às terras piracicabanas e ás suas atraentes histórias, descrever e caracterizar o aí edificado patrimônio rural, construído e disseminado em fazendas, engenhos, usinas e engenhos-centrais, com suas arquiteturas, ambiências e entornos, e sua exuberante realização agrícola consubstanciada no plantio e na colheita do café e da cana, desta derivando a produção do açúcar, de amplo consumo no Brasil e no exterior”. A autora já publicou entre outras obras: “O Partido Arquitetônico Rural, São Paulo do Século XIX”, “Na Trilha do Passado Paulista: Jesuíno do Monte Carmelo, o Mestre de Itu”, “Entre Ville e Fazendas”, “(Des) velar a Arte”, “Bernini...O Êxtase Religioso em Dobras e Catástrofes”, “O êxtase do Martírio , São Sebastião em Bernini e Debussy”, “Labirintos e Nós: Imagens Ibéricas em Terras da América”, “Turbulência Cultural em Cenários de Transição, O Século XIX Ibero-Americano”, “Cidades Históricas, Mutações Desafios”. É intensa a promoção de exposições e instalações propiciadas por Neide Marcondes, com obras de sua autoria em inúmeras cidades do Brasil e do exterior como na Espanha, Itália, França, Holanda. Obras suas integram os acervos artístico-culturais da Universidade de Poitiers, na França.
A senhora escolheu a cidade de Piracicaba para fazer o lançamento do livro, principalmente por ser a região abordada por ele?
Esse trabalho é resultado de uma tese de doutorado defendida na Universidade de São Paulo, na Escola de Comunicação e Artes. Isso já faz algum tempo. Essa pesquisa foi toda elaborada para transformar-se em livro. Mais interessante para se ler do que propriamente uma tese com todas as fases científicas. Sou professora titular de História e Teoria da Arte da Unesp fiz livre docência também na Unesp, no Instituto de Artes e fui professora na Pós-Graduação da ECA, Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fiz meu doutorado.
Quanto tempo á senhora levou para escrever esse livro?
O início foi essa pesquisa de mestrado em artes, ainda na década de 70. Toda essa pesquisa realizada progrediu na década de 80 tornando-se quase uma continuação da pesquisa realizada para o mestrado.
Quantos livros a senhora já escreveu?
Além de artigos, periódicos, são oito livros. Alguns apenas coordenando junto com o Professor Bellotto e outros autores, inclusive espanhóis e portugueses. Em 1996 foi publicado um outro trabalho em que trata da influência dos mestres de obras italianos na propriedade rural paulista, aqui de Piracicaba e região de Tietê.
Como são escolhidas as capas dos seus livros?
Tenho escolhido as capas. Tenho uma filha que faz designer gráfico e em algumas das capas ela também trabalhou. Eu também faço uma linguagem artística de pintura e colagem.
Como foi que a senhora realizou as ilustrações e plantas dessas construções rurais?
As propriedades rurais geralmente não possuem plantas, nem a programação de todo o terreno, de toda a propriedade. Foi necessário que eu fizesse um croqui na hora da pesquisa. Nem a própria planta baixa da casa é encontrada. Existia a idéia ainda do chamado “risco no chão”. Era feito um risco no chão, que era por onde deveria subir as paredes. Para realizar essas plantas, fui fazendo esse risco no papel, e com a participação de arquitetos, como Edgar Couto, foi que procedeu nessa linguagem arquitetônica das plantas e da programação das próprias fazendas.
Se contarmos desde o início das pesquisas até hoje decorreram 38 anos, essas propriedades ainda permanecem?
Aqui em Piracicaba algumas casas já não existem mais. De uma forma geral todas permanecem. Inclusive algumas foram restauradas. Outras propriedades, como a antiga Usina Monte Alegre, os edifícios anteriormente utilizados para a produção, bem como as casas então denominadas de casas de colonos, estão completamente abandonados. O bairro ali está inteiro. O Engenho Central em Piracicaba está sendo utilizado com finalidades culturais. Quando eu fiz todo esse trabalho de pesquisa, houve também um processo de conscientização dos proprietários. Alguns diziam: “A senhora documenta e registra, porque isso eu vou por abaixo, de velho chega eu!”. Eu procurava dizer que o fato dele possuir tanto terreno permitia que ele preservasse aquele espaço. Acho que deveria haver um diário de pesquisa, porque muita coisa acontece! Alguns proprietários recebem o pesquisador muito bem, outros sentem um pouco de medo, são a princípio desconfiados. Para realizar as fotos é necessário enfrentar dificuldades naturais. Coisas interessantes acontecem! Ao lado desse levantamento de campo, há a idéia da pesquisa histórica junto a documentos da propriedade, e também o que foi feito no arquivo do Estado de São Paulo, no arquivo de Piracicaba, nos Cartórios, para termos a origem dessa terra.
Como a senhora vê a preservação de imóveis antigos, inclusive na área urbana?
Existem várias controvérsias. Alguns arquitetos defendem a restauração, mesmo que seja utilizado outro tipo de material diferente do utilizado originalmente. Outra idéia, muito comum na Europa, é permanecer a construção original, e eles constroem edifícios modernos ao lado ou atrás da construção primitiva. Um exemplo que temos em São Paulo foi o que aconteceu na Avenida Paulista na Casa das Rosas. Foi conservada a construção anterior e construído o edifício abraçando aquela casa. Há uma integração. Isso é bastante novo. O pensamento de algum tempo atrás era por abaixo e construir os novos edifícios. Esse novo conceito está prevalecendo agora, junto ao patrimônio, arquitetos e historiadores.
Existem casos em que construções históricas evaporaram na calada da noite.
Existe a atuação da especulação imobiliária. Foi o que aconteceu também na Avenida Paulista, em São Paulo, com a casa da família Matarazzo. O alto preço do metro quadrado praticado naquela região fez com que muitas casas construídas no período áureo do café, desaparecessem na calada da noite.
Quem perde com isso?
É uma situação de cultura. Naturalmente quem perde é a própria população, o entorno desse local.
A senhora acredita que é interessante para alguns não conservar marcas do passado?
Também! Por razões pessoais, ou por simplesmente não haver interesse.
Em seu livro a senhora cita que “só o novo, completo e belo é valorizado”.
Exatamente. Existe uma situação também em que o restauro é muito caro. É muito mais fácil e construir outra coisa.
São gastos milhões em outras atividades, porque não há interesse em investir em cultura?
Já existe uma ligeira idéia em investir-se em cultura. A publicação de livros, por exemplo, é uma ação muito dispendiosa. Tem que ser feito um trabalho árduo existe leis que regulamentam o setor, e o apoio pode sair ou não. Em particular, no caso deste livro, me sinto honrada por ter uma publicação do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba.
Qual foi a maior dificuldade que a senhora encontrou para realizar esse livro?
Fiz uma especialização em História da Arquitetura com Leonardo Benévolo (N.J. Nascido em Orta, Itália em 1923, Leonardo Benévolo estudou arquitetura em Roma e doutorou-se em 1946. Desde então passou a ensinar História da Arquitetura nas Universidades de Roma, Florença, Veneza e Palermo. Leonardo Benevolo é o mais conhecido estudioso italiano da história da arquitetura. Publicou já muitas obras dentro da sua área. Fonte de referência: Livraria Almedina) , quando ele esteve em São Paulo dando esse curso. Os professores Nestor Goulart, Benedito Lima de Toledo foram incentivadores desse trabalho. Inclusive o Professor Nestor, em tom de brincadeira disse-me para realizar um trabalho envolvendo o interior de São Paulo, porque os arquitetos não gostam muito de sair para longe da sua prancheta. Assim foi que comecei. Primeiro conheci a região localizando-a no mapa, a prefeitura ajudou muito contribuindo com idéias, e em seguida indo a campo. Pegando o carro e saindo! Foi necessário adaptar a linguagem para poder obter informações sobre as construções. Muitas vezes recebia a resposta; “Tem uma casa velha lá, aquela casa não serve para nada, porque a senhora quer ir para lá?” Eu então tinha que explicar. Foi um período de várias visitas á Piracicaba e região. Fazer esse trabalho de entrar, pedir. Em alguns momentos fui muito bem recebida. Como na Chácara Nazareth, pelo então Deputado João Pacheco e Chaves. Isso foi em 1980.
Em suas pesquisas de campo foram encontradas telhas, tijolos com marcas identificando-os?
Encontrei! Telhas da Fazenda Milhã, tijolos com algumas iniciais. Guardo algumas peças comigo. Geralmente eram símbolos das próprias olarias. Na Fazenda Pau D`Alho o que pode ser chamada de senzala tanto a estrutura como as paredes eram feitas com pedras.
Existe alguma diferença entre as fazendas da região de Piracicaba e as do Vale do Paraíba?
Na História da Arte conheci a arquitetura exuberante, deslumbrante, que nós temos do Norte, do Nordeste, da Bahia, do Rio de Janeiro. São Paulo sempre teve essa arquitetura, das casas bandeiristas, da casa do Padre Inácio. (O Sítio do Padre Inácio, com sua casa grande, tombado pelo IPHAN, constitui marco importantedo ciclo bandeirista-jesuístico e depois tropeiro na cidade de Cotia). São construções com soluções plásticas muito significativas, embora bastante simples. As casas do Vale do Paraíba são mais antigas, pela entrada do café, que se iniciou no Vale do Paraíba e depois veio para São Paulo e Oeste de São Paulo. Hoje existem muitas casas restauradas, que se transformaram em pousadas. São casas mais bem elaboradas plasticamente. Inclusive em seu mobiliário.
A senhora freqüenta um ambiente bastante intelectualizado em São Paulo e também o ambiente mais simples do interior. Como o intelectual do grande centro vê o interior?
Há um interesse muito grande no interior de São Paulo, que é um interior muito rico culturalmente. Estão descobrindo esta parte do interior de São Paulo. Inclusive esse trabalho já foi apresentado em um congresso em Carmona, Sevilha. A arquitetura rural, especialmente a de Piracicaba, foi apresentada aos espanhóis. Já há um interesse muito grande nesse interior, particularmente de São Paulo.
O Brasil que se resumia no eixo Rio-São Paulo está voltando seus olhos para o interior?
Sim. Inclusive com preocupação com essa plantação progressiva da cana de açúcar. Podemos imaginar essa plantação próxima do Pantanal, próxima da Floresta Amazônica. Em 1980, quando fui entrevistar o dono da Fazenda Milhã, ele disse-me que estava bastante preocupado. Note que isso foi em 1980. Ele disse-me: “Em qualquer época vamos ter só cana, não teremos mais arroz e feijão. Isso me preocupa”.
Essas propriedades que a senhora visitou são todas produtivas?
Todas elas são produtivas. Algumas com produção de subsistência. Todas elas tem uma produção.
