sábado, dezembro 11, 2010

JOSÉ RIVADÁVIA SALVADOR (RIVA)

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Quinta feira, 09 de dezembro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADO: JOSÉ RIVADÁVIA SALVADOR (RIVA).
Uma vida de glamour, uma festa quase contínua, ambientes com pessoas interessantes, conversas agradabilíssimas, uma existência de sonhos, privilégios de reis, imperadores, milionários, nobres, estadistas, industriais, artistas. Alguns profissionais freqüentam esse ambiente a trabalho, entre eles está um muito especial, cuja função é registrar todos os detalhes do evento, usando palavras e imagens, irá perpetuar a lembrança de algumas horas em que aquele grupo de pessoas esteve reunido. Seu trabalho é o de cronista social, deve ser de cunho jornalístico, informativo. Alguns perdem suas próprias referencias e descambam para um dos caminhos que despertam a ira dos socialites: a odiosa fofoca. Manter a conduta integra é o principio básico de quem se aventura a fazer a crônica social. Um mestre no assunto surgiu de forma espontânea, natural. Não teve a necessidade de apresentar-se á sociedade, ele já pertencia a ela. Com seu jeito simples e elegante conquista facilmente a simpatia de qualquer interlocutor. Não se jacta de suas amizades, pelo contrário, tem o que é essencial ao cronista social que se preze: é discreto! José Rivadávia Salvador, o Riva, é um documentarista dos eventos que ocorrem em nossa cidade. Nascido em Piracicaba a 29 de março de 1957, casado, é pai do médico Rafael Salvador. Riva relembra os tempos em que muitos jovens tinham como lazer reunirem-se a noite na Praça da Catedral, nas imediações da famosa lanchonete Daytona. Embalados por um papo animado, o assunto era sempre sobre as “maquinas” que possuíam época em que se sentia prazer sem a necessidade de alimentar os ânimos com qualquer estimulo além da adrenalina própria da idade.
Rivadávia é sobrenome?
É parte do meu nome, ouvi uma história de que o meu pai conheceu um detetive da policia de Piracicaba, que se tornou seu grande amigo. O nome desse policial era Rivadávia, em sua homenagem meu pai colocou-me esse nome.
Como foi a infância do cronista Riva?
Não guardo nenhuma lembrança do meu pai, ele faleceu quando eu tinha apenas 11 meses, meus irmãos tinham quatro e sete anos a minha mãe ficou viúva com três filhos para criar, com muita determinação ela venceu as dificuldades, trabalhando nos serviços mais humildes, como lavadeira, faxineira, passadeira, nós moramos na Rua Moraes Barros, quase esquina com a Rua Bernardino de Campos, em um imóvel que oferecia condições precárias de uso. Aos oito anos eu comecei a trabalhar entregando medicamentos para os clientes da Farmácia Bom Jesus de propriedade do meu tio José Maria Pereira Campos, no inicio entregava a pé, quando cresci um pouco ele adquiriu uma bicicleta para que eu fizesse as entregas, permaneci lá até meus 15 anos.
Onde foram feitos seus estudos?
Entrei no Colégio Dom Bosco aos sete anos de idade onde permaneci até concluir o curso ginasial. De lá fui estudar no Sud Mennucci, indo fazer o curso de contabilidade na Escola de Contabilidade Cristóvão Colombo.
Lembra-se do nome de alguns dos padres que faziam parte do Colégio Dom Bosco no período em que você estudou lá?
Lembro-me do Padre Bolinha, Padre Luiz, Padre Bordignon (Padre Luiz Ignácio Bordignon Fernandes era muito dedicado aos esportes em geral, estava sempre por dentro de todos eles; entendia e sabia tudo sobre campeonatos; olimpíadas; torneios; classificações; favoritos; lanternas). Não tínhamos as facilidades que hoje existe para a prática de esportes, o Colégio Dom Bosco oferecia diversas opções de esportes, era o quintal da nossa casa.
Em algum momento você sentiu-se tentado a seguir a carreira eclesiástica?
Nunca, aos 15 anos tive vontade de ser jogador de futebol, sempre fui corintiano, meu ídolo na época era o Rivelino. Aos 16 anos eu era o quarto goleiro do XV de Novembro de Piracicaba, eu e o Florindo fizemos teste e fomos aprovados para jogar no Santos que tinha a orientação técnica do Formiga e do Olavo. O presidente do XV de Novembro na época era Romeu Ítalo Rípoli, as negociações entre ele e o Santos resultaram na nossa permanência no XV de Piracicaba.
Após a farmácia onde você foi trabalhar?
Aos 18 anos passei a trabalhar como promotor de vendas da Gessy Lever, passando a seguir a exercer a função de vendedor. Aos 21 anos me casei.
Como você conheceu a sua esposa?
A praça em frente a catedral era aberta ao transito de veículos, a noite estacionávamos os nossos carros ali e ficávamos conversando. Em uma dessas noites ela passou me senti atraído e decidi seguir em frente. Estamos casados já há 33 anos.
Os jovens que se reuniam para bater papo formavam um grupo muito animado?
Entre esses jovens estavam o Junior Benetton, Jô Aroco, Abrahão, Zé Português, Nuno, não ingeríamos bebidas alcoólicas, não havia drogas, bebíamos refrigerantes. Gostávamos muito de nos reunirmos para conversarmos, ir conhecer alguma cidade próxima. Uma das nossas ações mais ousadas foi quando abriu a Estrada do Açúcar, íamos com nossos carros para acelerar um pouco mais, não fazíamos nenhuma loucura. Graças a Deus nunca ninguém sofreu algum tipo de acidente nesses nossos passeios. As nove horas da noite encostávamos os carros na praça, ficava bonito, era um grupo de uns vinte jovens. As pessoas paravam para ver. Existiam outros grupos, inclusive de jovens com poder aquisitivo maior, não havia rivalidades entre nós. Nunca tivemos uma briga. Gostávamos da vida! De carros bonitos! Rebaixávamos o motor, colocávamos a famosa roda “tala larga”. Eu tinha um Fusca 1300 troquei o motor por um 2000. Na época o som era TKR ou Roadstar, colocávamos auto falantes 6 por 9, twitter, vidro Ray Ban, degradê, conta giros, volante esporte de madeira, banco retrátil, fone de ouvido, o painel parecia de avião! Gastávamos dinheiro com o que nos dava prazer: o carro! Com 18 anos adquiri o meu primeiro carro financiado em 36 meses, um Fusca.
Qual era a cor desse Fusca?
Esse foi o problema! Eu já estava trabalhando, com um bom salário, fissurado pelo carro, fui até a União de Veículos, o proprietário era Max Weiser, só tinha a cor verde-abacate, acabei adquirindo! O difícil foi o dia em que resolvi vender esse carro!
Após se casar a sua freqüência á Praça da Catedral diminuiu?
Com as responsabilidades de pai de família surgiram novas obrigações. Fui trabalhar em uma empresa familiar que produzia painéis de comando para usinas de açúcar, onde permaneci por muitos anos.
Com que idade você foi cursar Direito?
Com 48 anos fui fazer Direito, que é uma área que sempre gostei, dentro da classe éramos cinco alunos mais maduros convivendo com jovens de até 17 anos. Estabeleceu-se uma relação muito saudável, eles se apegaram a gente como um irmão mais velho, ou mesmo um pai, me senti muito estimado.
Há muitos anos você está integrado a chamada alta sociedade de Piracicaba, como se deu esse acesso?
Aos 24 anos tornei-me sócio do Clube de Campo de Piracicaba, o Aljovil Martini, o Jova, tinha assumido a presidência do clube, sempre gostei da parte social, aos 26 anos fui diretor social do clube, foi na época em que Antonio Lazaro Aprilante foi presidente do clube, a diretoria era composta por Marco Aurélio Nassif, Lastória, Gordinho, Nivaldo Pizzinatto, Celsinho Coelho, Joaquim Fernando. O Aprilante conseguiu constituir uma equipe que trabalhou muito e deu grandes resultados para o Clube de Campo de Piracicaba. Como diretor social eu trouxe Cauby Peixoto, o pessoal da Jovem Guarda a Wanderléia, Jerry Adriani, Os Vips, Golden Boys, Rosemery. Na história do Clube de Campo nunca havia tido um baile de debutantes, consegui fazer dois bailes de debutantes. Há 30 anos sou conselheiro do Clube de Campo. Atualmente os clubes estão enfatizando muito a parte esportiva, eu acho que a parte social não deve ter a sua importância diminuída, ela agrega muito para o clube. Piracicaba é uma cidade que não oferece muitas opções ás pessoas com cinqüenta e poucos anos de idade. Há uma lacuna nessa faixa etária, isso não ocorre em Campinas ou São Paulo.
Há um fenômeno ocorrendo em quase todo país, a redução de freqüentadores de clubes sociais, o que tem tirado os associados dos clubes?
É a oferta de lazer que ele tem em sua própria casa. Antigamente não se ouvia falar em condomínio fechado.
O condomínio fechado é uma nova leitura do conceito de vila existente antigamente?
Condomínio fechado é uma vila de luxo! Essa população tem em seus domínios a sua piscina, churrasqueira, muitos têm quadra de tênis, campo de futebol, é lá que ele reúne seus amigos aos finais de semana. Dentro da sua casa há uma privacidade maior, o fator deslocamento também pesa.
Isso determina um isolamento do individuo?
Se observarmos, há uma tendência das pessoas isolarem-se, por diversos motivos, a violência urbana é um deles, o fato da pessoa ter um veiculo com qualidades que se destaquem, ou possuir um patrimônio mais valioso, poderá colocá-la á mercê de atos de violência, em razão disso há pessoas que declinam de estar em evidência.
Há quanto tempo você apresenta uma pagina publicada pela Tribuna Piracicabana?
Após seis meses de laboratório em 1 de dezembro de 2004 passei a publicar a página com regularidade, ela está completando seis anos. Hoje faço quatro páginas coloridas todas as semanas.
Como surgiu a idéia de fazer essa página?
O meu mandato como diretor social do Clube de Campo de Piracicaba tinha terminado o Gabriel Elias, que é uma pessoa que prezo muito, disse-me: “Você conhece tanta gente, que tal fazer uma pagina social na Tribuna Piracicabana? Eu conheço o diretor Evaldo Vicente, sei que ele irá aprovar o projeto!”. Respondi ao Gabriel: “- Não é a minha praia, nunca fiz isso, gosto de ir a festas e não de trabalhar nelas!” Eu gostava de sair em coluna social!
Quando você viu a sua primeira página publicada qual foi a sua reação?
Guardo comigo essa página. O prefeito Barjas Negri estava em campanha, o registro foi de um evento que aconteceu na Churrascaria Beira Rio, entre outros estavam presentes Barjas Negri, Paulo Skaff, Tarcisio Mascarin, ao ver a página impressa pela primeira vez tive uma sensação muito gostosa, de estar realizando algo interessante. Tive alegria e temor ao mesmo tempo, fazer o registro de um acontecimento social exige muita habilidade e experiência, há pessoas que são avessas a qualquer tipo de divulgação, a privacidade deve ser respeitada. Fazer cobertura de festas é uma coisa, fofocar sobre pessoas é outra coisa.
Pescar noticia social em águas turvas traz popularidade, mas cobra um alto preço?
O meu trabalho é registrar o que acontece nos eventos, faço a parte social dos eventos, jamais irei invadir a privacidade de alguém. Sempre peço a autorização da pessoa para fotografá-la. O meu modo de ser é esse.
Quem são os principais colunistas sociais de Piracicaba?
Temos três jornais, a Meg, a Cileide Mascarin, no Jornal de Piracicaba, a Sabrina na Gazeta e eu na Tribuna, não existe uma rivalidade, são três jornais distintos, cada um com seu público, não há interesse em prejudicar ninguém.
Uma característica sua é ter sempre uma acompanhante?
Em todos os eventos dos quais participo vou acompanhado da minha esposa, se receber um convite em que não possa ir acompanhado dela deixo de ir ao evento.
Freqüentar festas com essa intensidade implica em ter uma autodisciplina alimentar ou corre-se o risco de ganhar muito peso?
Estou com ótimo preparo físico!
Em média quantas fotos você tira por evento?
De 50 a 60 fotos.
Quem é o famoso arroz de festa?
Sempre iremos encontrar na maioria dos eventos com determinadas pessoas, naturalmente elas são convidadas a uma maioria de eventos. Há um grupo que eu não denomino de arroz de festa e sim de pessoas que prestigiam os eventos a que são convidadas. Existem pessoas que gostam de estar presentes em festas, da mesma forma que há aquelas que fogem de qualquer tipo de evento.
Quem é mais vaidoso o homem ou a mulher?
A mulher é mais vaidosa, mas houve uma mudança de costumes muito grande, quando o homem é vaidoso ele se acha muito mais bonito do que a mulher, é o famoso “pavão”.
Como você vê a sociedade piracicabana?
Rotulo a cidade como muito provinciana. Lógico que há alguma mudança, quem era uma criança há 30 anos hoje participa da sociedade. Casava-se com vinte anos, hoje casa-se com 30 anos ou mais. A vinda da Hyundai a Piracicaba trará consigo de quatro a seis mil novas famílias. A sociedade piracicabana nos últimos 10 anos mudou bastante. Atualmente as pessoas são mais retraídas, não desejam publicidade pessoal.
Você tem algum ídolo?
Deus é o meu maior ídolo. Depois dele o meu filho.
Qual é seu prato preferido?
Costela bovina
Bebida?
Cerveja
Fumante?
Sim
Carro preferido?
Honda
Cor?
Preta
Traje predileto?
Social
Musica?
Romântica
Time de futebol?
Corinthians e XV de Novembro de Piracicaba
Religião?
Católica
Esporte predileto?
Futebol
Perfume?
Escada
Ator preferido?
Lima Duarte
Atriz?
Fernanda Montenegro
Livro de cabeceira?
O Evangelho Segundo o Espiritismo
País que deseja visitar?
Rever Portugal.
Melhor jogador de futebol hoje?
Ronaldo do Corinthians

