sábado, maio 19, 2012

GABRIEL FERRATO DOS SANTOS

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 19 de maio de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADO: GABRIEL FERRATO DOS SANTOS
Gabriel Ferrato dos Santos é Secretário Municipal de Educação do município de Piracicaba desde janeiro de 2009. È professor do Instituto de Economia da Unicamp desde 1988, com pós-doutorado em Economia da Saúde pela University of York (Inglaterra), pela Universidad Pompeu Fabra (Espanha). Doutor em Economia pela Unicamp, mestre em administração de Empresas pela FGV-SP, Mestrado Profissional em Gestão de Sistemas de Saúde pela UFBa, graduado em Ciências Econômicas pela Unimep. No período 2007/2008 foi coordenador do Núcleo de Economia Social Urbana de Políticas Públicas da Unicamp. De 1995 a 2002 cedido pela Unicamp ocupou cargos públicos como o de secretário de Planejamento do município de Piracicaba, coordenador-geral do Projeto Reforsus do Ministério da Saúde, Secretário Nacional de Gestão de Investimentos do Ministério da Saúde. Em 2004 elaborou estudo para a Rede de Redução de Pobreza e Proteção Social do BID- Banco Interamericano de Desenvolvimento. Nascido a 31 de outubro de 1951 em Piracicaba é filho do contador e comerciante Donato Corrêa dos Santos, natural de Brotas, e Maria Dinis Ferrato dos Santos, nascida em Andradina de prendas domésticas. O casal teve sete filhos: Bernadete, Raquel, Maria Angélica, Gabriel, Judite, Márcia e Alexandre. Seus primeiros estudos foram feitos no Grupo Escolar Prudente de Moraes, na época a família residia na Rua Floriano Peixoto. O segundo ano primário estudou no Grupo Escolar Barão de Rio Branco. Seu pai foi trabalhar na área contábil da “PAMEC” - Patrulha de Mecanização Agrícola “PAMEC” Ltda, hoje denominada PAINCO Indústria e Comércio S/A situada em Rio das Pedras, onde permaneceram por um ano, período em que Gabriel estudou na BSN, Escola Barão de Serra Negra e foi coroinha da Igreja Matriz de Rio das Pedras, o pároco era o Padre Ivo Vigorito. Gabriel lembra-se até hoje da missa celebrada em latim, recita ainda algumas frases: Dominus vobiscum ("O Senhor esteja convosco") cujo responso, é: Et cum spiritu tuo ("E com o vosso espírito"). Recorda do sino tocado pelo coroinha durante a misa, do turíbulo, onde era colocado o incenso em determinadas cerimônias religiosas.

Alguma vez o senhor pensou em seguir a carreira religiosa?

Nessa época pensei, quem convive nesse meio quando criança é natural que isso passe pela cabeça, eu gostava muito de participar das celebrações. Essa minha participação tem muito a ver com o meu pai, ele era extremamente religioso, era muito rigoroso com as questões religiosas, no período da infância e adolescência todos nós em casa cumpriamos o que a igreja orientava. Meu pai cumpria todos os preceitos e nós o acompanhavamos, às refeições rezávamos. Por um longo período da nossa vida, todas as noites, meu pai rezava o terço conosco antes de dormirmos. Os efeitos são importantes, a religião tem uma função básica na vida do indivíduo, inclusive disciplina a sua própria vida. A formação cristã que recebi marcou minha vida e marca até hoje.

Com a volta da família á Piracicaba em qual escola o senhor passou a esstudar?

O quarto ano primário fiz no Sud Mennucci, prossegui os estudos até concluir o curso científico. Aos 15 anos comecei a trabalhar no Bradesco como contínuo, a agência era na Rua XV de Novembro, 831, entre a Rua Governador Pedro de Toledo e o abrigo de onibus situado atrás da catedral.

Pelo ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente hoje o senhor não poderia trabalhar com essa idade.

Hoje não poderia trabalhar. Sem querer contrariar o ECA, fazer da forma que fiz, conciliar estudo e trabalho não vejo nenhuma dificuldade. São dadas responsabilidades ao adolescente em formação, não sei se posso generalizar, mas no meu caso trabalhar já nessa idade me transformou em outra pessoa a partir daquele momento. Terminei a faculdade trabalhando no Bradesco, paguei meus estudos com o salário que recebia do banco. Naquela época dizia-se que Economia era a carreira do futuro, fiz um curso muito bom na Unimep, com excelentes professores. Em 1973 me formei. No final do curso já prestei exame para fazer mestrado. No último ano de faculdade deixei o Bradesco e fui trabalhar na própria Unimep, no projeto de implantação do CPD- Centro de Processamento de Dados. Era um equipamento IBM, a linguagem de programação era RPG- Report Program Generator. O primeiro sistema implantado envolvia a tesouraria, eu fazia a integração entre a rotina manual e a mudança para o sistema informatizado.

O senhor ingressou na Fundação Getúlio Vargas em São Paulo?

No final do ano, me preparei, e fiz o exame para ingressar na GV em São Paulo, entrei classificado em quinto lugar. Fui fazer mestrado em Administração de Empresas. Tive professores como Eduardo Suplicy, Bresser Pereira, Yoshiaki Nakano, Claude Machline, Carlos Osmar Bertero. Isso foi em 1974, nós estávamos na crise do petróleo.

O senhor residia em que local?

Comecei morando com um amigo em uma quitinete onde quase não cabíamos nós dois, ficava no Bairro da Liberdade, saí de lá e fui morar em um apartamento emprestado por um ex-professor, onde permaneci por uns dois meses, na própria GV formamos um grupo e fomos morar em uma pensão, ficava em uma rua que sai da Praça 14 Bis, hoje está instalado lá o Recanto Goiano. A partir dessa pensão constituímos um grupo de amigos e montamos uma república, era em um apartamento com três dormitórios. Nessa república tinha um gaúcho, eu de paulista, um mineiro, um cearense, um alagoano e um paraense. Falávamos quase um dialeto, pois todos os sotaques regionais estavam presentes naquela república.

Como era a sua locomoção por São Paulo?

No início utilizava ônibus, tanto dentro da cidade como para vir visitar a família em Piracicaba. Três meses depois de estar cursando o mestrado fui convidado a dar aula de economia na denominada atualmente como Universidade Ibirapuera. Eu tinha bolsa no mestrado, era do Programa Nacional de Executivos, ao final do curso eu tinha que reembolsar o valor recebido. Quando comecei a lecionar consegui comprar um Fusca branco, na época havia financiamento em longo prazo. Em 1975 fui convidado para dar aula na Unimep. Na Unimep tínhamos um grupo de estudos, eu, Renato Maluf, Barjas Negri, Antonio Augusto Franco, o Periquito, e mais alguns colegas. Saíamos da escola as 23h e íamos estudar. Reuníamos na casa do Renato Maluf. Permanecíamos estudando até a 1 ou 2 horas da manhã. Aos sábados, nos fins de semanas, também estudávamos. Todos nós fizemos mestrado. Fiquei dando aulas em São Paulo, na Unimep e estudando. Em 1976 entrei para o corpo docente da GV.

O senhor tinha algum apelido?

O meu apelido surgiu no ginásio, até hoje meus colegas de ginásio usam meu apelido, “Jaba”, quem me deu esse apelido foi o professor José Salles, com o tempo passou a ser “Jabinha”. Durante uma aula, o professor José Salles com o intuito de motivar as aulas procurava usar seu bom humor, um dia disse em sala de aula, que em árabe Jaba significa Gabriel.

O senhor praticava algum esporte?

Até começar a ter essa vida corrida eu jogava futebol, era centro-avante. Aos 15 anos, antes de começar a trabalhar cheguei a passar pelo juvenil do XV de Piracicaba, na época o Alfinha, João Carlos Clemente, também jogava ambos éramos os mais novos, a idade média do juvenil era 17 anos. Joguei em diversos times do Bairro Alto, era convidado a compor times, não jogava em um determinado time apenas. Joguei no Regente, que era o time do Barjas. Atualmente em função dos compromissos apenas pratico caminhadas. Como hobby eu tenho a leitura. A minha vida sempre foi composta por Três períodos: de manhã, á tarde e á noite. Quando não também fins de semana.

O senhor é casado?

Sou, com Selma Aguiar, nos conhecemos em um carnaval no Clube Cristóvão Colombo, eu gostava muito de carnaval, sai desfilando na Equipelanka, na Caxangá. Na época a Selma era bancária, atualmente ela está concluindo o curso de enfermagem. Temos dois filhos: Guilherme e Gustavo.

Quando o senhor passou a integrar a administração municipal?