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Clemência Pecorari Pizzigati
A professora e artista plástica Clemência Pecorari Pizzigati é descendente de várias gerações de artistas. Seu pai, seu avô, o pai do seu avô, e outros ancestrais fora exímios artesões em madeira. Ela ainda conserva alguns móveis construídos ou restaurados por eles. Uma das peças que mais impressiona é um armário de cozinha, cujas portas se movimentam através de um pino em cada extremidade, simplesmente não usam dobradiças! Panelas de cobre feitas por Francisco Crócomo, réplicas de peças medievais. Tudo em sua casa está na mais perfeita ordem. A arte está presente em todos os detalhes. Pastilhas de cerâmica com perfeita mobilidade, montadas em uma malha especial cobrem os braços dos sofás, dando um toque de rara beleza. O material utilizado pela artista é facilmente encontrado no comércio, muitas vezes ela transforma um objeto de uso pessoal, como um par de brincos em um magnífico suporte de uma rara relíquia. Talvez ela seja a única pessoa em Piracicaba que tem uma lasca do osso de Santa Clemência, autenticado com o selo do Vaticano! Para quem gosta de arte e da história que existe em cada objeto antigo, visitar Clemência é como um adolescente ir á Disneylândia! Com eterno bom humor, quebrado apenas quando o assunto é injustiça de qualquer natureza, Clemência tem sempre um sorriso carinhoso, que a torna mais carismática. Um grande número de ex-alunos, muitos ocupando cargos de destaque no Brasil, e até no exterior, rendem manifestações de apreço e carinho aquela que não se limitou apenas a ensinar a matéria de um currículo. Ela os educou para viverem. A função de formar pessoas com caráter, personalidade, visão da realidade. A legítima função de professora sempre foi exercida com brandura e firmeza por Clemência Pizzigati. Infelizmente hoje um professor para sobreviver carrega uma estafante, quase insana, carga horária. Muitas vezes a remuneração é insuficiente até mesmo para manter um padrão mínimo aceitável. Clemência é responsável por muitas obras espalhadas pela cidade, entre elas o painel que foi pintado no muro da Igreja dos Frades, com seus alunos do Colégio Estadual Jorge Coury. Recentemente foram pintados painéis sob a sua orientação, nos muros do Cemitério da Saudade. Um imenso painel foi idelizado e realizado por ela há trinta anos no Mirante do Rio Piracicaba. Hoje Clemência tem um sonho: fazer um memorável piquenique com a presença de seus ex-alunos e respectivas famílias, bem como a todos aqueles que quiserem participar. O objetivo é comemorar os trinta anos do painel instalado no Parque do Mirante. A data marcada é dia 12 de outubro próximo, um domingo, antecipando as comemorações do dia do professor. As adesões podem ser feitas com Miguel Salles no período das 17 horas até as 20 horas, tods os dias da semana, através do telefone (19) 3493.1581. Para os piracicabanos, particularmente aqueles que residem na Vila Rezende será um momento de nostalgia. Muitas famílias costumavam ir até o Mirante, para á sombra das árvores passarem momentos de lazer com a família, degustando os quitutes que traziam de casa. A seguir algumas das revelações feitas por Clemência em entrevista gravada na sua residência.
Existem algumas passagens marcantes em sua vida, uma delas é a visão do “follieri” na Piracicaba de alguns anos passados?
Eu não me lembro o nome completo dele, sei que é o pai do Francisco Crócomo, ele era folheiro, artesão que fazia panelas, lanternas, lamparinas. Uma profissão que na Itália era passada de pai para filho. Napoleão Bonaparte ganhou o território que conquistou porque a Nestlé na Suíça inventou o processo de armazenar a comida em latas. Quando a folha de flandres permitiu a fabricação de latas, o leite em pó, a comida em lata, foi a grande opção para alimentar os batalhões de soldados. Não foi só o material bélico que possibilitou os avanços das tropas. Eram latas de qualidade muito boa, que ainda hoje são encontradas, apesar de serem feitas por volta de 1800. Essas latas após serem utilizadas eram recebiam os cabos e tampas, transformando-se em utensílios domésticos como panelas como, por exemplo. Quando o pai do Francisco Crócomo, avô do professor universitário Francisco Constantino Crócomo, chegou ao Brasil, o país importava muitos alimentos enlatados. Peixe, cerveja, vinha tudo em grandes latas. Lembro-me de que o folheiro tinha um varão de madeira colocado sobre o ombro, onde na frente eram colocadas as peças oferecidas para a venda. O cliente poderia simplesmente adquirir ou permutar, uma caneca com cabo era oferecida em troca de três latas vazias. Aquilo era lindo, as panelas, frigideiras, canecas, eram dispostas em uma pilha dependurada nos varais. Ele saía vestido de terno de linho branco, gravata, com os filhos acompanhando. Ele descia pela Rua XV de Novembro, na época ele morava em local próximo onde hoje é o terminal urbano. Ele vinha descendo e gritando: “Follieriiiiii!”. Esse grito apregoando a mercadoria permanece nítido em meu ouvido até hoje! Quando ele chegava á Rua do Porto, o som ecoava sobre ás águas do rio, lá embaixo ouvíamos aquele grito. O barulho das peças dependuradas no varal se chocando iam dando um tom característico. Essa função foi trazida da Europa, onde era comum. Quando surgiram as indústrias de panelas no Brasil, eles passaram a trabalhar com calhas para telhados. O Francisco Crócomo, após aposentar-se, passou a realizar artesanato em cobre, e expunha na Praça da Catedral. Eram peças muito bem elaboradas, inclusive alambiques. Ele foi escolhido por uma iniciativa do governo estadual da época para ir expor em São Paulo. Ele passou a vender seu trabalho em uma feira de São Paulo. Um dia chegou até a feira um senhor de aspecto bem apessoado, desceu do carro conduzido por seu motorista, olhou as peças de cobre que Francisco Crócomo estava expondo e disse: “-Eu quero comprar todas as suas peças”. Passados uns quatro meses, esse homem veio até Piracicaba, procurando o Francisco Crócomo. Era na realidade um senhor italiano. Ele disse ao Crócomo: “-Esta chaleira foi feita pelo tataravô.” Ele disse que havia comprado todas as peças uns meses antes porque ele era da mesma cidade de origem do pai de Francisco Crócomo, e que foi vizinho deles na Itália! As peças confeccionadas em cobre pela família Crócomo na Itália recebiam um símbolo embaixo delas, caracterizando como marca própria. Francisco Crócomo desmanchou a chaleira feita pelo seu antepassado distante, fez o molde, e produziu uma chaleira para cada filho, três para o italiano e uma para Clemência Pizzigatti.
A senhora tem um modelo de chaleira idêntico aos que eram utilizados com mandrágora?
Tenho sim! É uma chaleira utilizada na Idade Média, onde muitas poções eram preparadas com as raízes da mandrágora, além de folhas e ervas. Eram utilizadas pelos alquimistas.
A senhora fez o cartaz de uma peça teatral realizada por alunos do Colégio Estadual Dr. Jorge Coury?
O cartaz foi feito utilizando a técnica de xilogravura. A peça “Dez Vidas” dirigida por Miguel Salles, com crítica de João Chiarini, foi encenada por alunos no Clube Cristóvão Colombo da Rua Governador Pedro de Toledo. Trata-se de uma peça abordando a Inconfidência Mineira.
A senhora conheceu o Clube Português em Piracicaba?
Conheci com todos os seus detalhes. Eu nasci em frente, freqüentei muito, fazia parte até histórica do clube! Existiam livros precisos de Machado de Assis, Eça de Queiroz, Os Lusíadas, completo. Havia uma mesa da presidência com uma cadeira que formavam um conjunto maravilhoso. Existiam cem cadeiras esculpidas pelo Nardin, de palhinha, que compunham o salão. Além de brasões, bandeiras. Era muito bonito.
A senhora morou em outras localidades além de Piracicaba?
Por 15 anos morei em São Carlos. Depois residi 11 anos em Águas de São Pedro.
A senhora lembra-se das Festas do Divino ocorridas na Rua do Porto?
Eu tenho 73 anos de idade, acompanho desde criança, conheço da Rua do Porto como eram as rezas, as contorias. A Rua do Porto quando começava a novena, todos eram envolvidos. Meu avô tinha a Arapuca lá. O Armazém do Pecorari, junto com a olaria era o meu ambiente. A minha mãe nasceu na Rua do Porto. A Festa do Divino até determinada época foi uma. Depois quando foi renovada, passou a ser uma festa pasteurizada. As crianças que participavam cresciam adultos com fé. Hoje é evidenciado o lado comercial. Houve um prejuízo na fé. As regras da Irmandade eram rígidas. Se um deles morria, eles permaneciam por quarenta dias andando descalços para fazerem penitencia. As atividades da Irmandade, de socorro econômico, de assistência, faziam com que a Irmandade existisse efetivamente. Minha mãe dizia que era barriga verde. Quem nascia na Rua do Porto á cidade chamava de Barriga Verde. Quando a cidade era pequena, a Rua do Porto era periferia. Havia um menosprezo com relação a quem morava na Rua do Porto.
O avô da senhora foi um líder da região da Rua do Porto?
O meu avô era um líder, um dos motivos é porque ele sabia ler e escrever. O nome dele de batismo era Xenofonte Pecorari, mas o povo não aceitava com facilidade chamá-lo de Xenofonte, ele passou a assinar como Afonso. Depois ele teve que apostilar o nome dele como Afonso Xenofonte Pecorari. Ele era um italiano que comprava barricas de vinho, de azeitonas, e em seu estabelecimento, o então chamado de secos e molhados, onde havia de tudo. Ele matava porco, fazia lingüiça, um dos produtos muito procurados chamava-se copa (defumado de carne suína). Eram vendidos no balcão sanduíches. As pessoas que iam pescar compravam seus apreciados sanduíches de pão com lingüiça. Era muito comum estarem por lá os membros das famílias Dutra, Pacheco. Aos fins de semana podia ser encontrado Lagreca, Erotides de Campos, gente da cidade. Formavam aquela roda, onde comiam e bebiam. Meu avô era sócio do Clube do Livro, e recebia livros em francês e italiano. Ele lia as histórias, tornando-se um bom contador de casos. Tinha uma freguesia que se sentava nos sacos de arroz, feijão, batata e ficava lá ouvindo as histórias, Ele assinava o jornal Fanfulla, depois passou a assinar O Martelo. As pessoas residentes nos bairros dos Marins, Pau Queimado, vinham pedir para ele escrever cartas. Pediam que ele arrumasse um advogado quando precisavam, e ainda que ele os acompanhasse. Ocasiões em que ocorria batismo, casamento, era na venda que acontecia. O correio entregava correspondências até a Rua XV de Novembro, não levava carta na Rua do Porto. O filho mais novo dele ia á Rua XV onde ficava guardada a correspondência e entregava as cartas para seus destinatários. Só que as pessoas que recebiam as cartas não sabiam ler! Eles iam ao armazém para meu avô ler as cartas! A Rua do Porto tinha uma vida interessantíssima, havia as casinhas dos pescadores, aquele pessoal simples, humilde. Á tarde eles colocavam uma bacia com água, sentavam na porta, para lavar os pés antes de dormir. Isso quem se lavava. Os que dormiam em rede tinham um pauzinho, quando ia deitar na rede para dormir, para tirar a terra do pé, raspavam com o pauzinho. Meu avô aplicava injeções, curava ferida. Qualquer um que estivesse doente minha avó já fazia uma canja para mandar. Naquela época ele vendia marcando as despesas em caderneta. Quando uma pessoa morria na família que comprava lá, ele fazia um “X” e perdoava o pagamento. Ele pertencia á diretoria da Società Italiana de Mutuo Socorro. Meu avô paterno, Natali Pizzigatti era bastante politizado. Ele estudava filosofia. Meu avô era da Irmandade do Santíssimo, usava a opa, ajudava o padre. No período da Revolução Constitucionalista de 1932, o Monsenhor Gallo, que era muito respeitado, subiu no púlpito, e passou a apregoar para que os casais que tivessem filhos homens para que os mandasse para a revolução. Meu avô Natali com sete filhos homens, saiu do altar, foi em frente do púlpito e disse ao Monsenhor Gallo que ele estava incentivando os filhos de outras pessoas para irem á frente de combate pelo motivo de não ser pai! “Essa revolução é uma luta de irmão contra irmão!” disse ele. Ficou uma polêmica muito grande dentro da igreja. Meu avô Natali teve uma grande atuação como elemento formador de opinião para as massas, a ponto de algumas pessoas recomendarem á meu pai, que procurasse controlar as ações do meu avô!
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Existem algumas passagens marcantes em sua vida, uma delas é a visão do “follieri” na Piracicaba de alguns anos passados?
