sexta-feira, agosto 29, 2014

DENISE OTERO STORER


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 16 de agosto de 2014.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/


http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: DENISE OTERO STORER

 



O amor de Denise Otero Storer pelas artes plásticas, pelo cinema, pela literatura, ela considera como um presente dado pelo seu pai Telmo Otero, Denise desde pequena o acompanhava aos Salões de Belas Artes. Os primeiros salões que Denise freqüentou eram realizados nas dependências da FOP- Faculdade de Odontologia de Piracicaba, a Rua D.Pedro II esquina com Rua Alferes José Caetano. Ele chegava a sua casa e dizia à Denise: “- Hoje vou levá-la a abertura do Salão de Belas Artes!” Ela era ainda muito nova, mas gravou em sua memória Levava-a ao cinema para ver Cantinflas, Sarita Montiel, Jerry Lewis, ele também adquiriu coleções de Monteiro Lobato para que Denise pudesse ler. Proprietário da Casa Triângulo – comércio de materiais para construção, fundada em 1950, Telmo Otero presidiu a ACIPI- Associação Comercial e Industrial de Piracicaba de 1977 a 1991, entre os fatos que marcaram sua gestão, um deles foi a construção da sede da entidade uma obra que começou a ser idealizada por presidentes anteriores a Telmo, mas que foi colocada em execução em sua gestão, conforme previa um projeto na década de 70. Telmo Otero sempre foi muito influente junto a sociedade piracicabana, no exercício de suas atividades na ACIPI agiu com grande dinamismo, deixando um legado de obras e princípios comerciais que até hoje estão presentes em nossa sociedade. Denise Otero Storer é nascida em Piracicaba a 19 de setembro de 1951 ela e Maria Tereza são filhas de Telmo Otero e Anesis Antonia Bragaia Otero. Denise Otero casou-se com o engenheiro civil Cesar Marcom Storer. Recebeu diversos prêmios: Aquisição (1991, 1995, 1996), Medalhas de Ouro (1996, 1998), Medalha de Prata (1991) e Menções Honrosas (1991, 1994, 1996), em Salões de Artes Plásticas de Piracicaba, Araras, São João da Boa Vista, Amparo e Franca. Fez diversas exposições individuais em diferentes locais de Piracicaba. Foi membro de comissões organizadoras, de seleção e premiação de diversos Salões de Arte além de capas de “folder” e folheto turístico.


Seus primeiros estudos foram em que escola?

O curso primário foi no Grupo Escolar Moraes Barros, Da. Neide foi a minha primeira professora. No terceiro ano minha professora era Dona Maria José. Eu tinha muita vontade de ficar sócia da Biblioteca Municipal, que na época ficava na Rua Alferes José Caetano esquina com a Rua Voluntários de Piracicaba. (Um casarão centenário, que recentemente foi demolido para dar lugar a mais um espigão no adensamento populacional). Foi uma grande alegria o dia em que me tornei sócia, houve a necessidade de ser acompanhada da minha mãe como adulto responsável. Até hoje gosto do odor característico de livros! A meu ver os novos recursos tecnológicos tablet, PC, ou simplesmente tablete não substitui o livro. Gosto de frequentar sebo (Palavra para designar livro de segunda mão).

Após concluir o primário qual foi o próximo curso que você fez?

Entrei no Jeronymo Gallo e no Instituto de Educação Sud Mennucci, onde fui classificada em segundo lugar. Optei em estudar no Sud Mennucci, na época as mães gostavam que as filhas fizessem o curso Normal, já era um diploma. Tive aula com Dona Zelina, Seu Argino, Lino Vitti, Evaristo, Benedito de Andrade, Godoy. Era no tempo em que o bonde virava na Rua José Pinto de Almeida, sentido da Rua XV de Novembro. Tínhamos os Cinemas, Polyteama, Broadway, Palácio.

Você tocava algum instrumento na famosa fanfarra do Sud Mennucci?

Eu só participava do desfile, não tocava nenhum instrumento. Eu convivi logo no comecinho do curso a existência de um muro que separava a entrada das meninas e dos meninos. Logo depois tiraram o muro.


Quem era seu professor de arte?

Tinha um professor de desenho, o Seu Costa, mais conhecido como “Costinha”, ele foi um professor de desenho que tinha muita consideração pelo meu trabalho, ele sabia que eu tinha uma coisa especial com relação a desenho. Foi o primeiro professor de desenho a me ensinar a tirar no natural. Enquanto todo mundo estava fazendo desenho geométrico ele colocava umas caixas para que eu fizesse um pouquinho de desenho artístico. Ele me deu algumas diretrizes de desenho artístico. Quando eu era criança lembro-me que meus pais compravam cadernos de desenho feito de papel jornal e lápis de cor. Eu desenhava meu mundo ali. E até hoje é assim! O meu processo criativo está muito ligado com o que eu vivo. Por isso também tenho várias fases de trabalho, depende muito da época eu necessito transmitir algo que estou vivendo ou observando. São todos tipos de emoções que procuro transmitir. Posso dizer que não pinto “comercialmente”. Sempre contei a minha história através da minha arte.

Olhando ao acaso uma pintura sua, sente-se um convite para vivenciá-la. Como você consegue transmitir esse sentimento ou ele existe apenas nos olhos de quem vê a tela? 

Essas coisas fazem parte da minha história. A carrocinha que você vê pintada no quadro é aquela que vinha na porta da minha casa para vender verduras.

Nesse quadro em especial, a carrocinha está ambientada em um ambiente rural, na tela ela foi inserida de acordo com algum processo trabalhado por sua inspiração?

Não é algo imaginário, e sim alguma coisa que existe. Toca o meu coração. Lembra alguma coisa da minha infância.

Toda essa riqueza de detalhes como você consegue transportar para a tela?

Isso envolve técnica, saber definir planos, saber dar volume no trabalho, saber trabalhar no primeiro plano. Isso é um aprendizado, que não é adquirido instantaneamente. Demanda um tempo para dominar essas técnicas. A emoção é o último fator, quando você consegue dar emoção a um quadro é após todos esses ingredientes terem feito parte de você. A técnica é a asa que me permite voar na minha criatividade. Só que para voar eu necessito ter asas! Para criar alguma coisa eu tenho que dominar essa coisa. Existe uma diferença entre errar e distorcer. O erro eu faço mesmo sem querer. Cometo o erro porque não sei fazer. A distorção não, eu sei fazer e quero fazer diferente. É proposital.

Você formou-se como professora normalista quando concluiu o curso no Instituto Sud Mennucci?

Já sai do Sud Mennucci com aulas de desenho pedagógico, aulas de desenho geométrico. Permaneci no Sud mesmo, dando aulas. Por pouco tempo dei aulas também, no Jerônimo Gallo. Quando me formei tinha por volta de 18 anos. Sempre gostei de dar aulas, tenho facilidade de passar as informações ás pessoas, elas me entendem bem. Faço analogias para que fique mais fácil o entendimento. Eu gosto do que eu faço. E gosto de passar adiante o que sei. Assim como sempre estou aprendendo com outras pessoas.

Você prosseguiu nos estudos?

A minha paixão era fazer Belas Artes. Era um curso que só tinha em São Paulo.

