sábado, março 08, 2014

ALFREDO LINEU CARDOSO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 15 de fevereiro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
 

ENTREVISTADO: ALFREDO LINEU CARDOSO
 

O professor Lineu Cardoso após aproximadamente “54 anos de giz na mão” formou milhares de alunos nos mais diversos cursos e escolas. Tornou-se uma figura quase lendária para os que foram seus alunos. Sempre foi muito bem quisto pelos seus alunos, assim como pelos seus pais que se manifestavam nas reuniões entre pais e mestres. Um cronista já escreveu: “O professor Lineu Cardoso é um livro de uma biblioteca, caso um dia esse livro deixe a biblioteca a mesma perderá sua consistência”. Alfredo Lineu Cardoso nasceu em Rio Claro, a 3 de março de 1937, filho de Alfredo Cardoso e Alice Campos Cardoso que tiveram também as filhas Aparecida e Carmem Silvia. 
Qual era a atividade do seu pai?
Meu pai dedicou a sua vida toda à Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Minha esposa, Marina Capelato Cardoso, natural de Rio Claro, também é filha de ferroviário. Um fato interessante é que quando vim removido de Rio Claro para Piracicaba não tinha nenhum parente residente em Piracicaba, fato que só mudou com o nascimento dos nossos filhos: Lineu Antonio, Augusto, Paulo Afonso e Murilo José. Os professores, colegas, alunos, admiram quando falo que morava em Rio Claro, quando fui com meu pai, de madrugada, ver a volta dos expedicionários da Segunda Guerra Mundial. Eles chegaram em Rio Claro em 1945, de trem, desceram a avenida principal, eu estava lá. Para mim é uma glória.Dei aula nas faculdades de Amparo,  Americana, Limeira onde fui vice-diretor durante muitos anos, dei aula na Faculdade de Serviço Social de Piracicaba. Tenho graças a Deus uma formação moral da minha família de ferroviário, de vida sofrida, de levar minha marmitinha no trem, de levar marmita para o meu pai, em Rio Claro, eles colocavam em cima do motor para manter aquecida, meu pai era substituto em Valinhos, Vinhedo ( Na época conhecida como Rocinha), Louveira, cada dia ia para um lugar que ele substituía o chefe. Essa formação, graças a Deus vem até hoje e eu consegui passar de pai para filho.
Onde você realizou seus primeiros estudos?
Foi no Grupo Escolar Joaquim Salles, Ginásio Estadual Joaquim Ribeiro, Ginásio Koelle. Em Rio Claro embora meu pai fosse ferroviário, Chefe da Estação, moramos sempre em casa particular. Quando meu pai em suas andanças como ferroviario orou entre Leme e Pirassununga, em Souza Queiroz, estudei em Pirassununga, fui aluno do professor Manoel Godoi que foi um dos maiores piscicultores do Brasil, voltei a concluir o colegial no Ginásio Estadual Joaquim Ribeiro, em Rio Claro. Dali fui para a USP, na Faculdade de Fiosofia Ciencias e Letras, cursar Geografia. Ficava na Rua Maria Antonia, em frente ao Makenzie, em São Paulo. Isso foi em 1957.
Você morava em que local em São Paulo?
Eu e alguns colegas de Rio Claro tínhamos um apartamento, na Rua Brigadeiro Tobias. No começo da semana eu ia de Rio Claro à São Paulo de trem, voltava no final de semana. Por ser filho de ferroviário tinha algum privilégio, cheguei a ter a Caderneta Quilométrica. Na USP tive aulas com Fernando de Azevedo, Haroldo de Azevedo, Sérgio Buarque de Holanda, pai do Chico Buarque,
Você trabalhava nesse período?
Trabalhava, quando sai de Rio Claro já sai engajado no Banco Mercantil de São Paulo,  situado na Rua Álvares Penteado. Era a matriz. Eu era operador de uma máquina de lançamentos contábeis Burroughs. Era usada para preencher uma ficha enorme, tinha um carro muito grande, fazia um barulho enorme. Trabalhava durante o dia e estudava a noite. Eu tomava um onibus em frente a Biblioteca MunicipalMário de Andrade, para ir à Cidade Universitária. Quando comecei, Geografia tinha umas matérias junto com a Geologia, situada na Alameda Glete, tivemos algumas aulas em pavilhões alugados situados na Avenida Angélica, depois onde hoje funciona o prédio da reitoria, foi adaptado as pressas para funcionar o curso de geografia. O plano iniial era funcionar de um lado o curso de história e do outro lado geografia. Quando fomos ocupar precariamente o prédio destinado a geografia as paredes estavam inacabadas, a cantina parecia o armazém do Rolando Boldrim, com os engradados de cerveja. Havia uma banda de sapo naquele varjão da cidade universitária. Era um descampado. Na USP tive um curriculo muito diversificado, estudei tupi-guarani com o Professor Airosa Galvão. Etnografia com o professor Drumond, tive aula de botanica com o Professor Mario Guimarães Ferri que veio a ser reitor da USP. Após tres anos, passei no concurso de ingresso, como professor normalista, entre 200 candidatos passaram 53. Escolhi minha cadeira, fui lecionar em Adamantina, iterrompi a faculdade, que vim a concluir em 1973 na Faculdade de Filosofia de Rio Claro, hoje Unesp. Eu viajava com o meu professor João Dias da Silveira que estava instalando a faculdade de filosofia em Rio Claro.
Em São Paulo você trabalhou em alguma outra empresa?
Trabalhei na Folha da Manhã, do grupo Folha de São Paulo, no balcão do DRH, Departamento de Relações Humanas, eteve comigo uma moço moreninho, baixinho, ambos na expectativa de sermos chamados. Fui para o departamento de arquivo e estatística com o professessor Mayer. Para o meu colega de espera, disseram-lhe para ir ao departamento de artes gráficas. Esse moço era Mauricio de Souza. Isso foi em 1957. Tres ou quatro meses depois saiu o resultado de um concurso que eu tinha feito para escriturário da Caixa Economica do Estado de São Paulo. Sai do jornal e fui trabalhar na matriz da Caixa Economica na Rua XV de Novembro. Por obra do acaso, eu e outra pessoa acabamos sendo assistente de compras de toda a rede da Caixa Economica do Estado de São Paulo. Atraves de concorrência pública compravamos desde clips até jipe. Só não faziamos concorrências públicas para adquirir terrenos ou erguer edifícios. Veio o concurso de ingresso, fui para o magistério que na ocasião remunerava melhor. Tive muitos convites de delegados regionais para ser gerente de agência da Caixa Econômica.
Voce foi lecionar em Adamantina?
Fui, tinha uns 22 anos, meu pai era Chefe da Estação de Adamantina, morava na casa de propriedade da Cia. Paulista. Casei-me em Adamantina. Completei dois anos em Adamantina e vim por remoção para Piracicaba leciona na Escola Estadual Monsenhor Jeronymo Gallo. Assumi aqui em 1962. Na época o Jeronymo Gallo funcionava junto com o Grupo Escolar José Romão. Logo em seguida começaram a construir o prédio próprio. Permanecemos uns dois anos juntos com o Romão. Permaneci no Jeronymo Gallo até 1991. Muitos dos nossos alunos entraram para as faculdades sem fazerem curso prepratório.
Voce é do tempo em que o aluno se levantava quando o professor entrava na sala de aula?
Levantavam. Eu então dizia que podiam sentar. Exigia-se uniforme. O aluno tinha que estar trajado dentro das normas, senão não entrava. Um cinto fora do padrão já era motivo para o aluno não entrar em aula.

