sexta-feira, setembro 04, 2015

CLAUDINEI POLLESEL

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 05 de setembro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO:
CLAUDINEI POLLESEL


Qual é o seu nome completo?
Cladinei Pollesel isso porque requeri a cidadania italiana, tive que adaptar meu sobrenome que era com “l” e “z” para dois “l” e “s” ara ficar igual ao original do meu bisavô. Naquele tempo ainda se exigia essa adaptação.

Você nasceu em que localidade?
Nasci em Piracicaba, no bairro do Rolador. Exatamente onde eu nasci hoje se chama Jardim Itamaracá. Ao lado do bairro Sol Nascente e do bairro Alvorada. Ali eram sítios, chácaras. É um mistério até hoje porque o bairro tinha esse nome: Rolador. Eu tenho a tese de que tem a ver com “rolo”, em Piracicaba quando se faz uma permuta diz-se que foi feito um “rolo”. É um bairro antigo, existem registros com esse nome Rolador, antiqüíssimos. O escritor, jornalista e historiador Cecílio Elias Netto já localizou até uma capela naquele bairro, a Capela do Rolador. Foi naquele bairro que nasci a 30 de setembro de 1968. Hoje ali virou uma série de bairros. O meu nome é Claudinei por causa do goleiro do Esporte Clube XV de Novembro, meu pai é fanático até hoje. O goleiro do XV em 1968 era o Claudinei. E eu nunca gostei muito de futebol!
Qual é o nome dos seus pais?
José Alberto Polezel e Rosa Caetano Polezel. Existe uma grande família em Piracicaba, inclusive mora aqui perto o luthier piracicabano Nelson Polizel, é outra família. Meus filhos já foram registrados da forma nova. Meus pais antes de eu nascer trabalhavam como oleiros, na época em que nasci meu pai já era agricultor, era meeiro, trabalhava com o cultivo de arroz.
Tendo a Praça da Catedral como referência, até lá dá qual distância?
Uns 10 quilômetros. Nós fazíamos esse caminho, do sítio onde morávamos até o Piracicamirim. Íamos a pé, a cavalo ou de carroça. Era comum fazer esse caminho do sítio onde morávamos até o Piracicamirim, a nossa referência de “cidade” não era bem o centro, era o “Pisca”, corruptela de Piracicamirim. É ali que vínhamos na venda, adquirir bens, a nossa igreja era a Capela Nossa Senhora Aparecida, que pertencia a paróquia do Bom Jesus. Naquela época monsenhor Rubens já estava lá, era muito conhecido dos meus pais. Meus pais se casaram na igreja do Bom Jesus, e nós, cinco irmãos: Maria Cecília, José Carlos, Ana Aparecida, João Luiz e eu Claudinei, fomos batizados na igreja do Bom Jesus, todos pelo monsenhor Martinho Salgot. Foi ele quem fez o casamento dos meus pais.  



