ENTREVISTA REALIZADA NO DIA 21 DE
AGOSTO DE 2014 A RUA ALFERES JOSÉ CAETANO, 581
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 23de agosto de 2014.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 23de agosto de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADO: FREDERICO ALBERTO BLAAUW
ENTREVISTADO: FREDERICO ALBERTO BLAAUW
Em uma reunião a 9 de setembro de
1968 o Conselho Diretor do Instituto Piracicabano decidiu encaminhar o pedido
de autorização para mais dois cursos: o de Direito e o de Ciências Biológicas.
Frederico Alberto Blaauw foi o primeiro colocado no primeiro vestibular,
realizado a 14 de fevereiro de 1970, com um total de 159 inscritos e um total
de 115 aprovados. Frederico Alberto Blaauw, que se tornaria professor do curso já
era professor de línguas e literatura no Colégio Piracicabano. Formado em Direito,
continuou na docência. Nascido em São Paulo, na Rua Piratininga, a 27 de
outubro de 1933, filho primogênito de Frederico Blaauw e Ana Henriques
Blaauw que ainda tiveram os filhos José
Carlos e João Paulo.
Qual era a atividade profissional
do pai do senhor?
Meu pai era funcionário da Shell.
Eu tinha alguns meses de vida quando a nossa família mudou-se à Piracicaba. No
inicio residimos em uma casa situada a Rua São José, 1182, ficava a meio
quarteirão abaixo do Largo Santa Cruz. Depois mudamos na esquina, no Largo Santa Cruz, 862, esquina com a Rua São José. Na época o Largo
Santa Cruz era chão de terra. Tinha uma capelinha no centro do Largo Santa
Cruz, onde havia festas.
Com que idade o senhor começou a
freqüentar a escola?
Aos sete anos iniciei o curso
primário no Grupo Escolar Moraes Barros. Minha primeira professora foi Maria
Emilia Cardinalli. Prestei o curso de admissão e fiz o ginásio no Piracicabano,
situado na Rua Boa Morte. O Curso Científico fiz no Instituto Sud Mennucci onde
tive aulas com Argino da Silva Leite, que ensinava matemática, Benedito de
Andrade que lecionava português. Demosthenes Santos Corrêa professor de química. Fui aluno do Archimedes
Dutra.Conclui o científico aos 18 para 19 anos.
O senhor tinha algum curso como meta?
Eu desejava entrar para a escola de cadetes., em
Resende. Eu tinha um pendor para isso. Só que nessa época, em 1954, meu pai
faleceu. Como filho mais velho tive que assumir os encargos da família. Prestei
o concurso para o SESI, fui aprovado como educador social. Por ter sido
aprovado nesse concurso, fiz a Escola de Sociologia e Política, com bolsa do
SESI em São Paulo, onde permaneci por três anos residindo em uma casa situada
no Brás. A Escola de Sociologia Política ficava bem no centro, ao lado da
Faculdade de Direito do Largo São Francisco, atualmente é a Fundação Escola de
Sociologia e Política de São Paulo. Após concluir esse curso voltei para
Piracicaba como Educador Social do SESI. Atendia as empresas.
Em poucas palavras qual era a função do Educador Social?
A função primordial era trabalhar no sentido em que
houvesse a paz social. Evitar litígios entre funcionários e empresas. Já
existia sindicalismo, com um enfoque diferente. Hoje as empresas e os
sindicalistas são antagônicos. Antigamente procuravam caminhar juntos.
Quanto tempo o senhor permaneceu no SESI?
Foram mais de 30 anos. Assumi a supervisão do Centro
Social número 20 que abrangia Piracicaba. Eram ministradas palestras,
principalmente cursos, de formação cívica, de supervisão de pessoal, de
relações humanas. Esse trabalho do SESI hoje não existe mais. Infelizmente a
própria relação patrão-funcionário deteriorou. O intuito principal era
estabelecer o dialogo, a paz social. Os cursos eram dirigidos nesse sentido.
O senhor lecionava?
