domingo, março 23, 2014

FRANCISCO PINTO FILHO ( CHICO) Presidente do SINTIPEL


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 22 de março de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
 




ENTREVISTADO: FRANCISCO PINTO FILHO ( CHICO) Presidente do SINTIPEL
 
Francisco Pinto Filho nasceu a 11 de julho de 1959, em Fortaleza, Ceará. Chico como é mais conhecido é fortalezense, porém já considerado cidadão piracicabano, conforme atesta a Câmara Municipal de Piracicaba. É filho de Luiz Pinto de Oliveira e Isaura Paula de Oliveira que tiveram os filhos: Manoel, Francisco, Francisco (Chico) (São dois filhos com o nome Francisco) e Silvana. A família mudou-se para Piracicaba quando Chico tinha apenas uns três anos de vida, em 1962 seu pai foi trabalhar como metalúrgico na Dedini, onde se aposentou. Francisco Pinto Filho é diretor nacional da Central Força Sindical. Casado em segundas núpcias com Edna Yoshimi Nakagawa.
Em que bairro de Piracicaba a família foi morar quando chegou de Fortaleza?
No Piracicamirim, na época mais conhecido como “Pisca”, na Rua Roberto Mange, depois da ponte sobre o Ribeirão Piracica Mirim. Freqüentei uma escolinha de pré-primário que hoje não existe mais. Ali no Pisca havia uma rotatória, com uma ponte apenas, de madeira, os ônibus vinham até ali e voltavam para o centro da cidade.

 

 
O senhor ingressou em qual Grupo Escolar?
Estudei no Grupo Escolar Dr. Alfredo Cardoso. Naquela época as ruas daquele trecho não eram asfaltadas, vinha às aulas a pé. Necessariamente passávamos em frente ao Cemitério da Saudade, e era comum um grupo de crianças provocarem sustos entre si, com relação a esse trecho. A noite ninguém gostava de passar em frente. Estudei parte do ginásio na Escola Estadual Dr. Dario Brasil, fui estudar na Escola Estadual Monsenhor Jerônymo Gallo  no período noturno. Nessa época comecei a trabalhar em uma fábrica de estopa, a Fábrica São João, ficava ali na Rua Julio Prestes, na Vila Monteiro, ela existe até hoje, situa-se na Rodovia do Açúcar. Foi o meu primeiro emprego, eu tinha 14 anos de idade e fui registrado.
Qual era a sua função na fábrica de estopa?
Eu era ajudante geral. A empresa tinha cinco funcionários.

 

 
Legalmente, hoje, o senhor com 14 anos de idade não poderia trabalhar. Qual é a visão pessoal do senhor sobre essa situação?
Acho que nessa idade tem que trabalhar, é um aprendizado de vida. Tem que trabalhar e estudar. Esse contato com o meio profissional, com as pessoas ajuda muito na sua decisão de qual carreira pretende seguir. Só o conceito teórico da vida não lhe dá visão da realidade. Com o meu neto de nove anos, e sua mãe, minha filha, eu já procuro direcionar para que trabalhe, faça alguma coisa, para ter a vivência do trabalho. O homem que não trabalha não tem vida.
Porque o senhor acha que existe essa política de fortes restrições de participação do menor no trabalho?
Eu ainda não consegui entender. A parte teórica dos estudos já é muito deficiente, sem a mínima noção de trabalho na prática, as indústrias não conseguem encontrar mão de obra com a mínima qualificação. Temos contato com empresas que em uma seleção de 40 candidatos, acabam por selecionar apenas 4. Há candidatos, com certificado de curso médio que não tem a mínima noção de quanto é 50% de um produto.