Qual foi a reação do seu pai, Telmo Otero, com relação a esse desejo da filha?

Ele não permitiu de jeito nenhum! Tentei encontrar alguma faculdade que eu pudesse fazer, mas que tivesse relação com arte. Escolhi Letras. Fiz Literatura Inglesa, Americana, Portuguesa, Brasileira. Quando conclui a UNIMEP já saí com aulas. Era a primeira aluna da classe. Comecei como professora. Logo me deram tudo, laboratório de línguas, o colegial inteiro, noturno. De manhã e a tarde eu dava aulas de artes para cerca de 100 alunos, uma escolinha de crianças, adolescente, que ficava na casa da minha mãe mesmo, na Rua do Rosário, 133. Eu devia ter uns 20 anos, percebi que tinha que fazer uma opção, ou ficava com a arte ou com o inglês. Só que a arte sempre falou mais alto, e infelizmente deixei o Instituto Piracicabano. Foi um período interessante, levei minha arte para lá também, fazia teatro, interpretava William Shakespeare, levava discos do Elton John, na época traduziamos letras, eu desenhava na lousa, naquela época não tinhamos os recursos que existem hoje. Era uma aula artístitica. Acabei por optar só pela arte. Casei-me aos 24 anos, tive os filhos Cesar e Beatriz. Èramos estudantes quando eu e o meu marido Cesar Marcom Storer nos conhecemos, eu tinha 17 anos ele tinha 19 anos.

Denise, você transmite sentimentos especiais com sua arte e as pessoas se manifestam a respeito. Algumas de suas obras quando postadas na rede social é motivo de muitos elogios.

Embora não sejam explicitos as pessoas percebem os nossos sentimentos. Quando faço uma obra é essa emoção que carrego dentro de mim que coloco ali. Eu trabalho com a verdade, não me importo com o que os outros pensem a respeito. Essa arte é a minha vida, eu escrevo através dela.

Quais são as técnicas de pintura que você mais utiliza?

A principio comecei com o óleo, era a técnica mais conhecida, com mais facilidade de encontrar material. Por volta de 1990 a prefeitura patrocinou um curso na Pinacoteca Municipal, com um professor, Norberto Stori, da FAAP - Fundação Armando Álvares Penteado. Ele veio para dar um curso de aquarela, por um período de dois anos. No final, dos aproximadamente 60 alunos que iniciaram o curso apenas sete alunos concluíram e formaram um grupo “7+2”.

Por  que esse grupo se chamava “7+2” ?

Éramos sete alunos que tinhamos concluido o curso e convidamos mais dois amigos para fazer parte: o Arair Ferrari e Natal Gonçalves. Durante aproximadamente uma década fizemos bastante exposições.

Quem pode matricular-se na sua escola de arte?

Qualquer pessoa que tenha interesse pela arte, desde principiantes. A partir dos doze a treze anos até sem limite de idade máxima. Tenho um aluno que entrou com dez anos, hoje tem dezesseis anos e ganhou menção honrosa no Belas Artes.

Temos grandes artistas em todas as áreas, o que falta para serem devidamente valorizados no Brasil?

É uma questão cultural. As vezes estou pintando no meu ateliê, como da rua é  possivel ver a obra que está sendo realizada, algumas pessoas passam, param, admiram, dizem que imaginam o quanto deve ser bom pintar. Geralmente acabam perguntando: “-E você não trabalha?”. Na concepção dessa pessoa pintar, desenvolver uma arte já a quarenta anos não é trabalho! Minhas obras são vendidas a um preço acessivel, só que por questões culturais gasta-se muitas vezes mais em uma bolsa do que em um quadro. 


Quantas obras você já realizou?

Quando meu marido aposentou-se, propô-se a catalogar todas as obras. Só que eu já tinha vendido muitas. Quando ele catalogou existiam cerca de 3.000 obras. Portanto deve ser um número maior.

Seus trabalhos estão em diversos países?

Tenho trabalhos que realizei espalhados pelo mundo afora. Tenho várias histórias a respeito. Um americano veio até o meu ateliê e encomendou especialmente para ele uma aquarela com o salto do Rio Piracicaba. Ele levou, enquadrou, colocou sobre a sua lareira, tirou uma fotografia e me enviou por e-mail para que eu visse. Em 2013 quando uma turma de engenheiros da Esalq comemorou 40 anos de formatura da turma fiz a capa do livro, a contra-capa e todos os trabalhos que foram presenteados aos alunos-colaboradores, fiz 23 aquarelas só sobre o prédio principal da Esalq, em angulos diferentes, nenhum repetido. A Unimep tinha um convênio com o Instituto Metodista Bennett do Rio de Janeiro, fui convidada para fazer uma exposição lá. Além de levarem a exposição, fizeram um coquetel de abertura, e deram-me a passagem de ida e volta de avião. O curioso é que essa foi a primeira vez em que andei de avião! (Denise após isso viajou para Europa, recentemete esteve na América do Norte).

Como o nosso jovem vê a arte?

Me parece que está havendo um pouco mais de atenção nesse ponto. Vejo salões, pinacotecas, escolas, excursões levando alunos com monitores explicando, isso antigamente era raro. Talvez essa nova geração se interessse mais pela arte. Em diversas cidades de outros paises, vi crianças em museus, salões de arte, discutindo cores, percebe-se claramente que em determinados locais há um grande incentivo à arte. E o Brasil parece estar caminhando nesse sentido, de educar a pessoa.

Um patrimonio mundial da cultura artística que existe no Museu de Arte Moderna de São Paulo, MASP, porque não é usufruido mais?

Muitas pessoas nem conhecem, nunca foram. Não sabem o que é uma Pinacoteca do Estado.  Vale a pena visitar só para ver o prédio maravilhoso. Eu acredito que isso vai se invertendo. As pessoas estão tendo mais acesso a cultura, a própria internet facilita.

Para quem conhece apenas um pote de tinta e um pincel, ao iniciar um curso de pintura com você, quanto tempo essa pessoa levará para ter alguma noção de arte?

Depende da pessoa, da bagagem que ela traz, tem pesssoas que já tem um certo talento. Nesse caso é só lapidar um pouco e logo estará desenvolvendo. Outras não, tem que começar do nada, mas eu acredito, não daria aula para principiante se não acreditasse nisso, na possibilidade do seu sucesso. Penso que todo mundo tem todos os ingredientes em seu interior, basta querer desenvolve-los.

Há pessoas que desenham intuitivamente , com relativa perfeição, até em cantinho de jornal, qual é o caminho que esse futuro artista pode seguir?

Sou uma professora bem abrangente, dou aula de pastel seco, pastel oleoso, aquerela, óleo, moderno, classico, acrílica. Dou aulas de artes, a colagem dentro do contexto de arte também. Tem quem goste de fazer o moderno, o abstrato.

O conceito de que arte é coisa de elite existe ainda?

Isso está errado. O artista tem que estar onde o povo está. O artista não pode ser elitizado. No meu entender, o artista não é um intelectual. Ele é um artista! Sou apaixonada por desenho, é minha arte primeira, desde criança eu desenho.

Você tem alguns quadros com paissagens européias?