ALTINO JORGE VIEIRA

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 04 de dezembro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADO: ALTINO JORGE VIEIRA
Em um dos cursos de fotografia promovido pela Fuji Photo Film do Brasil um dos participantes perguntou ao renomado professor que ministrava as aulas: “-Qual máquina o senhor considera como a melhor para realizarmos fotografias?”. Imediatamente ele respondeu: “- O fotógrafo com sua sensibilidade e suas habilidades é quem define a importância e a qualidade da fotografia, nem sempre o equipamento mais avançado irá representar o melhor trabalho fotográfico, portanto a melhor “maquina” é o indivíduo que opera a câmera fotográfica”. Altino Jorge Vieira é uma das figuras mais populares de Piracicaba Ainda estudante foi um dos comandantes da famosa Fanfarra do Industrial, que deu muitas alegrias á Piracicaba, tocando no Maracanã por ocasião do IV Centenário da Cidade Maravilhosa. Como fotógrafo trabalhou em um período de grandes mudanças no campo da fotografia, retratou os eventos mais importantes de Piracicaba. O arquivo fotográfico que Jorge mantinha em seu estúdio foi inutilizado após uma forte chuva, que reduziu a lixo a quase totalidade do seu acervo pessoal, uma perda inestimável para ele e para Piracicaba. Jorge teve uma foto sua publicada ocupando metade da primeira página do jornal “Estado de São Paulo”, foi na queda do Comurba. Teve intensa participação junto ao Clube Ítalo Brasileiro, desde o seu surgimento até o encerramento de suas atividades. Nascido em Piracicaba no dia 23 de junho de 1940, na Rua Riachuelo, seu pai era o português Altino Vieira, que aos 19 anos aportou no Brasil, sua mãe é a piracicabana Valdomira Ferraz Vieira, eles tiveram seis filhos, sendo que dois faleceram ainda muito novos. Os filhos que permaneceram vivos são: Antonio, José, Altino Jorge e Manoel. Jorge casou-se com Antonia Lazara Di Bene, sendo pai de dois filhos a Ana Lucia e o Jorge Paulo.
Como se deu a vinda do seu pai á Piracicaba?
Meu pai morou em São Paulo e no Rio de Janeiro, até que a Light começou a implantar os bondes em Piracicaba, ele era chefe de turma dos eletricistas, radicando-se em Piracicaba, tendo contraído matrimonio com a minha mãe ele foi chefiar o setor de eletricidade do Engenho Central, onde se aposentou.
Em que escolas você realizou os seus estudos?
O primário eu estudei no Grupo Escolar Dr. João Conceição que na época funcionava ao lado da Igreja dos Frades, em um prédio que existe até hoje, lembro-me das professoras Dona Maria, Dona Elvira, do professor Conca, do diretor, o Professor Negri. Na época eu morava na Rua do Rosário, na altura do número 1700, cheguei a ver a Rua do Rosário receber o asfalto, uma inovação que na época foi muito desfrutada pela criançada com seus carrinhos de rolimã, algo hoje impensável! O Bairro da Paulista era em grande parte ocupado por plantação de algodão. Na Rua Riachuelo havia até a bem pouco tempo a famosa Chácara do Vevé, a Rua Riachuelo terminava onde começava a chácara, um recinto de milionários. Cheguei a jogar futebol nessa chácara, minha posição era de half direito, o time era o Juvenil Riachuelo. O médico José Francisco Botelho, neto dos proprietários da chácara, era praticamente o dono do time. Eu cheguei a jogar contra o Coutinho (José Wilson Honório, nascido em Piracicaba a 11 de junho de 1946, foi um dos jogadores da Era Pelé do Santos, com quem fazia as célebres tabelinhas.). Onde hoje é o SESC era parte da Chácara do Vevé, assim como a área de lazer logo adiante.
Você freqüentava a Igreja dos Frades?
Cheguei a ser mariano, cordigero. Havia a projeção de filmes em um salão junto à igreja. Sempre tive facilidade em me comunicar, o grande violonista Antonio Carlos Coimbra estudava na minha classe, na festinha de quarto ano primário fui o apresentador e o Antonio Carlos com o violão se apresentou. Isso ficou em minha memória. O pai dele, o Miguelzinho, tocava muito bem violão. O ginásio eu fui estudar no Instituto Piracicabano, no Colégio Industrial conclui os meus estudos formando-me como técnico em Desenho Mecânico. Um dos motivos que me levou a estudar no Industrial era a Banda Marcial existente naquela escola. Além de participar fui um dos dirigentes, dos grandes amigos que encontrei lá um deles foi o professor Danilo Sancinetti. Nessa época, aos 17 anos, eu estudava a noite e trabalhava durante o dia na Casa Bischof , foi o inicio do meu trabalho com fotografia.
Na Banda Marcial da Escola Industrial que instrumento você tocava?
Comecei tocando o bumbo, eu ia á frente da banda, fazendo as evoluções. Ocorreu um episódio interessante, Paulo Clarício, Danilo Sancinetti e eu, acompanhando a Banda Marcial da Escola Industrial fomos a um concurso de bandas em São Paulo, o nosso uniforme era muito simples, a representação da cidade de Jaú deu um tremendo show. Ao voltarmos á Piracicaba, disse ao Danilo que deveríamos fazer uma campanha para arrecadar dinheiro e confeccionar um uniforme para a nossa banda. A nossa banda era muito querida, todos os grandes eventos cívicos que ocorriam na cidade eram efusivamente comemorados com a participação da Banda Marcial da Escola Industrial. Nessa época eu já fotografava os eventos, usava uma câmera Rolleiflex. O Comendador Antonio Romano foi quem deu-nos o empurrão inicial para a aquisição do uniforme. Reunimos um pequeno grupo e expusemos ao comendador o nosso plano, queríamos comprar um automóvel para sortear, com o dinheiro arrecadado pagaríamos o carro e empregaríamos o lucro na compra de 90 uniformes de gala, completos, para 90 pessoas, era caríssimo. A alfaiataria que fazia esse tipo de uniforme localizava-se na cidade de Jaú, tudo feito sob medida para cada integrante da banda. A Silvia Hage era nossa baliza, mais tarde ela foi eleita Miss São Paulo. O Comendador Antonio Romano disse que poderíamos adquirir o carro que ele avalizava a aquisição. O carro da época era o Gordini! Onde hoje é o Bradesco, na Praça José Bonifácio, era o Cine Politeama, havia um hall na entrada do cinema, conseguimos expor ali o Gordini que seria rifado. Com o uniforme da Banda Marcial revezávamo-nos oferecendo a rifa. A aceitação por parte do povo piracicabano foi tão grande que em uma semana vendemos todos os números, a nossa previsão era para serem vendidos no prazo de um mês. Devolvemos o dinheiro para o Comendador Antonio Romano. Ele doou do seu próprio bolso um valor adicional, assim como o Comendador Mário Dedini e o Comendador Luciano Guidotti também fizeram doações pessoais. Com essas arrecadações confeccionamos um uniforme muito garboso, lembrava muito o uniforme do soldado da rainha da Inglaterra. Foi feita uma grande apresentação em Piracicaba para apresentar o uniforme á cidade. Apresentamo-nos em São Paulo, tínhamos um toque muito bonito, que incluía marcha de banda, mas incluía também musica popular. Os concursos realizados no Vale do Anhangabaú apresentavam 40 a 50 bandas, eram enormes. A comissão julgadora era composta por militares de alta patente, o próprio governador Adhemar de Barros assistiu nossos desfiles. Quando a nossa banda entrou, arrasou. Isso foi em 1963. Apareceram convites de muitas cidades para que fossemos nos apresentar aos seus moradores. Viajamos por mais de 40 cidades. Lotávamos três ônibus. A televisão transmitia os desfiles do Vale do Anhangabaú. Com isso alcançamos uma repercussão muito grande.
Como era a composição da Banda Marcial do Colégio Industrial?
Á frente ia a baliza, em seguida três harpas, umas três porta bandeiras, duas fileiras com quatro bumbos cada uma, em seguida vinham 10 surdos, umas 20 tarolas, em seguida os instrumentos de sopro, incluindo dois trombones, totalizando 90 pessoas. Era uma coisa maravilhosa. Em 1964 houve os Jogos Mundiais da Primavera no Rio de Janeiro, foi realizado no Maracanã. Estivemos lá, tocando ao lado da famosa Banda dos Fuzileiros Navais, por ocasião do IV Centenário do Rio de Janeiro, o governador Carlos Lacerda foi nosso anfitrião.