Estamos criando um país onde uma grande fatia da população é totalmente despreparada para qualquer tipo de atividade que não seja meramente braçal?
Infelizmente é a tal geração “nem-nem”! Nem estuda nem trabalha! São jovens na faixa de vinte anos. É uma prova de que as coisas têm que mudar. A pressão para que isso mude tem que vir da sociedade, tem que haver uma conscientização. O candidato a uma vaga tem que estar qualificado e com uma experiência mínima. É fundamental que o jovem estude, mas se ele tiver em paralelo alguma experiência de trabalho, ele terá maiores chances de sucesso.
O filho trabalhando, poderá exigir mais dos pais, tirando-os de uma zona de conforto?
É uma questão muito delicada, muitas vezes o próprio caráter do jovem determina sua ação.
Por quanto tempo o senhor permaneceu na fábrica de estopa?
Por um ano. De lá fui trabalhar no Tremocoldi, ficava na Rua São José, trabalhei ali por um ano como auxiliar de escritório.
Morando ainda no “Pisca”?
A minha infância toda foi no Pisca.
Naquela época a fama do Pisca era brava?
Era brava, assim como também eram bairros com fama de locais de valentões, o Risca-Faca, Bairro Verde. Época em que os parquinhos, circos se instalavam nesses bairros, saia muita encrenca. Com 18 anos fui fazer o Tiro de Guerra situado na Avenida Dr. Paulo de Moraes, nosso sargento era o Munuira, o Capitão Gomes era o comandante.
Para o jovem, prestar serviço militar no Tiro de Guerra é importante?
Vejo como uma coisa boa. Além da convivência, aprende-se a ter disciplina. Isso faz bem.
Há uma visão de que a maior parte dos lideres sindicalistas tem uma tendência a serem simpáticos com a esquerda política, o senhor passa a imagem de uma pessoa bastante equilibrada.
Não tenho posições pré-definidas, procuro analisar cada situação, trabalho muito isso, tive que fazer isso, a vida me ensinou a ser assim.
Após concluir o Tiro de Guerra qual foi o seu próximo trabalho?
Ingressei em uma empresa de manutenção elétrica, Escritório Técnico de Engenharia Etema Ltda, que prestava serviço para a Philips. Trabalhávamos com montagens de subestações elétricas. Eu tinha feito um curso de eletricista no Senai, as aulas práticas eram embaixo das arquibancadas do Estádio Barão de Serra Negra, fazíamos instalações ali para aprender. Fui montar subestação no Hotel Glória, no Rio de Janeiro, permaneci seis meses trabalhando lá. Isso foi em 1979. Em 1980 voltei para Piracicaba e fui trabalhar como eletricista de manutenção praticante, na Indústria de Papel Piracicaba, do Grupo Simão, em 1986 passei a integrar o sindicato. Em 1992 a Votorantin adquiriu a fábrica.
Oji Papeis Especiais é a mesma empresa?
Em 2011 a Oji adquiriu a empresa do Grupo Votorantin. A Oji Paper foi fundada em 1873 no Japão.
Que tipos de papéis são produzidos nessa indústria em Piracicaba?
São papéis especiais: autocopiativos, couchés, para imprimir e escrever. Focada no mercado interno e na América Latina.
O senhor tem idéia de quantos funcionários trabalham na Oji em Piracicaba?
São 530 funcionários. É uma empresa com alta tecnologia, muito automatizada.
Talvez pelo rápido crescimento, o piracicabano em geral não tem pleno conhecimento do grande parque industrial instalado em Piracicaba?
Talvez falte um pouco de divulgação. Há grande destaque para os setores canavieiro e metalúrgico. O setor de papel e celulose representa 4% do PIB – Produto Interno Bruto  brasileiro. Em 2012 fiz parte do Conselho de Competividade Setorial, no setor de celulose, criado pela presidente Dilma, voltado a criar incentivos, fazer uma política para o setor. O prpoprio setor tinha ido reclamar de que o incentivo do governo junto ao setor é muito pífio. O governo tem sua atenção voltada para metalurgia e montadoras.
O Sintipel Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Papel, Papelão e Cortiça de Piracicaba foi fundado em que ano?
Em 1956 foi fundada a Associação e em 22 de agosto de 1958 foi fundado o sindicato. Até hoje o sindicato limitou-se a abranger Piracicaba. Estatutariamente não temos a representação, mas a Federação deu-nos a representação de Charqueada, Santa Maria da Serra, Rio das Pedras. Só em Piracicaba temos cerca de 1600 trabalhadores na indústria de papel. Temos cinco indústrias papeleiras: A Oji, a Klabin, a Reipel, RST, a Weidmann Tecnologia Elétrica Ltda, que é uma multinacional sueca, ela produz isoladores para transformadores.
A diretoria do sindicato é composta por quantos componentes?
Em torno de 30. Estão distribuidos nas empresas, continuam trabalhando normalmente. Afastados do serviço somos sete, mais seis funcionários.
Quais são os benefícios que o sindicato oferece aos seus associados?
O sindicato cresceu muito, temos sede própria, inaugurada em 1999, o local onde era a antiga sede foi reformado, fica próximo a nossa sede atual, lá criamos um centro de qualificação, para dar cursos. Construímos uma sede de campo, situada no bairro Conceição, na estrada de Tupi. Tem amplo estacionamento, salão de festas, salão de jogos, cancha de bocha, dois campos de futebol social, quatro quiosques com churrasqueiras, no ano de 2013 já elaboramos o projeto da piscina. Temos um apartamento na Praia Grande, é alugado ao associado a preço bem acessível, temos quatro apartamentos na colônia de férias do Estado. Oferecemos gratuitamente advogado trabalhista, acordos coletivos para dar assistência médica, alguns com abrangência nacional. Temos atendimento odontológico no prédio, mas estamos fechando um convênio através do qual o associado poderá ir até o consultório dentário do profissional. Todos os anos negociamos acordos coletivos, nas convenções, onde se consegue aumento real, nós temos um piso que é superior a dois salários mínimos. Conquistamos reajustes, valores de horas extras, superiores a determinação da lei. A lei estabelece 50% de acréscimo sobre as horas extras, o nosso índice é 80%, o adicional noturno a lei determina 20% o nosso é de 40%. Temos o auxilio creche, que consta em convenção, 13% da categoria é composta por mulheres. Isso é fruto de negociação do nosso sindicato com o sindicato patronal, com as empresas. Oferecemos auxilio para crianças especiais. Se faltar até dois anos para o funcionário se aposentar, terá a garantia de emprego nesse período, até ocorrer a aposentadoria.
O SINTIPEL de Piracicaba está ligado a outras entidades?
No Estado de São Paulo temos 19 sindicatos ligados a Federação dos Trabalhadores na Indústria de Papel no Estado de São Paulo. É uma entidade superior ao sindicato. As convenções são realizadas em âmbito estadual. A CNTI, que é a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria atua em nível nacional. Hoje estão se criando outras confederações, específicas de cada setor. Já existe a CNTQ, que é a Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Químico, dos metalúrgicos, da construção civil, dos comerciários. As categorias estão se organizando em escala nacional.
Existe algum contato com entidades similares de outros países?
Temos a FESPAM Federação dos Papeleiros do Mercosul, com sede na Argentina, inclusive participo, sou diretor dessa federação. É uma atividade sem remuneração. A única remuneração que tenho é da empresa onde trabalho, nem do sindicato eu tenho remuneração, nunca teve. Já fizemos intercâmbios com instituições congêneres do continente europeu. Ver o que tem de melhor em outros países para trazer ao Brasil, o nosso setor de papel e celulose está se internacionalizando muito. Muitas empresas multinacionais estão vindo para o Brasil. Está ocorrendo uma descentralização, muitas empresas estão se estabelecendo também fora do Estado de São Paulo. Vemos isso no Mato Grosso do Sul, no Maranhão, no sul do país.
 
Há quantos anos o senhor está como presidente do SINTIPEL?
Como presidente estou a 26 anos. É uma vida.
Como o sindicato vê a importância do reflorestamento?
Isso é imprescindível. As nossas maiores indústrias trabalham com matéria prima de fonte ambiental apropriada. A árvore é plantada com essa finalidade. A produção de papel é sustentável. Usa-se o pinus e particularmente no Brasil mais o eucalipto. Madeira nobre não serve para fazer papel. É um desastre, por causa da fibra dela.
Como funciona a contabilidade de um sindicato?
Todos os atos formais têm que ser registrados. Balancete. Balanço mensal. Tem que ter um contador responsável. Proposta orçamentária para o ano seguinte. Balanço do ano anterior. Tudo isso registrado em cartório, mediante convocação de assembléia da categoria.
Sindicato recolhe imposto?
O sindicato é isento de impostos. Ele não tem inscrição estadual. Só recolhe impostos previdenciários dos funcionários. Temos todos os livros com todos os balanços de todos os anos. Todo dinheiro que entra e que sai está registrado diariamente, mensal e anual. È um recurso que pertence a uma categoria, e tem que ser administrado com total transparência.
O sindicato tem que se filiar a algum setor político?
O sindicato pode se filiar a uma central sindical, a uma federação, a uma confederação. A um partido político não. Isso pode ser uma opção individual dos diretores. Tem que ser participativo. O compromisso maior é com o sindicato. O lado social do sindicato é muito importante, uma das minhas primeiras iniciativas quando assumi a presidência foi dar aos aposentados os mesmos direitos do associado que está em pleno exercício das suas atividades. Colocamos no estatuto, o aposentado tem os mesmos direitos, de votar e ser votado. Temos um convenio médico para o aposentado fruto de acordo que conseguimos, conquistamos. São cerca de 300 aposentados que freqüentam o sindicato. Penso que temos que olhar de forma especial nas duas extremidades: a criança e o idoso.
O senhor usa informática?
Uso muito! É uma ferramenta de trabalho imprescindível. Até mesmo propostas de filiação eu recebo muitas pelo site. Mostramos que somos um sindicato de lutas e conquistas. Participamos muito dessa questão de qualificação profissional, tanto que na Federação do Estado sou diretor de saúde, segurança e qualificação profissional.
O nível técnico do associado ao SINTIPEL é um nível elevado?
É alto. Na Oji todos os funcionários são técnicos. A própria empresa está fornecendo curso técnico em química que é realizado pela instituição de ensino Anglo. São duas turmas por ano.
Existe algum evento especial realizado pelo sindicato?
Em 20 de setembro sempre comemoramos o Dia do Papeleiro, no fim de semana mais próximo a esse dia realizamos um evento na nossa sede de campo. São realizadas atividades recreativas, churrasco, comparecem os associados e seus familiares. É uma grande festa.