 


 
Você usava gravata para lecionar?
Usava! Eu ia dar aula de gravata e jaleco, paletó. Cheguei a dispensar de aula um aluno que estava sem cinto. Ele saiu da sala eu sai, fui atrás dele, chamei-o pelo nome: “- Schievano!” Tirei o meu cinto, dei a ele, eu estava de jaleco não aparecia. Dissse-lhe: “ -Daqui a cinco minutos você se apresenta na classe e diz que completou o seu uniforme.”. Esse aluno hoje é piloto comercial.
Como era a dedicação dos alunos?
Bem melhor que a de hoje. Um dia na semana era entoado o hino nacional com hasteamento da bandeira nacional.
E a famosa “cola” era muito disseminada?
Eu era da linha dura, assim como os professores Maria Cecília Zagatto, Professor Marques, Angelo Di Lello. No início o Jeronymo Gallo era a somatória de alunos de todas as partes, até sentirem o prazer de atravessar uma cidade de ônibus ou de bonde para assistir aula no Gallo.
A fanfarra do Gallo foi muito famosa?
O Mestre Dick alternava, ensaiava um pouco no Colégio Industrial, com o Danilo Sancinetti e um pouco no Jeronymo Gallo. Havia uma grande rivalidade entre as fanfarras das escolas Gallo, Industrial, Dom Bosco e Jorge Coury. Fui um dos comparadores de instrumentos na Werril. Participamos de concursos de fanfarras em São Paulo. Quem comprava os instrumentos era a associação de pais e mestres. Tínhamos uma brilhante equipe de basquete feminino.
Quando você chegou a Piracicaba foi morar em que local?
Fui morar na Rua Vergueiro em uma casa alugada de Angelo Padula, o Gilão, dali comprei uma casa na Rua Treze de Maio, comprei o sobrado situado na Rua Boa Morte com Rua Joaquim André, ali morei de 20 a 30 anos.
Além do Gallo você deu aulas em outros locais?
Dei aulas no cursinho CLQ, fiquei lá até 1977. Sai de lá por ter sido chamado pelo prefeito João Hermann Neto para ser Secretário da Educação. Quando ele assumiu era Secretaria da Educação, Saúde e Promoção Social. Alguns meses depois ele desmembrou. Por oito anos fui vice-presidente da ADPM- Associação Desportiva da Policia Militar. Quem me levou para a ADPM foi o Coronel Tércio Sendim. Depois fui vice presidente junto com o Capitão Veronezzi, hoje tenente-coronel. Conseguimos fazer grandes eventos ali. Na gestão do prefeito Humberto de Campos fui secretário do SEDEMA.
Você trabalhou com a Cida Abe?
A Cida foi minha aluna. Ela foi Secretária da Cultura e eu fui diretor do Engenho Central. Quando a Cida Abe se afastou para concorrer a vereadora eu a substitui na secretaria.
Qual é a receita para estar tão bem disposto após tantos anos de trabalho?
Eu me sinto bem. Fisicamente. Mentalmente. Socialmente. Vou fazer 77 anos. Trabalho bastante na minha chácara. Plantar, carpir, passar maquina de cortar grama, rastelar. Sempre fui muito curioso. As melhorias acrescentadas na chácara, a parte hidráulica eu que fiz. Com caixas de inspeção, quedas. Na parte elétrica só não fiz a rede primária.
Qual é a diferença do ensino de geografia no seu tempo e a que é ensinada hoje?
Hoje a geografia tem uma linha muito mais sociológica. Tanto que alguns dos grandes autores de livros fizeram ciências sociais. Geografia no estilo de Haroldo de Azevedo, Celso Antunes, é feita por poucas pessoas. Sempre fiz questão de ressaltar os fundamentos científicos. Conduzi a geografia como um preparo para a vida, levar muito do que aprendeu em geografia para a sua vida.
Qual é a importância de um geógrafo para um país?
O geógrafo, nessa linha cientifica, ele deveria ter como em outros países, cargos efetivos dentro da administração publica. Ele tem uma visão muito ampla. Acho que não deveria faltar um geógrafo na administração, ele enriquece o administrador com informações e conhecimentos.
Temos um fenômeno que se repete todos os anos, são as famosas enchentes, é tido e sabido que o rio já existia quando o homem chegou naquele local. A culpa dos prejuízos cabe as condições climáticas ou ao homem?
A maior parcela de responsabilidade cabe ao homem. Claroque ocorreram uma série de mudanças físicas, meteorológicas. Não podemos afirmar que o rio perdeu todo seu manancial só por uma intervenção humana.
O Rio Piracicaba está sem água, isso é um fator normal para o período?
Diante do que foi acontecendo, a situação foi se agravando, os mananciais de cabeceira foram sendo captados, a água que chega para Piracicaba não é a mesma, há muita demanda, houve um grande aumento da população.
Você bebe água de torneira ou água fornecida em galões?
Já faz uns dois ou três anos bebo água de galão. Digo aos meus alunos que a água da torneira é muito melhor do que a água de poço. Para beber água de poço basta um cuidado, passa no centro de saúde pega o hiposulfito, põem umas gotinhas, dá aquela carência, e pode tomar a água do poço. A água da torneira já vem tratada, o gosto pode não ser o melhor, carregada em flúor. Mas é melhor.
 

quinta-feira, março 06, 2014

PLINIO MONTAGNER


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 08 de fevereiro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
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                                                            Plínio e sua esposa Nazareth

