sexta-feira, julho 18, 2008

CRISPIM DURRER


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
Rádio Educadora de Piracicaba AM 1060 Khertz A Tribuna Piracicabana
Sábado das 10 ases 11 Horas da Manhã Publicada ás Terças-Feiras

Entrevistado: Crispim Durrer


Nos anos de 1960, as crianças residentes no bairro da Paulista, tinham perto da Praça Takaki vários locais de lazer e diversão. Na esquina das Ruas do Rosário com Dona Jane Conceição, onde hoje existe uma série de lojas, era um terreno vazio. De tempos em tempos era o centro de fantasia da criançada. Ali eram armados circos, os parques que tocavam em disco de vinil os boleros então muito em moda, as músicas eram repetidas tantas vezes que muitos decoravam as letras. Tinha o jogo de argolas, onde se pagava determinado valor por um número de argolas e as atirava tentando atingir o gargalo de um litro a partir de uma determinada distancia, onde havia um balcão. Ou ganhava-se o litro, geralmente um vinho ordinário, ou o prêmio que ficava logo abaixo, geralmente maços de cigarros. Havia os tiros de espingarda de pressão, cuja precisão era mais ocasional do que conseqüência da habilidade do atirador. Eram espingardas com rolha na ponta ou chumbinho. Na quaresma naquele terreno era erguido o pau-de-sebo. Era um tronco roliço, com mais de cinco metros de altura, recebia um tratamento para ficar sem saliências naturais. Devidamente revestido com sebo de boi derretido. No topo, era colocado um triângulo de madeira (a cruzeta) onde amarravam dinheiro e prendas. A garotada para manter os pés mais unidos posiveis, e também para ir limpando o sebo, usava a “peia”. No tempo de eleição os políticos usavam aquele espaço para conquistar votos com seus discursos inflamados. Para o povo era uma forma de lazer. Para a criançada era a caça aos brindes como chaveiros, flâmulas, santinhos. Quando não havia nada disso, existia o jogo de bola de vidro, empinar papagaio (com o tempo passou a ser denominado pipa), soltar ou rodar pião de madeira. Quem abastecia a criançada era o “Seu” Crispim. Logo ao entrar no “templo” de consumo, já se avistava ao fundo a máquina de fazer garapa. Do lado direito uma enorme vitrine acondicionava os objetos de desejo da molecada: como bolinha de vidro, papel de seda, goma arábica (alguns usavam farinha de trigo diluída em água como cola), pião, fieira (barbante grosso que é enrolado em torno do pião), chaveiros, canivetes. Era de dar água na boca! Crispim Durrer circula pelo bairro da Paulista, lúcido, com uma memória invejável.
O senhor é brasileiro?
Sou! E nascido em Piracicaba, no Bairro Serrote, já faz 86 anos. Meu avô paterno era suíço e meu avô materno era alemão. Meu pai nasceu próximo á Berna que é a capital da Suíça. Estudei na Escola Reunida do Bairro Serrote, de Adolfo Beismann, meu avô. Éramos nove irmãos, seis homens e três mulheres. Trabalhei no serrote como lavrador, cultivando todo tipo de cereais. Meu pai tinha um sítio com 50 alqueires ( N.J. cada alqueire paulista mede 24.200 metros quadrados). Permaneci lá até 1951. Resolvi mudar para Piracicaba. Vim para a Rua do Rosário, 2600. Ali por dezoito anos tive um bar e uma garaparia. Era a única garaparia existente ali na época. Tinha uma ótima freguesia. Com as economias que consegui reunir pude proporcionar estudos á um casal de filhos que eu tinha, e que infelizmente hoje são falecidos.
O senhor guarda lembranças da época em que se mudou para a Paulista?
Lembro-me sim! Em 1951 não havia água encanada e nem esgoto. As ruas eram todas empoeiradas até a Estação da Paulista. A Rua do Rosário não era mão única. Os caminhões de cana trafegavam em ambos os sentidos. O prefeito Francisco Salgot Castillon asfaltou o Morro do Enxofre. Na Praça Takaki não existia nada. Havia apenas uma casinha velha em um canto. Na esquina da Avenida Madre Maria Teodoro ficavam os Irmãos Aliberti, Depois vinha o Bar da China, o armazém do Antonio Lucas, na esquina, onde hoje existe uma farmácia havia o Bar Serenata, de propriedade de Miguel Fernandes. Seguindo pela Rua do Rosário no sentido centro, tinha um terreno vazio, em seguida o açougue do Gêronimo Casarim, em seguida o meu barzinho, passando por algumas casas residenciais, tínhamos adiante a Maquina de beneficiar arroz de propriedade de João Sabino Barbosa e Augusto Grella. Mais adiante Manoel Castilho tinha uma sapataria. Manoel foi candidato á vereador. Na quadra seguinte havia a Igreja Assembléia de Deus, que permanece até hoje. Ainda na mesma calçada existia a Farmácia São Judas Tadeu de propriedade do farmacêutico Nelson de Mattos. Ao lado havia a e loja “Caldeirão de Ouro” propriedade do Crócomo, irmão de Francisco Crócomo e do emérito Professor da Esalq, Dr. Otto de Jesus Crócomo. Mais adiante, ao lado do hoje Restaurante Paulista, havia o embarque e desembarque de gado, que eram transportados pela Companhia Paulista, os trilhos atravessavam a Rua do Rosário e entravam naquela área que tinha uma enorme mangueira de gado, propriedade da Companhia Paulista. No lado impar da Rua do Rosário, havia o armazém do Emílio Fabris. Em seguida residia o Santo