Em 1978 fui convidado a participar na montagem do banco de dados da prefeitura municipal. O Barjas tinha começado, eu continuei esse trabalho, passei a fazer a pesquisa de preços, eu era o Gerente do Programa de Abastecimento da cidade, foi o período em que começamos a estudar a comercialização de hortifrutigranjeiros na cidade. O primeiro varejão da cidade foi uma iniciativa da minha administração, praticamente invadimos uma área central remanescente da Estrada de Ferro Sorocabana, era um terreno abandonado, que favorecia todo tipo de contravenção. Assim criei o primeiro varejão da cidade. Deu tão certo que em seguida foi criado um programa de criação de varejões.
O senhor é um dos pré-candidatos a prefeito municipal?
O prefeito Barjas Negri formulou uma lista de nomes possíveis de sucedê-lo na administração municipal, e o meu nome consta dessa lista, ocorreu um processo natural que acabou convergindo para dois nomes.

Na visão do senhor quais são as necessidades mais urgentes de Piracicaba?

Em 1995 e 1996 já fui secretário de Planejamento da cidade, o principal problema de qualquer gestão pública no Brasil é social. Temos que enfrentar os problemas sociais. A desigualdade social no Brasil é muito alta. O país é rico no seu PIB, que é mal distribuído. É um dos países de maior concentração de renda do mundo, portanto a maior desigualdade de renda do mundo. As demandas e necessidades da população são muito grandes. Isso bate na saúde porque as pessoas dependem do SUS, bate na educação, convivo com isso diariamente, porque depende da vaga na creche. Bate na segurança, embora os problemas com segurança sejam decorrentes apenas da desigualdade social. O jovem sem perspectiva por conta da desigualdade social vê no negócio da droga um ganho relativamente fácil. Isso bate no problema da segurança.
Educar um filho requer muito esforço dos pais, por diversos fatores, está ocorrendo uma “terceirização” do que deveria ser feito pelos pais?
Na escola tentamos dar a educação formal, a escolarização, obviamente que entramos nos temas éticos, morais e sociais. Só que se a família não faz a sua parte acaba estourando tudo na escola. Sempre afirmo que nós estamos fazendo a nossa parte, cabe as famílias se preocuparem com a formação ética e moral, deveria ser de casa e não na escola. Não cabe a escola dar formação religiosa, moral, ética nem comportamental. São valores trazidos de casa. Só que isso se interpenetrou de tal forma que a escola acabou ficando responsável até por essa formação que deveria ser familiar. Isso trás problemas para a escola, e os pais infelizmente participam muito pouco da escola, são chamados a participarem, mas eles não vão. Apenas uma minoria vai. Com isso a escola acaba sendo o estuário de uma série de problemas.

Com toda a experiência de vida e conhecimento que o senhor carrega o senhor acredita que estamos em meio a um furacão, a humanidade está passando por mais um período de mudanças, assim como ocorreu na Idade Média, na Revolução Industrial?

Tem gente que é otimista, eu ando preocupado. É claro que se você pegar a história do mundo, a Europa que era a menina dos nossos olhos, são países que se desenvolveram e tem um equilíbrio social, são países muito dignos, as pessoas têm dignidade nesses países. A Europa para mim sempre foi um exemplo, não vejo a coisa americana como modelo, pelo seu individualismo. E de repente deu-se essa crise, por um elemento muito curioso. Onde está o fundo dessa crise? Essa crise tem sua origem pelo consumo! Consumo exacerbado, além das possibilidades! A Europa não era assim. Quando estive realizando um curso na Inglaterra um dos debates mais interessantes que ouvi foi de jornalistas analisando as mudanças de hábitos de consumo ocorridos na Inglaterra. Eu via isso nas ruas de York, cidade de uns 200 mil habitantes, onde morei, no nordeste da Inglaterra. Eu via o consumo explodindo, as pessoas saiam às compras, as lojas ficavam lotadas, o comércio trabalhava sábado e domingo o dia todo. A Inglaterra não era assim, passou a ser no chamado período de globalização, dos anos 80 em diante.
A mídia é a grande vilã?
Não. É o processo econômico do capitalismo. Capitalismo é isso: acumulação e consumo. Com o processo de globalização, em que há certa padronização do consumo, por exemplo, as marcas famosas estão no mundo inteiro. Antes não era assim. Onde você for verá as mesmas roupas, as mesmas lojas, é o mesmo tudo. Isso no mundo inteiro, não era assim antes. Houve a padronização do consumo, e obviamente o marketing do consumo. Isso acabou atingindo os países europeus que eram menos consumistas, e criou uma geração, principalmente a geração mais jovem, consumista. Os mais velhos desses países não são tão consumistas como os jovens o são. Criou-se uma geração de 20 a 30 anos, consumista.

A administração de uma empresa privada é diferente da administração pública?

É bem diferente. Por vários motivos, um deles é a flexibilidade da empresa privada diante do poder da coisa pública. A coisa pública é extremamente complexa por ser obrigada a seguir rigorosamente as legislações. Há um quadro de funcionários que não pode ser alterado e nem criar motivação, a motivação no funcionalismo público é muito mais difícil de ser criada do que no setor privado. Criar salário variável no setor público é muito complicado de ser feito. No setor privado é baseado nos resultados da empresa. Baseado em que isso pode ser feito no setor público? Vem a questão incorpora ou não incorpora ao salário? O que conseguimos fazer com os professores até agora, foi criar o incentivo para a freqüência. Nos últimos três anos demos mais de 70% de aumento de salário aqui.

Todo crescimento de uma cidade trás ônus e benefícios, é possível equilibrar essas variáveis?

A vantagem do crescimento econômico reflete no mercado de trabalho. A única forma de ter emprego para os jovens que estão entrando no mercado de trabalho é o crescimento econômico. Não existe alternativa. A Espanha está com 50% dos jovens sem emprego. Não há como afirmar ser contra o crescimento, a não ser no dia em que a população jovem se estabilizar. O crescimento econômico não pode ser a qualquer custo, tem que ser acompanhado de políticas públicas que dêem o que modernamente é chamada de sustentabilidade a esse crescimento. O crescimento não pode prejudicar o meio ambiente, tem que ter suporte a esse crescimento na área social, cultural. Isso tem que ser feito com equilíbrio, o problema do Brasil é que ele desequilibrou.
A vinda de empresas de grande porte, como está ocorrendo, trazendo pessoas com hábitos e culturas de outros países podem impactar negativamente?

Acho que é positivo para a cidade. A combinação de culturas é uma coisa positiva. A indústria moderna traz um mercado de trabalho melhor do que outros setores. A mão de obra é qualificada e com melhor remuneração. O fato de trabalhar no chão de fábrica não implica que seja mal remunerado. Tudo que ocorre no comércio e nos serviços tem a ver com isso. Você acha que existe serviço que de alguma maneira não esteja vinculado à indústria ou a agricultura? A indústria produz mercadorias, o serviço vem em conseqüência das mercadorias. Do bem tangível.

O mercado imobiliário não só de Piracicaba, assim como das cidades em seu entorno passaram por valorizações significativas desde que houve o anuncio da vinda de novas indústrias.

Há demanda e há especulação. O especulador nesse momento quer se aproveitar. Esse tipo de desequilíbrio existe no primeiro momento, depois acomoda.

No regime democrático como o senhor vê a relação entre o poder legislativo e executivo?

A oposição sempre terá o ponto de vista dela. Quem circula mais entre as pessoas? Não é o executivo, é o legislativo. Os vereadores que circulam pela cidade, sabem dos problemas, eles vêm com a demanda. Nesse caso ele ajuda o executivo.

A legislação engessa o poder executivo?

A legislação em geral no Brasil ela engessa. Encontramos inúmeras dificuldades para que as coisas aconteçam. Muitas vezes o problema existe, mas demoram-se meses para solucionar, tem que haver um projeto, concorrências, tudo de acordo com as leis, é uma herança colonial.

Piracicaba tem uma vocação turística?

Nós fomos brindados com esse rio maravilhoso. Poucas cidades têm o espaço maravilhoso que Piracicaba tem. O governo Barjas está fazendo o máximo, está mexendo em toda a orla e mais o Projeto Beira Rio.

Há uma demanda reprimida de hotéis em Piracicaba, como isso pode ser solucionado?

Não pode ser uma iniciativa do setor público, tem que ser uma parceria privada. Qualquer evento realizado na cidade não há como as pessoas se instalarem.

Quantas escolas municipais foram construídas em Piracicaba?

