sábado, maio 17, 2014

KARIN IZABEL FITAS LOUREIRO – CECAN


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de maio de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
 


ENTREVISTADA: KARIN  IZABEL FITAS LOUREIRO –
CECAN -CENTRO  DO CÂNCER DA SANTA CASA DE PIRACICABA ( INSTITUTO DE ONCOLOGIA CLÍNICA DE PIRACICABA)

 

Karin Izabel Fitas Loureiro nasceu na cidade de São Paulo a 27 de agosto de 1975, filha de Antonio Augusto Loureiro e Emília Fitas Loureiro. Foi aluna do Colégio Santana, fez magistério no Cefam- Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério formou-se em Tecnologia de Processamento de Dados pela Universidade de Guarulhos.

Em que ano você veio para Piracicaba?

Foi no ano de 2005, vim trabalhar no CECAN convidadda pelo Dr. André Moraes para trabalhar na parte de pesquisa clínica.

No que consiste essa pesquisa clínica?

São estudos para a administração de novos medicamentos. Todo medicamento existente no mercado já passou por estudos clinicos. Existe várias fases de estudo de uma droga nova, são fases: 1, 2, 3, 4 e 5. Normalmente fazemos estudos das fases 3 e 4. A maioria dessses estudos envolvem outros países, é um intercâmbio internacional. Geralmente um medicamento já em uso é comparado ao uso e resultados de um novo medicamento. Esses estudos são aprovados pela ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária, pelo Food and Drug Administration (FDA) norte-americano. O Estudo clínico ao mesmo tempo em que é feito no Brasil também se realiza em vários outros países. Há um trâmite regulatório imenso. Um exemplo, a paciente tem câncer de mama, já realizou um tratamento, é oferecida uma outra opção, se a paciente concorda, é feito um contato com uma central, normalmente fora do país, é dado um número aleiatório (randômico) a paciente, o medicamento vem por lote e numeração. Determinada pessoa que recebe esse número, será sempre o mesmo número no mundo todo. Todos os dados do paciente é informado a essa central, menos a identidade. Todos os exames, de sangue, imagem , são analisados no exterior.

Quantos centros de estudos nesses moldes existem no Brasil?

São muitos. Em Barretos, Jaú. Em São Paulo quase todas as faculdades tem esses centros de estudos.

Quantos pacientes o Cecan atende por mês?

Entre quimioterapia e radioterapia por mês são atendidos por volta de 600 pacientes.
 
Qual a faixa etária dos pacientes atendidos pelo Cecan?

A partir dos 18 anos de idade. Aqui só atendemos pacientes adultos.

A incidência maior de câncer no homem atinge qual parte do seu organismo?

A próstata. Na mulher a mama.

O câncer de próstata tem cura?

Pode ser curado, desde que se faça o tratamento, seja diagnosticado o quanto antes possível, através de exames regulares, assim como o câncer de mama. A mulher ao menos uma vez ao ano deve ir ao ginecologista, pode detectar logo no inicio um câncer de ovário ou de mama.

O Cecan atende aos pacientes da Santa Casa?

Atendemos todos os pacientes da Santa Casa, que necessitem do tratamento para câncer, isso envolve pacientes particulares, conveniados , pacientes do SUS.

A partir do diagnóstico positivo é feito o tratamento que no Cecan envolve quais procedimentos?

A confirmação da existência do câncer se dá através da biópsia. Os pacientes que chegam aqui já fizeram a biópsia. Eles então recebem a quimioterapia, que pode ser venosa ou oral. Ou é feita a radioterapia, que é na própria região afetada. Há pacientes que fazem ambos tratamentos. Muitas vezes é feita a quimioterapia, para diminuir o tamanho da área afetada e depois fazer a cirurgia. De acordo com o resultado da cirurgia o paciente pode retornar para continuar o tratamento.

Há quanto tempo você trabalha no Cecan?

Ha nove anos.

Nesse período você tem visto muitos pacientes com sobrevida?

Bastante! Depende do diagnóstico, depende da doença e o que interfere muito, é a vontade da pessoa de viver. Desde que estou aqui a cada dia aprendo mais, e fica evidente a importância da garra que o paciente tem em querer viver. Isso faz a diferença. E também o apoio da família. Cerca e 70% dos pacientes que atendemos é através do SUS. Muitos deles vem até aqui sem ninguém acompanhando-os. Muitos são com poucos recursos financeiros, tem habitos como tabagismo, fazem ingestão de alcool. Estão bem debilitados. Alguns  nunca se cuidaram da forma correta. Outros não tem noção da importância do mal que os acomete. Dizem “tenho aquela doença” não querem dizer o nome. Algumas famílias pedem que não seja dito ao paciente que ele está com câncer. Ele não sabe.

No seu ponto de vista você acha que o paciente tem que ter consciência da doença que têm?

Na minha opinião ele deve saber. Caso o paciente saiba que sua sobrevida é de três ou quatro meses ele irá tomar algumas atitudes que nunca teve coragem de tomar.


A sua função dentro do Cecan qual é?

Sou coordenadora de pesquisa clínica e gerente de Relações Humanas.


Quantos médicos atendem no Cecan?

São oito médicos.Na parte de quimioterapia temos 11 enfermeiros e técnicos. Na Radioterapia temos 6 técnicos. Dois dosemetristas e dois físico-médicos. São eles que fazem os cálculos de doses a serem ministradas nos pacientes.

O tratamento do câncer é de um custo elevado, como vocês mantém esse tratamento?

Recebemos através do SUS, dos convênios.

O Cecan tem uma boa imagem junto a população e a seus pacientes.

O Cecan recebe o paciente para tratamento, ele não vem até aqui para falecer. Temos que atende-lo com alegria, dar carinho, acolhimento ao paciente. Ele tem que se sentir bem aqui. Sem medo ou receio. Tentamos sempre fazer o tratamento confortável. Ele precisa disso. Como cuido do departamento de Relações Humanas procuro incentivar  o bom humor entre nosso pessoal. Implantamos entre os funcionários e pacientes um brechó, com a autorização dos responsáveis pelo Cecan. Em um sábado realizamos a venda simbólica dos bens que cada um voluntariamente deu. Com o resultado apurado na páscoa enfeitamos a clinica com motivos alusivos a data e conseguimos dar um chocolate para cada paciente,  isso é muito importante para ele: sentiu-se lembrado! No Natal fizemos um bingo. No dia das mães fizemos um evento, chamamos o pessoal da Mary Key que sempre nos apoia, fizemos a semana da beleza, todos voluntários. Enquanto a paciente estava esperando durante a quimioterapia, era feita a unha dela, uma maquiagem, uma massagem. Você sente pela expressão do rosto da paciente que ela está gostando. No ano passado fizemos um show junto com a Regina Gomes, falando da vida de Elis Regina. Foi realizado no Teatro da Unimep. Vieram vários músicos para acompanhá-la no show, um deles toca no conjunto do Roberto Carlos. No mês de junho, durante todo o mês realizo festas juninas, dentro da clínica. Fazemos umas barraquinhas, tudo é decorado como alusões a data, faço pipoca, chá de gengibre, tem paçoca. Fica o dia todo para o paciente comer. Eles adoram. Cria um clima diferenrente do cotidiano. Chegamos a dançar quadrilha com os pacientes. Vestimos um paciente de noivo, uma das médicas foi a noiva. É muito gratificante a reação deles. A alegria deles é enorme com o mínimo de atenção que recebam.

Existem pacientes que permanecem internos?

Não, eles vem e saem todos os dias. Aqui só realizam consultas e tratamento. Procedimentos cirurgicos são realizados dentro da Santa Casa.