Casarim. O famoso Bar do Gep cujo nome de batismo é José Tozzi. Em seguida morava meu pai, José Durrer. Eugenio Vecchini tinha um armazém na esquina da Rua do Rosário com Avenida do Café. Na caçada oposta, Rubens Zíllio tinha um açougue. A Casa dos Presentes de Alcides Saipp já existia. Na esquina da Avenida Dr. Edgar Conceição com Rua do Rosário, Roque Furoni, falecido recentemente, tinha um armazém. Na esquina havia um sobradinho muito bonito de propriedade do Sr. José Nassif. Junto ao meio fio, existia uma bomba de gasolina de propriedade do mesmo, com a bandeira Texaco. Ao lado existia um armazém administrado por Da. Rosa Canaan Nassif, mãe do Sr. José. Mais adiante, existia a residência da Da. Elvira Beismann, meu tio Antonio Beissmann era caminhoneiro. Morava ainda ali Dirceu Pompermayer, que foi um dos sócios da famosa Casa Dom Bosco. O Sr. Benedito Baglione morava logo adiante. Uma das suas últimas ocupações profissionais foi a de “motorista de praça”. Finalmente, onde hoje é o Supermercado Balan era o Armazém do Sr. Victório Fornazier, ele fornecia para muita gente do sítio, tinha uma grande freguesia. Hoje a Rua do Rosário é um importante centro comercial.
A Avenida Madre Maria Teodoro era conhecida em seu trecho com maior declive, como Morro do Enxofre. Havia movimentação comercial nessa via?
Tinha poucas coisas. Só depois que o prefeito Salgot asfaltou é que começou a melhorar. Hoje lá também se encontra todo tipo de comércio.
Passava boiada pela Rua do Rosário?
A boiada descia, os boiadeiros iam tocando os bois até o embarcador da Companhia Paulista. Nós por diversas vezes íamos assistir a embarcação. Os vagões carregavam os bois e levavam. Era muito bonito assistir aquela movimentação toda.
Na esquina onde hoje está a Drogal era ponto das jardineiras que iam para os sítios?
Naquele tempo o motorista era também proprietário do bar. Era um argentino chamado Avelino. Vinha com muita dificuldade, porque não existia asfalto em lugar nenhum. Um dia vinha outro dia não podia vir porque chovia.
Acima da Praça Takaki havia habitações?
Tinha, mas eram poucas casas. A companhia de energia elétrica exigia uma distância máxima de 30 metros do último poste para realizar as ligações. Onde hoje existe um posto de gasolina Petrobrás era o Posto Canta Galo, do conhecido como Joane Vasoureiro.
O senhor freqüentava alguma igreja?
Freqüentava a Igreja dos Frades. Lembro-me do Frei Paulino, Frei Liberato, Frei Virgilio. Cheguei a assistir á filmes que eles apresentavam Teatrinhos. Onde hoje funciona um prédio de assistência social, na Rua Alferes, ao lado da Igreja dos Frades, era tudo diferente. A padaria mais próxima era a São João. Já existia a Padaria Jacareí também muito freqüentada após as missas.
Quais as lembranças que o senhor guarda do trem, do bonde?
Por várias vezes fui de trem até Campinas, tínhamos parentes em Viracopos. Meu pai nos levava passear. Lembro-me do bonde, pagávamos quinhentos réis até o centro!
Houve uma época em que um indivíduo de cognome “Belo” era muito temido, pela valentia, e suspeito de alguns atos ilícitos. O senhor o conheceu?
O Belo para mim foi muito bom, ele foi até meu freguês. Ele sempre me respeitou. Ele acabou sendo assassinado em um parque.
O senhor conheceu o Nhoca?
Eu tinha muita amizade com ele. Era cavaleiro, elegante, era um homem grande, andava em u cavalo marchador, subia e descia a Rua do Rosário montando um cavalo marchador. Era tido como benzedor, dizem que benzia animais e até pessoas. Nunca fiz uso dos seus atributos místicos! Era um bom homem.
O Sebastião Tintureiro foi conhecido do senhor?
Conheci! Sebastião Barbosa era o seu nome. Ele teve um bar também. Hoje ele tem um dos filhos que trabalha com relojoaria, o Ismael.
O Pedro Rasera (Pedrinho) Tinha uma barbearia?
Tinha. Eu fazia a barba lá. O seu irmão é o comerciante Jorge Rasera.
O senhor tem habilitação para dirigir veículos, qual foi o seu primeiro carro?
Faz uns quinze anos que não dirijo mais. Meu primeiro carro foi uma perua DKW 1961, vermelha.
O senhor foi um dos primeiros proprietários de telefone do bairro?
Eu tinha telefone. O número era 4977. Naquela época telefone e televisão era bens que poucos possuíam. A minha televisão era em preto e branco, como todas na época; Mais tarde é que veio o sistema de televisão colorida.
A hoje Farma-Paulista, na época chamava-se Farmácia Nossa Senhora da Penha. Teve um período em que seu proprietário era o Miguel Victória Sobrinho seu vizinho era Antonio Lopes, logo em seguida, na esquina da Dr. Edgar Conceição com Rosário estava estabelecido o Nenê Lopes, eram irmãos e tinham armazéns próprios.
Na Avenida João Conceição havia uma serraria o senhor lembra-se?
Era a serraria do Galesi! Comprei madeiras várias vezes lá. Era o Hélio Galési e outro irmão dele. Lembro-me do Jacinto Bonachella que tinha posto de gasolina onde hoje é a Padaria Apolônio.
Existia alguma parteira famosa no bairro?
Tinha a Dona Carolina! Ela morava na Rua Gomes Carneiro, entre as Ruas Alferes e Governador Pedro de Toledo. Conheci a Santa Casa quando funcionava ainda na Rua José Pinto de Almeida.