O Governo Barjas fez 41 escolas infantis e 28 de ensino fundamental, abrigando mais de 30.000 crianças. O Estado tem um bom programa de alfabetização que é o Ler e Escrever, logo que entrei aqui descobri que havia esse programa e submeti a e proposta a equipe, eles concordaram e desde 2010 implantamos. Cada criança trabalha com 40 leituras por ano. É um programa bom, estamos no terceiro ano de implantação. Na realidade o que funciona é o trabalho do professor, o material ajuda, o trabalho do professor em sala de aula é que determina o que irá acontecer. Sabendo trabalhar o material ele irá fazer a boa formação da criança. Não acredito muito em coisas salvadoras, existe o trabalho, o compromisso do professor. É isto que faz a educação!

Porque o professor diz que ganha mal?

Ganha mal mesmo, no Brasil inteiro. É um crime contra a Nação. Em Piracicaba o prefeito tinha clareza sobre isso, quando assumi tinha clareza, sabíamos que tínhamos que mexer nisso. E começamos a mexer, em 3 anos houve um amento de mais de 70% nominal, mas que deu um salto importante.






terça-feira, maio 15, 2012

JOSÉ VOLPATO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 12 de maio de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADO: JOSÉ VOLPATO

José Volpato é um ser humano com características próprias e marcantes. De estatura média, poucos imaginam a capacidade desenvolvida por ele em suas décadas de vida. Muito bem informado, usa até internet como ferramenta de trabalho. É um dos mais raros exemplos remanescentes da fidelidade profissional muito comum no passado recente. Conhece seu trabalho em cada detalhe, objetivo, administra com o rigor necessário um empreendimento que há mais de um século tem presença marcante no mercado de gás carbônico e álcool de fino teor. A entrada da fazenda é um verdadeiro cartão postal, tudo feito com material obtido na propriedade, impressiona pela ordem das coisas. Parece uma imensa pintura realizada pela natureza. Enganam-se quem achar que José Volpato é condescendente com o que considera errado ou fora de lugar. Nessas horas brota a energia dos obstinados, que trabalham com amor ao que fazem uma qualidade se não em extinção, muito raras em nosso país. José Volpato é nascido a 10 de maio de 1935 no bairro rural de Paraisolândia, hoje pertencente ao Município de Charqueada, sua mãe é Ana Fernandes Volpato de prendas domésticas e seu pai Emílio Volpato que exercia o ofício de sapateiro e seleiro. Em 1952 a família mudou-se para a Vila Nova, uma vilinha pertencente Fazenda Capuava. A usina cedeu uma casa para morarem em decorrência de José Volpato vir trabalhar na usina. Rufino da Silva foi seu professor do segundo ao quarto ano primário.
Ao sair de Paraísolândia para onde o senhor se dirigiu?
Fui trabalhar no Laticínios Piracicaba Ltda., o gerente era Natalino Cabrini pai do famoso jornalista Roberto Cabrini, trabalhei na parte administrativa, permaneci por um ano e meio mais ou menos. Nessa época eu ficava em uma pensão, situava-se praticamente em frente ao Latícinios Piracicaba, na Rua XV de Novembro. A proprietária era a Dona Tereza

A que horas o senhor iniciava o seu trabalho no Laticínios?

Sempre tive o senso de que o horário é prioritário. Se eu tinha que entrar às oito horas da manhã entrava antes, por volta de sete e meia. Nunca cheguei um minuto atrasado no serviço, isso em toda a minha vida. Normalmente eu saía do trabalho no Latícínios Piracicaba às 17h. Sempre gostei de ler, ia para casa e procurava estudar coisas novas. Às vezes ia até o centro, quadrar o jardim.

Capuava era a denominação de uma fazenda?

Era uma fazenda de café, ao que consta tinha também lavoura de cana, tendo produzido açúcar inclusive. Um dos sócios foi para Barra Bonita, permaneceu na Fazenda Capuava a produção de aguardente e gás carbônico.

Como o senhor veio para a Fazenda Capuava?

A proprietária era a Sra. Sophia Rehder Matthiessen, falei com o gerente, o Sr. Leif Rene F. Schumacher, descendente de dinamarquês, me entrevistaram, acharam que eu tinha competência para trabalhar com eles, fui registrado em 2 de maio de 1952. Entrei como auxiliar de escritório. A Capuava fabricava gás carbônico extraído da fermentação da cana de açúcar, já tinha uma clientela razoável, fornecíamos até para outros estados, como Paraná, Mato Grosso.
Como era produzido o gás carbônico?
Na época era obtido da fermentação da cana de açúcar. As dornas fermentavam o caldo da cana de açúcar, depreendendo o gás carbônico que ia para a purificação através das colunas.

Para que era utilizado o gás carbônico?

Na época era muito utilizado para a gaseificação de refrigerantes, atualmente tem mais aplicações, como no uso de soldas Mig. O gás é transportado em cilindros de aço. É feito um teste hidrostático nesse cilindro a cada cinco anos, atualmente o Brasil fabrica esse tipo de cilindro, mas por muitos anos tivemos cilindros importados da Alemanha.

Após seu ingresso na empresa como auxiliar de escritório como foi o seu desenvolvimento profissional?

Passei por várias fases, na medida em que tinha tempo gostava de aprender outras coisas, sempre fui curioso. Trabalhei um pouco com o departamento pessoal, um pouco na parte de fabricação, na distilaria eu frequentava o laboratório.

A Capuava Indústria e Comércio Limitada foi fundada quando?

Quando eu entrei aqui chamava-se T. Svendsen Matthiessen, em 1950 foi transformada em Usina Capuava S/A, atualmente temos aproximadamente 700 hectares de área de plantio, e em torno de 6.000 metros quadrados de área fabril. Existe uma outra área de plantio, prpriedade do principal acionista, qua as vezes fornece cana de açucar para a nossa unidade. Segundo consta Tage Flohr Svendsen, genro de Dona Sophia, passou a produzir alcool extra fino que era comercializado a granel. Ele produziu também açucar cristal. O senhor Tage era uma pessoa muito qualificada tecnicamente. Aqui foi a primera fábrica de fermento, o famoso fermento Fleischmann nasceu aqui, a formulação foi trazida da Alemanha ou Estados Unidos, isso não sei afirmar, mas a produção passou a ser aqui. Em função da cana de açucar.

O que é alcool extra fino?

É um alcool próprio para bebidas, bebidas finas, é utilizado inclusive na fabricação de perfumes. Temos alcool com teor alcoolico 96 G/L. (96% do volume total é de álcool e 4% é de água. G/L é uma homenagem ao cientista Gay-Lussac). A Capuava atualmente vende cachaça a granel, temos clientes que adquirem nosso produto há muitos anos. Diversos nomes famosos no mercado nacional são nossos clientes.
Qual é a carga de impostos sobre a cachaça?
A carga tributária sobre a cachaça atinge 81%, o que onera muito o produto.

O senhor é casado?
Sou casado com Jandira Aparecida Marchesin Volpato, nos conhecemos em festas populares de igreja.
O senhor é católico?

Sou, temos a Paróquia de Santa Rosa de Lima. Freqüentamos muito a Capela do Bairro Vila Nova. Uma vez por mês o Padre Vitório da Paróquia de Santa Rosa vem dar atendimento á nós. Aos domingos temos as celebrações que são feitas com as ministras.

Como o senhor vê a aplicação do álcool como combustível?

Considero importante tanto pra o setor industrial como para o consumidor. Os encargos são pesadíssimos, encarecem o produto.

Houve uma mudança de postura do funcionário da época em que o senhor entrou na empresa?

Houve uma grande mudança. Acho que o pessoal tinha mais amor, responsabilidade pelo serviço. Executava o trabalho com o prestígio de fazer a coisa bem feita. Hoje há diversos fatores influenciando negativamente na postura do funcionário.

O senhor chegou a presenciar alguma vez o campeonato de corte de cana?

Conheci cortador de cana muito bom. Aqui mesmo o Jorjão era um deles, naquele tempo cortava-se a cana e amarrava-se o feixe. Hoje há horário determinado para tudo. Naquele tempo se tivesse a luz da lua às seis horas da manhã o trabalhador já tinha varado um eito. Trabalhava-se por empreitada, o trabalhador dava o máximo de si. Enquanto enxergava ele estava trabalhando.

A empresa chegou a ter funcionários menores de idade?

Há muito tempo a Capuava tinha famílias que trabalhavam por empreitada. A própria família conduzia a lavoura, a família cuidava de um determinado número de quartéis de cana. Chegamos a ter umas 10 famílias trabalhando nesse sistema, a maior parte formada por descendentes de italianos. As crianças iam para a escola, quando voltavam iam ajudar.

A proibição do trabalho feito pelo menor de idade é um incentivo ao ócio?

Exatamente, já vimos isso acontecer. Por serem proibidos de trabalhar em função da idade muitos adolescentes ficavam jogado futebol, ou mesmo sem ter o que fazer. Em uma safra contratamos um rapaz que já tinha a idade permitida para trabalhar. Ele trabalhou não mais do que 15 dias, possivelmente viu os colegas que permaneciam jogando bola e juntou-se a eles.