Tenho! Eu fui para lá! Não pinto coisas que não vivo! Preciso sentir o cheiro,saber a cor, viver o momento. Tenho que vivenciar para transportar aquilo para a tela. Meu processso criativo é esse. Pode ser uma situação que eu esteja presenciando. Acho que a arte não pode ter barreiras, fronteiras ou limites. Cada individuo é único.

A Bienal é um evento marcante e algumas vezes saimos do recinto com a duvida se algo exposto tem o valor de arte ou foi apenas a intenção de arrumar uma bela confusão?

A Bienal tem coisas maravilhosas, tem coisas que vi lá e nunca mais me esqueci. Lembro-me de uma em que tinha um espaço, tudo em construção, vamos dizer assim, inacabada. Um monte de tijolos. Uma pá. A impressão é de que não tinha dado tempo para fazer a obra. Era a obra! Mais tarde tinha um monitor explicando a obra! Mais parecia um espaço em reforma. É uma arte conceitual, tem toda uma filosofia envolvendo aquele trabalho. Precisa conhecer um pouco a trajetória do artista para poder avaliar, por isso não se deve colocar tudo no mesmo patamar.

Além da arte, o que você gosta de fazer?

Gosto muito de ler, de ir ao cinema, musica, prefiro mais musica clássica. Toco violão.

Como é a dona de casa Denise?

Normal! Cozinho, tem dias que acho que está muito bom, outros dias acho que não.

Qual prato que você cozinha e ninguém resiste?

É o puchero, receita que herdei da minha avó!

As mudanças ocorridas com o crescimento de Piracicaba reflete nas obras do artista?

Acredito que sim, o volume de informações é maior.

O aumento da violência influencia?

Acho que já temos tanta violência na mídia, não vejo a necessidade de que eu mostre isso na arte. Tem artista que gosta do motivo social, de alertar as pessoas. É valido. Mas eu prefiro ter um olhar diferente, passar isso para as pessoas para que os olhos delas fiquem contentes. Minha filosofia de vida já prega isso. Que temos que ser positivos. Para mim é uma missão, fazer com que as pessoas fiquem felizes. Temos que puxar as coisas boas que as pessoas tem dentro de si. Quando um aluno ganha um prêmio, participa de uma exposição, sinto uma realização pessoal muito grande.

A arte de Denise Storer está ao alcance de quem desejar adquirir?

Os preços são bem acessíveis. Desde uma pequena aquarela até um quadro maior. Basta a pessoa querer e gostar.

FREDERICO ALBERTO BLAAUW


ENTREVISTA REALIZADA NO DIA 21 DE AGOSTO DE 2014 A RUA ALFERES JOSÉ CAETANO, 581

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 23de agosto de 2014.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/


http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: FREDERICO ALBERTO BLAAUW

 

 

Em uma reunião a 9 de setembro de 1968 o Conselho Diretor do Instituto Piracicabano decidiu encaminhar o pedido de autorização para mais dois cursos: o de Direito e o de Ciências Biológicas. Frederico Alberto Blaauw foi o primeiro colocado no primeiro vestibular, realizado a 14 de fevereiro de 1970, com um total de 159 inscritos e um total de 115 aprovados. Frederico Alberto Blaauw, que se tornaria professor do curso já era professor de línguas e literatura no Colégio Piracicabano. Formado em Direito, continuou na docência. Nascido em São Paulo, na Rua Piratininga, a 27 de outubro de 1933, filho primogênito de Frederico Blaauw e Ana Henriques Blaauw  que ainda tiveram os filhos José Carlos e João Paulo.

Qual era a atividade profissional do pai do senhor?

Meu pai era funcionário da Shell. Eu tinha alguns meses de vida quando a nossa família mudou-se à Piracicaba. No inicio residimos em uma casa situada a Rua São José, 1182, ficava a meio quarteirão abaixo do Largo Santa Cruz. Depois mudamos na esquina, no Largo  Santa Cruz, 862,  esquina com a Rua São José. Na época o Largo Santa Cruz era chão de terra. Tinha uma capelinha no centro do Largo Santa Cruz, onde  havia festas.

Com que idade o senhor começou a freqüentar a escola?

Aos sete anos iniciei o curso primário no Grupo Escolar Moraes Barros. Minha primeira professora foi Maria Emilia Cardinalli. Prestei o curso de admissão e fiz o ginásio no Piracicabano, situado na Rua Boa Morte. O Curso Científico fiz no Instituto Sud Mennucci onde tive aulas com Argino da Silva Leite, que ensinava matemática, Benedito de Andrade que lecionava português. Demosthenes Santos Corrêa professor de química. Fui aluno do Archimedes Dutra.Conclui o científico aos 18 para 19 anos.

O senhor tinha algum curso como meta?

Eu desejava entrar para a escola de cadetes., em Resende. Eu tinha um pendor para isso. Só que nessa época, em 1954, meu pai faleceu. Como filho mais velho tive que assumir os encargos da família. Prestei o concurso para o SESI, fui aprovado como educador social. Por ter sido aprovado nesse concurso, fiz a Escola de Sociologia e Política, com bolsa do SESI em São Paulo, onde permaneci por três anos residindo em uma casa situada no Brás. A Escola de Sociologia Política ficava bem no centro, ao lado da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, atualmente é a Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Após concluir esse curso voltei para Piracicaba como Educador Social do SESI. Atendia as empresas. 

 

Em poucas palavras qual era a função do Educador Social?

A função primordial era trabalhar no sentido em que houvesse a paz social. Evitar litígios entre funcionários e empresas. Já existia sindicalismo, com um enfoque diferente. Hoje as empresas e os sindicalistas são antagônicos. Antigamente procuravam caminhar juntos.

Quanto tempo o senhor permaneceu no SESI?

Foram mais de 30 anos. Assumi a supervisão do Centro Social número 20 que abrangia Piracicaba. Eram ministradas palestras, principalmente cursos, de formação cívica, de supervisão de pessoal, de relações humanas. Esse trabalho do SESI hoje não existe mais. Infelizmente a própria relação patrão-funcionário deteriorou. O intuito principal era estabelecer o dialogo, a paz social. Os cursos eram dirigidos nesse sentido.

O senhor lecionava?

Fui educador social ministrando as aulas. Depois assumi a direção, passando a ter uns oito ou nove subordinados. Pode-se dizer que nunca houve um clima extremamente pesado (de guerra) entre a classe patronal e a classe de trabalhadores, como ocorreu em outras regiões do país.

O sobrenome Blaauw tem qual origem?

A origem é holandesa, de Amsterdam Meu avô paterno, Frederico Blaauw era engenheiro, veio para Campinas quando a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro estava sendo implantada. Acabou casando-se em Campinas. Meus avós maternos eram portugueses, ela era Ascenção da Silva Henriques e meu avô era Alberto Henriques. Minha avó materna passava temporadas conosco, depois voltava para Lisboa. Blaaaw na Holanda é um nome tão comum como Silva no Brasil. Blaaw quer dizer “azul”. No Nordeste existe uma cantiga que fala do “Boi Blau” quando ele aparece traz sorte. A  origem está no período da Invasão Holandesa.

O que o levou a cursar direito?

