domingo, agosto 24, 2014

JOSÉ ANTONIO DUARTE PENTEADO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 26 de julho de 2014.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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ENTREVISTADO: JOSÉ ANTONIO DUARTE PENTEADO

 

José Antonio Duarte Penteado, ou Antonio José como é mais conhecido no meio radiofônico de Piracicaba, nasceu a 15 de julho de 1947, em Piracicaba, na Vila Rezende, na Avenida Conceição, 492, próximo a então estação da Estrada de Ferro Sorocabana, onde hoje funciona o Pronto Socorro Municipal da Vila Rezende. Isso na época em que a Família Valler tinha diversas atividades comerciais nas proximidades. A casa onde nasceu existe até hoje. O bonde que fazia a linha Vila Rezende parava próximo a estação. José Antonio Duarte Penteado é filho de Emílio Duarte Penteado e Amábile Maria Schiavolin Penteado, que tiveram quatro filhos: Valdemar, José Antonio, Dorival, Antonio Carlos.

Você estudou em que escola?

Eu fiz parte da história do bonde, até o segundo ano primário estudei no Grupo Escolar Moraes Barros, vinha de bonde todos os dias com o meu pai, ele era funcionário da Biblioteca Pública Municipal, situada na Rua Alferes José Caetano esquina coma a Rua Voluntários de Piracicaba, onde mais tarde funcionou a Escola João Wesley e recentemente foi demolido para dar lugar a uma nova construção.

Aquela casa, onde funcionou a Biblioteca Municipal pertenceu a quem?

Ali chegaram a morar diversas pessoas, uma delas era o Sr. Joaquim, conhecido como Joaquim Corre-Corre, negro, que trabalhou e aposentou-se na biblioteca. Os moradores anteriores eu não tenho conhecimento de quem seriam. Infelizmente colocaram abaixo um prédio com muitas décadas de história.

Lembra-se o nome das suas primeiras professoras no Grupo Moraes Barros?

A primeira foi Dona Amélia, depois foi Dona Irene, nessa época estudávamos eu e o Beto Pianelli, a quem chamo de forma carinhosa de Betão, e o famoso jogador Coutinho, ex-jogador do Santos Futebol Clube, o nome do Coutinho era Wilson Honório. Ele morava no Bairro Alto.

Quando você vinha de bonde, vinha sentado ou em pé no estribo do bonde?

Se o meu pai não “pegava no meu pé” eu vinha no estribo, gostava de vir em pé no estribo! No Grupo Escolar Moraes Barros eu estudei até o segundo ano, quando passei para o terceiro ano fui estudar no Grupo Escolar Honorato Faustino, na Vila Boyes, onde meu pai tinha adquirido uma casa. Nesse período meu pai ficou muito doente, quando eu tinha 14 anos ele faleceu. Passei a trabalhar na Biblioteca Pública Municipal, onde permaneci de 1962 a 1964. O chefe era o Professor Leandro Guerrini.

Como era Leandro Guerrini?

Uma pessoa sensacional! Espírita de carteirinha. Uma pessoa extremamente correta. Sua esposa era a Professora Jaçanã.

O seu trabalho na biblioteca era de atendimento?

O consulente buscava os dados no fichário, preenchia uma papeleta, retirava o livro e por três dias ficava com ele emprestado pela biblioteca.

O leitor então trazia o livro de volta?

Quando não traziam eu ia buscar. Não era muito comum ter que ir buscar, mas tinha algumas pessoas que davam trabalho. Uma das formas de punição era impedir que aquela pessoa retirasse qualquer livro da biblioteca por um determinado período.

Você lia muito?

Eu gostava muito do Cornélio Pires.

Na esquina, oposta a biblioteca, havia uma funerária?

Correto, era uma funerária, onde hoje funciona um laboratório de análises clínicas.

Ao lado havia a Fábrica de Bebidas Andrade?

Antes de ir trabalhara na biblioteca trabalhei na Fábrica de Bebidas Andrade, devia ter uns onze anos, fui ajudar a lavar garrafas. Valter e Djalma Altafim eram os proprietários. Produzia-se entre outras bebidas a Cotubaina, Gengibirra, Caçulinha, “Caninha Tourinho”. Um refrigerante de grande sucesso, tão comum como determinada marca que existe hoje no mercado das colas, era a Abacatina. Melhor que muitos refrigerantes atuais.

Uma curiosidade mais do que normal, logo que você entrou para trabalhar na Indústria de Bebidas Andrade, fartou-se de tanto refrigerante?

Os proprietários permitiam, e nessa idade era uma grande oportunidade de tomar refrigerante à vontade, uma vez que na época só se bebia refrigerantes em épocas ou ocasiões muito especiais (Natal, Ano Novo, casamentos, batizados, e mesmo assim de forma muito moderada).

Como era o processo de lavagem das garrafas de vidro?

Colocavam-se os vasilhames em um tacho com soda cáustica, usávamos luvas protetoras, ficava de molho para retirar o rótulo e impurezas, depois as garrafas eram colocadas em uma escova elétrica, eram lavadas externamente e internamente, enxaguadas, quando saiam dalí eram colocadas como gargalo voltado para baixo, a água escorria por gravidade, quando iam para a máquina para engarrafarem os produtos os vasilhames estavam limpinhos. De vez em quando a pressão com que eram preenchidas provocava o estouro de algumas garrafas. Isso às vezes provocava pequenos acidentes, Eu mesmo cheguei a fazer um corte em uma das mãos.

Aos 16 anos você saiu da biblioteca?

Quando eu estava trabalhando lá o prefeito era Francisco Salgot Castillon, quem assumiu o próximo mandato foi Luciano Guidotti. Teve a chamada “poda”, foram demitidas mais de 100 pessoas e eu fui um deles. Meu pai tinha falecido, em casa era minha mãe, que lavava roupas de terceiros para ganhar algum dinheiro, meus tres irmãos e eu. Muitas vezes meu irmão mais velho, o Valdemar e eu chegamos a descer a Rua Tiradentes com malas de roupas para lavar e também subir com elas limpas, lavadas pela minha mãe. Nós morávamos na Vila Boyes, na Rua Dona Eugênia. Senti que tinha que arrumar um serviço. Fui trabalhar na Mausa, entrei como ajudante geral, tinha uns 16 anos. Varria chão, trabalhava na politriz, polia peças. Trabalhei com Abilio, Dorival “Diva” Gobbo,  Antonio “Gibinho” Gibin, Francisco “Chico” Gobbo.

A que horas você entrava na Mausa?

Entrava as seis e meia, levantava as cinco horas, ia trabalhar a pé, atravessava a Cidade Jardim inteira, dava umas quinze quadras. Levavava a cestinha de vime, com um caldeirãozinho, dentro tinha arroz, feijão e um “medalhão” (ovo frito). Carne era um acompanhamento elitizado!Trabalhei na Mausa de março de 1964 até julho de 1967. Um dia conversando com o Paulo Moraes,na época reporter da Rádio Educadora, hoje gerente do Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba,  tinhamos estudado no Honorato Faustino, disse a ele que gostaria de tentar uma vida no rádio. Ele e Xilmar Ulisses são os melhores repórterers de campo que eu conheci. Se o Xilmar Ulisses fosse meu irmão de sangue talvez eu não o quisezesse tão tão bem como o tenho em consideração.