Quando um paciente tem um câncer a família fica também doente?

Tem muitas famílias que ficam. Há pacientes que ficam com depressão. A psicologa faz o seu trabalho, muitas vezes tem que cuidar até da própria família do paciente. Para a mulher existe alguns momentos em que ela se abala muito, principalmente quando perde os cabelos. Para algumas é o momento mais difícil do tratamento. Mexe com a vaidade, com a auto estima feminina. Tem algumas voluntárias que vem ensinar a colocar o lenço, como fazer um visual diferente.

O homem é mais depressivo do que a mulher nesses casos?

Eles não demonstram tanto, não exteriorizam, mas na minha opinião são mais depressivos do que a mulher.

Você demonstra uma energia muito forte para trabalhar com essas situações, isso é uma característica pessoal sua?

Acredito que sim, e trabalhando aqui sinto mais motivação em ajudá-los. Existem muitas pessoas necessitando de ajuda, um pequeno gesto já é muito importante para eles que estão muito sensiveis. Tem o caso de um paciente que está fazendo radioterapia hoje, ele mora em uma determinada cidade próxima, o transporte da prefeitura da localidade passa na casa dele as quinze para quatro horas da manhã. Outro dia ele chegou antes das seis horas da manhã e o transporte veio buscá-lo só as sete horas da noite.

E a alimentação desse homem?

Alguns pacientes trazem algo para comer, outros não trazem nada. Simplesmente eles não têm nada para trazer para comer. Muitas vezes pedimos à Santa Casa, eles mandam, a título de caridade. As vezes o paciente passa mal, não em função do tratamento, mas sim porque estava sem comer nada. As próprias enfermeiras acabam comprando um suco, uma bolacha para dar ao paciente.

O Cecan é uma entidade terceirizada da Santa Casa?

Exatamente, mantemos um contrato com a Santa Casa.

O paciente residente em Piracicaba tem transporte que faz sua locomoção?

A prefeitura se encarrega disso. Nossa assistente social, Karina Vieira se encarrega de providenciar isso tudo. Alguns pacientes vem uma vez por mês, pegam o remédio e tomam em sua própria casa.

Há pacientes que persistem em manter habitos que prejudicam sua saúde?

Tem paciente que faz radioterapia, quimioterapia, acaba de realizar o procedimento de tratamento e vai para o lado exterior do prédio fumar pela traqueostomia. (Traqueostomia é um orifício artificial criado cirurgicamente através da frente de seu pescoço e em sua traquéia). A primeira vez que vi não acreditei naquilo. Infelizmente isso existe.

A incidência de câncer está cada vez maior?

Está. A meu ver o stress, a alimentação, a qualidade de vida, isso tudo contribui. O alto nível de consumismo impulsiona o ritmo de vida. O ser humano busca cada vez mais a aquisição de bens sem desfrutar plenamente o que já conquistou. As pessoas se auto impõem um ritmo de trabalho alucinante.


O tratamento realizado pelo Cecan em Piracicaba pode ser considerado equivalente aos procedimentos realizados nos grandes centros?

A tecnologia permite que o mesmo tratamento realizado em renomados hospitais de São Paulo sejam identicos aos procedimentos feitos pelo Cecan. O corpo clínico é altamente qualificado.

Na nossa região há muitos casos de câncer de pele?

Por muito tempo descuidou-se da proteção contra os raios solares. Atualmente a população está mais bem informada, cuida-se melhor. Usam protetores solares, bonés, chapéus. Hoje temos condições de diagnosticar a doença e tratá-la, antigamente a pessoa ia a óbito sem saber o motivo. Há um volume maior de informações, a medicina é mais acessível.

O Cecan pode ser acessado pela internet?

Estamos elaborando nosso site, acredito que até julho deverá estar disponível ao público.


Há uma pré-disposição para o Cecan informar melhor a população sobre o câncer, prevenções e tratamento, em particular em grupos que solicitem esse tipo de informação?

Acredito que sim, nós não temos uma estrutura voltada para esse tipo de trabalho, porém é passivel de estudo formarmos um polo que possa divulgar o mínimo necessário. Grande parte da população não tem a mínima noção do que é uma radioterapia. Um procedimento que geralmente é feito em apenas quinze minutos, por um período pré-determinado. Por exemplo, trinta aplicações uma a cada dia, em um período de trinta dias. São tratamentos dados em dosagem pré-calculadas e dispersos nos correr dos dias. A radioterapia é feita muito para aliviar a dor.


No seu ponto de vista, convivendo com tantos pacientes, você acredita que a pessoa que tem um espírito elevado, popularmente chamado de “alto-astral” é um bom caminho para combater o câncer?

Acredito muito nisso. Já vi muitos pacientes com garra vencerem a doença. Analisando casos percebo que pessoas rancorosas, que guardam mágoas, coincidentemente constituem um número maior de portador de câncer. O inverso também ocorre, pacientes com famílias esfaceladas, problemáticas, mas que mantém o espírito de solidariedade, de auxiliar ao próximo, vencem barreiras enormes.

Vocês fazem o transpante de medula?

Temos profissionais habilitados para isso, mas nessse caso encaminhamos o paciente para São Paulo ou outras regiões que realizem esse procedimento.

Há como clubes de serviços, entidades beneficentes contribuirem com o Cecan?

Pelo fato de atendermos a população nas faixas de A até Z, os voluntários podem contribuirem com o que quiserem. Sempre haverá alguma coisa em possam ajudar. Hoje por exemplo, ganhei duas caixas grandes de bolacha. Vou embalar em pequenas porções e dar aos pacientes. Geralmente os doadores são pesssoas anonimas, familias de pacientes que são tratados aqui, os Doutores da Alegria nos ajudam sempre, estão presentes em todos eventos que realizamos.

Como é a história dos Super Herois?

Pessoas com roupas de super herois iniciaram o seu trabalho na luta contra o câncer infantil, viram que funciona, decidiram fazer visitas para adultos. Você não tem noção da reação dos pacientes. Toda sexta-feira eles vem até aqui, normalmente 10 horas da manhã. Os pacientes ficam fascinados. Até mesmo os mais idosos. É uma animação enorme. Os pacientes adoram. É um momento de descontração, o paciente esquece que está em tratamento. Tem quimioterapia que demora seis a sete horas, com o paciente sentado na poltrona, se você fizer um bingo das 9 horas da manhã até o meio dia o paciente não percebe o tempo passar. Alguns acabam o tratamento e permanecem jogando. Outro não é o dia de ele vir ele vem para participar do bingo. A carência deles é enorme. Na minha opinião a população pode ajudar mais.

Quem quiser colaborar pode procurar você aqui no Cecan, que fica anexo a Santa Casa de Piracicaba?

Pode me procurar que dependendo do que a pessoa for fazer eu ajudo. Vamos criar, fazer.

Uma contadora de histórias pode vir até aqui?

Apoio e ajudo no que for necessário.

Existem muitas famílias que apoiam o paciente, mas existe também famílias que abandonam o paciente?

Existe sim, são famílias que internam o paciente e o deixam internado na Santa Casa. Muitas vezes o paciente tem alta eles nem vem buscar.

São pessoas carentes?

