sexta-feira, agosto 21, 2015

NORBERT BRUSCHE



PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 25 de julho de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: NORBERT BRUSCHE

Norbert Brusche nasceu a 27 de junho de 1932 é engenheiro aposentado. Reside no Lar dos Velhinhos de Piracicaba desde o dia 1 de julho de 2009 é casado com Eunice Brusche, são pais de três filhos.
O que o trouxe para o Lar dos Velhinhos de Piracicaba?
Justamente pelo Lar ter uma estrutura para abrigar idosos. À medida que a idade avança sentimos que a saúde já não é mais a mesma. Há o risco de necessitar de um sistema de saúde. Como o que tem no Lar: aqui tem médicos, enfermeiros, cuidadores. Viemos para o chalé que estamos ocupando, mas temos um contrato onde está escrito que no dia em que precisarmos iremos para um pavilhão onde nós teremos todo o suporte que nós precisarmos: de saúde, tratamento e o que for necessário. Hoje como somos autônomos no sentido de não depender de enfermeiros, cuidadores, vivo aqui como se estivesse em um condomínio fechado. Tenho o meu carro e tenho toda a minha liberdade.
O senhor ocupa um cargo na administração do Lar dos Velhinhos?
Desde 2013 entrei na diretoria com a intenção de ajudar em alguma coisa no Lar, nenhum diretor recebe qualquer tipo salário, nem mesmo a presidente. Os cargos de diretoria são ocupados por voluntários. Hoje ocupo o cargo de Segundo Tesoureiro.
Qual é a função do Segundo Tesoureiro?
No nosso caso em específico, dividimos a nossa tarefa em duas partes, a nossa Primeira Tesoureira Maria Aparecida Flabio realiza todos os trabalhos contábeis. Eu me dedico mais as análises financeiras do Lar. Realizei e continuo realizando uma análise do comportamento financeiro do Lar.
É de conhecimento de muitas pessoas que o senhor realiza um exaustivo trabalho de pesquisa de campo, os dados são colocados em computador e através de programas próprios são analisados. Isso é feito pelo senhor há quanto tempo?
A parte numérica, a parte financeira, a parte de tentar descobrir no Lar os pontos que administrativamente poderiam ter algum problema eu comecei a fazer em fevereiro de 2015.
Quando o senhor decidiu participar da administração do Lar?
A administração do Lar, antigamente era feita por uma pessoa que era muito arrojada, uma pessoa fantástica no sentido de fazer gerar a riqueza e a beleza que é o Lar. Quando entrei na administração do Lar, sou engenheiro e tenho o curso de Administração de Empresa e toda a minha vida me preocupei com o problema econômico-financeiro,  principalmente análise financeira de desperdício e perdas,  no sentido de ajudar o meu chefe, aquele que era arrojado e fazia a nossa empresa funcionar. Foi assim que resolvi colocar os meus préstimos a disposição do Lar.
O senhor trouxe toda a sua experiência profissional na iniciativa privada para a administração do Lar?
Exatamente! Trouxe toda a minha experiência em administrar as empresas onde trabalhei, olhando toda parte de custos, inclusive olhando a parte de pessoal, pessoas que precisam de treinamentos, seleção de pessoal, política de salários, incentivos, são coisas que exigem um conhecimento profissional mais profundo eu vim tentar trazer para o Lar.
O que o Lar dos Velhinhos representa para Piracicaba?
Em primeiro lugar é uma entidade sui-generis, no sentido de ter aqui uma Cidade Geriátrica, há quase 500 idosos que são seus moradores. Em segundo lugar, ele tem uma estrutura para atender idosos, que impressiona. Não parece, mas essa entidade tem 215 funcionários.
Não é um número elevado de funcionários?
Essa é uma das análises que me coube fazer. Sempre quis saber se não estamos com gente demais. Por exemplo, na área da saúde teríamos que ter mais pessoas.
O que levou o Lar a estar com dificuldades financeiras?
