sexta-feira, agosto 21, 2015

NORBERT BRUSCHE



PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 25 de julho de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: NORBERT BRUSCHE

Norbert Brusche nasceu a 27 de junho de 1932 é engenheiro aposentado. Reside no Lar dos Velhinhos de Piracicaba desde o dia 1 de julho de 2009 é casado com Eunice Brusche, são pais de três filhos.
O que o trouxe para o Lar dos Velhinhos de Piracicaba?
Justamente pelo Lar ter uma estrutura para abrigar idosos. À medida que a idade avança sentimos que a saúde já não é mais a mesma. Há o risco de necessitar de um sistema de saúde. Como o que tem no Lar: aqui tem médicos, enfermeiros, cuidadores. Viemos para o chalé que estamos ocupando, mas temos um contrato onde está escrito que no dia em que precisarmos iremos para um pavilhão onde nós teremos todo o suporte que nós precisarmos: de saúde, tratamento e o que for necessário. Hoje como somos autônomos no sentido de não depender de enfermeiros, cuidadores, vivo aqui como se estivesse em um condomínio fechado. Tenho o meu carro e tenho toda a minha liberdade.
O senhor ocupa um cargo na administração do Lar dos Velhinhos?
Desde 2013 entrei na diretoria com a intenção de ajudar em alguma coisa no Lar, nenhum diretor recebe qualquer tipo salário, nem mesmo a presidente. Os cargos de diretoria são ocupados por voluntários. Hoje ocupo o cargo de Segundo Tesoureiro.
Qual é a função do Segundo Tesoureiro?
No nosso caso em específico, dividimos a nossa tarefa em duas partes, a nossa Primeira Tesoureira Maria Aparecida Flabio realiza todos os trabalhos contábeis. Eu me dedico mais as análises financeiras do Lar. Realizei e continuo realizando uma análise do comportamento financeiro do Lar.
É de conhecimento de muitas pessoas que o senhor realiza um exaustivo trabalho de pesquisa de campo, os dados são colocados em computador e através de programas próprios são analisados. Isso é feito pelo senhor há quanto tempo?
A parte numérica, a parte financeira, a parte de tentar descobrir no Lar os pontos que administrativamente poderiam ter algum problema eu comecei a fazer em fevereiro de 2015.
Quando o senhor decidiu participar da administração do Lar?
A administração do Lar, antigamente era feita por uma pessoa que era muito arrojada, uma pessoa fantástica no sentido de fazer gerar a riqueza e a beleza que é o Lar. Quando entrei na administração do Lar, sou engenheiro e tenho o curso de Administração de Empresa e toda a minha vida me preocupei com o problema econômico-financeiro,  principalmente análise financeira de desperdício e perdas,  no sentido de ajudar o meu chefe, aquele que era arrojado e fazia a nossa empresa funcionar. Foi assim que resolvi colocar os meus préstimos a disposição do Lar.
O senhor trouxe toda a sua experiência profissional na iniciativa privada para a administração do Lar?
Exatamente! Trouxe toda a minha experiência em administrar as empresas onde trabalhei, olhando toda parte de custos, inclusive olhando a parte de pessoal, pessoas que precisam de treinamentos, seleção de pessoal, política de salários, incentivos, são coisas que exigem um conhecimento profissional mais profundo eu vim tentar trazer para o Lar.
O que o Lar dos Velhinhos representa para Piracicaba?
Em primeiro lugar é uma entidade sui-generis, no sentido de ter aqui uma Cidade Geriátrica, há quase 500 idosos que são seus moradores. Em segundo lugar, ele tem uma estrutura para atender idosos, que impressiona. Não parece, mas essa entidade tem 215 funcionários.
Não é um número elevado de funcionários?
Essa é uma das análises que me coube fazer. Sempre quis saber se não estamos com gente demais. Por exemplo, na área da saúde teríamos que ter mais pessoas.
O que levou o Lar a estar com dificuldades financeiras?
O Lar nunca teve uma situação financeira folgada. Tanto é que o nosso presidente anterior sempre dizia que mais de uma vez ele passou por crises muito fortes. Na verdade já houve épocas em que a sociedade piracicabana, mais precisamente amigos do nosso antigo presidente, pessoas de maiores posses, que infelizmente não estão mais entre nós, ajudaram muito o Lar. Além disso, naquele tempo o Lar tinha um pouco mais da metade do número de pessoas que tem hoje. Aquelas pessoas que existiam naquela época eram mais jovens do que são hoje, e, portanto o seu estado de saúde era melhor do que está hoje. Os idosos que estão hoje nos pavilhões estão em condições de saúde inferior a que estava há 10 ou 15 anos atrás.
Isso é também em decorrência do aumento da longevidade do ser humano?
Exatamente. Chegamos a ter pessoas com 100 anos de idade.
O que o Lar está fazendo para superar a crise atual?