Acredito que todos são carentes de afeto, mas nesses casos são pessoas que também são carentes financeiramente. Há paciente que vem sozinho, nunca vimos ninguém da sua família. Atualmente a demanda para tratamento é muito grande.

sábado, maio 10, 2014

MARCELO COSTA PIACENTINI


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 19 de abril de 2013.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/








ENTREVISTADO: MARCELO COSTA PIACENTINI

 

Em 26 de novembro de 1958, moradores da Vila Rezende, preocupados com os problemas do bairro, formaram a Sociedade Amigos de Vila Rezende, (SAVIRE) para reivindicar soluções junto aos poderes públicos e atender famílias necessitadas com cestas básicas. A Prefeitura Municipal que na época tinha como Prefeito o Comendador Luciano Guidotti, sempre os atendeu prontamente. Percebeu-se então a necessidade da criação de uma creche e berçário para que as mães, com filhos menores e de baixo poder aquisitivo, pudessem trabalhar e melhorar suas condições de vida ajudando, assim, no orçamento familiar. Depois de muita luta junto às autoridades, conseguiu-se da Prefeitura Municipal a doação de um terreno localizado próximo ao Hospital dos Fornecedores de Cana, com uma área de 4.480 m² , para a construção da sede própria da Savire, que provisoriamente funcionava no Instituto Baronesa de Rezende. Assim que se concretizou tal doação iniciaram os trabalhos preliminares da obra e elaborou-se uma planta para a construção de área de 700 m², onde seria construída a creche cuja capacidade inicial era para atender 100 crianças. Realizaram-se campanhas junto a população, indústrias e comércio do bairro para angariar fundos. Em 1º de agosto de 1977, foi inaugurada a Creche e Berçário “Ada Dedini Ometto” que atua até hoje com crianças na faixa etária de 04 meses à 12/13 anos, com atendimento assistencial e educacional em período integral.

Marcelo Costa Piacentini nasceu a 25 de setembro de 1981, em Piracicaba, filho de Antonio Francisco Piacentini e Vanda Helena Costa Piacentini, que tiveram os filhos: Rodrigo, Elaine e Marcelo. Marcelo é sócio-proprietário em uma empresa situada no centro de Piracicaba tem uma atividade intensa como voluntário na assistência social.

Em quais entidades você presta serviço voluntário?

Sou vice-presidente da Creche Ada Dedini Ometto que abriga 140 crianças na faixa de 04 meses a 13 anos. O presidente é Waldir Mutti. São 12 diretores, todos voluntários, cada um tem sua ocupação profissional fora da creche. As mães deixam essas crianças pela manhã, vão trabalhar e ao final da tarde buscam-nas. Lá essas crianças recebem o café da manhã, almoço e café da tarde. É uma entidade que depende do voluntariado, da colaboração das empresas, é mantida apenas com esses recursos. Estamos implantando algumas atividades como judô para os meninos e ballet para as meninas, aulas de inglês, horta comunitária. Temos uma sala de informática. Temos dois salões que são alugados para festas de casamentos, formaturas.


As crianças têm ensino regular?

As crianças recebem aulas de pedagogos, temos o suporte de psicólogas, assistentes sociais, ao todo são cerca de 35 profissionais que trabalham na creche.

Como vocês conseguem arrecadar recursos para manter essa estrutura?

Além das empresas que colaboram há anos com a creche, dependemos de eventos. Há algum tempo fizemos um jantar italiano, trouxemos Tony Angeli que é considerado hoje o maior interprete da música italiana no Brasil. Foi um sucesso. Ainda recentemente fizemos um chá beneficente, com galinhada, tivemos a presença de cerca de 450 pessoas em nosso salão.

A creche estará representando um país na tradicional Festa das Nações? 

 Estaremos representando a Itália na 31ª Festa das Nações que irá acontecer no período de 14 a 18 de maio no Engenho Central Nesses cinco dias deverão passar pela nossa barraca cerca de 8.000 pessoas. Servimos massas, pratos típicos da Itália, a famosa caçarola italiana, servimos vinho nacional, assim como vinho italiano. Na quarta e quinta feira são festas fechadas, recebemos por noite 400 pessoas que adquirem seus convites antecipadamente, serve-se a vontade, com bebidas a parte. Na sexta, sábado e domingo são festas abertas, a comida é servida por quilo. Todas as noites das sete horas até a uma hora da manhã temos musica italiana ao vivo. Nas sextas, sábados e domingos o público permanece até as duas ou três horas da manhã. Todos os voluntários vestem roupas com as cores da bandeira da Itália. A barraca é decorada com motivos alusivos à Itália. Neste ano com o apoio de alguns empresários, investimos na decoração, acredito que temos algumas surpresas para oferecer ao público. Temos profissionais de todas as áreas que trabalham como voluntários nessas cinco noites.

Você participa de outras ações sociais?

Participo do Projeto Viva Feliz na Terceira Idade, junto com profissionais da saúde, do direito, realizamos palestras sobre prevenções, sobre legislação, é um projeto que envolve cerca de 50 pessoas. O objetivo principal é esclarecer, prevenir eventos que possam afetar a saúde e qualidade de vida do idoso. Visitamos grupos que se reúnem em centros comunitários, salões de igrejas. Na Estação Idoso “José Nassif”, na Paulista fazemos reuniões com seis grupos.

Nesses chás de idosos algumas vezes ocorre jogos, brincadeiras, e um deles, é o bingo, que na região também é conhecido como “tômbola”, com prêmios não em dinheiro, mas em objetos. Como você passou a “cantar” bingo nessas entidades?

Foi em uma dessas visitas a um grupo de idosos, pediram que eu narrasse o bingo. Nunca tinha feito, mas acabei narrando. Logo outro grupo me pediu e assim sem perceber eu passei a ser procurado pelos grupos de terceira idade para narrar bingos beneficentes. Hoje chego a cantar a de 15 a 20 bingos por mês.

Você ganha alguma coisa com isso?

Não ganho nada. Nunca ganhei um centavo com esse trabalho. Em quatro anos que comecei a ser convidado a cantar bingos em entidades assistenciais, já cheguei a ir a um a tarde e outro a noite. São aproximadamente oito horas em pé. São muitas entidades que necessitam de recursos, tem dificuldade em conseguir prendas para o sorteio, todos que trabalham são voluntários. Já cantei bingo para 1200 pessoas no salão ao lado da Igreja São Pedro, na Vila Rezende, toda a arrecadação foi em benefício do Ceacan Centro de Apoio a Prevenção Ao Câncer, Doenças Degenerativas e Deficiências Socias Multiníveis e já cantei bingo para cinco pessoas. Não sei falar de valores que uma entidade arrecada, nunca tive essa preocupação. Fiquei muito emocionado quando fui cantar um bingo no Lar dos Velhinhos e quase 600 pessoas me aplaudiram em pé.

Existe alguma técnica para cantar bingo?

Acho que a única técnica é fazer com amor. Quando subo no palco penso no que estou fazendo e para quem estou fazendo. Observo a faixa etária, se for mais de idosos preciso fazer de forma mais pausada, se for composta por jovens, dou uma acelerada. Quando chego, não importa a quantidade de pessoas, cumprimento cada pessoa, individualmente. Não cheguei a cumprimentar os 1200 presentes naquele bingo. Chego de três a quatro horas antes de começar o bingo e cumprimento a todos, no ultimo foram 400 pessoas. Faço isso com carinho, de coração, muitas vezes deixo a minha família sábado á tarde, a noite, aos domingos, algumas vezes a minha família me acompanha.

Quantas pessoas participam da organização do bingo?

Hoje são aproximadamente 20 pessoas. Todos como voluntários. Todo resultado apurado em valores é destinado à entidade. Isso ocorre também na Festa das Nações, onde hoje temos perto de 120 voluntários, só na nossa barraca.

Esse projeto “Viva Feliz na Terceira Idade” foi criado por quem?

