PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 25 de julho de 2015.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 25 de julho de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADA: INÊS APARECIDA DE ANDRADE RIOTO
ENTREVISTADA: INÊS APARECIDA DE ANDRADE RIOTO
Nascida a 10 de novembro de 1952,
em Santo André, o grupo escolar estudou no Colégio São José, o ginásio e o
normal no Colégio Américo Brasiliense, era atleta pela escola, jogava handball
e nadava.
Após concluir o curso normal você tornou-se
professora?
Após concluir o normal, prestei o
vestibular e entrei na faculdade de educação física. A professora do colégio
onde estudei adoeceu, fui convidada a lecionar educação física em substituição
a ela. Quando dei aula eu tinha dezessete a dezoito anos e meus alunos a minha
idade. Formei-me na FEFISA- Faculdade de Educação Física de Santo André.
Naquela época o professor de educação física podia lecionar educação física,
lecionar em clube, exercer o esporte profissional. Hoje é diferente, na
faculdade o aluno direciona para que área vai atuar.
Como atleta, você disputava campeonatos em
que área?
Disputei pela natação vários
campeonatos. Eram campeonatos muito famosos, disputados. Havia uma valorização
muito grande do esporte pela escola e a própria escola era muito valorizada.
Naquela época independente da sua condição financeira ou social, todos queriam ser
aluno da escola publica estadual. O nível dos professores era elevado. Essa
escola em que estudei era a maior escola, tinha por volta de três mil alunos. É
uma escola muito grande e muito tradicional, tanto para alunos como para
professores. Ao formar-me professora queria prestar um concurso, ter uma boa
nota para lecionar nessa escola. Foi o que aconteceu, anos depois prestei
concurso, ingressei e permaneci nessa escola até me aposentar. Aposentei-me em
1983, Permaneci mais três anos como professora
eventual, quando faltava o professor efetivo a professora eventual substitui
para os alunos não ficarem sem aula.
Nesse meio tempo você fez algum curso de
especialização?
Fiz quatro cursos de
pós-graduação: Natação, Ginástica Rítmica, Handebol e Recreação.
Você se interessou por uma área específica?
Quando eu estava para me
aposentar, sabia que não poderia parar. Quando pensamos na aposentadoria
achamos que será uma delícia, só vamos passar o tempo viajando. Como se
tivéssemos dinheiro para isso! Só que como funcionário público não temos. O
professor continua com o salário, e geralmente diminui as horas de planejamento
de aula, acabamos perdendo. Fiquei sabendo que havia um curso de Gerontologia,
que é o estudo do envelhecimento, na Faculdade de Medicina da USP,
Você então fez a sua quinta pós-graduação, em
Gerontologia? Qual foi o tempo de duração do curso?
Fiz a quinta pós-graduação, a
duração do curso é de um ano. A partir desse ano ele passou a ser de
atualização, no ano seguinte criou-se o curso regular, de graduação, em
Gerontologia. A Faculdade de Medicina da USP está formando Gerontólogos, são
quatro anos para estudar o envelhecimento.
Como surgiu sua vocação para estudar o
envelhecimento?
As pessoas programam sua
aposentadoria sob o aspecto financeiro, mas não programam o que irão fazer.
Ninguém é preparado para com o que vai utilizar o seu tempo. “Há a ilusão de
que irá sair viajando, ou ficar no ‘Dolce Far Niente”, ou seja, o doce fazer
nada.
Sim a realidade era diferente.
Percebi que nos aposentamos cedo,
e nos aposentamos bem de saúde, não dava para ficar parado, e ao fazer esse
curso de Gerontologia, tive aula com uma profissional sensacional a Dra. Marisa
Accioly R.C. Domingues, foi a coordenadora que criou o curso de Gerontologia
para a USP.-Leste em São Paulo. Após fazer o curso conheci o Dr. Alexandre
Kalache, um médico que mora no Rio de Janeiro, que tinha feito pós-graduação em
Londres. Foi convidado a ir para a Organização Mundial da Saúde onde foi
diretor por 12 anos. Ele criou um programa chamado “Copacabana, Amiga do
Idoso”. Ele nasceu e cresceu ali, era um lugar de muitos idosos. Ele levou esse
projeto para a Organização Mundial de Saúde, eles acharam muito interessante, o
Canadá achou mais interessante ainda. Começaram a criar um protocolo de como
criar o programa “Cidade Amiga do
Idoso”.
O que
é Cidade Amiga do Idoso?
Quando você prepara uma cidade
para receber o idoso, você recebe pessoas de qualquer idade. É promover
acessibilidade. Toda e qualquer cidade deve ter essas características. As
cidades foram construías de forma aleatória, nem todas eram programadas. Claro
que tem alguns bairros que se tornam mais difíceis pela topografia. O inicio
pode ser no centro da cidade ou nos prédios públicos. Nos hospitais, nas UPAs,
nas Unidades de Saúde, para promover a
facilidade de acesso dessas pessoas a esses lugares.
Você chegou a frequentar hospitais?
Alguns, porque não era o meu
foco, na verdade, a parte médica, interna aos hospitais liga-se a Geriatria.