O Lar está tendo que enfrentar a crise que é do Brasil inteiro. Hoje temos chalés disponíveis no Lar, só que a crise imobiliária chegou ao Lar. Não há alternativa a não ser pedir socorro à sociedade piracicabana. Tem sido noticiado, por toda mídia, a situação do Lar, os piracicabanos estão de repente percebendo que dada a situação, que não é só do Lar, é geral, mas o Lar de forma alguma pode sofrer as conseqüências, os nossos idosos tem que ser tratados com carinho, cuidado, a saúde deles não pode pagar por um problema econômico que o Brasil está passando. A sociedade de repente está se movimentando, e é isso que o Lar está fazendo, pedindo socorro à sociedade. E a sociedade está começando a responder.
O senhor acredita que a sociedade piracicabana vê no Lar dos Velhinhos uma entidade representativa, tanto quanto seus valores maiores, como é o Rio Piracicaba, como é a Escola de Agronomia, o Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba, uma tradição tão forte que motiva a população a ter orgulho do Lar dos Velhinhos?
Isso foi a primeira coisa que me chamou a atenção quando vim para Piracicaba! Ao perguntar à alguém se conhece o Lar dos Velhinhos, percebe-se no piracicabano exatamente esse orgulho citado. Como é uma Cidade Geriátrica e ela é inusitada, eu diria até na América do Sul, há motivo de orgulho para o piracicabano. O piracicabano nunca teve qualquer noticia de qualquer dificuldade que o Lar passasse antes.
A seu ver foi aberto um canal com a mídia onde está sendo passada uma espécie de radiografia do Lar?
É o que está acontecendo no momento. Ninguém gosta de dizer que está passando por dificuldades. O Lar nunca deu a conhecer a sociedade toda e qualquer dificuldade que passasse, para não passar uma imagem que poderia até ser mal interpretada.
Quem supria o Lar nas horas difíceis eram os capitães de indústrias, os capitalistas?
Aquelas pessoas que há 30 anos eram os grandes beneméritos, gostavam de ajudar o Lar, segundo testemunho do próprio Dr. Jairo Ribeiro de Mattos, essas pessoas não estão mais entre nós. O que era uma iniciativa pessoal do Dr. Jairo deixou de existir porque essas pessoas não estão mais entre nós.
Quais são as principais fontes de renda que o Lar dispõe hoje?
A principal fonte de renda obviamente tem que partir do governo. Existe um convênio com a Prefeitura Municipal que cobre 22% das nossas necessidades. Há uma previsão de mudança na lei, eles serão obrigados a fazer uma licitação que se chama Chamamento Público. Existe uma lei que diz que toda pessoa abrigada, que recebe do INSS, e que depende dos serviços do Lar, o Lar tem o direito de reter 70% deste valor para cobrir os custos. Deixando 30% para que a pessoa use a seu bel prazer.
O fato de o Lar cuidar do bem estar dos seus abrigados, da higiene e ter um ambiente sanitariamente saudável passa a imagem de um local provido de muitos recursos?
Como temos todo um sistema de saúde, não digo que temos um ambiente hospitalar, mas sim um ambiente saudável. As próprias pessoas que moram aqui cuidam das suas próprias casas, ninguém quer viver em condições precárias.
Existe alguma forma de gerar recursos de forma permanente?
Existe sim. Eu diria que são dois tipos de recursos: externos e internos. Como é uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos, existe a obrigação moral da sociedade de sustentar esse Lar. Isso é levado a sério em outros países. Na Suécia, Alemanha ou qualquer país de primeiro mundo, a sociedade é representada pelo governo, que cuida de entidades como esta. Sei de espanhóis que recebem aposentadoria da Espanha. E moram no Brasil. Teoricamente a sociedade representada pelo governo federal, estadual e municipal deveria e tem obrigação, até por constituição, de cuidar do Lar. Dada a precariedade de recursos, a sociedade civil tem que complementar isso. Tem o dever moral de fazê-lo.
Da mesma forma que a justiça obriga a fornecer pensão alimentícia ela poderia usar os mesmos instrumentos para assistir o idoso?
Pode! Já se pensou em tomar medidas nesse sentido. O nosso gasto mensal é em torno de R$ 650.000,00 a R$ 700.000,00. O recurso que o Governo do Estado de São Paulo destina R$ 24.000,00 por mês é uma piada e o Governo Federal é pior ainda, destina R$ 4.600,00 por mês para todos os idosos! Ou seja, esse valor para distribuir entre quase 500 idosos! O que é isso? O Governo Municipal dá quase R$ 64.000,00 ao Serviço Social e mais R$ 21.000,00 da área da saúde. A inadimplência do Estado em relação as suas obrigações constitucionais não há justiça que consiga ajustar. Uma vez que o Estado não consegue fazer isso, a sociedade complementa. É a mesma coisa que se vê no ensino, se a escola pública não está dando aquilo que você quer você vai à escola privada. Escola privada, hospital privado, existe em função da ineficiência do Estado em cobrir toda a área de educação e saúde. O que surpreende aqui na cidade de Piracicaba é a ausência da participação dos empresários no sustento do Lar dos Velhinhos. Sei que outras entidades eles ajudam. Estou acostumado ao sistema utilizado na cidade de onde vim, Indaiatuba, com um carnê de R$10,00 por mês a população ajudava as entidades. Se tivéssemos esse sistema também em Piracicaba, estaríamos bem. Existe outra forma, uma maneira interna de resolvermos o problema, transformando em fonte de renda a superfície que pertence ao Lar. Teríamos uma fonte de renda sem depender da caridade da população. Surgiram muitas idéias, e outras estão surgindo para aproveitamento dessas áreas, só que o resultado será daqui a três anos, e o nosso problema tem que ser resolvido com máxima urgência.