Juntos, a Eliana Pacheco e eu criamos esse projeto. Temos o “Espaço Saúde”, que é um dia em um bairro pré-determinado em que reunimos profissionais da área da saúde e fazemos um dia voltado à população daquele bairro. Esse trabalho ajudou muitos idosos a sair da depressão, conduzindo-os a participar de grupos da terceira idade. Criamos grupos de terceira idade em bairros. O objetivo é reunir pessoas da terceira idade e que estão sem nenhuma perspectiva a se juntarem a um grupo. Mostrar que a vida ainda é interessante para eles. Mostrar que a vida vale a pena.

Você já pensou em participar de alguma atividade política?

Já recebi convites, mas acho que se entrasse na área política minhas limitações seriam maiores, as cobranças seriam maiores. Hoje é muito mais fácil encarar uma pessoa e dizer-lhe: “-Olha, eu infelizmente não consigo lhe ajudar neste momento”, ela irá entender, eu ajudo sem nenhuma obrigação.  A partir do momento em que eu ocupar um cargo político a pressão é enorme para que atenda a necessidade daquela pessoa. Eu me sinto feliz em realizar esse trabalho social, faz bem até para minha saúde. Muitas vezes chego cansado em casa, de madrugada, para no dia seguinte estar trabalhando normalmente. Parece que no dia seguinte minha energia volta ao normal. Sinto-me feliz em ver uma criança feliz, em poder auxiliar um idoso. O que me gratifica é um elogio, um abraço, um “muito obrigado”.

Como empresário como você vê a iniciativa social de uma empresa?

Há muitos empresários que assumem essa responsabilidade social, abraçam uma causa. Assim como tem empresas que não tem o mínimo interesse em olhar o lado social. Não é só uma questão financeira, às vezes a simples presença da pessoa nos auxiliando na nossa barraca, visitando nossa entidade, isso nos fortalece. O voluntário não tem que ser convocado, ele tem que se oferecer. Trabalhei ensinando idosos a usarem celulares, a entrar na internet. Fazia isso como voluntário.

Qual é a imagem que os idosos fazem de você e do seu trabalho junto a eles?

Eles brincam dizendo que sou “um jovem na terceira idade”. Eu participo das viagens que eles fazem, de almoços, jantares que realizam. Vou aos bailes, danço. Meu divertimento é entre os idosos. E junto a eles me sinto cada dia mais jovem, a energia que eles têm a sabedoria, eu não consigo acompanhar. Eu me inspiro nos meus pais, eles que me deram essa educação. É uma satisfação ouvir dos meus pais quando dizem que têm orgulho de ter um filho como eu. Isso me enriquece. O projeto “Viva Feliz” com o apoio da Ótica Piacentini está fazendo uma mega campanha de doação de armação. É voltado para as pessoas que tem óculos antigos guardado em casa, não usa mais, incentivamos a doarem na Rua Governador Pedro de Toledo, 896. Temos uma parceria com os laboratórios que fazem a doação das lentes. Reformamos as armações, colocamos as lentes adequadas conforme receita médica e doamos as pessoas que necessitam e não tem condições de adquirir. Em 2013 doamos cerca de 230 óculos. Nosso objetivo em 2014 é atingir 500 óculos doados. Vemos na periferia, crianças, idosos, que passaram por uma consulta, uns até com sete graus de miopia, e não tem como adquirir óculos. A própria prefeitura tem um projeto que todo ano realiza um mutirão. Só que é muita gente para ser atendida. Um caso que marcou muito foi uma menina, cadeirante, mora em situação de risco, doamos óculos que necessitava. Em paralelo conseguimos uma pessoa que ministrasse um curso de informática para ela, conseguimos reformar a casa dela. Envolvemos-nos completamente, não ficamos apenas na doação dos óculos. Achamos importante que outras óticas participem também desse projeto.

De que forma os jovens podem participar dessas atitudes solidárias?

Existem muitas formas de participação, uma delas, que podemos fazer é o trote solidário, onde o calouro ao receber o trote quando ingressa no ensino superior, ele faça desse trote uma ação social. Algumas cidades já realizaram esse tipo de trabalho. Independente de profissão, religião, classe social, é gostoso poder ajudar outras pessoas, afinal somos todos iguais. Tempo existe, se a pessoa puder fazer um pouco que seja, para alguém mais próximo, da própria família, um amigo, teremos um mundo totalmente diferente. Hoje cuido de idosos, de crianças, da minha família, da minha casa, da minha empresa. Minha família ajuda, participa de alguns eventos. Temos que ter o apoio da família para continuar fazendo esse trabalho.

domingo, maio 04, 2014

ANTONIO CARLOS MORELATO JÚNIOR MOREL MORELATO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 29 de abril de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
 
 
ENTREVISTADO: ANTONIO CARLOS MORELATO JÚNIOR ( MOREL MORELATO)
 

Morelato é assim que muitos o chamam. Morel foi uma abreviatura criada pelas pessoas com maior convivência com o artista. A junção de Morel Morelato ficou sonora. Artista plástico, criador de novas técnicas, ele transformou o secular e trivial móvel infantil em uma expressão de arte. O que causa impacto a quem conhece as obras de Morelato é a contradição entre o mobiliário infantil, com motivos lúdicos, e sua arte, pinturas em tela, com expressão forte, pesada, densa. Se a vida imita a arte, a arte de Morelato retrata a pluralidade do ser humano.
Antonio Carlos Morelato Júnior nasceu a 7 de julho em Ribeirão Preto. É filho de Antonio Carlos Morelato e Mercedes Almeida Morelato que tiveram os filhos: Vera, Antonio Carlos, Maria e Sandra. 
Qual era a atividade profissional do seu pai?
Ele era proprietário de uma fábrica de balas. Começaram fabricando em Ribeirão Preto as balas Balas Rin Tin Tin, também fabricaram a bala Chita. A bala Rin Tin Tin começou quase em um fundo de quintal, depois que virou uma fábrica. Eu cresci em uma fábrica de doces, além das balas comuns, tinha as recheadas, tinha uma linha de chocolates, bombons, lembro-me de uma bala de menta recheada com licor de menta.
Você fez o curso primário em que escola de Ribeirão Preto?
Estudei no Colégio Marista, que inicialmente era denominado Marcelino Champagnat, lá estudei o primário e o ginásio. Tínhamos atividades esportivas, eu jogava futebol, era atacante.
Você chegou a ser motivado a seguir a carreira religiosa?
Eu era muito rebelde nessa parte religiosa, era um sacrifício ter que freqüentar as missas celebradas em latim. A igreja do Colégio Marista era muito bonita. Eu admirava aquelas santas que adornavam a igreja. Sentia uma atração muito grande pela arte com que eram feitas. Eram lindas. As imagens, o próprio altar, as peças em mármore. Eu me impressionava pela arte, não pela parte religiosa.


Em Ribeirão Preto você teve algum contato cultural além da escola?
Trabalhei no Museu Histórico e no Museu do Café. São dois museus no mesmo prédio, eles pertencem a municipalidade, mas é dirigido pela USP.
Como você ingressou no museu?
Fiz um concurso, eu tinha muita habilidade, fui contratado para trabalhar no museu, cuidava da manutenção, exposições. Fiz um curso com uma diretora de um museu do Rio de Janeiro, como eu tinha noção de arte procurei evitar que alterassem as características originais das peças existentes no processo de manutenção das mesmas. Já naquela época a idéia era de fazer um museu dinâmico, foi um período em que havia muitos jovens trabalhando lá, e a idéia de achar o museu estático era considerada um absurdo. O Museu do Café, que é ao lado, é em um casarão que pertenceu a Francisco Schmidt. Em 1913, Francisco Schimdt era o maior produtor de café do Brasil e recebeu o título de "Rei do Café". Ele construiu e morou nesse casarão, na época o local era uma fazenda. Ele alavancou muitas iniciativas econômicas e culturais em Ribeirão Preto. Trabalhando no museu, achamos que não deveria ser estático, as pessoas poderiam achar que estavam sempre vendo expostas as mesmas peças. Com o apoio de um diretor começamos a mudar o museu inteiro. Fizemos uma exposição revolucionária, o Pietro Maria Bardi esteve lá e me fez uma dedicatória dizendo que estava feliz em ver alguém tão novo já mostrando como um museu deveria ser. Até a pouco tempo tinha essa dedicatória guardada, perdi na ultima enchente do Rio Piracicaba, que transbordou e as águas destruíram tudo que atingiram. Outra pessoa que conheci foi Roberto Burle Marx.