ENTREVISTADO: PLINIO MONTAGNER
 
Plinio Montagner nasceu a 9 de novembro de 1937 na cidade de Porto Ferreira, filho de Pedro Montanheiro e Anunciata Muccillo  ambos naturais de Pirassununga. O casal teve ainda uma filha primogênita Hilda, que reside em São Paulo. Pedro Montanheiro ( Que mais tarde passou a se chamar Montagner) era desde os 21 anos de idade ferroviário da Companhia Paulista de Estradas de Ferro., trabalhava na via permanente, que era a manutenção da via férrea. A família sempre residiu em casas de propriedade da Cia. Paulista de Estradas de Ferro, situadas ao lado das respectivas estações ferroviárias de cada localidade. A cada promoção que Pedro recebia mudava para outras localidades, residindo em casas sempre junto ao leito da ferrovia.
Residir por tantos anos convivendo com os trens deixou muitas lembranças?
Até hoje não consigo deixar de assistir a algum filme em que tenha algum episódio envolvendo um trem. Gosto muito de trem. É uma paixão. Na minha infância, adolescência sempre esteve presente a locomotiva a vapor, a chamada “Maria Fumaça”. Eu viajava das estações onde minha família residia até as cidades onde fiz o curso primário e ginasial.
Em que estabelecimento de ensino o senhor fez o curso primário?
Fiz no Instituto de Educação Pirassununga, minha primeira professora foi Dona Maria Antonia. em uma localidade próxima a Santa Cruz das Palmeiras, chamada de Santa Viridiana. Lá fiz o primeiro ano, depois fomos para um lugarejo chamado Baguaçu, foi onde passei a minha infância e adolescência, conservo fotografias da época, e sempre que posso visito esse local. A estação de trem ainda está lá, abandonada.
O pai do senhor trabalhava na conservação da via permanente, o que significa via permanente?       
É a conservação dos trilhos, dormentes, curvas, onde o trem balançava mais ele sinalizava, o trecho onde meu pai trabalhava as rodas pareciam deslizar por processo de magnetismo, de tão perfeito que era. Meu pai era perfeccionista.
Todos que trabalharam na Companhia Paulista de Estradas de Ferro sentiam um imenso orgulho da empresa?
Tinham sim. O salário era compensador, a alimentação e assistência médica eram feita por vagões apropriados que paravam em frente a casa dos ferroviários. Vinham quatro vagões, um com tecido, outro com perfumarias, material de limpeza, como se fosse um shopping dobre rodas. Por um período de duas a três horas as famílias faziam suas compras, era feita a nota fiscal e depois descontava no holerite.
Como era feita a assistência médica?
Quando alguém ficava doente o chefe da estação telegrafava à cidade mais próxima, vinha uma locomotiva com um vagão, trazendo um médico e um enfermeiro. Atendia no local ou levava o paciente à cidade para tratamento. A ferrovia Sorocabana também era assim. Em Santa Viridiana existia a Companhia Paulista e o tronco da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro.
O ginásio o senhor estudou em Pirassununga?
Fiz o ginásio no Instituto de Educação de Pirassununga, lembro-me dos professores Osvaldo Fonseca, Orlando dos Santos, Arcídio Giacomelli, Maria Criado, Cenira Novaes Braga, José Romano, Antonio Lodi, Gaspar Fiori, Edirez Perez, isso foi de 1949 a 1954. Meu pai foi removido para Araras, fiz parte do curso científico, decidi optar em fazer o Curso Normal na Escola Dr. Cesário Coimbra, que era o curso de formação de professores primários. Tive aulas com Lourdes Chaibb, Professor Pimenta. Em 1956 me formei. Nesse ano também fiz o Tiro de Guerra no TG 187, tenho muitas saudades do sargento Odair Monteiro dos Santos, com quem mantenho contato por telefone regularmente.
Após a formatura onde o senhor foi trabalhar?
Meu primeiro emprego foi em Araras em um escritório de contabilidade de propriedade do Sr. Wilson Finardi. Em seguida fui trabalhar no escritório da Usina de Açúcar e Álcool Palmeiras, cujos proprietários na época era Francisco Graziano. Em seguida voltei à Pirassununga, para fazer um curso de aperfeiçoamento de professores de ensino primário. Uando eu estava residindo em Loreto, uma cidade próxima a Araras, um colega, Pedro Pessoto Filho, em uma aula de sociologia, ele perguntou-me se em Loreto havia curso de alfabetização de adultos? Por que você não abre um curso para dar aulas lá? Com isso você irá ganhar pontos. Foi o que fiz, meu pai e uns fazendeiros me ajudaram a preparar a escolinha, que era uma sala composta por duas janelas e uma porta. O prefeito ajudou a colocar energia elétrica. Durante três anos dei aulas lá. Das sete às nove horas da noite. Muitos japoneses tiveram aulas lá. Era um ano de curso. Lecionei dos 16 aos 18 anos. 
Quantos alunos existiam nessa escola?
De 25 a 30 alunos. Alfabetizei quase uma centena de pessoas, foi uma coisa boa da minha vida. Era trabalho voluntário, não remunerado. Acumulei um grande número de pontos, que me colocaram bem a frete de muitos concorrentes ao concurso de ingresso ao magistério primário. Escolhi uma escola na cidade de Tupi Paulista. Lá dei aula no Grupo Escolar do Bairro de São Bento, era na zona rural, íamos de bicicleta, alugávamos automóvel era terra de areia, distante uns oito quilômetros. Lá permaneci por quatro anos. Fui removido para a cidade de Tupi Paulista, para a Escola de Vila Camargo. Lá fui convidado por um supervisor de ensino, na época era denominado inspetor escolar, para trabalhar na Delegacia Elementar de Ensino que ficava em Adamantina. Permaneci por dois anos lá. Por concurso de remoção fui removido para São Paulo.
Em que local de São Paulo o senhor foi lecionar?
Fiquei dois anos e meio em São Paulo dando aulas em uma escola na Vila Nilo. Eu morava em Santana, na Rua Voluntários da Pátria, 120. Fiquei hospedado na casa da minha irmã. Ia lecionar de ônibus. Era na época em que ainda se distribuía leite na porta das casas. Uma colega que também lecionava na Vila Nilo me convidou para fazer um cursinho na USP, para prestar vestibular no curso de pedagogia. A USP já era na Cidade Universitária. O cursinho foi na Rua Albuquerque Lins. Fiz um semestre de cursinho. Não fui aprovado. Voltei para a casa da minha irmã, lá encontrei a filha de uns amigos de meus pais, lá de Porto Ferreira. Ela me disse que também não havia sido aprovada, mas que no dia seguinte seria encerrada em Rio Claro as inscrições para a segunda chamada de pedagogia. Fui até Rio Claro, fui aprovado, e lá que conheci minha esposa Nazareth.
Em que ano o senhor chegou em Rio Claro?