Com que idade você começou a estudar?
Meu primeiro ano foi em 1976, na Escola do Taquaral. De onde morávamos até o Taquaral, eram praticamente três quilômetros, que percorríamos a pé. Minha mãe era a merendeira da Escola do Taquaral. Meus irmãos e eu, todos estudamos na Escola Mista da Fazenda Taquaral. Fiz todo o curso primário na Fazenda Taquaral. Minha primeira professora foi Dona Gilda Lavorenti que deu aulas no primeiro e segundo anos, e no terceiro e no quarto ano minha professora foi Gislene Maria Macluf Medinilha, casada com José Medinilha. Atualmente com quase 50 anos ainda lembro-me do primeiro dia de aula, não sabia fazer quase nada, não sabia escrever, lembro-me das mãos de Dona Gilda, ela pegando na minha mão para fazer as primeiras escritas, essa imagem ficou gravada, aquela mão dela, com as suas unhas pintadas em vermelho, bem feitas. Segurando na minha mão para que eu aprendesse a escrever! A cartilha era Caminho Suave. Ia para escola pela manhã, a pé. 
De quem era a propriedade?
A Fazenda Taquaral estava sob o controle da Usina Monte Alegre. Naquela época existia a igreja, o patrono era São José, a escola, a sede, a colônia, o campo de futebol, o gabinete dentário.
Para localizarmos com mais precisão ficava exatamente em que lugar?
Seguindo pela Avenida Rio das Pedras, sentido Centro-Unimep, lembrando que a Unimep está a esquerda da Avenida Rio das Pedras, e a Fazenda Taquaral estava a direita. Ainda existe remanescente o campo de futebol da Fazenda Taquaral, que entrou em litígio porque se não me engano a Associação Piracicabana de Futebol ou entidade semelhante tinha a posse desse campo. Na época o Padre Joaquim que era pároco do Piracicamirim tentou conter a demolição, mas a capela era particular, não era da Diocese e não era tombada. Assim como também a escola foi demolida, era um prédio enorme, com dois andares, biblioteca, também foi destruída porque não estava doada ao Estado. Era uma coisa interessante que a escola oferecia no inicio do ano um quite que tinha os materiais da escola, além de um tênis, uma blusa e um jaleco, um guarda pó. A escola era da Usina Monte Alegre, nós não éramos funcionários da Usina, mas tínhamos acesso a essas regalias. Após terminar o quarto ano nessa escola estudei por dois anos na escola Pedro Moraes Cavalcante, que fica no bairro Dois Córregos. Ai já era levado pelo ônibus. Lucio Ferraz, que depois se tornou prefeito de Saltinho, foi diretor dessa escola. Depois meu pai mudou-se dali, foi morar no Campestre, exatamente atrás da Usina Santa Helena, na Fazenda Canadá. De propriedade da família Filipini: Milos, Nilton, Benito. Nesse período estudei em Rio das Pedras, fiz a sétima e oitava série, na Escola Estadual Professor Manoel da Costa Neves "Macone", ia de ônibus. O prefeito de Rio das Pedras era Álvaro Bianchim. Após concluir a oitava série fui para Saltinho, para concluir o colegial no Colégio Manoel Dias de Almeida. Sou formado em História pela UNIMEP.
Nesse período você trabalhava?
Trabalhei com o meu pai, nessa época ele cuidava de uma cerâmica em Saltinho. Nesse período do colegial eu já estava no Seminário Xaveriano da Paulicéia, onde hoje é a Casa Paroquial, na Rua Antonio Bachi, 1065 Ali foi a casa do Padre João Echevarria, ele foi o construtor. Lá era um seminário que não tinha um curso colegial interno. As pessoas estudavam fora, uns estudavam no Dom Bosco, outros estudavam na escola do bairro. Fiz o seminário morando naquela casa, deixei a casa dos meus pais e vim morar no bairro Paulicéia, no Seminário Xaveriano, nessa época eu tinha uns 15 a 16 anos.
Na época era uma região diferente do que é hoje?
Era um bairro de periferia.
Qual era o seu lazer?
O meu lazer sempre esteve ligado a leitura, a igreja, amizades. Sempre gostei de freqüentar a vida social da cidade, os museus, os eventos culturais. Após concluir os estudos em Saltinho fui estudar Filosofia na PUC de Campinas.
O que o atraiu para o Seminário Xaveriano?
Em 1982 mudei para o bairro Campestre, lá há uma capela da Paulicéia, cuidada pelos Xaverianos. Conheci os padres Giuseppe Chiarelli, (Pe Zezinho) e Padre José Ibanez Serna que eram os padres tanto do bairro Chicó, cujo padroeiro é São José, como no bairro Campestre. O Chicó não é mais capela da Paróquia da Paulicéia, é capela da nova Paróquia que foi criada na Água Branca, que se chama Capela São João Batista Precursor. Eram as duas capelas em que eu ia com a minha família a missa e as duas eram administradas pelos Xaveriamos. Eu me encantei por eles.
Você é uma das pessoas mais bem informadas a respeito da estrutura religiosa católica de Piracicaba?
Eu gosto da igreja católica, da sua história, sou um estudioso. Tive o privilégio de trocar correspondência com Dom Ernesto de Paula, que foi o primeiro bispo, fundador da Diocese, quando eu era seminarista tive o prazer de escrever para Dom Ernesto, e ele escrevia para mim. Considero relíquias os escritos de Dom Ernesto. Conservo essas cartas comigo até hoje.
Você continuou no Seminário Xaveriano?
Saí do seminário, caso continuasse deveria ir para Curitiba, estudar filosofia. Como eu não tinha tanta certeza conversei com o bispo na época, Dom Eduardo Miled Koaik e pedi para ingressar no seminário da Diocese que fica em Santa Barbara D`Oeste. O reitor na época era o Padre Salvador Paruzzo que hoje é o bispo de Ourinhos. Permaneci um ano fazendo Filosofia na PUC de Campinas, e morando em Santa Bárbara DÒeste, no seminário da diocese. Aí resolvi sair e não quis continuar mais com a vida religiosa.
Você deve ter sentido muito em deixar a vida religiosa?
Senti muito, sinto falta até hoje. Existe um ditado entre os seminaristas que diz: “Você deixa o seminário, mas o seminário não deixa você.”
Pode-se dizer que você é um exemplo típico de quem a Igreja Católica poderia aproveitar toda a vivência e vocação de um padre que seja casado?
Na verdade, o celibato não é teológico, não é um dogma fechado. A Igreja Católica pode mudar isso a qualquer instante. Existe uma possibilidade de essa mudança acontecer. Mas, não será pelo que parece, com o papa atual, Francisco. Ele já declarou que não irá mudar isso.
Existe uma resistência muito forte?
E existe também o receio de que se é realmente bom que isso aconteça. A Igreja não tem certeza de que terminar com o celibato seja bom. Talvez o meio termo seja bom. Como a Igreja do Oriente, que tem padres solteiros e padres casados. Seria opcional. O padre solteiro, sempre será melhor para a Igreja. Ele pode ser missionário, tem disponibilidade, pode ser transferido, não precisa se prender a questões domésticas. Ele está cem por cento disponíveis. O padre casado tem a função de ser um exemplo interessante. Há um numero altíssimo de padres que estão casados e são mal aproveitados. Piracicaba que o diga, quantos padres que estão casados? E continuam padres. Não são padres atuantes porque a Igreja não permite. Padre é padre sempre! Esses homens que estão casados e tem a ordem, deveriam ser os primeiros a serem aproveitados. O padre que se casou, deveria ser mais bem aproveitado. Quantos existem em Piracicaba! Assim como aquelas pessoas que tem condições de serem padres e são casados. Deveriam também ser aproveitados. A Igreja não deu esse passo ainda. E nem sei se dará esse passo logo, porque passou a crise das vocações. Tem muita vocação!