O conceito de museu ainda não ficou muito claro para uma parte da população?
Museu é um local problemático. A pessoa tem uma garrafa velha que pertenceu a alguém, mas que não tem importância histórica nenhuma, a pessoa quer doar. Muitas vezes querem doar tudo que é coisa velha. Museu não é um depósito de coisas velhas. Nós conseguimos fazer uma reserva técnica ótima, conseguíamos substituir as coisas, a cara do museu estava sempre mudando. O Museu do Café em Ribeirão Preto parece que é o único cujas peças são originais, foram de fato utilizadas. Na época em que eu trabalhava lá, um pessoal de Tókio fez algumas réplicas de peças expostas no Museu do Café em Ribeirão Preto e fez um museu semelhante lá no Japão. Passaram meses e fizeram uma reprodução do nosso museu.
Até que idade você permaneceu trabalhando no Museu?
Até uns 26 anos. Foi quando conheci Henriete Bortoletto Maluf, mãe dos nossos filhos Laurita, Ramsés e Dark. Ela estudava biologia em Ribeirão Preto, eu trabalhava no museu, almoçávamos na USP, foi lá que nos conhecemos. Ela assumiu uma cadeira em uma escola em Santos, mudamos para Santos, no inicio moramos no Canal 5, depois fiz um ateliê em um bairro mais afastado chamado Humaitá. Lá me dei muito bem com os caiçaras. Havia um mangue rico em argila, fizemos grandes esculturas com esse material.
Quando estava no Museu do Café em Ribeirão Preto você já fazia arte sua?
Eu fazia pintura e escultura, trabalhei muito com argila e pedra sabão. Noventa por cento das peças mais antigas que eu tinha aqui foi perdida na enchente do Rio Piracicaba em 2011. Boa parte desse material não está mais comigo, eu vendi para um cientista francês, Christian Feller, que fazia um trabalho na ESALQ. Ele comprou um container de obras minhas. Todas as esculturas premiadas, trabalhos que eu tenho, estão na França.


Como foi o período em que você morou em Santos?
A pintura sempre foi o meu forte, eu comecei a entrar bastante em salões de arte e ganhar prêmios. Após uns três anos decidimos vir à Piracicaba.
Como você classifica sua arte?
Tem essa coisa mais comercial, que é a linha infantil, é arte, cada peça é única, um critico de arte, fez com que eu participasse de uma exposição no Museu de Arte Contemporânea da USP, ele me classifica como um expressionista nato, voltado muito para o expressionismo alemão. Ele também não entendia como de uma arte lúdica, infantil eu também fazia arte expressionista.


Você inconscientemente pode estar transmitindo em sua arte um conflito natural do ser humano com ele mesmo?
Acho que pode ser. Uma vez estava ouvindo Vinicius de Morais dizendo que o poeta é um grande mentiroso. Ele inventa uma dor onde não existe. Às vezes penso que é isso. Ou se artisticamente eu consigo transmitir o lado do sofrimento e o lado alegre.  
Qual técnica de pintura você usa em seus quadros?
É uma técnica mista, fui inventando, no inicio era com pigmento de casca de cebola, eu sempre ouvi falar que ao ferver a casca de cebola com o pigmento tingia-se cabelo. Isso é fácil de comprovar, basta cozer um ovo junto com casca de cebola, a casca do ovo ficará amarelada.  Hoje eu misturo muito, trabalho com pigmento de tinta industrial, verniz a base de água. O detalhe é que não uso quase o pincel, pinto com palha de aço, eu usava muito a ferrugem da palha de aço. Observando a ferrugem criada pela palha de aço na pia, percebi que era muito difícil de tirar a ferrugem da pedra.


Para adquirir uma obra de arte sua tem que estar com a carteira recheada?
(Risos) É difícil comercializar uma obra de arte quando não se está em um grande centro. Quase a totalidade dos artistas de Piracicaba não consegue sobreviver da venda dos seus quadros. Isso ocorre em outras áreas como escritor, músico. Não sei como é o mercado fora do Brasil, a impressão é de que há mais respeito pelos artistas.
Ainda vivemos resquícios do período colonial?
O homem que lê, que está bem informado torna-se um obstáculo aos que desejam o poder para se beneficiarem. Percebe-se que mesmo as grandes escolas particulares não levam as crianças para visitarem exposições. Sempre que vou dar oficinas nas escolas eu falo que felizmente estudei em uma escola que incentivava a arte. Na época os Maristas ensinavam música, esporte, futebol, cinema e já se preocupavam com ecologia, estamos falando de três décadas atrás.
As escolas, mesmo estaduais, ensinavam musica, arbitrariamente decidiram excluir música do ensino. Isso resultou no que temos hoje. Com a arte foi a mesma coisa?
Tive aulas de arte na escola. É importante dar essa formação para a criança até seus oito ou dez anos. Mesmo em escolas tidas como de alto nível, os próprios pais sequer conhecem a Casa do Povoador. Segundo alguns educadores, hoje há um grande temor em tirarem as crianças fora da escola pelo risco e pelo medo da violência. No meu ponto de vista, isso não se justifica. Há dez anos consegui levar crianças de seis anos para uma Bienal. Não aconteceu nada. Hoje já estão grandes, passam por mim e se lembram daquela visita a Bienal. Essa pessoa não irá esquecer nunca mais!  Ao que parece as escolas preparam o aluno para entrar na faculdade. Só isso. É um objetivo comercial. Não há a preocupação de formação da pessoa com filosofia, arte.
No seu ponto de vista o que é mais importante, o objetivo comercial, do aluno ser treinado para entrar em uma faculdade ou receber uma educação onde haja a formação humana?
Sem duvida, a formação humana é mais importante.
Ao seu ver, os sérios problemas éticos que encontramos em quase todas as áreas vem dessa formação incompleta do individuo?
Infelizmente a conduta de muitos indivíduos é movida pela falta de ética, má formação de caráter. Vemos diariamente desde alguém estacionando em local impróprio até pequenos delitos praticados por pessoas que o fazem pelo simples prazer de transgredir. Muitas vezes levam alguma coisa que nem vão usar, mas querem levar. È o desejo da posse.
Atualmente você trabalha em duas frentes, a sua arte expressionista e a arte lúdica. Como surgiu a arte lúdica em sua vida?
Comecei a fazer isso em Santos. Meus filhos eram pequenos, comecei a fazer quadros com desenhos infantis, usando giz de cera, a resgatar as brincadeiras de criança, eu escrevia muitos poemas. Tenho poemas voltados ao publico infantil e outra linha amarga. Quando vim para Piracicaba, o Colégio Piracicabano adquiriu uma série de trabalhos meus e recentemente eles me chamaram para dar uma oficina e me mostraram que meus trabalhos estão lá. Ainda em Santos percebi que não havia nada que eu gostasse para as crianças brincarem. As mesas eram brancas, com algum adesivo com motivo infantil. Passei a fazer dentro do apartamento mesmo, algumas peças já utilitárias. Logo em seguida viemos para Piracicaba, passei a fazer no apartamento em que viemos morar. Era tudo manual, na tinha equipamentos mais apropriados. Foi bom porque os meus filhos cresceram no meio disso. Em alguns quadros desses que foram para a França eu deixava que eles fizessem os desenhos deles, pequenininhos, para não interferir. A casa inteira era arte.
Alguém já lhe disse que fisicamente você lembra Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Ruiz y Picasso, ou simplesmente Pablo Picasso?