Fui educador social ministrando as aulas. Depois assumi a
direção, passando a ter uns oito ou nove subordinados. Pode-se dizer que nunca
houve um clima extremamente pesado (de guerra) entre a classe patronal e a
classe de trabalhadores, como ocorreu em outras regiões do país.
O sobrenome Blaauw tem qual origem?
A origem é holandesa, de Amsterdam Meu avô paterno,
Frederico Blaauw era engenheiro, veio para Campinas quando a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro estava sendo implantada. Acabou casando-se em
Campinas. Meus avós maternos eram portugueses, ela era Ascenção da Silva Henriques e meu
avô era Alberto Henriques. Minha avó materna passava temporadas conosco, depois
voltava para Lisboa. Blaaaw na Holanda é um nome tão comum como Silva no
Brasil. Blaaw quer dizer “azul”. No Nordeste existe uma cantiga que fala do
“Boi Blau” quando ele aparece traz sorte. A
origem está no período da Invasão Holandesa.
O que o levou a cursar direito?
Fiz o curso de direito na UNIMEP. No vestibular da
UINIMEP fui aprovado em primeiro lugar. Isso foi em 1970, sou da primeira
turma, formei-me em 1973. Eu tinha 37 anos.
O senhor resolveu trabalhar na área jurídica ou continuar na área de
ensino?
Até então eu trabalhava no SESI e também lecionava.
Fui professor de português por muito tempo, em várias escolas. Lecionei no
Colégio Piracicabano, na Escola Industrial, por muito tempo lecionei na Escola
de Comércio do Zanin (Escola de Comércio
Cristóvão Colombo).
Há quem diga que a lingua portuguesa é complexa, o senhor concorda?
Se você comparar a lingua portuguesa com o inglês, a
aplicabilidade dela é a mesma. Só que o inglês é uma lingua praticamente
universal e o português é restrito.
A análise sintática tem algum segredo para que o aluno tenha bom
entendimento?
Eu acredito que não existem segredos. O que existe é
a aplicação do aluno. E o aluno é sempre uma resposta em relação ao professor.
Na medida em que o professor exige o aluno corresponde.
Qual foi sua atividade referente ao direito logo após a sua formatura?
Passei a dar aulas na própria faculdade.
O senhor pratica algum esporte?
Faço caminhadas. Antes eu praticava corrrida, dois a
dois quilometros e meio todos os dias. Eu morava em uma casa situada na Avenida
Independência esquina com a Rua Samuel Neves. Fazia aquele percurso até a
Esalq, dava um giro pelo campus e voltava.
O seu porte ereto, a postura elegante, é genético ou força do habito?
Acho que é força de vontade!
No campo do direito qual é a especialidade do senhor?
O meu escritórios´trabalha com pesssoa juridica.
Prestamos assessoria para empresas. Obviamente que para os sócios das empresas
nós prestamos serviços. Isso sempre foi assim, desde o começo.
O senhor nunca atuou na área criminal?
Essa parte criminal não fazemos. Só trabalhamos com
direito civil, direito de trabalho, direito tributário. Contratos.
O Direito no Brasil é o mesmo direito dos outros países?
Acho que há um equilibrio.
Qual é a importância da Ordem dos Advogados do Brasil, OAB?
E um orgão que disciplina, organiza, tem uma
amplitude muito grande em relação aos advogados. É o orgão de controle da
advocacia. Hoje ela está mais voltada para a sua própria atividade, ela não ten
a expressão política. Ela já teve uma participação politica maior. Hoje ela
está mais voltada para a prória classe.
Em 1964 o senhor ainda não era advogado, mas já estava inserido no sistema
de serviço publico. O senhor vê que o Movimento de 1964 trouxe resultados
positivos?
O golpe de 1964 foi bem recebido pela população de uma
maneira geral, pela igreja, pelas instituições, pelo empresariado. Dados os
desmandos que havia. Depois as coisas foram mudando e a visão passou a ser
outra. Só que durante 20 anos vivemos garroteados. Fui vereador em duas
legislaturas. No governo de Cassio Paschoal Padovani e no governo de Adilson
Benedito Maluf, quando fui o vereador mais votado do MDB – Movimento
Democrático Brasileiro, oposição a Aliança Renovadora Nacional – ARENA. O
deputado Francisco Antonio Coelho era presidente do diretório do MDB. Fui líder
da bancada do MDB. Fui fundador do Lions Cidade Alta.
