sábado, outubro 02, 2010

César Lasaro Ferreira Costa

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 02 de outubro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
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   Cesar Costa em seu estúdio                                          J.U.Nassif
ENTREVISTADO: César Lasaro Ferreira Costa
Um carvalho pode viver entre 500 a 1000 anos, os silvicultores cultivam o carvalho durante 250 anos para vender a sua madeira, ou seja, quem planta não conhece quem irá beneficiar-se da madeira. Acumular informações para futuras gerações tomarem conhecimento do que ocorre em nossos dias é uma tarefa muito interessante e de grande importância. O jornalista César Costa comemorou no mês de setembro 18 anos do programa Piracicaba em Destaque que apresenta pela televisão, com cerca de 15.000 entrevistas realizadas nesse período. As imagens desses anos todos estão armazenadas em mídias que permitirão consultas futuras. Politicos de grande expressão no cenário nacional, como o então Ministro das Relações Exteriores Fernando Henrique Cardoso, pouco antes de assumir o Ministério da Fazenda e lançar o Plano Real, assim como o Senador Mario Covas, concederam entrevistas exclusivas a Cesar Costa. Pessoas, locais, eventos, isso tudo reunido, registram um passado recente, mas que já se integra á história de Piracicaba. César Lasaro Ferreira Costa nasceu em Piracicaba á 15 de setembro de 1961, é filho de Jandira Ferreira Costa e Benedito Evangelista Costa. Na infância divertiu-se como a criançada da época, que entre as muitas brincadeiras a de pescar “peixinhos”, na verdade girinos, no Itapeva, era uma delas. Acionar a campainha que avisava a chegada do trem da Sorocabana era uma brincadeira comum de muitos garotos. Foi aluno do renomado Instituto de Educação Sud Mennucci, que obedecia aos rigores disciplinares e pedagógicos vigentes. Se o fato do pai ser o diretor da instituição deu-lhe algum prestígio junto aos colegas, também trouxe-lhe maiores responsabilidades. Formou-se em jornalismo pela UNIMEP, atuou no Jornal de Piracicaba, na Rádio Difusora, EPTV, filiada á TV Globo, TV Manchete, e TV Beira Rio, de Piracicaba. Cesar Costa tem seu estúdio próprio, amplo, com diversos ambientes, infra-estrutura semelhante e até maior á de algumas emissoras de televisão com alcance regional. Cesar Costa foi audacioso ao estabelecer novas formas de comunicação para uma cidade em transição rumo á industrialização. Uma decisão tão acertada que favoreceu a vinda de novos programas e apresentadores com o mesmo formato.

Seu pai, Benedito Evangelista Costa, lecionou em ouras cidades além de Piracicaba?

Pelo fato dele ter sido professor de escola publica, foi percorrendo algumas cidades até voltar á Piracicaba. Em Laranjal Paulista ele permaneceu por oito ou nove anos, chegou a ser vereador de Laranjal Paulista, foi um dos fundadores da "Escola Técnica de Comércio Municipal de Laranjal Paulista", tendo sido o seu primeiro diretor, em 1961, atualmente a escola é denominada de Escola Municipal “João Salto”. Em 1963 meu pai assumiu a cadeira de Desenho Geométrico no Instituto Sud Mennucci, chegando a ser o diretor da instituição.


Fachada da escola "João Salto"                                              
Com quantos anos você começou a freqüentar escola?
Com 5 anos já estava no Jardim de Infância Peixinho Vermelho, na Rua XV de Novembro, de lá fui fazer o pré-primário no Sud Mennucci onde fiquei até concluir o terceiro ano colegial.

Como você se sentia tendo o seu pai inicialmente como professor e depois como diretor?

Eu me sentia incomodado, qualquer pequena falha, próprias á idade, as sanções que eu sofria tinham que ser exemplares. Eu era cobrado pelos alunos de uma forma e pelos professores de outra forma. O meu pai foi diretor por quase 10 anos, com isso durante boa parte do período em que estudei, ele ocupou o cargo de direção. Após concluir o colegial, fiz o Cursinho CLQ e prestei vestibular para a faculdade de jornalismo.

A decisão de tornar-se jornalista surgiu quando?

Na infância eu já brincava de fazer rádio juntamente com o saudoso Sérgio Oba-Oba e Reinivaldo Ferraz que era primo em segundo grau. Um amigo fabricou um pequeno transmissor com alcance de até 100 metros, a antena era o varal que a minha mãe utilizava para dependurar a roupa para secar, isso na Rua Alfredo Guedes. Lembro-me também de ter pegado com a peneira no Itapeva o que imaginávamos serem peixinhos, eram girinos. O trem da Sorocabana passava a uns duzentos metros da minha casa, vi muito trem passar por aqui, as crianças desenvolveram uma técnica rudimentar para acionar o sinal que avisava a chegada do trem, era muito comum essa peraltice. O meu bisavô, Francisco Arthur Mariano da Costa, foi chefe da Estação Sorocabana de Piracicaba, e o meu avô Benedito Mariano Costa foi ferroviário nessa empresa, embora o meu pai tenha se formado em agronomia pela ESALQ, ele conviveu com a Sorocabana, a ponto de saber operar o telégrafo. Lembro-me que íamos à sessão Zig-Zag no Cine Politeama, localizado na Praça José Bonifácio, onde hoje se situa o Bradesco. A sessão começava por volta de 10 horas da manhã, lembro-me de ter assistido lá um filme com a Branca de Neve.

O seu pai dizia alguma coisa a respeito da sua opção em tornar-se profissional da área de comunicação?

Meu pai também gostava dessa área, o serviço de alto falante público de Laranjal Paulista foi uma obra sua. Ele gostava de rádio, de musica, montava os quites de rádio, gostava da técnica. Eu cresci ouvindo musica clássica.
 
                                    Cesar Costa tendo ao fundo as telas pintadas pelo seu pai.
Quando você passou a trabalhar na profissão?

Ainda estudante de comunicação, encontrei-me com Antonio Carlos de Mendes Thame, que havia sido meu professor no Cursinho CLQ, fui convidado a fazer o programa “O Povo quer saber”, apresentado por ele na Rádio Difusora, ao meio dia, eu atendia telefone, escolhia música, esse foi o meu primeiro emprego. Nesse período passei a trabalhar na empresa Carthas Outdoor, foi ali que comecei a me inteirar do meio. Um dia surgiu uma arte de um outdoor que deveria ser oferecida e vendida á alguma empresa. O Jornal de Piracicaba estava comemorando os seus 85 anos de existência, consegui com que eles anunciassem no outdoor. Acabei sendo convidado á trabalhar na área comercial do Jornal de Piracicaba. Deixei a Carthas, continuei na Rádio Difusora, e á noite fazia faculdade.

Como foi a sua primeira participação ao microfone de uma rádio?