Houve alguns períodos de racionamento de alimentos básicos como óleo comestível, açúcar, o senhor passou por algum tipo de racionamento?

Teve um período em que houve racionamento de sal. Isso quando morávamos em Paraisolândia. Não tinha sal na época, eu era criança ainda e me lembro desse fato.

O senhor tem filhos?

Tenho cinco filhos, todos casados, aos domingos nos reunimos.

Quais são as maiores dificuldades que o senhor encontra hoje para administrar uma empresa?

Alguns fatores surgem como obstáculos, a mão de obra, os pesadíssimos tributos, hoje estava vendo na internet as modificações diminuindo algumas tributações, mas lamentavelmente não fomos contemplados com tributos menores. Várias empresas tiveram facilitações no recolhimento de INSS e outros tributos, mas nós infelizmente não fomos atingidos nisso não.

Com o afluxo de muitos visitantes de outros países em função da copa de futebol, é uma oportunidade para divulgar um produto de alta qualidade como é produzido pela Capuava?

Recebemos várias consultas de interessados em exportar nosso produto.

Grandes engarrafadores de cachaça conseguem manter a mesma qualidade sempre?

Esses grandes engarrafadores recebem a cachaça de diversos produtores, conseqüentemente eles fazem um blend para padronizar a cachaça a 39, 40 GL. Após essa padronização ela é engarrafada.

Qual é o teor alcoólico da cachaça comercializada no mercado?

A nossa deve estar com 39 G/L. Normalmente é de 39 a 40 G/L. Até 54 G/L é cachaça, acima disso é álcool. A cachaça é um álcool mais fraco. Utilizando a coluna de destilação apropriada temos aqui álcool com 95 G/L.

Se adicionar água destilada a um álcool 95 G/L é possível obter cachaça?

É possível, só que sem a qualidade da cachaça destilada de forma a ser obtida naturalmente.

A Capuava fornecia para empresas tradicionais de Piracicaba?

Fornecíamos para a Tatuzinho, Cavalinho, Del Nero, Caninha Ouro Verde de Vicente Orlando, Miori.

O senhor conheceu a Fábrica de Bebidas Andrade?

Fornecíamos gás carbônico para os refrigerantes, entre eles a tradicional Cotubaina. Um dia eu estava lá, quando aconteceu um fato pitoresco. Apareceu um garoto com a caixa de engraxar sapatos na costa. O encarregado era o senhor Silvio. O menino pediu um refrigerante. Ele trouxe um quartinho de litro e deu para o menino. O engraxate reclamou dizendo: “Mas só isso?” Indignado, o Silvio trouxe uma garrafa grande e disse-lhe: “Quero ver você beber tudo!”. O engraxate colocou a caixa no chão sentou-se e ingeriu o refrigerante, fazendo intervalos, até esgotar a garrafa. Foi um fato que guardei em minha memória.

Naquele tempo era muito comum crianças lavarem os vasilhames, entravam em um tanque de água e retiravam os rótulos.

A mão de obra do menor era muito utilizada.

Atualmente como está a qualidade da cana de açúcar?

Estão sendo cultivadas canas que são propicias para a colheita mecanizada. São variedades que não são deitadas pelo vento e mantém um padrão de altura para facilitar o trabalho.

O senhor lembra-se quando no fundo da caldeira formava-se um resíduo muito duro?

As cinzas e a garapa petrificavam, semanalmente tinha que limpar a caldeira, para retirar aquilo não era fácil, em pedaços eram utilizados para decorar fachadas de casas.

Assim como se aproveita praticamente tudo da vaca, a cana torna-se totalmente aproveitável?

De certa forma sim, o bagaço da cana alimenta a caldeira, da garapa se extrai o álcool ou a cachaça, a vinhaça ou restilo é aproveitada na adubação. Quando eu era criança e morava em Paraisolandia montou-se a Usina São Francisco, tínhamos um ribeirão que passava no sítio, o restilo despejado no ribeirão acabou com os peixes, ficava uma “plasta” em cima do ribeirão, quase que dava para passar andando em cima da água.

O senhor pulveriza a cana com avião?

Não. Algumas usinas usam esse processo principalmente para antecipar a safra. Houve um ano em que ao que consta o próprio governo solicitou a antecipação da safra para atender a demanda do álcool.

O senhor acredita que muitas leis de proteção à natureza foram feitas apenas sobre mesas de trabalho, sem uma pesquisa mais profunda?

Nós enfrentamos um problema sério com o crescimento desordenado de capivaras. Tivemos que investir boa soma de recursos para tentar delimitar com cerca a área de plantio, elas devoram a metade de um talião de cana. O Rio Guamium passa dentro da propriedade e forma uma represa grande.

O senhor se sente uma pessoa realizada em seu trabalho?

Nada melhor do que fazer o que gosta com dedicação. Embora cansado, ainda aprecio o que eu faço.

O senhor não transmite a sensação de alguém que irá colocar um par de chinelos e ficar assistindo televisão o resto da vida.

Espero que não! Chego aqui 6h45 vou embora às 19h, 20h, e às vezes levo serviço para casa.

A doença da moda é a depressão, no seu conceito pode ser falta de serviço?

Eu acho que sim! Trabalhando você não coloca minhoca na cabeça.








quinta-feira, maio 03, 2012

JOSÉ ANTONIO DE GODOY

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado o5 de maio de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADO: JOSÉ ANTONIO DE GODOY
José Antonio de Godoy é nascido em 15 de novembro de 1947 em Piracicaba, na Rua Moraes Barros 1.832, é filho de José de Godoy militar da então Força Pública, nome anterior da Policia Militar e da enfermeira Alaíde Gosser de Godoy. Começou seus estudos no Grupo Escolar Alfredo Cardoso, em 1958, distante a aproximadamente 50 metros da sua casa. O secundário fez na Escola Cristóvão Colombo, mais conhecida como Escola do Zanin, onde estudou por sete anos diplomando-se em contabilidade em 1965.

Nesse período o senhor já trabalhava?

Eu morava com meus avós, eles tinham produção de doces caseiros, Pão de ló, que eram comercializados em festas de igreja, parques, circos. Eu tinha uns doze anos ajudava a fazer e depois a vender, na época deveria ter uns 12 anos.

Com que idade o senhor começo a trabalhar ajudando a sua família?

Aos sete anos eu já ajudava em casa.

Hoje pelo ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente o senhor não poderia ter essas atividades.

Não poderia. Sempre trabalhei e acho que isso contribuiu muito na minha formação. Já era ambulante, hoje denominado de camelô. As pessoas que conheci quando eu era criança cresceram e com isso formei um grande círculo de amizades.

O senhor é tímido?

Em determinadas circunstâncias sim. Na maioria das vezes não.

Algumas pessoas acham que o senhor é uma pessoa reservada, ao contrário de muitos políticos que são verdadeiros atores, tratam com muita intimidade pessoas que nunca viram, com o intuito de seduzir o eleitor e ganhar seu voto.

Acho que isso decorre da minha profissão, como sempre fui contador e auditor, primeiro trabalhei muito com informações sigilosas, pelo fato de estar trabalhando com terceiros, pessoas que você está fiscalizando, auditando, é necessário ter uma atitude extremamente profissional. Isso impõe um limite determinado pela conduta profissional. Quando digo que sou tímido em algumas circunstâncias, é porque sempre dei aulas no curso superior, a relação com meus alunos é diferente. Na escola a realidade é outra.

O senhor trabalhou fabricando móveis?


Aos 12 anos fui trabalhar na fábrica de sofás Rinolar, situada na Rua Moraes Barros. Fui trabalhar no escritório, o Roncini era o contador. Quando não tinha nada para fazer no escritório eu ia trabalhar na tapeçaria. Meus avós faleceram, meu pai trabalhava como balanceiro na Usina Bom Jesus, em Rio das Pedras. Fui morar com meu pai, e passei a trabalhar em uma tapeçaria em Rio das Pedras. Havia um ônibus da prefeitura que nos trazia para estudar a noite e voltar. Mudei para Piracicaba, fui trabalhar em um escritório de contabilidade, morava em uma republica na Rua Moraes Barros, tinha uma vilinha de casas, eu morava em uma dessas casas, em frente onde era o Bar do Buriol. Almoçava e jantava no Bar Cruzeiro. O famoso seresteiro Cobrinha morava ao lado, trabalhei com ele na sua fábrica de gaiolas de passarinho. Eu tinha um colega na Escola Cristóvão Colombo, cujo pai tinha uma fábrica de móveis. Fui trabalhar lá, fazia cama, guarda roupa, guardo algumas cicatrizes dessa época, na tupia quase perdi o dedo, outra vez um formão escapou e deixou a marca do seu trajeto no meu braço. Em 1965 me formei como técnico de contabilidade. Manoel Lopes Alarcon e Antonio Perecim montaram um escritório novo na Galeria Brasil, eles estavam contratando pessoal, o primeiro que começou a trabalhar com eles foi o Brito Leite. Logo em seguida eu comecei a trabalhar com eles, isso foi em julho de 1965. Antes de me formar comecei a trabalhar. Um ano depois o Alarcon saiu da sociedade e eu entrei como sócio. Permaneci por 32 anos como sócio do Perecim. Antes de me formar, surgiu aquela máquina de sorvete italiano, unto com uns amigos compramos uma máquina dessa e íamos as festas nos sítios para vender sorvete italiano. Eu tinha um tio que ia vender produtos na área rural, no inverno ele ia buscar sardinhas em Santos e íamos vender. Nos finais de ano vendíamos uva, abacaxi.