sexta-feira, março 14, 2014

DR. BRUCE S. WEIR e DR. ANTONIO AUGUSTO FRANCO GARCIA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 15 de março de 2013.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
 

ENTREVISTADOS: DR. BRUCE S. WEIR e DR. ANTONIO AUGUSTO FRANCO GARCIA
 




Da esquerda para a direita:
               Dr. Bruce S. Weir, Dr. Antonio Augusto Franco Garcia, Dr. Roland Vencovsky
   

A Universidade de Washington,  foi fundada em 1861 é a maior universidade pública no Estado de Washington com campi em Seattle, Bothell, e Tacoma. Tem cerca de 4.100 professores em tempo integral, uma população estudantil de mais de 47.000 pessoas, incluindo alunos de graduação e profissionais. A Universidade oferece graduação, doutorado e mestrado profissional em 150 departamentos e unidades. Em 1967, Roland Vencovsky, professor sênior do Departamento de Genética da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), fez seu mestrado em Estatística Experimental na North Carolina State University. Na ocasião, conheceu o pesquisador Bruce Weir e, desde então, a genética quantitativa passou a ser o campo de interação entre o brasileiro e o norte-americano. A convite do professor Antonio Augusto Franco Garcia que fez seu pós-doutorado no Centro de Bioinformática chefiado por Bruce Weir, em 2013 o norte-americano participou como palestrante no 59º Congresso Brasileiro de Genética, que aconteceu entre 16 e 19 de setembro em Águas de Lindóia (SP). Atualmente, Bruce Weir é chefe do Departamento de Bioestatística, da University of Washington e, entre janeiro e março, com apoio da Comissão Fullbrigth, passará seu período sabático (uma espécie de licença prêmio) na ESALQ. Durante sua permanência, o cientista pretende interagir com professores, pesquisadores e alunos de graduação e pós-graduação que estejam interessados em aprimorar seu conhecimento em Genética Estatística. Para tanto coordenou na ESALQ, entre 22/1 e 12/2, a edição Brasileira do Summer Institute in Statistical Genetics. Weir falou sobre esse evento e estudos de genética humana realizados nos EUA.
Dr. Antonio Augusto Franco Garcia, o Dr. Bruce S. Weir está no Brasil por alguma razão especial?
Ele achou que o Brasil oferece boas condições para ele realizar uma série de cursos que ele ministra nos Estados Unidos denominados de Summer Institute in Statistical Genetics são 20 ou 30 módulos, que são dados pelas maiores autoridades do mundo na área. Aceitei o desafio e organizei o evento. Outra atividade importante que ele está fazendo é desenvolvendo o relacionamento com os pesquisadores brasileiros. Aqui na ESALQ, ele tem conversado com os alunos, com os professores. Também visitou outros lugares no Brasil. Foi para a USP em Ribeirão Preto dar uma palestra sobre genética médica. Vai para Sete Lagoas (Minas Gerais) na EMBRAPA. Esse tipo de visita ele já fez em outros países, na América do Sul é a primeira vez que realiza esse trabalho. Ele permanecerá por três meses no Brasil, irá voltar para Seattle e em setembro deverá ir para a Suíça.
Professor Antonio Augusto Franco Garcia, o Dr. Bruce S. Weir é um ícone mundial na área de genética?
Ele é super famoso no mundo todo. UmSuper Star”. É uma honra muito grande para o nosso departamento em recebê-lo. A produção cientifica dele são coisas impressionantes, um dos seus livros é livro texto de todas as disciplinas. No Brasil ele ministrou cursos para cientistas brasileiros.
A qual área da genética ele se dedica?
Eu trabalho na mesma área, é a Genética Estatística. É uma área antiga, começou nos anos 40, 50. Envolve as duas ciencias conectadas, tem que conhecer genética e estatística. Desenvolvemos métodos para fazer análise estatísticas.
Os frutos do trabalho cientifico do Dr. Bruce benefeciam diretamente a humanidade?
Ele mede a estrutura populacional. Um trabalho muito interessante que ele está realizando é tentar descobrir maneiras de fazer previsões de doenças que a população mundial poderá contrair. Com base em exames genéticos consegue saber se a pessoa tem propensão a determinada doença. O foco dele é Genética Estatística com aplicações muito fortes na genética humana. Ele tem muito contato com a área médica. O programa de pós-graduação dele é um dos três mais famosos do mundo. É de altíssimo nível. Existe a aplicação genética na área forense. Um exemplo, alguém comete um crime, sofre um acidente e corta-se deixando um pingo de sangue no local. Através da genética é possível elaborar um retrato em três dimensões dessa pessoa.
Essas análises permitem que se determine se no futuro o indivíduo poderá ter por exemplo uma alta taxa de colesterol, o que os laboratórios farmacêuticos pensam a respeito?
Os laboratórios estão gostando muito, a medicina diagnóstica é uma área explosiva. Nos Estados Unidos, por algo em torno de U$ 100,00 (Cem dólares) você adquire em qualquer farmácia um kit, traz para sua casa, você mesmo extrai seu DNA e manda para análise, pela internet você recebe o seu perfil. Com esse teste é possível saber a origem do individuo, quantos por cento ele tem de europeu, asiático, indiano, africano, latino. Leva apenas algumas horas. Isso é estrutura populacional. Em determinadas populações dá para determinar até de qual localidade é sua origem.
 