O programa “O Povo quer saber” estava sendo apresentado na Difusora, quando surgiu a comunicação de um juiz eleitoral, determinando que a partir daquele exato momento não fosse mais permitida a participação de candidato em programas de rádio, em função do horário eleitoral gratuito. Calmamente o Thame levantou-se, com o programa no ar, disse aos ouvintes, que a partir daquele momento o César Costa passaria a apresentar o programa, e retirou-se do estúdio. O sonoplasta Celso Ribeiro percebeu o meu desespero em ser pego de surpresa, colocou um disco junto ao vidro que divide o estúdio da mesa de som, e apontando para o relógio indicou-me o que eu deveria fazer. Imediatamente falei: “São doze horas e quinze minutos, vamos ouvir Moacir Frango!” Essa foi a minha estréia no rádio, dando ao célebre cantor o sobrenome Frango. Algum tempo depois esse programa deixou de ser apresentado na rádio e eu continuei trabalhando no Jornal de Piracicaba. Em 1989 fui trabalhar no “O Diário”, na área comercial, com Cecílio Elias Neto, Gabriel Elias, o gerente comercial era o Raul Nardin, permaneci por oito ou nove meses. Fiz uma campanha muito bem sucedida, eu tinha mandado meu currículo para a EPTV, surgiu uma oportunidade para ir trabalhar no Sul de Minas Gerais, meu pai tinha acabado de falecer, decidi que seria melhor permanecer com meus familiares naquele momento. Algum tempo depois fui chamado para ir até a EPTV, e para a minha surpresa recebi o convite para trabalhar na área comercial, pela experiência que eu já tinha acumulado.

Qual é o segredo do sucesso em vendas na área da comunicação?

Deve ser uma venda efetuada da forma mais clara possível. Tudo o que vendi e vendo até hoje o cliente sabe por que está comprando, quanto e quando ele deverá pagar, eu me mantenho nesse mercado já por 25 anos. Tem que haver ética, transparência, o cliente deve saber que está comprando um produto que dará retorno á ele. Os grandes centros já fizeram um ajuste nesse sentido, o que deverá ocorrer nas cidades médias e nas menores. Todos os veículos de comunicação dependem da publicidade, porém existem inúmeras formas de comercializar essas publicidades.

Você foi trabalhar fora de Piracicaba?

Fui para a EPTV de Campinas, em 1989, montei o seu escritório comercial em Piracicaba, que existe até hoje no mesmo local. Após algum tempo recebi o convite do Fausto Rocha para assumir a gerencia comercial da TV Manchete em Campinas. Acabei aceitando, um dos fatores que fez com que eu me decidisse é que ele me sinalizou que em seis meses eu deveria ter um programa meu. Na TVFR (Manchete) fiquei até outubro de 1982, há 18 anos, a TVFR lançou o programa “Painel Piracicaba”, que podia ser sintonizado em 80 cidades da região, inclusive Campinas. O Fausto conseguiu regionalizar a televisão regional. Ele apresentava o “Painel Campinas”, outro jornalista apresentava o “Painel Limeira”. Cada dia da semana era apresentado um painel de uma das cidades integrantes do programa Painel. Era um programa de entrevistas, em Piracicaba eu gravava no Hotel Antonio`s, a equipe vinha de Campinas, montava o estúdio e eu levava as pessoas que já tinha agendo para serem entrevistadas. O meu primeiro entrevistado foi Antonio Carlos de Mendes Thame, na época recém eleito prefeito de Piracicaba. O segundo foi o Dito Gianetti que estava inaugurando a BG Import. No primeiro ano entrevistei 104 pessoas. Após algum tempo passei a gravar em Limeira. Nessa época é que entrevistei Fernando Henrique Cardoso, então Ministro das Relações Exteriores e o senador Mário Covas, eles estavam fazendo campanha para instituir o parlamentarismo. Com FHC aconteceu um fato curioso, fiz algumas perguntas abordando o tema economia, percebi que ele tinha muita influência na área econômica, isso no governo do Presidente Itamar Franco. Ele se esquivava dessas perguntas, não queria ser questionado com temas da economia nacional. Passamos a falar da situação dos dentistas brasileiros em Portugal. Quinze dias depois ele passou a ser Ministro da Fazenda. Na época o Mário Covas era muito mais assediado do que o Fernando Henrique Cardoso. Até chegar nas 15.000 entrevistas que eu realizei nesses 18 anos, aprendi muitas coisas com as pessoas que entrevistei pessoas dos mais distintos pensamentos, correntes políticas, sociais, cada um trazendo uma lição de vida.
 Cesar Costa entrevistando o então Ministro Fernando Henrique Cardoso pouco antes dele lançar o Plano Real
                                      Cesar Costa com o então senador Mário Covas
Quem você gostaria de entrevistar novamente e que já é falecido?

(Cesar Costa faz uma ligeira pausa, e responde). Gostaria de entrevistar novamente o seresteiro Victório Ângelo Cobra, o Cobrinha.

Quem você não entrevistaria novamente?

Vamos censurar essa pergunta! (Muitos risos). Não entrevistaria novamente um palestrante que entrevistei há alguns anos, ele é de São Paulo e veio proferir uma palestra em Piracicaba. Das 15.000 entrevistas que realizei essa é a única que eu não gostaria de fazer novamente, pela completa falta de postura do entrevistado.
                                  Lembranças do Painel Piracicaba na TV Manchete
As entrevistas são transmitas ao vivo?
Não, elas são sempre gravadas. As pessoas dirigem-se até o meu estúdio, a característica do programa ter nascido em estúdio continua. A matéria em estúdio dá para trabalhar mais o assunto. As condições em que a entrevista é realizada são mais favoráveis. Walterly Accorsi, filha do cientista Walter Accorsi, certa ocasião disse que seu pai deveria entregar medalhas para 20 cientistas da ESALQ, e a seu pedido entrevistei a todos, cada um doutor em sua especialidade, as perguntas tinha que ter coerência, começo, meio e fim. Foi um bom desafio para mim.

Qual é o formato atual do programa Piracicaba em Destaque?

Tem a parte de estúdio que é basicamente voltada á programas de interesse público, á comunidade, com prestação de serviços. São abordados assuntos de educação, saúde, entidades assistenciais que necessitam de divulgação, clubes de serviços, muitas dessas entidades necessitam de um espaço para divulgações. Há o lado empresarial, o bloco TV Acipi é levado ao ar a cada 15 dias em um bloco de 10 minutos de duração, é realizado há 10 anos. Piracicaba em Destaque é apresentado uma vez por semana com a duração de uma hora.

Quando você casou-se?

Foi no dia 28 de maio de 1993, na Catedral de Santo Antonio, a festa foi no Teatro São José.

Além do programa Piracicaba em Destaque você realiza outras produções?