Já! (Risos) Eu queria ser um pouquinho dele!
O que os seus filhos acham de você trabalhar com arte?
Eles devem gostar. Tiveram uma infancia e cresceram de uma forma ludica, com arte, a mãe deles também gostava muito de ler. Eles tem um respeito muito grande pelas pessoas. São calmos, tranquilos, não se enveredaram pelos caminhos das drogas.

O momento de criação de um artista é sagrado. Cada um tem seu próprio clima para criação. Qual é o seu?
Ao criar minhas telas, tenho como companhia uma boa musica, um jazz ou blues e uma taça de vinho. Nada mais do que isso além do material para pintura.
Já aconteceu de alguém vizualizar em uma obra sua coisas que você nem de longe imaginou?
Pintura é como musica, se for bom musico tem que ensaiar todo dia. Pintar é a mesma coisa. Por isso sai facil a pintura. Muita coisa no quadro é acidental. A arte tem uma coisa muito interessante, as vezes você pinta algo aqui e tem alguém a milhares de quilômetros pintando alguma coisa muito parecida. (Nesse momento Morelato interrompe e vai buscar um trabalho seu, que é fruto das suas pesquisas com materiais alternativos). Você está vendo essa obra? Foi feita com bombril e alcool, raspando em cima de uma fotografia,  descobri que as fotos de papel que ficam escuras, ao serem raspadas com bombril e alcool formam essas figuras. Foi uma técnica que desenvolvi, ai em cima desse trabalho eu passo para uma tela maior. É impressionante como ao raspar surge a figura. Atualmente a maior dificuldade é conseguir fotografias de papel, inservíveis, para realizar esse trabalho. As fotos digitais suprimiram as fotografias reveladas em papel. Uso nos contornos o lápis dermatográfico, que é utilizado muito em cirurgias.

Você não pensa em dar oficinas para as crianças em escolas?
Andei dando oficinas nas escolas, nas particulares eu cobro, mas na pública além de não cobrar muitas vezes tenho que pagar o material que os alunos irão utilizar. Não é caro, mas se as pessoas apoiarem até abro mão do cachê. Na última que fiz dei o curso aos pais e aos alunos, mas no fim tive que levar o material, eu percebi a situação de precariedade deles. A oficina foi ótima. Uma lata de verniz custa em torno de R$ 50,00 , só que dá para dar oficina quase o ano inteiro. Esse ano já fui em duas escolas publicas sem ganhar nada. Muitas oficinas que dei em escolas particulares os alunos acabaram trazendo os pais para conhecerem o ateliê.

Você trabalhou com pessoas em situação de risco?
Trabalhei com psicóticos do Hospital Espirita Dr Cesario Motta Junior. Atualmente continua um grupo, e encontrei com uma das coordenadoras que me disse que tem pacientes ainda pintando por terem gostado muito.
Esse trabalho junto a detentos pode trazer bons resultados?
Funcionaria! Já pensei em fazer alguma coisa, não com o objetivo de industrializar. Já fiz trabalhos em comunidades de bairros distantes, como no Bosque do Lenheiro, alguns tem muito talento, o que falta é incentivar.

Sua linha ludica está em vário países?
Já vendi para pessoas de diversos países, holandeses gostam muito dessa linha. Tenho obras na Italia, França, Estados Unidos,  Teve caso em que tive que fazer o produto, e deixar pronto para o cliente montar no país dele. Recebi a visita de um general americano, do Texas, um homem enorme, que adquiriu alguns itens para decorar seu gabinete. Não contei, mas sei que produzi milhares de obras ludicas e estão espalhadas pelo mundo todo. Na linha lúdica uso de cinco a nove cores.
Você tem recebido visita des escolas em seu ateliê?
É um prazer receber as visitas das escolas, só peço que agendem com certa antecedência. Em abril deste ano, 2014, já vieram duas escolas. Acho importante que as escolas tragam seus alunos, muitos acham que artista só existe morto. Outro dia veio uma menina, de uns 8 anos, e disse-me que achou que eu era uma lenda, ja estivesse morto. Isso tem uma lógica: eles estudam os artistas que já morreram! Deduzem que todos os artistas estão mortos!
Você é um artista premiado?
Recebi prêmios em Ribeirão Preto, Santos, São Vicente, Cubatão, quando ganhei o Mapa Cultural aqui, os quadros foram adquiridos pelo Estado de São Paulo e estão na Pinacoteca do Estado de São Paulo como acervo., trata-se de uma série denominada: “ O Amor é Um Imenso Vazio Tentando Preencher Um Monte de Nada”. Morelato está no facebook como Made In Morelato.

MILTON COSTA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 26 de abril de 2013.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

ENTREVISTADO: MILTON COSTA

 


Milton Costa é piracicabano, nascido a 6 de fevereiro de 1967, filho de José Costa e Maria Regina Paulino Costa que tiveram cinco filhos: Paulino, Milton, Vanderlei, Carlos Alberto e Luiz Fernando. Milton é casado com Silvana Aparecida Rodrigues, é pai de Caroline, Pedro Henrique, Amanda Beatriz e Gabriel.

Qual era a atividade do seu pai?

Era caminhoneiro, trabalhava na Monflex.- Industria de Moveis Estofados Monflex. Ltda. Ele era conhecido por “Zélão”. Ele dirigia um caminhão Mercedes-Benz, modelo conhecido popularmente como “Cara Chata”, furgão. Na época morávamos na Rua Ipiranga, próximo a MAUSA. Freqüentamos muito o Oratório Dom Bosco, próximo ao SENAI, isso na época do Padre Bordignon (Padre Luiz Ignácio Bordignon Fernandes, nascido em Brazópolis, MG em 20/04/1921 e falecido em Araras no dia 22/03/2006). Freqüentávamos as missas, onde ganhávamos pontinhos pela freqüência e no final do ano ganhávamos prêmios. Sou oratoriano dessa época.

Havia incentivo à pratica de esporte?

O esporte era muito incentivado! Lá foi um caminho muito abençoado na nossa vida. Éramos cinco irmãos, cinco crianças de uma família pobre. O Oratório Salesiano Dom Bosco é uma historia de Domingos Sávio que acolhia as crianças da rua e levava para Dom Bosco dar ensinamentos salesianos. Nós aprendíamos as orações e depois fazíamos a prática de esporte. O sonho do oratoriano era ser salesiano. Era ser estudante do Dom Bosco. Era uma escola particular de elite. Como freqüentadores do oratório entravamos umas três horas da tarde, o padre nos levava para as quadras. Havia as quadras para os oratorianos e para os salesianos. Em alguns momentos ambos os grupos usavam as mesmas quadras. Esse padre conseguiu uma área só para os oratorianos, deixou a parte de cima para os salesianos. Ele ainda conseguiu um espaço onde fez salão de jogos para os oratorianos, snooker, xadrez, ping-pong.

A disciplina talvez tenha sido uma dos fatores muito importantes nessa convivência?