As vocações aumentaram?
Aumentaram, Existem congregações que passam por dificuldades e outras não. É um fator que alguém deveria estudar os porquês. Na década de 80 quando fui seminarista, imperava a Teologia da Libertação. Ela foi boa, é boa até hoje em muitos aspectos, mas não para vocação. Ela não favoreceu as vocações. Ela não favoreceu a espiritualidade específica e perderam-se vocações. São as vitimas da Teologia da Libertação. Ela foi mais para o social, foi bom, foi útil. E, produziu santos. Que o diga D. Aniger, D. Eduardo, Prof. Almir de Souza Maia, Elias Boaventura. São pessoas dessa época que produziram frutos espirituais e materiais ao mesmo tempo. No âmbito nacional, D.; Helder Câmara, D. Paulo Evaristo Arns, D. Luciano Mendes, D. Thomaz Balduino. Agora, para vocações não foi bom. Passada essa época da Teologia, entrou a época em que eu chamo de Renovação Carismática. Essa época da espiritualidade maior foi boa para a vocação. Os jovens que querem ser freiras ou padres procuram congregações tradicionais. Que usam habito, tem um carisma definido.
Existem igrejas ou santuários que atraem multidões, e há o inverso também. É o carisma de quem conduz que atrai multidões?
Na verdade, a primeira coisa que existe é o carisma de quem está liderando. As pessoas querem ser lideradas por um líder com a o qual se identificam. Deveria haver por parte do católico uma mudança de mentalidade, não se deveria ir atrás de um líder e sim de Jesus.
Em sua concepção o que significa Deus?
Eu nunca tive dúvidas da presença de Deus! Na minha vida, Deus sempre foi uma figura muito presente, real. Eu consigo ver Deus no meu dia a dia. Sinto a presença de Deus como alguém que está próximo. Nunca tive dúvidas se existe ou não existe.
Você é casado?
Sou casado com Dalva Severo Pollesel, temos dois filhos: Ezequiel e Vitória, com 21 e 18 anos. Casamo-nos na Catedral de Santo Antonio, o casamento foi celebrado pelo padre Claudio, dos claretianos. Foi em 8 de fevereiro de 1982.
Como vocês se conheceram?
Desde que sai do seminário fui administrador de restaurantes. O primeiro restaurante que administrei quando sai do seminário foi a churrascaria Beira Rio, tanto eu como a Dalva trabalhávamos lá. A Dalva é de Jacupiranga, uma cidade do Vale do Ribeira, onde também nasceu a dona d a churrascaria Beira Rio, a Luisa Laude.
Para o católico o que é a confissão?
Confissão é um ato de humildade maravilhosa. Você admitir diante de Deus, diante do padre, que você tem falhas. E, admitir diante de uma pessoa que também tem falhas! Isso é um aspecto muito bonito da confissão. O fato de confessar é uma limpeza da alma. Não existe pecado que não seja perdoado.
É uma energia renovada no confessionário?
Por isso que a Igreja pede que pelo menos uma vez por ano a pessoa faça a confissão. Hoje as pessoas não valorizam o que tem de mais simples e sem nenhum custo, preferem buscar outras alternativas.
O fato de a pessoa ter fé influencia em sua saúde física e mental?
Não tenho duvida disso! Tendo fé ela consegue vencer inclusive os males atuais, que é a depressão, tendo fé ele irá compreender a vida com mais energia, naturalidade. Entenderá que o que existe de ruim também passa. Ela não irá se ater nem ao negativo demais nem ao positivo demais.
Claudinei, como você vê a vida depois da morte?
Alguém já disse assim: “Se morrer é estar com meus pais, com meus antepassados, bom! Se morrer é estar com as pessoas que eu gosto, é bom! Se morrer é estar com Deus é isso!” A fé é a certeza de estar com Deus. Você não perde nada tendo fé. Imagine que não existe nada, você não irá descobrir! Qual é a perda? Vamos ter fé! Você não terá aquele momento de pensar ou dizer: “-Meu Deus não tem nada aqui!”. Você não terá esse momento. O que vai existir é que você irá retornar para Deus. Santo Agostinho dizia que somos uma gota no oceano. A minha fé diz: “-Eu vim de Deus e volto para Deus!”. A humanidade está cada vez mais triste, cada vez mais distante do sagrado, toda vez que você se distancia do sagrado , quando acha que você é tudo, pode tudo, você quer tornar-se maior do que Deus. E isso causa tristeza.  
Ao concluir o curso de História na UNIMEP você realizou um trabalho muito interessante de pesquisa?
Foi sobre a minha família, fiz a pesquisa e publiquei o centenário da família Pollesel no Brasil. É um censo de todos os descendentes dos meus bisavós, Fortunato Pollesel e Regina Gobbo, vieram da Itália em 30 de outubro de 1897 pelo vapor Manila, foram até Itatiba e de lá para Campinas. Esse casal teve 12 filhos, 62 netos, 134 bisnetos, 174 tetranetos e doze quintonetos. Um casal só em 100 anos gerou 394 pessoas. Eu relacionei as 329 famílias que vieram juntas com ele no mesmo navio, são 1597 pessoas.
                                           FOTOGRAFIA DO VAPOR MANILA