O que determinou o fim da Banda Marcial da Escola Industrial?
É difícil afirmar especificamente o que aconteceu. Por mais de 10 anos tivemos muito sucesso em todos os lugares em que nos apresentamos. Participávamos de muitos concursos entre bandas, lembro-me de um concurso em Araraquara onde de 10 troféus conquistamos sete! Ganhávamos troféu de melhor apresentação, melhor repertório, ritmo, e assim sucessivamente.
Como era o ensaio?
Ensaiávamos uma vez por semana, na rua próxima a Escola Industrial, também no local onde atualmente é a Biblioteca Municipal. O evento que você imaginar era abrilhantado pela banda, até mesmo no sepultamento do Comendador Mário Dedini, nós executamos a marcha fúnebre. Quando éramos convidados a tocar em outras cidades era comum sermos a última banda a tocar para não desmotivar a platéia a assistir as demais, com apresentações inferiores a nossa. Nosso desfile em Piracicaba descia pela Rua Boa Morte, todo colégio tinha a sua fanfarra, nenhum fazia sombra para nós, embora o Colégio Dom Bosco, o Instituto Piracicabano e mais tarde o Jerônimo Gallo tivessem boas fanfarras.
Quando foi o momento em que se decidiu que não dava mais para continuar a existir a fanfarra do Colégio Industrial?
Não houve um momento determinante, com o passar do tempo os instrumentos foram deteriorando-se, os uniformes também foram gastando-se, quando o Danilo Sancinetti aposentou-se mudou a diretoria do Colégio Industrial, a escola então recolheu os instrumentos e hoje nem sei mais em que situação se encontra. Os jovens da época tomaram seus destinos, a nova geração infelizmente tem novas formas de ocupação de seu tempo, algumas até prejudiciais a sua educação.
As músicas eram tocadas de ouvido?
Exatamente, eram tocadas de ouvido, não líamos as notas musicais para serem executadas.
Quando foi despertado o seu interesse pela fotografia?
Na época as coisas eram um pouco diferentes do que é hoje, eu fiz amizade com os proprietários da Casa Bischof, situada na Rua Governador Pedro de Toledo, 1005, os proprietários eram o Rodolfo e o José Bischof. Eles tinham um laboratório de revelação de fotografias que o pai tinha construído e que estava sem ser utilizado. Nós só revelávamos fotografias em branco e preto, não existiam fotos coloridas. Os filmes eram revelados em tanques grandes com revelador, água e fixador. Havia o ampliador, mas usavam-se mais a copiadeira. “A parte mais difícil era após revelar, saber qual foto perterncia a quem”! Os filmes eram chapas grandes, 6 por 9, 6 por 6, com 8 e 12 fotos respectivamente.
As fotografias tinham quais motivos principais?
Eram fotografadas crianças, cães e gatos. Ninguém da família tirava fotos de eventos, se fizesse um aniversário era contratado um fotografo profissional, que na época eram poucos, isso em 1960. Na ocasião os fotógrafos de destaque eram o Lacorte, o Caprecci, o Filetti, o Cícero. Na Vila Rezende tinha o Mário Curvinha, ficava na segunda casa após a curva em que inicia a Avenida Rui Barbosa.
Você chegou a fotografar pessoas falecidas antes de serem sepultadas?
Muitas pessoas vindas de outras regiões do país tinham por costume guardar como lembrança a foto do rosto do falecido, principalmente se fossem crianças. Essas fotografias eram muito utilizadas para serem transpostas para a porcelana e colocadas nos túmulos. Houve um caso em Piracicaba que se tornou célebre, ocorreu com o Filetti, a pessoa veio de algum sítio da redondeza, procurou um fotografo para retratar o rosto da criança falecida, só que já era tarde, não dava mais para sepultar naquele dia. Foi quando o responsável pediu para deixar o corpo no estúdio até o dia seguinte. E assim foi feito. Em 1965 eu já era reconhecido como fotógrafo. Quase ninguém tinha máquina fotográfica. Assim como existia o médico da família, o barbeiro da família havia também o fotógrafo da família. A foto da capa do primeiro LP do Pedro Alexandrino foi feita por mim. Fui free-lance de “O Diário”. A foto da queda do Comurba, em 1964 aconteceu quando eu estava na porta do Bischof, ouvi o enorme barulho, meu irmão Antonio era proprietário da relojoaria Esmeralda, que era bem próxima ao Comurba, na hora pensei no que podia ter acontecido á ele. Graças a Deus ele estava no fundo da relojoaria. Pequei a minha máquina Yashica e tirei algumas fotos, não se tirava a quantidade de fotos que se tira hoje.
Como a sua fotografia foi ocupar metade da primeira página do “Estadão”?
O Rocha Netto foi um apaixonado por fotografia, era colaborador da Gazeta Esportiva. Ele disse-me: “- Jorge você tem alguma fotografia da queda do Comurba, o Estadão me ligou pedindo.”, foi então que lhe passei a fotografia que dias depois foi publicada na primeira página do jornal.
Você recebeu algum pagamento pela foto?
Não recebemos nada, naquele tempo não havia essa postura comercial como hoje. Ninguém se preocupava em ser remunerado por alguma foto interessante. Era um prazer ver uma foto de sua autoria ser publicada em um veiculo tão importante. Colaborei muito com a imprensa de Piracicaba, nunca cobrei nada, eu ganhava dinheiro fazendo fotografias de eventos. Tirei uma foto histórica, no dia em que o Presidente Emílio Garrastazu Médici veio a Piracicaba, fotografei quando ele descia a Rua Moraes Barros, a rua foi isolada e o fluxo de transito passou a ser na mão contraria para que o carro presidencial fizesse o percurso até o centro. Fotografei Ulisses Guimarães em Piracicaba, fotografei Janio Quadros em um jantar na Chácara Nazareth eu dei essas fotos para o Deputado Francisco Antonio Coelho.
Você mantém um arquivo de fotos e negativos?
Eu tinha um estúdio na Rua Benjamin Constant, 1123, as calhas do prédio eram antigas. No fundo havia um quarto, onde fiz uma prateleira, com umas 100 caixas de sapato onde eu colocava as fotos e os negativos, bem organizados. Em 1988 tivemos uns três dias de chuvas constantes, que transbordaram pelas calhas do meu estúdio sem que eu percebesse. Uns dias após ter cessado a chuva desci até um laboratório desativado que ficava no porão, fui surpreendido por sinais de água que vinham de cima. Abri a sala onde estava meu arquivo fotográfico e vi que estava tudo perdido. Chorei o dia todo.
Quando você entrou no Clube Ítalo Brasileiro?
Eu tinha uns 30 anos, entrei no Ítalo por acaso, a sede da Sociedade Italiana (Società Italiana di Muto Soccorso di Piracicaba) na Rua D.Pedro I, estava parada, de vez em quando os sócios faziam uma reunião. O Banzato era o zelador do prédio. O Walter que tinha como apelido Italianinho me procurou e disse que o seu pai queria movimentar o espaço. Foi formada uma diretoria, independente da diretoria e fundado o Clube Ítalo Brasileiro, que funcionava em espaço cedido pela Sociedade Italiana. Fomos agrupando pessoas interessadas, montamos algumas peças teatrais, onde inclusive atuei, a primeira delas foi a peça “O Mundo Não Me Quis” de Procópio Ferreira.. Aos poucos conquistamos mais espaço físico no prédio da Sociedade Italiana, passamos a realizar bailes, sendo que o primeiro baile do Hawai realizado em Piracicaba foi trazido por mim, que havia participado de uma festa semelhante em Jundiaí. O Professor Joaquim do Marco foi o primeiro presidente do Clube Ítalo Brasileiro, eu fui diretor social. Começamos com 100 associados, com o passar do tempo adquirimos a área onde seriam construídas as instalações do clube. A ferragem da primeira piscina foi doada por Armando Dedini, coube-lhe o título de associado número 007. Passamos a fazer festas já na sede do clube.
Porque os clubes sociais estão em declínio?
As atividades do Ítalo cessaram em 2008, chegamos a ter 2.200 sócios, ultimamente eram apenas 300 sócios. A família ia ao clube, o menino ia ao futebol, á piscina, ao boche, outros dançavam cada um se encontrava em uma ocupação. Atualmente o jovem não quer saber de ficar com a família.