Foi maravilhosa! Foi o que deu Norte para sermos uma pessoa do bem! O Oratório Salesiano recuperou muita criança! Quando eu tinha oito anos a minha mãe faleceu. Meu pai lutava pela sobrevivência, viajava muito dirigindo o caminhão. Quando perdi a minha mãe estava interno em um colégio em Ferraz de Vasconcelos.

Como você foi parar lá?

A minha mãe vendo as dificuldades que enfrentávamos aqui em Piracicaba, decidiu mudar-se para São Paulo, levando consigo os cinco filhos. A princípio fomos morar no bairro Barra Funda, havia uma empresa que era ligada a Martini, fábrica de doces. Minha mãe foi trabalhar lá. Não era possível ela trabalhar levando ao serviço os cinco filhos juntos.  Um dos filhos ficou morando na casa do meu avô Benedito Paulino Filho, uma personalidade muito conhecida em Piracicaba pelos famosos bailes que promovia. Meu avô era o famoso “Bidito”! Uma das minhas tias, Vilma Paulino, sensibilizada com a nossa situação foi nos buscar, assim voltei a morar em Piracicaba na Rua Bernardino de Campos, 802, em frente ao Palmeirinha. Nessa época eu tinha de 12 a 13 anos. Eu já tinha freqüentado anteriormente a escola no Grupo Escolar Barão do Rio Banco, na Rua Governador Pedro de Toledo, em Piracicaba, isso quando morava na Rua Ipiranga, vi construir o Teatro Losso Netto. Brincávamos lá na época. Do Grupo Escolar Barão do Rio Branco fui estudar no Grupo Escolar Dr. Alfredo Cardoso. Por uma temporada fomos morar na casa do Tio Dirceu, ele era pintor de paredes. Com muitas crianças na mesma casa, nós acabamos indo para a Casa do Bom Menino.

O que era a Casa do Bom Menino?

Uma instituição que agrega crianças de rua, abandonados pela família. Vinha muita criança da FEBEM ( Fundação do Bem Estar do Menor) de São Paulo para Piracicaba. Tanto que encontrei alguns meninos que haviam estado comigo na casa de Ferraz de Vasconcelos aqui na Casa do Bom Menino. Isso depois de muitos anos.

A Casa do Bom Menino acolhia só crianças abandonadas ou também crianças problemáticas?

Acolhia a todos. Funcionava mais como um orfanato. Não era abrigo específico de menores infratores. Eram crianças que por inúmeras razões estavam abandonadas a própria sorte. Tivemos em Piracicaba outra instituição que por muitos anos acolheu e educou crianças nessas condições, que foi o Lar Franciscano de Menores. Assim como havia para as meninas o Lar Maria Nossa Mãe.

Com o advento do polêmico Estatuto da Criança e Adolescente essas instituições simplesmente foram extintas?

Foi isso mesmo. No Lar do Bom Menino tínhamos um bom time de futebol.

Em que posição você jogava?

Jogava de meio direita. Eu era muito rápido e tinha o raciocínio rápido em campo.

Nesse período em que permaneceu na Casa do Bom Menino você chegou a fazer algum curso?

Estudava na Escola Estadual de Primeiro Grau Prof. Augusto Saes. A Casa do Bom Menino situava-se na Rua Machado de Assis. Próximo ao Jardim Elite. Acordava as seis horas da manhã, ia até ao Augusto Saes e depois ia até a Casa do Bom Menino. Era semi-interno. Eu dormia na casa do meu tio e passava o dia na Casa do Bom Menino. Lá existia o curso de marcenaria, a Philips mandava as bobinas para serem trabalhadas, havia a serralheria. Conforme a vocação, um seguia um aprendizado. Os que gostavam de trabalhar com móveis trabalhavam na marcenaria. Os equipamentos eram projetados para oferecer a segurança adequada. Nessa época eu já estava com 16 a 17 anos.

Você se identificou com qual atividade?

Eu gostava de trabalhar com a Philips, era para passar quatro voltas de um fio em uma bobininha, fazia 100, 200, isso rendia um dinheirinho bom. Eu gostava também da marcenaria e do esporte. Havia um professor de educação física que além de aulas regulares proporcionava também o jogo de futebol. Portanto eu tinha o ensino regular na Escola Augusto Saes, almoçava na Casa do Bom Menino, As cinco e meia já tinha tomado banho, jantado e estava pronto para voltar para casa. Com o passar do tempo ia permanecendo cada vez mais na Casa do Bom Menino, lá estavam meus amigos. Com o decorrer do tempo passei a ser interno da Casa do Bom Menino.

Você acha que se não tivesse esse apoio da Casa do Bom Menino sua vida poderia ter seguido um rumo diferente?

Lá aprendemos a seguir regras e a ter disciplina. Em nosso meio havia menores infratores, que também seguiam as orientações que nos eram dadas. Só que éramos adolescentes, oriundos das mais diversas origens, com formações familiares distintas, era um convívio que às vezes gerava pequenos conflitos entre nós mesmos. Quem zelava para que a ordem fosse mantida era o diretor Antonio Carlos Danelon, o Totó, assistente social da Prefeitura Municipal. Ele sucedeu o Mineirão, que tinha métodos extremamente rígidos com os jovens. O Paulino, jogador do XV de Novembro, foi coordenador nosso na parte esportiva. O Paulino era uma referência para nós, ele tinha sido jogador do Santos. Até hoje o Totó me chama de filho! Lá que ele conheceu sua esposa Sueli. Era um período da nossa vida em que como jovens estávamos formando nossa personalidade. Tempo em que todos ambicionavam ter uma calça Lee, Lewis. Tínhamos a ânsia natural da idade em nos auto-afirmarmos. Só que tínhamos que trabalhar. Posso afirmar que o melhor conselho é o exemplo que recebemos de outras pessoas. Você sente que realizar ou dizer algo errado é mais difícil.

Com que idade você saiu da Casa do Bom Menino?

Sai de lá com uns 18 anos. Fui ser servente de pedreiro, por um tempo voltei a morar com a minha tia, depois acabei morando na rua. Dos 18 aos 20 anos fui morar na rua. Ao lado da antiga revenda Chevrolet, a Colina, havia os ônibus da Viação Prisma, havia um muro enorme do Posto dos Furlan, meu pai ficava com o caminhão lá, passei a morar dentro do caminhão, só que ele tinha que sair cedo para carregar o caminhão, e eu tinha que acordar cedo e sair do caminhão. Com o passar do temo nós pulávamos o muro e dormíamos dentro dos caminhões da CCNC- Comércio de Combustíveis Noiva da Colina. Eu passei a trabalhar como frentista no posto de gasolina situado na Avenida Saldanha Marinho, eu tinha uns 20 anos. Fiquei uns três anos trabalhando no posto. Fui trabalhar em uma empresa de comércio de combustíveis, meu serviço era o de limpar piche desses tanques que são colocados no solo e funcionam como depósito de combustíveis de postos de gasolina. Eu tinha que tirar aquele piche com querosene.

Pelo lado externo ou interno do tanque?

Entrava no do tanque, sozinho, sujeito a um mal súbito, era um ambiente bastante tóxico, sem ventilação, usava uma mascara de enfermagem, botas, bermuda e sem camisa. Depois voltei a trabalhar no posto de gasolina. Embora trabalhasse aos sábados até as oito horas da noite o salário era melhor e o serviço mais saudável. Após algum tempo, com uns 22 anos, fui morar no bairro rural Limoeiro, adiante de Artemis.

Como você foi parar no Limoeiro?