Como surgiu esssa paixão por rádio?

Foi por vontade própria, de escutar o rádio. Escutava muito jogo de futebol, sou corintintiano. O Paulo Moraes me apresentou o Garcia Neto que me deu uma oportunidade. O Garcia Neto disse-me: “-O rádio tem um problema, só paga quando tem verba!”. Isso foi em setembro de 1967. Teve uma época, no final do ano, que a minha mãe me disse: “-Você não recebe, não vai ficar mais lá!”. O Garcia trabalhava na Rádio Nacional e na Rádio Educadora.Era comentarista de futebol. Duas vezes por semana ele ia para as transmissões em São Paulo. O Garcia me disse : “-Se você quiser ficar você fica, nós não temos condições de pagar!”. Minha mãe achava que eu tinha que arrumar algum trabalho que ganhasse algum dinheiro. Acabei narrando isso ao Garcia. Ai entra a minha admiração por Xilmar Ulissses, todo dia de pagamento ele fazia uma “vaquinha” onde perticipavam ele, o Mike, o Paulo Moraes, Edirley Rodrigues, Fernando Rui Coutinho, Jamil Netto, Nadir Roberto, dessa vaquinha saia o meu salário. Chegou uma época em que o Garcia Neto me levou para trabalhar na TV Excelsior, em um programa chamado “Aquela Feliz Cidade”. Isso foi entre 1967 e 1970. Eu viajava toda quinta feira logo cedo e voltava na sexta-feira, o programa era na quinta feira a noite. Gravava e voltava. Trabalhava com Ary Leite, Dedé Santana, Gastão Rene, Costinha. Conheci Ary Toledo quando ele casou-se com  Marly Marley. Ele ia leva-la na TV Excelcior em um Fusquinha amarelo. O Rony Cócegas chegava em outro fusquinha bem deteriorado. Conheci Arthur Miranda, que depois tornou-se em um dos componentes da equipe do Neymar de Barros. Minha mãe achava que aquela minha aventura na Excelsior não iria resultar em nada. Eu ganhava por programa o que ganhava no mês aqui na rádio. Trabalhei junto com o Mussum. Conheci a Regina Duarte que com Francisco Cuoco na época iam começar a novela “Sangue do Meu Sangue”. Nessa época a Excelsior foi cassada. Voltei à Piracicaba e continuei trabalhando na Rádio Educadora. Em 1970 fui para a Rádio Difusora com o Garcia Neto, integrar a “Seleção de Ouro”. Foi no tempo do José Roberto Soave. Permaneci lá até 1982, criei um programa, por sugestão do Capitão Furtado, um dos renomados compositores de musica sertaneja na época, o nome dele era Ariovaldo Pires. Passei a fazer o programa “Bom Dia Homem do Campo”. Comecei a fazer esse programa em 1971, era apresentado aos domingos das 5 as 7 horas. Terça e quinta eu fazia o programa “Boa Noite Homem do Campo”, das 20:30 às 22:00 horas. Nessa época já era patrocinado e recebia comssão. Lá eu permaneci até julho de 1982. Nesse ano fui trabalhar no Teatro Municipal, com Roberto Diehl e Alceu Marozzi Righetto. Tenho uma admiração muito grande pelo Dr. Adilson Benedito Maluf, sua esposa, Dona Rosa. O Dr. Adilson é do tempo em que o fio de bigode tinha tanto valor como o que estava escrito. Um dia Jamil Netto me convidou para participar de shows de bairros, o objetivo era divulgar a candidatura a prefeito do Dr. Adilson. Passei a apresentar programa sertanejo em bairros. Aprendi muito com o Nhô Serra, ele foi meu padrinho de casamento. O Adilson tornou-se prefeito, entrou no gabibete no dia primeiro de fevereiro de 1982. No dia 2 eu estava trabalhando com ele, Jamil Neto, Gaiad, Justino, Benedito Hilário, Atinilo José. Permaneci na assessoria de imprensa por uns quatro anos. Com o Paulinho Mazziero e Jailton fomos trabalhar no Procon, ajudamos a fundar o Procon em Piracicaba. Sai de lá em 1994 e fui para a FM Municipal. O Gaiad era diretor da FM Municipal e precisava de alguém para apresentar musica sertaneja. Passei a fazer o horário das 5 às 7:30 horas. Fazia o programa e ao mesmo tempo junto com Xilmar Ulisses redigia o Jornal da Manhã. Quero muito bem ao Xilmar Ulisses. Ele é uma potência em Piracicaba. Em novembro de 1998 aposentei-me na Rádio Educativa.

Você aposentou-se e por um período ficou sem participar do rádio. Como foi o seu retorno ao rádio?

Conversando uma vez com Murilo Urbano ele intercedeu junto a Professora Ana Maria Meirelles de Mattos, o Zé Mineiro tinha saído, o horário estava vago, e assim faz dois anos e meio que estou na Rádio Educadora. Apresento o programa “Bom Dia Homem do Campo” das 5 às 8 horas da manhã, apresento musica sertaneja. Dona Ana me acolheu, sou muito grato a ela, assim como sou grato ao Jairinho.

Você participou do carnaval de Piracicaba?

Fui Rei Momo em 1967 pelo Clube de Regatas Piracicaba, a pedido do Dorival “Diva” Gobbo que na época era presidente do Regatas.  Por cinco anos fui Rei Momo de Piracicaba. Com o Taquara, com o Aldano, Marilena Voltani, Pela antiga Casa Portuguesa, situada na Rua Governador Pedro de Toledo, ao lado do Cardinalli  fui Papai Noel da cidade. A pessoa adquiria um presente na Casa Portuguesa eu ia levar caracterizado como Papai Noel. O primeiro ano em que fui Rei Momo quem me acompanhou em desfile de carro aberto foi o saudoso Humberto D`Abronzo e o Cesário Ferrari que está em plena atividade empresarial.

Qual foi a reação da sua esposa quando você foi eleito Rei Momo?

Foi a pior possível. Nessa época existia as escuderias em Piracicaba, a Equipelanka, Ekyperalta , Pé Chato, Zoom Zoom. Outro dia conversando com o Mugão, José Inácio Mugão Sleimann, ele chorou. O Mugão é um guerreiro. Tenho um grande carinho por ele. Através do Mugão chegamos na TV Tupi, no programa do Airton e Lolita Rodrigues, “Almoço Com as Estrelas”. A maquiagem do Rei Momo era feita dentro do onibus, pela Célia.

Essa sua atividade intensa em várias áreas artisticas sempre foi movida pela emoção?

Sempre fui expontâneo, sou aquilo que sou. Aprendi com o Luizão Carreteiro, que se ficar sentado em seu canto já não está incomodando ninguém.

Você é religioso?

Todo sábado participo de missa, lembrando que participar é diferente de apenas assistir. As quarta feiras temos no bairro a novena de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Todos os dias as seis horas da tarde rezamos o terço. Casei-me em 24 de janeiro de 1976 com Luiza de Fátima Arthuso Penteado, na Igreja São José, o celebrante foi o então Conego, hoje Monsenhor Luis Juliani. O casamento deve ter sido um dos poucos, senão o único transmitido pela rádio, o Djansen fazia um programa todos os sábados das 14 as 18 horas, ele cedeu o horário prara transmitir meu casamento.