sexta-feira, dezembro 10, 2010

CLEUSA BELLINI – ASSOCIAÇÃO DOS PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS - APAE PIRACICABA

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 06 de novembro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADA: CLEUSA BELLINI – ASSOCIAÇÃO DOS PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS - APAE PIRACICABA
O grande salto tecnológico que a humanidade deu no último século infelizmente não teve a mesma correspondência em eliminar preconceitos enraizados por algumas culturas. Ao nascer um ente querido, caso ele seja portador de necessidades especiais, para algumas famílias despreparadas é gerado um mal estar, um complexo de culpa, que acarreta na atitude mais primária, que é esconder o “problema” da sociedade. Diante da mesma situação, outros se realizam como verdadeiros pais descobrem-se senhores de um carinho infinito com relação a um filho especial. O desenvolvimento da ciência e da tecnologia tem feito grandes progressos para dar melhores condições de vida e realizar a inclusão social do portador de necessidades especiais. A prevenção e tratamento do portador de necessidades especiais avançaram muito. Já ao nascer uma criança deve fazer o Teste do Pezinho, que é um exame rápido de prevenção onde são coletas gotinhas de sangue do calcanhar do bebê com a finalidade de impedir o desenvolvimento de doenças que, se não tratadas, podem levar à deficiência intelectual e causar outros prejuízos à sua qualidade de vida. Através do Teste do Pezinho podem ser diagnosticadas a Fenilcetonúria, o Hipotireoidismo Congênito, a Anemia Falciforme, a Fibrose Cística e demais Hemoglobinopatias. Para que a prevenção seja possível, a coleta deve ser efetuada na primeira semana de vida da criança e as amostras devem ser enviadas o quanto antes para o laboratório. Hoje toda a criança nascida em território brasileiro tem direito ao Teste do Pezinho Básico, totalmente gratuito. Em Piracicaba a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais é administrada por Cleusa Bellini. Instalada em prédio recém-inaugurado com salas amplas e planejadas para a função a que se prestam, e aparelhos necessários á atividade específica. Há de salientar-se que todos que trabalham na APAE exalam um imenso amor ás “suas crianças”. Cleusa Bellini é vila rezendina convicta, nascida em 22 de dezembro de 1949, é formada em Economia pela UNIMEP. Atuou em empresas como a Motocana, do Grupo Dedini, Caterpillar do Brasil e Votorantin. Em 17 de novembro de 1998, já aposentada, ingressou na administração da APAE, que possui 25 diretores e cujo presidente é Paulo Odair Correr.
A APAE de Piracicaba conta com quantos funcionários?
São 80 funcionários, temos 280 alunos, para o próximo ano há uma lista com mais 200 candidatos, que passarão por uma triagem. A escola já se tornou pequena, embora caibam 300 alunos. Quando mudamos para este local estávamos com 219 alunos. A demanda é muito grande.
Qual é a faixa etária dos alunos?
A partir de 2012 a Secretaria Estadual de Educação não irá mais assumir os alunos com mais de 30 anos, ela já nos comunicou a respeito. Esses alunos serão excluídos do convenio com a Secretaria. Atualmente temos em nossa APAE 65 alunos com idade superior a 30 anos, no próximo ano estaremos estudando uma solução que deverá ser tomada com relação a esses alunos.
Qual é a idade mínima para ser atendendo pela APAE?
Não há idade mínima, temos crianças com zero ano de idade até o nosso mais velho, com 52 anos.
Que atividades são realizadas na oficina?
Os alunos trabalham com madeira, tapetes, camisetas, bijuterias, pinturas em gesso, madeira. A nossa oficina é pequena, para o número de alunos que nós temos.
Como é feita a captação de recursos?
Você pode observar os cuidados e a boa qualidade das nossas instalações. Fico até constrangida em dizer que apenas 30% das nossas necessidades são atendidas pelos governos federal, estadual e municipal. O nosso custo mensal é de 170 mil reais, incluindo folha de pagamento, impostos. O prédio em que estamos instalados foi construído no ano passado, pela Prefeitura Municipal, cedido para nosso uso em regime de comodato. O convenio federal é uma vergonha, abri esse convenio em 1998, recebendo por mês R$ 5.085,00 esse valor é exatamente o mesmo até hoje, não sofreu nenhum tipo de correção. As nossas despesas aumentaram nesses 12 anos.
Como a senhora consegue complementar a verba necessária para o funcionamento da instituição?
Saio na batalha todo mês. Graças a Deus até o momento, com muito esforço temos conseguido recursos para continuar o nosso trabalho. Fazemos todos os tipos de eventos possíveis, como a venda de pizzas, bingos, rifas, jantares, almoços. Sempre buscando angariar recursos. Temos no Brasil 2085 APAE, participamos da federação nacional das APAE, há muitas APAE de cidades em que o município ajuda muito. Posso afirmar que em Piracicaba o único prefeito que enxergou a nossa APAE foi o prefeito Barjas Negri. Temos atualmente 3.300 metros quadrados de área construída em uma área total de mais de 6.000 metros quadrados. A APAE de Piracicaba foi fundada em 29 de janeiro de 1986, nesses 24 anos ela nunca tinha saído do lugar. Quando entrei na instituição ela funcionava na Rua Monsenhor Rosa, em uma casa velha, em péssimas condições, com um quadro de 10 funcionários e 45 alunos. Eu me sentia mal naquela situação. A própria alimentação dos alunos era muito precária.
Como é hoje a rotina do aluno?
Ele chega à escola sendo conduzido pelos pais, ou com o sistema de transporte Elevar, que trás o aluno cadeirante, e são muitos nessa condição, há também o transporte feito por peruas particulares. Ao adentrar a escola ele toma o café da manhã composto de leite com chocolate, pão que é feito em nossa própria padaria, esse pão que o aluno consome é com manteiga, ou patê e uma fruta. Há aqueles que têm uma alimentação diferenciada pela sua limitação física, requerem maiores cuidados. As “minhas crianças” comem muito bem aqui, luto muito para isso. Toda sala de aula tem uma professora e uma auxiliar, é praticamente impossível apenas uma professora cuidar de uma classe. Temos atualmente 13 salas de aulas. Os alunos da escola ás 11 horas e 30 minutos voltam para as suas casas. Aqueles que freqüentam a oficina permanecem em tempo integral, temos 50 crianças nas duas oficinas. Temos empresas como a Caterpillar, Delphi, Waller, que formalizaram contrato conosco, onde os alunos saem da nossa escola pela manhã dirigem para trabalharem como aprendizes nessas empresas e voltam para a escola ás 16 horas e 30 minutos. Eles trabalham com embalagem, na contagem. São acompanhados por uma monitora. É interessante observar que realizam suas tarefas com extrema competência. A nossa escola oferece desde o ensino fundamental até o treinamento para que possam atuar no mercado de trabalho. No ano passado tivemos 35 aprendizes que passaram a integrar o quadro regular de funcionários em diversas empresas.
A padaria existente na APAE forma alunos na profissão?
Um dos objetivos é ensinar os alunos a trabalharem em panificação e confeitaria. Um padeiro profissional os orienta. Temos 5 ex-alunos no setor de panificação do Wal Mart., trabalhando registrados como profissionais. Na Kraft Foods Brasil S/A tem mais de uma dezena de ex-alunos trabalhando como profissionais. Na Santa Casa de Piracicaba há ex-alunos trabalhando.
Como é a relação desses aprendizes com os funcionários efetivos dessas empresas?
Muito boa! Temos um aluno trabalhando na CETESB, os funcionários o adoram, não sabem o que fazer por ele. A cada seis meses fazemos uma reunião com essas empresas, onde são abordados diversos aspectos da nossa parceria, e com muita satisfação recebemos elogios aos nossos alunos.
Esses alunos usam o salário de que forma?
Acredito que são orientados pelos pais para aplicarem bem esses recursos. A maioria deles é bem independente, freqüentam shopping, namoram. No ano passado tivemos dois casamentos de alunos, inclusive de casal de deficientes que já tiveram um filho perfeitamente normal. Temos em nossa escola uns cinco ou seis alunos que são casados e pais de filhos sem nenhuma necessidade especial.
O nome da instituição é de “Amigos e Pais” Quem pode ser amigo dos excepcionais?
Qualquer pessoa que deseje ajudar. Estamos instalados na Av. Brasília 1381, Vila Industrial, Telefone: 3413-1233.
A deficiência mental tem diversas origens?
Há centenas de doenças que podem ocasionar essa anomalia, há o fator genético e mais recentemente houve um acréscimo substancial em decorrência do uso de drogas pelos pais. No meu ponto de vista acredito que os governos federal, estadual e municipal deveriam dar mais atenção ao aumento de pacientes portadores de deficiências. É preocupante como cresce o numero de crianças com necessidades especiais. Temos casos de acidentes de transito que transformaram em deficientes pessoas normais.
Se gasta muito mais tratando do que prevenindo?
Um aluno custa para a nossa escola um “per capita” de R$ 900,00. Há setores, como o carcerário, que consomem o dobro “per capita”. O governo não enxerga situações como a nossa, a entidade funciona por estar sendo administrada pela iniciativa de pessoas de boa vontade e graças à sensibilidade de parte da população.
Há alunos que recebem aulas de educação física?
Temos alunos que praticam canoagem na Rua do Porto, orientados pelo nosso professor de educação física, Alan Annibal Schmidt. O SESI cede as instalações para a prática de esportes.
Há fatos marcantes que ocorreram com alunos?
Há sim, alunos que adquirem a capacidade de andar, falar. É maravilhoso!
A relação é mais difícil com os alunos ou com seus pais?
As maiores dificuldades encontraram com os pais. Alguns pais deixam seus filhos conosco sem se importarem com o que acontece com a criança. Já tive que ser muito enfática em algumas reuniões de pais. Há também pais extremamente zelosos e carinhosos. O ambiente doméstico pode afetar muito a conduta de uma criança.
A classe social a que a família pertence determina a conduta da mesma com relação a criança?
Temos um grande percentual de alunos pertencentes a classes menos favorecidas. Há também filhos de famílias abastadas que freqüenta a APAE. O fato de ter melhores condições financeiras não implica que essa criança receba um melhor tratamento por parte dos pais. Alguns aparentam certo desprezo pela situação do filho. Temos em nossos quadros pedagogas, médicos, dentistas, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, assistente sociais, são profissionais experientes, em alguns casos acredito que são mais carinhosos do que a própria família do aluno. Algumas crianças não querem voltar para casa, querem permanecer na APAE.
Há algum vinculo religioso da APAE?
Não há nenhuma influencia religiosa.
Quanto um pai paga para ter seu filho na APAE?
Não há obrigatoriedade de pagamento. Caso queira contribuir cada um dá o que acha que pode. Alguns não dão absolutamente nada. Há um caso que é gritante, sabemos que se trata de pessoa com bom poder aquisitivo, mas que contribui com uma quantia totalmente irrisória.
Há biblioteca na APAE?
Atualmente não temos espaço pra ter. Pretendo colocar uma sala de música, um teatro, um ambulatório, eu gostaria muito de fazer um salão de festas, nós fazemos muitas promoções. O Lar dos Velhinhos é muito atencioso conosco, eles cedem o salão de festas deles quando realizamos nossos eventos para angariar recursos. Recentemente fizemos uma bacalhoada para 600 pessoas. No dia 17 e 18 de dezembro, as 19 horas, alguns alunos estarão fazendo uma apresentação teatral na Estação da Paulista
Há alguma colaboração na aquisição de medicamentos?
Geralmente a própria família providencia os medicamentos, mas há casos em que nós adquirimos ou recebemos doações da Rede Drogal, da Farma Vip.
Os diretores da APAE são necessariamente pais de alunos especiais?
A diretoria é formada por 25 voluntários, sendo que apenas quatro tem filhos com necessidades especiais.
Com a sua experiência a senhora tem, acha que pode ter muitas pessoas que levam uma vida normal, mas nem imaginam serem portadoras de leve deficiência mental?
Acredito que isso seja possível sim.

sábado, novembro 20, 2010

MARIA APARECIDA BISMARA REGITANO E ANTONIO REGITANO

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 20 de novembro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADOS: MARIA APARECIDA BISMARA REGITANO E ANTONIO REGITANO

O casal de professores Maria Aparecida e Antonio acabou de chegar de uma viagem a Santos, com ele ao volante do seu carro. Muito animados, com o entusiasmo de adolescentes, ambos enchem de alegria o ambiente. Ele nasceu quando sua família morava na Rua do Rosário esquina com a Rua Rangel Pestana, em Piracicaba, a 23 de setembro de 1931, filho de Amadeu Regitano e Isaura Sartini e ela nasceu na Fazenda Barreiros Luiz da Costa, em Tietê, no dia 18 de abril de 1934 é filha de Antonio Bismara e Maria da Costa Bismara. Antonio é conhecido pelos amigos como “Lemão”, uma corruptela de “Alemão” e Maria Aparecida é conhecida como “Cidinha”. Ambos ministraram aulas para centenas de alunos, foram professores em uma época em que a profissão era reconhecida e valorizada, a população reverenciava aqueles que transmitiam o conhecimento em salas de aula, a remuneração era a altura da função. Em um período em que a indústria automobilística implantava-se no país, recorria-se a diversas alternativas como meio de locomoção. O casal Cidinha e Lemão marcou época ao transitarem pela cidade em uma vistosa Lambretta. Como fosse feita de elástico, à medida que a família crescia ia adaptando-se ao veículo, chegando a cruzar as ruas com o casal e mais três filhos a bordo. Situação impensável nos dias atuais com transito pesado e legislação rigorosa. Cidinha lembra-se com saudades dos tempos em que Tietê produzia as goiabadas e marmeladas tão famosas, do curso de História e Geografia que iniciou na USP, na época funcionando no prédio da Rua Maria Antonia, local que mais tarde entrou para a história pela participação política dos seus alunos. O casal lembra-se do menino Gilbertinho, correndo pelas dependências da casa em folguedos infantis, mais tarde esse garoto tornou-se o apresentador conhecido no Brasil, o famoso Gilberto Barros. A vida de Lemão e Cidinha retrata a vida de muitos casais de professores de determinada época, e também por isso mesmo tornou-se emblemática de um período da nossa história. Lemão resgata uma expressão peculiar e utilizada na época, para dizer que em determinado local havia boas probabilidades de professoras disponíveis para o casamento, um verdadeiro mapa da mina, dizia-se que ali era o “Tufo do Anel Verde”!

Lemão, o seu pai tinha qual profissão?