O senhor tem uma experiência de vida bem diversificada.

Em 1964 abriu a faculdade de economia e administração na Unimep. Em 1967 comecei a fazer a faculdade, em 1970 me formei em 1970, em 1971 passei a lecionar no curso de graduação. Em 1986 fiz o curso superior de ciências contábeis. Até 1985 dei aula no curso de graduação. A partir desses anos dei aula no curso de pós-graduação até 2009, quando vim trabalhar na Prefeitura Municipal de Piracicaba.

Como se deu a vinda do senhor para a Prefeitura Municipal de Piracicaba?

A ligação que eu tenho com o Prefeito Barjas Negri e com próprio Gabriel Ferrato é de mais de 30 anos. O Barjas estudou na Unimep na mesma época em que eu estudava. Nos formamos e passamos a lecionar na Unimep. Fundamos a Associação dos Docentes da Unimep.O Brajas era o presidente, eu era o tesoureiro e a Ângela Correia era a secretária. Nessa época o Gabriel começou a dar aulas na Unimep. Temos uma amizade antiga, que envolve as famílias. Sempre trabalhei nos planos de governo do Barjas, junto com ele.

O senhor exerce qual secretaria?

Sou Secretário de Governo, cuido das relações do prefeito com as demais secretarias. Algumas vezes um problema envolve mais de uma secretaria, quando isso acontece faço essa ligação.

Uma espécie de Casa Civil?

Mais ou menos isso.

O senhor se considera um estrategista?

Eu gosto e ficar equacionando, montando as coisas como irão acontecer. Sou inimigo do imponderável. Gosto de fazer tudo de forma planejada. Gosto de prever o que irá dar certo e o que não irá dar certo também. Participei dos planos de governo do Thame, do Umberto, do Barjas. No primeiro mandato do Barjas eu era presidente da ACIPI, por isso não vim trabalhar com ele na prefeitura. Fui um dos fundadores do PSDB em Piracicaba, juntamente com o meu sócio Perecim, o Barjas, o Thame.

O gosto do senhor pela política sempre existiu?

Sempre fui ligado ao setor público. Fui Conselheiro do Conselho Regional de Contabilidade onde tive todos os cargos até chegar a ser presidente do conselho. Fui para o Conselho Federal de Contabilidade, para ocupar esses cargos tive que ser eleito.

Como surgiu a indicação do senhor como pré-candidato á Prefeitura Municipal de Piracicaba?

Quando vim para a prefeitura, meu objetivo era trabalhar por quatro anos com o prefeito Barjas. No meio do ano de 2009 começou-se a falar-se em sucessão. O Barjas disse: “O meu indicado para o diretório vai ser um dos meus secretários”. Todos os secretários eram passíveis de serem indicados. As pessoas que me conhecem, conhecem as realizações que fiz com meu trabalho, passaram a me ver com olhos diferentes, com isso criou-se um clima propenso á minha indicação. Na minha secretária tomo conta de um setor interessante, que é o orçamento participativo. Trabalho muito com pessoas da periferia, associações de bairros. O que a principio era apenas comentários, juntamente com o apoio dessas pessoas, a idéia da indicação para a candidatura foi criando corpo. Simultaneamente foi diminuindo o número de secretários pré-candidatos. Há uns seis meses o prefeito disse que seria eu ou o Gabriel. Eu não vim à prefeitura com a intenção de tornar-me candidato. Os fatos se deram de forma espontânea e natural.

Entre o senhor e o Gabriel o prefeito Barjas mostra alguma preferência?

Não sei se tem. Apesar de nós dois termos uma ligação muito forte com ele, o Gabriel esteve mais junto dele em outros trabalhos. Na política o Gabriel esteve com ele em Brasília, no Governo do Estado, na política eles tiveram uma proximidade maior.

Isso não tem um peso na decisão do prefeito em indicar o próximo candidato do partido à prefeitura?

Eu imagino que não. A primeira decisão é do nome que vai para o partido. O prefeito irá levar apenas um nome ao partido.

Sob o ponto de vista do senhor quais são as necessidades mais urgentes de Piracicaba?

Considero que temos três pontos de importância mais relevantes e que dependem da ação da prefeitura: o primeiro ponto é a saúde, o prefeito Barjas fez muita coisa, mas tem que ainda se fazer mais, tem que dar continuidade ao que já foi feito e dar uma atenção especial á saúde.

Em quaisquer pais do mundo, inclusive Estados Unidos, a questão saúde é a eterna luta por busca de melhorias.

Em alguns casos o paciente usa o serviço de saúde de forma errônea. Em Piracicaba com a construção do novo hospital deverá melhorar muito a questão da saúde, mas ele sempre terá que receber uma atenção especial. O segundo ponto importante é referente a educação, principalmente no que se refere a creche voltada a crianças de zero a três anos de idade. Temos que ampliar as existentes e eventualmente construir algumas outras. O terceiro ponto é dar continuidade ao tratamento de esgoto, que com a nova estação estamos indo para 70% de esgoto tratado e temos que atingir 100%.

Com tantos recursos hídricos que Piracicaba tem, por que se consome um alto volume de água em galões vinda de fontes minerais?

Penso que isso acabou sendo um vício por imitação, qualquer filme de qualquer país exibe seus artistas usufruindo de água mineral, de garrafa, de galão. Criou-se em Piracicaba um mito de que a água mineral é superior a água tratada. O pessoal esquece que a água tratada de Piracicaba se não é a melhor é uma das melhores do Brasil.

Só que ela tem um sabor acentuado.

Isso é por conta do tratamento. É uma questão cultural. As empresas hoje estão colocando equipamentos que recebem a água diretamente do encanamento, oferecendo a água na temperatura desejada. Pode ocorrer de ao ingerir uma água tida como mineral, sem procedência conhecida, ser pior no aspecto qualidade e higiene do que a água tratada. O Semae exerce um controle rigoroso em todos os pontos onde a água passa, possui um laboratório com os mais modernos recursos.

Quais são as principais diferenças entre a administração de uma empresa privada e a de uma empresa pública?

É diferente em algumas características. Na empresa priva a tendência da tomada de decisões são conseguidas com maior velocidade. Geralmente são comitês pequenos que tomam essas decisões, seja a diretoria, o presidente. Na administração pública você está trabalhando e tratando com recursos públicos. Isso implica na existência de alguns mecanismos de proteção para que esses recursos sejam bem administrados. Por conta disso temos a legislação. A lei de responsabilidade fiscal. Isso faz com que a administração publica seja aparentemente morosa.

Como o senhor vê a Piracicaba de hoje?
Apesar de para os padrões do Estado de São Paulo, Piracicaba não é uma cidade grande, temos 367.000 habitantes, é uma cidade que hoje está vivendo um período econômico bastante forte em termos de negócios. Tradicionalmente Piracicaba não teve grandes crises, mesmo nas [épocas em que tivemos crises na economia, crise internacional. Isso porque ela sempre teve uma economia bastante diversificada. A principal crise que atingiu Piracicaba foi na década de 70, quando tivemos o problema com o Proálcool. A partir daí as empresas mudaram e diversificaram. Todas as empresas que atuavam no setor de açúcar e álcool passaram a atuar também em outros setores. A partir daí foram surgindo novos negócios na cidade que levaram à essa diversidade. É uma cidade que tem um padrão econômico bastante alto, tem uma empregabilidade muito grande, isso faz com que a renda per capita do município seja alta. Por conta disso hoje estamos com mais de 250.000 veículos na cidade, que acaba trazendo alguns transtornos no aspecto de mobilidade urbana.

Há algum projeto para transporte de massa sem ser ônibus?