A Cesar Costa Vídeo Produções, além de realizar o programa Piracicaba em Destaque produz vídeos promocionais, empresariais. O estúdio pode ser locado para outros programas que queiram utilizar. O equipamento também pode ser locado.










sábado, setembro 25, 2010

EVANGELINA (EVA) DE BARROS BELLA

JOÃO UMBERTO NASSIF 
Jornalista e Radialista 
joaonassif@gmail.com
Sábado 25 de setembro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana 
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://www.teleresponde.com.br/ 
ENTREVISTADA: EVANGELINA (EVA) DE BARROS BELLA

O casarão onde se localiza o Museu Histórico Sorocabano foi construído pelos escravos de João de Almeida Pedroso em 1780. Passaram pelo casarão oito moradores, o último deles foi Joaquim Eugenio Monteiro de Barros, o “Quinzinho de Barros”, de cujos filhos a Prefeitura de Sorocaba conseguiu o patrimônio que dá nome ao Parque Zoológico Municipal Quinzinho de Barros. Em 1842 o casarão recebeu a visita mais importante de toda a sua existência, a Marquesa de Santos, que vivia com o Coronel Rafael Tobias de Aguiar, e que por causa da Revolução Liberal ocorrida naquele ano, ali se asilou, pois na casa de Tobias, na cidade, era grande o movimento dos revolucionários. 
Uma das netas de Quinzinho de Barros, filha de Milburges Prestes de Barros Bella e Vicente de Paula Bella é Evangelina (Eva) de Barros Bella, nascida na Rua Dona Inácia Uchoa, Vila Mariana, São Paulo, em 12 de julho de 1939. Ela relata a sua infância transcorrida no Jardim Paulistano, para onde a família havia mudado. Lembra-se dos casarões da Avenida Paulista, da suntuosa mansão do Conde Francisco Matarazzo, situada na mesma avenida que veio a ser
demolida e o terreno transformado em estacionamento.
                                Belvedere existente onde hoje é o MASP




Fotos da Mansão Mattarazzo


                                        
Mansão Mattarazo sendo demolida, anos 80
Tem na lembrança a figura de um ilustre passageiro que embarcava no bonde, Washington Luís Pereira de Sousa, o décimo terceiro presidente do Brasil, deposto e exilado, viveu muitos anos nos Estados Unidos e posteriormente na Europa. Regressou ao Brasil em 1947 e faleceu em São Paulo a 4 de agosto de 1957.
                                  Famoso bonde "camarão"

Bonde na Avenida Paulista em 1966

   
                      
 
 
                                                                 Washington Luiz
                                                   

Casou-se com Carlos Maria, homem de grande cultura, célebres amizades, um dos precursores da Rádio Eldorado, pertencente ao Jornal O Estado de São Paulo. Ela conserva até hoje um belo exemplar de livro com tiragem limitada, com a dedicatória do autor, Vinicius de Moraes.