Qual é o déficit mensal do Lar hoje?
Ele é flutuante, depende muito da receita. Quando uma moradia vitalícia é comercializada é apurado um valor referente a ela. Tenho todos os números em forma de planilha e em gráficos. Uma pessoa que mora em um pavilhão custa mensalmente para o Lar R$ 2.400,00. 
Por que as empresas não estão ajudando o Lar dos Velhinhos de Piracicaba?
Qualquer empresário tem consciência da sua luta pela sobrevivência da sua empresa. Ele tem que saber muito bem onde ele gasta o seu dinheiro. A empresa dele não é uma entidade beneficente, ele não tem a obrigação de ajudar ninguém. Quando um empresário visualiza que é uma obrigação social da sua empresa ajudar aqui ou lá, se vislumbrar uma possibilidade de que a marca dele apareça através dessa ajuda, essa ajuda entra na conta propaganda, ele sabe que aquele dinheiro que ele gastou reverte como uma propaganda, ele irá fazer a transação.
De que forma o empresário pode associar o nome da sua empresa com o nome do Lar dos Velhinhos?
Dissemos que é publico de que o Lar é motivo de orgulho para a cidade. Já participei de diversas doações, onde o doador e empresário no dia seguinte têm a sua divulgação feita pela mídia. Ele pode agregar a sua propaganda o nome do Lar. Esse empresário irá colocar essa despesa na conta propaganda. Na verdade é um investimento.
Do alto da experiência que o senhor acumulou em suas atividades profissionais, o senhor acredita que neste momento uma empresa associar seu nome ao nome do Lar pode resultar em um ganho de marketing e financeiro?
É na época da crise que as empresas que souberem manusear muito bem a sua propaganda, o seu marketing, saem na frente das outras empresas, sobrepõem sobre a concorrência.  O Lar pode ser uma ancora para uma publicidade dessa natureza.
Poderia ser um selo com os dizeres, por exemplo: “Esta empresa contribui para o bem estar dos abrigados do Lar dos Velhinhos de Piracicaba”?
Esse é um velho sonho, para que as pessoas efetivamente enxerguem no Lar, não apenas um gasto, uma despesa, mas sim uma vantagem, um investimento.
O Lar aceita voluntários? O que é necessário para ser voluntário?
Com certeza aceitamos voluntários. Ele deverá apresentar-se ao Serviço Social, dizer quais são suas aptidões, obviamente como voluntário assinar uma documentação, depois o próprio serviço social o encaminhará dentro das suas aptidões, suas preferências.
As doações podem ser feitas de que forma?
Se a pessoa fizer uma doação única, existe a conta corrente do Lar dos Velhinhos, no banco Itaú, agência 0731, conta corrente 01291-0. Essa doação pode ser de preferência identificada, para que possamos agradecer. Se a pessoa estiver disposta, como gostaríamos que fosse, poderá simplesmente se identificar junto a nossa telefonista, fornecendo seus dados, nome, endereço, para que possamos emitir um boleto. Ele irá receber os boletos no seu endereço.
O senhor veio morar no Lar dos Velhinhos para descansar, o que o motiva a trabalhar de forma tão intensa?
Existem seres humanos que tem dentro de si o idealismo, a vontade de ajudar, a fraternidade, a generosidade. Esta entidade deveria ter também administradores profissionais, mas por falta de recursos não pode contratá-los. Sempre trabalhei como voluntários em tantas outras obras.
O senhor ocupou cargos de alto nível em multinacionais, ao analisar o currículo de um candidato o fato dessa pessoa ser voluntário em alguma entidade é importante?
Muito importante! Dir-se-ia que se pode dividir as pessoas em egocêntricas e altruístas.  No momento em que esta contratando uma pessoa para trabalhar na sua empresa, se você percebe que ela é do perfil egocêntrico, essa pessoa não terá muita facilidade em relacionar-se com os outros. Terá dificuldade em formar um grupo. Vai se tornar em alguém que quer levar vantagem em tudo em detrimento dos interesses da empresa. Já uma pessoa altruísta é ao contrário. Participa dos grupos de trabalho, e comprovadamente as equipes de trabalho produzem muito mais do que um grupo de pessoas trabalhando individualmente.
O senhor acredita que até profissionalmente é uma atitude inteligente ser voluntário?
Sem duvida nenhuma! Até profissionalmente. Comprovadamente as pessoas que dão de si acabam sendo mais felizes. É importante ressaltar que o Lar não é uma entidade comercial, existem entidades que cuidam de idosos e são comerciais, caríssimas. Existem entidades honestas e fraudulentas.O Lar dos Velhinhos de Piracicaba, com seus mais de 108 anos de existência, a meu ver, está acima de qualquer suspeita. As entidades sem fins lucartivos e de interesse público devem ser vistas com especial cuidado, pois sua prestação de serviço não ode estar sujeita ao risco de mercado.