Hoje no governo não tem. Para você mudar o tipo de transporte saindo do ônibus, existe uma etapa intermediária, acho que essa etapa teremos que chegar nos próximos governos, trata-se da melhoria do transporte por ônibus, está na hora de pensar em fazer o transporte urbano melhor e mais rápido. Isso implica em pensar em corredor exclusivo de ônibus. Se não for nos moldes das grandes cidades, pelo menos em determinados períodos temos que fazer com que os ônibus cheguem mais rapidamente, principalmente aqueles que fazem ligação com os terminais.

O transporte ferroviário, tais como monotrilho, metrô suspenso não são viáveis?

Tudo isso é muito caro, e a exceção do metrô, que pode ser considerado um transporte de massa, essas outras modalidades de transportes são caras e não transportam um grande volume de pessoas, são medidas que não serão tomadas enquanto não chegarmos a 1.000.000 de habitantes, que deve demorar muito tempo. Há um problema adicional, que é a transposição do Rio Piracicaba. Isso cria condições adversas para outras formas de fazer a ligação da cidade. Temos um pedaço de uns 5 a 6 quilômetros, que vai da Ponte do Mirante até a Ponte do Morato, que você não consegue transpor o Rio Piracicaba para fazer vias de comunicação. Da ponte do shopping em diante é tudo área da ESALQ. Sobra o lado da região do Bongue, onde temos a Ponte do Caixão. Provavelmente terão que sair outras ligações. A cidade tem que investir em criar alternativas de ligações da cidade, isso é o que o Prefeito Barjas Negri vem fazendo em seu governo. É criar outros mecanismos, mais avenidas no entorno da cidade para tirar mais volumes de veículos que só passam pela cidade, esse volume é muito grande. Os caminhões terão o anel viário para utilizarem. Esse anel deve estar pronto até fevereiro de 2013. Se o transporte público for mais rápido e mais confortável, muitas pessoas que hoje utilizam seu veículo para se dirigirem ao centro da cidade usarão o ônibus.

Vir ao centro de carro já está ficando impraticável.

Com a instituição dos parquímetros, estacionar não é problema, porém há períodos do dia em que o fluxo de veículos da Vila Rezende para o centro é complicado, assim como na Avenida Vollet Sachs para quem se destina ao Piracicamirim é complicado. No sentido inverso ocorre a mesma coisa. Hoje temos terminais urbanos espalhados pela cidade toda, se fizermos a ligação entre esses terminais com maior velocidade já teremos uma grande melhora.

O funcionário público recebe algum tipo de motivação para aprimorar seu desempenho?

Isso sempre foi uma falha muito grande no poder público e aqui em Piracicaba. Começamos atrasados, começamos um trabalho no inicio deste ano, até então a única coisa que a prefeitura tinha para oferecer era bolsa de estudos. Através da Secretária de Administração começamos um trabalho interno de fazer a motivação e treinamento para o funcionário. Como fazem as empresas privadas, temos que trazer tudo que for bom da área privada para a área pública, isso é viável.

O crescimento de uma cidade pode deixá-la menos humana?

Depende de como se dá esse crescimento. Você pode ter o crescimento onde os recursos humanos são oferecidos pelo pessoal que já reside na cidade, está vindo uma montadora de veículos para Piracicaba, acreditamos que 80% das pessoas que serão admitidas são profissionais já residentes em Piracicaba. No início achavam que iriam vir 200.000 coreanos para a cidade, quando a fábrica estiver funcionando irão ficar 100 a 150 coreanos em Piracicaba.

Foi veiculada a noticia de que seria montada uma verdadeira cidade coreana no município de Piracicaba.

Trata-se de pura lenda. Isso interessa para quem é proprietário de terras naquela região próxima de onde irá se instalar a fábrica e quer valorizar sua propriedade. A fábrica irá ter 5.000 funcionários qualificados. É ai que está a diferença, crescer com empregos qualificados. Diferente do período em que cresceu a produção de açúcar e álcool, que trazia trabalhadores sem qualificação nenhuma. Acabavam ficando na cidade, sem qualificação profissional não conseguiam arrumar novos empregos. Até hoje temos problemas originados naquela época, favelas que necessitam ser urbanizadas. Já fi feita muita coisa nesse sentido, um exemplo é a Favela Cantagalo que hoje é um bairro urbanizado. Temos que continuar fazendo isso, é uma ação que demanda um volume grande de recursos. Só o orçamento do município não dá para fazer tudo de uma só vez.

Piracicaba instituiu em determinadas ruas câmaras de segurança, algumas estão desativadas, qual é o motivo?

Todas as câmaras de segurança estão sendo controladas no Centro Cívico. Não são passiveis de terceirização por ter informações sigilosas. Na iniciativa privada quando algo se quebra solução é mais rápida do que no setor público. ´

Temos diversos logradouros públicos onde pessoas e instituições imbuídas de sentimentos humanitários oferecem alimentos aos desabrigados. Não há um local que ofereça melhores condições para que essas ações ocorram?

No ano passado inteiro tentamos convencer essas entidades que o melhor que tem que ser feito não é levar a comida a esses logradouros, e sim nas sedes das entidades, chegamos a oferecer os prédios onde se realizam os varejões municipais. Essas ações da forma como são realizadas acabam acentuando o problema social. Infelizmente não conseguimos chegar a um bom termo com essas entidades. O coração fala mais alto do que a razão. A razão seria conduzir essas pessoas a um local e fazer para elas tudo que for possível nesse local. Com isso quem acaba sendo cobrada é a prefeitura.

A arrecadação municipal está cobrindo as despesas do município?

Piracicaba é hoje uma das cidades que está mais equilibrada no Estado de São Paulo, tanto que estamos investindo 15% do orçamento, coisa que nenhum município brasileiro consegue hoje.

Os famigerados marqueteiros político podem influenciar uma eleição?

Na eleição municipal, pessoalmente eu acredito que não. Nas eleições estaduais e federal acredito que sim porque o povo fica mais distante do candidato. No município a ação do candidato é que faz com que a coisa funcione.

O senhor acredita que dá para incrementar a vocação turística de Piracicaba?

Acho que é possível principalmente nessa região da orla do Rio Piracicaba. Há um potencial muito grande pra se trazer mais turistas para a cidade. E também o turismo regional, onde há integração de cidades vizinhas.

Há uma grande deficiência hoteleira em Piracicaba?

Esse é um grande problema, estamos incentivando redes de hotéis para investirem em Piracicaba. Temos a necessidade de no mínimo mais 1.000 leitos. Piracicaba não tem um lugar para realizar um evento fechado de porte. Quando realizamos eventos como o SIMTEC os participantes acabam se hospedando em cidades vizinhas. Isso é um limitador do turismo de negócios.

Quantos funcionários a Prefeitura Municipal de Piracicaba tem?

São por volta de 6.000 funcionários. Um grande volume desses funcionários, cerca de 60%, está no setor da educação, em seguida na saúde.

O grau de satisfação e realização pessoal do funcionário público municipal pode ser melhorado?

Para que isso ocorra acredito em dois fatores, o primeiro é treinamento, motivação, criar expectativa no seu trabalho, o segundo é o financeiro, não adianta ter só o motivador financeiro. A estabilidade do funcionário traz benefícios e malefícios. Como beneficio tem a estabilidade garantida para não ficar ao sabor das mudanças políticas que ocorrem. Por outro lado a estabilidade oferece o risco do funcionário permanecer em uma zona de conforto. Para mudar essa situação só criando mecanismos que o motivem.

Há uma verdadeira febre de automação empresarial, na área de serviços os bancos são vorazes consumidores de tecnologia em detrimento do contrato de funcionários. Há esse tipo de risco no serviço público?

É muito difícil fazer isso no serviço público. Pode ser melhorada a tecnologia, mas automatizar é muito complicado. Na área da educação pode ser melhorada a tecnologia, o mesmo ocorre na área de saúde, com melhores resultados, mas automatizar o serviço dificilmente ocorrerá.

Na área burocrática, caso necessite, por exemplo, de um alvará, posso conseguir sem me deslocar até a prefeitura?

Nesse aspecto sim e a prefeitura está trabalhando nesse sentido. O Sistema Integrado de Licenciamento permite que tenha uma licença, saia uma inscrição em 24 horas.

Como anda a segurança em Piracicaba?

Depende de como ela seja vista. Estatisticamente a cidade vai bem. Entretanto a população tem a sensação de falta de segurança. O pessoal cobra a prefeitura, só que a Guarda Municipal não pode fazer segurança, ela existe para zelar o próprio municipal, ela auxilia as polícias, tanto civil como militar. A maioria dos homicídios ocorridos em Piracicaba não permitia uma ação preventiva, em boa parte são passionais. A maior fiscalização nas ruas permite evitar atos criminosos. Uma grande parte dos roubos efetuados é em decorrência da utilização de drogas por parte dos seus autores. É um problema que atinge não só o Brasil como os demais países.