Livro com dedicatória de Vinicius de Moraes para Carlos Maria

       Carlos Maria de Araujo
                                                           
Desde menina, Eva transitou por um ambiente de muita cultura, em uma época em que o romantismo dominava, poetas eram pessoas aclamadas, intelectuais incensados, havia glamour, sofisticação. Atualmente Eva reside em companhia de seus cães em uma agradável residência no Lar dos Velhinhos de Piracicaba. Sempre sorridente busca na memória as lembranças tão queridas, com a alegria de quem soube muito bem o que desejava da vida. Foi uma mulher arrojada para a sua época sem, contudo transigir com seus valores e princípios. Eva casou-se com Carlos Maria de Araujo, poeta português nascido em Lisboa em 9 de abril de 1921, ele em 1949 foi morar na Suíça, passando por uma breve temporada na Inglaterra veio morar no Brasil, iniciou sua colaboração no Jornal O Estado de São Paulo e na Rádio Eldorado, colaborou com artigos para diversos jornais brasileiros, publicações britânicas e americanas. Assinou por longos anos a crônica satírica “Aos Domingos”, publicada no jornal “O Estado de São Paulo”. Em 20 de agosto de 1962, a caminho da Inglaterra, faleceu na queda do avião na Baia da Guanabara.  A obra de Carlos Maria de Araújo é composta por quase uma centena de poemas, reunidos em quatro livros, que cobrem pouco mais de uma década de produção poética, de 1950 a 1962, é um poeta injustamente esquecido, tanto no Brasil como em Portugal, com obras reconhecidas por críticos como Sergio Millet e Jorge de Sena. As universidades brasileiras estão redescobrindo a obra de Carlos Maria de Araújo. 
O seu avô paterno tinha amizades importantes?
Ele fazia parte de uma minoria alfabetizada, foi amigo de Júlio César Ribeiro Vaughan, conhecido popularmente como Julio Ribeiro, que entre outras coisas criou da bandeira do Estado de São Paulo, escritor famoso por suas obras, como o romance “A Carne”, publicado em 1888. Julio Ribeiro ficou muito doente, com tuberculose, e foi tratar-se em Santos, deixando sua mãe aos cuidados do meu avô, ela não queria sair de Sorocaba. Julio Ribeiro tinha uma vida muito interessante, era filho de um trapezista americano de circo e de uma mineira. Sorocaba tornou-se um marco obrigatório para os tropeiros devido a sua posição estratégica, eixo econômico entre as regiões Norte, Nordeste e Sul. Com o fluxo de tropeiros, o povoado ganhou uma feira onde os brasileiros de todos os Estados reuniam-se para comercializar animais, tornando-se uma localidade muito importante, isso nos séculos XVIII e XIX.
A família da senhora tem fortes laços com a cidade de Sorocaba?
Tanto pelo lado materno como também do paterno a origem é Sorocaba. São famílias de longa tradição na cidade, sendo que os meus pais fazem parte dos poucos que saíram para morar em outra cidade. Tiveram oito filhos, o mais velho Vicente de Paula, foi diretor da Acesita, o segundo filho Cezar de Barros Bella era aviador, na época da Segunda Guerra ele fez o curso de piloto militar nos Estados Unidos, assim que tirou o brevê acabou a guerra. Voltou ao Brasil e passou a trabalhar na aviação comercial, o primeiro emprego foi na REAL - Redes Estaduais Aéreas Ltda., transferiu-se para a VASP, onde se aposentou. Em seguida nasceu a minha irmã, Maria Cecília, nutricionista, outro filho era o Celso de Barros Bella, que entrou na Varig, como aviador, onde se aposentou. A quinta filha é nutricionista, a Joana. O sexto filho era advogado e jornalista, José Joaquim, fazia a coluna de teatro na Folha de São Paulo. Depois veio o Ivan, jornalista, que fez o primeiro curso de publicidade que houve no Brasil, no Museu de Arte Moderno, ainda na Rua Sete de Abril. Ele fez carreira até trabalhar no jornal Estado de São Paulo. Eu sou a filha mais nova.
A senhora era estudante quando a sua família mudou-se da Vila Mariana para outro bairro?
Fomos morar no Jardim Paulista, na Rua José Clemente, 255, é uma rua paralela a Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, começa na Rua Estados Unidos e termina quase na Avenida Brasil. Quando mudamos para lá eu fiquei muito encantada com o lugar, havia jardim em frente as casas, na esquina morava a família Arens que era parente do Washington Luiz, ele andava no bonde com a gente, isso foi depois que ele voltou do exílio. Na época o bonde era uma condução muito utilizada por todos, e o bonde Jardim Paulista era famoso, havia o fechado que por ser vermelho era denominado “camarão”, e existia também o aberto. Nós não tínhamos as condições financeiras das pessoas que moravam na Avenida Paulista, mas culturalmente estávamos no mesmo nível, o meu pai sempre cuidou muito da nossa formação, acredito que fui um dos casos raríssimos que na época usou aparelho ortodôntico. Só quando adulta é que fui me aperceber que fomos criados em um sistema onde o que importava era os valores da nossa família, que sempre priorizou os estudos e a moral, isso dentro de uma liberdade incomum para a época.
O pai da senhora trabalhou no SENAI?
Meu pai era professor, foi diretor de ensino, foi secretário do ensino profissional, quando o suíço Roberto Mange criou o SENAI ele convidou o meu pai para ir trabalhar com ele, comissionado junto ao SENAI. Papai falava fluentemente o francês, tendo facilidade de comunicação com o suíço.
Como era o Jardim Paulista na época?
Existiam casas enormes, com pessoas famosas, lembro-me do Campos, um dos primeiros publicitários de São Paulo, foi de sua autoria o lançamento da publicidade do Toddy  o garoto Toddy era irmão dele!  Outra vizinha era Dora Ferreira da Silva, poeta e tradutora de Rilke  A Avenida Paulista era linda, eu adorava aquelas casas. Tomava o bonde em frente a casa do Matarazzo, que ocupava m quarteirão. Conheci a família Suplicy, minha prima Renata Borges casou-se com o Anésio, irmão mais velho do hoje senador Suplicy, eles tinham uma casa enorme na Alameda Santos, quase esquina com o Parque Siqueira Campos. Eu era “vela” (uma criança pequena que acompanhava os namorados para relatar depois aos pais se alguma coisa acontecera de errado) da minha prima Renata.
A senhora chegou a ver a construção do MASP na Avenida Paulista?
Senti muito quando foi construído o MASP, antes era um parque com um belvedere, de onde se avistava São Paulo inteira de lá, eram realizados bailes no local. Era muito lindo, tinha um ar europeu. Sou contra o modernismo acabar com o que existe de bonito. Lembro-me da Maria Anna Olga Luiza Bonomi, escultora, pintora, neta de Giuseppe Martinelli, construtor do primeiro arranha-céu da América Latina, ela muito amiga do meu irmão, ela era casada com o Antunes Filho, famoso diretor de teatro.
Conheceu uma costureira muito famosa, estabelecida na Avenida Paulista?
Era a Madame Rosita! Tive um desfile especial,  foi feito para mim e para meu marido,   eu casei-me aos dezenove anos com Antonio Maria de Araujo. (A Maison Madame Rosita ficava no número 2.295 da Avenida Paulista, num casarão que possuía frigorífico especial para as suas peles). È interessante, mas eu estava sempre onde estavam acontecendo às coisas.
Como foi o seu ingresso na Rádio Eldorado?
Meu irmão José Joaquim, queria que eu trabalhasse, eu não queria, ele tinha muitos amigos na Radio Eldorado, inclusive o ator Rubens de Falco que era locutor, a rádio que estava iniciando suas atividades. Fui levada até a rádio quase a força, eu fiz o teste com o Carlos Vergueiro, ele era ator do TBC, no tempo da Cacilda Becker. O Vergueiro me perguntou: “-Você sabe inglês?”, respondi: “-Não!”, ele perguntou: “- Você sabe datilografar?”, respondi: “-Não!”, ele então me disse: “-Está empregada!”. A rádio só tinha o Promusica era vendido para empresas. (Não havia a FM doméstica e a música ambiente entrou em moda. A Eldorado criou um canal em FM transmitindo música ambiente e instalava um receptor da Telefunkem marca FREMO, a válvulas, com sistema de amplificação e alto falantes, cobrando uma taxa pelo serviço). A Eldorado ficava na Major Quedinho,  no sétimo andar, o correspondente em Paris comprava os discos lançados na Europa. Fui trabalhar na discoteca, fazia o fichário e a cronometragem dos discos, não vinha estampado o tempo de duração de cada musica. A rádio era um ponto divertidíssimo, com um auditório muito moderno, acústica perfeita, o engenheiro técnico era o Dr. Macedo. O maestro Diogo Pacheco fazia programa de música latino-americana.
Como você conheceu Carlos Maria Pereira Pinto de Araujo?
Ele trabalhava na Eldorado, era redator de programas de música americana, entendia muito de jazz, fazia programas de canções de todo mundo, trabalhava das 9 ao meio dia na rádio e depois ia para o jornal Estado de São de São Paulo, onde era redator da seção internacional, ele era fluente em seis idiomas. Casamo-nos na Bolívia, ele tinha 36 anos, era desquitado. Eu o conheci em 1957, em 1962 ele faleceu. Aos 23 anos fiquei viúva com uma filha de 2 meses. Fui fazer Ciências Sócias na USP á noite e trabalhava em revistas técnicas, como redatora. Teve um período em que tive que parar de estudar, tinha entrado para a faculdade em 1967, em 1968 eu estava na Rua Maria Antonia, onde fazia o curso de Ciências Sociais, no primeiro dia de aula já havia uma greve na escola, não houve aula, no dia seguinte ao chegar ao trabalho meu colega comentou: “-Você começou bem!” e mostrou-me a primeira pagina do Jornal da Tarde, onde havia uma fotografia do pessoal em greve, e eu aparecia nela! Naquela época era um perigo, o Dops já fichava, os meus antecedentes familiares eram suspeitos aos olhos do regime da época, meu marido tinha se indisposto com o regime salazarista, meu tio Emerenciano Prestes de Barros que foi deputado federal, prefeito de Sorocaba, foi cassado como comunista, meu irmão era presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa do Sindicato dos Jornalistas. Fui convidada a participar do grêmio estudantil. O Celso Ming estava formando-se na época, como sociólogo. Fiquei na comissão de imprensa do CEUPES - Centro Universitário de Pesquisas e Estudos Sociais - Centro Acadêmico de Ciências Sociais – USP.
A senhora participou da quebradeira que houve na faculdade?
Em 1968 fecharam a faculdade, o CCC, Comando de Caça aos Comunistas tinha ligações com os estudantes do Mackenzie, que ficava em frente a nossa faculdade, na Rua Maria Antonia. Eles eram da extrema direita. Nunca foi falado isso? Tenho a minha obrigação de falar. Se pudéssemos falar quem são muitos dos nossos políticos! Nós estávamos fazendo prova de antropologia, as luzes apagaram de repente, ficamos em frente ao prédio esperando a energia retornar, o pessoal do Mackenzie passou a nos provocar, atirando ovos em nós. Voltamos pacificamente á classe. Existe uma passagem subterrânea que atravessava da Rua Maria Antonia até a Rua Dr. Vila Nova, onde havia a faculdade de economia da USP. Eu estava em casa quando a faculdade foi fechada.
A senhora foi procurada por alguma autoridade da época?
Apesar de ter ligações perigosas, não fui procurada por ninguém, nunca fui fanática por nada, acho que todos os fanatismos se assemelham.

