PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 25 de julho de 2015.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 25 de julho de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: NORBERT BRUSCHE
ENTREVISTADO: NORBERT BRUSCHE
Norbert
Brusche nasceu a 27 de junho de 1932 é engenheiro aposentado. Reside no Lar dos
Velhinhos de Piracicaba desde o dia 1 de julho de 2009 é casado com Eunice Brusche,
são pais de três filhos.
O que
o trouxe para o Lar dos Velhinhos de Piracicaba?
Justamente
pelo Lar ter uma estrutura para abrigar idosos. À medida que a idade avança
sentimos que a saúde já não é mais a mesma. Há o risco de necessitar de um sistema
de saúde. Como o que tem no Lar: aqui tem médicos, enfermeiros, cuidadores.
Viemos para o chalé que estamos ocupando, mas temos um contrato onde está
escrito que no dia em que precisarmos iremos para um pavilhão onde nós teremos
todo o suporte que nós precisarmos: de saúde, tratamento e o que for
necessário. Hoje como somos autônomos no sentido de não depender de
enfermeiros, cuidadores, vivo aqui como se estivesse em um condomínio fechado.
Tenho o meu carro e tenho toda a minha liberdade.
O
senhor ocupa um cargo na administração do Lar dos Velhinhos?
Desde
2013 entrei na diretoria com a intenção de ajudar em alguma coisa no Lar,
nenhum diretor recebe qualquer tipo salário, nem mesmo a presidente. Os cargos
de diretoria são ocupados por voluntários. Hoje ocupo o cargo de Segundo
Tesoureiro.
Qual
é a função do Segundo Tesoureiro?
No
nosso caso em específico, dividimos a nossa tarefa em duas partes, a nossa
Primeira Tesoureira Maria Aparecida Flabio realiza todos os trabalhos
contábeis. Eu me dedico mais as análises financeiras do Lar. Realizei e continuo
realizando uma análise do comportamento financeiro do Lar.
É de
conhecimento de muitas pessoas que o senhor realiza um exaustivo trabalho de
pesquisa de campo, os dados são colocados em computador e através de programas
próprios são analisados. Isso é feito pelo senhor há quanto tempo?
A
parte numérica, a parte financeira, a parte de tentar descobrir no Lar os
pontos que administrativamente poderiam ter algum problema eu comecei a fazer
em fevereiro de 2015.
Quando
o senhor decidiu participar da administração do Lar?
A
administração do Lar, antigamente era feita por uma pessoa que era muito
arrojada, uma pessoa fantástica no sentido de fazer gerar a riqueza e a beleza
que é o Lar. Quando entrei na administração do Lar, sou engenheiro e tenho o
curso de Administração de Empresa e toda a minha vida me preocupei com o
problema econômico-financeiro, principalmente análise financeira de
desperdício e perdas, no sentido de
ajudar o meu chefe, aquele que era arrojado e fazia a nossa empresa funcionar. Foi
assim que resolvi colocar os meus préstimos a disposição do Lar.
O
senhor trouxe toda a sua experiência profissional na iniciativa privada para a
administração do Lar?
Exatamente!
Trouxe toda a minha experiência em administrar as empresas onde trabalhei, olhando
toda parte de custos, inclusive olhando a parte de pessoal, pessoas que
precisam de treinamentos, seleção de pessoal, política de salários, incentivos,
são coisas que exigem um conhecimento profissional mais profundo eu vim tentar
trazer para o Lar.
O que
o Lar dos Velhinhos representa para Piracicaba?
Em
primeiro lugar é uma entidade sui-generis, no sentido de ter aqui uma Cidade
Geriátrica, há quase 500 idosos que são seus moradores. Em segundo lugar, ele
tem uma estrutura para atender idosos, que impressiona. Não parece, mas essa
entidade tem 215 funcionários.
Não é
um número elevado de funcionários?
Essa
é uma das análises que me coube fazer. Sempre quis saber se não estamos com
gente demais. Por exemplo, na área da saúde teríamos que ter mais pessoas.
O que
levou o Lar a estar com dificuldades financeiras?
O Lar
nunca teve uma situação financeira folgada. Tanto é que o nosso presidente
anterior sempre dizia que mais de uma vez ele passou por crises muito fortes.