Fiz o curso de direito na UNIMEP. No vestibular da UINIMEP fui aprovado em primeiro lugar. Isso foi em 1970, sou da primeira turma, formei-me em 1973. Eu tinha 37 anos.

O senhor resolveu trabalhar na área jurídica ou continuar na área de ensino?

Até então eu trabalhava no SESI e também lecionava. Fui professor de português por muito tempo, em várias escolas. Lecionei no Colégio Piracicabano, na Escola Industrial, por muito tempo lecionei na Escola de Comércio do Zanin (Escola de Comércio Cristóvão Colombo).

Há quem diga que a lingua portuguesa é complexa, o senhor concorda?

Se você comparar a lingua portuguesa com o inglês, a aplicabilidade dela é a mesma. Só que o inglês é uma lingua praticamente universal e o português é restrito.

A análise sintática tem algum segredo para que o aluno tenha bom entendimento?

Eu acredito que não existem segredos. O que existe é a aplicação do aluno. E o aluno é sempre uma resposta em relação ao professor. Na medida em que o professor exige o aluno corresponde.

Qual foi sua atividade referente ao direito logo após a sua formatura?

Passei a dar aulas na própria faculdade.

O senhor pratica algum esporte?

Faço caminhadas. Antes eu praticava corrrida, dois a dois quilometros e meio todos os dias. Eu morava em uma casa situada na Avenida Independência esquina com a Rua Samuel Neves. Fazia aquele percurso até a Esalq, dava um giro pelo campus e voltava.

O seu porte ereto, a postura elegante, é genético ou força do habito?

Acho que é força de vontade!

No campo do direito qual é a especialidade do senhor?

O meu escritórios´trabalha com pesssoa juridica. Prestamos assessoria para empresas. Obviamente que para os sócios das empresas nós prestamos serviços. Isso sempre foi assim, desde o começo.

O senhor nunca atuou na área criminal?

Essa parte criminal não fazemos. Só trabalhamos com direito civil, direito de trabalho, direito tributário. Contratos.

O Direito no Brasil é o mesmo direito dos outros países?

Acho que há um equilibrio.

Qual é a importância da Ordem dos Advogados do Brasil, OAB? 

E um orgão que disciplina, organiza, tem uma amplitude muito grande em relação aos advogados. É o orgão de controle da advocacia. Hoje ela está mais voltada para a sua própria atividade, ela não ten a expressão política. Ela já teve uma participação politica maior. Hoje ela está mais voltada para a prória classe.

Em 1964 o senhor ainda não era advogado, mas já estava inserido no sistema de serviço publico. O senhor vê que o Movimento de 1964 trouxe resultados positivos?

O golpe de 1964 foi bem recebido pela população de uma maneira geral, pela igreja, pelas instituições, pelo empresariado. Dados os desmandos que havia. Depois as coisas foram mudando e a visão passou a ser outra. Só que durante 20 anos vivemos garroteados. Fui vereador em duas legislaturas. No governo de Cassio Paschoal Padovani e no governo de Adilson Benedito Maluf, quando fui o vereador mais votado do MDB – Movimento Democrático Brasileiro, oposição a Aliança Renovadora Nacional – ARENA. O deputado Francisco Antonio Coelho era presidente do diretório do MDB. Fui líder da bancada do MDB. Fui fundador do Lions Cidade Alta.

Qual fato o senhor pode destacar como muito representante para Piracicaba no período em que o senhor foi vereador?

No governo do prefeito Adilson Benedito Maluf a vinda da Caterpillar para Piracicaba foi muito marcante! Talvez seja a mais importante mudança que Piracicaba teve nos últimos anos e se deve ao prefeito Adilson Benedito Maluf que nunca foi reconhecido como gestor que trouxe a cidade para Piracicaba. O Adilson era filiado ao MDB. Foi uma grande luta sua trazer a Caterpillar à Piracicaba, esteve até nos Estados Unidos, em Peoria, onde fica a matriz da Caterpillar.

Nessa época ser oposição ao governo era uma atitude muito complicada?

Precisava ter muito peito!

Depois que deixei o mandato fui secretário de finanças do João Hermann Netto, e fui também Procurador Geral do Município. Na época de Luciano Guidotti fui presidente do Departamento Municipal de Cultura, naquela época não existia secretaria. Havia também o Departamento de Turismo. Fui presidente da Guarda Mirim, criei o departamento feminino da Guarda Mirim. O Ciappina era o comandante. Quando a Guarda Mirim foi criada o menor podia trabalhar, o objetivo era tirá-los da rua, dar uma formação, o que a Guarda Mirim fazia muito bem, e encaminhá-los para o serviço. Hoje só pode ser feito com 14 ou mais anos.  Fui presidente da Comissão Municipal do Mobral, formamos muita gente em Piracicaba. Consegui doações para adquirir a sede do Mobral em Piracicaba, com a extinção do Mobral esse imóvel passou a ser propriedade da Prefeitura Municipal de Piracicaba, na Rua José Pinto de Almeida quase esquina com a Rua São José.

Dr. Frederico Alberto Blaauw qual era o salário do senhor como vereador?

Nenhum! Não se ganhava nada para trabalhar como vereador. O combustível que eu usava no meu veículo era pago por mim mesmo. O carro que eu utilizava para trabalhar como vereador era o meu próprio carro. Não havia ajuda nenhuma. Não tinha secretária, assessor. Não tinha nem local para se trabalhar. Cada um trabalhava no seu escritório ou na sua casa.

O senhor atua como advogado especializado em direito comercial há quarenta anos, no decorrer desse tempo o direito mudou muito. Como o senhor avalia essas mudanças?

Até 2002 tínhamos um código comercial. Com o advento do novo código civil uma parte do direito comercial passou a ser incorporada ao direito civil. A parte de contratos, sociedades, deixaram de pertencer ao código comercial e passaram para o código civil.

Esse cipoal de leis que existe beneficia a quem?

Só dificulta. Para o interprete e para as partes. Eu diria que a tendência é tentar simplificar, mas nós não atingimos ainda esse estágio. A burocracia está enfronhada no sistema. É difícil desligar-se dessa situação. Nosso sistema sempre foi burocratizado, isso traz entraves. No Brasil para se abrir uma empresa leva-se no mínimo, correndo tudo bem, de três a quatro meses. Em determinados países você consegue abrir uma empresa em três dias!

O recolhimento de tributos é um problema?

A complexidade de recolhimentos é espantosa. Por exemplo, um tributo dos municípios que é recolhido para as prefeituras, o ISS, Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza. Onde se recolhe esse imposto? Você paga onde a empresa tem sua sede, onde está o estabelecimento principal, ou você paga aonde o serviço é prestado. Só que as prefeituras exigem que a empresa que tem sede em Piracicaba, mas presta serviços em Campinas recolha o imposto aqui. A prefeitura de Campinas também exige que recolha lá, o serviço foi prestado lá. Há uma bitributação.

O senhor tem um cálculo aproximado de para quantos bacharéis em direito lecionou?

São 36 anos lecionando, em um cálculo rápido foram aproximadamente 2.900 profissionais do direito. Que hoje são bacharéis, advogados, promotores públicos, juízes, desembargadores.