FRANCISCO DE ASSIS DANTAS


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 19 de julho de 2014.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADO: FRANCISCO DE ASSIS DANTAS

 

Simpático e sorridente, características que marcam aqueles que abraçam a profissão, Francisco de Assis Dantas nasceu em Ituverava a 5 de março de 1956, filho de Jorcelino Pereira Dantas e Maria Augusta da Silva Dantas pais de onze filhos: José, Otila, Alcino, Sebastião, Juvercília, João Natal, Cassiano, Luiz, Odila, Almiro e o caçula Francisco. Francisco de Assis Dantas casou-se a 13 de junho de 1980 com Marineusa Generoso Dantas, são pais de Daniela com 33 anos e André com 31 anos. Em 2013 Francisco de Assis Dantas representou o Brasil em um Congresso Mundial de Hotelaria e Alimentação em Genebra, reunindo 179 países. É Vice-Presidente da Federação dos Empregados do Comércio Hoteleiro do Estado de São Paulo.

O seu pai exercia qual profissão?

Meu pai tinha uma venda na beira da estrada, era pouso de boiadas. Havia um pasto que era alugado para deixar os animais, os peões pernoitavam até seguir viagem no dia seguinte. Havia um campo de boche, um campo de futebol, quando mudamos de lá eu tinha sete anos. O meu primeiro ano de escola eu estudei lá. A professora era Dona Teresa, mais conhecida como Terezinha. Tinha um fazendeiro que morava nas proximidades, o Seu Antonio Henrique, foi ele quem construiu a escola dentro da sua fazenda. Meu pai vendeu o armazém e adquiriu um sítio de 21 alqueires na região de São José do Rio Preto, no município de Nhandeara. Isso foi em meados de 1962. Lá meu pai cultivava a terra, os filhos ajudavam. Eu era o menor, ia a pé até a escola que ficava a quatro quilometros de distância. Era a Escola Mista do Bairro Córrego da Areia., onde estudei até o quarto ano primário. A seguir fiz o curso de admissão em  Nhandeara para poder fazer o ginásio. Nós faziamos o percurso até a escola a pé. Naquela época a área rural era bastante habitada. A criançada ia junto até a escola, com chuva, sem chuva, não havia merenda escolar, minha mãe preparava um caldeirãozinho com arroz, feijão, ovo frito, carne e eu levava para a escola. A escola funcionava meio período, quando retornava ao sítio, meu serviço era cuidar dos animais. Alimentá-los. Com nove a dez anos já fazia isso. Meu pai tinha um cavalo branco, o Gaúcho. Meu pai tinha um carinho muito grande por aquele animal. Naquela época não existia brinquedo industrializado, nós improvisávamos. As vezes iamos rolando um pneu para a escola. Usávamos o embornal (ou “emborná”) feito de tecido de saco de açucar, era o equivalente a mochila que os estudantes levam atualmente. Na época não existia a mochila que conhecemos atualmente.

O senhor chegou a concluir o ginásio?

Conclui. E fui trabalhar na roça. Nesse período minha mãe teve um AVC, ela tinha a doença de Chagas . (Alargamento das ventrículos do coração levando a insuficiência cardíaca). Meu pai para poder cuidar melhor da minha mãe, vendeu o sítio e adquiriu uma casa em Campinas, no Jardim São Vicente. Isso foi em 1972. Os irmãos mais velhos vieram primeiro e por algum tempo foram morar com dois irmãos do meu pai que já residiam em Campinas. Eu tinha a experiência de ter trabalhado no sítio. Em Campinas fui trabalhar em uma banca de revistas situada na Praça Carlos Gomes, o prprietário era o Seu Romeu. Era conhecida como Banca do Romeu. Sempre gostei de ler. Meu sonho era ser mecânico. Em 1974 minha mãe faleceu. Seis meses depois meu pai faleceu. Ficamos em casa trê filhos e uma filha, os outros irmão já eram casados. O meu sonho de continuar estudando parou por ali. Minha irmã, Odilia conheceu um rapaz chamado Ismael, e vieram a se casar. O Ismael trabalhava como garçom no Restaurante Rosário em Campinas. Meu irmão Cassiano também trabalhava como garçom.

Quanto tempo o senhor permaneceu trabalhando na banca de revistas?

Foi em torno de um ano. Em seguida fui trabalhar na Fábrica de Móveis Zanolini, situada no centro de Campinas, na Rua José Paulino, 515. Entrei como ajudante, fui promovido para a pintura, laqueava os móveis com o uso de revolver de pintura. Fui transferido para um departamento onde o pessoal fazia os entalhes de madeira. O Seu Orlando foi quem me ensinou a trabalhar. Aprendi a fazer entalhes, de ajudante passei a entalhador. Trabalhei um período como entalhador. O Ismael, na época ainda namorado da minha irmã, dizia que eu ganhava muito pouco na fábricade móveis. Nos anos dourados os garçons ganhavam muito bem. Ele me convidou, fui trabalhar como cumim no Restaurante Rosário (Ajudante de garçom; aquele que auxilia o garçom, ou maitrê, antes e depois de  por a mesa.).

O que servia o Restaurante Rosário?

Até hoje, o Restaurante Rosário é um dos melhores restaurantes de Campinas. Os proprietários eram Sr. Jair e Sr. Euclides. Funcionavam o restaurante, a pizzaria e o Bar Rosário todos freqüentados pela elite da cidade. Nós usávamos o termo “Mise en place” (pronuncia-se “miz on plas”) é um termo francês que significa "pôr em ordem, fazer a disposição". O termo também é utilizado para a montagem da mesa, quando se deve colocar os talheres, taças e pratos, bem como os outros utensílios, que serão utilizados para degustar e saborear os alimentos. A mise en place é sobretudo função do garçom. O Restaurante Rosário era uma escola de fato, na época já era usada gravata borboleta, só que não adquirida com o nó pronto, era uma gravata comprida que os garçons davam o nó transformando-as em borboleta. Os garçons usavam gravata preta e os comuins gravata branca. Todos usavam calça preta, smoking branco, sapato preto, meia preta, camisa branca de piquet, uma faixa preta na cintura.

O cliente olhando de frente para o prato de que lado ficam os respectivos talheres?

A faca fica do lado direito e o garfo do lado esquerdo. O garfo apoia a carne com a mão esquerda e a faca corta com a mão direita. Em uma mesa básica coloca-se um copo para àgua, à direita do prato, no centro da mesa. Era habito antigamente servir uma sopa de entrada então era colocada a colher. Vinha o garfo de peixe, faca de peixe, garfo e faca de sobremesa.

Em uma mesa quem deve ser servido primeiro?

Se uma mesa tem criança é servida em primeiro lugar. Depois a senhora e por ultimo o senhor. Outra coisa que deve ser observada é a idade dos integrantes da mesa. Se tiver jovens e idosos na mesa, primeiro deve serem servidos os idosos.

Quanto tempo você permaneceu no Restaurante Rosário?