Foi em abril de 1964. Entrei na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Rio Claro, mais tarde passou a pertencer a Unicamp e em seguida a Unesp. Passei a prestar serviço a universidade e ao mesmo tempo estudava, era o chamado comissionamento. Após quatro anos pedi exoneração do magistério primário. Comecei a dar aulas nas matérias pedagógicas em Pirassununga, onde voltei.
Como o senhor conheceu sua esposa?
Foi em uma brincadeirinha, em um teatrinho. Uma festinha promovida pelo Diretório Acadêmico. Era na época das famosas gincanas. Foi assim que conheci minha esposa Maria Nazareth Stolf Montagner que entre outros estabelecimentos de ensino lecionou na Escola de Engenharia de Piracicaba e na Unimep. Temos duas filhas, Renata e Ana Paula. Tres netos: Luiz Henrique, Rafael e Pedro.
O senhor continuou lecionando?
Dei aulas no Curso Normal em Pirassununga, formava professores. Dei aulas também no curso colegial em Pirassununga. Eu não era mais professor efetivo. Houve uma revolução no ensino, muitas mudanças, o ensino normal deixou de existir. Não havendo mais alunos ninguém se interessava em ser professor. O salário era muito baixo. Eu já era casado, vim a Piracicaba e observei que havia muita falta de professores na área de matemática, de letras. Comecei a estudar Letras na Unimep. Como eu tinha especialização, com registro no MEC em matemática e desenho, comecei a dar aulas nessas matérias na Escola Olivia Bianco onde permaneci por sete anos. A professora Janete Stolf assumiu a direção da escola, passei a ser assistente de direção. Houve uma época em que fiquei como diretor designado por cinco anos na Escola Olivia Bianco. Eu me formei em letras, fui dar aulas como professor efetivo de português na Usina Costa Pinto. O diretor era Valter Vitti. Depois me removi para as escolas Benedito Ferreira da Costa, Alcides Guidetti Zagatto, Moraes Barros e ultimamente me removi para a Escola Estadual Dr. Jorge Coury, onde me aposentei há uns 15 anos.
O senhor atuou em outra área além do ensino?
Nunca dei aula durante os três períodos, em um dos períodos eu não lecionava. Eu abri um escritório imobiliário para reforçar o orçamento. Nessa atividade no ramo imobiliário tive um bom aprendizado. Trabalhei por 25 anos nessa área. Montei um escritório na Rua Moraes Barros, passamos para a Rua Benjamin Constant fui para a Rua Ipiranga próximo ao SESC e depois na Rua Madre Cecília.
A expectativa de fechamento de uma transação imobiliária eleva o nível de tensão?
No inicio isso pode ocorrer. Com o passar do tempo passa a ser um fato rotineiro. Como corretor de imóveis sempre estive a disposição do cliente, em qualquer horário, inclusive fins de semanas. O corretor não pode perder o foco do seu negócio, é importante cuidar das condições em que o pretenso comprador irá ser recebido.
O senhor é formado em Direito também?
Sou formado em Pedagogia na Unesp em Rio Claro, Letras na Unimep, Direito na Unimep e faltou um mês para concluir o curso de Educação Física.
Qual é a visão do senhor sobre Piracicaba?
Acredito que é uma excelente cidade para se viver. Temos muitos recursos em todas as áreas. Temos muitas escolas, há muitos empregos disponíveis, só não trabalha quem não tem nenhuma qualificação.
O senhor tem noção de quantos artigos de sua autoria já foram publicados em jornais?
Creio que foram mais de seiscentos artigos. Publico inclusive toda semana em Araras.
O tópico dos seus artigos qual é?
Filosofia, o cotidiano. Um fato. Comportamento.
O senhor tem algum livro publicado?
O primeiro passo é mais do que a metade de todos os caminhos a serem percorridos.
O senhor pratica algum esporte?
Joguei futebol, como lateral direito. Joguei no Loreto Futebol Clube de Araras. Em Piracicaba só joguei no clube dos professores, o CPP.
Como o senhor vê a profissão de professor?
Professor universitário é uma coisa, professor de ensino público é outra.
Há uma diferenciação?
Claro! Quando me perguntam se sou professor logo querem saber se dou aula na Esalq, na Unicamp, na Unimep. Ninguém se lembra de perguntar se sou professor primário, em que escola dou aulas. Quando você diz que é professor primário, que ganha R$ 10,00 por aula. Minha cunhada mandou fazer um pequeno conserto na sua casa, coisa de minutos, pagou R$ 80,00.  Um professor precisa dar três aulas para ganhar o mesmo que uma manicure ganha em menos de uma hora. O professor que leciona hoje ou é por ser rico ou por necessidade, por não ter o que fazer. Há ainda uns poucos que lecionam por vocação, exercem um sacerdócio. As escolas privadas ainda dão mais suporte ao professor.
Como é a relação do aluno com o professor?
O professor tem que ser artista, meio gênio. Se você entrar em uma sala de aula sem competência, sem didática básica, o professor tem que saber muito bem a metodologia da disciplina que irá ensinar. Tem que ter paciência, calma, tolerância ao máximo. Ser divertido, brincar com os alunos.
O que o senhor acha do uso de telefone celular em sala de aula?
Isso é uma aberração! Se eu fosse lecionar nos dias atuais não posso medir as conseqüências diante de fatos como esse.
Muitos pais incentivam os filhos a usarem o celular, isso é fruto de uma geração que no passado foi muito reprimida, com a contracultura dos Beatniks, Woodstock, criou uma liberação sem limites?
Isso foi o maior desastre que ocorreu com a juventude. A anarquia passou a ser o correto. Isso reflete nas próprias casas, os filhos é que dão as ordens aos pais. Uma completa inversão de valores. Isso ocorre inclusive com crianças, elas são donas da situação. Exploram a fraqueza dos pais.
O consumismo gerou a necessidade de maior renda familiar, isso propicia a ausência dos pais, criando um vazio que é preenchido em troca de bens materiais?
Além de dar bens materiais para preencher a falta de carinho, cria-se um grave problema, propicia a possibilidade de que um filho se envolva em más companhias.
É o caso de ter um padrão de vida mais modesto, mas garantir um futuro melhor para os filhos?
Infelizmente há falta de educação na acepção da palavra.
Em 1970 o Brasil tinha 90 milhões de habitantes, em 2013 segundo o IBGE a população ultrapassa 200 milhões de habitantes. Houve uma explosão demográfica.
Sem acompanhamento educacional. Outros países também cresceram, os Estados Unidos cresceu só que a educação acompanhou o crescimento. O serviço público evoluiu conforme o crescimento da população. A mídia tem uma grande participação nesse processo.

