PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 02 de abril de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADO: Erich Vallim Vicente - Banda MCC (Mazzaropi Contra o Crime)
A banda “Mazzaropi Contra o Crime”, também identificada pelas iniciais “MCC”, é uma banda de rock formada em Piracicaba. Seus integrantes são Erich Vallim Vicente (Baixista e Vocalista), Evaldo Augusto Vicente Filho (Guitarrista e Vocalista) e Giuliano da Costa Maestro (Baterista e Vocalista). Ela surgiu em agosto de 1998, os amigos Evaldo (guitarra) e Rafael (bateria) eram integrantes de um grupo que tinha encerrado suas atividades musicais, determinados a continuar a dedicar-se a musica, convidaram Erich, irmão do Evado, para assumir o baixo, nascendo o trio que executou em 8 de agosto de 1998 o primeiro show com a denominação “Mazzaropi Contra o Crime”, ou simplesmente MCC. A apresentação foi no Fest Einstein realizado no Liceu Albert Einstein. No ano 2000 Giuliano da Costa Maestro (Baterista e Vocalista) integrou-se ao grupo que gravou no mês de janeiro do mesmo ano a primeira demo ( CD de apresentação) denominada de “O Jornaleiro”, com seis musicas gravadas. Essa iniciativa alavancou alguns shows onde o grupo se apresentou principalmente em Piracicaba. O grupo encerrou suas apresentações no ano 2000 com um show na Universidade de São Paulo – USP realizado na cidade de São Paulo. Em 2001 a banda gravou seu segundo CD com o título “Deu Branco” colocado a venda a partir do evento realizado no The Garage. Logo a seguir Rafael deixa o grupo, que passou a ser o trio que perdura até hoje. Em 2004 a perfeita integração do grupo proporcionou o lançamento do álbum musical do MCC. A evolução musical da banda juntamente com composições próprias produziu um rock com identidade própria, refletindo as idéias e propostas dos integrantes do grupo. Em 2007 graças a atuação do produtor musical paulistano João Lima com quem juntos delineiam a profissionalização definitiva do grupo, novos rumos foram dados ao trabalho Sem ser exclusivista, a banda executa composições que extasiam os entusiastas do rock, obras de nomes consagrados como Ramones, Bob Marley, Raul Seixas, The Beatles, Jimmy Cliff, Elvis Presley, Johnny Cash, Ozzy Osbourne e uma vasta galeria de outros artistas ou bandas com os quais o grupo se identifica. Essa diversidade de estilos e ritmos imprime um clima contagiante nos shows da banda, oferecendo ao público um ambiente interativo com rock da melhor qualidade.
O jornalista Erich Vallim Vicente nasceu em 6 de junho de 1981, é o filho mais novo do casal de jornalistas Evaldo Augusto Vicente e Astir Vallim Vicente. O casal tem outros dois filhos. Evaldo Augusto Vicente Filho nascido em 27 de abril 1979 e Erika Valim Vicente Maestro nascida em 12 de janeiro de 1978.
Erich como surgiu à inspiração para formar uma banda?
Minha mãe é entusiasta de música, a minha irmã Érica dedicou-se á música clássica, por 11 anos estudou piano. Sua dedicação aos estudos musicais despertou o interesse do meu irmão em tocar guitarra, em especial o rock. Acredito que foi até por sempre me identificar com as iniciativas de ambos passei a tocar contrabaixo, voltado ao rock. Considero que tanto a minha irmã como meu irmão tem um ouvido musical muito superior ao meu.
Seu irmão Evaldo despertou o seu interesse para o rock e jazz?
Desde a minha infância já alimentava o interesse pelas atividades musicais do Evaldo, que juntamente com seus amigos tinham montado a banda “Jeeps in Kombi”, com a qual fizeram alguns shows. Os ensaios eram feitos em casa, eu acompanhava tudo aquilo com muita curiosidade e atenção, pelo fato de ser ainda um menino não havia a menor possibilidade de participar efetivamente do grupo. Passei a estudar no Studio Musical Alexandre Bortoletto (SMAB) com o professor Marcos, o Manguinha, tive aulas de música e contrabaixo, para aprender as técnicas de como cantar, os recursos de respiração, tive aulas com o professor Antonio do mesmo instituto.
Por que escolheu o contrabaixo como instrumento?
Gosto muito de uma banda de rock chamada Rancid, digo que é a minha “banda de cabeceira”, produzem bons discos, boas musicas. Ao contrário de outras bandas de rock punk o baixista do Rancid é um excelente músico. Admiro o seu desempenho musical, isso me estimulou a estudar baixo. Para mim foi uma referência musical.
Onde eram os ensaios da banda?