Sai logo que completei dezoito ou dezoneve anos Para passar a ser garçom no Restaurante Rosário só havia duas possibilidades: ou um gaçom pedia a conta ou falecia. Não havia vaga. Quem trabalhava no Restaurante Rosário era altamente conceituado na cidade. Ganhava-se muito bem. Como cumim ia para casa de taxi todas as noites após o trabalho. Eu queria trabalhar como garçom, a melhor opção que encontrei foi através de um maitre de restaurante chamado Cláudio, ele era gerente de uma casa noturna em Campinas, chamada Apocalipse o proprietário é uma pessoa de extremo bom gosto, chama-se J. D'ávila, ele montou uma casa muito requintada no auge da discoteca, era frequentada pela alta sociedade de Campinas. Nessa boate, quando chegávamos para trabalhar, o Cláudio Brito alinhava os garçons, olhava as unhas, pegava algodão, passava na barba, se ficasse preso o algodão tinha que ir fazer a barba. Tinha que levantar a calça para ver se estava de meia preta. A fase da discoteca passou ele transformou o Apocalipse em uma boate altamente requintada, só com bebidas importadas, shows de grandes nomes como Jô Soares, Ary Toledo, Cauby Peixoto e outras estrelas da época. Com isso conheci muitos artistas de renome nacional. Atualmente o J. D'ávila é o empreendedor da Limelight em São Paulo.

Quanto tempo você permaneceu no Apocalipse?

Trabalhei seis anos no Apocalipse.

O sindicato promove algum curso de qualificação profissional?

Nós já promovemos vários cursos de formação de garçom, garçonete, barmam temos mantido conversações com o sindicato patronal. Há uma necessidade muito grande da qualificação da mão-de-obra. Acontece um fenomeno na área. A carga horária são de oito horas diárias. Quarenta e quatro horas semanais. Isso é previsto pela CLT. Só que na prática isso nem sempre acontece. O garçon entra para trabalhar no almoço, ele acaba tendo um espaço das três às seis horas da tarde, volta, serve o jantar, chega em casa a meia noite ou uma hora da manhã. E aí é que vem o problema, grande parte das empresas acabam não pagando as horas extras, adicional noturno. O trabalhador nosso está a disposição da empresa aos sábados, domingos, feriados, de dia, a noite, a folga dele é no meio da semana. Eu não acompanhei o crescimento dos meus filhos em função do trabalho. Devido o longo tempo de permanência do profissional em seu ambiente de trabalho, no seu único dia de folga ele não tem disponibilidade ou disposição para frequentar um curso de aperfeiçoamentro. Nosso pedido ao sindicato patronal é que libere o profissional, em horario de serviço, remunerado, nem que seja ao menos um curto período diário para que ele faça um curso, que irá trazer benefícios diretos à empresa. Uma empresa com pessoal qualificado tem enormes vantagens sobre uma empresa que não tem nenhuma qualificação. O retormo é visivel.

Ao seu ver não é uma forma contraproducente para o empresário que age assim, uma vez que o garçom é o cartão de visitas do restaurante e ele já vai atender ao cliente extenuado por uma carga de trabalho bastante pesada?

No ano passado é que saiu um projeto de lei para aposentadoria por tempo de serviço especial. O garçom fica um número de horas muito grande em pé. Sem poder encostar em nada. Sem poder sentar-se. Isso causa muitos problemas de saúde, como varizes, problemas na coluna, tendenite no braço em função de levar as bandejas. O garçom tem que sempre estar sorrindo, entender um pouco de futebol, de novela, muitas vezes é um conselheiro. Há certas regras básicas de comportamento do garçom, não deve tocar no cliente, não usar perfume, tem que usar desodorante neutro.

Existem garçons que se tornam intimos de alguns clientes isso é bom?

Eu mesmo tive clientes que se eu saisse de determinado restaurante e fosse para outro o cliente me acompanhava. Isso é uma questão de empatia.

Como é de fato a história dos dez por cento acrescidos ás despesas do clinte junto ao estabelecimento?

Os dez por cento é um costume , uma tradição. Muitos denominam de gorjeta. Pessoalmente  discordo dessa denominação. Vejo mais como uma  comissão de venda, ela é compulsória. Não é expontânea. Existe um projeto a respeito que está tramitando. Desde que estou nessa profissão são cobrados os dez por cento mas não é legalizado. As empresas cobram, muitas vezes nem repassam aquilo para o trabalhador, isso existe justamente pela empresa não possuir mão de obra qualificada. Tem empresa que recruta um jovem, ele vai carregar uma bandeja, sem conhecimento nenhum. Ele não sabe que se estou comendo peixe devo beber um vinho tinto ou branco.   

Como você transferiu-se para Piracicaba?

Os Shopping Centers começaram a aparecer no Brasil, isso em 1978,1979, em São Paulo havia o Shopping Iguatemi. Quando veio o Shopping Igatemi de Campinas o o J. D'ávila abriu uma lanchonete chamava-se Hobby`s, era muito requintada. A medida que os shoppings foram abrindo ele foi abrindo as lanchonetes, dia 21 de outubro de 1987 foi inaugurado o Shopping Piracicaba. Ele montou uma lanchonete aqui. Eu estava morando em Campinas. Eu nem conhecia Piracicaba. Uns 15 dias antes de inaugurar o Shopping Piracicaba vim para trabalhar na lanchonete, fiquei responsável pelo salão da lanchonete e treinando o pessoal daqui.

Hoje você é presidente do SINTCHOSPIR- Sindicato dos Trabalhadores no Comércio Hoteleiro, Bares, Restaurantes, Hotéis, Motéis, Lanchonetes, Apart-Hotéis e Fast Food de Piracicaba e Região.

Eu trabalhava no Shopping, em 1987 ainda era associação, não era sindicato, um amigo era associado e queria me trazer para cá. O presidente era Orlando Venâncio de Melo, uma pessoa com grande experiência na área, nessa época a sede do sindicato ficava na Rua do Rosário. A Associação foi fundada em 24 de fevereiro de 1986, foi reconhecido como Sindicato pelo Ministério do Trabalho em 22 de março de 1990. Conheci melhor o Seu Orlando, vi que era uma pessoa atenciosa, criamos uma amizade, ele me chamou para fazer parte da diretoria. Fiquei como diretor, mas não afastado, era diretor mas continuava trabalhando na empresa. Com o transcorrer do tempo passei a me dedicar cada vez mais ao sindicato. Faleceu o tesoureiro do sindicato, como primeiro suplente assumi a tesouraria.

Quantas cidades abrange o sindicato?

São as seguintes cidades: Àguas de São Pedro, Americana, Charqueada, Cosmópolis, Divinolândia, Ipeúna, Itobi, Leme, Piracicaba, Porto Ferreira, Rafard, Rio das Pedras, Saltinho, Santa Barbara D`Oeste, Santa Cruz das Palmeiras, Santa Gertrudes, Santa Maria da Serra, São José do Rio Pardo, São Pedro, São Sebastião da Grama, Tambaú, Tapiratiba, Vargem Grande do Sul. Temos um diretor afastado em Americana, em São Pedro, em Porto Ferreira. Em Leme temos um funcionário que administra. Aqui eu, Edmilson e Marcos, somos no total seis diretores afastados. Somos filiados a Força Sindical.