O Lar nunca teve uma situação financeira folgada. Tanto é que o nosso presidente anterior sempre dizia que mais de uma vez ele passou por crises muito fortes. Na verdade já houve épocas em que a sociedade piracicabana, mais precisamente amigos do nosso antigo presidente, pessoas de maiores posses, que infelizmente não estão mais entre nós, ajudaram muito o Lar. Além disso, naquele tempo o Lar tinha um pouco mais da metade do número de pessoas que tem hoje. Aquelas pessoas que existiam naquela época eram mais jovens do que são hoje, e, portanto o seu estado de saúde era melhor do que está hoje. Os idosos que estão hoje nos pavilhões estão em condições de saúde inferior a que estava há 10 ou 15 anos atrás.
Isso é também em decorrência do aumento da longevidade do ser humano?
Exatamente. Chegamos a ter pessoas com 100 anos de idade.
O que o Lar está fazendo para superar a crise atual?
O Lar está tendo que enfrentar a crise que é do Brasil inteiro. Hoje temos chalés disponíveis no Lar, só que a crise imobiliária chegou ao Lar. Não há alternativa a não ser pedir socorro à sociedade piracicabana. Tem sido noticiado, por toda mídia, a situação do Lar, os piracicabanos estão de repente percebendo que dada a situação, que não é só do Lar, é geral, mas o Lar de forma alguma pode sofrer as conseqüências, os nossos idosos tem que ser tratados com carinho, cuidado, a saúde deles não pode pagar por um problema econômico que o Brasil está passando. A sociedade de repente está se movimentando, e é isso que o Lar está fazendo, pedindo socorro à sociedade. E a sociedade está começando a responder.
O senhor acredita que a sociedade piracicabana vê no Lar dos Velhinhos uma entidade representativa, tanto quanto seus valores maiores, como é o Rio Piracicaba, como é a Escola de Agronomia, o Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba, uma tradição tão forte que motiva a população a ter orgulho do Lar dos Velhinhos?
Isso foi a primeira coisa que me chamou a atenção quando vim para Piracicaba! Ao perguntar à alguém se conhece o Lar dos Velhinhos, percebe-se no piracicabano exatamente esse orgulho citado. Como é uma Cidade Geriátrica e ela é inusitada, eu diria até na América do Sul, há motivo de orgulho para o piracicabano. O piracicabano nunca teve qualquer noticia de qualquer dificuldade que o Lar passasse antes.
A seu ver foi aberto um canal com a mídia onde está sendo passada uma espécie de radiografia do Lar?
É o que está acontecendo no momento. Ninguém gosta de dizer que está passando por dificuldades. O Lar nunca deu a conhecer a sociedade toda e qualquer dificuldade que passasse, para não passar uma imagem que poderia até ser mal interpretada.
Quem supria o Lar nas horas difíceis eram os capitães de indústrias, os capitalistas?
Aquelas pessoas que há 30 anos eram os grandes beneméritos, gostavam de ajudar o Lar, segundo testemunho do próprio Dr. Jairo Ribeiro de Mattos, essas pessoas não estão mais entre nós. O que era uma iniciativa pessoal do Dr. Jairo deixou de existir porque essas pessoas não estão mais entre nós.
Quais são as principais fontes de renda que o Lar dispõe hoje?
A principal fonte de renda obviamente tem que partir do governo. Existe um convênio com a Prefeitura Municipal que cobre 22% das nossas necessidades. Há uma previsão de mudança na lei, eles serão obrigados a fazer uma licitação que se chama Chamamento Público. Existe uma lei que diz que toda pessoa abrigada, que recebe do INSS, e que depende dos serviços do Lar, o Lar tem o direito de reter 70% deste valor para cobrir os custos. Deixando 30% para que a pessoa use a seu bel prazer.
O fato de o Lar cuidar do bem estar dos seus abrigados, da higiene e ter um ambiente sanitariamente saudável passa a imagem de um local provido de muitos recursos?
Como temos todo um sistema de saúde, não digo que temos um ambiente hospitalar, mas sim um ambiente saudável. As próprias pessoas que moram aqui cuidam das suas próprias casas, ninguém quer viver em condições precárias.
