PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 6 de junho de 2015
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 6 de junho de 2015
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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http://blognassif.blogspot.com/
Paulo Rossi nasceu a 18 de
setembro de 1940, em São Paulo, no bairro Vila dos Remédios, é filho de
Constantino Rossi e Tereza Zanin Rossi que tiveram os filhos Valdomiro, Maria
Ester e Izidro. Paulo Rossi escolheu Piracicaba para residir, após percorrer as
regiões mais longínquas e agrestes do nosso país. Esteve alojado em
acampamentos, hotéis, pensões, como funcionário administrativo, ajudou a levar
o progresso através das torres de energia elétrica de alta tensão. Obras
geralmente realizadas em locais agrestes. Isso não impediu que Paulo Rossi
mantivesse seu gosto e sensibilidade pela música clássica. Piracicabano por
adoção, Paulo leva uma vida pacata, costuma caminhar pela cidade, pela Rua do
Porto, admira o Rio Piracicaba, explora a Escola de Agronomia Luiz de Queiroz.
Após morar em São Paulo por muitos anos, percorrer boa parte do Brasil, Paulo
Rossi escolheu Piracicaba como seu porto seguro.
O Curso primário o senhor estudou em qual escola?
O Curso primário o senhor estudou em qual escola?
Estudei o curso primário no
Educandário São José na Vila Leopoldina, o ginásio fiz no Olavo Bilac, na Lapa.
Passei a trabalhar no Banco da América, ficava no Edifício Martinelli, térreo.
Eu trabalhava meio período no banco, ou era das sete da manhã até a uma hora da
tarde ou da uma até as seis horas da tarde.
O Banco da América era um banco
grande?
Na época era. Foi um período em
que havia muitos bancos em São Paulo.
O Edifício Martinelli foi
considerado um dos prédios com maior glamour, como era trabalhar em um lugar tão conhecido?
Na minha época, por volta de
1956, já não era mais aquele prédio tão elitizado como tinha sido antes. O
centro de São Paulo era bem diferente, São Paulo já era uma cidade cosmopolita.
Conheci o Mappin na Praça Ramos, ficava em frente ao Teatro Municipal.
Na época o senhor morava na Lapa,
qual era o meio de transporte que era utilizado?
Eu morava na Vila dos Remédios,
na época não havia um ônibus que fosse diretamente até a minha casa, eu tinha
que pegar um ônibus ou um bonde até a Lapa e na Lapa tomava um ônibus até a
Vila dos Remédios. Tomei muito o bonde “camarão” que era fechado e o bonde
aberto também. Nessa época o centro era bem diferente, o metrô não existia
ainda, muitos prédios foram demolidos para dar lugar às estações do metrô. A
Rua São Bento, a Rua Direita, eram bem comerciais. Era o tempo em todos usavam
terno, gravata. Havia cinemas que exigiam o uso da gravata para poder entrar.
Os cinemas mais freqüentados de São Paulo ficavam no quadrilátero das ruas São
João, Ipiranga, tinha cinemas ótimos: Marrocos, Ipiranga, Coral, Marabá, Metro,
Ouro e muitos outros. Na época eu freqüentava o Ponto Chic, onde dizem ter sido
criado o famoso sanduíche “bauru”. Freqüentei o famoso restaurante “O Gato Que
Ri”, ficava no Largo do Arouche.
O Banco da América atendia algum
perfil especial de clientes?
Não era um banco voltado a contas
populares. Tinha muitas agências situadas nos bairros mais sofisticados de São
Paulo.
E trabalhar no Banco da América
significava ter um bom emprego?
Era bom, o salário era um salário
digno. Tanto que permaneci por 14 anos trabalhando no Banco da América. Se não
me engano entrei para trabalhar no banco em janeiro de 1957 e permaneci até
1971.
Nesse ano eu entrei em acordo com
o banco, naquela época eu era optante, ser optante era não ter o Fundo de
Garantia, depois surgiu o Fundo de Garantia. O optante tinha direito a
estabilidade, não podia ser mandado embora. Para sair tinha que fazer um acordo
com o banco.
O Banco da América S/A era de
origem norte-americana?
Ele era brasileiro! Pertencia a
família do Herbert Levy. Quando eu saí foi em um período em que o Banco Itaú
estava incorporando uma série de bancos. Passou a ser Banco Itaú América, depois
passou a denominar-se apenas de Banco Itaú.
O senhor chegou a usar aquelas
máquinas contábeis, que tinham um “carro” enorme?
Usei. Na época existiam também
umas fitas perfuradas aonde eram registrados os números, assim como cartões
perfurados, mais tarde muito utilizados pelas lotéricas quando o cliente fazia
uma aposta.
O que o senhor decidiu fazer após
sair do banco?