Quantos associados o sindicato têm em média?

Em torno de 3.500 associados.

Quais beneficios o sindicato oferece aos associados?

Temos serviço odontológico gratuito, há uma parceria com a Unidonto onde 4 profissionais trabalham nas dependencias do sindicato. Temos um laboratório de informática com aproximadamente 160 alunos que frequentam as aulas. É um curso gratuito com alunos adultos, jovens e crianças. Há um convenio médico com a Amhpla. Temos uma colonia de férias na Cidade Ocian, na Praia Grande com 52 apartamentos. Há convenios com auto-escolas, salões de beleza, farmácias, clínicas, há um manual com 20 páginas de profissionais e empresas conveniadas, só nas cidade de Piracicaba, Americana, Santa Barbara Dòeste, Leme, São Pedro, Águas de São Pedro e Porto Ferreira.

Hoje há uma informatização muito acelerada dentro da profissão de garçom?

Sim, sem duvida. Em alguns lugares o garçom atende com laptop se não dominar a tecnologia está fora do mercado de trabalho. O cliente faz o pedido, ele digita, uma impressora já imprime o pedido na cozinha.

Existe escola de garçom?

Garçom não é reconhecido nem como profissão! Não é regularizada!

Mas como pode ter registro em carteira de trabalho?

Temos coisas que não conseguimos entender. Não é regulamentada mas existe na CBO-  Classificação Brasileira de Ocupações. (A CBO em seu histórico de ocupações inclui  Garçom,  Garçom (serviços de vinhos), Cumim, Barman,  Copeiro,Copeiro de hospital, Atendente de lanchonete, Barista).

Quando é o dia do garçom?

Eu consegui negociar aqui em Piracicaba, na convenção coletiva para que toda empresa seja obrigada a pagar ao seu trabalhador um dia de serviço a mais no mês de agosto. No dia 11 de agosto considerado o “Dia da Pendura” é o Dia do Garçom, comemora-se também o dia da categoria hoteleira

Quantas bandejas você consegue carregar?

Trabalhando não ha possibilidade de usar duas bandejas, Uma mão tem que ficar livre para servir. Para recolher, quando é churrascaria, o pessoal usa uma bandeja grande vai calçando um prato no outro, faz uma armação, uma pilha de pratos, carrega o que aguentar, porque prato é pesado. À la carte eu consigo carregar seis pratos com alimentos, obviamente que depende do tipo de alimento, tem alimento que não é possivel ser levado nessa quantidade de pratos.  

sexta-feira, julho 25, 2014

WALTERLY MORETTI ACCORSI e LUCAS TEIXEIRA DE MORAES


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 28 de junho de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADA: WALTERLY MORETTI ACCORSI e LUCAS TEIXEIRA DE MORAES

 

Walterly Moretti Accorsi é farmacêutica diplomada pela Unimep, advogada formada pela PUC de Campinas, nascida em Piracicaba, em 1944, a Rua Governador Pedro de Toledo esquina com a Rua Voluntários de Piracicaba, filha dos professores Walter Radamés Accorsi e Judith Moretti Accorsi. Walter Accorsi lutou na frente de batalha da Revolução Constitucionalista de 1932 e Judith costurava, fazia alimentos, doces, para mandar para a linha de frente dos revolucionários. Tem uma irmã, Waldith.  Ao lado está o universitário Lucas Teixeira Franco de Moraes conhecido na Esalq como “Jayminho” isso porque seu avô, Aldir Alves Teixeira, também estudou na Esalq, formado na turma de 1959, quando estudante trabalhou nos Correios como telegrafista.  Atualmente ele tem um laboratório em São Paulo que trabalha com a qualidade do café.

Waterly você tem larga experiência em fitoterapia?

Como diria uma amiga, Dra. Cilene, não é mais sangue que corre nas veias, é puro verde! Cresci dentro disso, quando me casei foi com um botânico, agrônomo, fui morar no Nordeste do país, conheci coisas maravilhosas, Sou formada em farmácia. o Brasil é um país fantástico, de dimensões continentais, um povo maravilhoso, uma etnia fantástica. Temos todas as origens e todos os vieses. A planta em si é encantadora. A origem do homem é o reino vegetal. O reino vegetal veio preparar o caminho do homem. Claro que é a abençoada química que interfere. Que tira a dor, tira o infarto, faz nascer o bebê que não está conseguindo nascer. No crônico, no preventivo, as outras alternativas são bem válidas e muito importantes. Todos estão muito intoxicados, quando há a ingestão de muita medicação antes de ocorrer um quadro agudo já foi criada a tolerância, no estado agudo dificilmente as substâncias terão o efeito esperado pelo médico. Daí a singularidade de não mais vender sem receita médica antibióticos, antiinflamatórios. Isso porque não tem mais o que fazer, terceira, quarta ou quinta geração já não faz mais efeito. Eu nunca tomei nenhum antiinflamatório, ma se pego uma gripe de uma pessoa que contumaz no uso dele, esse vírus que me foi passado está resistente, ele não irá responder a nenhum tratamento. É um problema endêmico. Um problema social, brasileiro.

Você se casou com um agrônomo?

Casei-me com José de Souza Sobrinho, agrônomo, botânico. Natural de Pernambuco, temos os filhos Walter e Ricardo, gêmeos. Tenho cinco netos.

Atualmente você tem um importante laboratório fitoterápico em Piracicaba?

Antonio Perecin que era um grande amigo do meu pai dizia: “- Accorsi, você não pode perder esse conhecimento, ele tem que ficar para o Brasil, para o mundo!”. Meu pai era um entusiasta, gostava de divulgar seus conhecimentos, gostava de estudar. Tinha um grande conhecimento, tanto no Brasil como no exterior. Muitas vezes no exterior ele terminou algumas pesquisas que as pessoas estavam por concluir. Isso ocorreu nos Estados Unidos, no Japão, Canadá. Nos últimos 23 anos da vida dele dedicou-se só a fitoterapia, ele estava focado em tudo que dizia a respeito. Às vezes uma pequena palavra que alguém dizia era o que faltava para ele completar a conclusão dele.

Como começou a paixão dele por plantas?

Foi desde criança. Meu avô tinha duas fazendas de café. Quando criança gostava de passear pelos cafezais, e por muitas vezes ouviu alguém dizer que tal planta era boa para isso ou para aquilo. Desde criança ele tinha um olhar especial pela plantinha que era tida como daninha, mas era medicinal. Meu pai estudou no Mackenzie em São Paulo depois veio estudar na Esalq.

Foi na Esalq que ele desenvolveu esse setor?