Livre do cativeiro

Há 134 anos, no dia 17 de julho de 1874, a Relação de São Paulo confirmou sentença do juiz de direito de Itu, de 27 de dezembro de 1872, julgando carecedor de ação. (Se o pedido for juridicamente impossível, o autor será julgado carecedor de ação e o processo respectivo será extinto), um escravo que, assistido por seu curador, pedia ser declarado livre do cativeiro, porque seu senhor, em testemunho, conferia-lhe a liberdade, disposição que não podia ser revogada por um codicilo.(Codicilo é um ato de última vontade pelo qual o disponente traça diretrizes sobre os assuntos pouco importantes, despesas e dádivas de pequeno valor). Quando já se achava quase moribundo. Entendera o juiz que as disposições testamentárias só começam a ter vigor depois da morte do testador, que as pode revogar a seu bel prazer; o autor esteve na escravidão, e nunca mudou, ou deixou, esta condição; a verba testamentária não chegou a produzir efeito; caducou, foi nulificada por quem o podia fazer. Daí, a carência da ação.




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quinta-feira, julho 17, 2008

Primeiro Congresso de Folclore há 57 anos

O Primeiro Congresso Brasileiro de Folclore, há 57 anos atrás, foi realizado no Rio de Janeiro. O “objetivo do Congresso era analisar, interpretar e comparar” o folclore de todos os estados do país, como as crendices, as artes populares, as danças populares, a novelística popular, o folclore, a literatura, e até como o folclore interfere na economia. Foi a “primeira vez que se vai sistematizar o estudo da ciência do povo”.