São os médicos especializados em Geriatria que cuidam da saúde dos idosos.
Qual são as diferenças entre Gerontologia e
Geriatria?
A Geriatria cuida da parte
médica, é constituída por médicos especializados nessa área. A Gerontologia
abrange toda a parte social, o convívio, Como o idoso vai interagir
socialmente.
O fator social influi muito na saúde do
idoso?
Influi, tanto na parte mental
como física. O idoso com melhores condições financeiras com o tempo ele tem
possibilidades de orientações sobre uma alimentação melhor, atividades físicas,
Isso já vem desde a sua infância. Hoje graças a mídia, a internet, a medicina, é
possível à todas pessoas terem acesso a muitas informações.Antigamente só as
pessoas em condições melhores podiam ir a um nutricionista. Quando estavam
envelhecendo iam a um geriatra. Hoje na rede pública não temos geriatras
suficientes. Tanto é que as LPIs, que são as instituições de Longa Permanência
para Idosos, os antigos asilos, clínicas existem médicos que atendem, mas nem
todos são geriatras. É muito difícil, ainda é muito novo. O Brasil envelheceu,
mas não enriqueceu, nem na cultura de atividades para idosos, nem enriqueceu
financeiramente para sustentar esses idosos.
Você diria que o país está despreparado para
a “nova” geração de idosos?
Está! Em 2040, não só no Brasil,
mas no mundo inteiro, teremos mais idosos do que crianças e adolescentes. Nos
países desenvolvidos, chamados Primeiro Mundo, idoso é quem tem 65 anos ou
mais. No Brasil, assim como nos países em desenvolvimento, é considerado idoso
a partir dos 60 anos. Nos países desenvolvidos há toda essa cultura no cuidado
para envelhecer. São preparados não só na questão financeira, mas também na
questão do tempo. O que eu vou fazer? Como vou ocupar o meu tempo após me
aposentar? Essa é a grande mudança. No Brasil começa a surgir uma movimentação
nesse sentido, pois é gritante no mundo inteiro. Com a internet que nos liga a
diversos países á mais fácil receber informações, também é mais fácil fazer
programas e trabalhos com relação ao envelhecimento
A voracidade da mídia sobre esse novo filão que é o idoso, já despertou?
A voracidade da mídia sobre esse novo filão que é o idoso, já despertou?
Em alguns aspectos sim. Todos nós
que trabalhamos na área acabamos cobrando não só do poder público como também
da mídia. Se você observar, as novelas nem sempre nos trazem boas influências,
nem sempre são “boas companheiras”. Mas em alguns momentos elas são
importantes, porque traz a tona o envelhecimento. Se você pegar todas as
questões, inclusive a LGBT, que são gays, lésbicas, bissexuais e travestis, eles
sempre existiram, mas nunca se falou que eles envelheciam. A última novela, a
pedido até de algumas áreas da gerontologia, realizaram essa novela para
mostrar que as pessoas envelhecem. Independente de gênero, independente da sua
escolha de afetividade.
O mercado de consumo, os políticos, já
descobriram que há um número cada vez maior de idosos com poder de decisão e
até mesmo capaz de influenciar na tomada de decisões de outras faixas etárias
mais jovens?
Acredito que já estão
descobrindo! Por que de fato o idoso tem esse poder. Para o mercado de consumo,
aqueles que se prepararam financeiramente, formaram seu patrimônio e se
programaram o idoso é um foco bem interessante: as viagens, a boa alimentação,
as academias, teatro. Por força da lei quem tem a partir de 60 anos paga
metade, na área da cultura, do lazer.
No Brasil o governo está dando a
devida importância ao idoso?
A importância do idoso, no
Brasil, eu acredito que começa no meio acadêmico. Pela possibilidade de fazer intercâmbio,
termos expressões mundiais como o Dr. Alexandre Kalache, um brasileiro, que ao
aposentar na Organização Mundial voltou ao Brasil e ele está ligado a projetos
no mundo inteiro. A UNICAMP, a PUC SÃO PAULO, que já têm a Gerontologia como
mestrado e doutorado. Estava mais avançado no meio acadêmico, chegou-se a um
ponto em que descobrimos que tínhamos muitas pesquisas, muitos números, mas
pouca prática. Ai começa a se despertar. Em São Paulo o Dr. Kalache foi
consultor do Governo do Estado e lançou em São Paulo o programa Estado Amigo do
Idoso que possui vários projetos, inclusive da área que eu pesquiso que é a
Vila Dignidade, área sobre Moradias para Pessoas Idosas. Os antigos asilos e
clinicas. Vila Dignidade é um projeto em que a cidade cede um terreno, o
Governo do Estado constrói uma média de 20 casas, Essas casas vão ser
direcionadas para pessoas de baixa renda, que recebem no máximo dois salários
mínimos. O governo constrói, monta, mobília a casa, ai o Departamento de
Assistência Social da Prefeitura é que cuida das casas.
Até alguns anos o idoso ou ficava
com a família ou ia para o então denominado asilo.
Hoje o nome é mais bonito:
Instituição de Longa Permanência para Idosos.