O Lar dos Velhinhos de Piracicaba tem uma característica marcante no tratamento dos seus idosos?
Enquanto outras entidades que cuidam de idosos têm uma clientela formada por idosos auto-suficientes, ou quando muito cadeirantes, mantendo em média não mais do que uns 90 abrigados, o Lar tem uma população de perto de 500 idosos, dos quais cerca de 290 são dependentes em grau I, II e mesmo grau III, dos serviços intensos de saúde, ou seja, médicos, enfermeiras, técnicos de enfermagem, farmacêuticos, cuidadores e outros profissionais da área da saúde. 

MARIA CRISTINA SGARIONI



PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 8 de agosto de 2015
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: MARIA CRISTINA SGARIONI
Maria Cristina Sagarioni nasceu a18 de abril de 1949, em São Paulo, no antigo Hospital Matarazzo, que já não existe mais, situado no Bairro Bela Vista. Filha de Wilson da Silva Santos e Clara Navarro da Silva Santos, que tiveram também o filho Wilson da Silva Santos Filho.
Qual era a profissão do seu pai?
Nos primeiros anos ele foi alfaiate de alta classe. Moramos em Santana, Pinheiros, na Rua São Sebastião em Santo Amaro, mais propriamente no Bairro Alto da Boa Vista, junto ao Clube Banespa, ali na época eram chácaras. Quando eu tinha 10 anos, meu avô, pai do meu pai, veio conhecer Piracicaba, e meu pai veio visitá-lo. Meu pai encantou-se com Piracicaba. Estudei até os 10 anos em São Paulo, no Educandário Petrópolis. Eu sofria muito bullying, era gordinha,com 10 anos eu pesava 50 quilos. Ganhei troféu de robustez infantil. Hoje não tem graça nenhuma, mas naquele tempo era engraçadinho.
Em que bairro vocês vieram morar em Piracicaba?
Viemos morar no Jardim Elite, depois adquiriram uma casinha na Rua Fernando Febeliano da Costa. Nessa época meu pai já era representante comercial de material escolar. Depois adquiriram uma casa maior situada a Rua João Sampaio onde permaneceram enquanto foram vivos.
Em Piracicaba, aos 10 anos você foi estudar em qual escola?
Fui estudar no Grupo Escolar Barão do Rio Branco. Quando cheguei ao ginásio passei pela fase de “aborrecente”, própria da adolescência, uma das diversões era faltar às aulas e ir aos cinemas, Politeama, Plaza (situado junto ao Edifício Luiz de Queiroz, mais conhecido como Comurba, que ruiu). No Sud Mennucci repeti três anos. Lembro-me do grande mestre professor Benedito de Andrade. O professor Rossini Rolim Dutra queria que eu fizesse curso de canto. O diretor era o Professor Adolfo Basile. Fui jubilada do Sud Mennucci. Fui estudar no Colégio Assunção. Lá fui uma aluna exemplar. Na época estudava piano, fiz curso de música clássica. O uniforme era saia azul marinho, pregueada, gravatinha azul. Formei-me no ginásio no Colégio Assunção. Estudei nessa época com a Claudia “Cacau” Ranzani, seu pai é o Dr. Guido Ranzani ela ia a minha casa para estudarmos juntas. Lembro-me que quando o João Hermann Netto e a Cacau namoravam, o João me chamava de “Aparecida”, nunca me chamou pelo nome correto. Ai eu fui fazer o Curso Normal na Escola Estadual Monsenhor Jerônymo Gallo. Fui muito boa aluna, formei-me professora, mas nunca lecionei. Eu tinha uns 18 a 19 anos. Conheci meu marido quando tinha de 19 a 20 anos. Nunca me esqueço de que uma freira nos ensinou, quando quiséssemos espirrar em público, em uma igreja, em uma reunião, para evitarmos isso, tínhamos que unir as duas pontas dos dedos: indicador e polegar e apertarmos bem as extremidades que passava a vontade. Houve uma época em que comecei a fazer isso e dava certo!
Você o conheceu em Piracicaba?
Eu conheci meu marido, Luiz Carlos Sgarioni, em Piracicaba, embora ele não seja daqui, ele é gaucho e vinha visitar uma irmã que morava próximo a casa dos meus pais.
Em que local você conheceu o seu marido?
