PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 15 de fevereiro de 2014.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 15 de fevereiro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados
na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADO: ALFREDO LINEU CARDOSO
O professor Lineu Cardoso após
aproximadamente “54 anos de giz na mão” formou milhares de alunos nos mais
diversos cursos e escolas. Tornou-se uma figura quase lendária para os que
foram seus alunos. Sempre foi muito bem quisto pelos seus alunos, assim como
pelos seus pais que se manifestavam nas reuniões entre pais e mestres. Um
cronista já escreveu: “O professor Lineu Cardoso é um livro de uma biblioteca,
caso um dia esse livro deixe a biblioteca a mesma perderá sua consistência”. Alfredo
Lineu Cardoso nasceu em Rio Claro, a 3 de março de 1937, filho de Alfredo
Cardoso e Alice Campos Cardoso que tiveram também as filhas Aparecida e Carmem
Silvia.
Qual era a atividade do seu pai?
Meu pai dedicou a sua vida toda à
Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Minha esposa, Marina Capelato Cardoso,
natural de Rio Claro, também é filha de ferroviário. Um fato interessante é que
quando vim removido de Rio Claro para Piracicaba não tinha nenhum parente
residente em Piracicaba, fato que só mudou com o nascimento dos nossos filhos:
Lineu Antonio, Augusto, Paulo Afonso e Murilo José. Os professores, colegas, alunos,
admiram quando falo que morava em Rio Claro, quando fui com meu pai, de
madrugada, ver a volta dos expedicionários da Segunda Guerra Mundial. Eles
chegaram em Rio Claro em 1945, de trem, desceram a avenida principal, eu estava
lá. Para mim é uma glória.Dei aula nas faculdades de Amparo, Americana, Limeira onde fui vice-diretor
durante muitos anos, dei aula na Faculdade de Serviço Social de Piracicaba. Tenho
graças a Deus uma formação moral da minha família de ferroviário, de vida
sofrida, de levar minha marmitinha no trem, de levar marmita para o meu pai, em
Rio Claro, eles colocavam em cima do motor para manter aquecida, meu pai era
substituto em Valinhos, Vinhedo ( Na época conhecida como Rocinha), Louveira,
cada dia ia para um lugar que ele substituía o chefe. Essa formação, graças a
Deus vem até hoje e eu consegui passar de pai para filho.
Onde você realizou seus primeiros estudos?
Foi no Grupo
Escolar Joaquim Salles, Ginásio Estadual Joaquim Ribeiro, Ginásio Koelle. Em Rio Claro embora meu pai fosse
ferroviário, Chefe da Estação, moramos sempre em casa particular. Quando meu
pai em suas andanças como ferroviario orou entre Leme e Pirassununga, em Souza
Queiroz, estudei em Pirassununga, fui aluno do professor Manoel Godoi que foi
um dos maiores piscicultores do Brasil, voltei a concluir o colegial no Ginásio
Estadual Joaquim Ribeiro, em Rio Claro. Dali fui para a USP, na Faculdade de
Fiosofia Ciencias e Letras, cursar Geografia. Ficava na Rua Maria Antonia, em
frente ao Makenzie, em São Paulo. Isso foi em 1957.
Você morava em que local em São Paulo?
Eu e alguns colegas de Rio Claro
tínhamos um apartamento, na Rua Brigadeiro Tobias. No começo da semana eu ia de
Rio Claro à São Paulo de trem, voltava no final de semana. Por ser filho de
ferroviário tinha algum privilégio, cheguei a ter a Caderneta Quilométrica. Na
USP tive aulas com Fernando de Azevedo, Haroldo de Azevedo, Sérgio Buarque de
Holanda, pai do Chico Buarque,
Você trabalhava nesse período?