sexta-feira, setembro 17, 2010

CLOTILDES FERNANDES PETERS

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 18 de Setembro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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                    ENTREVISTADA: CLOTILDES FERNANDES PETERS
A constante aquisição de novos conhecimentos é uma característica do Homo sapiens, motivado pela necessidade, curiosidade ou simples acaso. O processo de evolução cientifico é exponencial, a velocidade de novas conquistas é cada dia maior. Absorver novos conhecimentos, acompanhar a enorme carga de informações sem atropelar principios básicos do individuo, tem sido objeto de grandes estudos. Uma das maiores beneficiarias dessa corrida tecnologica é a área de saúde, e a odontologia tem um histórico que impressiona a qualquer um que analise sua evolução. As novas gerações frequentam o consultorio dentário com naturalidade, algo impossível de imaginar até algumas décadas, quando ir ao dentista era no conceito do paciente quase a ida a um ritual da inquisição. Novos materiais, novas técnicas, o dominio da situação com muita psicologia aplicada por parte do profissional, fizeram mudanças radicais em curto espaço de tempo. É grande o número de pacientes que fazem o tratamento preventivo, atualmente o objetivo maior é tratar e não extrair um dente, sabe-se que há uma estreita relação entre a saúde bucal e o estado de saúde do individuo. Dra. Clotildes Fernandes Peters, é um dos nomes que protagonizaram enormes mudanças na área odontológica em Piracicaba. Uma trajetória brilhante, superou as dificuldades ocorridas na família, advindas da mudança de uma vida abastada no sítio para uma luta enorme pela sobrevivência na cidade, com muita garra e determinação formou-se em odontologia, onde transformou os conhecimentos científicos adquiridos em beneficios para os seus pacientes e pacientes de outros profissionais orientados por ela. A sua paixão pela profissão é tão intensa que ela emociona-se ainda ao discorrer sobre o seu trabalho. Dedicou-se a vida acadêmica, aposentando-se na Faculdade de Odontologia de Piaracicaba, FOP, que é integrante da Universidade de Campinas, Unicamp. É doutora em ciências com enfase em odontopediatria, cadeira da qual foi professora titular. A Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas - Regional de Piracicaba, indicou a Dra. Clotildes para receber o título de Cirurgiã Dentista de 2010.
A senhora passou sua infância em Piracicaba?

Sou natural de São Pedro, os meus pais José Fernandes e Thereza Carone tinham uma propriedade rural no municipio, era um lugar lindo com muita fartura, lembro-me das brincadeiras de infância, tinha contato com animais, subia em árvores, uma vida típica de quem morava em zona rural, juntamente com meus irmãos Jorge e Natalia. Ingressei na Escola Mista do Bairro do Limoeiro, onde tive como professora Dona Irene Valério. Meus irmãos e eu íamos todos juntos para a escola, o caminho era feito a pé. Lembro-me que a escola era muito longe, passávamos por uma fazenda que tinha muito gado, existia uma espécie de corredor feito com arame farpado, que era por onde caminhavamos. Faziamos esse caminho com sol ou chuva, um trajeto que hoje vemos quanto perigo oferecia nos dias chuvosos, quando a intensidade da chuva aumentava, de forma inocente, abrigávamos as vezes sob a copa de árvores.

Quantos anos a senhora tinha quando a sua família trocou o sítio pela cidade?

Tinha 10 anos quando mudamos para Piracicaba, vindo residir na Rua Saldanha Marinho, proximo á Rua do Rosário, era rua de terra, a casa existe até hoje. Meu pai foi trabalhar com caminhão e minha mãe passou a fazer bordados, ela bordava ponto cruz. Concluí o estudo primário no Grupo Moraes Barros, indo fazer o ginásio na Escola Industrial, no período da manhã eram as aulas normais do curso ginasial, e a tarde eram de trabalhos manuais, aprendi a bordar, a cozinhar, bordei cada coisa! Foi uma escola que sempre me estimulou, eu gostava de jogar tenis de mesa, adorava jogar basquete.Sempre gostei de atividades manuais. O curso científico fiz no Instituto Piracicabano, tive aula de química com o célebre Prof. Demosthenes Santos Correa, francês com Josaphat de Araújo Lopes. O cursinho para prestar vestibular na faculdade de odontologia eu fiz no próprio Instituto Piracicabano, havia alunos da faculdade de odontologia que davam aulas á noite.

Como era o seu lazer?

Na época os pais não ofereciam tanta liberdade como existe hoje. Íamos aos cinemas da cidade nas sessões de matinê nos cines Broadway, São José, eu ia muito ao Politeama. Ao carnaval fui após ter ingressado na faculdade.

A mãe da senhora teve um estabelecimento comercial nessa época?

Para dar suporte financeiro á família ela montou um salão de cabeleireiro na Rua Alfredo Guedes, eu passei a ajudar nas horas em que não estava estudando. Fui cabeleireira, no tempo em que o pessoal gostava daqueles penteados “armados”, tempo em que se usava o laquê, a cerveja no cabelo, tinha gente que fazia questão de passar cerveja no cabelo, algumas traziam de casa, era utilizada diluída em água e aplicada na hora de enrolar o cabelo, antes de secar no secador.

O que a levou a fazer a opção para a odontologia?

No salão, quando eu fazia um penteado, sentia que estava fazendo algo interessante, estava dedicando-me ás pessoas, a torná-las mais bonitas. Eu tinha como vocação alguma atividade ligada a saúde, as opções eram a enfermagem, a odontologia ou a medicina. Cheguei a visitar a escola de enfermagem em Campinas, e senti que estaria um pouco limitada em meu interesse por estudos mais abrangentes. O curso de medicina tinha alguns aspectos que me eram desfavoráveis. Odontologia por tudo que se apresentava era a minha melhor opção.

Na época a FOP funcionava em que local?

Era no prédio da Rua D.Pedro II, 627, sou da quarta turma formada pela FOP em 1963, na época não havia aqui especialização, nem mestrado.

Ainda estudante de odontologia a senhora já trabalhava na faculdade?

Trabalhei na disciplina de patologia, eu tinha jeitinho para desenho, examinava na microspia eletrônica as lâminas e desenhava os objetos de pesquisas, participei da revista Biologia Oral.

Após concluir o curso qual foi a próxima etapa da senhora?

Inicialmente trabalhei como voluntária, depois como assistente, permaneci algum tempo na patologia e depois fui para a odontopediatria, que era a área que eu queria, o titular da cadeira era o Prof. Dr. Moyses Friedman. No final de 1964 comecei a dar aulas, lecionando na disciplina de odontopediatria.

A odontologia nessa época era muito diferente da que existe atualmente?

Entrei em uma época em que deu-se a formação de novos departamentos. A odontologia existente até então era muito extracionista, o departamento de cirurgia era muito movimentado, e o próprio povo ja tinha a opinião formada de que era necessário extrair os dentes quando surgisse algum problema. A área em que comecei a trabalhar visava a prevenção da saude bucal, com o passar dos anos queriamos reabilitar a dentição e ensinar quais eram os cuidados necessários á prevenção.

Houve uma mudança de cultura com relação a saúde bucal?

A odontologia hoje é completamente diferente daquela existente quando comecei, quer seja pela forma como era vista pela população, ou pela tecnologia que sofreu uma imensa evolução. A prevenção contra a carie iniciou com o fluor, vieram os selantes, que ao nascer os dentes, após uma limpeza dos sulcos, prepara-se aquele esmalte para receber o selante. O selante é uma substância bem transparente, fininha, que fica dentro do sulco e impede a agressão da bactéria. É aplicado na criança a cada seis meses, ou um ano, período em que se marca o retorno dela em função das épocas em que o dente irá nascer, para protege-lo.

Houve uma época em que no imaginário de uma parcela da população, ir ao dentista significava quase submeter-se a uma sessão de tortura?

É verdade. Talvez o fato da pessoa ir ao dentista quando ela já estava com dor, já dirigia-se ao dentista com ansiedade, alguns mesmo sem dor ainda tem um pouco de ansiedade. Eu tinha crianças que queriam vir até o dentista.

Além das aulas que a senhora lecionava, mantinha também o seu consultório?