A seguir você escreveu outro livro?
Eu gosto muito de biografia, escrevi a biografia do Padre Drumond, que morava atrás da Igreja São Judas Tadeu, ele é o fundador da Congregação das Irmãs do Cenáculo. Primo de Carlos Drumond de Andrade, jesuíta, veio para Piracicaba, na década de 50 fundou uma congregação de freiras que existe até hoje, ele faleceu na década de 90 com mais de 90 anos. Era um poeta exímio, eu escrevi a biografia dele e anexei alguns versos inéditos, escritos a mão pelo padre (Roberto) Drumond. O prefácio é de Cecílio Elias Netto. O terceiro livro escrevi sobre a biografia da companheira dele na fundação das irmãs do Cenáculo, que é a Madre Maria do Cenáculo (Zulmira Soares), essa religiosa teve a inspiração de fundar uma congregação, por volta de 1956, e convidou o Padre Drumond. Elas foram acolhidas por Dom Ernesto de Paula, primeiro bispo de Piracicaba. Depois disso fui para São Paulo e encontrei meu antigo reitor do Seminário Xaveriano, que é o Padre Giovanni Murazzo, tínhamos o habito de caminhar no Parque da Aclimação rezando o terço. Planejamos alguns livros caminhando: “Os Jovens e a Civilização do Amor”, um livro dirigido aos jovens, edição bilíngüe, português e italiano, “Memórias do Padre Luigi Médici” também em português e italiano. Logo depois surgiu “Diário de Um Homem Feliz”, que é a biografia do Padre Luigi Médici. Quando Padre Giovanni Murazzo completou 50 anos de padre, planejei uma entrevista com ele, que se tornou esse livro aqui. “Missionário, Ternura da Família Trinitad”, já na terceira edição, foram feitos mais de três mil livros. Português e italiano também. Pra comemorar os 60 anos da Paulicéia, publiquei “Paróquia Imaculado Coração de Maria – 60 Anos de Vida e Missão”. Desde quando eu era seminarista na Paulicéia, eu sonhava em publicar os escritos do Padre João Echevarria, esse livro é cópia do livro tombo número um. Depois veio a “Biografia da Madre Celina”. Dom Ernesto trouxe para Piracicaba dois conventos de clausura: as carmelitas e as concepcionistas. A Madre Celina é uma das cinco primeiras, uma das fundadoras, faleceu no ano passado. No total, até o momento são 10 títulos de livros publicados.





                                                                             





                PINTURAS REFERENTES AO AVÔ E AVÓ PATERNO DE CLAUDINEI
                                     NO CENTRO BRASÃO DA FAMÍLIA POLLESEL