Ele foi um dos bons sapateiros existentes em Piracicaba, tinha o seu estabelecimento na Rua Governador Pedro de Toledo, em frente ao Hotel dos Viajantes. Esse hotel situava-se na esquina do Mercado Municipal, onde hoje há uma farmácia, no hotel havia um jardinzinho, meu pai tinha uma portinha onde havia uma oficina de concertos e venda de sapatos. O meu avô tinha uma sapataria logo adiante, próxima ao local onde hoje é o Hotel Esplanada, em frente ao Mercado Municipal. Seus vizinhos eram o atacadista Sebastião Ferraz e o armazém de secos e molhados do Romualdo Bertozzi. Onde é o Hotel Esplanada era a loja do Tannus Neder, pai do cirurgião dentista, Dr. Antonio Carlos (Lalo) Neder, que é filho de leite da minha mãe, ele costuma dizer quando me vê: “- Esse ai é meu irmão de leite!”.

Quantos filhos seus pais tiveram?

Cinco filhos: Maria Loreley, Antonio, Amaysa (Mãe do apresentador Gilberto de Barros), Arlete e Vicente.

E seus pais professora Maria Aparecida?

Éramos seis filhos: Luiz Antonio, Agostinho, José Leônidas, João da Mata, Maria Adelaide e Maria Aparecida.

O senhor tem contato com o sobrinho famoso, o Gilberto de Barros?

Tenho pouco contato, de vez em quando ele telefona, entrou para a televisão nem que não queira a vida segue outro ritmo, de vez em quando ele fica até 20 minutos ao telefone, falando conosco enquanto desloca-se de um ponto a outro no trânsito paulistano. Ele foi narrador de futebol, crooner de orquestra. ( Nesse momento Lemão dirige-se até sua discoteca e traz um LP gravado por Gilberto Barros, com uma dedicatória especial aos tios queridos). A prefeitura de Piracicaba fez uma homenagem a Gilberto Barros.
Prof. Antonio, onde o senhor realizou seus estudos?

Freqüentei o Grupo Escolar Barão do Rio Branco, o Externato São José fiz a quarta série, meus pais mudaram da Rua do Rosário para uma das casinhas humildes que havia na Rua Rangel Pestana, junto ao local onde hoje é o Instituto Piracicabano, depois é que ele abriu a sapataria e mudamos para a Rua Governador. Isso no tempo em que fabricavam sapatões, com cravos (pregos) de madeira, e iam vender nos sítios.

O senhor chegou a trabalhar na sapataria?

Houve um tempo em que fiz bastantes chinelos, eu devia estar estudando no ginásio. Lembro-me de ter levado um amarrado de chinelos, uma dúzia ou mais, para os seminaristas do Seminário Seráfico São Fidelis. Nas proximidades da hoje Praça Takaki havia um sapateiro que processava o material cortado pelo meu pai, e fazia calçado, o que hoje chamaríamos de terceirização de mão de obra, algumas vezes fui levar esse material e passava pela Rua do Rosário, um detalhe curioso é que na esquina da Avenida Edgar Conceição com Rua do Rosário havia um ponto de ônibus proporcionando uma aglomeração de passageiros à espera de condução. Atualmente vemos essa cena na Praça Takaki. Eu subia a Rua do Rosário com uma bicicleta Philips, fabricada em 1950 e adquirida na Casa da Chave, situada na Rua Prudente de Moraes entre a Rua Governador Pedro de Toledo e a Rua Santo Antonio. Quando eu estava no ginásio meu pai fabricou um Keds para mim. (Por um período Keds era a denominação para o que hoje chamamos de tênis, Keds foi a primeira indústria a fabricar sapatos com sola de borracha, em 1918), ele era muito habilidoso, fabricava o que hoje denominamos calçados ortopédicos. O calçado “Alpargatas” era feito de lona com solado de corda, conhecido popularmente como “enxuga-poça”, quando molhava a sola estufava. Era um produto que o meu pai vendia muito, vinham em caixas de papelão, transportadas pela Cia. Paulista de Estradas de Ferro. Muitas vezes vim buscar ou despachar mercadorias pela Paulista. Havia um carroceiro famoso que fazia as entregas, lembro-me da sua fisionomia, um homem magro, quando ele melhorou de vida adquiriu uma espécie de camionete. Sofreu um terrível acidente e achou mais prudente voltar a usar veiculo de tração animal.

O senhor continuou seus estudos em que escola?

A partir da segunda série ginasial passei a estudar na Escola Normal, hoje Instituto Sud Mennucci. Em 1951 me formei como professor. Nesse período acompanhava o trabalho do meu pai na sapataria, ele tinha horror à idéia de eu tornar-me sapateiro. A meta dele era proporcionar a melhor formação para os filhos. Eu gostava de montar calçados, quando mudei para Maristela no Município de Laranjal Paulista, montei um banquinho de sapateiro, uma mesa baixa, de madeira, medindo 50 x 50 centímetros, com as divisões feitas por sarrafos de madeira onde eram colocados os diversos tipos de pregos e tachinhas necessários ao oficio. Existia uma gaveta, meu pai dizia que a gaveta de sapateiro era uma bagunça, mas as ferramentas necessárias a prática da profissão eram muitas, tinha a lamparina para esquentar ferramentas, como o pé de porco, uma ferramenta utilizada para dar lustro na beiradinha da sola.

Quando o senhor era jovem quais atividades de lazer eram comuns?

Uma das mais comuns era ir até a Escola de Agronomia Luiz de Queiroz onde o meu tio Pedrinho Regitano foi bedel e era muito querido. Eu me reunia a seus filhos e íamos juntos saborear uma variedade enorme de frutas existentes na Escola Agrícola, como denominávamos a ESALQ. Costumávamos ir a pé pela Avenida Carlos Botelho com seu chão de terra nua ou de bonde, geralmente desviando a medida do possível do cobrador, uma prática comum entre muitos passageiros desprovidos de carteiras recheadas. Iamos até o Campo de Aviação, atual Aeroporto Comendador Pedro Morganti.

Como era denominada uma cidade ou localidade com grande número de professoras candidatas ao matrimônio?

Dizia-se que “Era o Tufo do Anel Verde”, ou seja, o mapa da mina. Uma referência ao anel de professora, uma jóia com pedra da cor verde, o anel de formatura era um acessório muito utilizado pelos profissionais de cada área. Quem se casava com professora tinha garantia de vida estável! Minhas irmãs foram lecionar na Alta Paulista e eu fui lecionar na Alta Sorocabana, em Presidente Venceslau, a Helena Cosentino é que me arrumou uma substituição naquela localidade, no Grupo Escolar Dr. Álvaro Coelho. Daqui até lá eram 24 horas de viagem, sendo que 18 horas eram de trem “Ouro Verde” da Sorocabana, era uma região constituída com casas modestas feitas de madeira, isso foi em 1952. Eu me hospedava em uma pensão com outros cinco professores. O professor tinha salário equivalente ao do promotor público. Um tio da minha mulher era chefe da Casa da Lavoura, meu salário era igual ao dele.

Que traje o senhor usava para lecionar?

Usava um blusão de shantung (Tecido originário de Chan-tung, China, produzido com fio de seda.), zíper na frente, não era permitido abrir o zíper e com gravata.

Dona Cida a senhora formou-se em Tietê?

Estudei no Grupo Escolar Luiz Antunes, depois cursei a Escola Normal Plínio Rodrigues de Moraes, onde fiz ginásio e curso normal. Formei-me em 1953.

Lembra-se dos famosos doces de Tietê?

Sim, e lembro-me de que a Dona Celica era uma das grandes doceiras, fazia doces de goiaba e marmelo, colhi muito marmelo, é uma fruta que dá na ponta de uma vara fina, ela tem o aspecto de um pêssego muito grande, pele grossa e bem amarela, ao natural é uma fruta horrível de se comer, para fazer o doce é necessário cozinhá-lo, passar por uma peneira e depois apurar o doce. Vi fazer doce por muitos anos.

Após tornar-se professora a senhora continuou seus estudos?

Em 1954 ingressei na Universidade de São Paulo, fazia o curso de geografia e história, localizado na Rua Maria Antonia, em São Paulo, fiz o primeiro ano do curso.

Como o senhor conheceu Dona Maria Aparecida?

Em, 1954 houve um baile na Associação Esportiva de Tietê, e a Rainha de Laranjal Paulista, conhecida como Neguinha Salto, filha do prefeito da época, precisava de um rapaz que fosse alto para formar par com ela, na época eu lecionava em Maristela, que pertencia a cidade de Laranjal Paulista. Dançamos a valsa, fiz o papel que chamavam de primeiro-ministro, ela mais alta do que eu. Ao termino da valsa tomamos cada um o seu rumo, não tínhamos nenhum compromisso. Eram festas lindas, com orquestra. Fui tirar uma moça para dançar, levei uma “tábua”, ela não sabia dançar. Abaixei a cabeça, virei de outro lado e convidei a Maria Aparecida para dançar, isso foi em 16 de outubro de 1954. Estamos dançando até hoje!

A senhora retornou a Tietê e passou a lecionar?