Se o senhor não fosse advogado seguiria a carreira militar, não há um contraste nessa afirmação? Como um político da oposição se identifica com o militarismo?

Está havendo um equivoco! Militarismo é uma coisa, pertencer as Forças Armadas é outra coisa totalmente diferente! As Forças Armadas pertencem a própria instituição da nacionalidade. O próprio PT sempre foi oposição mas convive com as Forças Armadas, que é uma instituição.

O senhor tem algum livro na gaveta para ser lançado?

Eu contribuo com artigos no jornal “A Tribuna Piracicabana”. Pode ser que um dia reúna todos os artigos que publiquei e os publique em forma de livro..O que escrevo procuro dar um enfoque sempre de caráter prático. Não apenas a parte teórica.

O senhor acompanha a tecnologia?

Não tem como fugir! Antigamente a movimentação junto ao fórum era só através de papel, hoje não, é tudo digitalizado.

A profusão de novas normas, leis e decretos, obrigam o advogado a estar sempre muito bem informado?

A legislação vai se adequando a uma realidade nova que vai surgindo por força da própria evolução. Isso não há como evitar. Essas mutações fazem com que você fique sempre voltado para essas alterações. O direito evolui.

Essas mudanças de legislações não ocorrem só no Brasil?

Ocorrem mudanças em todo o mudo, só que no Brasil elas são decorrentes de uma imposição mais tática e não estratégica. Mais para atender o dia a dia e não a longo prazo. Hoje o empresário brasileiro está preocupado com o que pode vir a acontecer. Ele se prepara para isso. Só que ele não tem ajuda do governo. O governo visa apenas a arrecadação. É preciso levar em conta que o que mantém o governo é a empresa. A empresa mantém o governo, mantém o sindicato, mantém a economia funcionando, o emprego, ela tem que receber um tratamento especial para que possa suprir as necessidades da própria sociedade. Mas não é o que acontece. A empresa é vista como inimiga. Isso é uma mentalidade atrasada. Característica do Brasil. Eu acho que o enfoque teria que ser outro.  

O senhor diria que o empresário antes de tudo é um forte, parafraseando Euclides da Cunha que escreveu que o sertanejo é antes de tudo um forte?

Eu acho que se aplica bem a situação. Os jornais de hoje estampam a execução de imóveis de um tradicionalíssimo grupo de empresas de Piracicaba, quem está executando é a Receita Federal. Trabalham lá atualmente 3.000 empregados. Qual será o destino daqueles imóveis? O que a Receita Federal irá fazer com aquilo? O que mantém o que mantém o Status Quo (estado atual) hoje? É a economia. E a nossa economia está em uma situação extremamente complicada. Piracicaba sempre dependeu das usinas, quantas fecharam as portas?

Há um grupo muito poderoso, de capital internacional, que está adquirindo tudo que atua nesse setor?

Monopólio sempre existe, não há como evitar. Acho que é muito mais uma questão de política econômica do que interesses privados.

Como o senhor vê o momento político atual?

Conturbado.

O senhor viveu o ambiente de 1964, há como fazer uma comparação com dos dias atuais?

 A situação é completamente diferente. Hoje a democracia está estabilizada no Brasil. Hoje o Brasil é uma democracia firme. Para ser plena falta muito, mas caminhamos para isso. A não ser que sobrevenha uma situação inusitada.

O senhor tem algum hobby?

Gosto de chácara, de plantar, gosto de cavalo árabe, tive um chamado Koltov, de cachorro, sempre gostei da raça fila brasileiro, hoje tenho um, o Kaiser.

domingo, agosto 24, 2014

ALCINDO MACHADO DE OLIVEIRA FILHO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 9 de agosto de 2014.

Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/


http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: ALCINDO MACHADO DE OLIVEIRA FILHO

 

Alcindo Machado de Oliveira Filho nasceu em Americana a 22 de setembro de 1958. São seus pais Alcindo Machado de Oliveira e Verônica Moia Machado. Seus pais tiveram os filhos: Alcindo, Lourdes, Roselene, Rosangela, Leonilda, José Carlos e Vera Lúcia. Seu pai trabalhava em tecelagem, residiam na Vila Gallo.

Alcindo Machado, ainda residindo em Americana em que escola você estudou?

Até o quarto ano primário, estudei no Dom Bosco, havia um convênio entre o poder público e a escola. Estudava de manhã, a tarde voltava para a escola porque sempre tinha alguma atividade extra, catecismo, esportes. Lembro-me de um diácono, Leonel, ele que organizava os treinos.

Americana era um entroncamento importante?

Ali é passagem dos trens que vem de São Paulo e dirigem-se até o entroncamento de Rio Claro. Até hoje vemos os trens passar por Americana, só que atualmente são só trens de carga.

Na época existiam cinemas no centro da cidade?

Tinha o Cine Cacique, o Cine Comendador, Cine Brasil.

O ginásio você cursou em qual escola?

Estudei o ginásio na Escola Estadual Presidente Kennedy.

Com que idade você começou a trabalhar?

Quando fui cursar o ginásio, para poder estudar a noite tinha que ter algum documento que demonstrasse que estava trabalhando durante o dia. Era a norma na época. O aluno só estudava a noite se trabalhasse durante o dia. Na época eu tinha de 12 para 13 anos. Pelo período de um ano, um ano e pouco, trabalhei na tecelagem Machado & Marques.

Qual era a sua atividade na tecelagem?

Era auxiliar de tecelão. Naquela época já tinham mudado o tear mecânico para um tear semi-automático. Existia as “lançadeiras”, que é o local aonde ia a linha, a trama, o auxiliar tinha que pegar a lançadeira, colocar a trama em um dispositivo onde à hora em que a trama terminasse era trocada.

Era um serviço que exigia muita atenção?

Você não parava! No inicio o tecelão ajudava, ensinava o serviço, depois já dizia: “ –Acelera ai que essa parte é sua!”.

Após esse período na tecelagem, qual foi a sua próxima etapa?

Na visão do meu pai aquele era um trabalho que não oferecia maiores perspectivas.

 

 

 

A seu ver eu deveria estudar e arrumar um serviço. Fui ser office-boy em um escritório, Escritório Universal, situado bem no centro de Americana. Era uma cidade de porte pequeno (Em 1970 o município tinha 66.370 habitantes, em 1980 122.004, conforme www.campinas.sp.gov.br). Foi nessa época que meu pai deixou de trabalhar na tecelagem, adquiriu um estabelecimento comercial, um bar. Era situado em um posto de gasolina, e que hoje denominamos esse tipo de comércio como de “Estabelecimento de Conveniência”. Ficava situado no centro de Americana, o posto tinha um lava - rápido, era um local com bastante movimento. No período em que trabalhei no escritório começou a minha paixão pela fotografia, atividade que eu exercia mais nos finais de semana.

Como surgiu a fotografia em sua vida?