História da Igreja Senhor Bom Jesus do Monte

Tudo começou no dia 08 de outubro de 1857, data em que o terreno na qual se localiza a Igreja Senhor Bom Jesus do Monte, foi doado por João Antonio de Siqueira, onde já existia uma capela, mas o bispo Conde Dom Barreto, da diocese de Campinas, à qual Piracicaba pertencia, entendeu que a cidade estava crescendo e necessitava criar urgentemente uma paróquia.
Para a consecução desse objetivo, concorreram com valiosa ajuda e muito trabalho.
Dados os primeiros passos para a construção, ocorreu o lançamento da primeira pedra no dia 6 de agosto de 1918. Consegue erigir a capela-mor, na qual foram entronizados um grande crucifixo e as imagens de Nossa Senhora e de São João Evangelista. A mesma foi benzida e inaugurada em 6 de agosto de 1919.
Em 4 de dezembro de 1922, por decreto do bispo Dom Francisco de Campos Barreto, foi criada a paróquia do Bom Jesus e seu primeiro padre foi Lázaro de Sampaio Mattos, nomeado no início de 1923, empossado pelo cônego Manoel Rosa, em missa no dia 11 de fevereiro do mesmo ano.
Após alguns meses, o padre Lázaro foi transferido e quem assumiu a paróquia foi o padre Henrique Nicoletti, também por pouco tempo. Sem pároco para serviços religiosos e com a construção da igreja paralisada, a autoridade diocesana determinou ao cônego Manoel Rosa, em 30 de janeiro de 1924, que a igreja fosse fechada para quaisquer atos religiosos e que a chave da mesma ficasse sob sua guarda.
Em 23 de janeiro de 1925, foi nomeado novo padre, Mário Montefeltro, que tomou posse em 2 de fevereiro do mesmo ano, data em que a igreja foi reaberta. Ele consegue através de donativos e quermesses angariar fundos para erguer as paredes e dar início às outras obras da igreja.
Para dar continuidade à construção, foi contratado o construtor Napoleão Belluco.
Em 25 de abril de 1926, o padre Mário foi transferido para Rio das Pedras, e o novo vigário da paróquia foi o padre Francisco Borja do Amaral.
No início de janeiro de 1927, as paredes externas estavam levantadas e as paredes centrais da nave já respaldadas; após o término do madeiramento, iniciado em 5 de maio, deu-se a cobertura da nave central. No dia 20 de maio, chegam às peças de mármore do altar mor. Em 5 de agosto, com a presença do bispo diocesano, houve a inauguração do altar mor.
Segue-se um período de progresso na paróquia. No começo de 1928, a paróquia já contava com 11 associações religiosas e o forro de estuque começava a ser feito.
No ano seguinte, chegam mais bancos, o carrilhão. Este foi o primeiro carrilhão a existir em toda diocese de Campinas.
Em agosto, nos dias 28 e 29, respectivamente, foram inauguradas a pintura da capela mor e a decoração do forro de estuque, trabalho realizado pelo grande artista Mario Thomazzi.
Em 1929, foi aprovada a ideia de substituir a cruz, que seria colocada no alto da torre, pela imagem do Senhor Bom Jesus. Era preciso que a torre fosse terminada, uma vez que após a instalação do carrilhão, as obras ficaram quase paralisadas.
Entre as várias propostas dos interessados em construir a imagem do Senhor Bom Jesus, foi aceita a de Agostinho Odisio. Com a torre levantada e o carrilhão coberto, as peças da imagem foram transportadas da cidade de Limeira para Piracicaba no dia 11 de abril de 1932.
No dia 19, a imagem começou a ser montada e, no dia 22, com o badalar dos sinos e içada a bandeira papal, foi anunciado o término dos trabalhos.
As festas de inauguração do monumento do Senhor Bom Jesus foram marcadas para o período de 30 de julho a 15 de agosto de 1932, no entanto, em virtude do movimento constitucionalista, iniciado no dia 9 de julho, as festas programadas para o mês de agosto foram adiadas para os dias 5 a 15 de novembro.
Finalmente, no dia 13 de novembro de 1932, domingo, tendo como convidado especial o bispo Dom Francisco de Campos Barreto, deu-se a tão esperada inauguração de grandiosa imagem. Ainda foram necessários mais 5 anos para o magnífico templo ficar totalmente concluído, inaugurado em 1 de maio de 1938.
Depois do padre Francisco Borja Amaral, passaram pela paróquia os padres: Vicente Rizzo, Francisco Machado, João Batista Martins, Martinho Salgot e José Nardin. Após a paróquia ser confiada aos Salesianos de Dom Bosco no ano de 1972, passaram pela paróquia os seguintes padres: Otorino Fantin – SDB, Antonio Corso – SDB, Reynaldo Zaniboni Neto – SDB, Hugo Guarnieri – SDB, Aramis Francisco Biaggi – SDB, José Cipriano Filho – SDB, Essetino Andreazza – SDB e o atual Pároco, Antonio Célio Costa Francisco – SDB.
(Fonte de Pesquisa: Luiz Nascimento) IHGP


sábado, agosto 29, 2015

CELIO SOARES MOREIRA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 29 de agosto de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO:  CELIO SOARES MOREIRA
                                                                                                    Foto by J.U.Nassif
O professor doutor Célio Soares Moreira nasceu em Jaú, a 1º de março de 1930. É filho de Silvio Moreira e Minica que tiveram os filhos: Iná, Célio, Sonia, Raul e Fábio.
Qual era a atividade principal do pai do senhor?
A sua atividade principal iniciou-se por volta de 1932, em Cordeirópolis. Ele era agrônomo, formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiro em 1923. Ele é da terceira ou quarta turma que se formou pela ESALQ. Naquele tempo a turma com a qual ele se formou era composta por cerca de 10 formandos, sendo que ele formou-se em segundo lugar. A Salitreira comercializava salitre do Chile. É uma empresa grande, que existe até hoje. Meu pai foi contratado pela Salitreira para trabalhar em Jaú. Naquela época Jaú tinha uma posição de muito destaque. O café trazia muito dinheiro para a cidade. Eu já era adulto, quando um dia perguntei-lhe: “-Pai, como foi chegar a Jaú, terra de coronéis?”. Ele respondeu que tinha sido muito bem recebido. Muito fidalgamente. Quando a Salitreira o contratou, deu-lhe um “Fordeco”, um carro Ford do ano para ir trabalhar. Quando ele chegou a Jau chamou a atenção de seus moradores. Eles não sabiam o que era um agrônomo! Diziam que se esquecessem um grão de café na terra virava árvore! Após a formação e Jaú ficar um lugar conhecido, alguém mandou para a França uma amostra de terra para analisar. De lá veio uma resposta: “Aquilo não era terra, devia ter adubo misturado”. Era terra roxa.
Qual é a função do salitre para a agricultura?
Ele é estimulador, principalmente da clorofila. Ele tem que estar associado ao potássio e fósforo.
Naquela época não havia adubo composto, eram elementos isolados que eram colocados junto ao solo?
Eu já era mocinho quando fui com meu pai até a primeira fábrica de adubo composto que conheci, era fabricado pela Manah, estava começando suas atividades, o Dr. Fernando Penteado Cardoso, agrônomo formado pela ESALQ é quem estava desenvolvendo o projeto, ficava em um barracão, antes de chegar a São Paulo, nessa época meu pai já estava trabalhando na Estação Experimental de Cordeirópolis.  Ele tinha saído da Salitreira, foi trabalhar em Guatapará, ficou algum tempo e depois  foi para a Estação Experimental de Cordeirópolis. Meu pai nasceu em 1900 e faleceu em 1986.