Fui dar aula no Grupo Escolar Rural Dona Isabel Alves Lima em Maristela, substituir a professora Dona Idalina Pivetti Piccolo. Estávamos namorando, após um ano e três meses casamos em Tietê. Em 15 de dezembro de 1959 mudamos para Piracicaba. A minha casa é de 1961, construída pelo famoso construtor piracicabano Alfredinho Romano, as casas construídas por ele levam seu estilo inconfundível, estão espalhadas por diversos bairros de Piracicaba, há um quarteirão quadrado inteiramente ocupado pelos conhecidos “sobradinhos do Romano”, construídos em parceria com o Comendador Antonio Romano. Meu marido havia sido removido para Cillos. Fui chamada para escolher a minha cadeira, escolhi a Escola Típica Rural do Olho D`Água, na estrada de Piracicaba a Laranjal Paulista, um pouco depois do Arraial de São Bento, distante a uns 32 quilômetros, ia de ônibus, em estrada de terra. De lá fui lecionar na Escola do Bairrinho, para mais tarde lecionar na Escola Estadual Profa. Mirandolina Almeida Canto, em seguida lecionei na Escola Estadual Dr. João Conceição, onde me aposentei.

Como o senhor ia dar aula em Cillos?

Ia pelo trem da Paulista. Ir era fácil, difícil era voltar! O trem só passava bem mais tarde. Pegava carona com algum caminhão de cana e ia até Santa Barbara D`Oeste onde apanhava o ônibus até Piracicaba. De Cillos fui dar aula no Instituto de Educação Comendador Emílio Romi. Fui convidado a ficar no Setor de Orientação Pedagógica que funcionava na Escola Estadual Olivia Bianco. De lá fui lecionar por 16 anos na EE Prof. Antonio Mello Cotrin.
                               Lemão e o seu primeiro automóvel
Quantos filhos nasceram desse casamento?

Tivemos quatro filhos: Marisa, Amadeu, Jonas e Miriam. Freqüentávamos o Clube de Regatas, meus filhos aprenderam a nadar no Rio Piracicaba, não havia poluição. Tinha trazido de Maristela um barco que eu tinha confeccionado com o auxilio de dois colegas professores.

Há uma característica muito marcante e simpática que era o meio de transporte utilizado pelo senhor durante um período.

A Lambretta foi o primeiro carro da família, adquiri-a em Americana, no Nardini, ela era cor creme, ano 1962. Nunca tive um impacto ou emoção tão grande com nenhum outro veiculo que adquiri mais tarde. Eu nunca tinha andado de motocicleta, o primeiro passeio foi certamente em volta do quarteirão.

Qual foi a reação da sua esposa?

Ficou assustada com as prestações. Para pegar um dinheirinho a mais e pelo fato de ter a Lambretta fui cobrador da Casa Periañes. No dia em que o Comurba caiu, eu estava seguindo para o centro e pelo trajeto regular deveria passar ao lado do prédio. Parei para abastecer em um posto de gasolina quando ocorreu a queda. Dirigi-me até lá e vi a nuvem de poeira que ainda pairava no ar, assim como o desespero de quem estava acorrendo ao local.

Quantas pessoas da família eram transportadas pela Lambretta?

Eu pilotando, a Marisa sentada no pneu atrás, meu filho Amadeu em pé, e o Jonas entre eu e minha esposa, totalizando cinco pessoas!
                                         Jonas, Marisa, Amadeu filhos que com Cidinha e Lemão circulavam nessa possante Lambretta.