Sua pesquisa delimitou alguma
área geográfica?
Iniciei pela cidade onde moro:
Santo André. O que se vai notando é que conforme o nível social e a condição
financeira eles são bem diferenciados. Tem o residencial do Einstein, o Santa
Catarina. Pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) a pessoa a partir de
65 anos tem direito a receber um salário mínimo. Quando ela vai para uma
instituição 70% do valor desse salário ela usa para pagar a instituição e 30%,
por lei, fica com o idoso.
Até o momento em quantas
instituições você já fez esse levantamento?
Em instituições filantrópicas já
estive em muitas. Com essa facilidade da internet, entrando em contato com
amigos que fazem esse mesmo serviço em outros países, começamos a perceber que
havia modelos diferentes. Os Estados Unidos está mais avançado nessa questão do
idoso, eles tem residenciais, condomínios, que vão desde as pessoas mais
simples, são condomínios feitos e mantidos pelo governo, geralmente são prédios
de três andares. Apartamentos, só que com toda infraestrutura: lazer, esporte,
um posto médico, com enfermeiras. Cuidadores. Tudo isso mantido pelo governo.
Há até condomínios em que ao abrir a sua porta você está dentro de um campo de
golfe. Nesse nível, só na Florida existe cerca de 60 a 70 condomínios.
No Brasil temos algo parecido?
Temos em São José do Rio Preto,
que tem um condomínio em que eles fizeram uma espécie de clube, um família
adquiriu terras com essa intenção, lotearam, o interessado compra o terreno,
constrói sua casa, eles fizeram ai um clube. A pessoa torna-se sócia daquele
clube, com toda infraestrutura de esporte, lazer e cuidados da saúde, também
dentro do clube. Se não me engano também é aberta para a cidade, as pessoas da
cidade que tenham 60 anos ou mais podem ir, passar o dia, pagam separadamente,
mas tem os esportes com profissionais habilitados e voltados para essas áreas.
Você chegou a ir á essas casas de
repouso?
Só nas filantrópicas que nos
fomos.
Existe uma oscilação muito grande
entre elas com relação ao tratamento ao idoso?
Existe! Isso porque também
existem diferentes níveis de demência. Costumamos dizer que existem diferentes
velhices.
O idoso não é obrigatoriamente
demente.
Não. Existe senilidade e senescência.
Senescência é o envelhecimento normal, onde a gente esquece normalmente uma
chave, vamos fazer duas três coisas ao mesmo tempo, alguma coisa fica sem ser
feita. Isso é o normal. Tem o outro caso que é a senilidade, que são as
demências. O nome demência ficou um paradigma muito forte. As pessoas se incomodam com esse nome. Demente se ligava ao
louco. E não é isso, é simplesmente o fato de você não estar com todo seu
potencial cognitivo. Não fazer todas as
funções que você gostaria de fazer. E depois começou vir tanto a tona sobre
Alzheimer, hoje em dia quando alguém esquece alguma, até por brincadeira
costuma-se dizer que a pessoa tem Alzheimer. Alzheimer é uma das demências.
Ficou um nome genérico, todo mundo que esquece alguma coisa já é tachado como
portador da doença.
Qual é o seu objetivo com suas
pesquisas?
Já que estamos envelhecendo cada
vez mais, precisamos acomodar as pessoas, no local onde ela encontre mais
facilidade e possa estar melhor instalada, tenha um direcionamento melhor.
Tanto alimentação, como atividade física. Uma pessoa que mora sozinha,
dificilmente irá chegar ao longo da vida sozinha. Ela pode ter autonomia e ser
independente, mas a qualquer momento ela poderá tornar-se dependente. Dentro da
Gerontologia costumamos dizer que o que
mais tentamos preservar nas pessoas, quando vamos envelhecendo, como diz o Dr.
Kalache, na minha faixa de idade, 62 anos, somos gerontolescentes, preservamos
autonomia e independência. Autonomia é o poder que eu tenho de conseguir o que
eu quero. Independência é a minha capacidade de locomover-me sem depender de
ninguém. Posso cair e ter uma fratura, ser obrigada a ficar em uma cadeira de
rodas, mas posso ter autonomia de dizer: “Me leve para lá, me leve para cá”.
“Desejo almoçar isso”. “Quero por aquela blusa”. Isso é autonomia. A demência
ocorre quando ao longo do tempo vai se perdendo a independência e a autonomia.
Você pretende publicar algum
trabalho sobre suas pesquisas?
Eu já estava com o meu mestrado
todo planejado quando comecei a ver a questão da moradia, vi que é uma coisa
séria e não tinha estudo no país a respeito, quando outros países estão tão
avançados.
Pode-se dizer que você é uma
pesquisadora pioneira nesse assunto moradia?
Não sei se sou pioneira, o Brasil
é muito grande, não existe ainda uma integração entre todas as universidades
para tomarmos conhecimento de tudo que é feito. O que acontece às vezes é que a
pessoa foca em um determinado local. A minha pesquisa optei em fazer em
moradias diferentes, já que teremos velhices diferentes.