Trabalhava, quando sai de Rio
Claro já sai engajado no Banco Mercantil de São Paulo, situado na Rua Álvares Penteado. Era a
matriz. Eu era operador de uma máquina de lançamentos contábeis Burroughs. Era usada para preencher uma ficha enorme, tinha
um carro muito grande, fazia um barulho enorme. Trabalhava durante o dia e
estudava a noite. Eu tomava um onibus em frente a Biblioteca MunicipalMário de
Andrade, para ir à Cidade Universitária. Quando comecei, Geografia tinha umas
matérias junto com a Geologia, situada na Alameda Glete, tivemos algumas aulas
em pavilhões alugados situados na Avenida Angélica, depois onde hoje funciona o
prédio da reitoria, foi adaptado as pressas para funcionar o curso de
geografia. O plano iniial era funcionar de um lado o curso de história e do
outro lado geografia. Quando fomos ocupar precariamente o prédio destinado a
geografia as paredes estavam inacabadas, a cantina parecia o armazém do Rolando
Boldrim, com os engradados de cerveja. Havia uma banda de sapo naquele varjão
da cidade universitária. Era um descampado. Na USP tive um curriculo muito
diversificado, estudei tupi-guarani com o Professor Airosa Galvão. Etnografia
com o professor Drumond, tive aula de botanica com o Professor Mario Guimarães
Ferri que veio a ser reitor da USP. Após tres anos, passei no concurso de
ingresso, como professor normalista, entre 200 candidatos passaram 53. Escolhi
minha cadeira, fui lecionar em Adamantina, iterrompi a faculdade, que vim a
concluir em 1973 na Faculdade de Filosofia de Rio Claro, hoje Unesp. Eu viajava
com o meu professor João Dias da Silveira que estava instalando a faculdade de
filosofia em Rio Claro.
Em São Paulo você trabalhou
em alguma outra empresa?
Trabalhei na Folha da Manhã, do grupo Folha de
São Paulo, no balcão do DRH, Departamento de Relações Humanas, eteve comigo uma
moço moreninho, baixinho, ambos na expectativa de sermos chamados. Fui para o
departamento de arquivo e estatística com o professessor Mayer. Para o meu colega
de espera, disseram-lhe para ir ao departamento de artes gráficas. Esse moço
era Mauricio de Souza. Isso foi em 1957. Tres ou quatro meses depois saiu o resultado de
um concurso que eu tinha feito para escriturário da Caixa Economica do Estado
de São Paulo. Sai do jornal e fui trabalhar na matriz da Caixa Economica na Rua
XV de Novembro. Por obra do acaso, eu e outra pessoa acabamos sendo assistente
de compras de toda a rede da Caixa Economica do Estado de São Paulo. Atraves de
concorrência pública compravamos desde clips até jipe. Só não faziamos
concorrências públicas para adquirir terrenos ou erguer edifícios. Veio o
concurso de ingresso, fui para o magistério que na ocasião remunerava melhor.
Tive muitos convites de delegados regionais para ser gerente de agência da
Caixa Econômica.
Voce foi lecionar em
Adamantina?
Fui, tinha uns 22 anos, meu pai
era Chefe da Estação de Adamantina, morava na casa de propriedade da Cia.
Paulista. Casei-me em Adamantina. Completei dois anos em Adamantina e vim por
remoção para Piracicaba leciona na Escola Estadual Monsenhor Jeronymo Gallo. Assumi
aqui em 1962. Na época o Jeronymo Gallo funcionava junto com o Grupo Escolar
José Romão. Logo em seguida começaram a construir o prédio próprio. Permanecemos
uns dois anos juntos com o Romão. Permaneci no Jeronymo Gallo até 1991. Muitos
dos nossos alunos entraram para as faculdades sem fazerem curso prepratório.
Voce é do tempo em que o aluno se levantava quando o professor entrava na
sala de aula?
Levantavam. Eu então dizia que podiam sentar.
Exigia-se uniforme. O aluno tinha que estar trajado dentro das normas, senão
não entrava. Um cinto fora do padrão já era motivo para o aluno não entrar em
aula.
Você usava gravata para lecionar?
Usava! Eu ia dar aula de gravata e jaleco, paletó.
Cheguei a dispensar de aula um aluno que estava sem cinto. Ele saiu da sala eu
sai, fui atrás dele, chamei-o pelo nome: “- Schievano!” Tirei o meu cinto, dei
a ele, eu estava de jaleco não aparecia. Dissse-lhe: “ -Daqui a cinco minutos
você se apresenta na classe e diz que completou o seu uniforme.”. Esse aluno
hoje é piloto comercial.
Como era a dedicação dos alunos?
Bem melhor que a de hoje. Um dia na semana era entoado o
hino nacional com hasteamento da bandeira nacional.
E a famosa “cola” era muito disseminada?
Eu era da linha dura, assim como os professores Maria
Cecília Zagatto, Professor Marques, Angelo Di Lello. No início o Jeronymo Gallo
era a somatória de alunos de todas as partes, até sentirem o prazer de
atravessar uma cidade de ônibus ou de bonde para assistir aula no Gallo.