Inicialmente reformei a minha
casa, na ocasião eu morava na Vila dos Remédios. Uma parte do bairro pertence
ao bairro da Lapa e outra parte pertence agora a Osasco. Nessa época minha mãe faleceu
sete meses depois meu pai faleceu também. Decidi viajar, fui trabalhar com
obras, fui trabalhar na SADE SUL AMERICANA que trabalhava na área de
engenharia. Fui mandado para Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
Como era Campo Grande na época?
Campo Grande já era uma cidade
bonita, embora fosse uma cidade pequena ainda.
Qual era o trajeto que o senhor
fazia para chegar de São Paulo à Campo Grande?
Embarcava em São Paulo em um
ônibus da Viação Motta e descia em Campo Grande. Depois fui mandado para o
Pantanal.
Que região do Pantanal?
Fui para Aquidauana, Miranda,
Corumbá. É uma região muito bonita, pena que na época em que fui para lá havia
muita queimada.
Havia muitos resquícios
acentuados da população indígena, natural do local?
Ainda tinha. Até onde fomos fazer
um acampamento em Miranda, funcionava a parada dos trens de carga, onde eram
feitas as manobras, manutenções, era a localidade chamada de Guaicurus O trem
era da Estrada
de Ferro Noroeste do Brasil. A locomotiva era movida a
vapor.
Vocês fizeram um acampamento
usando madeira para construí-lo?
Em Miranda era de madeira. Havia
a parte administrativa, onde funcionava o escritório, onde eram feitos os
pagamentos.
Como era feita a comunicação com
a matriz da empresa em São Paulo?
Era feita via rádio. Não existia
outra forma. Peguei uma enchente muito grande em Miranda, o Rio Miranda subiu
muito seu volume de águas. Encheu o Pantanal todinho, acabou com muitas pontes,
tivemos que mudar para o Porto de Manga, já no Rio Paraguai. Perdemos
documentos, até pessoas faleceram, caiu a ponte.
A empresa em que o senhor
trabalhava fazia que tipo de obra no local?
Estávamos montando toda estrutura
para transmissão de energia, em alta tensão. Ligava Campo Grande a Corumbá.
Essas torres passavam todas pelo Pantanal. Era um solo difícil de trabalhar, as
sapatas em que eram fixadas as torres eram enormes.
Quantos homens trabalhavam em
cada torre?
Devia ter uns vinte ou trinta em
cada torre. O material ia de caminhão até Campo Grande, depois seguia em
caminhão mesmo ou trem de acordo com a conveniência. Nós montávamos as torres e
puxávamos os cabos de transmissão de energia também.
Como era feita a seleção de
pessoal para realizar esses trabalhos?
Em Campo Grande anunciávamos que
estávamos admitindo funcionários e eles eram selecionados e mandados para nós.
Era um trabalho difícil. Muitos não permaneciam mais do que três dias
trabalhando. Tinha casos de malária. Quando alguém adoecia tínhamos que levar
até Miranda ou Corumbá. A região era bem selvagem, com cobras, onças, jacarés,
catetos.
Vocês tinham que entrar nas águas
dos rios para trabalharem, havia piranhas nesses rios?
Tinha. Tivemos um caso muito
lamentável, na época da enchente do Rio Miranda, quando caiu uma ponte, um dos
funcionários ficou preso a ponte de madeira. O seu corpo foi encontrado três
dias depois, havia sofrido ataque de piranhas.
Qual era o lazer do pessoal?
Era difícil. Nos finais de semana
encaminhávamos o pessoal para Miranda ou Corumbá, onde cada um distraia-se da
sua forma.
Os trabalhadores eram dedicados?
Eram. A administração era bem
pesada. Havia engenheiros, a parte toda de montagem, era composta de
profissionais muito qualificados.
Quanto tempo o senhor permaneceu no
Mato Grosso?
Fiquei um ano ali. Acabou a obra,
fomos transferidos. Fui para Irati, nas proximidades de Ponta Grossa. Irati era
uma cidade pequena, a maior parte da população era composta por ucranianos,
poloneses, russos. Havia algum tipo de discordância religiosa entre eles. Era
algo enraizado que eles traziam de seus países de origem. Era uma cidade
gostosa, com um pessoal muito trabalhador. Tinha cinema, havia um centrinho
onde havia o footing ou paquera, juntava a cidade inteira naquele centrinho.
De São Paulo como o senhor foi
para Irati?
Fui com o meu carro, um Fuscão,
cor ocre, lá eu morava em um hotel de propriedade de uma família polonesa.
Trabalhávamos muito, das sete da manhã até as sete ou oito horas da noite. A
folha de pagamento do pessoal era feita por nós. Fazia admissão de pessoal.
O senhor freqüentava muito o
cinema?
Freqüentava! O cinema era a minha
paixão. Desde o tempo em que morava em São Paulo.
Em Irati o senhor permaneceu
quanto tempo?