Ele estudou, quando ele se aposentou foi concedido a ele o título de professor emérito, foi lhe concedido um espaço na própria Esalq, onde permaneceu os últimos vinte e três anos e meio da sua vida. Ele sempre foi muito ético. Quando descobria algo que podia fazer bem e que não oferecia risco a saúde da pessoa, ele divulgava. Meu pai foi uma pessoa que percorreu o Brasil todo, viajou por muitos países, ele trazia consigo os conhecimentos étnicos. Ele sabia interpretar. Tinha muitos amigos na área médica, agronômica. Ele tinha segurança no que dizia. Antigamente havia pechas impingidas em portadores de certos males como câncer, AIDS. São colocadas por algumas pessoas sobre outras com o intuito de intimidar. Poucos sabem que esses males são frutos de experiências realizadas em buscas de outras medicações. Por isso se alastrou. Isso foi dito por pessoas que estavam no auge da vida acadêmica, eram pessoas de expressão, que poderiam sofrer represálias por conta dessa divulgação. Iriam incomodar alguns interesses. Essas pessoas que fizeram essas afirmações já não estão mais vivas. Meu pai tinha um amigo de infância, Coronel Fiori Marcelo Amantea, cuja esposa estava muito debilitada, com câncer, meu pai tinha ganho um caminhão de casca de ipê roxo que veio de Cruz das Almas, Bahia. Meu pai deu um saquinho com essa casca, para ser fervida. O coronel fez o chazinho, deu a sua esposa e essa senhora dormiu por três dias. A mulher melhorou, passou a ter uma qualidade de vida, o câncer tem marcadores, é como a diabetes, uma vez com ele sempre com ele. O oncogen está dentro da gente, ele irá se manifestar por genética, por estress.

Qualquer pessoa tem o oncogen?

Sim, e pode ser benigno ou maligno. Pode se manifestar ou não. Uma vez manifestado é possível ter qualidade de vida. Assim como a diabetes, pode estabilizar nos níveis aceitáveis, mas não existe como dizer que está curado, a qualquer momento ela pode se manifestar.

Após a melhora da esposa do coronel o que ocorreu?

Elçe ficou tão entusiasmado que passou a divulgar, ele foi falar com a Xênia que tinha um programa na televisão. Me lembro que todos os domingos iamos almoçar coma a minha avó em São Paulo. Estávamos todos almoçando quando o coronel ligou. Sabiamos que poderiamos colocar um artigo no jornal, ser um multiplicador, mas não tinhamos estrutura para atender a todos que procurassem após uma divulgação em massa. Foi feita a divulgação, meu pai ficou muito triste, vieram os interesses economicos, em vez de ter no mercado um produto de segurança foi constatado que algumas pessoas vendiam até serragem.

A Rede Globo divulgou os benefícios do ipê roxo.

Foi veiculado no programa Fantástico. Após isso meu pai ficou mais cuidadoso em divulgar os benefícios das plantas. Atualmente a maior quantidade de plantas fornecidas por distribuidoras são feitas por extrativismo. Isso significa que tem que ser tomado muito cuidado porque elas podem acabar. Não existe o cultivo de plantas medicinais.

Ha a presença de pesquisadores estrangeiros em nossas matas?

De fato eles estão mesmo pesquisando nossa flora. Como tudo é bio-tecnologia, uma questão de clone de células, uma pequena raspadinha com uma tampa de caneta é suficiente para levar omaterial genético para o exterior. Isso foi presenciado por uma pesquisadora. O quimico, bio-quimico ou fitoquimico, consegue desenhar aquela estrutura, seja ela de que origem for. Uma vez desenhada pode ser copiada na parte alopática. É uma pré-sintese de tudo: da fauna ou da flora.

Ha quanto anos você está nesse meio?

Eu cresci nesse meio. Morei de onze a doze anos no nordeste, com isso conhecia mateiro, reserva indigena, via como eram feitas as curas. Passar cinco horas com recursos acadêmicos de saúde e sarar no dia seguinte com uma planta. Ai que vem o sincretismo religioso e o foco daquela pessoa com a divindade, aquela crença. Tive uma vivência indigena que foi fantástica, fui para o Alto Araguaia, estava em uma reserva de Xavantes, permanecemos por vinte dias lá, pegamos gripe. Eles entram na mata e trazem para cada um uma plantinha que serve para a gripe. Dizem que a planta escolheuaquela pessoa para curar.

Lucas você é acadêmico da Esalq?

Estou no quinto ano de Engenharia Agronomica, nasci em 30 de setembro de 1991. Meu interesse por essa área surgiu a partir de quando passei a frequentar um centro de xamanismo, que é a prática espiritual mais antiga da humanidade. De ver o sagrado na natureza. De tentar uma conexão mais profunda com a natureza, como se ela fosse divina.

Lucas , você chegou a visitar alguma tribo indígena?

Já fui a uma tribo na Amazonia, conheci aqui em São Paulo a Aldeia Quiruá. Acredito que exista muito interesse dos jovens pelo assunto, embora esses aspectos não sejam muito abordados dentro da universidade ou mesmo em nosso contexto social. As pessoas não tem acesso a essas informações.

Há outros jovens estudantes com essa visão mais voltada ao mistico, ao espiritual?

Há sim. As plantas são cultuadas e sendo reconhecidas como sagradas pelos nossos ancestrais, desde o começo elas tinham esse poder divino de conexão com o mundo espiritual e do poder de cura do fisico, espiritual e mental. Durante a história da humanidade todas as civilizações tinham algumas plantas de conexão, as plantas ritualísticas, e dentro disso tinham as plantas medicinais, eram utilizadas com preceitos religiosos. A primeira bebida que seria sagrada na história da humanidade é o Soma. (Soma é uma bebida ritual da cultura védica e hindu, é também o nome da própria planta da qual se extrai a bebida, bem como a personificação do Deus dos Deuses. Existem nos Vedas (Rigveda, Soma Mandala) 114 hinos exaltando suas qualidades). No Brasil temos uma bebida que já foi considerada patrimonio cultural brasileiro pelo então Ministro da Cultura Gilberto Gil que é a Ayahuasca.

Walterly você já esteve no Japão, qual é a opinião deles a respeito das plantas?

Fui acompanhando o meu pai, ele foi quatro vezes ao Japão. Conhecemos um Japão ocidentalizado, com o consumo de muito tabaco, cerveja, remédios alopáticos. Mas há um Japão que ainda cultiva a tradição, dos chás, eles cultuam muito o idoso que foi produtivo, fomos levados para conhecer um idoso que esteve presente em Hiroshima. Ele nos ofereceu um chá de babosa. Tem um gosto horrível.

Walterly quando se produz um remédio sintético é utilizada como base algo produzido na natureza?

A primeira síntese foi do salgueiro: o ácido acetilsalicílico, Em 1897, o laboratório farmacêutico alemão Bayer conjugou quimicamente o ácido salicílico com acetato, criando o ácido acetilsalicílico foi o primeiro fármaco a ser sintetizado na história da farmácia e não recolhido na sua forma final da natureza. Foi a primeira criação da indústria farmacêutica. A visão da pessoa pelo Oriente é como um todo, a soma que é a parte física e o sutil, que é a nossa emoção, a nossa alma. É interessante como os nossos indios agem, ele dá um chá, uma determinada bebida ou ainda ele fuma e põem em você a fumaça. Essa fumaça penetra os oros e faz um outro tipo de tratamento.

Pelo que estou entendendo, se a pessoa sofre de um problema cardiaco a origem pode ser emocional?

Não! A pessoa tem programado geneticamente para ter esse problema. Pode se acentuar ou suavizar através da vida dessa pessoa. Com seus traumas e suas realizações.

Qual é a receita para viver bem?