Eu não me lembro o nome completo dele, sei que é o pai do Francisco Crócomo, ele era folheiro, artesão que fazia panelas, lanternas, lamparinas. Uma profissão que na Itália era passada de pai para filho. Napoleão Bonaparte ganhou o território que conquistou porque a Nestlé na Suíça inventou o processo de armazenar a comida em latas. Quando a folha de flandres permitiu a fabricação de latas, o leite em pó, a comida em lata, foi a grande opção para alimentar os batalhões de soldados. Não foi só o material bélico que possibilitou os avanços das tropas. Eram latas de qualidade muito boa, que ainda hoje são encontradas, apesar de serem feitas por volta de 1800. Essas latas após serem utilizadas eram recebiam os cabos e tampas, transformando-se em utensílios domésticos como panelas como, por exemplo. Quando o pai do Francisco Crócomo, avô do professor universitário Francisco Constantino Crócomo, chegou ao Brasil, o país importava muitos alimentos enlatados. Peixe, cerveja, vinha tudo em grandes latas. Lembro-me de que o folheiro tinha um varão de madeira colocado sobre o ombro, onde na frente eram colocadas as peças oferecidas para a venda. O cliente poderia simplesmente adquirir ou permutar, uma caneca com cabo era oferecida em troca de três latas vazias. Aquilo era lindo, as panelas, frigideiras, canecas, eram dispostas em uma pilha dependurada nos varais. Ele saía vestido de terno de linho branco, gravata, com os filhos acompanhando. Ele descia pela Rua XV de Novembro, na época ele morava em local próximo onde hoje é o terminal urbano. Ele vinha descendo e gritando: “Follieriiiiii!”. Esse grito apregoando a mercadoria permanece nítido em meu ouvido até hoje! Quando ele chegava á Rua do Porto, o som ecoava sobre ás águas do rio, lá embaixo ouvíamos aquele grito. O barulho das peças dependuradas no varal se chocando iam dando um tom característico. Essa função foi trazida da Europa, onde era comum. Quando surgiram as indústrias de panelas no Brasil, eles passaram a trabalhar com calhas para telhados. O Francisco Crócomo, após aposentar-se, passou a realizar artesanato em cobre, e expunha na Praça da Catedral. Eram peças muito bem elaboradas, inclusive alambiques. Ele foi escolhido por uma iniciativa do governo estadual da época para ir expor em São Paulo. Ele passou a vender seu trabalho em uma feira de São Paulo. Um dia chegou até a feira um senhor de aspecto bem apessoado, desceu do carro conduzido por seu motorista, olhou as peças de cobre que Francisco Crócomo estava expondo e disse: “-Eu quero comprar todas as suas peças”. Passados uns quatro meses, esse homem veio até Piracicaba, procurando o Francisco Crócomo. Era na realidade um senhor italiano. Ele disse ao Crócomo: “-Esta chaleira foi feita pelo tataravô.” Ele disse que havia comprado todas as peças uns meses antes porque ele era da mesma cidade de origem do pai de Francisco Crócomo, e que foi vizinho deles na Itália! As peças confeccionadas em cobre pela família Crócomo na Itália recebiam um símbolo embaixo delas, caracterizando como marca própria. Francisco Crócomo desmanchou a chaleira feita pelo seu antepassado distante, fez o molde, e produziu uma chaleira para cada filho, três para o italiano e uma para Clemência Pizzigatti.
A senhora tem um modelo de chaleira idêntico aos que eram utilizados com mandrágora?
Tenho sim! É uma chaleira utilizada na Idade Média, onde muitas poções eram preparadas com as raízes da mandrágora, além de folhas e ervas. Eram utilizadas pelos alquimistas.
A senhora fez o cartaz de uma peça teatral realizada por alunos do Colégio Estadual Dr. Jorge Coury?
O cartaz foi feito utilizando a técnica de xilogravura. A peça “Dez Vidas” dirigida por Miguel Salles, com crítica de João Chiarini, foi encenada por alunos no Clube Cristóvão Colombo da Rua Governador Pedro de Toledo. Trata-se de uma peça abordando a Inconfidência Mineira.
A senhora conheceu o Clube Português em Piracicaba?
Conheci com todos os seus detalhes. Eu nasci em frente, freqüentei muito, fazia parte até histórica do clube! Existiam livros precisos de Machado de Assis, Eça de Queiroz, Os Lusíadas, completo. Havia uma mesa da presidência com uma cadeira que formavam um conjunto maravilhoso. Existiam cem cadeiras esculpidas pelo Nardin, de palhinha, que compunham o salão. Além de brasões, bandeiras. Era muito bonito.
A senhora morou em outras localidades além de Piracicaba?
Por 15 anos morei em São Carlos. Depois residi 11 anos em Águas de São Pedro.
A senhora lembra-se das Festas do Divino ocorridas na Rua do Porto?
Eu tenho 73 anos de idade, acompanho desde criança, conheço da Rua do Porto como eram as rezas, as contorias. A Rua do Porto quando começava a novena, todos eram envolvidos. Meu avô tinha a Arapuca lá. O Armazém do Pecorari, junto com a olaria era o meu ambiente. A minha mãe nasceu na Rua do Porto. A Festa do Divino até determinada época foi uma. Depois quando foi renovada, passou a ser uma festa pasteurizada. As crianças que participavam cresciam adultos com fé. Hoje é evidenciado o lado comercial. Houve um prejuízo na fé. As regras da Irmandade eram rígidas. Se um deles morria, eles permaneciam por quarenta dias andando descalços para fazerem penitencia. As atividades da Irmandade, de socorro econômico, de assistência, faziam com que a Irmandade existisse efetivamente. Minha mãe dizia que era barriga verde. Quem nascia na Rua do Porto á cidade chamava de Barriga Verde. Quando a cidade era pequena, a Rua do Porto era periferia. Havia um menosprezo com relação a quem morava na Rua do Porto.
O avô da senhora foi um líder da região da Rua do Porto?
O meu avô era um líder, um dos motivos é porque ele sabia ler e escrever. O nome dele de batismo era Xenofonte Pecorari, mas o povo não aceitava com facilidade chamá-lo de Xenofonte, ele passou a assinar como Afonso. Depois ele teve que apostilar o nome dele como Afonso Xenofonte Pecorari. Ele era um italiano que comprava barricas de vinho, de azeitonas, e em seu estabelecimento, o então chamado de secos e molhados, onde havia de tudo. Ele matava porco, fazia lingüiça, um dos produtos muito procurados chamava-se copa (defumado de carne suína). Eram vendidos no balcão sanduíches. As pessoas que iam pescar compravam seus apreciados sanduíches de pão com lingüiça. Era muito comum estarem por lá os membros das famílias Dutra, Pacheco. Aos fins de semana podia ser encontrado Lagreca, Erotides de Campos, gente da cidade. Formavam aquela roda, onde comiam e bebiam. Meu avô era sócio do Clube do Livro, e recebia livros em francês e italiano. Ele lia as histórias, tornando-se um bom contador de casos. Tinha uma freguesia que se sentava nos sacos de arroz, feijão, batata e ficava lá ouvindo as histórias, Ele assinava o jornal Fanfulla, depois passou a assinar O Martelo. As pessoas residentes nos bairros dos Marins, Pau Queimado, vinham pedir para ele escrever cartas. Pediam que ele arrumasse um advogado quando precisavam, e ainda que ele os acompanhasse. Ocasiões em que ocorria batismo, casamento, era na venda que acontecia. O correio entregava correspondências até a Rua XV de Novembro, não levava carta na Rua do Porto. O filho mais novo dele ia á Rua XV onde ficava guardada a correspondência e entregava as cartas para seus destinatários. Só que as pessoas que recebiam as cartas não sabiam ler! Eles iam ao armazém para meu avô ler as cartas! A Rua do Porto tinha uma vida interessantíssima, havia as casinhas dos pescadores, aquele pessoal simples, humilde. Á tarde eles colocavam uma bacia com água, sentavam na porta, para lavar os pés antes de dormir. Isso quem se lavava. Os que dormiam em rede tinham um pauzinho, quando ia deitar na rede para dormir, para tirar a terra do pé, raspavam com o pauzinho. Meu avô aplicava injeções, curava ferida. Qualquer um que estivesse doente minha avó já fazia uma canja para mandar. Naquela época ele vendia marcando as despesas em caderneta. Quando uma pessoa morria na família que comprava lá, ele fazia um “X” e perdoava o pagamento. Ele pertencia á diretoria da Società Italiana de Mutuo Socorro. Meu avô paterno, Natali Pizzigatti era bastante politizado. Ele estudava filosofia. Meu avô era da Irmandade do Santíssimo, usava a opa, ajudava o padre. No período da Revolução Constitucionalista de 1932, o Monsenhor Gallo, que era muito respeitado, subiu no púlpito, e passou a apregoar para que os casais que tivessem filhos homens para que os mandasse para a revolução. Meu avô Natali com sete filhos homens, saiu do altar, foi em frente do púlpito e disse ao Monsenhor Gallo que ele estava incentivando os filhos de outras pessoas para irem á frente de combate pelo motivo de não ser pai! “Essa revolução é uma luta de irmão contra irmão!” disse ele. Ficou uma polêmica muito grande dentro da igreja. Meu avô Natali teve uma grande atuação como elemento formador de opinião para as massas, a ponto de algumas pessoas recomendarem á meu pai, que procurasse controlar as ações do meu avô!
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quinta-feira, setembro 18, 2008
Preconceito é maior inimigo contra câncer de próstata
Pouco mais de dois anos após ter diagnosticado tardiamente um câncer de próstata, o cantor Waldick Soriano, de 75 anos, faleceu na semana passada, vítima da doença. O triste episódio serve de alerta para os homens: quando diagnosticado na fase inicial, em que o câncer ainda está restrito à próstata, a chance de cura é de 90%, segundo o urologista Ubirajara Ferreira, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, secção São Paulo. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil terá neste ano 49.530 novos casos de câncer de próstata, o que significa que, a cada 100 mil homens, 52 desenvolverão a doença. Os números são semelhantes ao principal câncer entre as mulheres, o de mama: 49.400 novos casos em 2008 e taxa de incidência de 50 em100 mil mulheres. A grande diferença está na busca pela detecção precoce da doença. Enquanto em 2007, 17 milhões de mulheres procuraram um ginecologista, apenas 3 milhões de homens foram ao urologista. “Fizemos um levamento com 400 pacientes que foram pela primeira vez ao médico e 40% deles só chegaram ao consultório por influência da mulher. Homem é muito reticente”, diz Ferreira. O câncer de próstata não tem sintoma algum na fase inicial, por isso os exames de sangue (PSA) e toque são imprescindíveis. De acordo com os médicos, o preconceito resultante da cultura machista que inibe o homem de fazer o exame de toque ainda é o grande entrave para prevenir a doença.
DIAGNÓSTICO
O câncer de próstata é assintomático. Quando há sinais, como dificuldade para urinar e gotejamento, o câncer já está avançado A detecção é feita por exame de sangue e de toque. Homens acima de 45 anos devem fazer exames todo ano.
TRATAMENTO
O câncer de próstata é considerado o câncer da terceira idade: 3/4 dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos.Quando detectado na fase inicial (com o tumor restrito à próstata), o tratamento é feito com cirurgia ou radioterapia.
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DIAGNÓSTICO
O câncer de próstata é assintomático. Quando há sinais, como dificuldade para urinar e gotejamento, o câncer já está avançado A detecção é feita por exame de sangue e de toque. Homens acima de 45 anos devem fazer exames todo ano.
TRATAMENTO
O câncer de próstata é considerado o câncer da terceira idade: 3/4 dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos.Quando detectado na fase inicial (com o tumor restrito à próstata), o tratamento é feito com cirurgia ou radioterapia.