                                                                            Dr. Bruce S. Weir
 
Dr. Bruce S. Weir é natural de que cidade?
Nasci em Christchurch, na Nova Zelândia, tenho graduação em matemática, comecei a fazer estágio em uma instituição nos moldes da EMBRAPA brasileira, as pesquisas eram com plantas. Nesta viagem ao Brasil sinto-me como se estivesse voltando as minhas origens. (As pesquisas no Brasil são muito fortes em plantas.). Nessa época eram feitos melhoramentos de plantas e animais.  Percebi que abriu uma nova área nessa conexão de matemática com genética. Com isso fui fazer a pós-graduação na Carolina do Norte, Estados Unidos.
Isso foi na década de 60, era visto como um tema extremamente futurista?
Era uma área que já tinha uns 20 e poucos anos, estava florescendo, no mundo existiam quatro locais de alto nível que trabalhavam nesse sentido. Os mais importantes entre eles eram na Carolina do Norte e em Edimburgo na Escócia.  Diversos outros locais trabalharam no mesmo sentido.
Qual é a posição do Brasil nesse campo?
O Brasil é forte nessa área, em Piracicaba, em outras localidades, na EMBRAPA, deve-se muito ao trabalho do Professor Roland Vencovsky, um dos que iniciaram esse processo no Brasil. Isso na área de animais e plantas. Na área de humanos desde a década de 70 o Brasil tem bastante relevância no cenário internacional. Cientistas do mundo inteiro têm trabalhos colaborativos com cientistas brasileiros. Há muitos dados da população nativa (índios) brasileiros.
A Fundação Rockefeller por longo tempo agiu de forma muito intensa propiciando estágios e bolsas de estudo. Há alguma nova orientação a respeito?
A Fundação Rockefeller foi e continua sendo muito importante no financiamento de pesquisas. O primeiro recurso para pesquisas em genética foi aprovado em 1960. Esse financiamento para pesquisas continuou até 2005, foram 45 anos ininterruptos. No inicio os recursos eram destinados a pesquisas com plantas e animais, hoje são direcionados mais para a pesquisa genética de doenças humanas. Atualmente o foco principal é a parte humana. Houve uma mudança de ênfase. Genética molecular. É a biotecnologia. Um fato curioso é que em humanos não há muitos resultados para prever doenças e mesmo a cura delas, essas tecnologias aplicadas nas áreas de plantas torna-se uma importante colaboração. Apesar dos recursos não serem dirigidos diretamente ao pesquisador de plantas, como era antes, beneficiam-se muito dessas informações dos dados de humanos. Tem genomas de plantas que existe nos genomas humanos.
O senhor pode citar alguns exemplos de genética humana que possam ser utilizados?
É uma área de pesquisa quente, ainda está em andamento. Já existe cerca de 200 remédios nos Estados Unidos que o FDA (Food and Drug Administration) exige que se faça um teste genético antes de comprar o remédio. Existe um determinado tipo de remédio indicado para controlar o colesterol, em algumas pessoas esse remédio causa paralisia, um estado bem grave. Com um teste genético, bastante simples de ser feito, o remédio poderá ser administrado sem nenhum risco.
Se cada individuo tem um comportamento diferente como pode ser feita uma genética populacional?
O genoma (sequência dos 23 pares de cromossomos) é complicadíssimo. Cada doença está ligada é uma região do genoma, não é a mesma. Estão sendo estudadas simultaneamente muitas pessoas, com muitos testes genéticos, muitas doenças. Chegará uma época em que o individuo terá um cartão, um chip, com o seu genoma gravado. O médico colocará esse chip ou cartão em um leitor e já irá saber se a droga a ser administrada é compatível para o individuo. A companhia “23andMe” vende por 100 dólares o kit que não analisa o genoma em sua totalidade mas uma parte significativa. 200.000 pessoas pagaram para fazer esse teste e autorizaram a companhia a usar os dados para algum estudo. A companhia mandou para eles um questionário, onde havia algumas perguntas sobre características físicas: quem era calvo por exemplo. Só com isso a companhia conseguiu localizar o genoma que explica a calvície. Outro exemplo interessante é como se faz a compatibilidade de transplante de medula óssea para quem tem leucemia. Hoje no mundo todo tem uma lista de 7 milhões de pessoas que poderiam ser potenciais doadores de medula, pessoas que se oferecem para fazer. Mas tem haver total compatibilidade entre o doador e quem está recebendo. Hoje é feito um teste que não é pratico, é caro, mas é o que existe. Com essa parte de diagnostico genético já existe uma forma de fazer isso a um custo muito mais baixo e eficaz. Em breve você poderá dizer em um banco de dados mundial quem é portador de medula compatível.
Esses estudos são com alguma população determinada?
Tem sido feitos basicamente com americanos e europeus. Não tem incluído latino-hispânicos. São poucos os estudos incluindo latino-hispânicos. Eles têm características diferentes. Essas populações são mais suscetíveis a asma, diabetes, o Brasil é um país que desperta muito interesse em ser estudado, se isso não for feito os geneticistas brasileiros ficarão sem as informações essenciais.
A possibilidade de futuramente ter o controle do genoma pode dar o poder de influir no caráter do individuo?
O fato de saber qual é o genoma do individuo pode ter conseqüências enormes. Sabendo com antecedência que você tem genes que predispõe a ter diabetes poderá mudar seu procedimento ou terá chances enormes de manifestar essa doença. Isso se estende á outras questões também.
A conduta social poderá ser determinada?
Fumar é um comportamento social, pode ser evitado. Não existe uma resposta simples. Há casos de doenças gravíssimas, sem condições de cura, que poderão ser descobertas com antecedência. Ai entra uma discussão seriíssima e ética que é difícil de responder. A privacidade é importantíssima. Pela lei americana não é permitido que se faça nenhum tipo de teste dessa natureza para criar alguma restrição ao contrato com alguma empresa de seguro de vida. Você poderá encontrar um criminoso com muita facilidade, pelo DNA em um copo poderá determinar quem pegou nesse copo, se você tem uma base de dados poderá determinar quem esteve em uma sala. Por outro lado se uma companhia de seguros analisa o individuo através do DNA deixado no copo é um comportamento ilegal. Isso nos Estados Unidos. No Brasil não deve existir nenhuma legislação a respeito, os legisladores não se antecipam ao fenômeno.  Possivelmente primeiro ocorrerão casos para depois sair a lei.
Dr. Bruce S. Weir o senhor acredita na existência de Deus?
Acredito.
O senhor crê que possam existir outras formas de vida no universo?
É provável que sim. Qualquer tipo de vida.
Uma das razões do Dr. Bruce ter vindo a Piracicaba é o Summer Institute in Statistical Genetics. Isso para nós é espetacular. Um marco para o nosso departamento. O Summer Institute in Statistical Genetics existe a 20 anos. Organizar e trazer esse instituto é uma atividade de alto nível científico. É importante que haja uma interação dessa realização com a população.
Dr. Bruce, a longevidade humana tende a aumentar?
Obviamente que com essas informações você poderá viver mais saudável, ter menos doenças, o período de vida dos humanos está aumentando cada vez mais. Pela nutrição, hoje comemos melhor, água limpa e algumas doenças que não existem mais. Quando analiso material genético de pessoas de pessoas com longevidade percebo os defeitos, após os 50 anos de idade todo ser humano tem defeitos causados pela divisão celular. Em alguns casos isso é gravíssimo, ocorre o óbito do individuo, em outros casos os pequenos defeitos vão se acumulando. Existe uma forte evidência de até que numero de gerações as células conseguem se dividirem. Isso não tem como impedir. Não se sabe ao certo até quantas divisões celulares é possível em humano.

sábado, março 08, 2014

LUIZ ALBERTO MAZZERO (CEMITÉRIO DA SAUDADE)