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Inventor

“É bom não esquecer que o inventor do alfabeto foi um analfabeto”
Millôr Fernandes




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segunda-feira, julho 14, 2008

A divergência dos relógios

"A divergência dos relógios é o princípio fundamental da relojoaria."
Machado de Assis




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Ivana Maria França de Negri













PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
Rádio Educadora de Piracicaba AM 1060 Khertz A Tribuna Piracicabana
Sábado das 10 ases 11 Horas da Manhã Publicada ás Terças-Feiras



Entrevistada: Ivana Maria França de Negri

Piracicaba tem um Carlos Drummond de Andrade de saias. Assim como o poeta mineiro, a poetisa e escritora Ivana Maria França de Negri é extremamente sensível. Gosta de gente, da natureza, tem fé e é uma sonhadora. Extremamente observadora, dona de uma sensibilidade aguçada faz poesias com seu coração, sua alma, seu ser. É a forma que ela encontrou ainda menina, de criar um diálogo com o mundo. Realiza a sua catarse escrevendo. Coloca sua alma, espírito e sentimentos em sinais gráficos. Consegue sintetizar sua dor pelo sofrimento de seres vivos, destila sua ironia ao que não tem remédio imediato, sem trovejar contra situações que só o tempo mudará. Ivana é uma daquelas pessoas nascidas muitos anos antes da sua época. Seus sentimentos estão acima da disputa por migalhas do auto-reconhecimento. Quer ser excluída de toda e qualquer forma de incensos que se diluem como nuvens de fumaça. Não vocifera contra a insensatez humana. Apenas descreve cenas, como um pintor que retrata a humanidade. Para defender aqueles que não tem vozes, em um esforço supremo, usa a sua própria voz, expressa com toda a sua potencialidade artística a selvageria que o homem civilizado usa para desfigurar o que a mãe natureza com sua suprema sabedoria criou. A ironia da obra de Ivana é subliminar. Quantas vezes por dia um médico dita ao seu paciente: “-Não coma carne vermelha”. Ou ainda: “-Procure consumir verduras, legumes”. Sem que ela saiba, é mais uma batalha ganha. Da mãe natureza e de Ivana. Nascida em Piracicaba, filha do engenheiro agrônomo, que foi professor da Esalq até aposentar-se Prof. Geraldo Victorino de França e de Zilda Giordano V. de França, são seus irmãos: Maria Graziela de França Helene e Maria Fernanda de França Cabrini e o médico Dr. Geraldo Victorino de Franca Júnior. Casada com o médico radiologista Dr. Cássio Camilo Almeida de Negri, é mãe de três filhos: Cassio Fernando França de Negri (médico radiologista) Ana Camilla França de Negri Kantovitz (jornalista) e Ivan Gabriel França de Negri (advogado). Sua sogra com muita saúde e disposição aos 95 anos de idade é Dayr Plats Almeida de Negri. Seu genro Waltinho Kantovitz foi jogador de basquete do XV de Novembro de Piracicaba, por muitos anos, hoje está cursando Medicina em Campinas. Ivana é integrante do Grupo Oficina Literária de Piracicaba(Golp), Centro Literário de Piracicaba (Clip) onde já foi presidente e vice-presidente. Colaboradora do Jornal de Piracicaba desde 1996, da Tribuna Piracicabana há seis anos, da Gazeta de Piracicaba, do Linguagem Viva, Gazeta Regional e Jornal Cenário. Com mais de 70 premiações em concursos literários, em estados brasileiros e outros países, participação em mais de 30 antologias, 25 participações em corpo de jurados de concursos literários. Tem textos publicados em periódicos da Itália e Argentina. Integra a Sociedade Piracicabana de Proteção aos Animais há dez anos. Além do livro infantil: “Izabella, uma gata que pensa que é gente” ela é autora do livro “Meus Contos Prediletos” e “Minhas Crônicas Preferidas”.
Você é natural de Piracicaba? Sou piracicabana, nascida no dia 8 de agosto de 1954. Fiz o primário, no Colégio Imaculada Conceição em Campinas, depois viemos morar em Piracicaba aqui estudei no Colégio Assunção, quando ainda era dirigido pelas Irmãs de São José e depois fiz Magistério no Sud Mennucci. Eu me casei muito cedo, aos 18 anos, meu marido cursava o terceiro ano da faculdade de Medicina em Brasília.
Ivana, esse livro é lúdico desde a capa, já que não se sabe de início onde é capa e contracapa uma vez que estampa os dois títulos como surgiu?
Esse livro é uma compilação dos contos e crônicas que eu publico na imprensa em Piracicaba.
Como poetisa, um dos seus temas prediletos é sobre ecologia, animais?
Hoje está muito em voga falar da água, um líquido precioso, que pode faltar no futuro. (Ivana nos brinda declamando a seguinte poesia)
“A água nossa de cada dia”