terça-feira, março 04, 2014

LUIZ CLAUDIO MORATO DO CANTO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado, 01 de fevereiro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: LUIZ CLAUDIO MORATO DO CANTO
 
Pianista no refinadíssimo Grande Hotel Senac Aguas de S Pedro, no Restaurante Engenho, a mais de uma decada, é também organista da Catedral de Piracicaba, onde atua em eventos especiais como casamentos, missas. Luiz Claudio transmite segurança e tranquilidade. Além de musico é também professor de química. ( O célebre músico Erotides de Campos, autor de Ave Maria também era professor de quimica no Instituto Sud Mennucci). Nascido em Piracicaba a 19 de outubro de 1959 é filho de Luiz Gonzaga do Canto e Gertrudes Mendes da Silva Canto. Sua mãe era do lar, seu pai era protético, tiveram nove filhos: Antonio, João Batista, Elizabete, Conceição, Apolonia, Francisco, Luiz Cláudio, Luicio Celso e Marta. Quando Luiz Claudio nasceu a família morava na àgua Branca, proximo a Indústrias Marrucci.
Seu pai trabalhava onde?
Ele fazia em casa as dentaduras, também conhecidas como “chapas”. Como protético prático, só no final da sua vida é que obteve diploma com as notas máximas. Ele trabalhava muito junto aos sítios da região, cidades vizinhas, não havia tantos dentistas como hoje. O meu pai criou os nove filhos fazendo dentaduras. Ele moldava, cozinhava, preparava tudo. Ele não era cirurgião, só fazia prótese. Ele tinha todo equipamento em casa, eram equipamentos bem antigos, não tinha motor, era movido pisando no pedal. Tinha as muflas (tipo de estufa para altas temperaturas). Até hoje existem pessoas que usam dentaduras feitas por ele que faleceu há 27 anos. Ele era muito perfeccionista, um excelente profissional. Muito honesto, não cobrava caro.
Ele mudou-se da Água Branca para que bairro?
Em 1964 ele mudou-se para a Rua Brasilio Machado, 2868, bem em frente a Igreja São José, ao lado do bar. Ele cantava no coral da igreja, acredito que foi ai que surgiu a minha vocação pela musica. Nessa época a cidade terminava logo ali, na Rua Nova. Dali para baixo era o chamado “Risca Faca”. Adiante do “Risca Faca” era só mato, sítio.
Onde você realizou seus estudos?
Os dois primeiros anos eu estudei no Grupo Escolar Dr. João Conceição, já funcionava no prédio novo, na Rua Marquês de Monte Alegre.  comecei a estudar em 1970. Até o terceiro colegial estudei em Rio das Pedras, eu morava com a minha tia. O terceiro e quarto ano primário estudei no Grupo Escolar Barão de Serra Negra em Rio das Pedras e o ginásio e colegial fiz no Ginásio Manoel da Costa Neves, mais conhecido como “Macone”. Minha tia morava em uma fazenda bem na entrada de Rio das Pedras, chamava-se Fazenda Fortaleza, em frente onde hoje há a imagem de São Cristóvão. Ali havia muitos casarões antigos, em um desses casarões morava minha tia. Morei oito anos lá. Em 1978 entrei no Banespa, situado na Rua Moraes Barros 848, Piracicaba, eu tinha 18 anos.
Em que ano você começou a se interessar por música?
Foi por volta de 1974, eu morava em Rio das Pedras, minha avó Guiomar Elizabete Morato do Canto gostava de piano e poesia. Havia piano em sua casa, estudou no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, em Piracicaba. Eu morei uma época com ela, todas as noites após rezar para dormir ela ficava fazendo as escalas musicais no travesseiro, como se fosse um teclado. Ela faleceu em 1975, logo depois eu comecei a estudar música, estudei harmônio.  (instrumento musical de teclas, cujo funcionamento é muito similar ao de um órgão). Órgão é um instrumento muito caro, as igrejas tinham harmônio. Em 1977 descobri o piano, na casa de um amigo em Rio das Pedras. Eu achava que sabia muito sobre musica, com o piano descobri que não conhecia nada. Foi um desastre na frente dos amigos. Aquilo se tornou um desafio para mim. A partir dessa época passei a estudar. Em 1978 vim morar em Piracicaba, na Rua Conselheiro Costa Pinto, 907. Nessa época eu já estava tocando órgão durante as missas, casamentos. As músicas mais tocadas era a Marcha Nupcial, Jesus Alegria dos Homens, Tema de Lara, Dr, Jivago, Love Story. Em julho de 1978 entrei no banco, fui trabalhar no horário da uma hora da tarde até as sete horas da noite. Por 17 anos trabalhei no Banespa, como caixa. O banco me ajudou muito, trabalhava seis horas por dia, dava tempo de estudar musica. A minha vida sempre foi uma batalha, só que lenta, me formei em piano aos 29 anos. Aos 53 anos me formei em biotecnologia. O ginásio conclui em 1975. O curso de pianista conclui em 1989 no Conservatório Dramático e Musical que ficava na Rua Prudente de Moraes, era das irmãs da Vila Rezende. Os diplomas eram reconhecidos pelo MEC. Esse diploma foi muito útil quando sai do Banespa em 1996, o Banespa foi vendido para outra instituição, houve um PDV ( Plano de Demissão Voluntária) eu participei dele. tinha uma sorveteria em frente ao Ginásio Dr. João Conceição, ali ficamos de 1990 a 1995. Fui organista da Igreja São José por 18 anos, de 1978 a 1996, quando me tornei um dos organistas da Catedral de Santo Antonio. Abri duas escolas de música, uma delas se chamava Centro Musical Souza Lima. Em 2000 eu e minha família fomos vitimas de um assalto dentro da nossa própria casa. Isso nos trouxe muitos problemas, uma das conseqüências foi o encerramento da minha escola de musica. Passei a dar aulas particulares de musica.
Organista de igreja ganha dinheiro?
Apenas celebrações de casamento nós cobrávamos. Devo ter tocado em milhares de casamento desde 1976. Em 1998 marquei o número de casamentos em que toquei: foram 72 casamentos, só na catedral.
O órgão da catedral tem uma história?
Tem sim. Ele foi fabricado no Rio de Janeiro, feito pelos alemães, Guilherme Berner, e Carlos Möhrle isso em 1930, que também fez o órgão da Igreja dos Frades. Temos em Piracicaba dois grandes exemplares de Möhrle e Berner. Esse órgão da catedral foi construído para uma igreja de Santos, houve uma explosão de um gasoduto que afetou a estrutura da igreja de Santos, esse órgão foi vendido para Piracicaba que em 1967 estava fazendo 200 anos. O Comendador Mario Dedini adquiriu por um valor bastante significativo e deu de presente para a catedral. Foi montado pelo Rigatto, em 2003 foi reformado, inclusive participei da reforma pelo Frei Lauro Both. Tenho três vídeos que fiz na catedral, quem quiser acessar basta entrar no YouTube colocar “pianista Luiz” e irá acessar meus vídeos. Da Igreja dos Frades também fiz dois videos.