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 08 de março de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADO: LUIZ ALBERTO MAZZERO 
                                  (CEMITÉRIO DA SAUDADE)
 
Foto by João U. Nassif
 
                Luiz Alberto Mazzero tendo ao fundo o mausoléu de Prudente de Moraes

No Cemitério da Saudade encontramos o Jazigo das Irmãs Franciscanas, o jazigo com as devidas homenagens aos Heróis Constitucionalistas  de 1932, entre eles: Natal Meira Barros, Sylvio Cervellini, José Homero Roxo, Ennes Silveira Mello, Francisco H. de Souza. Em sepulcro da família Italo Galesi como Herói de 1932. Tumulo do Dr. Alfredo José Cardoso, Luiz Diaz Gonzaga, Luciano Guidotti, Bento Dias Gonzaga, Salgot Castillon, Manoel de Moraes Barros Junior, Primeiro Presidente Civil do Brasil, Prudente José de Moraes Barros, Barão de Rezende, Jazigo das Irmãs de São José, Família Thame, Mário Dedini e Família, José Romão Leite Prestes, Almeida Junior, Frades Capuchinhos, além de muitos outros jazigos de famílias tradicionais e conhecidas.  O portão principal é uma verdadeira obra de arte, projetado pelo arquiteto Serafino Corso e executado pelo engenheiro Carlos Zanotta. É notável a arte com que foram feitas cada escultura. A pedra pelas mãos dos artistas tomaram forma própria.
Luiz Alberto Mazzero nasceu em Piracicaba a 2 de dezembro de 1970. Em 1984, ao completar 14 anos, ingressou na Guarda Mirim de Piracicaba, a sede era na Rua Boa Morte em frente a Unimep, tempo do Comandante Ciappina. Hoje pelo ECA Estatuto da Criança e Adolescente isso seria impossível. Muitos jovens, entre os quais se inclue, se não tivessem tido a oportunidade de freqüentar a Guarda Mirim possivelmente estaríam em condições lamentáveis. Salvou muitas crianças da marginalidade. Muitos tinham boa índole, berço, mas muitos que hoje são pessoas importantes na sociedade ou mesmo pessoas de sucesso devem isso a Guarda Mirim de Piracicaba. O vereador, sindicalista e bancário José Antonio Fernandes Paiva foi da Guarda Mirim. Luiz Alberto Mazzero é Chefe do Setor de Cemitérios: Cemitério da Saudade, Cemitério da Vila Rezende e Cemitério de Ibitiruna. O primeiro livro de registro de sepultamento data do ano de 1872, o primeiro sepultamento foi realizado em cova comum, no dia 2 de dezembro de 1872, foi de uma mulher de nome Gertrudes, negra, escrava, cozinheira, viúva,.seu proprietário era Antonio José da Conceição Júnior,


 Foto by João U. Nassif
                   Mausoléu de Prudente de Moraes tendo ao fundo Luiz Alberto Mazzero

Quantos corpos temos sepultados no Cemitério da Saudade?

Em torno de 155.000 corpos. O Cemitério da Saudade foi fundado em 1872está entre os quatro cemitérios paulistas mais antigos. Pode ser considerado um museu a céu aberto.

O Cemitério da Saudade envolve uma série de características que lhe são próprias?

Temos sepultados os restos mortais de grandes personalidades. Estamos em frente ao tumulo do Dr. Alfredo Cardoso.

 

 Foto by João U. Nassif

                                              Sepulcro do Dr. Alfredo Cardoso com dezenas de placas de agradecimento à graças alcançadas por seu intermédio.


Há cerca de duas dezenas de placas em metal, todas com frases de agradecimento por graças alcançadas, qual é o motivo?

Muitas pessoas que vem até o tumulo do DR. Alfredo Cardoso acreditam que ele realize milagres de curas. Ele foi um médico muito caridoso, atendia até mesmo pessoas que não tinham nenhuma condição financeira. Ele nasceu a 6 de julho de 1887 e faleceu a 30de maio de  1910 em Charqueada. Há também um velário, local próprio para as pessoas acederem velas em sua devoção. 

Temos um túmulo que é muito imponente a quem pertence?

È de Manoel de Moraes Barros Júnior nascido a 28de novembro de 1862 e falecido a 19 de dezembro de 18877. Ao lado temos o tumulo de uma personalidade histórica que significa muito para Piracicaba, para o nosso país. É o do terceiro presidente da república, sendo o primeiro presidente civil, sucessor de Marechal Deodoro da Fonseca e do Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca (Sobrinho do primeiro presidente da República, Marechal Deodoro da Fonseca). É o tumulo de Prudente José de Morais Barros nasceu no dia 4 de outubro de 1841 em Itu, falecido em Piracicaba a 3 de dezembro de 1902.

É o tumulo mais visitado?

Acredito que não. Penso que nem todos os piracicabanos sabem que o terceiro presidente da República do Brasil está sepultado no Cemitério da Saudade.

Administrar um cemitério envolve particularidades únicas?

Com certeza! É uma função muito diferenciada. Muitas vezes temos que usar a psicologia para tratar com as famílias que perdem um ente querido. As reações são as mais diversas imagináveis. Temos que administrar as emoções.

Quantos funcionários trabalham no Cemitério da Saudade?

Atualmente são em torno de nove funcionários.

 

 Foto by João U. Nassif

            Vista parcial do monumento   dos Heróis Constitucionalistas de 1932
Estar convivendo com a morte de outras pessoas, dia após dia, trás conseqüências emocionais?

No inicio há certa reserva com o fato de estar trabalhando dentro de um cemitério. Causa impacto. Cada falecimento é um fato diferente. Um grande choque é quando falece uma criança. Vitimas de acidentes de trânsito. Cada um desses óbitos trazem uma carga emocional diferenciada. Há outro fator que influi muito, embora sejamos profissionais, os sentimento da família do falecido acaba por nos contagiar. Com relação aos funcionários, há os mais sensíveis e há também os que de tanto vivenciar essas situações incorporou a sua rotina. Tratam a morte como uma conseqüência natural da vida. Há funcionários que se comovem a ponto de deixar correr as lagrimas. Cada falecimento tem uma forma peculiar de refletir em todos os presentes, inclusive no profissional que está a serviço. 

Há sepultamentos com grande afluxo de pessoas acompanhando em função do grau de relação social do falecido. Existem enterros quase solitários?

Já cheguei a presenciar aqui no cemitério sepultamento onde havia apenas o pai e a mãe, mais ninguém. Tivemos que ajudar a conduzir o corpo até seu destino. Isso desperta uma sensação de total abandono por parte de familiares.

Como fica o cemitério em dia de finados?

É uma data em que muitos deixam para fazerem suas visitas aos seus familiares aqui sepultados. Já na semana que antecede a data de finados o volume de visitantes é bem maior.

Temos túmulos muito bem cuidados, percebe-se que há uma manutenção muito cuidadosa, outros se encontram em estado menos conservados. Isso é em decorrência das posses da família?