Na verdade já houve épocas em que a sociedade piracicabana, mais precisamente
amigos do nosso antigo presidente, pessoas de maiores posses, que infelizmente
não estão mais entre nós, ajudaram muito o Lar. Além disso, naquele tempo o Lar
tinha um pouco mais da metade do número de pessoas que tem hoje. Aquelas
pessoas que existiam naquela época eram mais jovens do que são hoje, e,
portanto o seu estado de saúde era melhor do que está hoje. Os idosos que estão
hoje nos pavilhões estão em condições de saúde inferior a que estava há 10 ou
15 anos atrás.
Isso
é também em decorrência do aumento da longevidade do ser humano?
Exatamente.
Chegamos a ter pessoas com 100 anos de idade.
O que
o Lar está fazendo para superar a crise atual?
O Lar
está tendo que enfrentar a crise que é do Brasil inteiro. Hoje temos chalés
disponíveis no Lar, só que a crise imobiliária chegou ao Lar. Não há
alternativa a não ser pedir socorro à sociedade piracicabana. Tem sido
noticiado, por toda mídia, a situação do Lar, os piracicabanos estão de repente
percebendo que dada a situação, que não é só do Lar, é geral, mas o Lar de
forma alguma pode sofrer as conseqüências, os nossos idosos tem que ser
tratados com carinho, cuidado, a saúde deles não pode pagar por um problema
econômico que o Brasil está passando. A sociedade de repente está se
movimentando, e é isso que o Lar está fazendo, pedindo socorro à sociedade. E a
sociedade está começando a responder.
O
senhor acredita que a sociedade piracicabana vê no Lar dos Velhinhos uma
entidade representativa, tanto quanto seus valores maiores, como é o Rio
Piracicaba, como é a Escola de Agronomia, o Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba, uma tradição tão
forte que motiva a população a ter orgulho do Lar dos Velhinhos?
Isso
foi a primeira coisa que me chamou a atenção quando vim para Piracicaba! Ao
perguntar à alguém se conhece o Lar dos Velhinhos, percebe-se no piracicabano
exatamente esse orgulho citado. Como é uma Cidade Geriátrica e ela é inusitada,
eu diria até na América do Sul, há motivo de orgulho para o piracicabano. O
piracicabano nunca teve qualquer noticia de qualquer dificuldade que o Lar
passasse antes.
A seu
ver foi aberto um canal com a mídia onde está sendo passada uma espécie de
radiografia do Lar?
É o
que está acontecendo no momento. Ninguém gosta de dizer que está passando por
dificuldades. O Lar nunca deu a conhecer a sociedade toda e qualquer
dificuldade que passasse, para não passar uma imagem que poderia até ser mal
interpretada.
Quem
supria o Lar nas horas difíceis eram os capitães de indústrias, os
capitalistas?
Aquelas
pessoas que há 30 anos eram os grandes beneméritos, gostavam de ajudar o Lar,
segundo testemunho do próprio Dr. Jairo Ribeiro de Mattos, essas pessoas não
estão mais entre nós. O que era uma iniciativa pessoal do Dr. Jairo deixou de
existir porque essas pessoas não estão mais entre nós.
Quais
são as principais fontes de renda que o Lar dispõe hoje?
A
principal fonte de renda obviamente tem que partir do governo. Existe um
convênio com a Prefeitura Municipal que cobre 22% das nossas necessidades. Há
uma previsão de mudança na lei, eles serão obrigados a fazer uma licitação que
se chama Chamamento Público. Existe uma lei que diz que toda pessoa abrigada,
que recebe do INSS, e que depende dos serviços do Lar, o Lar tem o direito de
reter 70% deste valor para cobrir os custos. Deixando 30% para que a pessoa use
a seu bel prazer.
O
fato de o Lar cuidar do bem estar dos seus abrigados, da higiene e ter um
ambiente sanitariamente saudável passa a imagem de um local provido de muitos
recursos?
Como
temos todo um sistema de saúde, não digo que temos um ambiente hospitalar, mas
sim um ambiente saudável. As próprias pessoas que moram aqui cuidam das suas
próprias casas, ninguém quer viver em condições precárias.