Comecei a lecionar em tempo parcial, por seis horas permanecia na faculdade e o resto do tempo ia para o consultório, após uns cinco anos passei a dedicação exclusiva á orientação e pesquisa, e ao ensino. Ao aposentar-me pela FOP, em 1992 passei a trabalhar em meu consultório, onde permaneci por mais dezoito anos. Tive que me preparar emocionalmente por uns dois anos, para deixar de trabalhar, estava muito ligada à odontologia. Eu amava a faculdade, sofri para deixá-la, depois sofri para sair do meu consultório. (Nesse momento Clotildes fica muito emocionada).



Em sua formação profissional a senhora participou de muitos cursos e congressos?

Até chegar a ser professor titular tem que ser composto um currículo de realizações é tarefa árdua, a seqüência é doutorado, livre docência, adjunto e titular, tudo feito através de provas públicas junto a comissão examinadora. Tem que ser feito um trabalho de pesquisa experimental, fazer o memorial, ministrar aulas. Atingi o meu objetivo, que era de ser professora titular de odontopediatria.

Dos seus filhos, alguém seguiu a odontologia como profissão?

Não, apenas o meu genro. Minha família sempre acompanhou a minha agenda bastante carregada, eu ia para congressos, dei cursos em outras faculdades, cheguei a dar cursos até no Mato Grosso.

Quando a senhora conheceu o seu marido?

Com uns dezessete anos trabalhei como balconista na Padaria Central que pertencia a meus pais, e na época o rapaz que veio a ser meu marido, Ricardo Peters Filho, morava na mesma rua, a Boa Morte, em frente ao Colégio Assunção. Eu estudava no Piracicabano, nós ficamos flertando por muitos anos, até que ele me pediu em namoro. Casamos, tivemos três filhos, Priscila, Sofia e Ricardo.

A senhora tem fama de tirar o medo do paciente ir ao dentista, não só de crianças, mas também de adultos. Qual é o segredo?

Sou muito tranqüila, basta conversar com o paciente, transmitir confiança, sempre o deixei bem à vontade. Um pouco antes de encerrar as minhas atividades no consultório tive um paciente com dezoito anos, meu professor de dança, que tinha verdadeiro pavor de ir ao dentista, aos poucos ele foi percebendo que o seu temor não tinha sentido de existir. Hoje ele diz que não se sente mais temeroso em ir ao dentista.

Em Piracicaba a senhora é a pioneira em odontopediatria?

Na cidade com o titulo de doutor fui a primeira odontopediatra. O professor Renê Guerrini, sobrinho de Leandro Guerrini, fotografou muitos casos que atendi na faculdade. No inicio os odontopediatras eram o professores Antonio Carlos Usberti, José (Tico) Rensi, o Renê e eu. Tinhamos muitos alunos, a contratação de mais professores era dificil, orientavamos os mestrados, doutorados, alunos do CNPq, Capes, FAPESP. Quando começamos com o curso de pós-graduação a Cecilia Gatti Guirado após concluir o curso foi contratada como asistente. Hoje a Regina Maria Pupin Rontani é titular da cadeira, tenho o orgulho dela ter sida iniciada comigo, eu a orientava em pesquisas.
Como foi ser pioneira no tratamento de crianças, em uma época em que adultos se apavoravam com tratamento dentário?
Existem crianças dificeis de serem tratadas, as vezes a criança ainda é um bebê com menos de um ano e já tem cárie rampante ou cárie de mamadeira, a prevenção deve ser feita com limpeza após as principais mamadas, tem mães que são excelentes, cuidam muito bem da saúde bucal do bebê. A criança com cárie não mama, não se alimenta, porque aquilo dói muito.

Esse tipo de informação chega a todas as mães de recém nascidos?

Eu não estou nessa área de saúde pública, mas acredito que há gente trabalhando para que essas informações sejam transmitidas á população. A divulgação dos cuidados necessários para a prevenção é feita junto a escolas, entidades assistenciais. Equipes de alunos de odontologia, acompanhados por seus professores, vão até as escolas, onde orientam as crianças, como proceder na escovação dentária. São ações que passaram a existir com excelentes resultados, o que existia anteriormente era a extração do dente assim que o paciente sentisse dor, sendo que é só tirar a cárie e colocar o cimento.

O tratamento de bebês era feito como?

No consultório a mãe sentava-se na cadeira do paciente com a criança no seu colo, após a preparação necessária, o tratamento era feito com a maior rapidez possível, sempre com uma assistente muito bem qualificada, eu trabalhava em pé. As condições clínicas do pequeno paciente eram avaliadas previamente pelo seu pediatra.

Como é feito o tratamento á pacientes especiais?

No caso do paciente agressivo o atendimento é feito em hospital, com a intervenção sendo assistida por médicos, não há outra forma de serem tratados.

A mãe deve preocupar-se com a saúde bucal da criança a partir de quando?

No período da gestação a futura mamãe tem que ter uma boa orientação médica, se há necessidade de algum tipo de suplementação alimentar. Do odontopediatra ela tem que ter informações de como irá atuar quando o nenê nascer. A partir do terceiro mês de nascimento ela pode levar a criança ao odontopediatra, há crianças que já no terceiro mês apresentam algum sinal de dentição. A higiene bucal é fundamental, todo excesso do leite deve ser retirado do dentinho da criança, principalmente à noite, período em que a criança dorme mais, é quando o ph da saliva é mais baixo e pode atacar o esmalte. Após a erupção dos dentes a mãe pode aplicar a pasta dental, apropriada para recém nascidos, isenta de flúor, a pasta com flúor deve ser usada com a criança já treinada a não engolir a pasta dental, isso ocorre geralmente a partir de cinco anos.

Os cuidados com a saúde bucal do recém nascido estão restrito ás famílias com maior poder aquisitivo?

Essas orientações de higiene ela poderá receber de um profissional que esteja em um posto de saúde, e são perfeitamente viáveis ás mães. Cheguei a fazer palestras para gestantes orientando-as nesse sentido. Quando a criança já tem a dentição completa ao ser levada para fazer as revisões, é aplicado um evidenciador de placas de bactérias, para saber se a criança está com seus dentes bem escovados ou não. Há mães que realizam uma boa escovação, outras não. Isso pode suceder-se por anos, você evidencia as placas e torna a encontrá-las, não é um fio de abacaxi ou de carne, visíveis a primeira vista.

O dentista experiente consegue ter informações sobre os hábitos de higiene bucal do paciente?