Os sepulcros mais bem conservados decorrem em função do cuidado e das posses da família. Há também aqueles que seguem o pensamento de que após o falecimento os restos mortais não têm a menor importância.

Observamos duas caixas feitas em granito, uma ao lado da outra, isso é encomenda da família ou é feito pelo cemitério?

Nós que fazemos, para evitar a exposição dos restos mortais. São dois túmulos de crianças. Não tem nenhum tipo de decoração.

Onde são sepultados os indigentes?

Temos lugar apropriado junto ao ossário. O número de indigentes é pequeno.

Um dos funcionários informou de que pessoas ainda em vida colocam sua própria fotografia no porta retrato situado no tumulo, talvez prevendo que aquela é a sua melhor foto. Isso é normal?

Não questiono esse tipo de atitude, imagino que esse funcionário por estar a mais tempo trabalhando no cemitério tenha presenciado esse tipo de comportamento.

Estamos diante do famoso caixão que parou e não saiu do lugar?

É o que dizem. É do famoso Frei Galvão. Diz a lenda que o seu corpo estava sendo conduzido para o sepultamento, o caixão caiu no chão, acharam por bem sepultá-lo aqui mesmo. ( Há outra versão, em que no remodelamento de cemitério decidiram deixar o tumulo do frade no lugar, ocupando o espaço central de uma das vias).

Observamos que há uma série de objetos sobre o tumulo do Frei Galvão, alguma razão especial?

As pessoas fazem seus pedidos na esperança de alcançarem algum tipo de graça. Esses objetos são oferendas. Algumas peças a própria ação do tempo quebra. Temos crucifixo, Jesus Menino, Nossa Senhora Aparecida, terços, há uma profusão de oferendas.

As flores artificiais dominaram a decoração das sepulturas?

Ainda não.

Percebemos inúmeras obras de arte, cada monumento desses tem um significado próprio?

Cada obra de arquitetura dessas tem seu significado, cabem aos artistas, arquitetos, estudarem e transmitirem ao publico. É um cemitério rico em termos arquitetônicos.

 

 Foto by João U. Nassif


Por um período foi muito comum colocarem grades de ferro em torno do tumulo, qual é o sentido disso?

Atualmente não vejo sentido nisso.

A região mais antiga do cemitério é junto a entrada existente na Avenida Independência?

Exatamente, não havia o portal majestoso ainda. Temos uma capela onde são celebradas as missas, geralmente na época de finados. Se a família quiser pode realizar missa de corpo presente, a administração não cobra nada pela utilização da capela com essa finalidade.

A pessoa pode ser sepultada no Cemitério da Saudade independente da sua crença religiosa?

Exatamente! Uma característica curiosa é que temos o velário ( um grande e apropriado espaço, com instalações apropriadas para se acenderem velas), aqui existem pessoas que realizam suas práticas religiosas específicas, onde são feitas diversos tipos de oferendas conforme determina suas crenças. Por ser uma crença religiosa há o devido respeito por parte da administração. 

Encontramos MariaBenedita de Moraes a Dona Pequitita, nasida em Piracicaba a 2 de fevereiro de 1942 é uma das zeladoras mais popular do cemitério, trabalha na função há 11 anos. Quinzista e Corintiana. Ela diz:

 

 Foto by João U. Nassif



                                              MariaBenedita de Moraes a Dona Pequitita


Além de Piracicaba morei em Campinas, São Paulo, Tietê.

Qual é a sua sensação em trabalhar no cemitério?

É de calma, paz.

Você teme os mortos?

Já tive medo sim. Minha bisavó Amélia Vitalina morou no Clube Treze de Maio por muitos anos.

Seu astral é de quem é muito alegre. Já desfilou em escola de samba?

Já desfilei na Unidos da Cidade Alta, na Vila Bacchi,

Conheceu o folião Zego?

O Zego foi meu Sargentelli! Sou do tempo do Vassourinha, Xanxão, Ananias, Otávio.

Como você veio trabalhar no cemitério?

Era casada com um descendente de francês e português, ele era marmorista, fazia trabalhos aqui.A principio eu tinha medo, até que um dia decidi vir. Sou católica, devota de São Benedito.

Estamos vendo túmulos altamente luxuosos, qual é sua opinião?

O que adianta isso? Entra pelo mesmo portão e vai para a mesma terra.

Em sua opinião quem tem a consciência pesada com relação ao falecido ou falecida age como?

Acho que nem aparece no cemitério. Quem cuida do sepulcro geralmente é porque estimava a pessoa em vida.

A senhora já leu alguma frase em algum tumulo que a marcou muito? 

Fazia um mês e pouco que eu tinha perdido a minha mãe, na época eu usava um guarda pó branco. Eu estava chorando de cabeça baixa, apareceu uma moça branca, linda, ela contou-me que sua filha havia cometido suicídio por paixão.  Andamos juntas pelo cemitério, foi quando vi escrita em um tumulo a frase: “Devolvemos a Deus a jóia que nos emprestou.” Quantas vezes eu tinha passado por ali e nunca tinha observado aquela frase!. Eu cheguei a pesar 40 quilos. Vai fazer oito anos que ela faleceu, O Roberto de Moraes  foi quem ofereceu o bolo de 80 anos dela.  

MARIA CRISTINA DE CARVALHO E SILVA FRANCO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 01 de março de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADA: MARIA CRISTINA DE CARVALHO E SILVA FRANCO

 
 



Maria Cristina de Carvalho e Silva Franco é filha de Nelson Silva de Souza e Maria Martha de Carvalho. Nascida a 23 de janeiro de 1965, em Alfenas, Sul de Minas Gerais.
 
 Quais eram as atividades dos seus pais?

Quando nasci meu pai era estudante de odontologia e minha mãe trabalhava em um estúdio de fotografia como retoquista, era colorista, tenho fotografias minhas coloridas pela minha mãe. Usava-se anilina Bayer para dar cor as fotografias que até então eram feitas originalmente em branco e preto.

Seus estudos foram feitos em que escolas?

Estudei até a quarta série na escola Escola Estadual Madre Maria Luiza Hartzer situada a Rua 13 de Maio, 350, no centro, em Alfenas. Da quita até a oitava série estudei no Coégio Polivalente, foi uma fase em que as escolas de Minas Gerais eram excelentes.

Você se lembra do nome da sua primeira professra?

Nunca irei esquecer! Era a Dona Carminha, tenho até hoje de forma muito nítida a sua fisionomia. Sempre gostei muito de estudar, lembro-me perfeitamente das minhas professoras, doas fatos que ocorriam na escola. O ginásio estudei no Colégio Polivalente, era uma escola de vanguarda, não me lembro no momento o nome do governado da época, mas ele instituiu um ensino que além das aulas teóricas ministravam aulas práticas. Nas 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries em um ano fiz artes industriais, outro estudei técnicas agrícolas, no ano seguinte escola de comércio e finalmente educação para o lar. Tantos os meninos como as meninas estudavam as mesmas matérias. Os meninos aprendiam a fazer barras de calças, bainhas, pregar botões, dar banho em bebe. Eu aprendi a fazer caixinhas, tipografia, aprendi a fazer canteiros, sementeiras. Foi uma escola fantástica!