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CID MOREIRA
É muito difícil encontrar uma pessoa que nunca tenha ouvido o célebre “Boa Noite” do apresentador Cid Moreira, da Rede Globo. Durante 27 anos, ele apresentou a todo o Brasil as principais notícias do dia à frente de um dos telejornais mais conhecidos, o Jornal Nacional, da Rede Globo. Hoje, depois de 15 anos, sua voz grossa e grave ainda pode ser ouvida pelos telespectadores do Fantástico.Está previsto para novembro deste ano o lançamento de dois CDs com gravações de trechos do Novo Testamento.Desta vez, o som será digital e gravado em MP3. Também está previsto para o ano que vem um livro sobre sua vida, que está sendo organizado por sua esposa e também jornalista, Fátima Sampaio.A obra não será uma biografia, mas sim, uma breve história da vida de Cid Moreira - que tem 80 anos - e alguns “causos” contados por ele. “Cid passou por muitas experiências, conheceu muita gente boa. Tudo isso merece ser contado em um livro, pois ele é uma pessoa que faz o que gosta, para ele o trabalho é uma interação”, diz Fátima. Já os CDs, segundo Moreira, serão mais elaborados do que os anteriores, que chegaram a 30 milhões de cópias vendidas. Tudo começou com os Salmos, na época em que ele ainda estava à frente do Jornal Nacional. Em seguida veio o Novo Testamento, porém com tecnologia inferior. Logo depois o apresentador gravou algumas passagens bíblicas mais conhecidas, trabalho que foi vendido juntamente com os principais jornais do País a um preço simbólico de R$ 3,90. “Nos primeiros CDs havia muita pressa, e eu também não entendia muito bem o que as passagens queriam dizer. Mas hoje, depois de estudar a Bíblia e entender melhor o que foi escrito, o trabalho ficou melhor, com uma boa interpretação”, afirmou Moreira. A Bíblia, gravada na íntegra, também deverá chegar às lojas no ano que vem.Depois de mais de 40 anos de trabalho, o apresentador, que hoje é a própria notícia, não se vangloria. “Eu virei notícia?”, indagou ele. Na época em que apresentava o Jornal Nacional, conta ele, não era como hoje, quando o apresentador participa de todo o processo da reportagem. Segundo Moreira, ele só chegava na TV na hora de apresentar, mas também fazia outros trabalhos fora da Globo, como comerciais e jornais de cinema. Mas quando houve a transição que fez com que os diretores das TVs pensassem que o apresentador deveria participar de todo a produção da notícia, ele fez os cálculos e viu que não valia a pena o salário que a Globo oferecia a mais pela dedicação exclusiva. Só depois de algum tempo é que Moreira se tornou exclusivo da Rede Globo, sendo autorizado a gravar somente os CDs. E qual seria o segredo de chegar aos 80 anos em plena forma? Cid Moreira faz academia todos os dias, joga tênis pelo menos três vezes por semana e não come carne há pelo menos 50 anos. Segundo sua esposa, o bom-humor também o faz viver tão bem. Já a voz, sua marca registrada, é de domínio divino. “Deus cuida da minha voz”, resumiu ele.
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domingo, setembro 14, 2008
A FÉ TEM SEUS CAMINHOS
O padre Gabriel Figura cancelou a procissão prevista para hoje de manhã, em Curitiba, com a mula Bela Vista, que causou polêmica durante esta semana. O pároco da Igreja dos Passarinhos, no bairro Bigorrilho, lamentou ontem a má recepção que recebeu por causa da sua idéia de levar a mula para participar da celebração do dia de Nossa Senhora das Dores, comemorado dia 15.Para evitar mais transtornos, o padre resolveu então abrir mão da procissão, mesmo sem o animal. Ontem pela manhã, a mula foi retirada dos fundos da igreja, onde tinha sido improvisado um estábulo para o animal no mês passado, quando o padre ganhou o animal de presente pelo seu aniversário. "A mula, que é pacífica, foi tão mal-entendida. Eu não consigo enxergar maldade, mas peço então desculpas em nome da comunidade pelo mal-estar que acabei causando, inclusive às autoridades eclesiásticas. Meu sonho foi frustrado", lamentou o padre.
Agora, a mula vai para uma chácara no município de Quitandinha, na Região Metropolitana de Curitiba. "Ofereço meu perdão para todos aqueles que não puderam entender o gesto", disse.A decisão frustrou muitas das crianças presentes ontem na igreja. "Vamos aguardar uma outra oportunidade" foi o recado do padre às crianças.A idéia inicial de Figura era fazer com que Bela Vista entrasse na igreja, conduzindo-o até o altar. Alguns fiéis se sentiram incomodados e se queixaram à Cúria Metropolitana de Curitiba, levando o arcebispo da Diocese de Curitiba, dom Moacir José Vitti, a entrar em contato com Figura e tentar fazê-lo mudar de idéia.Símbolos da igreja, os passarinhos que lá estão, em gaiolas, também estão agora com seu futuro indefinido. "Não sei se vou retirá-los também", refletiu o padre.
Agora, a mula vai para uma chácara no município de Quitandinha, na Região Metropolitana de Curitiba. "Ofereço meu perdão para todos aqueles que não puderam entender o gesto", disse.A decisão frustrou muitas das crianças presentes ontem na igreja. "Vamos aguardar uma outra oportunidade" foi o recado do padre às crianças.A idéia inicial de Figura era fazer com que Bela Vista entrasse na igreja, conduzindo-o até o altar. Alguns fiéis se sentiram incomodados e se queixaram à Cúria Metropolitana de Curitiba, levando o arcebispo da Diocese de Curitiba, dom Moacir José Vitti, a entrar em contato com Figura e tentar fazê-lo mudar de idéia.Símbolos da igreja, os passarinhos que lá estão, em gaiolas, também estão agora com seu futuro indefinido. "Não sei se vou retirá-los também", refletiu o padre.
Nagib Mohammed Abdalla Nassar Ph.D
O cientista egípcio Nagib Mohammed Abdalla Nassar é o entrevistado do jornalista João Umberto Nassif de hoje. Ele conta como conseguiu, com suas pesquisas aqui no Brasil, criar uma super-mandioca e ajudar no combate à fome na África. Nagib Mohammed Abdalla Nassar nasceu no Egito em 19 de setembro de 1938. É professor titular da Universidade de Brasília. Graduado pela Cairo University em1958 tornou-se mestre em genética pela Assiut University em 1965 e PhD em Genética (co-major em botânica) pela Alexandria University em1972. A convite do Ministério das Relações Exteriores, dentro do acordo científico bilateral veio para o Brasil em 1974. É professor titular da Universidade de Brasília desde 1987. Possui experiência na área de botânica, com ênfase em Botânica Aplicada. Com o apoio do Centro Internacional IDRC do Canadá na década de 70, e posteriormente do CNPq na década de 80, desenvolveu resultados híbridos da mandioca que estão plantados e foram adotados pelos agricultores em todo o Oeste da África cobrindo mais de 4 milhões de hectares. Na década de 90 lançou o primeiro híbrido da mandioca com o dobro da proteína, que atualmente se encontra, plantado em vários estados brasileiros. Nos últimos dez anos produziu o primeiro e único clone desta cultura abrindo um caminho para revolucionar a sua produção. Nassar desenvolveu, cruzando espécies silvestres com outras mais comuns, uma super-mandioca, com uma concentração maior de proteínas e maior produtividade por hectare plantado. O cruzamento do cientista ajudou vários países africanos a combater a fome em seus territórios e transformou a Nigéria no maior produtor mundial da raiz. Em reconhecimento ao sucesso no desenvolvimento do novo híbrido foi indicado em 2002 para o Prêmio Mundial para a Alimentação (World Food Prize), por cinco vezes ele concorreu ao prêmio, indicado pelo Centro Internacional de Pesquisa em Desenvolvimento (International Development Research). O horizonte que o cientista Nassar ampliou, por muitos foi reconhecido, encontrou também resistências por interesses comerciais e pessoais de alguns, não só no país como no exterior. Durante mais de 33 anos de trabalho, em universidades brasileiras criou amplo quadro de profissionais e pesquisadores, e introduziu cursos em várias universidades no Brasil (Rio Grande do Sul, Goiás, Viçosa, Brasília, São Paulo) e na América Central (CATIE). Ultimamente estendeu sua missão à Universidade Suíça de Berna. Ele tem seu site www.geneconserve.pro.br, no qual procura divulgar conhecimento sobre um produto tão comum e ainda por muitas das suas propriedades a serem exploradas: a mandioca. Uma parte da população brasileira imagina que a mandioca possa produzir a farinha, muito comum principalmente acompanhando o arroz e feijão. Também é muito consumida frita. A Embrapa de Cruz das Almas, na Bahia, comemora 22 de abril, o Dia da Mandioca. A data coincide com a do descobrimento do Brasil. "Foi aqui que os colonizadores portugueses descobriram também a mandioca, o ‘pão dos trópicos’. O amido extraído da mandioca é chamado de fécula que de acordo com seu teor de acidez é conhecido em duas versões: como polvilho doce ou polvilho azedo. A fécula de mandioca é utilizada no setor alimentício para a fabricação de drops de goma, cremes, tortas, geléias, conservas de frutas, tapioca, salsichas, mortadelas, lingüiças, carnes enlatados, sorvetes, fermento em pó, papinha infantil, o saboroso pão de queijo, o tão apreciado biscoito de polvilho, entre outras coisas. A fécula de mandioca possui um grande número de derivados. Na panificação, vem sendo utilizada como complemento para a farinha de trigo, inclusive na fabricação do pão francês. A indústria têxtil, também se utiliza da fécula para engomagem e estamparia, espessando os corantes e aumentando a firmeza e o peso dos tecidos. A indústria de papel também a utiliza para dar corpo, colar e dar resistência ao papel e ao papelão. Dentro das 98 espécies de Manihot, tidas como válidas Manihot esculenta é a única cultivada, pelas suas raízes ricas em carboidratos. Outras espécies silvestres foram testadas quanto à sua compatibilidade com M. esculenta por Nassar, que realizou hibridações, com sucesso, de M. tripartita, M. reptans, M. procumbens e M. oligantha com clones de M. esculenta. Os híbridos oriundos desses cruzamentos encontram-se na coleção viva da Universidade de Brasília.
Como foi a infância do senhor no Egito?
Minha infância foi boa. Tive muita dedicação aos estudos. Absorvi muitos hábitos das atividades do meu pai, que exerceu a militância política como líder da oposição ao então presidente do Egito Gama Abdel Nasser. Cresci em um ambiente que proporcionou uma visão mais ampla, politicamente e socialmente. Por isso sempre pensei que a minha pesquisa tem que ser ligada a um objetivo social.
Como o senhor resolveu vir ao Brasil?
Vim para o Brasil já com a missão planejada. Para melhorar a mandioca para a África eu tinha que vir realizar minhas pesquisas onde a planta tem uma grande expressão. Após uns quatros anos manipulei híbridos da mandioca e de acordo com as regras estabelecidas por regulamentos internacionais, mandei estes híbridos para a África. Passados quatro anos esses híbridos estavam plantados em quatro milhões de hectares em solo africano.
Assim como pesquisadores brasileiros foram buscar abelhas africanas para melhorar o mel, o senhor veio para aprimorar a mandioca no Brasil, aplicar essa tecnologia aqui e enviar também para a África?
Eu ouvi essas histórias sobre as abelhas africanas. Mas estão bem distantes da minha mandioca! O senhor veio para o Brasil com a sua família?
Viemos juntos, descemos no Aeroporto de Congonhas. Cheguei no dia 24 de setembro de 1974, em um vôo da Varig. O avião veio quase vazio, porque a Varig tinha tido um acidente alguns meses antes. Achei interessante o fato de avião estar vazio, era um avião quase só meu!