A primeira banda, onde o meu irmão tocava a, “Jeeps in Kombi” realizava os ensaios em um quartinho no fundo da nossa casa, nessa época havia cinco integrantes. Morávamos na Rua Dr. Alvim esquina coma a Padre Galvão, na divisa entre os bairros Jardim Europa e São Dimas. Nosso vizinho era o senhor Alexandre Alves, ex-vice-prefeito de Piracicaba, ex-secretário de governo, pai de quatro filhos com idades próximas as nossas: Pedro, Ivan, Vitor e Ana, que muitas vezes iam assistir os nossos ensaios, com isso nunca tivemos problemas, mesmo considerando que tocávamos sem isolamento acústico! Tivemos ótimos vizinhos! Os ensaios eram realizados aos sábados e domingos á tarde.
A partir de que período você passou a tocar na banda?
Meu irmão montou uma banda que teve um breve período de existência, ao que consta nem chegaram a dar nome á mesma, dessa iniciativa permaneceu o Rafael (Rafão) Rosolen, para poderem tocar faltava um baixista, era a minha oportunidade, que a principio não foi vista com muita simpatia! Isso foi em 1995, a partir dessa época passamos a tocar formando o grupo que por uma breve etapa chamou-se “De Sarto Arto” e que mais tarde se tornaria a banda MCC - Mazzaropi Contra o Crime,. Ensaiávamos bastante, todos os finais de semana. Tive que me desdobrar para poder acompanhar o Evaldo e o Rafão.
Quem criava esses nomes de bandas?
O Rafão foi quem criou os nomes “De Sarto Arto” e “Mazzaropi Contra o Crime”. São dele essas idéias criativas! (Risos). Em 8 de agosto de 1998 fomos tocar no Fest Einstein, ao chamarem a nossa banda fui surpreendido pelo nome que o Rafão tinha colocado para fazer a inscrição no festival: “Mazzaropi Contra o Crime”.
Que musicas foram gravadas no primeiro CD Demo do grupo?
A nossa demo foi gravada em 2000 no Estúdio Apache com o Celso Rocha, era denominada “O Jornaleiro” consistia em seis musicas de nossa autoria: “Pamonhas de Piracicaba”; “Bem-Te-Vi”; “Tifo – Um Herói Piracicabano”; “Capitães do Piracicaba”; “Terra Natal”. Tínhamos como principio trabalhar com temas referentes a Piracicaba, é um disco regionalista. O nome Mazzaropi acabou por nortear o nosso trabalho de tal forma que uniu o rock que ouvíamos desde garotos com aspectos locais da cidade de Piracicaba, como a música caipira, o peixe na barranca do Rio Piracicaba, pamonha, tudo enfim que é característico da nossa terra. É interessante analisar que o rock é uma musica com fortes vertentes nos Estados Unidos e Inglaterra, e Mazzaropi é quase um sinônimo de aspectos rurais brasileiro. Uma união quase impensável! Estamos tentando somar as diferentes culturas e criar algo em torno desse resultado. Observamos as diferentes posições ocupadas pelos tradicionalistas, progressistas, provincianos, cosmopolitas, antiquados, futurólogos. Vejo que a questão cultural envolve a soma do passado remoto, assim como do recente. Como individuo sou fruto do rock que sempre gostei, ao mesmo tempo sou produto dos aspectos rurais vivenciados pelos meus avós paterno, e mais cosmopolita influenciado pelos meus avós materno residentes em São Paulo. Sofremos influencias do meio que freqüentamos, desde os laços familiares como os locais que freqüentamos. Gosto muito de passear pela Rua do Porto, pela Praça José Bonifácio, o piracicabano valoriza muito as coisas de Piracicaba, o XV de Novembro é um desses exemplos, embora esteja há muito tempo longe da elite do futebol nacional o piracicabano o valoriza e orgulha-se dele. Em minha opinião não se resgata cultura e sim é algo para ser somado, somam-se culturas. O que seria do Ocidente se não existisse a democracia grega e o direito romano? São duas culturas que se somaram.
O segundo disco da banda saiu quando?
Essa pode ser considerada a nossa estréia, isso foi em 2001. Não é uma gravação que eu possa dizer que gosto, penso ser um trabalho muito pasteurizado, não consigo ver uma identidade nesse trabalho que se chama “Deu Branco”. É um CD com 12 músicas. A composição da banda era Erich no baixo e vocal, Juliano na guitarra e vocal, Juliano na guitarra e vocal e Rafael, o Rafão, na bateria. Em 2001 em função dos estudos e trabalho o Rafão deixou a banda, voltamos a sermos três integrantes, com o Juliano na bateria e vocal. Desde essa época permanecemos com a mesma formação. O Rafão casou, é pai de uma menina e mora nos Estados Unidos.
Em Piracicaba a banda se apresenta onde?
Onde somos convidados a tocar, como no Clube Treze de Maio, no Engenho Central, bares mais tradicionais como Garage, no extinto Taberna, The Cave, em chácaras da região, no festival Pirastock, Chaplin, em cidades como Águas de São Pedro, São Pedro, Limeira, Americana, Santa Bárbara, Nova Odessa, São Paulo, Sorocaba, Votorantin.