Havia muito respeito para com os professores?

Havia e muito. Da mesma forma que sempre fui muito considerada pelos professores, pelo fato de ser uma aluna muito aplicada. Quando alguém ia visitar a escola e tinha que apresentar uma aluna padrão eu era apresentada como tal. Sempre fui perfeccionista, se tirasse nota 9,50 eu já chorava! Ficava u mês pensando naquilo.

Essa sua vocação para o perfeccionismo foi influência de alguém?

Que eu tenha consciência não. A meu ver é algo da minha própria natureza. Não tinha a referência de ser “igual a tal pessoa”.

O colégio você estudou em que escola?

Foi em uma época em que estava começando a era dos cursinhos pré-vestibular, Alfenas é uma cidade universitária, prestei um exame e consegui bolsa de estudo no colégio integrado, ligado ao Colégio Promove de Belo Horizonte, agregava o 1°, 2° e 3° colegial.  Era um colegial normal com aulas dadas pelo professores do cursinho.  Esse curso era voltado para o vestibular da EFOA- Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas. Este ano, 2014 ela completa 100 anos de existência. Recentemente o governo federal mudou o nome da escola para UNIFAL- Universidade Federal de Alfenas.

Você deu aulas particulares?

Foi o que mais fiz no tempo em que estudei. O fato de estar sempre entre os melhores alunos me credenciva para exercer essa atividade. Eu era secretária do meu tio Dalmo, que era dentist, ele fez a inscrição para que eu cursasse medicina na UFMG- Univervidade Federal de Minas Gerais. Enquanto mepreparava para prestar o vestibular, tomei consciência de que se fosse para Belo Horizonte teria sérias dificuldades para me manter. Acabei não indo fazer o vestibular. Me inscrevi no vestibular de odontologia, um curso mais próximo ao de medicina. Passei em primeiro lugar, isso foi em 1982, eu tinha 17 anos. Pelo tanto que eu tinha estudado encarei essa condição como consequência natural. Eu tinha passado em primeiro lugar com a maior nota de todos os cursos, odontologia, fármácia, enfermagem. Lembro-me até hoje do tema da redação: “ Em terra de sapo, eu de cócoras como ele”. Fiz a redação, dissetei que queria ser diferente do sapo, não queria ficar de cócoras como ele. Em terra de sapo eu queria ficar em pé. Tirei a nota máxima em redação.  Fiz a matricula. No primeiro dia de faculdade, o Reitor da Faculdade, Hélio de Souza, entrou na classse, queria me conhecer. O Professr José Ronaldo que lecionava anatomia tem como hobby o estud de árvore genealógica. Ele tinha sido colega de faculdade de odontologia do meu pai.

Por quantos anos você estudou odontologia?

Foram quatro anos, eu continuei sendo a melhor aluna da faculdade. Eu estava na clinica quando chegou oReitor da faculdade, Afrânio Caiafa. Ele disse-me que haveria um congresso de odontologia da Academia Mineira, em Caxambu, onde serão premiados os sete melhores alunos de odontologia do Estado de Minas Gerais. Disse-me; “Você será a nossa indicada!’. O presidente da Academia Mineira de Odontologia era formado na EFOA. A ida a esse congresso envolvia a hospedagem por cinco dias em um hotel cinco estrelaso Hotel Glória. Quem me fez companhia nessa viagem foi uma amiga, a Angélica. No dia da entrega da medalha o professor Afrânio Caiafa foi até Caxambu só para eme entregar a medalha. Isso me emocionou muito.

A montagem de um consultório dentario envolve altos custos, como você fez?

Eu meformei devendo, literalmente, a roupa da formatura. Me formei em 13 de dezembro de 1986. Dia 2 de janeiro comecei a trabalhar em Franca, em uma clinica. Era uma clinica que tinha muitos convenios com as fábricas de calçados, isso foi na époa em a cada semana falia uma fábrica de calçado. Permaneci nessa clinica de janeiro a setembro. Fiquei sabendo que tnha um curso de especialização aqui em Piracicaba, foi através da minha tia Eliana de Carvalho Silva,, veterinária do Centro de Controle de Zoonoses. Abriu um curso de Especialização em Saúde Pública, voltadoà qualquer profissional de saúde. Esse curso foi dado na Santa Casa de Piracicaba pelo pesssoal da Universidade São Camilo, foram dois anos de curso. Eu morava em Franca, na própria clinica, quando a clínica fechava a noite eu punha um colchão no chão.

Em quais condições você veio morar em Piracicaba?

Minha tia morava em uma pensão, resolvi ficar com ela na pensão. Eu pedi para a Dona Mercedes , que era a proprietária da pensaão, se eu podia colocar um colchão no chão. Fiquei ali uns seis ou sete meses.

Você não trabalhava?

O Professor Miguel Morano Júnior me conhecia. Minha tia trabalhava em uma equipe multidisciplinar da prefeitura. O Professsor Miguel Morano Júnior soube do meu desejo de fazer a especialização e da necessidade de um trabalho para custear minha sobrevivência e arcar com os custos do curso. O profesor Miguel ficou sabendo que Charqueda precisava de uma dentista com esse perfil, na época eu tinha 22 anos. O Prfessor Miguel me indicou. Fui trabalhar coo coordenadora de odontologia na prefeitura de Charqueada.  No primeiro mês o salário que eu ganhava dava para pagar o meu curso e o apartamento que alugamos, eu, minha tia e mais uma moça a Heloisa, fisioterapeuta. Isso em Piracicaba. Eu ia todos os dias para Charqueada. Permaneci assim por dois anos. Eu ia até as escolas e trazia até 15 crianças para o consultorio, onde as examinava, orientava quanto a saúde bucal. O número de extrações de dentes entre adulto era muito elevada.

Como você conheceu seu marido?

Foi em uma viagem em que eu estava indo de Alfenas para Campina e Jeremias Batista Franco estava indo de Alfenas para São Paulo que nos conhecemos, na ocasião ele estudava Administração de Empresas na Universidade Mackenzie, hoje ele é gerente geral de uma grande instituição financeira. Em 1987 nos conhecemos. Casamos em Alfenas a 17 de fevereiro de 1990 na Igreja Nossa Senhora Aparecida. Temos dois flhos: Gabriela e Pedro Henrique..

Em que local você montou seu primeiro consultório?