Pai do céu, da água e da terra,
A água nossa de cada dia
Nos daí hoje
E perdoai os nossos desperdícios
De agora e de sempre
Desde o raiar dos séculos.
Santificadas sejam as límpidas fontes
As corredeiras e as nascentes
E benditos os rios, os lagos e os mares.

Venham a nós as abençoadas chuvas
Seja feita a vossa vontade,
Assim na terra, como nas águas e nos céus
Não nos deixeis cair em prostração
E livrai-nos da seca, da sede
Dos áridos desertos,
E da ganância do bicho-homem,
Para que rios de lágrimas de arrependimento
Não venham correr em nossos olhos
Amém

É comum passarmos em ruas não só de Piracicaba, mas de outras cidades também e vemos uma pessoa com uma mangueira lavando a calçada, ou varrendo a calçada com a mangueira ligada, qual é a sua opinião sobre o assunto?
Eu acho que a pessoa não tem nem consciência do que ela está fazendo! Ela acha que está limpando a calçada, quando na verdade está desperdiçando um líquido precioso! Poderia varrer a calçada, juntar o lixo, e depois jogar um balde de água. A pessoa tem que criar uma conscientização. Se ela tem filhos, netos, pensar no futuro deles! A velha e boa vassoura deveria ser mais usada!
Você participou da diretoria da Sociedade Piracicabana de Proteção aos Animais por 11 anos. Quais são as obras realizadas por essa entidade?
Não estou mais na Sociedade Protetora, mas continuo atuando. É uma paixão que eu tenho por animais. Isso é parte integrante da minha vida. O trabalho mais importante de uma associação desse gênero é o trabalho educativo. Ficar só recolhendo animais abandonados implica em conseguir novos lares para eles, e torna-se impossível que todos encontrem um novo dono. Essa situação acaba gerando muito stress. As pessoas que acham um cachorrinho, um gatinho, não só nos comunicam como também julgam que devemos encontrar um abrigo para eles. Arrumar um novo dono. Isso é uma utopia!
Filhotes de animais são muito bonitinhos, quando há uma doação em praça pública, muitos tem o impulso de levar para casa sem considerar que esse animal irá crescer e durar muitos anos?
Isso acontece muito! As pessoas não usam o bom senso! Elas adotam e depois passam a reclamar que o animal faz muito xixi, muita sujeira, estragou o sofá. Não querem mais, como se eles fossem coisas descartáveis! Isso ocorre mesmo com animais de pequeno porte.
Qual é a melhor solução para uma situação dessas?
Se a pessoa não tem absoluta certeza de que irá cuidar direito não deve adotar o animalzinho. Tem que dar carinho, alimentação, freqüentar veterinário. É um ser vivo. Isso tudo tem um ônus. Se a pessoa fizer tudo conforme deve ser feito é quase o custo de um membro da família.
Qual é a alimentação mais indicada para um animal?
Acredito que a ração é a melhor forma de alimentá-lo. Trata-se de um produto balanceado, com todos os ingredientes necessários á boa saúde. Eles acostumam com esse tipo de alimentação. A comida pode ocasionar complicações, como diarréia, por exemplo. (N.J. Existem rações de custo muito baixo e qualidade alimentar deficiente).
Você aborda a forma como os animais são abatidos para o consumo humano. É um tema de conhecimento de todos?
O homem não tem consciência de como são abatidos os animais, por que isso não é mostrado de forma explicita. As propagandas sobre salsichas, lingüiças, mostram o animalzinho feliz! Não mostram o lado macabro da coisa! A indústria da carne é muito cruel. Desde apartamento precoce da mãe, a marcação á ferro quente, a sangue frio, castrado sem anestesia. Tudo é feito da forma mais barata! Não existe nenhuma preocupação quanto ao sofrimento do animal. Existe a lei do abate humanitário. Não sei se todos seguem. (N.J. Abate humanitário pode ser definido como o conjunto de procedimentos técnicos e científicos que garantem o bem-estar dos animais desde o embarque na propriedade rural até a operação de sangria no matadouro-frigorífico. O abate de animais deve ser realizado sem sofrimentos desnecessários. As condições humanitárias devem prevalecer em todos os momentos precedentes ao abate. A insensibilização de animais é considerada a operação mais crítica durante o abate de bovinos. Tem por objetivo colocar o animal em estado de inconsciência, que perdure até o fim da sangria, não causando sofrimento desnecessário e promovendo uma sangria tão completa quanto possível. Neste artigo são abordados os temas referentes às operações ante-mortem, como transporte, manejo nos currais, e operações de insensibilização e sangria e seus efeitos no bem-estar animal e na qualidade da carne. Fonte: Embrapa).
Existem figuras simpáticas de animais, fazendo propaganda da sua própria carne, qual é a sua opinião?
É o marketing! A criança é educada no sentido de que existem animais nocivos, animais que dão a carne, o leite! Só que na realidade o animal não dá nada. Roubam dele! É uma cultura milenar, que levará muito tempo ainda para as pessoas se conscientizarem. No futuro as pessoas terão que ser vegetarianas. Não haverá outra saída. Com o aumento da população não restará muitas opções: comerá carne ou grão!
O organismo humano está perfeitamente adequado para o consumo de carne?
Acredito que o organismo do ser humano é mais próximo do organismo do animal vegetariano. Pela própria conformação dos órgãos internos.
Na natureza quando um predador abate uma caça ocorre um processo diferenciado de morte?
Quando um predador sai para caçar, encontra suas vítimas soltas nas florestas, em bandos. Um desses animais é eleito para servir de almoço, tem que correr bastante antes de ser apanhado e quem costuma fazer corridas e caminhadas sabe que o sangue circula mais rápido e a adrenalina é liberada aos borbotões. Quando o golpe fatal é dado, a vítima, com o anestésico natural que é a adrenalina, nem chega a sentir dor, pois está praticamente sedada. A natureza providencia tudo. Os que caem nas garras do predador são os mais fracos, os doentes e os velhos. Isso faz parte da seleção natural.
Existe uma frase que você cita e é bastante interessante.
É a frase de Paul e Linda Mc Cartney: "Se os matadouros tivessem paredes de vidro todos seriam vegetarianos." A criança tem muita consciência do significado de ser vegetariano. Não há necessidade de deixar de comer carne por misericórdia dos animais, mas sim pela própria saúde do ser humano. Ao comer carne bovina estamos ingerindo também hormônios, antibióticos.
Seus textos e poemas vêm acompanhados de uma ilustração de extremo bom gosto. Entre seus poemas um deles é particularmente comovente, quando você diz por quem não tem voz. É a Oração dos Animais. Você pode declamá-lo?