Qual foi a sua primeira impressão sobre o Brasil ao descer do avião?
Fascinante! Extremamente fascinante. Piracicaba foi muito especial. Agora, quando voltei a Piracicaba quis rever os lugares que tinha freqüentado na época. Um dos locais foi o chamado Restaurante Arapuca. A cidade cresceu muito. Dizem que triplicou no período em que a deixei até agora. Piracicaba continua fascinante. O povo é muito hospitaleiro. Eu tive a melhor impressão do Brasil no período em que estive em Piracicaba. Fiquei em Piracicaba de setembro até o final de março de 1974.
Hoje o senhor é brasileiro e egípcio?
Tenho duas cidadanias.
Como é o ambiente rural no Egito?
O Egito tem uma alta densidade populacional. Chega a ser de três a quatro vezes superiores a densidade populacional do Brasil. A distribuição geográfica é concentrada no Vale do Nilo. Ao contrário do Brasil onde a distribuição é ampla. Essa densidade do Egito cria várias conseqüências no comportamento, na cultura.
Qual é o significado das pirâmides para o povo egípcio?
O egípcio sente orgulho das pirâmides.
O senhor visitou as pirâmides?
A minha residência fica ao lado das pirâmides! Até não construírem alguns edifícios, era possível do meu prédio ver as pirâmides.
O que o senhor pode comentar sobre o Deserto do Sahara?
Representa 95% do território egípcio. O Vale do Nilo representa 5%.
O senhor como cientista, pesquisador, algum dia teve algum pensamento científico para aproveitar essa grande área?
Existe sempre o pensamento. De aumentar a área cultivada, resolver o problema da explosão demográfica de 70 milhões de habitantes.
Existe algum controle de natalidade?
Existe. Mas aspectos culturais interferem. O governo quer uma coisa, mas hábitos culturais querem outra coisa.
Existe violência?
Havia violência política, agora já acalmou. Não existe criminalidade. O controle policial é muito grande. Existe a pena de morte através de enforcamento. Ela é usada em crimes hediondos.
O que motivou o senhor a dedicar-se tanto na pesquisa sobre mandioca?
Faz parte da minha profissão, como professor de cultura da África, lecionar a cultura de mandioca.A terra, para a mandioca ser cultivada, tem que ser uma terra rica?Pode ser um solo muito pobre, é uma planta de solos marginais. Está plantada em locais onde outras culturas não prosperam. Ela exige água, mas agüenta a seca. O tempo de cultura da mandioca é de um ano. Existem formas de conservar a mandioca na forma de farinha, ou então fazer chips (rodelas). A raiz da mandioca estraga rapidamente. Fermentada ela produz bebidas com teor alcoólico de 20% aproximadamente.
O senhor ministrou um curso a respeito da cultura da mandioca na Flórida?
Permaneci na Florida por um semestre, onde participei ativamente em um projeto deles. A única mandioca que existe lá fui eu que introduzi.
O senhor acredita que nessa corrida para fabricar o álcool a mandioca pode participar?
Sim, teoricamente pode. Eu sou contrário a utilização da mandioca como fonte para obtenção de álcool. Baseio-me no princípio de que há muita gente passando fome. Como vamos privilegiar a produção de álcool e deixar as pessoas com fome.
Existe um só tipo de mandioca?
Existe uma variedade muito grande. Inclusive tipos que se não forem devidamente processadas podem matar.
Existe semente de mandioca?
Eu criei uma linhagem para que a mandioca cresça a partir da semente.
Como o senhor vê a posição das universidades brasileiras com relação a universidades de outros países?
Há um progresso muito grande. Nos últimos cinco anos o progresso foi muito acentuado. Há um investimento muito grande, tanto de verbas vindas do exterior como verbas do próprio país. Acho que existe um futuro muito bom para as universidades brasileiras.
Como o senhor conseguiu dobrar a quantidade de proteína na mandioca?
Realizei pesquisas, fiz avaliação de espécies silvestres que tem uma quantidade de proteínas muito maior do que a mandioca comum. Uma das espécies tem quatro vezes mais proteínas do que a mandioca normal, é 8% de proteínas. Consegui um produto híbrido com 4,5% de proteínas.
Há uma lei que deve ser acrescentada farinha de mandioca à do trigo?
Existe uma lei tramitando no congresso para adicionar 20% de farinha de mandioca à farinha de trigo para fabricar o pão.
Como o senhor se sente em ser responsável pela plantação de quatro milhões de hectares de mandioca na África?
Eu contribuí para a plantação desses quatro milhões de hectares. Sinto-me muito orgulhoso. Realizei-me muito, cumpri uma parte importante da minha missão científica.
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Como foi a infância do senhor no Egito?
Minha infância foi boa. Tive muita dedicação aos estudos. Absorvi muitos hábitos das atividades do meu pai, que exerceu a militância política como líder da oposição ao então presidente do Egito Gama Abdel Nasser. Cresci em um ambiente que proporcionou uma visão mais ampla, politicamente e socialmente. Por isso sempre pensei que a minha pesquisa tem que ser ligada a um objetivo social.
Como o senhor resolveu vir ao Brasil?
Vim para o Brasil já com a missão planejada. Para melhorar a mandioca para a África eu tinha que vir realizar minhas pesquisas onde a planta tem uma grande expressão. Após uns quatros anos manipulei híbridos da mandioca e de acordo com as regras estabelecidas por regulamentos internacionais, mandei estes híbridos para a África. Passados quatro anos esses híbridos estavam plantados em quatro milhões de hectares em solo africano.
Assim como pesquisadores brasileiros foram buscar abelhas africanas para melhorar o mel, o senhor veio para aprimorar a mandioca no Brasil, aplicar essa tecnologia aqui e enviar também para a África?
Eu ouvi essas histórias sobre as abelhas africanas. Mas estão bem distantes da minha mandioca! O senhor veio para o Brasil com a sua família?
Viemos juntos, descemos no Aeroporto de Congonhas. Cheguei no dia 24 de setembro de 1974, em um vôo da Varig. O avião veio quase vazio, porque a Varig tinha tido um acidente alguns meses antes. Achei interessante o fato de avião estar vazio, era um avião quase só meu!
Qual foi a sua primeira impressão sobre o Brasil ao descer do avião?
Fascinante! Extremamente fascinante. Piracicaba foi muito especial. Agora, quando voltei a Piracicaba quis rever os lugares que tinha freqüentado na época. Um dos locais foi o chamado Restaurante Arapuca. A cidade cresceu muito. Dizem que triplicou no período em que a deixei até agora. Piracicaba continua fascinante. O povo é muito hospitaleiro. Eu tive a melhor impressão do Brasil no período em que estive em Piracicaba. Fiquei em Piracicaba de setembro até o final de março de 1974.
Hoje o senhor é brasileiro e egípcio?
Tenho duas cidadanias.
Como é o ambiente rural no Egito?
O Egito tem uma alta densidade populacional. Chega a ser de três a quatro vezes superiores a densidade populacional do Brasil. A distribuição geográfica é concentrada no Vale do Nilo. Ao contrário do Brasil onde a distribuição é ampla. Essa densidade do Egito cria várias conseqüências no comportamento, na cultura.
Qual é o significado das pirâmides para o povo egípcio?
O egípcio sente orgulho das pirâmides.
O senhor visitou as pirâmides?
A minha residência fica ao lado das pirâmides! Até não construírem alguns edifícios, era possível do meu prédio ver as pirâmides.
O que o senhor pode comentar sobre o Deserto do Sahara?
Representa 95% do território egípcio. O Vale do Nilo representa 5%.
O senhor como cientista, pesquisador, algum dia teve algum pensamento científico para aproveitar essa grande área?
Existe sempre o pensamento. De aumentar a área cultivada, resolver o problema da explosão demográfica de 70 milhões de habitantes.
Existe algum controle de natalidade?
Existe. Mas aspectos culturais interferem. O governo quer uma coisa, mas hábitos culturais querem outra coisa.
Existe violência?
Havia violência política, agora já acalmou. Não existe criminalidade. O controle policial é muito grande. Existe a pena de morte através de enforcamento. Ela é usada em crimes hediondos.
O que motivou o senhor a dedicar-se tanto na pesquisa sobre mandioca?
Faz parte da minha profissão, como professor de cultura da África, lecionar a cultura de mandioca.A terra, para a mandioca ser cultivada, tem que ser uma terra rica?Pode ser um solo muito pobre, é uma planta de solos marginais. Está plantada em locais onde outras culturas não prosperam. Ela exige água, mas agüenta a seca. O tempo de cultura da mandioca é de um ano. Existem formas de conservar a mandioca na forma de farinha, ou então fazer chips (rodelas). A raiz da mandioca estraga rapidamente. Fermentada ela produz bebidas com teor alcoólico de 20% aproximadamente.
O senhor ministrou um curso a respeito da cultura da mandioca na Flórida?
Permaneci na Florida por um semestre, onde participei ativamente em um projeto deles. A única mandioca que existe lá fui eu que introduzi.
O senhor acredita que nessa corrida para fabricar o álcool a mandioca pode participar?
Sim, teoricamente pode. Eu sou contrário a utilização da mandioca como fonte para obtenção de álcool. Baseio-me no princípio de que há muita gente passando fome. Como vamos privilegiar a produção de álcool e deixar as pessoas com fome.
Existe um só tipo de mandioca?
Existe uma variedade muito grande. Inclusive tipos que se não forem devidamente processadas podem matar.
Existe semente de mandioca?
Eu criei uma linhagem para que a mandioca cresça a partir da semente.
Como o senhor vê a posição das universidades brasileiras com relação a universidades de outros países?
Há um progresso muito grande. Nos últimos cinco anos o progresso foi muito acentuado. Há um investimento muito grande, tanto de verbas vindas do exterior como verbas do próprio país. Acho que existe um futuro muito bom para as universidades brasileiras.
Como o senhor conseguiu dobrar a quantidade de proteína na mandioca?
Realizei pesquisas, fiz avaliação de espécies silvestres que tem uma quantidade de proteínas muito maior do que a mandioca comum. Uma das espécies tem quatro vezes mais proteínas do que a mandioca normal, é 8% de proteínas. Consegui um produto híbrido com 4,5% de proteínas.
Há uma lei que deve ser acrescentada farinha de mandioca à do trigo?
Existe uma lei tramitando no congresso para adicionar 20% de farinha de mandioca à farinha de trigo para fabricar o pão.
Como o senhor se sente em ser responsável pela plantação de quatro milhões de hectares de mandioca na África?
Eu contribuí para a plantação desses quatro milhões de hectares. Sinto-me muito orgulhoso. Realizei-me muito, cumpri uma parte importante da minha missão científica.
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quinta-feira, setembro 11, 2008
quarta-feira, setembro 10, 2008
DR. LEGARDETH CONSOLMAGNO
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
Rádio Educadora de Piracicaba AM 1060 Khertz
Sábado das 10horas ás 11 horas da Manhã
Transmissão ao vivo pela internet : http://www.educadora1060.com.br/
A Tribuna Piracicabana
http://www.tribunatp.com.br/
Entrevista 1: Publicada: Ás Terças-Feiras na Tribuna Piracicabana
Entrevista 2: Publicada no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/index.htm
Entrevistado: DR. LEGARDETH CONSOLMAGNO
DATA: (08 SETEMBRO DE 2008)
O estudante de medicina presta um juramento ao formar-se como médico. Transcrevemos a forma simplificada do juramento de Hipócrates nas cerimônias de formatura: “Prometo que, ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência. Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra. Nunca me servirei da profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu, para sempre, a minha vida e a minha arte, com boa reputação entre os homens. Se o infringir ou dele afastar-me, suceda-me o contrário”.