O orgão da Igreja dos Frades tem uma história também?
Esse orgão é da decada de 40. Se não me engano foi inaugurado em 1945. Foi o Möhrle quem construiu. Os tubos dele foram feitos no quintal da Igreja dos Frades. Os foles, registros, e outros componentes foram importados.
Além desses dois órgãos em Piracicaba há mais algum?
Tem da Escola de Música de Piracicaba, veio da Alemanha, trazido pelo Maestro Ernst Mahle. E tem um outro feito por uma pessoa do Rio Grande do Sul, que fica na capela da UNIMEP, é um excelente órgão. Portanto na cidade temos quatro órgãos de tubo.
Além de órgão você toca outro instrumento?
Na realidade sou pianista, embora seja um dos poucos que sabem tocar o órgão da catedral. A rigor todo pianista pode tocar órgão, mas tocar da forma correta são poucos. Desde 2006 sou pianista do Grande Hotel em Águas de São Pedro, me apresento todas as sextas e sábados das 7 às 11 horas da noite. Na Catedral de Santo Antonio toco na última missa dos domingos, às 19 horas, com exceção de cada terceiro domingo do mês, pelo fato de ser missa maronita.
Qual é o repertório?
Ali toco de tudo. Desde musicas do final do século XIX como Chiquinha Gonzaga, músicas mais antigas de filmes do século XX, o pessoal pede muito musicas de filmes antigos.
A faixa etária é elevada?
É alta. Têm jovens também. O pessoal gosta muito de mim porque toco musicas de todas as épocas. É um repertório bem refinado.
Uma pessoa com faixa etária mais elevada, que nunca executou nenhum instrumento musical, consegue estudar musica e executar em algum instrumento?
Consegue sim. Não digo que irá se transformar em um virtuoso, mas para o seu deleite poderá tocar suas musicas. Tive milhares de alunos, principalmente em órgão eletrônico, que até hoje tocam. Tive uma aluna de 80 anos! Para você ter idéia ela dava aula junto com Erotides de Campos! Ela começou a dar aula o Erotides ainda era vivo, ele dava aula de química e ela dava aula de português. Ela tinha predileção por uma música: E O Destino Desfolhou”, suspirava quando essa musica era tocada. A minha felicidade foi quando consegui com que ela tocasse essa música.
O que significa a musica para o ser humano?
A música é sublime, é a musica que torna o ser humano bom. Isso com relação à pessoa que executa a musica. Dificilmente você ira encontrar um musico que seja mau caráter. Podem existir exceções. O musico quando é fiel a musica, se dá inteiramente a musica, ele viaja. Transcende.
Você é casado?
Sou casado com Raquel Brancati, tenho dois filhos um rapaz e uma moça. Já sou avô.
Qual piano tem melhor som, o de cauda ou o armário?
Existem pianos tipo armário que são excelentes. E existem pianos de cauda que são um desastre. O piano de cauda tem um som mais potente. O piano de parede é uma harpa em pé. Para tocar não sinto muita diferença.
A afinação do piano é uma arte?
É uma questão complicada. Quando vou tocar normalmente o piano já está afinado. Quando é necessário afinar avisamos o responsável e ele providencia a afinação.
Você deve ter muitas histórias pitorescas.
Em casamentos aconteceram muitas coisas. Em Rio das Pedras em um casamento, eu estava bem próximo dos padrinhos e do noivo, o calor era intenso, durante a celebração, de repente o noivo desmaiou. Outra cena marcante foi quando acabou o casamento e o noivo saiu sozinho, correndo. Isso foi na Igreja São José, na década de 80. Eu sai também, fui correndo saber o que tinha acontecido. Perguntei ao noivo o que tinha ocorrido. Ele calmamente respondeu: “-É que eu não estava mais agüentando a vontade de fumar!” Voltei, toquei, e a noiva saiu sozinha, toda feliz, sorrindo.
Você já tocou com algum musico ou instrumentista famoso?
Toquei com alguns músicos da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo em um casamento na catedral. Acompanhei uma cantora lírica muito famosa. Conheço nmuitos artistas famosos que se hospedam no hotel: Jair Rodrigues, Ana Paula Padrão, grandes empresários.
Você já tocou fora de Piracicaba?
Toquei mais em cidades da região como Rio Claro, Charqueada, Santa Bárbara D Oeste, São Paulo. Em Bertioga dentro da capela do SESC tem um piano, eu estava sozinho comecei a tocar, começou a chegar gente, no fim encheu a capela, passei a fazer uma explicação da musica que estava tocando, foi uma coisa muito legal, gostaram tanto que pediram para fazer de novo no dia seguinte. Cada musica que eu tocava explicava a história.
Você conheceu Pedrinho Mattar?
Não conheci pessoalmente. Sempre admirei muito o seu trabalho. Ele era um virtuoso. Assim como eu ele era um grande improvisador, a arte de improvisar não existe mais. Os grandes compositores do século XVII, XVIII, XIX, improvisavam muito. Desses improvisos surgiram peças maravilhosas. Pedrinho Mattar era um grande improvisador, tinha uma técnica estonteante, mirabolante. Ele levou a musica clássica para um meio mais popular.
Você tem algum CD gravado?
Não. Ainda não apareceu nenhuma oportunidade. Tenho certeza de iria vender muito, meu estilo é bem romântico, a pessoa percebe logo qual é a musica, existem músicos que para saber qual musica estão tocando só é conhecida após executar metade da musica. Minha musica é bem quadradinha. Toco baixo, não faço barulho. O piano é como uma mulher, tem que tratar o piano com bastante delicadeza, com carinho. Se você tratar o piano com violência, no tapa, será um desastre. Dizem que o piano na minha mão ele canta, chora. Há uma integração muito forte entre o pianista e o piano. Aprendi isso com os grandes pianistas do século passado, ouvi muito Guiomar Novaes, Madalena Tagliaferro, Arthur Rubinstein. Eram os gênios do toque. Piano é toque. A ponta do dedo.
Você tem musicas inéditas no you tube?
Se você procurar por “pianistaluiz” no you tube terá a oportunidade de me ver executando o Hino Nacional Brasileiro no órgão de tubo. Acredito que seja um fato inédito.