Em que cidade o pai do senhor conheceu a sua mãe?
Foi em Jaú. Meu avô chegou a Jaú com o diploma de farmacêutico, ele era descendente de franceses, estabeleceu uma vida comercial, casou-se com a minha avó,da família Prado, uma das filhas do casal era a minha mãe. Meu pai e minha mãe se conheceram, casaram-se e foram morar em Guatapará. De lá que vieram para Cordeirópolis, por volta de 1932. Ali ficava a bifurcação da linha-tronco da Paulista que seguia para Barretos e Colômbia, no rio Grande, e a linha do ramal de Descalvado. Existia a estação, uma colônia dos funcionários da Companhia Paulista, não havia mais nada. Naquele tempo o governo estava formando essa rede de estações experimentais. Tinha uma em Sorocaba, em Cordeirópolis, em Campinas. Quando meu pai aposentou-se era chefe da divisão de Estações Experimentais do IAC- Instituto Agronômico de Campinas. 



O curso primário o senhor estudou em qual escola?
Minha irmã e eu íamos de automóvel até a Escola São José em Limeira, era colégio de freiras. Lá estudei até o terceiro ano primário. Por volta de 1940, mudamos para Campinas, papai foi transferido como chefe. 
Foi um choque para o senhor sair de Cordeirópolis e ir morar em Campinas?
Campinas era uma cidade muito rica, que por determinada época chegou a rivalizar com São Paulo. Era uma cidade muito orgulhosa. Campinas ainda era terra roxa. Teve o período da era dos Barões do Café. Era toda região que se estendia por Jaú, Amparo, Pirassununga, Araraquara. Veio até aqui, daqui para frente temos terra de qualidade inferior. Quem tinha posse ia para terra boa, terra roxa, para ficar rico rapidamente. As principais peças de teatro vinham da Europa para Jaú! Não ia para Campinas que era uma cidade que tinha dinheiro, mas estava todo mundo alvoroçado para sair de lá, precisavam progredir! Campinas tinha e tem ainda terra boa, mas é pouca. Jaú já era uma área bem mais extensa.