Qual fato o senhor pode destacar como muito representante
para Piracicaba no período em que o senhor foi vereador?
No governo do prefeito Adilson Benedito Maluf a vinda da
Caterpillar para Piracicaba foi muito marcante! Talvez seja a mais importante
mudança que Piracicaba teve nos últimos anos e se deve ao prefeito Adilson
Benedito Maluf que nunca foi reconhecido como gestor que trouxe a cidade para
Piracicaba. O Adilson era filiado ao MDB. Foi uma grande luta sua trazer a
Caterpillar à Piracicaba, esteve até nos Estados Unidos, em Peoria, onde fica a
matriz da Caterpillar.
Nessa época ser oposição ao governo era uma atitude muito
complicada?
Precisava ter muito peito!
Depois que deixei o mandato fui secretário de finanças do
João Hermann Netto, e fui também Procurador Geral do Município. Na época de
Luciano Guidotti fui presidente do Departamento Municipal de Cultura, naquela
época não existia secretaria. Havia também o Departamento de Turismo. Fui
presidente da Guarda Mirim, criei o departamento feminino da Guarda Mirim. O
Ciappina era o comandante. Quando a Guarda Mirim foi criada o menor podia
trabalhar, o objetivo era tirá-los da rua, dar uma formação, o que a Guarda
Mirim fazia muito bem, e encaminhá-los para o serviço. Hoje só pode ser feito
com 14 ou mais anos. Fui presidente da
Comissão Municipal do Mobral, formamos muita gente em Piracicaba. Consegui doações
para adquirir a sede do Mobral em Piracicaba, com a extinção do Mobral esse
imóvel passou a ser propriedade da Prefeitura Municipal de Piracicaba, na Rua
José Pinto de Almeida quase esquina com a Rua São José.
Dr. Frederico Alberto Blaauw qual era o salário do senhor
como vereador?
Nenhum! Não se ganhava nada para trabalhar como vereador.
O combustível que eu usava no meu veículo era pago por mim mesmo. O carro que
eu utilizava para trabalhar como vereador era o meu próprio carro. Não havia
ajuda nenhuma. Não tinha secretária, assessor. Não tinha nem local para se
trabalhar. Cada um trabalhava no seu escritório ou na sua casa.
O senhor atua como advogado especializado em direito
comercial há quarenta anos, no decorrer desse tempo o direito mudou muito. Como
o senhor avalia essas mudanças?
Até 2002 tínhamos um código comercial. Com o advento do
novo código civil uma parte do direito comercial passou a ser incorporada ao
direito civil. A parte de contratos, sociedades, deixaram de pertencer ao código
comercial e passaram para o código civil.
Esse cipoal de leis que existe beneficia a quem?
Só dificulta. Para o interprete e para as partes. Eu
diria que a tendência é tentar simplificar, mas nós não atingimos ainda esse
estágio. A burocracia está enfronhada no sistema. É difícil desligar-se dessa
situação. Nosso sistema sempre foi burocratizado, isso traz entraves. No Brasil
para se abrir uma empresa leva-se no mínimo, correndo tudo bem, de três a
quatro meses. Em determinados países você consegue abrir uma empresa em três
dias!
O recolhimento de tributos é um problema?
A complexidade de recolhimentos é espantosa. Por exemplo,
um tributo dos municípios que é recolhido para as prefeituras, o ISS, Imposto
Sobre Serviços de Qualquer Natureza. Onde se recolhe esse imposto? Você paga
onde a empresa tem sua sede, onde está o estabelecimento principal, ou você
paga aonde o serviço é prestado. Só que as prefeituras exigem que a empresa que
tem sede em Piracicaba, mas presta serviços em Campinas recolha o imposto aqui.