Existe
alguma forma de gerar recursos de forma permanente?
Existe
sim. Eu diria que são dois tipos de recursos: externos e internos. Como é uma
entidade filantrópica, sem fins lucrativos, existe a obrigação moral da
sociedade de sustentar esse Lar. Isso é levado a sério em outros países. Na
Suécia, Alemanha ou qualquer país de primeiro mundo, a sociedade é representada
pelo governo, que cuida de entidades como esta. Sei de espanhóis que recebem
aposentadoria da Espanha. E moram no Brasil. Teoricamente a sociedade
representada pelo governo federal, estadual e municipal deveria e tem
obrigação, até por constituição, de cuidar do Lar. Dada a precariedade de
recursos, a sociedade civil tem que complementar isso. Tem o dever moral de
fazê-lo.
Da
mesma forma que a justiça obriga a fornecer pensão alimentícia ela poderia usar
os mesmos instrumentos para assistir o idoso?
Pode!
Já se pensou em tomar medidas nesse sentido. O nosso gasto mensal é em torno de
R$ 650.000,00 a R$ 700.000,00. O recurso que o Governo do Estado de São Paulo
destina R$ 24.000,00 por mês é uma piada e o Governo Federal é pior ainda,
destina R$ 4.600,00 por mês para todos os idosos! Ou seja, esse valor para
distribuir entre quase 500 idosos! O que é isso? O Governo Municipal dá quase
R$ 64.000,00 ao Serviço Social e mais R$ 21.000,00 da área da saúde. A
inadimplência do Estado em relação as suas obrigações constitucionais não há
justiça que consiga ajustar. Uma vez que o Estado não consegue fazer isso, a
sociedade complementa. É a mesma coisa que se vê no ensino, se a escola pública
não está dando aquilo que você quer você vai à escola privada. Escola privada,
hospital privado, existe em função da ineficiência do Estado em cobrir toda a
área de educação e saúde. O que surpreende aqui na cidade de Piracicaba é a
ausência da participação dos empresários no sustento do Lar dos Velhinhos. Sei
que outras entidades eles ajudam. Estou acostumado ao sistema utilizado na
cidade de onde vim, Indaiatuba, com um carnê de R$10,00 por mês a população
ajudava as entidades. Se tivéssemos esse sistema também em Piracicaba,
estaríamos bem. Existe outra forma, uma maneira interna de resolvermos o
problema, transformando em fonte de renda a superfície que pertence ao Lar.
Teríamos uma fonte de renda sem depender da caridade da população. Surgiram
muitas idéias, e outras estão surgindo para aproveitamento dessas áreas, só que
o resultado será daqui a três anos, e o nosso problema tem que ser resolvido
com máxima urgência.
Qual
é o déficit mensal do Lar hoje?
Ele é
flutuante, depende muito da receita. Quando uma moradia vitalícia é
comercializada é apurado um valor referente a ela. Tenho todos os números em
forma de planilha e em gráficos. Uma pessoa que mora em um pavilhão custa
mensalmente para o Lar R$ 2.400,00.
Por
que as empresas não estão ajudando o Lar dos Velhinhos de Piracicaba?
Qualquer
empresário tem consciência da sua luta pela sobrevivência da sua empresa. Ele
tem que saber muito bem onde ele gasta o seu dinheiro. A empresa dele não é uma
entidade beneficente, ele não tem a obrigação de ajudar ninguém. Quando um
empresário visualiza que é uma obrigação social da sua empresa ajudar aqui ou
lá, se vislumbrar uma possibilidade de que a marca dele apareça através dessa
ajuda, essa ajuda entra na conta propaganda, ele sabe que aquele dinheiro que
ele gastou reverte como uma propaganda, ele irá fazer a transação.
De
que forma o empresário pode associar o nome da sua empresa com o nome do Lar
dos Velhinhos?
Dissemos
que é publico de que o Lar é motivo de orgulho para a cidade. Já participei de
diversas doações, onde o doador e empresário no dia seguinte têm a sua
divulgação feita pela mídia. Ele pode agregar a sua propaganda o nome do Lar.
Esse empresário irá colocar essa despesa na conta propaganda. Na verdade é um
investimento.