 Quando mudamos para Campinas, saímos da Estação Experimental de Limeira, que ficava na Rodovia Anhanguera, era estrada de terra, e mudamos para uma casa de um italiano, proprietário de um cortume, ele estava muito bem financeiramente, construiu uma casa na esquina, em frente ao Clube de Campo.  Ele não podia morar ali, era a época da Segunda Guerra Mundial havia pessoas que o hostilizavam, pelo fato de ser italiano. Meu pai acabou alugando a casa, era finíssima, muito bem acabada, tinha um belo jardim em frente. Ficamos sócios do Clube de Campo que ficava bem em frente. Éramos cinco irmãos entre os grã-finos! Tinha piscina, quadra de tênis, quadra de vôlei, instalações para ginástica. Morávamos na Rua Guilherme da Silva esquina com a Rua Coronel Quirino. O bonde passava ali! Ao lado havia o Clube Regatas. Na época um clube modesto, mas com bons esportistas. Passei a freqüentar a natação do Clube de Campo. Os bailes eram memoráveis, freqüentados pela fina flor de Campinas. Eu tinha uns 15 anos. Em frente a nossa casa morava um juiz cujos filhos iam ao clube. Outro vizinho era o proprietário da Piccolotto Calçados e Roupas eles tinham dois filhos e uma filha. Fomos grandes amigos.
Em Campinas o senhor fez seus estudos em que escola?
Fiz o curso preparatório para exame de admissão ao ginásio. Prestei o concurso, entrei em uma escola do Estado, era uma Escola Normal, o prédio inclusive muito semelhante a nossa Escola Normal, hoje Instituto de Educação Sud Mennucci. Lá eu cursei o ginásio, a primeira professora que tive era professora de música, regente, era muito conhecida, Dona Dulce. Ela formava um orfeão, entrei no primeiro ano, ela foi selecionando. Tive professores marcantes, inclusive o de inglês, que graças a Deus era de uma exigência muito rigorosa. Ele tinha sua cartilha. Era o Professor Coriolano. Tinha que estudar aquela cartilha, quando chegasse ao meio do ano ele só falava em inglês. Quem não estivesse a altura de conversar, ele não perguntava, mas também não molestava. Ele repetia a última nota que o aluno tinha obtido, e geralmente era baixa. Vi-me nessa situação. Conversei com os meus pais e passei a ter aulas de inglês com uma professora particular. Fiz meio semestre de inglês com ela. Um dia do mês de junho ele perguntou se alguém queria ir à lousa. Ofereci-me e fui. Fez algumas perguntas, pediu que eu respondesse terminada a argüição mandou-me sentar. Começou a me por na conversa, a conversa dele era mandar que ouvíssemos a BBC em inglês, determinava o horário, a noite e o programa que deveríamos ouvir. Na aula ele se referia ao programa. Deu uma prova escrita, fui muito bem. Estranhando o meu desempenho pediu que fosse até a lousa e fez-me uma sabatina. Eu estava preparado. A partir daquele dia passei a fazer parte do time dele. Meu primeiro ano de ginásio foi no prédio onde existe uma praça cheia de palmeiras. O intervalo das aulas era na praça em frente, não havia pátio. Havia o famoso pouso das andorinhas, que chegavam de vôo, reuniam-se antes de continuar o vôo, daí o cognome de Campinas: “Cidade das Andorinhas”. Era uma quantidade incontável de andorinhas.
Após concluir o ginásio o senhor foi fazer o colégio?
Fiz o curso preparatório e entrei para o Colégio Culto à Ciência, colégio do Estado. Concluindo o colégio vim para Piracicaba para estudar na ESALQ.
Como surgiu a vocação para estudar agronomia?
O meu pai tinha se formado na ESALQ. Eu sempre viajei com ele, gostava da profissão. Uma vez disse que gostaria de plantar feijão. Ele marcou um quadrado, disse-me: “-O arado está aí se quiser pode plantar nesse pedaço”. Coloquei o arado no pedaço, mal ou bem acabei plantando. , era arada com tração de um animal só. Na hora de colher foi uma decepção. Meu pai disse-me: “Feijão é lavoura de manutenção própria para o individuo que a planta”. Muito mais tarde tive a comprovação, depois de formado, em meu terceiro emprego, o fazendeiro que quis plantar feijão perdeu muito. Eram quatro alqueires de feijão que estavam em uma área cujo destino final era servir de pasto.
Em que ano o senhor entrou na ESALQ?
Foi em 1950. Tenho o nome de todos que se formaram na nossa turma, guardo comigo o convite de formatura. A única mulher da turma era Olga Zardetto de Toledo. Tive aulas com grandes professores: Prof. Felipe Westin Cabral de Vasconcelos, Eduardo Augusto Salgado, genética tive aulas com Friedrich Gustav Brieger, Walter Radamés Accorsi,  Edgard do Amaral Graner, Salim Simão.
Em Piracicaba o senhor morava em que lugar?
Você conheceu uma república chamada “Mosteiro”? Éramos cinco moradores, fundamos a república e alugamos uma casa, em frente onde mais tarde foi a Escola de Odontologia, ali havia um colégio de freiras. Na Rua Alferes José Caetano. Na outra esquina tinha a casa do Ex-Prefeito Luiz Dias Gonzaga, a república era no sentido bairro-centro, a segunda casa.
Quem escolheu o nome da república?
Foram as meninas internas do Colégio São José. Na verdade elas caçoavam de nós.  Colocamos cortinas nas janelas, para podermos ter mais liberdade. O pessoal da ESALQ colocou o nome de “Mosteiro”.
A diversão naquela época qual era?
Eu não tinha dinheiro para diversão! Fui equilibrar minha mesada quando mudamos para outra casa da republica, descendo a Rua Alferes José Caetano, após a Rua Voluntários da Pátria. Continuou com o nome “Mosteiro”. Nesse grupo de cinco estudantes, o único que era pobre era eu. Arrumei um emprego, uma amiga de Campinas, disse-me:” –Se você arranjar a sala, tenho como montar uma biblioteca”.
Como o senhor conheceu a sua namorada?