A prefeitura de Campinas também exige que recolha lá, o serviço foi prestado
lá. Há uma bitributação.
O senhor tem um cálculo aproximado de para quantos
bacharéis em direito lecionou?
São 36 anos lecionando, em um cálculo rápido foram aproximadamente
2.900 profissionais do direito. Que hoje são bacharéis, advogados, promotores
públicos, juízes, desembargadores.
Se o senhor não fosse advogado seguiria a carreira
militar, não há um contraste nessa afirmação? Como um político da oposição se identifica
com o militarismo?
Está havendo um equivoco! Militarismo é uma coisa,
pertencer as Forças Armadas é outra coisa totalmente diferente! As Forças
Armadas pertencem a própria instituição da nacionalidade. O próprio PT sempre
foi oposição mas convive com as Forças Armadas, que é uma instituição.
O senhor tem algum livro na gaveta para ser lançado?
Eu contribuo com artigos no jornal “A Tribuna
Piracicabana”. Pode ser que um dia reúna todos os artigos que publiquei e os
publique em forma de livro..O que escrevo procuro dar um enfoque sempre de
caráter prático. Não apenas a parte teórica.
O senhor acompanha a tecnologia?
Não tem como fugir! Antigamente a movimentação junto ao
fórum era só através de papel, hoje não, é tudo digitalizado.
A profusão de novas normas, leis e decretos, obrigam o
advogado a estar sempre muito bem informado?
A legislação vai se adequando a uma realidade nova que
vai surgindo por força da própria evolução. Isso não há como evitar. Essas
mutações fazem com que você fique sempre voltado para essas alterações. O
direito evolui.
Essas mudanças de legislações não ocorrem só no Brasil?
Ocorrem mudanças em todo o mudo, só que no Brasil elas
são decorrentes de uma imposição mais tática e não estratégica. Mais para
atender o dia a dia e não a longo prazo. Hoje o empresário brasileiro está
preocupado com o que pode vir a acontecer. Ele se prepara para isso. Só que ele
não tem ajuda do governo. O governo visa apenas a arrecadação. É preciso levar
em conta que o que mantém o governo é a empresa. A empresa mantém o governo,
mantém o sindicato, mantém a economia funcionando, o emprego, ela tem que
receber um tratamento especial para que possa suprir as necessidades da própria
sociedade. Mas não é o que acontece. A empresa é vista como inimiga. Isso é uma
mentalidade atrasada. Característica do Brasil. Eu acho que o enfoque teria que
ser outro.
O senhor diria que o empresário antes de tudo é um forte,
parafraseando Euclides da Cunha que escreveu que o sertanejo é antes de tudo um
forte?
Eu acho que se aplica bem a situação. Os jornais de hoje
estampam a execução de imóveis de um tradicionalíssimo grupo de empresas de
Piracicaba, quem está executando é a Receita Federal. Trabalham lá atualmente
3.000 empregados. Qual será o destino daqueles imóveis? O que a Receita Federal
irá fazer com aquilo? O que mantém o que mantém o Status Quo (estado
atual) hoje? É a economia. E a nossa economia está em uma situação extremamente
complicada. Piracicaba sempre dependeu das usinas, quantas fecharam as portas?
Há um
grupo muito poderoso, de capital internacional, que está adquirindo tudo que
atua nesse setor?
Monopólio sempre existe, não há como evitar. Acho que é
muito mais uma questão de política econômica do que interesses privados.
Como o senhor vê o momento político atual?
Conturbado.
O senhor viveu o ambiente de 1964, há como fazer uma
comparação com dos dias atuais?
A situação é completamente diferente.
Hoje a democracia está estabilizada no Brasil. Hoje o Brasil é uma democracia
firme. Para ser plena falta muito, mas caminhamos para isso. A não ser que
sobrevenha uma situação inusitada.
O senhor tem algum hobby?
Gosto de chácara, de plantar, gosto de cavalo árabe, tive
um chamado Koltov, de cachorro, sempre gostei da raça fila brasileiro, hoje tenho
um, o Kaiser.