Foi no Clube Cristóvão Colombo, situado a Rua Governador Pedro de Toledo, esquina com a Rua Prudente de Moraes, o famoso “Palácio de Cristal”. Desfilei em muitos bailes de carnaval no Clube Coronel Barbosa, na época freqüentado pela elite piracicabana, entrei em concursos, lembro-me de uma fantasia de grega que ficou maravilhosa. Minha mãe era muito caprichosa comigo, vestia-me muito bem. Vestidos longos, você precisava ver os bailes que freqüentei! Na época eu morava na Rua Treze de Maio, entre a Rua Governador Pedro de Toledo e a Rua Benjamin Constant. Cada serenata que eu ganhava! A janela era baixinha, minha mãe fazia lanches e oferecia aos seresteiros. Eu tinha um fã que se eu fechasse o olho era com estivesse escutando Altemar Dutra. Uma vez participei de um concurso no Cristóvão Colombo, estava noiva do meu marido. A minha juventude passei no Clube de Campo de Piracicaba. Eu sempre me dei bem com pessoas riquíssimas e paupérrimas, nunca fiz diferença de tratamento. Sempre achei que as pessoas têm valor pelo que elas são. Quando o meu marido me viu, aproximou-se, começamos a conversar, e iniciou-se um namoro, embora minha mãe não simpatizasse com a idéia. Namoramos de dois anos e maio a três anos, na época ele era corretor de seguros, estava muito bem estabilizado financeiramente. Depois ele passou a ser representante comercial e permaneceu nessa função. Casamo-nos na Catedral de Santo Antonio, o celebrante foi o Padre Otto Dana, foi a 27 de maio de 1972. Um ano depois tive a minha filha Mariana, depois nasceu meu filho Ricardo. Hoje tenho dois netos.
Após se casar vocês foram morar em que local?
Fomos morar em São Paulo, no Bairro Higienópolis, na Rua Alagoas, próximo a Praça Buenos Aires, onde permanecemos por onze anos, depois fomos para a Rua Albuquerque Lins, também em Higienópolis. Freqüentava a Padaria Barcelona, meus filhos estudaram sempre no Colégio Rio Branco, um dos melhores colégios de São Paulo, tanto que ingressaram na faculdade sem cursinho.
Em São Paulo, com dois filhos, você tinha alguma atividade profissional?
Meu marido achou por bem que eu deveria cuidar dos nossos filhos.
Você é religiosa?
Sou católica. Tenho devoção a Nossa Senhora Rosa Mística e Santo Expedito. Tenho uma devoção muito forte por Jesus Cristo e Nossa Senhora.
Em São Paulo você dirigia?
Meu primeiro carro foi um Vçoyage amarelo, depois tive um Escort azul marinho. Meus filhos faziam muitos cursos paralelos: inglês, natação. Tinha show do Menudo, eu ia leva-los, show do Paulo Ricardo eu levava-os. Eu assistia junto com eles. Eu era uma mãe participativa.
Você e seu marido acharam por bem terminar o casamento?
Nossos filhos já estavam crescidos, decidimos que a separação seria uma decisão boa para nós dois. Temos uma excelente relação, de muito respeito, somos amigos. Ficamos casados até 1990. Ele continua morando em São Paulo e eu moro em Piracicaba. Eu tinha quarenta anos quando nos separamos. Eu nunca tinha trabalhado em nada, embora fosse professora, inclusive de piano, só que não tinha experiência. Tratei de imediatamente arrumar um emprego, não queria ficar dependendo de ninguém. 
Você foi trabalhar no que?
Após uma rápida passagem como atendente em uma gráfica, fui trabalhar em uma clinica de ortopedia na Avenida Angélica. Depois um dos médicos montou outra clinica na Rua Ouvidor Peleja, na Vila Mariana. Fiz curso de auxiliar de fisioterapia. Pelo fato de ter uma boa comunicação, trouxe uma clientela enorme, quando sai foi uma choradeira. Eu acompanhava os pacientes, ficava ao lado deles quando passavam pelo processo de infiltração. Os médicos, meus chefes, eram mais novos, eles tinham uma relação como se eu fosse a uma tia deles. Eu ia no fundo, fazia um chá, chamava todo mundo.
Em que ano você voltou à Piracicaba?
Foi em 2003. Minha mãe estava muito mal. Por cinco anos tratei de ambos. Em 2008 ambos faleceram. Meu pai falou muito: “--Vai conhecer o Lar! Lá é tão bom, tão lindo!”. Em março de 2010 mudei para o Lar dos Velhinhos. Aqui sempre fui muito bem tratada, desde Dr. Jairo Mattos até a Dona Cyonea, todos os funcionários.
Tenho umas amigas que moram ao lado, elas iam confessar na Igreja dos Frades. Eu não me confessava há 50 anos, minha mãe tinha tido uma indisposição com um padre. Logo após eu ter nascido, ela foi confessar, e o padre perguntou: “-Quantos filhos a senhora tem?”.  Ela disse que tinha uma menina só e que pretendia parar por ai. O padre disse-lhe rispidamente: “- A senhora não leu a bíblia? Crescei-vos e multiplicai-vos? A senhora tem que ter mais filhos!” Minha mãe era brava, respondeu-lhe: “- O senhor vai poder sustentá-los? Criá-los?”. Ela saiu brava. Quando eu estava mais mocinha ela me disse: “-Você tem que confessar direto com Deus!” Com isso nunca mais fui confessar Casei, tive filhos, tive toda essa parafernália que aconteceu, separei-me, minha vida virou no avesso. Você estar em baixo e subir é fácil. Você estar lá em cima e descer exige muita estrutura. Eu sei o que é bom, o que custa caro, tanto na alimentação, como no vestir-se, apresentar-me. Tive que mudar tudo radicalmente. Eu freqüentava as boates mais requintadas de São Paulo como Hipopotamus, Gallery. Eu não imaginava que iria ser uma pessoa assalariada. O meu prazer era ir a shopping comprar alguma coisa, um sapato, uma bijuteria. Era uma vida fútil.