Ficamos cerca de um ano,
instalamos as torres, dali fui para Alagoinhas, na Bahia, a uns 130 quilômetros
de Salvador. Alagoinhas era uma cidade muito boa, gostosa, não era muito
quente, ficava mais na parte da serrinha que existe lá.
O senhor estranhou a alimentação?
Não estranhei, morava em uma
pequena pensão, a comida era bem caseira, mesmo usando o tradicional óleo de
dendê nunca tive problemas. Em Alagoinhas instalamos torres também, lá eu
fiquei uns seis ou sete meses. Fui encaminhado para Santa Inês, no Maranhão.
Ficava na época a uns 300 quilômetros de São Luís. Era uma cidade pobre. Não
tinha energia elétrica, era tudo na base do motor, com gerador. Tinha o Rio
Pindaré-Mirim, havia uma barca no meio do rio, o lazer era pescar.
Do Maranhão para que local o
senhor foi?
Fui para Moreno, uma cidadezinha
de Pernambuco, próxima a Jaboatão. Essa cidade recebeu esse nome porque tinha
um cotonifício chamado Moreno, a empresa fechou, mas o nome permaneceu.
O senhor sentia diferença de um
estado para outro no Nordeste?
Tinha sim. Pequenos detalhes,
porém diferenciavam um estado do outro. A própria maneira de falar é uma delas.
Musicas. Costumes. Há diferenças. As praias do Nordeste são muito bonitas. Em
Pernambuco eu ia muito à Praia da Boa Viagem.
Cada local tem uma festa típica, um santo de devoção. Recife é muito bonita, tem o frevo como característica própria. Olinda , cidade ao lado, tem construções muito importantes. Tive a oportunidade de conhecer a Paraiba, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe.
Cada local tem uma festa típica, um santo de devoção. Recife é muito bonita, tem o frevo como característica própria. Olinda , cidade ao lado, tem construções muito importantes. Tive a oportunidade de conhecer a Paraiba, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe.
Após esse período no Nordeste
para que local a empresa o enviou?
Trabalhei uma temporada em
Bertioga, no litoral de São Paulo. O acesso na época era difícil, era através
de balsa, de Guarujá para Bertioga. Lá ficamos em uma república. De lá fui para
Sinop.
Porque a cidade chama-se Sinop?
A origem é a Sociedade
Imobiliária Noroeste do Paraná, nome da empresa responsável pela colonização do norte de Mato Grosso por agricultores do norte do Paraná, ali foi muita gente de Maringá. Eram
500 quilômetros de terra de Corumbá até lá, quando chovia era triste. No tempo
da seca era uma poeira enorme. Sinop não tinha uma rua asfaltada, não tinha
nada.
Qual era a diversão dos moradores?
Tinha um cinema. Já havia energia elétrica, tinha uma emissora
de rádio, depois criaram uma emissora de televisão. Essa empresa imobiliária
fazia o seguinte: para quem ia desbravar o campo eles davam um terreno na
cidade para a pessoa construir uma casa. A cidade de Sinop foi uma pequena
Maringá. Na época fizemos uma usina de álcool tendo como matéria prima a
mandioca. A nossa empresa fez a parte elétrica.
O senhor é religioso?
Fui bastante. Sou católico,
freqüentava muito a igreja. Tenho devoção a São José.
O seu gosto por música clássica
como surgiu?
No inicio eu não gostava muito,
depois passei a ouvir a Rádio Cultura, emissora de São Paulo, passei a gostar,
hoje tenho uma boa seleção de músicas clássicas.
O que a música clássica traz ao
senhor?
Sinto um bem estar, gosto
bastante.
O senhor também gosta de música
popular?
Também gosto, mas de música raiz.
O senhor toca algum instrumento?
Não, já tive vontade de tocar
piano, no tempo em que freqüentava o Coral da Vila dos Remédios. O Padre
Guerino, um italiano, tocava o órgão com muita perfeição. Isso na Igreja Nossa
Senhora dos Remédios. Na época era uma capela, hoje é uma igreja muito
grande.
Até que ano o senhor permaneceu
na SADE ENGENHARIA?
Trabalhei lá até 1982. A sede
ficava bem no centro, na Avenida Ipiranga, a fábrica ficava em Jacareí.
Tive que trabalhar mais sete
anos, fui trabalhar no Hospital Sepaco, na Vila Mariana. Lá trabalhei na parte
de atendimento a pacientes, agendar, encaminhar aos médicos. Eu era encarregado
da turma. Foi uma experiência diferente, fiz plantão a noite. Na época não tinha
UTI no hospital era muito difícil transferir o paciente para outro hospital. Em
1991 eu aposentei-me.
Como o senhor escolheu Piracicaba
para morar?
É que a minha irmã mora aqui. Eu
estava morando em Peruíbe, sozinho.