É perfeitamente possível obter-se várias informações a respeito. No consultório sempre busquei a prevenção, salientando a importância da escovação. Se o paciente ao retornar após um ano voltasse a apresentar placas de bactérias tinha que aprender de novo a escovar os dentes. Eu fazia isso até com paciente adulto, pois havia adultos medrosos que freqüentavam o consultório de odontopediatra, ou ainda aqueles que atendidos ainda crianças, ao crescerem queriam continuar a serem tratados lá mesmo.





sábado, setembro 11, 2010

THAIS DE ALMEIDA DIAS

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 11de setembro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/
                                    



                                       ENTREVISTADA: THAIS DE ALMEIDA DIAS

A voz clara, com a entonação perfeita, é inconfundível, trata-se da locutora e apresentadora Thais de Almeida Dias. Professora em instituições de ensino, como USP, FIAM, ocupou importantes cargos em diversos veículos de comunicação, entre eles a direção da Rádio MEC no Rio de Janeiro, cuja origem é a primeira estação de rádio brasileira a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada em 20 de abril de 1923 por Edgard Roquete Pinto e Henry Morize. Roquette Pinto ao doar ao Ministério da Educação a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, exigiu que a emissora sempre mantivesse sua missão educativo-cultural.
                                Os pioneiros da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro
                                 (Fotos do arquivo da Rádio MEC)
A Rádio MEC nasceu em 7 de setembro de 1936. Thais de Almeida Dias teve grande influência na Fundação Padre Anchieta, que engloba a TV Cultura e Radio Cultura AM e FM. Foi diretora da Rádio Cultura FM. Conviveu com celebridades do rádio e da televisão, sofreu com a tragédia abatida sobre o colega Vladimir Herzog, que tinha sido nomeado para dirigir o jornalismo da TV Cultura. Foi jurada de televisão, onde novos talentos se apresentavam buscando um lugar no meio artístico. Criou o programa “Viola, Minha Viola” no ar até hoje. Com licenciatura em História pela USP, mestrado de jornalismo, cursou jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, Thais de Almeida Dias é eloqüente, cheia de novas idéias, daquelas pessoas que sempre estão criando, incentivando, pavimentando estradas para os talentos que surgem. Recentemente decidiu adquirir um chalé, que é na verdade uma casa confortável, decorada com muito bom gosto, situada na Primeira Cidade Geriátrica do Brasil, o Lar dos Velhinhos. Mal abriu as malas e já está pensando em instalar uma rádio comunitária nessa verdadeira cidade encravada na área central de Piracicaba. Natural de Assis, onde nasceu em 14 de outubro de 1935, com um ano de vida Thais de Almeida Dias passou a morar em Itu, cidade que adotou como se fosse a sua terra natal. È filha de Zeni de Almeida Dias, musicista, organista da igreja e de Euclides de Marins e Dias, poeta, escritor, radialista, que tinha o pseudônimo de Humberto de Mattos. Estudou na Escola Regente Feijó, onde cursou o primário e a escola normal, na época no interior não havia faculdades como existem atualmente.
Após a conclusão do curso normal, onde a senhora foi lecionar?                                            
Como professora primária, fui lecionar na região da barranca do Rio Paraná, na divisa com o Mato Grosso. Entrei em um programa desenvolvido pela Universidade de São Paulo que mandava professores para o Norte e o Nordeste do país. Trabalhei dois anos em São Luiz no Maranhão, onde voltei a fazer rádio, na Rádio Educadora Rural, de São Luiz. Voltando para São Paulo fui convidada para trabalhar na Rádio Cultura de São Paulo, isso foi no final da década de 60, o diretor era Antonio Augusto Soares Amora, mais conhecido como Professor Amora, o presidente era José Bonifácio Coutinho Nogueira, ficava na Rua Carlos Spera, 179. Eu fazia a produção de programas educativos, como “Encontro com a História”, “Saúde Para Todos” e assumi um programa sertanejo-educativo que levava mensagens para o agricultor, chamava-se “Almanaque Rural”, levei ao ar este programa por nove anos, era o programa que abria a emissora. Eu vinha do folclore, fui assistente do Prof. Rossini Tavares de Lima, já tinha uma formação para a música caipira, não a música sertaneja e sim a caipira.
(Da esquerda para a direita: Cid Moreira, Sérgio Chapelin, Haroldo Costa, Ricardo Cravo Albin)
Qual é a diferença entre musica sertaneja e musica caipira?
A caipira é a música realmente folclórica, criada espontaneamente, com aceitação coletiva, que foram as primeiras músicas gravadas por Cornélio Pires, inclusive com a turma de Piracicaba. A mídia apropriou dessa música caipira e foi-se transformando na música sertaneja seguindo os modismos até chegar hoje no famoso sertanejo universitário.

O que é sertanejo universitário?

Na verdade, estou tentando entender.
                                                Fachada recente da Rádio MEC
                                                (Fotos do arquivo da Rádio MEC)
Na Cultura a senhora permaneceu por quantos anos?

Trabalhei lá por 25 anos, mas nesse período estive no Rio de Janeiro, eles me emprestaram para dirigir a Rádio Ministério da Educação e Cultura do Rio de Janeiro, era uma rádio muito gostosa para trabalhar, com mais de 200 profissionais, como Artur da Távola (pseudônimo de Paulo Alberto Moretzsonh Monteiro de Barros), Sérgio Vieira Chapelin, Cid Moreira, Maestro Isaac Karabitchevsk, Miguel Proença, Ricardo Cravo Albin, Haroldo Costa, um time de primeira. A Rádio Cultura ficava no centro, quase em frente à Central do Brasil, na Praça da Republica, 141. Foi a primeira rádio criada no Brasil, pelo Roquette Pinto, em 1936 ela foi doada para governo, na época era Getulio Vargas, sob duas condições: a sede deveria ser sempre no Rio de Janeiro e a rádio deveria ser sempre educativa. Vargas mandou um telegrama á Roquette Pinto agradecendo pela doação da rádio, ao que ele respondeu: “-Não estou doando ao governo, mas ao povo brasileiro”.
                                                               Arquivo LPs
                                                           (Fotos do arquivo da Rádio MEC)
Após um período no Rio de Janeiro a senhora voltou á São Paulo?
Permaneci no Rio de Janeiro por dois anos, voltei para a Cultura, onde passei por um período na Televisão Cultura, quando criei e produzi por dois anos o programa “Viola, Minha Viola”, que permanece no ar até hoje, na TV Record eu era jurada do programa “Canta Viola” do Geraldo Meirelles.

Após aposentar-me, por 14 anos morei na cidade de Treze Tílias, em Santa Catarina, lá há a Rádio Tropical FM, que apesar de ser uma rádio pequena, faz um bom trabalho. Eu assessorava essa rádio.
Em Piracicaba a senhora já está atuando em alguma rádio?
A senhora sente falta do seu trabalho em rádio?
Faz apenas um mês que estou em Piracicaba, ainda não deu tempo!
A senhora tem seus planos para essa área?

Tenho!

Na Rádio Cultura a senhora criou diversos programas?

Após voltar do Rio de Janeiro, passei a fazer na Rádio Cultura AM o programa “Canto da Terra”, que era líder de audiência da AM, e fui chamada a dirigir a Rádio Cultura FM que só toca musica erudita, eu trabalhava com os dois pólos, a música clássica e a música sertaneja.

Qual é o público da Rádio Cultura?