Como foi o episódio da sua ida à igreja e a conversa com o frade?
Três amigas que moram aqui no Lar me convidaram para ir até a Igreja dos Frades, fomos, as três se confessaram, eu fiquei por ultimo. Era o Frei Messias, um avozinho. Isso foi um divisor de águas para mim. Ele disse-me: “- Olhe filha, se você achar que é uma conversa, tudo bem, se achar que é uma confissão, tome como quiser. Comecei a chorar. Achei aquilo tão sublime. Contei-lhe a história da mamãe, disse-lhe que fazia 50 anos que não me confessava, não tinha nada muito grave, mas que eu gostaria que ele soubesse um apanhado da minha vida. Eu queria me sentir aliviada. No final ele disse: “-Vou tomar como confissão!” 
Você é uma cozinheira de mão cheia?
A coisa da qual eu mais gosto é cozinhar! Aprendi com a mamãe, ela me preparou para o casamento e para ser do lar. Ela me colocou em tudo que você possa imaginar: aulas de pintura, costura. Quando se tratava de fazer algo gostoso para comer eu queria aprender, toda vida fiz pão em casa, eu tinha cozinheira, tinha tudo, mas quem dava o toque final era eu.
Qual é o seu prato imbatível?
Eu tenho tantos! As tortas são alguns dos pratos preferidos que eu faço. Recebo muitas encomendas dos próprios moradores do Lar dos Velhinhos. Pão caseiro é muito procurado. As quartas e quintas ninguém me vê, eu fico na cozinha. Amo fazer isso! Ponho uma música, minha touca e vou ao trabalho. Não aceito muitos pedidos porque sou eu e Deus. Se você ver a minha cozinha, não é para fazer o que eu faço. Faço milagre. Só cabe eu lá, não cabe mais ninguém comigo. Faço cuscuz paulista, aquele de cortar, que é úmido, faço de frango, sardinha, legumes, palmito.
Se alguém quiser experimentar alguma das delicias que você prepara como pode encomendar?
Basta ligar e encomendar pelo telefone 9 9758 9435. Sempre pedir com antecedência, basta ligar na segunda e eu entrego na quinta ou sexta-feira. A pessoa vem buscar aqui, eu não tenho como entregar. Meus clientes são os moradores do Lar, funcionários, o próprio médico do Lar. Não divulgo essa minha atividade. Minhas coisas são simples, muito caseiras e muito carinhosas. Meu pão não é de máquina, é de sovar e de amassar, tenho um balcão de granito, quando estou batendo a massa dá a impressão de que estou batendo em alguém! Adoro o que faço, cantando, escutando musica. Isso me tirou de um comecinho de depressão. Depressão é falta de ocupação! Sei por mim. Vim para o Lar com a condição de não fazer mais nada, Achei que chegando aqui iria só comer, dormir e passear. Isso é horrível! Acho que se você tem a possibilidade de fazer alguma coisa, faça! A saúde mental depende da ocupação.

HILÁRIO LUCCAS



PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 1 de agosto de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/




ENTREVISTADO: HILÁRIO LUCCAS

Hilário Luccas fará 98 anos no próximo dia 30, nasceu a 30 de agosto de 1917, no bairro rural dos Marins, Município de Piracicaba. É um dos 14 filhos de Thomaz Luccas e Maria Corpas, nascida na Espanha, ela veio para o Brasil em decorrência da Guerra Espanhola de 1924. Hilário estudou até a quarta série primária, junto com seu irmão Antonio iam a pé da sua casa até o grupo escolar, uma distância de dois quilômetros. É pai de Cassia Maria Luccas Cruz. Um fato curioso é que por três vezes os pais de Hilário tiveram filhos gêmeos, sendo que Hilário e Antonio eram gêmeos idênticos. Hilário tem três netos e dois bisnetos. Ele faz parte de um recanto chamado Banco da Amizade, é quem limpa, cuida, onde se reúnem os amigos para uma confraternização regular. Sábado pela manhã, ás seis horas da manhã ele está lavando tudo. Fazem churrasco, fritam peixes, ele participa de tudo. Hilário sempre andou muito de bicicleta, uma da marca Philips, que conserva até hoje. O Então presidente do XV de Novembro de Piracicaba, Beltrame, esteve na casa de Hilário na data do seu aniversário, deu-lhe de presente uma camisa o E.C. XV de Novembro com o nome Hilário Luccas.




Cassia , a senhora e seu marido foram fazer uma visita ao cemitério e ocorreu um fato diferente?
Ao chegarmos, tinha um senhor limpando um túmulo em frente ao túmulo da nossa família. Ele então narrou um fato que havia ocorrido com ele e que o deixou muito chocado. Segundo narrou: “Eu estava fazendo uma visitinha ao túmulo desse senhor, acho uma gracinha ele com seu chapeuzinho, fazendo minha oração por ele, percebi que chegou ao meu lado uma pessoa, quando olhei era a mesma pessoa que estava sepultada, levei um grande susto, achei que era o próprio falecido”. Era Hilário, seu irmão gêmeo! Isso ocorreu há uns dois ou três anos.