Eu cnclui o curso de Especialização em Saúde Pública, terminei a TCC - Tese de Conclusão de Curso fui para São Paulo e montei um consultório na Vila Matilde, na Avenida Melchert, próximo ao cartório o  Jeremias morava na Penha. Montei o consultório em uma sala que ficava em cima de uma pizzaria. Não coloquei placa de propaganda do consultório. O equipamento ganhei um usado que havia pertencido ao meu pai. Aprendi a fazer manutenções básicas no meu consultório. Em um mês de trabalho eu já estava com o consultório lotado.

Você reputa isso à que?

Não sei explicar.

O que você mais atendia?

Tudo! Clínica Geral. Fazia muita prótese. Eu era casada, morava em uma casinha de três comodos em Guarulhos, tomava dois onibus para ir trabalhar. Permaneci em São Paulo por uns dois anos. Aos 27 anos fiquei grávida, o meu filho Pedro nasceu, ele ficava em um cercadinho em um anexo ao consultório. Criei um nivel de relacionamento tão positivo que as vezes algumas pacientes cuidavam por algum tempo do Pedro. Infelizmente começou uma onda de violência especificamente contra consltórios dentários, com assaltos e  barbáries. Isso foi por volta de 1993 a 1994. O compresor do consultório ficava em cima de uma marquise, embaixo era uma pizzaria. Eu estava atendendo um paciente, quando o compressor fez um barulho e começou a sair fogo. Corri, desliguei. Tinha uns 3 ou 4 pacientes na sala de espera, pedi desculpas e fui atrás de um técnico de compressores. Na esquina do meu consultório tinha uma unidade da White Martins, fui me informar se conheciam algum técnico de compressor. Eles disseram que não conheciam. Eu estava com o Pedro, gastei uns 10 munutos entre sair e voltar para o consultório, ao me aproximar vi um aglomerado de pessoas próximas ao consultório, no prédio onde aluguei, no final do corredor tinha um representante da Cozinha Todeschini, fui avisar a Edna, que trabalhava lá, ia dizer que ia embora, o meu compressor tinha estragado. Uma outra funcionária me disse: “- A Edna acabou de pular a janela!”. Estavamos no segundo andar. Ela quebrou a perna. Foi quando amoça me disse: “ Veio um individuo assaltar você, como não estava no consultório sacou uma arma e apontou para a Edna que assustada pulou a janela.

Como elas sabiam que o individuo queria assaltá-la?

Ele perguntou a elas aonde estava a dentista, elas disseram que eu tinha saído! O mais espantoso é que liguei o compressor e ele funcionou normalmente sem problema nenhum. Continuei com esse compressor até mudar para cá. O Jeremias tinha concluido seu curso, eu conhecia muitas pessoas em Charqueda, decidimos mudar. Eu tinha trabalhado nas administrações do Dito Viviani e do Guido Zanatta. Vim com a cara e a coragem, em um mês o meu consultório estava lotado, a ponto de trabalhar sábado e domingo. Sem placa . Em uma chacara no Bairro Recreio.  





O seu consultório funcionava em uma chacara?

Coloquei o consultório no fundo da chacara. O Dr. Waldemar Romano era conselheiro do CRO - Conselho Regional de Odontologia, ele foi designado para fazer a vistoria oficial, na época eu tinha 29 anos. O Dr. Waldemar Romano disse-me: “ –Cristina, você tem certeza do que você está fazendo? Colocar um consultório em uma chacara e sem placa?”. “-Vai dar certo seu consultório?”. Disse-lhe que iria tentar, principalmente por ter custos reduzidos. Nunca mais encontrei o Dr. Waldemar, acho que ele gostaria de saber que eu fazia atendimento de domingo a domingo. Eu queria que ele se lembrasse de mim.

Em média quantas pessoas você atendia por dia?

Atendia 30, 40 pessoas. Na época da safra, a noite eu atendia 20 safristas. Tudo particular. Aquele pessoal do Norte de Minhas iam ao consultório de onibus. Alugavam van para ir ao consultório, um ficava esperando outro ser atendido para ele receber atendimento. Por uns dois anos, eu fazia todo mês duas próteses para pacientes do Hospital Espírita Dr. Cesário Motta Júnior, atendia o pessoal com um enfermeiro acompanhando. Eu fazia trabalho voluntário para eles. Em Alfenas eu fazia trabalho voluntário no Hospital Psiquiátrico e na cadeia.

Como era a relação do dentista com o detento?

Era complicada, isso porque não havia equipamentos, nem consultório, o paciente-detento sentava em uma cadeira comum, o único procedimento realizado era a extração. Os equipamentos mínimos necessários já iam esterilizados. Tinha que encontrar uma posição melhor para extrair, é jeito e não força que permite a extração. Os detentos morriam de medo dos dentistas. Teve um caso em que o preso tinha cometido um crime com requintes de crueldade, ele ficou com dor de dente, ele tinha um pavor de mim porque era dentista. Eles permaneciam algemados e estavam sempre escoltados.

Até que ano você manteve o consultório no Bairro Recreio?

Em 2006 o meu marido Jeremias já estava trabalhando em uma grande instituição financeira. Eu estava muito cansada, trabalhava de domingo a domingo. Um fato muito comum com dentistas é que o relacionamento interpessoal é quase inexistente, por questões técnicas o paciente não pode manter diálogo, o dentista pode falar a vontade, ao paciente resta ouvir. Cria-se um relacionamento de monologo. Embora muitas vezes haja um forte vinculo de amizade entre dentista e paciente.

Como seu deu uma grande mudança profissional na sua vida?

Estávamos em um pequeno grupo de amigos, entre eles uma amiga que trabalhava na mesma instituição em que o Jeremias trabalha. Ela disse-me que havia uma excelente oportunidade, me incentivou a prestar um concurso. Passei em sexto lugar. Assumi em 6 de agosto. Eu já tinha feito dois cursos de especialização, um deles em ortodontia.  Passei a trabalhar de manhã no consultório na chácara, como clica geral e ortodontista. Das 11:00 as 17:00 trabalhava nessa instituição financeira, na época era proibido fazer hora extra nessa empresa. Eu voltava para casa e trabalhava no consultório até tarde da noite. Em uma dessas ocasiões um individuo armado com arma de fogo e arma branca colocou em risco a integridade da família. Decidimos mudar para Piracicaba, deixamos a nossa chácara que era enorme e fomos morar em um apartamento. Nesse meio tempo conheci um movimento denominado “Simplicidade Voluntária”, mostra que a pessoas podem viverem com menos, podem mudar. Estudei o assunto, mostrando exemplos de grandes executivos. Pensei exatamente isso: “-Posso viver com menos!”. O consultório é uma vida de frustração, você trabalha tanto, você não tem uma relação interpessoal, acaba gastando com bens que nem precisa.  As vezes pode estar com dinheiro no bolso sem saber com o que gastar. Para mim isso não faz sentido. Eu não era feliz. Hoje trabalho em uma importante instituição financeira nacional, tenho uma função que me dá muita satisfação, uso muito da psicologia que pratiquei no meu consultório.

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