Eu tinha amizade com um grupo que era da família Broggio, eram proprietários da indústria Santin, eles tinham uma chácara onde sempre tinha festas e eu freqüentava. Em um carnaval teve uma festa, acabei perdendo a hora de trabalho no posto de gasolina, perdi o emprego. Passei a trabalhar para a família, como trabalhador rural, cuidando de porco, do jardim, era um serviço mais sossegado, a alimentação era melhor. Morei na Fazenda Santo Antonio por quatro anos mais três anos na chácara. Foi na fazenda que aprendi a trabalhar com implementos agrícolas, domar cavalos, cuidar de gado.Curava bezerros, por uma ano tratei de um touro nelore que tinha tido uma briga com um touro holandês. Ganhei experiência em aplicar injeções em animais. Voltei para a cidade, fui trabalhar na Nechar  em Rio das Pedras, saia as 4:15 da manhã de casa, pegava o ônibus da empresa as 5 horas da manhã na Avenida Armando Salles, tinha voltado a morar com minha tia Vilma, na Rua Bernardino de Campos. Essa minha tia foi importantíssima na minha vida. Meu irmão mais velho nos deixou, foi seguir a carreira esportiva. Eu fiquei com a incumbência de olhar pelos meus irmãos. Na Nechar eu era terceirizado através de uma agência de Piracicaba, fui admitido como funcionário da Nechar para trabalhar no estoque da empresa. Lá eu vi a primeira greve na minha vida. Fui convidado a voltar a trabalhar na Fazenda Santo Antonio, no Limoeiro. Voltei. Só que a minha visão sobre as coisas eram diferentes, as coisas tinham mudado na fazenda. Voltei a morar com a minha tia. Lembro-me que teve um domingo em que chorei o dia inteiro. Identifico-me muito com o problema de outras pessoas. Na segunda feira consegui trabalho na Gramarmo, de propriedade de José Benedito Longo. Ele me deu uma oportunidade, eu cortava aproveitamento. Pedrinhas de 10X10; 5X5 centímetros. E assim por diante. Eu não era serrador, era ajudante. Trabalhava em máquinas perigosas como serrador e cortando aproveitamento sem experiência nenhuma. Fui pleitear meu direito, o serrador tem o melhor salário de uma marmoraria. Vendo meu nível de trabalho, colocaram-me no acabamento, na entrega, Sai da serra, que era uma qualificação profissional em que deveria ter sido mantido e passei a ser ajudante de entrega. Fui conhecer o mundo. A empresa era muito forte. A Gramarmo tinha até premiações concedidas por órgãos do setor de rochas e granito. Fizemos o serviço de mármore na casa do banqueiro dono do Banco Safra, em São Paulo. Colocamos muito mármore em mansões nos bairros Morumbi, Interlagos.

Você chegou a fazer um trabalho em que abaixo do piso de mármore havia uma serpentina de cobre para aquecimento do mármore no inverno?

Fizemos esse trabalho na mansão do Jair Coelho, “Rei das Quentinhas”, no Rio de Janeiro. (Famoso fornecedor de refeições que servia a 6.500 presos do Estado do Rio de Janeiro) Era mármore transparente, mármore-ônix, importado. Durante essas viagens ficava hospedado em hotel. Permaneci na Gramarmo por uns seis anos. Fui trabalhar na Casarin, logo em seguida trabalhei na Marmo Itália Mármores E Granitos Ltda. Fui convidado por um sindicalista de Campinas de nome Alcides e por Sebastião Antonio de Moraes. O sindicato existe desde 1947. Em 1999 vim prestar serviços no sindicato. Em 2003 assumiu a presidência do sindicato Edson Batista dos Santos que exerceu dois mandatos. Em 25 de agosto de 2010, após eleito, assumi a presidência do sindicato. 

Quantos diretores tem o sindicado?

São 16 diretores, sendo que 14 permanecem trabalhando nas respectivas empresas e apenas dois estão afastados dedicando-se exclusivamente ao sindicato. Temos um grupo de 15 funcionários que trabalham no sindicato. No período em que o Edson foi presidente assumi a pasta da Co-Emprego, do Conselho de Saúde, Comitê Permanente Regional sobre Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção – CPR, Comsepre (Conselho Municipal de Prevenção de Acidentes do Trabalho), Comitê Permanente Nacional – CPN e a Feticom- SP (Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário no Estado de São Paulo) onde fui diretor regional, diretor de formação e hoje sou diretor tesoureiro.

Você tem um lema?

Tenho: “Quem quer faz, que não quer fazer cria problemas”, esse ditado me foi passado pela minha tia-mãe, a tia Vilma. Ela disse isso em uma ocasião em que argumentei algo sobre a dificuldade em fazer determinada tarefa Nunca mais esqueci isso na minha vida. Por isso fiquei um pouco arrojado. Somos o que desejamos ser.

Quantos associados existem no sindicato?

Começamos no ano 2.000 com 380 associados. Hoje temos 6.500 associados com carteirinha, de um total de 11.000 sendo que a Categoria Geral de Trabalhadores são 20.000 trabalhadores.

Qual é a região que abrange o SINTICOMPI?

Abrange São Pedro, Águas de São Pedro, Santa Maria da Serra, Ipeuna, Charqueada, Rio das Pedras, Anhembi, Torrinha. Estamos abrindo sub-sede em São Pedro e outra sub-sede em Rio das Pedras. Há um projeto de 2016 sair de Santa Maria da Serra a primeira barcaça. Essa é a promessa dos governos estadual e federal.

O SINTICOMPI oferece uma série de cursos e campanhas aos seus associados, pode citar alguns?

Temos um grande número de cursos de formação profissional, além de campanhas como a do fim da marmita.

A mulher está despontando no setor da construção civil?

Tivemos no passado na direção uma mulher. Hoje o sindicalismo é muito dinâmico e muitas vezes exige estar fora de casa, o que nem sempre é possível a mulher que acumula tarefas, profissionais e domésticas. No canteiro de obra a presença da mulher já é uma realidade.

Como é a relação da mulher com relação aos colegas do sexo masculino?

Esse é um dos primeiros impactos. Por natureza a mulher é mais dedicada aos estudos do que o homem. Ela tem a sensibilidade mais apurada. Ela vai para o canteiro de obras com grande s vantagens sobre o elemento masculino.

A mulher realiza serviços com mais perfeição do que o homem?

Faz. E ela assume a responsabilidade pelo que faz. Ela se propõe a desafios, temos mulheres que trabalham em cadeirinha de balanço fazendo pinturas externas em prédios. O SINTICOMPI é um sindicato participativo, um sindicato cidadão. Oferecemos aos associados colônia de férias, dentistas, Cabeleireiras, médicos, advogados, oftalmologistas, cursos de computação. Nosso desejo é “Peão não! Cidadão!”. Esse é o nosso projeto na saúde, segurança e direito relacionado ao trabalho. Através do sistema “S” de serviço, como se trata da indústria da construção, temos o SESI como ponto de lazer. Temos dentro das instalações do sindicato um curso de alfabetização para os associados, temos a ConsFort, que é uma parceria terceirizada, onde qualquer pessoa interessada pode participar, é um curso livre, sem custo, com os cursos de Mestre de Obras, Pedreiro de Alvenaria, Pedreiros de Revestimento Argamassa, Pedreiros Pisos Cerâmicos, Paisagismo, Controladores Lógicos Programáveis, Comandos Elétricos, Eletricista Instalador (Predial), NR 10, NR 10 Reciclagem. O maior piso salarial da categoria no Estado de São Paulo é o de Piracicaba.

Postagem em destaque

  Curitiba é a capital do Paraná, um dos três Estados que compõem a Região Sul do Brasil. Sua fundação oficial data de 29 de março de 1693, ...