Existe alguma forma de gerar recursos de forma permanente?
Existe sim. Eu diria que são dois tipos de recursos: externos e internos. Como é uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos, existe a obrigação moral da sociedade de sustentar esse Lar. Isso é levado a sério em outros países. Na Suécia, Alemanha ou qualquer país de primeiro mundo, a sociedade é representada pelo governo, que cuida de entidades como esta. Sei de espanhóis que recebem aposentadoria da Espanha. E moram no Brasil. Teoricamente a sociedade representada pelo governo federal, estadual e municipal deveria e tem obrigação, até por constituição, de cuidar do Lar. Dada a precariedade de recursos, a sociedade civil tem que complementar isso. Tem o dever moral de fazê-lo.
Da mesma forma que a justiça obriga a fornecer pensão alimentícia ela poderia usar os mesmos instrumentos para assistir o idoso?
Pode! Já se pensou em tomar medidas nesse sentido. O nosso gasto mensal é em torno de R$ 650.000,00 a R$ 700.000,00. O recurso que o Governo do Estado de São Paulo destina R$ 24.000,00 por mês é uma piada e o Governo Federal é pior ainda, destina R$ 4.600,00 por mês para todos os idosos! Ou seja, esse valor para distribuir entre quase 500 idosos! O que é isso? O Governo Municipal dá quase R$ 64.000,00 ao Serviço Social e mais R$ 21.000,00 da área da saúde. A inadimplência do Estado em relação as suas obrigações constitucionais não há justiça que consiga ajustar. Uma vez que o Estado não consegue fazer isso, a sociedade complementa. É a mesma coisa que se vê no ensino, se a escola pública não está dando aquilo que você quer você vai à escola privada. Escola privada, hospital privado, existe em função da ineficiência do Estado em cobrir toda a área de educação e saúde. O que surpreende aqui na cidade de Piracicaba é a ausência da participação dos empresários no sustento do Lar dos Velhinhos. Sei que outras entidades eles ajudam. Estou acostumado ao sistema utilizado na cidade de onde vim, Indaiatuba, com um carnê de R$10,00 por mês a população ajudava as entidades. Se tivéssemos esse sistema também em Piracicaba, estaríamos bem. Existe outra forma, uma maneira interna de resolvermos o problema, transformando em fonte de renda a superfície que pertence ao Lar. Teríamos uma fonte de renda sem depender da caridade da população. Surgiram muitas idéias, e outras estão surgindo para aproveitamento dessas áreas, só que o resultado será daqui a três anos, e o nosso problema tem que ser resolvido com máxima urgência.
Qual é o déficit mensal do Lar hoje?
Ele é flutuante, depende muito da receita. Quando uma moradia vitalícia é comercializada é apurado um valor referente a ela. Tenho todos os números em forma de planilha e em gráficos. Uma pessoa que mora em um pavilhão custa mensalmente para o Lar R$ 2.400,00. 
Por que as empresas não estão ajudando o Lar dos Velhinhos de Piracicaba?
Qualquer empresário tem consciência da sua luta pela sobrevivência da sua empresa. Ele tem que saber muito bem onde ele gasta o seu dinheiro. A empresa dele não é uma entidade beneficente, ele não tem a obrigação de ajudar ninguém. Quando um empresário visualiza que é uma obrigação social da sua empresa ajudar aqui ou lá, se vislumbrar uma possibilidade de que a marca dele apareça através dessa ajuda, essa ajuda entra na conta propaganda, ele sabe que aquele dinheiro que ele gastou reverte como uma propaganda, ele irá fazer a transação.
De que forma o empresário pode associar o nome da sua empresa com o nome do Lar dos Velhinhos?
Dissemos que é publico de que o Lar é motivo de orgulho para a cidade. Já participei de diversas doações, onde o doador e empresário no dia seguinte têm a sua divulgação feita pela mídia. Ele pode agregar a sua propaganda o nome do Lar. Esse empresário irá colocar essa despesa na conta propaganda. Na verdade é um investimento.