A fanfarra do Gallo foi muito famosa?
O Mestre Dick alternava, ensaiava um pouco no Colégio
Industrial, com o Danilo Sancinetti e um pouco no Jeronymo Gallo. Havia uma
grande rivalidade entre as fanfarras das escolas Gallo, Industrial, Dom Bosco e
Jorge Coury. Fui um dos comparadores de instrumentos na Werril. Participamos de
concursos de fanfarras em São Paulo. Quem comprava os instrumentos era a
associação de pais e mestres. Tínhamos uma brilhante equipe de basquete
feminino.
Quando você chegou a Piracicaba foi morar em que local?
Fui morar na Rua Vergueiro em uma casa alugada de Angelo
Padula, o Gilão, dali comprei uma casa na Rua Treze de Maio, comprei o sobrado
situado na Rua Boa Morte com Rua Joaquim André, ali morei de 20 a 30 anos.
Além do Gallo você deu aulas em outros locais?
Dei aulas no cursinho CLQ, fiquei lá até 1977. Sai de lá
por ter sido chamado pelo prefeito João Hermann Neto para ser Secretário da
Educação. Quando ele assumiu era Secretaria da Educação, Saúde e Promoção
Social. Alguns meses depois ele desmembrou. Por oito anos fui vice-presidente
da ADPM- Associação Desportiva da Policia Militar. Quem me levou para a ADPM
foi o Coronel Tércio Sendim. Depois fui vice presidente junto com o Capitão
Veronezzi, hoje tenente-coronel. Conseguimos fazer grandes eventos ali. Na
gestão do prefeito Humberto de Campos fui secretário do SEDEMA.
Você trabalhou com a Cida Abe?
A Cida foi minha aluna. Ela foi Secretária da Cultura e
eu fui diretor do Engenho Central. Quando a Cida Abe se afastou para concorrer
a vereadora eu a substitui na secretaria.
Qual é a receita para estar tão bem disposto após tantos
anos de trabalho?
Eu me sinto bem. Fisicamente. Mentalmente. Socialmente.
Vou fazer 77 anos. Trabalho bastante na minha chácara. Plantar, carpir, passar
maquina de cortar grama, rastelar. Sempre fui muito curioso. As melhorias
acrescentadas na chácara, a parte hidráulica eu que fiz. Com caixas de
inspeção, quedas. Na parte elétrica só não fiz a rede primária.
Qual é a diferença do ensino de geografia no seu tempo e
a que é ensinada hoje?
Hoje a geografia tem uma linha muito mais sociológica.
Tanto que alguns dos grandes autores de livros fizeram ciências sociais.
Geografia no estilo de Haroldo de Azevedo, Celso Antunes, é feita por poucas
pessoas. Sempre fiz questão de ressaltar os fundamentos científicos. Conduzi a
geografia como um preparo para a vida, levar muito do que aprendeu em geografia
para a sua vida.
Qual é a importância de um geógrafo para um país?
O geógrafo, nessa linha cientifica, ele deveria ter como
em outros países, cargos efetivos dentro da administração publica. Ele tem uma
visão muito ampla. Acho que não deveria faltar um geógrafo na administração,
ele enriquece o administrador com informações e conhecimentos.
Temos um fenômeno que se repete todos os anos, são as
famosas enchentes, é tido e sabido que o rio já existia quando o homem chegou naquele
local. A culpa dos prejuízos cabe as condições climáticas ou ao homem?
A maior parcela de responsabilidade cabe ao homem.
Claroque ocorreram uma série de mudanças físicas, meteorológicas. Não podemos
afirmar que o rio perdeu todo seu manancial só por uma intervenção humana.
O Rio Piracicaba está sem água, isso é um fator normal
para o período?
Diante do que foi acontecendo, a situação foi se
agravando, os mananciais de cabeceira foram sendo captados, a água que chega
para Piracicaba não é a mesma, há muita demanda, houve um grande aumento da
população.
Você bebe água de torneira ou água fornecida em galões?
Já faz uns dois ou três anos bebo água de galão. Digo aos
meus alunos que a água da torneira é muito melhor do que a água de poço. Para
beber água de poço basta um cuidado, passa no centro de saúde pega o
hiposulfito, põem umas gotinhas, dá aquela carência, e pode tomar a água do
poço. A água da torneira já vem tratada, o gosto pode não ser o melhor,
carregada em flúor. Mas é melhor.