O senhor tinha parente residindo no bairro dos Marins?
Nós morávamos em uma casa pequena, meu tio Nicolau, era casado com a irmã do meu pai, chamava-se Dona Emília. Eles tinham uma casa maior, na frente, ali foram realizados muitos casamentos da família. Depois viemos morar na cidade de Piracicaba
no Bairro Alto, na Rua São João, perto do campo do União São João. Dali fomos morar em frente ao Campo do Palmeirinha.
Com quantos anos o senhor começou a trabalhar?
A partir de uns dez anos eu sempre trabalhei. Vendia banana, vendia tudo que aparecia pela frente. O dinheiro que resultava das vendas eu entregava para a minha mãe. Naquele tempo tinha muitas frutas para comprar e vender pelas ruas. Tinha muitas feiras pelas ruas, hoje não existe mais, atualmente há os feirões. De lá da “Capelinha”, situada lá em cima, no Bairro Alto, viemos morar na Rua Vergueiro. Ali morava Benedito Teixeira, advogado, excelente pessoa. Aos treze anos fui trabalhar com o Miro Pinassi, ele era sapateiro, tinha um estabelecimento em frente a Fábrica de Tecido Boyes, Naquela época sapateiro não trabalhava no dia de São Crispim. Eu estava parado, na porta da sapataria, o gerente da Fábrica Boyes, Seu Ernesto, convidou-me para trabalhar na Boyes. Isso foi em 1932, tempo em que Getulio Vargas estava no poder. Naquele tempo ao redor da Ponte do Mirante era só mato. Chico Campeiro era o contramestre da seção. José Tosello era enfermeiro da fábrica. Fui trabalhar como servente de pedreiro, dentro da Fábrica Boyes. Trabalhei como servente de pedreiro na construção das casas da Vila Boyes. Trabalhava com carroça e burro. Eu era mocinho, devia ter uns vinte anos. Quando concluímos as casas voltamos para a fábrica onde construímos o terceiro prédio. Trabalhávamos com carroça e burro. Aonde eu ia o burro “Pinhão” ia atrás de mim. Eu tratava bem dele.
Há um desvio de água do Rio Piracicaba junto a Fábrica Boyes, já havia naquela época?
Aquele córrego eu ajudei a fazer o alicerce, da fábrica até a comporta. Fazia a caixa de madeira dos dois lados e depois enchia de cimento. Sempre fui trabalhador, não parava de trabalhar. Depois fui trabalhar na fábrica, na sala de pano.

Quem era o chefe geral da fábrica?
Era o Boyes! Inclusive quando estourou uma guerra seu filho queria ir servir, era piloto de avião de guerra. No segundo dia em que ele estava na frente de combate foi morto.
Quantos funcionários trabalhavam na Boyes?
Quando entrei na fábrica tinha 40 operários. A medida que foi ampliando o prédio também aumentou o número de funcionários, chegando a ter mais de 1.000. Esse canal que desviava água movia uma usina de energia que distribuía para a fábrica inteira.
Quanto tempo o senhor trabalhou na Boyes?
Fiquei 43 anos. A Boyes recebia o algodão com caroço, em frente à fábrica tinha um depósito, ali ficavam os fardos de algodão bruto. A máquina tirava o caroço, que era vendido, com o algodão, fazia o fio.
O senhor morava em que local nessa época?
Contando  local onde eu resido atualmente morei em cinco lugares diferentes. Minha esposa já é falecida, seu nome é Leonilda Lazaretto, eu a conhecia desde criança, é filha de Romeu Lazaretto. Casamo-nos na Igreja Imaculada Conceição, o celebrante foi o Monsenhor Gallo.
                                                        LEONILDA E HILÁRIO
O senhor gostava de jogar futebol?
Joguei no Infantil XV de Novembro, no Juvenil XV de Novembro e depois vim jogar no Sucrerie. Eu era bom de futebol, o Baltazar, “Cabecinha de Ouro”, dizia que era um absurdo eu jogar bola como jogava e muitos ganhando um dinheirão enquanto eu precisava pagar para jogar. (Despesas normais com uniforme). Eu jogava como meia-direita.
Passava boi por aqui?
Naquele tempo passava muita boiada, o cavaleiro ia com o berrante tocando, e a boiada ia toda atrás. Ia para o matadouro.
O Mirante do Rio Piracicaba era diferente?
Quem remodelou o Mirante foi o prefeito Dr. Francisco Salgot Castillon. Antigamente existia um varão de ferro que ia do inicio do Mirante até o Engenho Central, na Rua Maria Maniero.
O senhor atravessou o Rio Piracicaba?
Eu tinha dois botes e um motor, aos sábados meu irmão Thomaz e eu pegávamos o bote que ficava no Asylo ( Lar dos Velhinhos), ia até Caiuby depois as 4 e meia, cinco horas da tarde descíamos pescando. Usávamos um motor 7e 1/2, Johnson. Naquele tempo trazíamos o motor nas costas, do Lar dos Velhinhos até as imediações do Mirante, onde se situava nossa casa. Hoje só jogo um truque (ou truco) com os amigos, tenho sete medalhas de campeão de truco. 