Do alto da experiência que o senhor acumulou em suas atividades profissionais, o senhor acredita que neste momento uma empresa associar seu nome ao nome do Lar pode resultar em um ganho de marketing e financeiro?
É na época da crise que as empresas que souberem manusear muito bem a sua propaganda, o seu marketing, saem na frente das outras empresas, sobrepõem sobre a concorrência.  O Lar pode ser uma ancora para uma publicidade dessa natureza.
Poderia ser um selo com os dizeres, por exemplo: “Esta empresa contribui para o bem estar dos abrigados do Lar dos Velhinhos de Piracicaba”?
Esse é um velho sonho, para que as pessoas efetivamente enxerguem no Lar, não apenas um gasto, uma despesa, mas sim uma vantagem, um investimento.
O Lar aceita voluntários? O que é necessário para ser voluntário?
Com certeza aceitamos voluntários. Ele deverá apresentar-se ao Serviço Social, dizer quais são suas aptidões, obviamente como voluntário assinar uma documentação, depois o próprio serviço social o encaminhará dentro das suas aptidões, suas preferências.
As doações podem ser feitas de que forma?
Se a pessoa fizer uma doação única, existe a conta corrente do Lar dos Velhinhos, no banco Itaú, agência 0731, conta corrente 01291-0. Essa doação pode ser de preferência identificada, para que possamos agradecer. Se a pessoa estiver disposta, como gostaríamos que fosse, poderá simplesmente se identificar junto a nossa telefonista, fornecendo seus dados, nome, endereço, para que possamos emitir um boleto. Ele irá receber os boletos no seu endereço.
O senhor veio morar no Lar dos Velhinhos para descansar, o que o motiva a trabalhar de forma tão intensa?
Existem seres humanos que tem dentro de si o idealismo, a vontade de ajudar, a fraternidade, a generosidade. Esta entidade deveria ter também administradores profissionais, mas por falta de recursos não pode contratá-los. Sempre trabalhei como voluntários em tantas outras obras.
O senhor ocupou cargos de alto nível em multinacionais, ao analisar o currículo de um candidato o fato dessa pessoa ser voluntário em alguma entidade é importante?
Muito importante! Dir-se-ia que se pode dividir as pessoas em egocêntricas e altruístas.  No momento em que esta contratando uma pessoa para trabalhar na sua empresa, se você percebe que ela é do perfil egocêntrico, essa pessoa não terá muita facilidade em relacionar-se com os outros. Terá dificuldade em formar um grupo. Vai se tornar em alguém que quer levar vantagem em tudo em detrimento dos interesses da empresa. Já uma pessoa altruísta é ao contrário. Participa dos grupos de trabalho, e comprovadamente as equipes de trabalho produzem muito mais do que um grupo de pessoas trabalhando individualmente.
O senhor acredita que até profissionalmente é uma atitude inteligente ser voluntário?
Sem duvida nenhuma! Até profissionalmente. Comprovadamente as pessoas que dão de si acabam sendo mais felizes. É importante ressaltar que o Lar não é uma entidade comercial, existem entidades que cuidam de idosos e são comerciais, caríssimas. Existem entidades honestas e fraudulentas.O Lar dos Velhinhos de Piracicaba, com seus mais de 108 anos de existência, a meu ver, está acima de qualquer suspeita. As entidades sem fins lucartivos e de interesse público devem ser vistas com especial cuidado, pois sua prestação de serviço não ode estar sujeita ao risco de mercado.
O Lar dos Velhinhos de Piracicaba tem uma característica marcante no tratamento dos seus idosos?
Enquanto outras entidades que cuidam de idosos têm uma clientela formada por idosos auto-suficientes, ou quando muito cadeirantes, mantendo em média não mais do que uns 90 abrigados, o Lar tem uma população de perto de 500 idosos, dos quais cerca de 290 são dependentes em grau I, II e mesmo grau III, dos serviços intensos de saúde, ou seja, médicos, enfermeiras, técnicos de enfermagem, farmacêuticos, cuidadores e outros profissionais da área da saúde. 

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