O senhor pretende construir alguma ponte sobre o Rio Piracicaba?

Se for necessário sim. Temos a necessidade de construir sobre o Rio Corumbatai, que ligue o Bairro IAA com o outro lado da cidade. Se tivermos tempo e dinheiro essa será uma ponte que deverá ser construída.

Como prefeito o senhor pretende conceder audiência pública em determinado período de algum dia da semana?

Acho que isso é necessário, ainda não pensei onde seria realizado. Talvez uma prefeitura itinerante realizada uma vez por semana poderá ser uma forma de estar junto aos reclamos da população. O deslocamento da população que quer ser ouvida é um grande problema. Caso queira que poucas pessoas participem a reunião pode ser feita na prefeitura. Se quiser que muitas pessoas participem terei que ir até a região onde moram. Só que aí poderá ocorrer o imponderável. De qualquer forma acho que deve haver um canal direto do prefeito com a população, isso pode ser feito por uma equipe devidamente qualificada. As pessoas querem ser atendidas, ouvidas. Na minha secretaria, a pessoa apareceu na porta, se eu não estiver em alguma reunião ela entra, senta e conversa. Outro dia veio uma senhora, ficou uma hora e meia conversando comigo, contou sobre sua família, desabafou, foi embora e eu não fiquei sabendo o que ela queria. Ela saiu feliz, ligou depois agradecendo. Nosso mecanismo de comunicação com o munícipe ainda é muito falho. O pessoal vê as pontes que foram construídas, mas poucos sabem das 41 escolas que foram construídas pelo prefeito Barjas e muitas outras obras em todas as áreas. Três áreas vêm sendo incentivadas cada dia mais, turismo, cultura e esporte e deverão continuar a receberem incentivos no próximo governo. Principalmente o esporte de massa, praticado na periferia.







sábado, abril 28, 2012

ARNALDO SORRENTINO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 28 de abril de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
                                                                                                    Foto by JUNASSIF

ENTREVISTADO: ARNALDO SORRENTINO
Arnaldo Sorrentino nasceu a 20 de março de 1940 no bairro do Tucuruvi em São Paulo. Seu pai Antonio Sorrentino foi inspetor na empresa General Motors do Brasil. Sua mãe Matilde Sarao Sorrentino por determinação médica deveria sair de São Paulo e ir á uma localidade com um clima mais saudável. A cidade escolhida por seus pais foi Águas de São Pedro. Isso foi no tempo em que funcionava o cassino no Grande Hotel em Águas de São Pedro, seu pai foi trabalhar como chefe geral das oficinas do Grande Hotel, onde residia com a família. Nessa época Arnaldo tinha cinco anos de vida. Infelizmente seus pais não se acostumaram em Águas de São Pedro, mudaram para Piracicaba. Aqui, seu pai montou uma pequena oficina e passou a trabalhar com motor de partida e gerador de automóvel. O curso primário Arnaldo estudou no Grupo Moraes Barros, o ginásio ele estudou no Colégio Dom Bosco. Interrompeu seus estudos para trabalhar e ajudar no sustento da família, no início fazia serviços gerais, o popular “bico”. Em 1958 foi admitido na empresa Mausa Metalúrgica e Assessórios Para Usinas Ltda. Onde permaneceu até 1969. Começou como apontador e ao sair da empresa era Chefe Geral dos Almoxarifados. A Mausa funcionava na Rua Santa Cruz, paralela a linha do trem da Sorocabana. Nessa época ele morava com seus pais na Rua Treze de Maio, depois mudaram para uma casa localizada na Rua Gomes Carneiro, próxima à Santa Casa de Misericórdia. Com seu ordenado Arnaldo mantinha a família composta pelos pais já com a saúde precária e sua irmã Josefina que cuidava de ambos. Outros três irmãos faleceram muito pequenos. Mais tarde sua irmã Josefina passou também a trabalhar em outro emprego. Em 1965 Arnaldo formou-se como Contador pela famosa Escola do Zanin. Seu sonho era fazer advocacia, só havia faculdade no período diurno. Em 1966 preparou-se de forma autodidata para prestar o vestibular. Prestou na PUC de Campinas. Fez carreira como educador, foi diretor titular da Escola Técnica Estadual Coronel Fernando Febeliano da Costa, foi Delegado Regional de Ensino. Casado com Irani Maria Hellmeister Sorrentino é pai de dois filhos Leonardo Hellmeister Sorrentino e Arnaldo Hellmeister Sorrentino.

O senhor foi estudar direito em que faculdade?

Um amigo, representante da Shell disse-me que iria abrir um curso de direito em Espírito Santo do Pinhal, montado por professores da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (FDUSP), também conhecida como Faculdade de Direito do Largo de São Francisco comandados pelo então ministro Gama e Silva. Prestei o vestibular lá, o curso era noturno.

As aulas eram todas as noites da semana?

Devo muito a uma amigo chamado Laurindo Pontim. Ele era chefe da fiscalização estadual em Limeira. Ele fez a seguinte oferta: “Arnaldo, você dorme na minha garagem.” Eu trabalhava na MAUSA, as 17hs pegava o ônibus até Limeira aonde chegava as 18h, o Seu Laurindo estava esperando com o carro. Iamos á faculdade onde estudávamos até as 23hs. Voltava para Limeira onde chegávamos por volta das 24hs. Tomava um lanche e ia dormir na garagem da casa do Seu Laurindo. No dia seguinte cedinho levantava, pegava o ônibus na esquina, vinha pra trabalhar em Piracicaba. Fiz isso por três anos. No quarto ano de faculdade juntamente com um grupo de amigos me transferi para a faculdade de direito em São João da Boa Vista, nessa época cada um de nós tinha seu carro próprio, passamos a revezar para realizar essa viagem. De Piracicaba a São João da Boa Vista a distância era de 152 quilômetros. Para Espírito Santo do Pinhal era quase a mesma distância.

O senhor praticamente nem via sua família?

Quase nem via. Em 1971 me formei. Comecei a advogar em 1972. Concomitantemente com a profissão de advogado comecei a lecionar, era necessário ter o diploma como professor de português eu fui fazer Filosofia, Ciências e Letras, estudei latim, francês, e português. Estudei na faculdade em Machado, Minas Gerais. Em 1968, enquanto estava fazendo o curso de direito fui convidado a dar aula de português na Escola de Comércio Cristóvão Colombo, mais conhecida como Escola do Zanin. O diretor na época era Acácio de Oliveira Filho. Em 1972 comecei a lecionar no ensino do Estado. Comecei a dar aula de francês no Grupo Alfredo Cardoso e dava aula de português no Colégio Técnico Agrícola de Rio das Pedras. Prestei concurso, fiquei professor titular de português, meu primeiro local de trabalho já como titular foi em Paraisolândia, próximo á Charqueada. De manhã dava aula lá e noite no Colegio Estadual e Escola Normal Monsenhor Jeronimo Gallo.

O senhor sempre foi muito dinamico.

Sempre dei aula no Estado e sempre advoguei. Dava 40 horas de aula por semana, de manhã e a noite, a tarde advogava. Em 1980 passei a ser advogado da Guarda Municipal de Piracicaba, função que exerci por 10 anos. Nesse mesmo período comecei a lecionar na Faculdade de Ciencias Contábeis de Rio Claro onde fui titular em Organização e Contabilidade Agrícola, Direito Agrário, em Organização e Contabilidade de Seguro e Direito de Seguro. Por 10 anos lecionei nessa faculdade. Depois passou a se denominar Centro Universitário Claretiano. Dei aula nas duas instituições, como titular.

Em que áreas do direito o senhor atuou?

Na área criminal, no tribunal do juri, cívil, família.

Como surgiu a vocação do senhor para trabalhar na área criminal?

Como eu dava aula de português adquiri uma facilidade em me expressar oralmente, ser bom orador é importantíssimo, quando lecionei português sempre fiz com que meus alunos conseguissem capacitação na área de expressão oral. Eu dava cinco aulas por semana: Uma de redação, três de gramática e uma de expressão oral.

Quando o senhor começou a fazer juri?