Meu pai dizia três frases: 1-) Se ocupe. Não se preocupe. 2-) Não deixe que as coisas interfiram em você. 3-) Ontem é a base do futuro e a força do presente. Todo ese conhecimento, o que você acertou, continue pesquisando. O que errou, pare. O que vai fazer essa análise é o presente. O que hoje é muito doido amanhã não será mais. O que hoje é muito importante incorpore a sua vida. O que doeu muito use como exemplo para que não ocorra mais.

A humanidade está em uma corrida suicida?

As pessoas se preocupam em ter e não em ser. Isso é uma corrida suicida. O modelo economico é que fez isso. Se você não estiver com o sapato da moda, não tiver o carro da moda, se não visitar os países da moda. A sua felicidade está na sua mão, você não depende de nada de fora, de ninguém. A sua felicidade pode ser acrescentada por agentes externos, mas não depende dos outros a própria felicidade.

Qual sua visão de evolução humana, Lucas?

Aos poucos as pessoas estão tomando conciencia de que a forma em que vivemos não é a forma correta. Em janeiro desse ano Domenico De Masi (Sociólogo italiano contemporâneo, famoso pelo seu conceito de "ócio criativo" segundo o qual o ócio, longe de ser negativo, é um fator que estimula a criatividade pessoal), escreveu um texto dizendo que o Brasil poderia inspirar a humanidade na criação de um novo modelo de desenvolvimento, e que esse modelo poderia surgir dos indios. Acredito que a desigualdade social, depresão, corrupção, violência, são doenças que afetam nossa população. A cura vem da reintegração do homem com a natureza. Da utilização das plantas como remédio.

Walterly a humanidade está doente?

Não está doente, está em transição.

Walterly, a nossa flora oferece muitas opções?

O açafrão-da-terra (curcuma longa) é o açafrao brasileiro, não é concentrado como o indiano, que é caríssimo, esta sendo realizado um trabalho com a coordenação do Professor Lindolfo, que é de multiplicar essas plantas, fazer um horto de plantas medicinais, ensinar como devem serem usadas, a Dra. Nair, médica sanitarista instrui sobre o uso dessas plantas. Outra planta fantástica é a ora pro nobis (Pereskia aculeata), é muito consumida no Sul de Minas Gerais consumida com frango, parece uma verdura, é extremamente proteico. O Brasil tem muitos recursos.

 

AMÉLIA DAL PICCOLO COLETI


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 28 de junho de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADA: AMÉLIA DAL PICCOLO COLETI

 

Da. Amélia em sua poltrona, de sorriso espontâneo, muito bom humor, relembra fatos que remontam décadas. Aos poucos vai se soltando, um café é servido. Lê sem usar óculos. Na escola era sempre escolhida para declamar. A sala repleta de móveis e fotografias nos remete a um passado recente. Sua filha, professora e escritora Leda Coletti acompanha todos os seus movimentos e vontades. Há um clima de festividade no ar, dia 5 de julho de 2014 Amélia Dal Piccollo Coleti estará celebrando 100 anos de vida! Muitos dos seus familiares preparam-se para a grande comemoração. Amélia nasceu em Piracicaba, no Sítio da Santa Fé, a cerca de oito quilômetros de Piracicaba. Seus pais Martinho e Marieta Dal Piccolo tiveram onze filhos: Guerino (1897), Thereza (1898), Rita (1900), João (1902), José (1904), Josefina (1907), Maria (1909), Elvira (1911), Amélia (1914), Corina (1917), Dionísio (1918), sendo que os oito primeiros nasceram em Batatais os demais no Sítio da Santa Fé, município de Piracicaba. Martinho e Marieta adquiriram o Sítio da Santa Fé de Joaquim Maria de Souza que tinha recém-construido um casarão com oito cômodos. A propriedade compreendia 24 alqueires paulistas de terra.  Entre outros bens possuía engenho de pinga, capela, 3 casas geminadas para os colonos, chiqueiro com porcos, rancho dos arreios, cocheira, vacas, burros, arados, riscadores, trole, carroças, pomar já formado e outras benfeitorias. Tendo como ponto de referência o ribeirão Guamium, tinham como vizinhos, do lado esquerdo, partindo do Bairro Via Nova, os seguintes sitiantes: Viviani, Freschinette, Coletti, Penteado, Marchini, Galvão até o tanquinho de água da família Furlan, local próximo onde hoje está a Indústria Codistil, na Cruz Caiada. Do lado direito havia os vizinhos: Panciera, Zocca, Perón e Furlan. A estrada de terra com destino a Piracicaba e Rio Claro ficava distante da sede pouco mais de um quilômetro. O abastecimento de água era feito pelo poço movido a corda com carretilha, iam também buscar água na nascente (olho d`água) na divisa com o sítio da família Galvão. Não havia luz elétrica, usavam-se lampiões e lamparinas. Com o passar do tempo o casarão foi aumentado com mais dois cômodos. Havia também um quarto para o frade, era no casarão que ele se hospedava quando vinha celebrar missa mensalmente e nos dias de festas. Da. Amélia casou-se com Antonio Coleti, agricultor, empresário agro-industrial, que foi suplente de vereador em Piracicaba, ao assumir a vaga deixada pela ausência de um dos vereadores, participou da proposta da construção da rodoviária interurbana de Piracicaba, localizada onde está a atual, hoje reformada. Até então cada empresa de ônibus tinha um local de onde partia. Por muito tempo a AVA Auto Viação Americana que ligava Piracicaba a Campinas, passando por Santa Barbara D`Oeste e Americana, saia da sua “agencia” situada a Rua Prudente de Moraes, próxima a Rua Santo Antonio. Isso foi no tempo em que vereador não recebia nenhum salário para trabalhar, ele vinha da Vila Nova para as sessões na Câmara Municipal de charrete, percorrendo quase vinte quilômetros a noite entre vinda e volta. Sua filha Leda Coletti é professora, escritora e poetisa, ela preserva a história da família, um dos seus livros é  “A Saga dos Dal Piccolo”. 

Com que idade a senhora começou a trabalhar?

Aos doze anos já trabalhava com a enxada, plantávamos tudo que consumíamos. Ajudava a tratar dos animais, cuidava da horta. A alimentação era bem variada, mas não podia faltar polenta todos os dias. Meu pai adquiria do seu cunhado de São Roque uma cartola de vinho por ano. Até hoje às vezes tomo um pouco de vinho. Aos domingos  todos tomavam vinho.

Além de trabalhar na roça, a senhora freqüentou a escola?

Estudei até o terceiro ano a professora era Dona Risoleta Dias Ferraz. Para ir à escola andava quatro quilômetros a pé para chegar à Escola da Vila Nova. Passava pela propriedade da família de Antonio Coleti, seu pai Luiz Coleti foi uma pessoa muito conhecida por ter construído os primeiros engenhos de pinga da região, construía inclusive chaminés. Ele faleceu com 79 anos, alguns anos antes construiu o engenho do sítio da família Dal Piccolo Coleti. Luiz Coleti era muito amigo de Mário Dedini.

Como se chamava o sítio da família Dal Piccolo?