terça-feira, novembro 16, 2010

OSWALDO TAGLIETTA FILHO

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 13 de novembro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: OSWALDO TAGLIETTA FILHO
O médico cirurgião Oswaldo Taglietta Filho nasceu em Piracicaba em janeiro de 1962, é filho do modelador Oswaldo Taglietta, ex-funcionário da Dedini e da professora Evanil Baldo Taglietta. Praticante de esporte atuou como médico junto a equipes esportivas, sendo marcante a sua atuação no XV de Novembro de Piracicaba. Dr. Oswaldo revela fatos pitorescos, além de descrever a sensação de tornar-se parte do espetáculo, uma verdadeira arte que é uma partida de futebol. A alegre convivência com os atletas, equipes esportivas, em uma época em que o XV de Piracicaba foi patrocinado pela TAM, do lendário Comandante Rolim Adolfo Amaro. Confirma uma particularidade de Edson Arantes do Nascimento: o Rei Pelé é míope! Taglietta aborda aspectos da prevenção da osteoporose, um fantasma que ronda particularmente as mulheres.
Ao nascer sua família morava em qual bairro de Piracicaba?
Residia no centro na esquina da Rua Prudente de Moraes com Rua Tiradentes. Meu pai antes de ser funcionário da Dedini, trabalhou esculpindo móveis na empresa de Miguel (Miguelão) Sansígolo. Em 1968 passamos a morar na Rua Dona Francisca e posteriormente na Rua Lourenço Ducatti, próximo a Igreja São Luiz, na Vila Rezende. Na época havia corridas de kart que contornavam a igreja. Tenho dois irmãos, um é dentista e outro é professor universitário de informática.
A decisão de ser médico surgiu em que época da sua vida?
Nunca me imaginei atuando em outra profissão! Fiz o primário no Grupo Escolar José Romão, o ginásio no Jerônimo Gallo e sou da primeira turma do Colégio CLQ, o primeiro ano estudei na Avenida Carlos Martins Sodero, onde funciona o cursinho CLQ, os outros dois anos foram nas novas instalações á Rua Hide Maluf. Era um grupo pequeno, foi muito bom. Sempre gostei muito da área de esportes, jogava basquete na época de ginásio, colégio, cheguei a jogar no juvenil do XV de Novembro, isso no tempo do técnico Joãozinho e do Marquinhos. Tenho 1 metro e 85 centímetros, considerada altura normal, mas quando jovem destacava-se entre os meus colegas. Nunca fui magrinho, fazia arremesso de peso, de disco, cheguei a treinar com Marcos Leme, um excelente atleta de arremesso de disco. Eu praticava esportes pela satisfação em fazê-lo, nunca tive maiores pretensões nessa área.
O senhor estudou medicina em qual faculdade?
Estudei medicina na faculdade de Pouso Alegre, fiz a residência médica no Hospital da Beneficência Portuguesa de Santos permanecendo por quatro anos naquela cidade. Não tinha a intenção de retornar a Piracicaba, havia um conceito formado de que a medicina em Piracicaba era praticada em um circulo fechado, um pensamento que hoje não existe mais. Vim passar umas férias junto a minha família, surgiu um plantão no pronto socorro existente na Avenida 31 de Março, o chefe era o Dr. Tuffi Chalita, ele disse-me: “- Por que você não fica trabalhando aqui?”. Acabei ficando, ingressei no corpo clinico do Hospital da Cana. E assim estou aqui como médico a mais de vinte anos, exercendo a ortopedia, basicamente cuidando de joelho e quadril.
Quando o senhor passou a exercer a medicina esportiva?
Fui médico do VX de Novembro de Piracicaba por 12 anos. Por volta de 1991 o presidente do XV era Waldir Athanazio, o time tinha acabado de subir á primeira divisão, tinha um quadro razoável. Em 1994 a TAM assumiu a direção sob a presidência do Comandante Rolim Amaro, uma pessoa que tinha paixão pelo que fazia, era o grande segredo dele. Ele sabia viver a vida lembro-me de uma passagem em que o XV estava concentrado no Hotel Antonio`s, fui á concentração, ví quando estava chegando em um automóvel Porshe maravilhoso o Comandante Rolim, já na garagem disse-me; “-Gostou doutor?”, sem dúvida respondi-lhe que sim, ao que ele falou: “- A revendedora ofereceu-me para fazer o teste-drive!”. Era esse o nível que ele freqüentava.
Qual era de fato o objetivo da TAM em patrocinar o XV de Novembro de Piracicaba?
Até hoje eu me questiono a respeito! O Comandante Rolim tinha ligações com Piracicaba, ao que consta antes de fundar a TAM ele havia sido piloto particular de um empresário da cidade. Penso que estrategicamente Piracicaba interessava ao seu empreendimento, acredito até que ele previa esse “boom”, o que a empresa Azul faz atualmente em Campinas já era uma idéia sua. Olhando no sentido de hoje para a época temos uma visualização do que se passava pela sua cabeça. Ele montou uma escola de formação de pilotos aeronáuticos em Piracicaba. O Comandante Rolim elaborou um grande projeto de um CT (Centro de Treinamento), onde além de CT, havia uma escola de pilotos, hotelaria. Só não foi adiante em função de um “racha” dentro do XV de Novembro. Caso esse projeto tivesse sido levado adiante, com certeza Piracicaba teria o CT mais moderno do Brasil e deveria ser sede de equipes da Copa do Mundo. A aviação regional sempre foi a grande paixão do Comandante Rolim.
Como o senhor tornou-se médico do XV de Piracicaba?
Logo após retornar á Piracicaba, o Pianelli disse-me que o Tadeu estava saindo do XV e que haviam pedido que ele indicasse alguém, se eu aceitava. Antes de tudo, sou torcedor do XV, ainda menino ia assistir aos jogos do time, sentava na arquibancada debaixo de sol escaldante para ver o meu time jogar. Um dos meus ícones era o médico do XV, na época Dr. Mello Ayres. Quando recebi o convite para ser médico do XV não pensei duas vezes, era meu sonho de infância.
O cargo é remunerado?
No inicio foi uma relação em que financeiramente não valia a pena. Na época da TAM havia uma relação mais profissional, com carteira de trabalho assinada, mesmo assim nunca foi um salário atraente. Havia a remuneração com participação de “bicho”
(pagamento de um extra aos jogadores pelas partidas em que fossem vencedores), teve épocas boas, em que o XV liderava o campeonato paulista, foi um período bom, tinha “bicho” que compensava. Já com o Campeonato da Série B, era um campeonato pesado com relação a disponibilidade, se eu colocasse na ponta do lápis estava colocando dinheiro de próprio bolso. Saindo em uma segunda-feira para jogar na quarta-feira em São Luiz do Maranhão, de lá ia na quinta-feira á Fortaleza para jogar no domingo e estar de volta á Piracicaba na segunda-feira, com isso ficava uma semana fora da cidade.
O senhor era o responsável pela saúde da equipe?
Eu era o médico responsável pelo Departamento Médico. Os atletas tinham um convenio firmado com a AMHPLA, onde todo corpo clinico prestava assistência médica em suas especialidades, ao incorporar um atleta á equipe eram feitas avaliações nas mais conceituadas instituições clínicas de São Paulo.
Quais eram os problemas mais comuns encontrados no atleta que entrava para a equipe?
A TAM tinha uma política de buscar novos talentos Brasil afora. Os jogadores tinham uma grande briga com a nutricionista. Eles queriam comer carne, arroz, enquanto a nutricionista tinha que fazer a dieta balanceada.