Eu tinha um amigo chamado Paulinho, cujo tio Gerson veio de São Paulo e passou a trabalhar com um japonês, o Yamashita. Eles fotografavam em Americana em Santa Barbara D`Oeste, cidade vizinha. Faziam reportagens fotográficas de batizados, casamentos. Como o Studio fotográfico ficava em Americana era dada a preferência dos fotografados em ir até lá.  Em Santa Bárbara D`Oeste e mesmo os batizados em Americana, tirávamos as fotografia e os respectivos endereços para posteriormente fazer as entregas. O Gerson passou ao seu sobrinho a tarefa de entregar as fotografias prontas. O Paulinho também pediu que eu entregasse as fotos reveladas.   O meu sonho era fotografar e não apenas entregar fotos. O estúdio fotográfico desse japonês era em frente a matriz antiga de Santo Antonio, existe até hoje, embora tenham construído uma matriz nova. (A Fidam primeira edição da Feira Industrial de Americana foi realizada em 1961, no salão de festas da nova Igreja Matriz de Santo Antônio).

Quando você foi tirar a primeira foto?

Foi de um batizado com uma máquina Yashica 6x6, o flash era separado da máquina, tinha um cabo ligando-a a máquina para que no momento do disparo agissem em conjunto luz e fotografia. Na época o flash requisitava o uso de uma bateria enorme, um estojo de couro levado ao lado do corpo. Era um equipamento que exigia conhecimento técnico do fotógrafo, tinha que regular abertura, foco. As pessoas tiravam poucas fotos, duas, três, quatro. Nessa época eu tinha uns 14 anos. As fotos eram em preto e branco.

A partir de então você passou a tirar fotografias de casamento, batizado, formatura?

Após tirar as fotografias geralmente éramos convidados a participar da festa. Foi assim que conheci a minha esposa.

Qual era o tipo de roupa que você utilizava para tirar fotografias?

No começo usava as roupas vestidas pelas pessoas comuns. Depois, à medida que o volume de trabalho foi crescendo, dependo da ocasião, se fosse necessário usava uma roupa mais formal.

Qual é a fotografia mais difícil de ser tirada?

Após aprender a tirar fotografia, dominar os recursos da máquina, todas as fotografias são difíceis, é importante saber o roteiro do que irá acontecer. Se você não estiver na posição correta, a sua fotografia será péssima, irá sair uma fotografia sem mostrar o que de fato está acontecendo. Sempre aprendemos que temos que saber em que posição vamos tirar a fotografia. Um casamento ou um batizado terá forma própria conforme o celebrante. Nunca será igual ao outro. Praticamente você irá antecipar o que irá acontecer para ter condições de que a foto saia privilegiada. Sente-se que hoje estão de volta as fotos em estúdio, os famosos “books”.

Você pode traçar um paralelo entre as postagens realizadas hoje no face book e as fotos daquela época?

O que vejo atualmente é muitas fotos sem critério algum. Hoje vemos os selfies (Selfie é uma palavra em inglês, um neologismo com origem no termo self-portrait, que significa auto-retrato, e é uma foto tirada e compartilhada na internet). A qualidade dessas fotografias não são as melhores. Fotografia sempre foram luz e sombra.

Você revelava fotografias?

Revelei! Trabalhei no laboratório muitos anos. Laboratório é um ambiente escuro, com várias banheiras, cada uma com um produto químico. O filme tem que ser tirado da máquina em um ambiente totalmente escuro. Após retirado era colocado em uma banheira com revelador, o tempo médio de revelação do filme branco e preto era medido muito mais pela sensibilidade do fotografo, dependendo da temperatura ambiente. Depois um banho com fixador e em seguir lavava o filme e punha para secar. O fixador interrompia a revelação, se simplesmente o deixasse ele iria comendo o filme. Depois ampliava o filme e passava para o papel fotográfico. Já para o filme colorido tudo tem que seguir um padrão de medidas e escalas. Temperatura de 33 graus centígrados. O filme colorido passa por mais banhos, como o branqueador por exemplo. O papel utilizado para filme preto e branco e para filmes coloridos são diferentes. O colorido tem mais camadas de cor. Com o filme preto e branco era utilizado um ampliador com uma luz só, uma luz branca, no filme colorido já entrava os filtros. O ampliador era como um projetor, nessa luz branca era colocado três filtros. Todos tinham uma numeração de acordo com o filme, eram feitos uns testes para graduação e saber quanto de luz de cada cor deveria incidir sobre o filme, assim como o tempo necessário.

Você montou laboratório fotográfico em Rio das Pedras?

Montei! Hoje não existe mais, mas foi um dos primeiros laboratórios fotográficos de Rio das Pedras, situava-se na Rua Prudente de Moraes, iniciei já que mudei de Americana para Rio das Pedras. Até então existia outra casa de fotografias onde revelava apenas o preto e branco. O filme colorido era mandado para outra cidade para ser revelado.

Como você conheceu sua esposa?

Eu deveria ter uns quinze ou dezesseis anos quando conheci. Minha esposa Zenite Aparecida Gallo Machado de Oliveira. Quando a conheci já fazia uma ano, um ano e meio que estava trabalhando com fotografia. O dono da empresa de fotografias chamava-se Yoshio Yamashita, ele contratava 10 a 20 casamentos para serem fotografados em um sábado.

Zenite você trabalhava em que área?

Eu trabalhava na Loja Marisol, em Americana. Na minha casa de filhos éramos eu e meu irmão Zildo Gallo. Meus pais são Aristides Gallo e Aparecida da Silva Gallo. Meu pai trabalhou muitos anos na Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Andei muitas vezes de trem.

Alcindo, assim que você e sua esposa se casaram foram morar em que cidade?

Quando nos casamos fomos morar em Araraquara por um período de tempo, trabalhei com outro fotógrafo, sendo que meu serviço era mais interno ao laboratório, de segunda a sexta-feira. Antes de nos casarmos eu saia de Americana logo pela manhã, chegava a Araraquara ao meio dia, onze horas. De ônibus da Viação Cometa ia mais rápido do que de trem da Cia. Paulista. Lá eu me hospedava em uma pensão.

Que dia vocês se casaram?

Foi no dia 28 de setembro de 1979, em Americana, na Igreja São João Bosco, quem celebrou o casamento foi o padre Julio Combo, a música tocada foi Ave Maria de Gounod. Tivemos os filhos: Ariella, Rafael, Gabriela.

Nessa época você trabalhava com que máquina?

Era uma Canon AE1, com baioneta. Eu tinha um amigo que tinha montado um laboratório. Permaneci com ele uns dois ou três anos. A seguir fui trabalhar com um fotógrafo muito famoso em Americana, Strikis, era leto. Por volta de 1986 a 1987  Esmeralda Schiavon, tinha uma loja muito grande em Rio das Pedras, o “Lojão da Nove de Julho”.  Ela fez o convite para que viéssemos para Rio das Pedras, havia campo na cidade para um fotografo. Ela nos disse que o pessoal do corte de cana recebia por semana e gastava.

Que tipo de fotografia você tirava desse pessoal do corte de cana?

Tirava fotografias 3x4, fotografias deles compondo um grupo. Eram fotografias que mandavam para o local de origem deles. Todos os eventos da cidade eu sempre tirei. Cheguei a tirar fotos de pessoas falecidas, geralmente eram pessoas que vinham trabalhar na safra, acabavam falecendo aqui e os amigos queriam mandar à família do mesmo como última recordação. Antigamente tínhamos um paletó, camisa e até gravata, para tirar fotografia para documento oficial. Hoje o fotografado vai de camiseta, através do photoshop colocam-se artificialmente os mesmos acessórios. .