Segundo Dr. Drauzio Varella: “Está na hora de acabar com o ritual do juramento de Hipócrates nas cerimônias de formatura. Para que manter essa tradição? Os advogados, por acaso, juram que defenderão a justiça? Engenheiros e arquitetos precisam jurar construir casas que não caiam?” Ele ainda prossegue: “Aos olhos da sociedade, a mera existência de um juramento solene dá a impressão de que somos sacerdotes e de que devemos dedicação total aos que nos procuram, sem manifestarmos preocupação com aspectos materiais como ás condições de trabalho ou a remuneração pelos serviços prestados. Para a felicidade de tantos empresários gananciosos. O exercício da medicina envolve a arte de ouvir as pessoas, de observá-las, de examiná-las, interpretar-lhes as palavras e de discutir com elas as opções mais adequadas. O tempo dos que impunham suas condutas sem dar explicações, em receituários cheios de garranchos, já passou e não voltará. A falta de tempo não serve para ser usada como desculpa para deixarmos de escutar a história que os doentes contam. De fato, muitos deles se perdem com informações irrelevantes, embaralham queixas, sintomas. A arte da medicina está em observar. Muitos procuram nossa profissão, imbuídos do desejo altruístico de salvar vidas. Nesse caso, encontrariam mais realização no Corpo de Bombeiros, porque a lista de doenças para as quais não existe cura é interminável. Curar é finalidade secundária da medicina, se tanto; o objetivo fundamental de nossa profissão é aliviar o sofrimento humano”. O Dr. Legardeth Consolmagno é um dos profissionais para quem o juramento de Hipócrates deve ter sido mais uma etapa da solenidade de formatura. Altamente carismático conquista de imediato a confiança do interlocutor. Seja paciente ou não. Respeitado por sua conduta ética e sua estatura moral. Tem uma forte atuação no meio social em que convive. É do tipo de pessoa que não vê a vida como um espectador! Ele participa em toda causa que julga poder colaborar. Muitos ouvintes ligaram para agradecer, confraternizarem-se, e mostrar o seu apreço pelo médico Dr. Legardeth, inclusive narrando passagens em que foram atendidos pelo dedicado profissional da saúde.
Qual é a origem do nome Legardeth?
O meu dizia que quando eu estava para nascer, ele leu em uma revista que já não existe mais há muito tempo, chamada “Eu Sei Tudo”. (N.J.: Revista ilustrada “Eu Sei Tudo”, editada pela Companhia Editora Americana entre 1917 e 1958, com enfoque sobre ciência, arte, literatura e história). Nessa revista ele leu uma história onde havia um personagem chamado Legardeth o qual ele passou a admirar. Era um romance em série, escrito por capítulos em cada exemplar da revista. O próprio Machado de Assis chegou a publicar livros nessas condições: em séries publicadas em periódicos da época. Quando eu já estava no curso pré-médico em Curitiba, eu perguntei ao professor Mansur Guerius que era um lingüista, inclusive havia publicado várias gramáticas de línguas indígenas, caigangues e guarani daquelas regiões do sul. Ele era nosso professor de português no pré-médico. Disse-me que iria procurar a origem do nome Legardeth. Quando eu já estava para me formar fui procurá-lo para ver se havia encontrado alguma referencia á Legardeth. Então ele me disse: “Não encontrei, mas tenho os seus dados, sei que você é de Piracicaba, irei fazer esse histórico que irá constar no meu dicionário de nomes próprios”. Eu então lhe disse: “Ah professor o senhor vai publicar!” Ele me disse: “Sim, será uma publicação póstuma, se encontrar editor!” Ele publicaria o livro que estava sendo escrito em publicação póstuma (após a sua morte) se encontrasse editor! Como a obra não saiu ainda, acho que não foi encontrado um editor.
O senhor nasceu em Piracicaba?
Nasci o dia 19 de janeiro de 1924, em Rio das Pedras, mas sou cidadão Piracicabano, meu pai Olimpio Consolmagno nasceu em Rio das Pedras em 04 de dezembro de 1898, era ótico, ourives e relojoeiro, minha mãe Cristhina Caravita nasceu em 10 de fevereiro de 1900 em Capivari. Meu pai tinha inicialmente um estabelecimento em Rio das Pedras, á Rua Prudente de Moraes, 22. Ele estabeleceu-se em Rio das Pedras em 1916, na época ele tinha apenas 18 anos de idade. Em 1933 transferiu-se para Piracicaba, onde montou a Ótica e Relojoaria Consolmagno. Naquele tempo os comerciantes tinham muito orgulho em colocar seu nome, ou sobrenome, no estabelecimento comercial, nas notas fiscais, nas faturas. Meu avô já tinha levado meu pai duas vezes para a Itália isso no período até em que ele completou 13 anos de idade Meu pai queria aprender ourivesaria, com 13 anos de idade ele foi conhecer a arte com o Alleoni, ourives e relojoeiros italianos estabelecidos em Capivari. Naquele tempo havia na praça central de Capivari um fotógrafo daqueles então chamados lambe-lambe. Meu pai viu exposta uma fotografia de uma menina, que ele gostou. Com muito empenho acabou adquirindo a foto. Procurou até encontrar aquela moça. Daí começou o namoro que durou por 10 anos, afinal ele tinha apenas 13 anos de idade! Durante o namoro, as viagens de trem que durava mais de três horas entre Rio das Pedras e Capivari, o dinheiro gasto com telefonemas e viagens segundo dizia meu pai, daria para ter feito mais do que uma casa. Quando eles conversavam ao telefone, estendiam seus colóquios, inclusive cantando um para o outro!
O senhor estudou em Rio das Pedras?
O primeiro ano do curso primário eu estudei em Rio das Pedras, isso foi em 1932. Fui reprovado. Eu não sabia que era míope! E 1932 foi um ano tumultuado, foi o ano da Revolução Constitucionalista, quase não tivemos aulas. Em janeiro de 1933 mudamos para Piracicaba, viemos morar na Rua Governador Pedro de Toledo, 126. Depois passou a ser o número 1008. Os caminhões trafegavam ali na Rua Governador em ambos os sentidos, não havia mão nem contramão. Isso foi até 1940, a rua era calçada com paralelepípedo. Os carinhos de tração animal possuíam rodas de madeira revestidas com um aro de ferro, quebravam o silencio da madrugada entregando leite, pão, verduras. Antigamente existia ao lado um depósito de secos e molhados de Elias Daibes. Hoje é onde fica o Bazar Neusa, quase em frente á Sociedade Sírio-Libanesa. O meu consultório e a Ótica Consolmagno ficava onde hoje existe a loja De Manos Permaneci com meu consultório lá por 43 anos. Existiam pessoas que desciam a Rua Governador conduzindo cinco ou seis cabras, cada uma com seu sininho no pescoço. Era para a criançada tomar leite tirado na hora. O pessoal entregava de vaca em litros tampados com palha e sabugo de milho, isso antes da pasteurização ser adotada como procedimento regular.
Em Piracicaba o senhor passou a freqüentar qual escola?
Naquele tempo era chamada Escola Normal, hoje Sud Mennucci. Fiz o primário lá. O quarto ano primário eu fiz no Sétimo Grupo, hoje se chama Grupo Escolar Dr. Prudente de Moraes. Só que não era no local onde se situa atualmente. Ficava na casa onde morou Prudente de Moraes. Lá é que foi criado o Sétimo Grupo Escolar em Piracicaba, cujo diretor foi o professor Nestor Pinto César. Para formar a escola, eles pegaram alunos de diversas séries, de diversas escolas, que moravam no centro, para compor o número necessário de alunos e constituir a escola. O ginásio eu fiz o Externato São José, que era a parte masculina do Colégio Assunção. Ficava na Rua Alferes José Caetano, no prédio em que depois funcionou a faculdade de odontologia. Dali eu fui fazer o curso pré-médico em Curitiba.
Em Curitiba o senhor foi morar em que local?
Como estudante eu morava em republicas. Sempre no centro da cidade. A primeira república em que morei ficava na Praça Tiradentes, ao lado da catedral. Passei por lá a dois meses e pude verificar que a casa em que morei ainda existe! Ainda como estudante, morei no Hotel América, que ficava na Rua XV de Novembro, centro da cidade.
Curitiba tem um ponto folclórico, onde se reúnem muitos amigos. É a chamada “Boca Maldita”. Fica na antiga Rua XV de Novembro, mais tarde denominada Rua das Flores. Nessa época já existia a famosa reunião?
Na minha época existia a “Gleba dos Apertados”. Quando você precisava de dinheiro sempre havia um agiota que emprestava. Os que necessitavam vender com urgência algum objeto, ali era o desaperto.
O senhor chegou a usar o bonde em Curitiba?
Usei! Até o seu final. Foi vendido por um valor simbólico de 1 cruzeiro, ou seja uma unidade de moeda corrente na época.
Após concluir o curso de medicina o senhor saiu de Curitiba e foi para onde?
Fui para Campo Mourão, no Oeste do Paraná. Quando eu iniciei era médico, médico de sertão, aquele que faz tudo, sem raio-x, sem laboratório, para um universo de 150 mil pessoas havia apenas três médicos era comum ficar sem almoço dois ou três dias ou duas noites sem dormir! Peguei o primeiro surto de febre amarela, onde tive trinta e dois pacientes, sendo que dezoito deles vieram a óbito. E eu não era vacinado. Muitas mulheres morriam no parto, contraindo o tétano. Morram muitas crianças com difteria. Sarampo matava até adultos! Hoje com a vacinação ninguém mais se lembra dessas doenças. Tudo isso ficou para a história da medicina. Na época não se vacinava ninguém. Tenho dois filhos que realizei o parto deles. Depois passei a atuar sempre foi oftalmologia.
Naquela época era considerado quase o fim do mundo?
Bem para lá! Era uma cidade pequena, estava estagnada, e estava entrando em uma fase de progresso. Ficava a 100 quilômetros de Maringá e a 250 quilômetros de Guarapuava. Comecei a trabalhar em Mamborê, que significa em tupi, “ultimo acampamento”. Os paraguaios vinham roubar mate no Brasil. Eles foram avançando, até chegar a Mamborê, quando houve a resistência dos brasileiros. Eles contam que durante muito tempo foram encontradas peças, armas, ferramentas, deixadas quando os paraguaios tiveram que fugirem.
O senhor tem uma atuação notável dentro da classe médica. Pode citar alguns cargo ou funções ocupadas?
Em 1987 participei do Primeiro Congresso de Ética Médica, quando se elaborou a terceira reforma do código de ética médica. Fui do Grupo 9. Esse código foi feito com a participação de toda a comunidade. Eram 200 pessoas que participavam. Cada bloco era composto por 20 pessoas. Foi nessa época que elaboramos o código de ética vigente. E já se cogita de uma nova reforma, porque muita coisa modificou-se.
A assistência médica, não só no Brasil, mas em qualquer parte do mundo, é vista como insatisfatória?
O médico não satisfaz todas as necessidades. O médico não tem vara de condão para resolver outros problemas. Ele tem que minorar a situação, aliviar. Ele não tem o compromisso de cura, não tem esse dom. Isso ele não tem. Ele pode aplicar a sua arte, o seu conhecimento, a sua solidariedade, amenizar. Ás vezes ele cura. Mas sempre ele tem que consolar. Nem sempre é o médico e o remédio que curam. A maioria das vezes é o próprio organismo que se cura. Ás vezes o organismo está tão debilitado que não há mais o que fazer. Não há remédio nem dedicação de médico que curem! Há uma situação final. Sempre existe esse final.
Existe corporativismo na classe médica?
Não existe. Tanto que são eleitos os representantes. Permaneci no CREMESP - Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo por 10 anos. Na APM, Associação Paulista de Medicina eu fui do quadro de direção e conselho por 26 anos.