O senhor lembra-se do bonde?
Lembro-me sim! O meu cunhado Luiz Angelocci era chefe de bonde. No sentido centro-bairro, o bonde quando chegava ao final da ponte sobre o Rio Piracicaba virava a direita, ao lado direito havia uma farmácia, a esquina era do Chico D`Abronzo, ele tinha uma venda, mais abaixo era do filho dele, o Xandrico e ao lado esquerdo um sobrado.
O senhor chegou a conhecer a fábrica de aguardente Tatuzinho?
Bem em frente a fabrica da Tatuzinho, o Humberto D`Abronzo fez um túnel atravessando a Avenida Rui Barbosa, o vasilhame vazio passava pelo túnel, enchia de aguardente e depois voltava para a expedição, onde estacionavam os caminhões já aguardando as garrafas cheias.
O senhor conheceu a Dra. Ana D` Àbronzo?
Gente queridíssima! Eu ia Restaurante do Papini, comer frango com polenta. Jogava boche. Nós jogávamos disputando frango mandava o Papini fazer e comíamos. O dono dos frangos junto conosco. Acabávamos de comer, dizíamos: “-Você sabe de uma coisa? Esse frango tem um gosto de fulano, que era o dono do frango!”. Os frangos eram todos da casa dele. A turma do boche tinha trazido os frangos de lá. Cozinharam o frango, convidaram ele para vir comer e ele veio.
O senhor conheceu Dona Gigeta, do Restaurante Papini?
Conheci, fazia pastéis que eram uma maravilha! Conheci muito o “Joane Vassoureiro”, Giovanni Ferrazzo que mais tarde mudou-se para a Paulista onde passou a fabricar as vasouras “Cantagalo”. Na Vila ele fabricava as vassouras de marca “Elefante”. Onde é o hospital dos Plantadores de Cana, antigamente o terreno era encharcado. O pessoal do Engenho Central ia plantar cana de açúcar, Ali tinha muitos pintassilgos, paca capim.
Havia uma rivalidade entre o os jovens moradores na Vila Rezende e os moradores de outros bairros além da ponte?
Havia e era levada a sério! O pessoal da Vila Rezende não podia ir para a “cidade” e o pessoal da “cidade” não podia vir até a Vila Rezende. Eu tinha uma grande vantagem, pelo fato de ser bom jogador de futebol peguei muita amizade com essa turma da cidade. Havia um cartório logo no inicio da Avenida Rui Barbosa, eles me disseram que iriam me apresentar ao pessoal da Sucrerie para jogar pelo time deles. Foi assim que passei a jogar defendendo as cores do Sucrerie. Onde hoje há um posto de gasolina, na Rua Maria Maniero, esquina com a Avenida Barão de Serra Negra, havia um moinho de fubá. Existiam duas linhas de trem, a da Estrada de Ferro Sorocabana e a do Engenho Central, que transportava cana de açúcar. Quando o trem cruzava a Avenida Barão de Serra Negra, na cabeceira da ponte tinha uma cancela com uma tabuleta que impedia o transito de veículos dando passagem ao trem. As locomotivas do Engenho Central eram fabricadas em Piracicaba pelo gênio da mecânica João Bottene.
O senhor conheceu o Dr. Samuel Neves?
Conheci muito. Uma ocasião fomos mordidos por cachorro louco, ele que nos tratou. Naquele tempo havia muitos cães pelas ruas, era o tempo em que a Prefeitura Municipal pegava cachorro com rede pelas vias publicas.
Além de esporte o que mais o senhor gostava de fazer como diversão?
Gostava muito de dançar, onde tivesse baile eu ia. Na Vila Rezende tinha bailes no Clube Atlético, no Grêmio da Cooperativa.
                        ENCHENTE RUA DO PORTO DIA 24 DE FEVEREIRO DE 1970
Quando falecia alguém onde era o sepultamento?
Era no Cemitério da Saudade. O caixão com o corpo era levado a pé, da Vila Rezende até o cemitério. Subia-se a Rua Moraes Barros, o comércio fechava as suas portas em sinal de respeito quando passava o féretro. Os acompanhantes iam de terno, com o calor, o peso. Não era fácil. Andava um quarteirão e ia trocando quem carregava a urna com o falecido. Um enterro levava no mínimo três horas de percurso.
A Avenida Rui Barbosa era bem diferente?
Quando vim morar na Vila Rezende a Avenida Rui Barbosa era chão de terra.
O senhor conheceu Mário Areas Witier, o Mário da Baronesa?
Conheci! Brincava com o Mário, com sua mãe, tinha uns negros que trabalhavam lá também. Conheci a Baronesa de Rezende, era uma boa mulher. Naquele tempo meu pai conseguiu terreno para plantar batatinha em uma parte do terreno pertencente a Baronesa. A casa da Baronesa era em frente ao Engenho Central. Nós íamos até apanhar frutas lá, lembro-me que tinha uns pés de jaca. Aqui era tudo chão de terra, do Engenho Central adiante era plantação de algodão. Em frente ao jardim da Vila Rezende havia um cinema, pertencia ao Atlético Clube.

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