O cachê é bom?
Apenas do ano passado para cá é que passamos a receber algum cachê! O que nos move é a vontade de tocar, o amor á musica. Entre nós dizemos em tom de brincadeira que somos muito egocêntricos, pagamos para tocar! É o cumulo do egocentrismo!
No momento em que você está executando uma musica há a sensação de sair da realidade?
Posso afirmar que entro em outra realidade, gosto muito de criar, de ver uma letra sendo cantada, há várias formas de um ser humano criar, a musica é uma delas. A música faz parte do meu cotidiano, gosto do rock, assim como de jazz, samba.
O terceiro disco da banda surgiu quando?
Em 2004 surgiu o CD que leva como título o nome da banda, Mazzaropi Contra o Crime. Considero um período muito especial, uma re-fundação da banda, esse disco eu gosto muito. Conseguimos nesse trabalho juntar toda a idéia do regionalismo com uma apresentação universal, ver a identidade das coisas da nossa cidade com situações nas mais diferentes localidades. A música “Mardita Cachaça” tem uma pegada de rock com vocais do cururu que fazemos dentro do rock, já chamaram essa musica de “rock caipira”, “punk roça” eu continuo dizendo que é rock. Esse disco foi gravado e mixado no Estúdio Spalla em Piracicaba por Renato Napty e Roggero Chiarinelli. Desde 2009 estamos com outro trabalho, com um repertório mais amplo.
Quem é o compositor da banda?
Nós três compomos, talvez pelo fato de estar diretamente ligado a redação de jornal acabo de uma forma natural encontrando um volume maior de noticias e informações, proporcionando matéria prima para compor. Ainda criança eu não sabia tocar nem cantar, acabava escrevendo poesia. Sempre gostei muito de escrever.
Quais são os próximos projetos da banda?
Neste ano pretendemos gravar um clip, estamos literalmente trabalhando para isso, juntando recursos financeiros. Possivelmente o clip será com a música “Mardita Cachaça”. Essa musica é de 2001, aborda uma terceira via entre o socialismo cubano que tem entre seus ícones o charuto, e o capitalismo americano, é a “Mardita Cachaça”! Em nosso repertório há uma música com o título “Tudo Que Tem Por Aqui Vale Menos Do Que Um Dólar”, composta em 1999, foi inspirada na valorização do real, em janeiro de 1999.
As mensagens transmitidas nas letras das músicas sensibilizam quem escuta ou funciona mais como um desabafo de quem as compõem e executa?
Pode até ser um desabafo, não são veiculadas com a pretensão de formar nenhuma opinião em quem as escuta. Há muitas mensagens que foram transmitidas em músicas com letras melhores do que as que eu fiz. Acho que a musica faz com que a pessoa sinta a sua realidade de uma forma mais profunda.
No fundo ao compor você estuda uma realidade sua?
Em minha opinião, não falo pela banda e sim por mim, quando vejo alguém buscando uma religião é porque ele descobriu que é insuficiente para ele o que encontra no mundo material, ocorre a busca do entendimento de uma nova existência após a morte, isso transforma a realidade em uma forma mais clara, abre novas perspectivas diante da realidade imediata. Não quero entrar em nenhuma avaliação ou comparação de fé religiosa. Quem escreve sobre algo está indo a fundo na sua própria realidade.
A música traduz sentimentos que não são expressos por palavras?
A música tornou-se uma grande aliada da palavra. Através da música podemos deixar o sentido da palavra mais forte, uma função bem interessante da musica é realçar o sentimento da palavra, pela forma como é cantada. A palavra ao ser cantada toma uma nova dimensão. É triste ver pessoas que não se importam com o sentido das letras que estão cantando, importam-se apenas com o ritmo da musica, da balada.
Somos um país que escuta muitas letras de músicas em inglês sendo o nosso idioma o português.
Falo por mim, já faz alguns anos que estudo e continuo estudando inglês para poder saber o que significam as letras das músicas que escuto. A relação entre a palavra e a sua expressão através da musica ocorre de forma idêntica a que ocorre na nossa língua. A sonoridade da língua inglesa é diferente da portuguesa.
A música composta para ser cantada em inglês contempla a pronúncia própria do idioma?
Eu não gosto de música que passa pelo processo de tradução. Já ouvi versões terríveis em inglês da música Garota de Ipanema. Estava escutando uma banda chamada “No Te Va Gustar” que canta rock em espanhol, nota-se claramente a influência na sonoridade das características próprias de cada idioma. Isso é perceptível no rock em italiano, francês ou alemão. O próprio rock em inglês o britânico é diferente do americano, por conta do sotaque de cada povo, isso ocorre com as bandas canônicas de cada país de língua inglesa.
Mazzaropi Contra o Crime aceita convites para animar qualquer ocasião festiva?
A pessoa interessada pode entrar no nosso site www.wix.com/mazzaropi/mcc, escolher o repertório e agendar a apresentação!