WALTER NAIME


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado, 25 de janeiro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
 

ENTREVISTADO: WALTER NAIME
 
 


Walter Naime nasceu em São José do Rio Preto a 15 de abril de 1934, filho primogênito de Latif Jorge Naime, sírio-libanês e Nair Aidar Naime, nascida em Bebedouro, muito bem disposta do alto dos seus 98 anos. O casal teve ainda as filhas Odete, Ivone e Helena.  Walter Naime é casado com Heloisa Azanha Naime, são seus filhos: Walter, Marcel, Patricia e Mariana.
Qual era a atividade dos seus pais?
Meu pai era um grande comerciante de café. Na crise de 1929 que atingiu o mercado mundial, ele perdeu tudo que possuía. Viemos parar em uma venda que existia no Bairro Formigueiro, perto de Saltinho. Naquele tempo a comercialização usava muito o sistema de barganha, como por exemplo, três porcos por um saco de farinha. Era feita a troca do que se vendia com o que seria obtido na colheita do final do ano. Tempo em se marcava na tradicional caderneta. Ali, em uma vendinha ele implantou todos os conceitos que nos dias atuais vemos em Shopping Center: assistência para crianças, cinema, tem todas as lojas que possa imaginar os corredores de passeio, o Shopping é uma catedral material, não de Deus, mas de santos, cada nicho tem Samsung, Dunlop, etc. Meu pai promovia as missas aos domingos, jogo de bocha, campeonato de jogo de truque. Soltava pipa para a criançada.  Ele tinha um fôlego danado. Levava circos que permaneciam naquele local em média por uma semana. Em uma lagoa existente até hoje ele realizava campeonato de pesca. Culturalmente essas iniciativas todas são muito interessantes. Participavam moradores das redondezas, como Sete Barrocas, Pedro Chiquito, Diamante. Mais tarde, coincidentemente, admiti em empresa de minha propriedade muitos pedreiros, carpinteiros, descendentes dessas famílias.
Seu pai permaneceu vivo até que idade?
Meu pai viveu até os 81 anos. Ele era um sonhador. Um dos seus grandes amigos foi o Dr. João Basilio, a família Daibs. Quando eu tinha uns sete anos, nossa família estava abastada, viemos morar na esquina da Rua Moraes Barros com Benjamin Constant. Meu pai nunca detalhou nada a respeito, mas ao que consta, uma iniciativa comercial com uma pessoa mal intencionada o levou para uma situação financeira muito delicada. Com o que sobrou ele começou a construir o prédio onde existe a padaria Riviera em frente à Santa Casa de Misericórdia. Era tudo chão de terra, não existia asfalto, havia as famosas corridas de carros, com as baratinhas, que passavam pela Rua Governador Pedro de Toledo e Avenida Independência, sem asfalto! Nos arredores, na época, não havia nenhuma casa construída. Fomos morar lá sem piso, nem as portas existiam. O prédio é o mesmo existente até hoje, com aquela laje na frente para que os clientes subissem e ali pudessem tomar sorvete contemplando a cidade. Ali montamos um pequeno negócio, enquanto minha mãe permanecia ali, vendendo doces do Martini, uma ou outra garrafa de água, o meu pai ia buscar queijo em Minas e saia por ai vendendo com malas esses queijos. Fizemos uma hortinha nessa casa, foi onde originou o meu gosto por tomate, alface, pepino. Isso foi na década de 40. Saímos dessa casa e fomos de novo para a zona rural, no Arraial de São Bento, na casa de propriedade de Jorge Temer, avô do vice-presidente da república, Michel Temer. Permanecemos pouco tempo nessa casa, fomos morar no Bairro Recreio, próximo a Saltinho, em uma casa de propriedade da família Nazzatto, era mais próximo a Tietê. Isso no tempo de João Isaac, um homem valente que erguia saco de açúcar com os dentes. Naquela época havia muitos ladrões de cavalos, andavam em bando, de madrugada e diziam que estavam transportando tropas do sul do país para cá. Na realidade onde eles passavam levavam os animais.
Você já frequentava escola nessa época?
Os primeiros três anos eu estudei lá no Recreio, a professora era Dona Yolanda. Por muitos anos a família Ortega comandou o comércio de cebola e alho em Piracicaba e região. Ao lado da Igreja Metodista, na Rua Governador Pedro de Toledo, existe um sobrado, em baixo era a sede deles. Meu pai era comprador de cebola e alho, um deles era compadre do meu pai, meu padrinho.  Vim morar com os Ortega, uma das minhas tarefas era todo dia às seis horas da manhã ir buscar um cavalo na Chácara dos Ferranti, que tinha quatro palmeiras bonitas, onde hoje existe um edifício inacabado, próximo ao Seminário Seráfico. Vinha montado no pêlo do cavalo, entrava pela Rua Benjamin Constant, em frente ficava o curso preparatório da Dona Mariquinha Mó, mãe do Professor Rubem Braga. Eu colocava o arreio no cavalo, um funcionário iria fazer as entregas. Estudando completei o quarto ano primário. Ronaldo Algodoal Guedes Pereira era um dos examinadores da admissão ao ginásio, sempre incentivou as pessoas a vencerem. Me orientou no sentido de fazer o ginásio.
Você estava ainda morando com os Ortega?
Nesse meio tempo meu pai voltou a morar na cidade, na esquina da Avenida Dr. Paulo de Moraes com a Rua Benjamin Constant, ali era a Sorveteria do Turco. Onde atualmente é a Milzinho Peças. Quando mudamos para lá aquela casa já estava pronta, foi construída por Panfiglio (Pampaluche) Passari. Quando adquirimos era um bar, do Barsottini. A padaria Cruzeiro era do Roberto Sachs, seu irmão Santo Sachs, pai do João Sachs trabalhava lá e me ensinava os serviços. Eu usava muito o forno da padaria para torrar amendoim. Na calçada oposta, em sentido diagonal, há até hoje um sobrado de propriedade de Manoel Elias. Era um armazém. Na outra esquina, onde atualmente existe uma farmácia Drogal, era o salão de barbearia dos Marconi. Naquele tempo a boiada descia pela Rua Benjamin Constant, tínhamos que fechar as portas quando ela passava. Viravam a Avenida Dr. Paulo de Moraes e iam tomar banho no balneário que existia onde hoje é a garagem da Prefeitura Municipal, era um rego cheio de inseticida onde o boi tomava banho para poder ser levado ao embarque no trem. Mais para baixo tem um poção, tinha um campinho de futebol, com 30x40 metros, foi ali que aprendi a jogar futebol. São dessa época Zequinha, Polenta, Paulistinha.
Você prosseguiu seus estudos em que escola?
Eu já morava com a minha família quando fiz o ginásio e o cientifico no Sud Mennucci, onde fundamos o Clube dos Ex-Alunos. O Deputado Federal Antonio Carlos Mendes Thame é um dos fundadores. Eu me formei um ou dois anos antes dele se formar. Convivi com o Thame, é ponderadíssimo, centrado. Tínhamos como professores Arquimedes Dutra, Dona Zelinda, Argino, Demosthenes, Lino Vitti era professor de latim no ginásio. Consegui sobreviver por uns dois anos em São Paulo dando aulas de latim que tinha aprendido aqui em Piracicaba. Eu dava aulas de latim para japoneses vindos do Paraná, em uma pensão onde eu morava.
Como você deu aula de latim para japoneses?
Isso é interessante! Eu sabia as quatro declinações, conhecia um pouco de português que tem sua origem no latim, aquilo me deu suporte para ensinar o básico para pessoas que não tinham nenhum conhecimento. Eu dava aulas em uma pensão na Rua Conselheiro Furtado, em São Paulo, que é um reduto de japoneses. Nessa pensão morava uma colega minha que era craque em física, matemática, química, matérias que ela ensinava a eles
Como chamava a sorveteria de propriedade dos seus pais?
Era conhecida como Sorveteria do Pontilhão. O sorvete mais famoso era o de esquimó, que a minha mãe faz e eu também sei fazer. O ponto final do bonde era na esquina, em frente a nossa sorveteria. Posteriormente é que fizeram a garagem do bonde mais adiante e a linha foi estendida por mais 200 metros. Às cinco horas da manhã minha mãe já tinha levantado e feito café para todos os motorneiros, cobradores e fiscais do bonde, assim como para os passageiros. O bonde começava a circular às seis horas da manhã.
Como surgiu sua opção por cursar arquitetura?
Dos 40 alunos da minha turma 36 fizeram a opção de estudar agronomia. Eu queria fazer engenharia. Só tinha em São Paulo na Politécnica. Meu pai queria que eu fizesse medicina. Fui, prestei o vestibular para engenharia, não passei. Uma amiga perguntou-me por que eu não cursava arquitetura? Foi através dela que fiquei sabendo da existência desse curso. Tentei e ingressei na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.  A parte artística do curso era na Rua Maranhão, as outras cadeiras eram na Politécnica, na Avenida Tiradentes.
 