Vemos em partidas de futebol, na disputa de algum lance, jogadores que caem ao solo com expressão de dores agudas, entra nessa hora a representação teatral?
Muito! Impressionar o juiz, colocar pressão sobre ele, colocar a torcida contra o arbitro, esfriar uma jogada, são alguns dos motivos para essas artimanhas, isso ocorre no mundo todo. É lógico que existe a lesão em uma partida, me preocupa muito mais o jogador que cai e fica quieto do que aquele que sai rolando. Com dor na perna você não sai rolando! Em campo há jogo de sinais, ao chegar perto do jogador contundido ele dá uma cutucadinha no seu pé e você já sabe que aquilo tudo que ele está fazendo é para dar uma esfriada. O goleiro não pode ser tirado de campo, com isso o juiz tem que esperar que ele seja atendido, proporcionando com que ele ganhe tempo para o time. Quando um médico passa a atender um jogador o mesmo tem que sair, o time fica com 10 jogadores, isso muitas vezes irrita o técnico. Se o juiz percebe que foi catimba do jogador ele pode enrolar a sua volta á partida.
Há algumas passagens folclóricas das quais o senhor participou?
Sim há algumas! Uma famosa ocorreu no primeiro campeonato paulista do qual participei, na segunda ou terceira rodada a partida foi no Estádio Pacaembu, o jogo realizado a noite era contra o Corinthians. Um grande número de elementos da torcida Fiel estava presente a disputa. Na época eu pesava 140 quilos. Havia uma orientação da Federação Paulista de Futebol para o médico não entrar em campo, não podia cruzar o campo, para atender o jogador deveria ser feito o contorno do campo pelas linhas laterais. Um jogador do XV, o gaucho Airton, uma grande figura, caiu no meio do campo, do lado oposto. Era o lugar mais distante do ponto onde eu estava. Sai, percorrendo a lateral, fui ao pé da torcida Fiel. Atendi voltei ao banco. Quinze minutos depois o Airton caiu no mesmo lugar. Dessa vez era malandragem dele. Ao passar atrás do gol, a cada passo que eu dava escutava a marcação da torcida do Corinthians; “Tum..tum..tum...tum...”. Quando eu acelerava o passo eles aceleravam a marcação. Quando cheguei junto ao Airton perguntei o que tinha ocorrido e ele disse-me que era apenas encenação. Voltei ao meu posto, acompanhado pela marcação dos meus passos pela torcida do Corinthians.
Qual jogador de futebol o senhor considera como o melhor atleta pelo seu condicionamento físico?
O Pelé! Pela diferenciação dele, ele veio pronto e era aquela maquina. Ele tinha miopia e não era pequena, conheci em Santos a pessoa que fazia os seus óculos. Imagine se Pelé enxergasse bem!
Dizem que juízes de futebol têm duas mães, a legítima e a que a torcida ofende o médico também é assim?
O médico nem tanto! Às vezes ocorre alguma rusga. Em Rio Preto, o antigo estádio do América era muito em pé, a torcida ficava próxima ao campo, o torcedor não precisava fazer muito esforço para jogar alguma coisa dentro do campo, era possível tomar nas costas um saco cheio de cerveja, você rezava para que o conteúdo de fato fosse cerveja.
Nas viagens da equipe o ambiente é descontraído?
É um ambiente bom porque o médico não cuida de pessoas doentes, cuida-se de pessoas saudáveis, que apresentam alguma contusão. Em uma determinada ocasião saindo de Natal com destino a São Luiz do Maranhão quem me deu trabalho foi o narrador esportivo Gerson Mendes, ele sofreu uma intoxicação alimentar e eu tive que fazer um soro improvisado dependurado em uma cortina. Convivíamos com jogadores, narradores das Rádios Educadora, Difusora e Alvorada (atual Onda Livre). Fazíamos campeonatos de tranca, buraco. Era muito bom. A maior parte dos hotéis é referencia para os times de futebol, torna-se uma rotina hospedar-se em determinado hotel.
E as famosas baladas dos jogadores?
Existem, há os atletas que não tem regras, mas acho que não é tanto como se fala. Os jogadores de futebol são pessoas com um ritmo de vida diferente. Trabalham e muito. Não tem final de semana livre, ou estão concentrados, ou estão treinando ou ainda amanhã cedo terão treino. O que para nós é uma simples saída para um jantar para eles é infringir uma regra, provavelmente na manhã seguinte terão treino. Naturalmente que eles saem para jantar, se uma pessoa comum pode consumir uma cerveja em um ambiente público o atleta em função da sua grande visibilidade é mais notado, em qualquer lugar que for um astro do futebol terá sempre alguém olhando e comentando seus mínimos atos. Há treinadores que na concentração não admitem o uso de celular, não deixam que passem ligações telefônicas ao quarto do atleta.
A prática de sexo antes do jogo influi no rendimento do atleta?
Não vejo nenhuma diferença, a não ser que o atleta envolva-se em alguma orgia!
Como é assistir um jogo dentro do campo?
È muito mais gostoso assistir da arquibancada, no campo a visão é ruim, o envolvimento com o jogo é sempre maior, o médico quando senta a beira do campo ele não está apenas assistindo, ele está torcendo. Há uma frase dita pelo Vadão da Portuguesa: “Futebol seria bom, se não fossem os 90 minutos!”. Ninguém tem idéia do que é colocar um time em campo, todo trabalho que existe por trás, em recuperar um atleta, em cuidar da alimentação, alojamento, treinamento, muitas vezes ás vésperas de uma partida aparece um problema com algum jogador, tudo que foi desenvolvido em uma semana toda não será mais realizado. Futebol é um espetáculo que conta com o imponderado. Há atletas que deitam em perfeitas condições e acordam travados no dia seguinte.
Onde se manifestam os maiores problemas físicos do jogador de futebol?
No joelho, ocorre também em ligamentos. Atualmente o atleta começa a jogar mais cedo, há uma cobrança maior sobre ele, temos casos como o do Neimar que aos 18 anos já está na mídia, aos 16 já estava aparecendo, ele deve estar sendo cobrado desde os 14 anos, uma criança fazendo o trabalho de gente grande, com peso, musculatura. Isso tem um preço, a articulação irá cobrar, a vida útil é menor do que a normal.
O senhor atua em sua clinica em qual especialidade?
Costumo brincar dizendo que faço muita ortopedia geriátrica. Minha especialidade é em quadril e joelho, há muitos casos degenerativos em decorrência de artrose, quanto mais a população envelhece maior o numero de pessoas com artroses. Há vinte anos não havia tantas pessoas como hoje fazendo próteses de quadril de joelho.
É em função do sedentarismo?
O sedentarismo ajuda. Quanto mais for trabalhada e fortalecida a musculatura mais estável será a articulação.
Atualmente a osteoporose ronda algumas mulheres?
A osteoporose é acentuada em decorrência do sedentarismo e de hábitos alimentares, diferentes dos que existiam á algumas décadas. Hoje se come muitos alimentos processados, desconhecemos o teor dos alimentos que ingerimos. A osteoporose é uma doença muda, sem sintomas, indolor, ela já existia anteriormente só que não era diagnosticada com tanta eficiência como é atualmente. É uma doença muito mais simples de ser prevenida do que tratada, a vitamina D e o sol são elementos importantes na prevenção e tratamento.

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