Oração dos Animais.

Meu São Francisco de Assis
Protetor dos animais
Olhai por nós que rogamos
Vossa bênção e muita paz.

Olhai os abandonados
Sofrendo agruras nas ruas
E os que puxam carroças
Açoitados nas ancas nuas.

Pelos pobres passarinhos
Que não podem mais voar
Presos em rudes gaiolas
Só porque sabem cantar.

E as cobaias de laboratório
Que sofrem dores atrozes
Em experiências terríveis
Que lhes impõem seus algozes.

Pelos que são abatidos
Em matadouros insanos
Para servir de alimento
Aos que se dizem humanos

Olhai os que são perseguidos
Sem piedade nas florestas
Só por causa da ambição
Dessas caçadas funestas.

Pelos animais de circo
Que não têm mais liberdade
Presos em jaulas minúsculas
À mercê de crueldade.

Olhai os bois de rodeio
E os sangrados nas touradas
Barbárie e crimes impostos
Por pessoas desalmadas.

Pelos que têm de lutar
Até a morte nas rinhas
Quando o homem faz apostas
Em transações tão mesquinhas.

Olhai para os que são mortos
Nos macabros rituais
Em altares religiosos
Que usam sangue de animais.

Meu bondoso protetor
Oro a vós por meus irmãos
Para que sua dor e tristeza
Não sejam sofrimentos vãos

(Ivana Maria França de Negri)

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