Quantas fotografias você calcula que realizou sobre Rio das Pedras?

Não tenho uma noção precisa, mas são bem mais do que 100.000 fotografias. Tirei fotos de personalidades, cantores famosos, artistas de renome. Faço fotos para CD`s, são pessoas que querem gravar músicas.

Você pensa em montar um memorial ou algo parecido?

Por enquanto ainda não.

Você manteve estúdio aberto ao publico por quanto tempo em Rio das Pedras?

Desde 1988, são de 26 a 27 anos de estúdio.

Da. Zenite Aparecida Gallo Machado de Oliveira a senhora também é fotografa?

Com a convivência acabei aprendendo o ofício e tive a oportunidade de fazê-lo profissionalmente.

Há cliente que pede para fazer uns retoques com photoshop em foto normal?

Tornou-se quase normal, tanto homem como mulher pedir para dar um toquezinho em alguma mancha ou marca. Às vezes a pessoa é muito auto critica com ela mesma.

Qual é a mágica para fazer foto de candidato a cargo político?

Por muitos anos tenho tirado fotografias de candidatos. Para cargos como prefeito e vereador as fotografias são mais simples. As imagens recebem um tratamento diferenciado quando se trata de candidato para cargo com alcance nacional. Sempre fui muito sincero, se o candidato dá sugestões para mudanças muito radicais na fotografia eu deixo bem claro que o próprio leitor pode acabar não o reconhecendo. O leitor tem grandes possibilidades de achar que não é a mesma pessoa.

Você acredita que a fotografia digital determine o fim da fotografia como conhecemos até algumas décadas?

A fotografia não vai terminar! O que está acabanado é a fotografia no papel. A grande procura é por armazenamento eletrônico. É muito mais prático. Só que também é mais fácil de perder. Tenho um computador que impede que descarregue determinadas fotos. Tem uma pessoa que consegue recuperar, mas não consegue a recuperação de todas as fotos. A tecnologia ainda é confiável até certo ponto, você não tem garantia absoluta das imagens que você transfere a um equipamento, mesmo que faça cópia poderá ter problemas.

MARIA ANGELA STURION - LAVANDERIA MARIO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 02 de agosto de 2014.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/


http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: MARIA ANGELA STURION

 

A tradição de um povo é tão importante que alguns países ainda sustentam reinados como símbolos de um passado glorioso. Apesar de sermos um país jovem temos muito do que nos orgulhar. Piracicaba cresceu lentamente, com organização e sempre inovando em diversos setores. Culturais, artísticos e empresariais. Com a evolução tecnológica surgiram novos hábitos. Um deles é o de como vestir-se. Com a globalização praticamente a humanidade uniformizou-se. Até a pouco tempo usava-se roupas conforme a faixa etária ou classe social. Os tratos dessas roupas exigiam cuidados profissionais. Muitos ainda mantêm o habito de usarem esses cuidados em suas roupas de uso pessoal e mesmo domésticos. Um imigrante japonês, que para facilitar o contato com seus clientes adotou o nome de Mario criou a primeira lavanderia profissional de Piracicaba. Isso remonta algumas décadas. O tempo passou, os hábitos foram mudando, e a Lavanderia do Mario, ou Lavanderia Mario, pertenceu há vários proprietários, sendo que a atual proprietária Maria Angela Sturion está algumas dezenas de anos a frente da empresa. O que desperta mais a curiosidade é que seu marido, Leandro Filier Neto, com quem conviveu por mais de trinta anos, tinha dotes artísticos refinados: pintou telas usando diversas técnicas, escreveu livros, gravou disco e CD. Um artista na acepção da palavra. A lavanderia era sua forma de subsistência.

Maria Angela Sturion nasceu a 24 de julho na atual cidade de Saltinho, que na época era distrito de Piracicaba, filha de José Mario Sturion e Ema Arthur Sturion. Sua mãe era do lar e seu pai funcionário público estadual, trabalhava no Departamento de Estradas de Rodagem- DER. O casal teve cinco filhos: Maria Dinorah, José Dirceu, Maria Angela, José Angélico e Maria Conceição. 

A senhora morava com a sua família em Saltinho?

Na época só havia duas ruas, a Sete de Setembro e a que a que morávamos, a Rua Joaquim Mendes Pereira. Estudei o primário lá, uma das professoras chamava-se Zilda, outra era a Professora Maria Lucia. Na época não havia asfalto em Saltinho, quando chovia era um barro só, e quando não chovia era só poeira! Na rua em que morávamos só havia casas de um lado, em frente era uma plantação de eucaliptos. A estrada que liga Piracicaba a Tietê, Cornélio Pires, passava ao lado de Saltinho, como é atualmente.

Na época a população de Saltinho estava mais dispersa pela área rural?

Era composta mais por sitiantes, em Saltinho meus avô tiveram uma venda. O José Bernardino, casado com Dona Dalva é meu primo. O pai dele é irmão do meu pai. Foi um membro da família Pompermayer que adquiriu a nossa casa quando mudamos para Piracicaba. Era muito famoso o “fumo do Bairrinho”, fumo de corda.

Em sua infancia qual era o lazer  predileto das crianças?

Brincar na rua! Brincar de “pega”. Tenho as marcas que ficaram em minhas pernas, de cair, brincar! Uma das vezes enrosquei em uma lata, fiz um corte profundo.  Pulava amarelinha, pulava corda. Não existia brinquedo de nenhum tipo, boneca nem pensar! Ovo de Páscoa nosso era aquele ovo de galinha que a nossa mãe cozinhava na água colorida com anelina. Lembro-me de que havia a Igreja Sagrado Coração de Jesus. O Padre Brandão permaneceu muito tempo na paróquia, ele que ministrou a minha primeira comunhão.

A senhora concluiu o primário em Saltinho?

Conclui, para continuar a estudar tinha que frequentar a ecola em Piracicaba. Permaneci em Saltinho, ajudava nos afazeres domésticos. Já existia energia elétrica. Geladeira era artigo de luxo, só as famílias ricas é que possuiam. Lembro-me das famílias Cassano, Schiavinatto, Vecchini da padaria.

A família da senhora permaneceu em Saltinho?

Nós mudamos para Piracicaba, viemos morar em uma casinha na Avenida Dona Jane Conceição. Fui trabalhar no Supermercados Brasil, de propriedade de Lélio Ferrari (Pioneiro no Estado de São Paulo no sistema de auto-serviço). Eu trabalhava na loja da Rua Governador Pedro de Toledo, no centro, entre a Rua Xv de Novembro e Rua Moraes Barros. Meu serviço era no setor de frios. Fui em seguida trabalhar na Lobras (Lobras-Lojas Brasileiras foi rede de lojas de departamentos e variedades. Encerrou as operações em 1999. Possuía 63 lojas espalhadas por vinte estados do Brasil). Era uma loja enorme, situada na Rua Governador Pedro de Toledo entre a Rua Rangel Pestana e D.Pedro II. O Seu Irandir (Didi) Cardinalli, um dos proprietários da loja Ao Cardinalli Presentes através de suas funcionárias convidou-me e a uma colega para ir trabalhar na Ao Cardinalli Presentes, situada na Rua Governador Pedro de Toledo entre a Rua São José e Rua Prudente de Moraes. Lá trabalhei por 15 anos, nesse período fiz o curso de Secretariado no Instituto Piracicabano, foram 3 anos a noite.