Do
alto da experiência que o senhor acumulou em suas atividades profissionais, o
senhor acredita que neste momento uma empresa associar seu nome ao nome do Lar
pode resultar em um ganho de marketing e financeiro?
É na
época da crise que as empresas que souberem manusear muito bem a sua
propaganda, o seu marketing, saem na frente das outras empresas, sobrepõem
sobre a concorrência. O Lar pode ser uma
ancora para uma publicidade dessa natureza.
Poderia
ser um selo com os dizeres, por exemplo: “Esta empresa contribui para o bem
estar dos abrigados do Lar dos Velhinhos de Piracicaba”?
Esse
é um velho sonho, para que as pessoas efetivamente enxerguem no Lar, não apenas
um gasto, uma despesa, mas sim uma vantagem, um investimento.
O Lar
aceita voluntários? O que é necessário para ser voluntário?
Com
certeza aceitamos voluntários. Ele deverá apresentar-se ao Serviço Social,
dizer quais são suas aptidões, obviamente como voluntário assinar uma
documentação, depois o próprio serviço social o encaminhará dentro das suas
aptidões, suas preferências.
As
doações podem ser feitas de que forma?
Se a
pessoa fizer uma doação única, existe a conta corrente do Lar dos Velhinhos, no
banco Itaú, agência 0731, conta corrente 01291-0. Essa doação pode ser de
preferência identificada, para que possamos agradecer. Se a pessoa estiver
disposta, como gostaríamos que fosse, poderá simplesmente se identificar junto
a nossa telefonista, fornecendo seus dados, nome, endereço, para que possamos
emitir um boleto. Ele irá receber os boletos no seu endereço.
O
senhor veio morar no Lar dos Velhinhos para descansar, o que o motiva a
trabalhar de forma tão intensa?
Existem
seres humanos que tem dentro de si o idealismo, a vontade de ajudar, a
fraternidade, a generosidade. Esta entidade deveria ter também administradores
profissionais, mas por falta de recursos não pode contratá-los. Sempre
trabalhei como voluntários em tantas outras obras.
O
senhor ocupou cargos de alto nível em multinacionais, ao analisar o currículo
de um candidato o fato dessa pessoa ser voluntário em alguma entidade é
importante?
Muito
importante! Dir-se-ia que se pode dividir as pessoas em egocêntricas e
altruístas. No momento em que esta
contratando uma pessoa para trabalhar na sua empresa, se você percebe que ela é
do perfil egocêntrico, essa pessoa não terá muita facilidade em relacionar-se
com os outros. Terá dificuldade em formar um grupo. Vai se tornar em alguém que
quer levar vantagem em tudo em detrimento dos interesses da empresa. Já uma
pessoa altruísta é ao contrário. Participa dos grupos de trabalho, e
comprovadamente as equipes de trabalho produzem muito mais do que um grupo de
pessoas trabalhando individualmente.
O
senhor acredita que até profissionalmente é uma atitude inteligente ser
voluntário?
Sem
duvida nenhuma! Até profissionalmente. Comprovadamente as pessoas que dão de si
acabam sendo mais felizes. É importante ressaltar que o Lar não é uma entidade
comercial, existem entidades que cuidam de idosos e são comerciais, caríssimas.
Existem entidades honestas e fraudulentas.O Lar dos Velhinhos de Piracicaba,
com seus mais de 108 anos de existência, a meu ver, está acima de qualquer
suspeita. As entidades sem fins lucartivos e de interesse público devem ser
vistas com especial cuidado, pois sua prestação de serviço não ode estar
sujeita ao risco de mercado.
O Lar
dos Velhinhos de Piracicaba tem uma característica marcante no tratamento dos
seus idosos?
Enquanto
outras entidades que cuidam de idosos têm uma clientela formada por idosos
auto-suficientes, ou quando muito cadeirantes, mantendo em média não mais do
que uns 90 abrigados, o Lar tem uma população de perto de 500 idosos, dos quais
cerca de 290 são dependentes em grau I, II e mesmo grau III, dos serviços
intensos de saúde, ou seja, médicos, enfermeiras, técnicos de enfermagem,
farmacêuticos, cuidadores e outros profissionais da área da saúde.
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