Qual é a sua opinião sobre as filas em que pessoas madrugam para serem atendidas, que se diga a bem da verdade não é um fenômeno recente?
O problema da medicina, não só aqui como em outros países é um problema de carência. Verba. Tendo dinheiro não fica difícil. O problema é que tem que ser feito muito com pouco dinheiro. Não dá para fazer! Se houvesse recursos suficientes não haveria filas. Para o doente particular em que ele tem o poder aquisitivo as coisas ficam mais fáceis. Veja que, nem sempre quando você telefona no consultório de um colega, veja bem, estou falando de um colega para outro, a secretária irá marcar consulta dali a cinco dias. Não é de imediato. Ele também tem uma capacidade de trabalho, tem seu limite. Urgência é outra história. Urgência é para ser atendida com urgência.
As faculdades colocam no mercado um grande número de profissionais, e mesmo assim ocorre essa carência?
Não há carência! Há má distribuição de profissionais! Ninguém quer ir para um local onde não há recursos, conforto, estabilidade enfim meio de vida muito bom. Nos grandes centros, nas cidades boas, existe uma superlotação de médicos. Nas cidades pequenas, nos lugares do interior onde não existem condições de vida favorável, onde não há condições de criar e educar os filhos, ai há carência de médico.
O senhor tem idéia de quanto recebe por consulta um médico que atende no serviço federal?
Parece-me que agora houve um reajuste. Mas não chega a vinte reais uma consulta, com direito ao retorno do paciente, que não é remunerado. Um técnico, um encanador, um eletricista ganha mais.
Como o senhor faria um paralelo entre a medicina de três ou quatro décadas com relação á medicina atual?
É difícil estabelecer um paralelo porque as coisas são muito diferentes. Hoje é outra medicina. Aquilo que aprendi na faculdade está na história da medicina. Isso no aspecto técnico profissional. No relacionamento humano também houve modificações. Hoje existe o intermediário. O Estado é um intermediário, ele trata um serviço com o médico. Existe a medicina de grupo, que também dá a assistência medica, mas não diretamente. O paciente realiza um contrato com uma empresa que vai lhe prestar serviço através do médico. Assim com também existem as cooperativas médicas, todas as prestadoras de serviços médicos. São intermediários. O médico já não tem o seu cliente. O cliente é da empresa. Ele procurou aquele médico porque ele é daquela empresa.
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Rádio Educadora de Piracicaba AM 1060 Khertz
Sábado das 10horas ás 11 horas da Manhã
Transmissão ao vivo pela internet : http://www.educadora1060.com.br/
A Tribuna Piracicabana
http://www.tribunatp.com.br/
Entrevista 1: Publicada: Ás Terças-Feiras na Tribuna Piracicabana
Entrevista 2: Publicada no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/index.htm
Entrevistado: DR. LEGARDETH CONSOLMAGNO
DATA: (08 SETEMBRO DE 2008)
O estudante de medicina presta um juramento ao formar-se como médico. Transcrevemos a forma simplificada do juramento de Hipócrates nas cerimônias de formatura: “Prometo que, ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência. Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra. Nunca me servirei da profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu, para sempre, a minha vida e a minha arte, com boa reputação entre os homens. Se o infringir ou dele afastar-me, suceda-me o contrário”.
Segundo Dr. Drauzio Varella: “Está na hora de acabar com o ritual do juramento de Hipócrates nas cerimônias de formatura. Para que manter essa tradição? Os advogados, por acaso, juram que defenderão a justiça? Engenheiros e arquitetos precisam jurar construir casas que não caiam?” Ele ainda prossegue: “Aos olhos da sociedade, a mera existência de um juramento solene dá a impressão de que somos sacerdotes e de que devemos dedicação total aos que nos procuram, sem manifestarmos preocupação com aspectos materiais como ás condições de trabalho ou a remuneração pelos serviços prestados. Para a felicidade de tantos empresários gananciosos. O exercício da medicina envolve a arte de ouvir as pessoas, de observá-las, de examiná-las, interpretar-lhes as palavras e de discutir com elas as opções mais adequadas. O tempo dos que impunham suas condutas sem dar explicações, em receituários cheios de garranchos, já passou e não voltará. A falta de tempo não serve para ser usada como desculpa para deixarmos de escutar a história que os doentes contam. De fato, muitos deles se perdem com informações irrelevantes, embaralham queixas, sintomas. A arte da medicina está em observar. Muitos procuram nossa profissão, imbuídos do desejo altruístico de salvar vidas. Nesse caso, encontrariam mais realização no Corpo de Bombeiros, porque a lista de doenças para as quais não existe cura é interminável. Curar é finalidade secundária da medicina, se tanto; o objetivo fundamental de nossa profissão é aliviar o sofrimento humano”. O Dr. Legardeth Consolmagno é um dos profissionais para quem o juramento de Hipócrates deve ter sido mais uma etapa da solenidade de formatura. Altamente carismático conquista de imediato a confiança do interlocutor. Seja paciente ou não. Respeitado por sua conduta ética e sua estatura moral. Tem uma forte atuação no meio social em que convive. É do tipo de pessoa que não vê a vida como um espectador! Ele participa em toda causa que julga poder colaborar. Muitos ouvintes ligaram para agradecer, confraternizarem-se, e mostrar o seu apreço pelo médico Dr. Legardeth, inclusive narrando passagens em que foram atendidos pelo dedicado profissional da saúde.
Qual é a origem do nome Legardeth?
O meu dizia que quando eu estava para nascer, ele leu em uma revista que já não existe mais há muito tempo, chamada “Eu Sei Tudo”. (N.J.: Revista ilustrada “Eu Sei Tudo”, editada pela Companhia Editora Americana entre 1917 e 1958, com enfoque sobre ciência, arte, literatura e história). Nessa revista ele leu uma história onde havia um personagem chamado Legardeth o qual ele passou a admirar. Era um romance em série, escrito por capítulos em cada exemplar da revista. O próprio Machado de Assis chegou a publicar livros nessas condições: em séries publicadas em periódicos da época. Quando eu já estava no curso pré-médico em Curitiba, eu perguntei ao professor Mansur Guerius que era um lingüista, inclusive havia publicado várias gramáticas de línguas indígenas, caigangues e guarani daquelas regiões do sul. Ele era nosso professor de português no pré-médico. Disse-me que iria procurar a origem do nome Legardeth. Quando eu já estava para me formar fui procurá-lo para ver se havia encontrado alguma referencia á Legardeth. Então ele me disse: “Não encontrei, mas tenho os seus dados, sei que você é de Piracicaba, irei fazer esse histórico que irá constar no meu dicionário de nomes próprios”. Eu então lhe disse: “Ah professor o senhor vai publicar!” Ele me disse: “Sim, será uma publicação póstuma, se encontrar editor!” Ele publicaria o livro que estava sendo escrito em publicação póstuma (após a sua morte) se encontrasse editor! Como a obra não saiu ainda, acho que não foi encontrado um editor.
O senhor nasceu em Piracicaba?
Nasci o dia 19 de janeiro de 1924, em Rio das Pedras, mas sou cidadão Piracicabano, meu pai Olimpio Consolmagno nasceu em Rio das Pedras em 04 de dezembro de 1898, era ótico, ourives e relojoeiro, minha mãe Cristhina Caravita nasceu em 10 de fevereiro de 1900 em Capivari. Meu pai tinha inicialmente um estabelecimento em Rio das Pedras, á Rua Prudente de Moraes, 22. Ele estabeleceu-se em Rio das Pedras em 1916, na época ele tinha apenas 18 anos de idade. Em 1933 transferiu-se para Piracicaba, onde montou a Ótica e Relojoaria Consolmagno. Naquele tempo os comerciantes tinham muito orgulho em colocar seu nome, ou sobrenome, no estabelecimento comercial, nas notas fiscais, nas faturas. Meu avô já tinha levado meu pai duas vezes para a Itália isso no período até em que ele completou 13 anos de idade Meu pai queria aprender ourivesaria, com 13 anos de idade ele foi conhecer a arte com o Alleoni, ourives e relojoeiros italianos estabelecidos em Capivari. Naquele tempo havia na praça central de Capivari um fotógrafo daqueles então chamados lambe-lambe. Meu pai viu exposta uma fotografia de uma menina, que ele gostou. Com muito empenho acabou adquirindo a foto. Procurou até encontrar aquela moça. Daí começou o namoro que durou por 10 anos, afinal ele tinha apenas 13 anos de idade! Durante o namoro, as viagens de trem que durava mais de três horas entre Rio das Pedras e Capivari, o dinheiro gasto com telefonemas e viagens segundo dizia meu pai, daria para ter feito mais do que uma casa. Quando eles conversavam ao telefone, estendiam seus colóquios, inclusive cantando um para o outro!
O senhor estudou em Rio das Pedras?
O primeiro ano do curso primário eu estudei em Rio das Pedras, isso foi em 1932. Fui reprovado. Eu não sabia que era míope! E 1932 foi um ano tumultuado, foi o ano da Revolução Constitucionalista, quase não tivemos aulas. Em janeiro de 1933 mudamos para Piracicaba, viemos morar na Rua Governador Pedro de Toledo, 126. Depois passou a ser o número 1008. Os caminhões trafegavam ali na Rua Governador em ambos os sentidos, não havia mão nem contramão. Isso foi até 1940, a rua era calçada com paralelepípedo. Os carinhos de tração animal possuíam rodas de madeira revestidas com um aro de ferro, quebravam o silencio da madrugada entregando leite, pão, verduras. Antigamente existia ao lado um depósito de secos e molhados de Elias Daibes. Hoje é onde fica o Bazar Neusa, quase em frente á Sociedade Sírio-Libanesa. O meu consultório e a Ótica Consolmagno ficava onde hoje existe a loja De Manos Permaneci com meu consultório lá por 43 anos. Existiam pessoas que desciam a Rua Governador conduzindo cinco ou seis cabras, cada uma com seu sininho no pescoço. Era para a criançada tomar leite tirado na hora. O pessoal entregava de vaca em litros tampados com palha e sabugo de milho, isso antes da pasteurização ser adotada como procedimento regular.
Em Piracicaba o senhor passou a freqüentar qual escola?
Naquele tempo era chamada Escola Normal, hoje Sud Mennucci. Fiz o primário lá. O quarto ano primário eu fiz no Sétimo Grupo, hoje se chama Grupo Escolar Dr. Prudente de Moraes. Só que não era no local onde se situa atualmente. Ficava na casa onde morou Prudente de Moraes. Lá é que foi criado o Sétimo Grupo Escolar em Piracicaba, cujo diretor foi o professor Nestor Pinto César. Para formar a escola, eles pegaram alunos de diversas séries, de diversas escolas, que moravam no centro, para compor o número necessário de alunos e constituir a escola. O ginásio eu fiz o Externato São José, que era a parte masculina do Colégio Assunção. Ficava na Rua Alferes José Caetano, no prédio em que depois funcionou a faculdade de odontologia. Dali eu fui fazer o curso pré-médico em Curitiba.
Em Curitiba o senhor foi morar em que local?
Como estudante eu morava em republicas. Sempre no centro da cidade. A primeira república em que morei ficava na Praça Tiradentes, ao lado da catedral. Passei por lá a dois meses e pude verificar que a casa em que morei ainda existe! Ainda como estudante, morei no Hotel América, que ficava na Rua XV de Novembro, centro da cidade.
Curitiba tem um ponto folclórico, onde se reúnem muitos amigos. É a chamada “Boca Maldita”. Fica na antiga Rua XV de Novembro, mais tarde denominada Rua das Flores. Nessa época já existia a famosa reunião?