Qual era a atividade da senhora em Ao Cardinalli Presentes?

Trabalhava como vendedora, tinha presentes finos, brinquedos. No caixa ficavam os pais do Didi, Seu Augusto e Dona Ida. Também sua irmã Arlete trabalhava na loja.

Na mesma quadra instalou-se uma loja similar, a Casa Portuguesa.

Antes de trabalhar na LOBRAS trabalhei na Casa Portuguesa, Francisco Coa era o proprietário. Quando ocorreu a queda do Edificio Luiz de Queiroz (COMURBA), a casa dele na Rua Prudente de Moraes, foi atingida, matando sua esposa e um filho ou filha. Foi uma tragédia que o abalou muito.

A primeira lavanderia de Piracicaba, ao que consta, era propriedade de um japonês que adotou o nome de Mário. Lavanderia do Mário sempre foi sinonimo de perfeição e rapidez. Como a senhora tornou-se a proprietária dessa lavanderia?

Eu ainda trabalhava em Ao Cardinalli Presentes quando conheci Leandro Filier Neto, natural de Santa Gertrudes, filho de Maria Beloto Filier e Lourenço Filier. Na época ele trabalhava como representante de um laboratório farmacêutico. Com um conhecido de Rio Claro ele teve a oportunidade de adquirir a tradicional Lavanderia Mário, situada a Rua Moraes Barros, ao lado da loja Ao Zequita (Ao Zequita posteriormente mudou-se para a esquina logo abaixo, do lado oposto da rua.). A Lavanderia Mário funcionava do lado direito da Rua Moraes Barros, no sentido centro-bairro, logo a seguir existia Ao Zequita e ao lado a Funerária Libório. Quando o Leandro e seu sócio, o Daniel, adquiriram a lavanderia ela já não pertencia mais ao proprietário que a tinha fundado, o Mário, já era um brasileiro o seu dono. Ainda tinha japoneses que trabalhavam lá, mas como funcionários. A cidade inteira levava suas roupas finas para a Lavanderia Mario lavar. Na época usava-se muito o terno de linho. Sai da loja Ao Cardinalli e fui cuidar do atendimento na Lavanderia Mario. O Daniel deixou a sociedade e o Leandro assumiu a lavanderia. Isso foi por volta de 1980.

Como era o local onde ficava a lavanderia?

Era uma casa antiga que foi adaptada para lavanderia. A frente tinha aspecto comercial, com porta de aço, internamente tinha os cômodos de uma residência. Além dos ferros a vapor para passar roupas tinha calandra para passar peças maiores, como lençóis, por exemplo. As entregas eram feitas com perua, outras através de meninos com bicicletas. A lavanderia atendia também grandes empresas, lavava roupas de enfermarias.

Na Rua Moraes Barros quanto tempo permaneceu a lavanderia?

Acredito que permaneceu mais uns seis anos. Depois mudou para a Rua D.Pedro II quase esquina com a Rua Benjamin Constant, ali funcionou por mais uns oito anos, era uma casa bem antiga de propriedade do Dr. Marcos Toledo Pizza. Um dia vi uma placa de um imóvel que estava para ser alugado, situado na Rua Benjamin Constant, 1445, onde permanecemos por mais de 30 anos.

O trabalho em lavanderia envolve muitas etapas?

Desde o registro da entrada, a lavagem em si, muitas vezes retirar manchas de gorduras, tintas, passar a roupa, embalar, emissão de nota fiscal, entrega. São várias operações realizadas até chegar ao cliente.

Atualmente a Lavanderia Mario está instalada na Rua Benjamin Constant logo acima da Avenida Dona Jane Conceição. Desde quando ela passou a existir neste lugar?

Na década de 70 meu pai adquiriu esta casa. Meus pais faleceram, ficaram minhas irmãs e minha sobrinha. A lavanderia funciona aqui cerca de três a quatro anos. Em 2006 o Leandro faleceu. Quando mudei para cá tive que fazer uma boa reforma, principalmente no quintal, a minha mãe tinha uma horta no quintal.

A clientela sempre acompanhou as mudanças da lavanderia?

Sempre! Tenho clientes que vem do condomínio Colinas de Piracicaba!

Em que época do ano lava-se mais roupas? No calor ou no frio?

Antigamente era no inverno, em período de festas. Cada ferro de passar roupa pesa dois quilos e quinhentas gramas.

A senhora conseguiu conservar o nome da primeira lavanderia de Piracicaba.

E tenho que conservar a qualidade do serviço! Não me preocupo com a quantidade e sim com a qualidade.

Em alguma ocasião a senhora teve que lavar e passar o traje de alguém que estava prestes a falecer?

Já aconteceu algumas vezes da pessoa trazer a roupa para ser lavada com urgência para vestir o futuro falecido. Há uma preocupação de algumas famílias em deixar tudo pronto quando percebem que o falecimento é certo.

Quem é mais exigente, em termos de vestir, homem ou mulher?

Tem homem que é muito exigente. Temos uma série de acessórios para passar roupas, como por exemplo uma sapata que é colocada sob o ferro de passar e não dar brilho na roupa passada. Há uma capa térmica que vai sobre a tábua de passar. A roupa desliza sobre ela. Eu tenho cliente que exige que a camisa seja passada sem vinco. O tempo gasto para passar sem vinco é muito maior do que o normal. E tem que ter bastante habilidade. Tem clientes que exigem que as calças sejam passadas sem vinco.

A senhora já passou vestido de noiva?

Muito! Dá trabalho! Tem que passar a parte de cima, coloca-se no cabide e passa a parte de baixo. Hoje não se usa tanto vestido de noiva com cauda, usam muitas saias. Até batina de padre eu lavo e passo, tem uma aqui. (Ela exibe uma batina branca, impecável). Roupa de militar, marinheiro, geralmente são roupas de festa de gala, casamentos. Já lavei e passei tudo que se possa imaginar, fantasia de carnaval, roupa de mãe-de-santo.

A senhora participou de algum coral?

Eu e o Leandro participamos muito tempo do coral da Cintia Pinotti. Meu marido escreveu três livros, um deles é “Santa Gertrudes a história que eu conto”, gravou um disco em vinil na Discos Continental, B.M.G. em São Paulo. Gravou um CD. Ele tocava gaita, o disco é instrumental. Tocava saxofone. Pintou vários quadros. Ele tinha a veia artística. Ele apresentou-se em diversas rádios, canais de televisão. O nome artístico dele era Larry Fillier. Seus quadros participaram de exposições, ele pintava a óleo, aquarela, lápis. Ele tinha paixão pelas artes, gostava muito de ler. Jogava muito bem dama, participou de campeonatos. Uma das suas paixões era fazer mágicas para as crianças da família. Tinha caixas de mágica. O Leandro respirava arte e cultura, realizou-se mesmo não tendo seus trabalhos reconhecidos pelo grande público.

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