 

 
 
Em que ano você ingressou na FAU?
Foi em 1955. Eu vinha a Piracicaba a cada dois meses, vinha e voltava pelo trem da Companhia Paulista. Ao chegar a São Paulo fui morar em pensão na Rua Sabará, depois na Rua Itacolomy, fui para a Conselheiro Furtado, na Liberdade. Trabalhei como copeiro no Bar do Português, situado em frente à Escola de Policia. Fui vendedor de livros da Enciclopédia Barsa, vendi protetores para canaletas de porta de aço, trabalhei em dois censos estatísticos. Através da Lemac-Leopoldo Machado, que dominava a área de materiais para a engenharia, montei uma filial dentro da faculdade. Fui organizador de sala de arte para Manabu Mabe, na Folha de São Paulo. O Muylaert era uma pessoa excepcional, perguntou-me se queria fazer a organização do salão. O Ruy Ohtake é meu colega de turma. Nos três últimos anos de faculdade fiz estagio nas empresas ARENA e HINDY, construtoras muito famosas na época.
Oscar Niemayer foi seu professor?
Foi ele dava aulas na FAU, só que era um professor distante, pouca didática. Ele estava cansado, já era estrela. Estive com ele aqui em Piracicaba umas duas ou três vezes em que ele veio a nossa cidade.
Ao voltar à Piracicaba como foi seu inicio na carreira?
O Cyro Barbosa Ferraz me convidou para ser seu assessor na Prefeitura Municipal. Ele era Diretor de Obras. Fui fazer vala de esgoto no Bairro Nhô Quim. Um arquiteto enfiando o pé na lama malcheirosa para poder viver. Foi um grande choque. Vir com tantos conceitos inovadores e enfiando-me no meio da lama. É uma área enorme sem caída nenhuma. O Serra teve a tolerância de me ensinar muita coisa. Ele era uma pessoa que viajava muito, contou-me sobre o processo de obtenção de água na Califórnia, onde puxavam um iceberg e deixam derreter formando uma lagoa. Para nós é uma informação estranha. Nós tínhamos um funcionário, o Leite, que era o único que sabia onde passava toda a rede de esgoto da cidade. Não tinha cadastro, arquivo, não existia nada. Chamava-se o Leite e ele dizia: “-Passa aqui, pode afundar ai que está ai mesmo a rede”. Fiquei uns três anos com o Cyro. Um colega, o Reynold viu umas casas que eu tinha feito e disse-me: “Você sabe fazer essas coisas. O que está fazendo aqui?”. Eu precisava daquele salário. Eu  levava minha placa de bonde, não tinha carro. O meu nome hoje você conhece com um “Doutor” na frente. Não é? Quando cheguei aqui eu era o “engenheiro filho do turco do bar”! Por uns dois anos foi assim. Depois começaram a me chamar de “Wartê”. Depois “Wartenaime”.  Eu escrevia tudo junto na placa, lancei minha placa em preto e branco, não fazia divisão era WalterNaime. Apareceram umas cinco crianças com esse nome:”Walternaime”. Muitos funcionários meus batizaram seus filhos com esse nome.  
Qual foi seu procedimento após a observação feita pelo seu colega?
Eu saí da prefeitura e montei meu escritório na Rua XV de Novembro, no Edificio Falanghe. Lá tinha o Osores, da Construtora Casarotti. Eu estava na salinha número 7, via aquele pedreiro, daquele porte, com a sabedoria de um engenheiro bem formado, era assim o José Osores. Conversava muito com ele, acabei por decidir em montar uma empresa. Cheguei a ter 100 obras simultaneamente em Piracicaba. Criei um formulário para assinalar os itens vistoriados em cada obra em que passasse.
Você tem traços arquitetônicos que marcam sua identidade?
Creio que sim. Algumas pessoas identificam obras da minha autoria pelos traços. Na Avenida Dr. Paulo de Moraes onde funcionou o Tiro de Guerra, o projeto do prédio é de minha autoria. A Escola de Musica Ernest Mahle é projeto e construção são meus, fiz a casa do Maestro Ernst Mahle, o prédio do Jornal de Piracicaba, a Farmácia do Povo, a Pinacoteca, fiz cinco blocos dentro da ESALQ, fiz obra em Ribeirão Preto, a Prefeitura de Itapeva. Fiz obras para a ROMI de Santa Barbara D´Oeste, a fábrica de bebidas Industrias Reunidas de Bebidas Tatuzinho 3 Fazendas Ltda, em Rio Claro, é obra minha, projeto e construção. Fizemos 14.000 metros em 12 meses. A garrafa que está em destaque é um depósito de água, através uma passagem interna pode-se chegar até a tampinha da mesma, que é o mirante de onde se avista os arredores.
Qual sua relação com a política?
Fui candidato a deputado estadual, tive 5500 votos em Piracicaba, fui Secretário de Obras por duas vezes da Prefeitura Municipal de Piracicaba, no Governo de Francisco Salgot Castilon e no de João Hermann Netto. Cravamos 3600  estacas no Estádio Barão de Serra Negra, no governo do Salgot. Administrei as obras do Mirante, projeto do mestre Renê Zocante. Fiz umas 180 casas para a DOPLAN – Dovílio Ometto Planejamento, situadas atrás do Hospital dos Fornecedores de Cana. Trabalhei para o Clube de Campo. Cedi para o XV de Novembro uma planta para a piscina, na então Cidade dos Esportes. Fui Rotariano por 25 anos, tempo do Quartim Barbosa, Cançado, Serra, Torres. Foi lá que me desenvolvi um pouco em minhas apresentações de ideias, devo ter uns 200 artigos publicados em jornal. Para escrever eu me baseio em uma análise, um conteúdo, uma linha de mensagem, tudo com humor.
Humor é fundamental?
Acho a expressão máxima da inteligência.
Você tem algum livro escrito?
Em primeira mão posso informar que estou aprontando um livro. Tenho diversos nomes, mas ainda não escolhi qual será: “Um Pouco de Mim”, “Um Pouco de Cada Coisa”, “Eu Vi Meu Pai Nascer”.  O lançamento deverá ser feito em junho, julho.
Como é a sua visão sobre as cidades futuras?
Sou urbanista, meu conceito é de que o centro de uma cidade será o aeroporto. Em função da locomoção. As cidades foram  feitas para darem soluções às pessoas e não para criarem problemas.
É um trabalho de planejamento antever situações e medidas?
O fato de termos informações tão rápidas e conhecimentos tão curtos não dá para o planejamento antever mais do que o próprio nariz.
Você pinta?
Desde 1950 fazia minhas paisagens, tenho daquela região onde está o Wall Mart era um mato só. Ali era o “Poção” onde aprendi a nadar, onde existia o “Olho da Nha Rita”, uma nascente de água. Pintei uns 10 quadros a óleo, tenho muitos desenhos. Ao usar o computador fico imaginando como ele funciona, me interesso pela máquina, até hoje estudo matemática filosófica, de grandezas, eu gosto. Como foi criado o numero zero? O que é limite? Como é feita a raiz? Como chegou nela? Gosto muito de estudar os limites, a linha de encontro das coisas: oceano com território, mar e horizonte. Quanto vale um quadro de Leonardo Da Vinci visto por você? E se tiver um marchand perto quanto passa a valer? Muitas coisas não têm preço, mas tem valor. Quanto vale um copo de água aqui? E no deserto? Se a sede for grande e você tiver uma barra de ouro não irá trocar? O preço é a oportunidade, o valor é intrínseco. A onda é matéria. Toda vibração é matéria. Eu gosto de ser eclético.
O que é o Clube do Sereno?
É uma conveniência útil a todos, onde são debatidos todos os assuntos. São pessoas diferentes, de níveis diferentes, diferentes poderes, que se reúnem em um papo aleatório, teoricamente sem compromisso, sem ata de reunião, sem horário, sob um abrigo de laje.  

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