Na minha época existia a “Gleba dos Apertados”. Quando você precisava de dinheiro sempre havia um agiota que emprestava. Os que necessitavam vender com urgência algum objeto, ali era o desaperto.
O senhor chegou a usar o bonde em Curitiba?
Usei! Até o seu final. Foi vendido por um valor simbólico de 1 cruzeiro, ou seja uma unidade de moeda corrente na época.
Após concluir o curso de medicina o senhor saiu de Curitiba e foi para onde?
Fui para Campo Mourão, no Oeste do Paraná. Quando eu iniciei era médico, médico de sertão, aquele que faz tudo, sem raio-x, sem laboratório, para um universo de 150 mil pessoas havia apenas três médicos era comum ficar sem almoço dois ou três dias ou duas noites sem dormir! Peguei o primeiro surto de febre amarela, onde tive trinta e dois pacientes, sendo que dezoito deles vieram a óbito. E eu não era vacinado. Muitas mulheres morriam no parto, contraindo o tétano. Morram muitas crianças com difteria. Sarampo matava até adultos! Hoje com a vacinação ninguém mais se lembra dessas doenças. Tudo isso ficou para a história da medicina. Na época não se vacinava ninguém. Tenho dois filhos que realizei o parto deles. Depois passei a atuar sempre foi oftalmologia.
Naquela época era considerado quase o fim do mundo?
Bem para lá! Era uma cidade pequena, estava estagnada, e estava entrando em uma fase de progresso. Ficava a 100 quilômetros de Maringá e a 250 quilômetros de Guarapuava. Comecei a trabalhar em Mamborê, que significa em tupi, “ultimo acampamento”. Os paraguaios vinham roubar mate no Brasil. Eles foram avançando, até chegar a Mamborê, quando houve a resistência dos brasileiros. Eles contam que durante muito tempo foram encontradas peças, armas, ferramentas, deixadas quando os paraguaios tiveram que fugirem.
O senhor tem uma atuação notável dentro da classe médica. Pode citar alguns cargo ou funções ocupadas?
Em 1987 participei do Primeiro Congresso de Ética Médica, quando se elaborou a terceira reforma do código de ética médica. Fui do Grupo 9. Esse código foi feito com a participação de toda a comunidade. Eram 200 pessoas que participavam. Cada bloco era composto por 20 pessoas. Foi nessa época que elaboramos o código de ética vigente. E já se cogita de uma nova reforma, porque muita coisa modificou-se.
A assistência médica, não só no Brasil, mas em qualquer parte do mundo, é vista como insatisfatória?
O médico não satisfaz todas as necessidades. O médico não tem vara de condão para resolver outros problemas. Ele tem que minorar a situação, aliviar. Ele não tem o compromisso de cura, não tem esse dom. Isso ele não tem. Ele pode aplicar a sua arte, o seu conhecimento, a sua solidariedade, amenizar. Ás vezes ele cura. Mas sempre ele tem que consolar. Nem sempre é o médico e o remédio que curam. A maioria das vezes é o próprio organismo que se cura. Ás vezes o organismo está tão debilitado que não há mais o que fazer. Não há remédio nem dedicação de médico que curem! Há uma situação final. Sempre existe esse final.
Existe corporativismo na classe médica?
Não existe. Tanto que são eleitos os representantes. Permaneci no CREMESP - Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo por 10 anos. Na APM, Associação Paulista de Medicina eu fui do quadro de direção e conselho por 26 anos.
Qual é a sua opinião sobre as filas em que pessoas madrugam para serem atendidas, que se diga a bem da verdade não é um fenômeno recente?
O problema da medicina, não só aqui como em outros países é um problema de carência. Verba. Tendo dinheiro não fica difícil. O problema é que tem que ser feito muito com pouco dinheiro. Não dá para fazer! Se houvesse recursos suficientes não haveria filas. Para o doente particular em que ele tem o poder aquisitivo as coisas ficam mais fáceis. Veja que, nem sempre quando você telefona no consultório de um colega, veja bem, estou falando de um colega para outro, a secretária irá marcar consulta dali a cinco dias. Não é de imediato. Ele também tem uma capacidade de trabalho, tem seu limite. Urgência é outra história. Urgência é para ser atendida com urgência.
As faculdades colocam no mercado um grande número de profissionais, e mesmo assim ocorre essa carência?
Não há carência! Há má distribuição de profissionais! Ninguém quer ir para um local onde não há recursos, conforto, estabilidade enfim meio de vida muito bom. Nos grandes centros, nas cidades boas, existe uma superlotação de médicos. Nas cidades pequenas, nos lugares do interior onde não existem condições de vida favorável, onde não há condições de criar e educar os filhos, ai há carência de médico.
O senhor tem idéia de quanto recebe por consulta um médico que atende no serviço federal?
Parece-me que agora houve um reajuste. Mas não chega a vinte reais uma consulta, com direito ao retorno do paciente, que não é remunerado. Um técnico, um encanador, um eletricista ganha mais.
Como o senhor faria um paralelo entre a medicina de três ou quatro décadas com relação á medicina atual?
É difícil estabelecer um paralelo porque as coisas são muito diferentes. Hoje é outra medicina. Aquilo que aprendi na faculdade está na história da medicina. Isso no aspecto técnico profissional. No relacionamento humano também houve modificações. Hoje existe o intermediário. O Estado é um intermediário, ele trata um serviço com o médico. Existe a medicina de grupo, que também dá a assistência medica, mas não diretamente. O paciente realiza um contrato com uma empresa que vai lhe prestar serviço através do médico. Assim com também existem as cooperativas médicas, todas as prestadoras de serviços médicos. São intermediários. O médico já não tem o seu cliente. O cliente é da empresa. Ele procurou aquele médico porque ele é daquela empresa.
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Origem do macaco
Não tenho grande dúvida de que o homem se originou do macaco, mas o que me inquieta é não saber de onde surgiu o macaco."
Henry Billings
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domingo, setembro 07, 2008
JAMAIS
Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite.
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sábado, setembro 06, 2008
FAUSTO WOLFF
Morre o jornalista Fausto Wolff, ex-editor de O Pasquim
Na noite da última sexta-feira (05), morreu, aos 68 anos, no Rio de Janeiro (RJ), o jornalista Fausto Wolff, um dos editores de O Pasquim.
Segundo informações de sua família, Wolff, que usava o pseudônimo de Faustin von Wolffenbüttel, foi vitimado por uma insuficiência respiratória aguda, proveniente de uma tromboembolia pulmonar, contra a qual lutava há mais de dois anos. O jornalista estava internado no Hospital São Lucas.
Fausto Wolff nasceu na cidade de Santo Ângelo (RS), em 1940. Ainda aos 14 anos, começou seu trabalho como jornalista, atuando como repórter de polícia de um jornal de Porto Alegre (RS). Quando completou 18 anos, fez sua mudança para o Rio de Janeiro.
Em sua carreira, o jornalista atuou em veículos como O Globo, Tribuna da Imprensa, Jornal do Brasil, entre outros, além de ser autor de diversos livros.
Wolff era casado, tinha duas filhas e dois netos.
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Na noite da última sexta-feira (05), morreu, aos 68 anos, no Rio de Janeiro (RJ), o jornalista Fausto Wolff, um dos editores de O Pasquim.
Segundo informações de sua família, Wolff, que usava o pseudônimo de Faustin von Wolffenbüttel, foi vitimado por uma insuficiência respiratória aguda, proveniente de uma tromboembolia pulmonar, contra a qual lutava há mais de dois anos. O jornalista estava internado no Hospital São Lucas.
Fausto Wolff nasceu na cidade de Santo Ângelo (RS), em 1940. Ainda aos 14 anos, começou seu trabalho como jornalista, atuando como repórter de polícia de um jornal de Porto Alegre (RS). Quando completou 18 anos, fez sua mudança para o Rio de Janeiro.
Em sua carreira, o jornalista atuou em veículos como O Globo, Tribuna da Imprensa, Jornal do Brasil, entre outros, além de ser autor de diversos livros.
Wolff era casado, tinha duas filhas e dois netos.
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Mistérios das Arcadas
Mistérios das Arcadas
Burschenschaft. Esta estranha palavra alemã tem muito a ver com a história do Brasil. É também a senha para desvendar o passado e melhor compreender as tradições de antigos e atuais alunos da mais tradicional escola jurídica do País: a Faculdade de Direito, do Largo de São Francisco.
Burschenschaft foi o nome dado às sociedades de estudantes que surgiram no final do século 18 com o objetivo principal de promover a unidade da Alemanha. Existem até hoje em “campus” como o de Heildeberg, a mais antiga universidade alemã.
No Brasil, a “Bucha”, o nome vertido de Burschenschaft, surgiu na década de 1830 entre os alunos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, fundada pelo professor de origem alemã que lecionava no Curso Anexo da Faculdade, JULIUS GOTTFRIED LUDWIG FRANK, ou simplesmente Júlio Frank.
Frank viveu apenas 32 anos, dez dos quais no Brasil, país em que morreu e foi enterrado, de maneira insólita, no pátio da escola, onde seus restos permanecem sob um túmulo imponente, tombado pelo Patrimônio Histórico.
Ao contrário da existência curta de seu fundador, a Bucha teve vida longa e influência duradoura na sociedade: de seus quadros saíram a maioria dos presidentes da República entre 1889 e 1930, além de poetas como Castro Alves e personalidades da história do Brasil como Ruy Barbosa e o Barão do Rio Branco.
Quem na verdade foi, porém, Júlio Frank? Seria um príncipe desterrado? Seria um fugitivo com nome falso em busca de refúgio após ter cometido um assassinato com fins políticos?
De acordo com o escritor brasileiro de origem alemã Afonso Schmidt ele era um fugitivo sim, mas por motivos outros como dívidas e envolvimento em duelos. Baseado em documentos encontrados na Alemanha na primeira metade do século passado, Schmidt escreveu a biografia romanceada A Sombra de Júlio Frank, publicada nas décadas de 1940 e 1950.
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Burschenschaft. Esta estranha palavra alemã tem muito a ver com a história do Brasil. É também a senha para desvendar o passado e melhor compreender as tradições de antigos e atuais alunos da mais tradicional escola jurídica do País: a Faculdade de Direito, do Largo de São Francisco.
Burschenschaft foi o nome dado às sociedades de estudantes que surgiram no final do século 18 com o objetivo principal de promover a unidade da Alemanha. Existem até hoje em “campus” como o de Heildeberg, a mais antiga universidade alemã.
No Brasil, a “Bucha”, o nome vertido de Burschenschaft, surgiu na década de 1830 entre os alunos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, fundada pelo professor de origem alemã que lecionava no Curso Anexo da Faculdade, JULIUS GOTTFRIED LUDWIG FRANK, ou simplesmente Júlio Frank.
Frank viveu apenas 32 anos, dez dos quais no Brasil, país em que morreu e foi enterrado, de maneira insólita, no pátio da escola, onde seus restos permanecem sob um túmulo imponente, tombado pelo Patrimônio Histórico.
Ao contrário da existência curta de seu fundador, a Bucha teve vida longa e influência duradoura na sociedade: de seus quadros saíram a maioria dos presidentes da República entre 1889 e 1930, além de poetas como Castro Alves e personalidades da história do Brasil como Ruy Barbosa e o Barão do Rio Branco.
Quem na verdade foi, porém, Júlio Frank? Seria um príncipe desterrado? Seria um fugitivo com nome falso em busca de refúgio após ter cometido um assassinato com fins políticos?
De acordo com o escritor brasileiro de origem alemã Afonso Schmidt ele era um fugitivo sim, mas por motivos outros como dívidas e envolvimento em duelos. Baseado em documentos encontrados na Alemanha na primeira metade do século passado, Schmidt escreveu a biografia romanceada A Sombra de Júlio Frank, publicada nas décadas de 1940 e 1950.
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