O meu primeiro juri foi em 1976, o Forum era na Rua do Rosário esquina com a Rua Prudente de Moraes. Foi um juri de um rapaz que atirou contra a esposa, bem em frente ao INSS. Em seguida ele tentou o suicidio. Nós o absolvemos. Sempre fiz juri com um grande amigo, Antonio Henrique Carvalho Cocenza. Quiem me convidou para fazer esse juri foi o juiz Urbano Ruiz, hoje desembargador. Convidei o Henrique, passamos a fazer juri juntos. Com seu jeito expontâneo e alegre Henrique Cocenza dizia” Somos considerados a dupla Pelé e Coutinho”. Fizemos grandes trabalhos. Dos trabalhos realizados, um foi o da mãe que se jogou no Rio Piracicaba com seus três filhos. O filho mais novo faleceu. Ela foi a juri. No primeiro absolvemos, o promotor apelou, fizemos o segundo juri e absolvemos novamente. Na época o advogado dativo não ganhava um centavo. Atualmente a justiça pública remunera o advogado dativo. ( O termo “dativo” é utilizado para designar defensor (advogado) nomeado pelo juiz para fazer a defesa de um réu em processo criminal ou de um requerido em processo civil, quando a pessoa não tem condições de contratar ou constituir um defensor).

Outro caso entre muitos, qual foi?

Eu dava aula em Rio Claro, o juiz titular de lá nos convidou para trabalhar no caso, na época o advogado dativo não era remunerado, trabalhava por amor a justiça. Ninguém queria fazer esse juri, era um cidadão já falecido, por onde ele passou ele matou muitas crianças, se não me engano foram suas vítimas 23 crianças. Em Rio Claro a polícia decobriu que foram 4 vítimas. Henrique e eu fizemos a defesa do criminoso, apresentamos a tese de que ele era inimputável por ser psicótico e totlmente incapaz. Na época até o Fantástico da Rede Globo nos entrevistou. Foi um trabalho de grande repercusão. Ele foi para o manicomio, onde faleceu depois. Esse cidadão tinha dupla personalidade, ele residia próximo a Marginal do Tietê em São Paulo, tinha família, filhos, era um pai exemplar. Mas quando ele saia se transformava.

O senhor tem algum livro escrito?

Ainda não. Fiz muitas crônicas, principalmente na Tribuna Piracicabana, devo ter feito mais de 200 crônicas. Sempre tive apoio da Tribuna, e sempre escrevi para a Tribuna.

Quantos juris o senhor já fez?

Perdi a conta. Até um certo tempo eu mantinha um controle, pegava os atestados. Com o passar do tempo deixei de lado o registro pessoal dos juris realizados. Acredito que devemos ter feito uns 200 juris nesses anos todos.

Como é o processo que antecede um julgamento?

Dentro da minha técnica de trabalho, ha casos em que acompanhamos desde o seu início, desde a polícia até a hora de fazer o juri. Há casos em somos nomeados para fazer o trabalho. Pega-se o bonde andando, lá no final as vezes. Costumo pegar o processo, xerografar o processo inteiro, faço uma análise completa do processo. Verifico tudo aquilo que possa favorecer ao indiciado, tudo que possa ser alegado em sua defesa. Apresentamos tantas teses quanto forem necessárias para absolve-lo. Desde que não sejam teses conflitantes, sejam teses compatíveis. Sempre lutando pela absolvição do indiciado, ao contrário da promotoria pública. O promotor público acusa, mas dependendo do caso ele pode pedir a absolvição. A defesa não pode pedir a condenação, sob hipotese nenhuma. Tem que defender o indiciado, senão o juiz pode determinar que ele está indefeso e ai anula o juri.

No Brasil há quem critique a ação dos advogados, que foram instruidos desde a faculdade, a realizarem uma autêntica disputa, as vezes até mesmo com envolvimento pessoal dos advogados das partes, ao invés de procurarem uma conciliação que seria mais eficaz aos seus clientes.

Nos paises desenvolvidos o que impera é a advocacia preventiva. Não se pratica nenhum ato sem que a pessoa esteja assistida por um advogado. No Brasil todo mundo acha que ja nasce sendo advogado, entende de tudo, quando acontece um problema o advogado irá ter que defendê-lo naquilo que ele praticou. No Brasil funciona exatamente a advocacia atuante. Quando o caso já está concretizado, há dificuldades de conciliação. Com os tribunais conciliatórios melhorou bastante. O próprio tribunal de justiça pede ao advogado que se pronuncie se há a possibilidade de conciliação ou não.

Em alguns casos, esses tribunais conciliatórios são realizados de forma a cumprir uma agenda ou alimentar alguma estatísca de forma distorcida, onde de fato não há nenhuma intenção de conciliação entre as partes?

Estamos caminhando ainda para isso, existe um propósito de que nós consigamos chegar em um ponto satisfatório.

De uma forma geral, o profissional de direito está amadurecendo?

Está sim. Hoje existe a especialização. Quando eu comecei a advogar o advogado era um clinico geral. Tinha que pegar a maquina de escrever e lá realizar seu trabalho. Hoje temos advogados previdenciários, trabalhistas, criminalistas. Cada um atua em sua respectiva área.

Piracicaba teve grandes nomes de advogados generalistas?

Teve Jacob Diehl Neto, Sinhô, Cruz, João Basílio, e tantos quantos outros, que deixamos de citar os nomes para não cometermos injustiça de esquecer o nome de alguém. Mas a advocacia mudou muito, meu filho Leonardo Hellmeister Sorrentino já advogado há 10 anos, atua na Baixada Santista, ele gosta de atuar na área de crime, mas na parte empresarial. O advogado jovem hoje pauta por uma determinada área.

O senhor atua junto a Câmara Municipal de Piracicaba?

Atuo como advogado do Presidente da Câmara Municipal, João Manoel dos Santos. Sou advogado da Câmara já há seis anos e meio.

O senhor é religioso?

Sou praticante da Igreja Messiânica, que considero como uma filosofia. Sou diretor da escola Centro Educacional Evangelho Vivo.
O senhor é presidente do Conselho Coordenador das Entidades Civis de Piracicaba?

Participo do Conselho há mais de 10 anos, eleito pelos meus pares sou Presidente do Conselho. O Conselho tem mandato de um ano, prorrogável por mais um ano, estou no período da prorrogação, meu mandato vai até dezembro de 2012. Meu vice-presidente é o economista Edie Brusantin, ex-professor da Unicamp, o meu primeiro tesoureiro é Gabriel de Oliveira Duarte, empresário. O meu segundo tesoureiro é o advogado Antonio Agostinho Caporali de Souza o meu primeiro secretário é José Chabregas, professor, o meu segundo secretário é Antonio Carlos Fernandes, ex-funcionário da Caterpillar. É um trabalho altruista. O Conselho existe desde 24 de abril de 1956, fundado por três piracicabanos: Dr. Fortunato Losso Neto, Dr. Felipe Westin Cabral de Vasconcelos, Dr. Alcides Di Paravicini Torres. São 56 anos sempre lutando pelos grandes empreendimentos de Piracicaba. Devo salientar que temos o companheirismo e a participação de tres grandes entidades de Piracicaba: ACIPI, nossas reuniões se realizam todas as segundas terças-feiras do mes nas depeneências da ACIPI, A Tribuna Piracicabana, através do nosso prezado Evaldo Vicente, sempre nos dando apoio, sempre trabalhando, e o Clube Coronel Barbosa que sempre cede suas instalações para eventos.

Atualmente quantas entidadades são representadas pelo Conselho?

Nesses anos todos, de acordo com o livro publicado narrando nossa trajetoria, tivemos a participação de mais de 200 entidades. Hoje participantes efetivas são em torno de 33 entidades.

O senhor acredita que falta divulgação da atuação do Conselho?

A Tribuna Piracicabana divulga muito nosso trabalho, o mesmo não ocorre com outros veículos de comunicação da nossa cidade.

Há uma certa alienação das entidades com relação ao Conselho?

A própria dinamica dos dias atuais sobrecarregam as atividades do individuo. O Conselho embora seja apolítico influencia nas decisões tomadas com relação a cidade. A Rodovia do Açucar, a Faculdade de Odontologia de Piracicaba, nasceram dentro do Conselho. A implantação dos primeiros 100 hidrantes na cidade. Normalmente formulamos uma proposta e vamos pedir a atuação nesse sentido por parte do poder público no ambito municipal, estadual e federal. O Conselho tem uma ação tramitando contra o Complexo Cantareira, no sentido de reverter esse quadro e melhorar as condições para Piracicaba. O Conselho está participando desse complexo que torna o Rio Piracicaba navegavel com o porto em Artemis. Por lei municipal o Conselho faz parte de todos os conselhos da cidade.

Existe instituições sememelhantes ao Conselho Coordenador das Entidades Civis de Piracicaba em outras localidades?

Eu desconheço alguma outra cidade que tenha um Conselho Coordenador das Entidades Civis.


                                        ENTENDA COMO FUNCIONA O JURI
                                        (CASO NARDONI)


JURADO É DISPENSADO POR ESTAR DE BERMUDA NO FORUM.












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