Eu fazia pesquisa de audiência, quando fui diretora da Rádio Cultura FM era editado um boletim por assinatura, com toda a programação da rádio, na época chegamos a ter nove mil assinantes, se projetarmos significa muito mais em audiência, quando eu queria fazer a pesquisa mandava dentro desse boletim para os assinantes, não era nem frete pago, mas eles iam até o correio, me enviavam, faziam questão de responder o questionário. Tudo isso era tabulado, sabíamos quais eram os horários em que ouviam a programação da rádio, as preferências do ouvinte, e o tipo de público. Em São Paulo oitenta por cento do público da Radio Cultura FM tinha escolaridade de nível superior, é interessante observar que os arquitetos e engenheiros davam preferência á nossa rádio, seguidos pelos professores, músicos, tínhamos também um público menos escolarizado, pois a cultura independe da escolaridade, era formado por pessoas que também aprenderam a gostar de música clássica.
A rádio comercial faz uma programação voltada a atingir o seu público e dar o melhor retorno financeiro. A emissora com respaldo governamental pode definir a programação voltada para a educação e cultura. Há possibilidades de a rádio comercial voltar-se também para a cultura e educação, sem prejuízo financeiro?
Perfeitamente! É só começar, não precisa ser no horário inteiro. Tenho a certeza de que se uma rádio comercial lançar uma vez ao dia um programa de uma hora ou duas horas que seja a transmissão de uma música mais elaborada, com letras melhores, um programa bem cuidado, programa com entrevistas bem cuidadas e interessantes, naturalmente que irá ter audiência. A Rádio Tropical de Treze Tílias começou a fazer isso, lançando os programas opcionais aos domingos, ela passou a ter uma enorme audiência. Você pode fazer um programa cultural com música sertaneja, fui amiga do Pedro Chiquito, Parafuso, Nhô Serra, Horacio Neto, convivi com todo esse pessoal. A minha tese de mestrado em jornalismo foi sobre a informação através da música sertaneja. Essas músicas mais antigas contam sempre uma história. “O Menino da Porteira” é um jornal! É um jornal policial, mas é um jornal! A música “Disco Voador” em sua letra conta: “Tem gente que não acredita. Acha que é fita os mistérios profundos Quem tem um filho pode ter mais filhos. O Senhor também pode ter outros mundos.” Com isso muita gente que não acredita em disco voador, passa a acreditar, porque ela transfere a informação no nível do entendimento do público. Usa a linguagem para fazer a interpretação da notícia para ele.
É uma forma de levar cultura sem impor uma linguagem?

Quando você dá uma noticia no rádio, cada um interpreta de acordo com sua capacidade de entendimento. Mesmo que você faça um programa sertanejo e coloque esse tipo de letra, analise essa letra, o ouvinte irá entender. Essas músicas mais atuais, que chamamos de “música urbaneja” onde aborda temas como “de dia a gente briga, á noite a gente beija” (Leandro e Leonardo: E se de dia a gente briga. À noite a gente se ama.), isso mostra um aspecto violento da periferia. Se você analisar a letras dessas brigas todas irá analisar a periferia, a violência dela. Você tem como interpretar através da própria musica sertaneja a violência.

A senhora nunca se imaginou fora do rádio?

Quando eu fazia o programa “Viola, Minha Viola” na TV Cultura, em uma ocasião eles me disseram que eu estava acumulando rádio e TV, que deveria escolher um ou outro veículo de comunicação, a minha resposta foi de que se tivesse que me definir iria escolher o rádio. Acho o rádio muito mais criativo, mais interessante de se fazer, desde que seja o rádio em que você possa realmente colocar uma produção programada, não o “vitrolão”!

O que a senhora denomina de “vitrolão”?

É colocar uma música para tocar e dizer uma bobagenzinha qualquer, colocar o ouvinte ao telefone, com aquela conversa boba. O ouvinte pode participar pelo telefone, com alguma coisa mais interessante.

As rádios dos grandes centros estão passando por um período de transformações?

Rádio atualmente deve ser voltado para a comunidade, deve pensar muito nos problemas da comunidade, daquela sua audiência e fazer os programas dirigidos para ela, é muito importante a participação da comunidade.

Há uma clara definição de ouvintes de rádios do interior e rádios da cidade de São Paulo?

A rádio do interior tem um público bem variado e programas diversificados, para várias camadas sociais, vários horários. As rádios paulistanas são segmentadas. Há rádios para público sertanejo, erudito, para público entre 30 e 40 anos, para público mais jovem, para mais antigos, aquelas que têm som ambiente, as rádios que fazem mais jornalismo, outras se dedicam mais aos esportes. O jornalismo está em alta, temos a Jovem Pan, Bandeirantes, CBN, Eldorado. São exemplos de rádios que estão se dedicando muito ao jornalismo. É mais fácil atingir ao público para o qual ela está dirigida, ela vai direto aquele segmento. Não conheço muito bem a estrutura das rádios do interior, mas acredito que estão voltando-se mais para o “vitrolão”, que é mais fácil tocar música, colocar um comercial e pronto. A mão de obra necessária é encontrada mais facilmente. A rádio de Treze Tílias ganhou um grande público com o jornalismo, embora seja uma cidade com apenas cinco mil habitantes, ficava em um ponto estratégico, entre outras cidades do seu tamanho e também próxima a grandes cidades. As festividades existentes na região ela cobria, fez um acordo com as câmaras municipais para noticiar o que acontecia nessas cidades, com isso pegou uma audiência muito grande com excelente resultado financeiro. Outras rádios pequenas da região não faziam esse tipo de trabalho.

O seu ingresso em rádio deu-se em que cidade?

Foi como locutora da Rádio Emissora Convenção de Itu - AM - Prefixo ZYE-3. Abria o programa agradecendo a audiência, ao microfone fulano de tal, aquela coisa meio antiga que hoje não se usa mais, era tudo ao vivo, comerciais, de vez em quando rádio-teatro, se tivesse vontade de tossir tinha uma chavinha que desligava o microfone, tossia voltava a ligar. Qualquer erro saia no ar, não havia outro jeito. Em rádio-teatro as folhas ao serem lidas tinham que ser viradas com o máximo cuidado para o ruído não ser transmitido pelo microfone. Muitas vezes ao virar uma folha acabava virando-se duas, o narrador se perdia e todos que o acompanhavam perdiam-se juntos. Tinha que voltar a folha, todos ficavam inventando alguma coisa para ir ao ar até regularizar a leitura. A sonoplastia era feita ao vivo, aconteceram em várias emissoras, diversos erros clássicos. Na Radio Cultura quando fazíamos as séries educativas elas eram dramatizadas, falar ao ouvinte questões de saúde apenas como uma leitura ou uma entrevista ficava chato, inventava-se uma historinha para chegar ao núcleo do assunto tratado. O produtor recebia o texto seco e árido em linguagem médica, ele tinha que inventar uma historinha para colocar uma historinha agradável ao ouvinte.

A senhora tem músicas de sua autoria que foram, gravadas?

Sou a letrista de “Campos e Manhãs”, gravadas por Chico Rei e Paraná, “Vaqueiro Velho”, com Carlos Cesar e Cristiano, “Tapete de Couro” com Brazão e Brazãozinho, há também uma gravada por uma cantora portuguesa.

Quem apresenta programa sertanejo deve utilizar um sotaque apropriado?

Acho que o apresentador deve ser autêntico, não há a necessidade de forçar um sotaque. Lembro-me que o meu pai até brincava dizendo: “Barbina, muié do sordado, de sarto arto na carçada”.

Como à senhora vê a relação da internet com o rádio?

O pessoal tem baixado muita música pela internet, temo mais pelo futuro das gravações em mídias como disco, CD, ou DVD.

Algumas noticias veiculadas pela internet, muitas vezes são lidas para o ouvinte, qual sua visão a respeito?

É uma nova versão do Gillette-Press! (Os chefes de reportagem liam os jornais da manhã e recortavam as notícias com lamina de barbear). Ainda existe um grande público que não está acessando a internet naquele momento, o seu trabalho não inclui acesso ao computador, porém está com o radinho ligado.




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