Era o Sítio da Santa Fé. A família sempre foi católica praticante. A vida girava em torno da capela, a qual possuía um quadro que representava a Santa Fé (Daí o nome do bairro). Antonio Coleti, que se casou comigo era neto do proprietário de um sítio vizinho, que ficava a uns dois quilômetros da Vila Nova.

A senhora caminhava a pé até a escola, e quando chovia?

Caminhava pelo barro, naquela época era comum as crianças andarem descalças. Eu era boa aluna, tinha as melhores notas, gostava muito de estudar.

Com quantos anos a senhora se casou?

Começamos a namorar eu tinha dezoito anos, aos dezenove anos nos casamos, em 9 de novembro de 1933 na Igreja Imaculada Conceição, na Vila Rezende, o Monsenhor Rosa foi o celebrante. A viagem de núpcias foi para Bom Jesus de Pirapora, Luiz Coleti, pai do meu marido, foi dirigindo um automóvel de propriedade da família. Era estrada de terra na época. Fomos em um dia e voltamos no dia seguinte.

Após se casar em que local a senhora e seu marido Antonio Coleti foram morar?

Como era muito comum na época, fomos morar na casa do meu sogro, com as minhas cunhadas, sogra. Em 1941 meu marido construiu uma casa muito bonita, que inclusive foi escolhida para receber o bispo quando o mesmo esteve em visita na localidade. Em 1936 nasceu a primeira filha Gemma Guiomar, em 1941 nasceu a filha Leda e em 1946 nasceu José Tadeu. Sempre gostei muito de cultivar flores. Meu marido cultivava cana de açúcar e tinha um engenho de aguardente movido a vapor. Os engarrafadores iam buscar a aguardente com caminhão, um deles era o Del Nero, que tinha depósito no alto da Rua Boa Morte.

A senhora e seu marido adquiriram uma casa em Piracicaba?

Isso foi em 1948, além do sítio, adquirimos uma casa na Rua Governador Pedro de Toledo, entre a Rua São Francisco e Joaquim André, onde bem mais tarde foi ocupada pela Fundação Jaime Pereira. Permanecemos lá por uns dois anos. Meu marido vendeu essa casa e com seu tio Pedro adquiriram uma propriedade próxima a Rio Claro. Decidiram montar uma usina de açucar junto com a família Ometto, em Iracemapolis. Após algum tempo meu marido vendeu a sua parte aos Ometto e adquiriu a propriedade de Ipeuna. Por volta de 1965 a 1966 ele decidiu montar um engenho de aguardente nessa fazenda. Com o tempo ele arrendou o engenho e passou a ser fornecedor de cana de açucar.

Naqueles tempos havia muitas festas no sítio?

Meu marido tinha um conjunto musical que animava todas as festas da região era conhecido como “Conjunto do Toninho Coleti”. Ele tocava clarinete, banjo, violão.

A senhora lembra-se de alguma música da época?

Da. Amélia animada põe-se a cantarolar: “O jardineira por que estas tão triste/
Mas o que foi que te aconteceu/ Foi a Camélia que caiu do galho/ Deu dois suspiros e depois morreu”.

Como se deu o inicio do namoro entre a senhora e seu futuro marido?

Ele mandou-me um recado que queria namorar comigo. Mandei dizer-lhe que não recebia recado, se quisesse que viesse falar comigo. Ele veio falar comigo. Ai começamos a namorar.

A senhora é muito religiosa?

Sou devota de Santo Antonio e São Judas Tadeu. A propriedade recebe o nome de São Judas Tadeu e a Capela é Comunidade São Judas Tadeu.

Como a senhora se sente em estar completando 100 anos de vida?

Nem faço idéia! ( Da. Amélia provoca gargalhadas nas pessoas presentes).

A senhora viajou, passeou muito quando casada?

Meu marido não gostava de sair, ele dizia: “- Vou para o meu canavial! Isso que é lindo!”. Era muito trabalhador. Caseiro. Sempre tinha gente em casa que ia tocar sanfona junto com ele que tocava violão. Todo ano tinha festa junina.

Para locomover-se nas vizinhanças qual era o meio de transporte utilizado?

Usava charretinha, ia as fazendas da Corina, Elvira. Eu conduzia a charrete. Vinha à Piracicaba, que era chão de terra e ficava a uma distância de uns dez quilômetros. Era a estrada que liga Piracicaba a Rio Claro. Logo que meu marido adquiriu o sítio ele levava as duas meninas para a escola até Rio Claro, distante cerca de dois quilômetros, em um automóvel Cadillac. Elas voltavam de jardineira da empresa Marchiori. Enquanto a casa não ficava pronta na fazenda, eu ficava com meu filho em nossa casa de Piracicaba, muitas vezes quando chovia a estrada que liga Piracicaba a Rio Claro ficava intransitável, tinha que dar a volta por São Pedro, que também era de terra. 

Naquela época muita coisa era feita em casa mesmo?

Fazíamos de tudo. A lingüiça era feita em casa. Sabão era feito em casa, comprávamos a soda, misturava com cinza, gordura, e fervia essa mistura toda até chegar ao ponto certo. As panelas eram areadas. A água era de poço, o poço ficava a uns 100 metros da nossa casa. A água era difícil em Rio Claro. Meu marido faleceu aos 83 anos em 1996.

A senhora além da casa na fazenda tinha outra residência em Piracicaba?

Em 1966 adquirimos uma casa na Rua do Rosário, entre a Rua Gomes Carneiro e a Rua Floriano Peixoto. Em 1970 decidi permanecer o tempo integral no sítio até 1977. Nós tínhamos adquirido uma casa na Rua Ipiranga, onde havia morado Jethro Vaz de Toledo, a casa existe até hoje, está sendo usada para fins comerciais. O quintal dessa nossa casa fazia divisa com o quintal da casa onde residiu ainda menino o Governador Adhemar de Barros.

Atualmente a senhora reside em um apartamento, como foi a reação do marido da senhora quando entrou em um apartamento, uma vez que ele gostava do horizonte sem limites da fazenda?

Ele vinha durante a semana e aos finais de semana, o resto do tempo permanecia no lugar que gostava muito, que era a fazenda. Em Piracicaba ele ia à Cooperativa dos Plantadores de Cana, ia à missa, ele era muito popular,bastante comunicativo.

A senhora gosta de animais?

Sempre gostei muito, tenho predileção por gatos. Lembro-me com saudades da Naná, uma gata lá do sítio. Lembro-me do Rio Guamium.

Quantos netos a senhora tem?

Tenho cinco netos e seis bisnetos.

A senhora gosta de compor versos?

Gosto muito.  ( No livro de Leda Coletti, “ A Saga dos Dal Piccolo” tem as trovas redigidas pela “mama” Amélia nos seus 89 anos)

 

Gosto de fazer versinhos

que valorizam o bem

e, embora sejam curtinhos

muitas verdades contém.

 

Tenho oitenta e nove anos

com cabeça de mocinha,

filha de pais italianos

sempre gostei de trovinha.

 

Todos nós necessitamos

de proteção e respeito

mas, para isso é preciso

comportar-nos desse jeito

 

Fraternidade cristã

dá sentido à existência

e doar-se a alma irmã,

aceitá-la na vivência.

 

Jesus nos deu o exemplo

morreu pregado na cruz,

fez de sua vida um templo

fez a treva virar Luz!

 

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