Acho que foi em um baile, no Cristóvão Colombo, na esquina da Rua Governador Pedro de Toledo com Rua São José. O nome dela era Rosa Maria Fleury Moreira, conhecida como “Tuia”. Filha de Aldrovando Fleury. Irmã de João Ribas Fleury. Casamos em São Paulo, tivemos três filhos: Ângela, Eduardo, Arnaldo. 
A Lua de Mel foi onde?
Foi em São Vicente, era a moda na época. Fomos em um carro do meu pai, Chevrolet 1951, azul. Fui ser agrônomo, chefe da Estação Experimental de Ubatuba. Era uma localidade ainda em desenvolvimento, não tinha o movimento que existe hoje. Chegar até Ubatuba era uma aventura, estrada de terra, tinha que ir até Taubaté, não havia a Rodovia dos Tamoios. Quando assumi a Estação Experimental de Ubatuba não estava casado ainda, me empreguei como Chefe do IAC em Ubatuba. O Instituto Agronômico fornecia alguma condução para ir para lá, geralmente a pior condução. Era muito comum ir de jipe, esse jipe era resto de guerra, americano, descia a serra, era uma aventura, havia dois horários de ônibus, quem estava descendo ficava preocupado por não ter cruzado ainda com o ônibus. Quando cruzasse não passava os dois veículos. Tinha que ajeitar.
Não havia trânsito?
Havia trânsito de caminhão de banana! Só que com o caminhão de banana era bem mais fácil de passar ao lado do jipe. O perigo era o ônibus, porque ele vinha despreocupado. Ali a cultura forte era a banana. Permaneci lá um ano e meio. Tinha uma casa na Estação Experimental, a comida era feita por uma empregada. A comida de Ubatuba é baseada em peixe. Quando havia sobra eles ofereciam de graça o camarão. O porto de Ubatuba era muito pequeno, não tinha frigorífico, toda semana passava uma barca com frigorífico. Eles pescavam e tinham que vender. Se a barca não passasse aquela semana, ou atrasasse três ou quatro dias o que tinha sido pescado podia estragar. Eu estava a sete quilômetros da cidade. Às vezes ia de bicicleta. Formei muitos amigos lá, a Cachaça Ubatubana era muito famosa, fabricada por uma família de Piracicaba que moravam na  Fazenda Velha, os Irmãos Chiéus, fabricavam a pinga Ubatubana. Fui membro do Rotary Club que já existia em Ubatuba  na época. Ia daqui para lá o especialista em genética de cana, que era o chefe das Estações Experimentais.
O senhor ficou aproximadamente um ano e meio lá?
 O Janio Quadros fez uma circular onde todo funcionário que tivesse menos de 10 anos trabalhando para o Estado até tal data estava dispensado. Dali a uns meses eu iria completar os 10 anos. Vim para Piracicaba, marcamos o casamento, depois saímos em viagem de núpcias em Itanhaem voltamos à Campinas e Piracicaba. Fui trabalhar,  arrumei um emprego para trabalhar em Xiririca, hoje se chama Eldorado. Surgiu uma vaga na Casa da Lavoura de Rio das Pedras. Rio das Pedras não tinha condução, não tinha sede,. No começo eu ia de ônibus. Existia um armazém grande, cujo proprietário era sócio da usina, ele ofereceu à Casa da Lavoura para que ocupasse uma sala no prédio dele.  Em resumo, tinha uma sala que não era de ninguém, uma mesa, eu tinha que andar a pé. Não tinha condução, não tinha nada. A opção que restava era um sitiante vir me buscar e levar para seu sítio. Mas ninguém estava interessado nisso. Tinha a cooperativa, dentro da Usina Bom Jesus. Quando eu produzia muda, plantei uma fileira de palmeiras imperiais em frente a Usina Bom Jesus. Depois de algum tempo eu ia de Lambretta para lá. Estrada de terra. Um dia que choveu muito não cheguei. A roda empastou de lama. Decidi sair, pedi demissão em Xiririca, meu irmão Raul, tinha se formado agrônomo, foi para lá onde ficou o resto da vida.
O senhor voltou à Piracicaba?
Voltei, decidi adquirir um sítio. O Bellato substituiu o Dante. Ele foi ótimo, ele gostava desse entrosamento com as famílias. Foi excelente. Adquiri um sítio em Tupi, eram 15 alqueires, adquiri junto com O Esmani Junqueira Dias e outro sócio era o João Fleury, ambos meus cunhados. Adquiri para fazer mudas, comecei a fazer mudas de laranjas, uma área que eu tinha bastante conhecimento. Cheguei a ter de 40 a 60 mil mudas de laranja. Em paralelo comecei a plantar mudas de rosas eu trazia de uma localidade próxima a São Paulo.
 O clima aqui é bom para esse tipo de cultivo?
Roseira e laranja vai bem no mundo inteiro. Fazia a enxertia. Tinha uma coleção de plantas e laranjas para tirar borbulhas e fazer enxertos. Naquele tempo era obrigado a ter árvores selecionadas, de origem conhecida, vendidas pelo governo e o governo fiscalizava. A Casa da Lavoura ia a cada três meses verificar se as plantas estavam de acordo com as normas. As minhas plantas eram garantidas pela Casa da Lavoura. A primeira viatura que adquiri era mais velha do que eu, era uma caminhonete Chevrolet, 1927. Depois tive uma Kombi. Nesse meio de tempo o Prof. Felipe Westin Cabral de Vasconcelos convidou-me para trabalhar com ele, na ESALQ. Isso foi em 1960. Entrei como professor assistente convidado. Após quatros tinha que fazer um concurso para ser professor assistente. Fui professor adjunto. Fui livre docente e depois professor titular na horticultura. Finalmente tornei-me professor catedrático.  O Heitor Montenegro foi para a FAO- Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura onde ficou um tempo. Trabalhei bastante tempo com o Professor Dr. Jairo Ribeiro de Mattos.
O senhor aposentou-se quando?
Aposentei-me como professor titular em 1990.
O senhor foi Presidente do Lar dos Velhinhos?

Entrei com o Jairo Ribeiro de Mattos em 1971, permaneci até 2.000. Ocupei os mais diversos cargos dentro da instituição, inclusive a de Presidente do Lar dos Velhinhos. 
                                                                                                    Foto by J.U. Nassif


A ESTAÇÃO: Cordeiro, ou Cordeiros, era um lugar perdido perto da histórica Fazenda Ibicaba que acabou sendo escolhida para ponto de saída da estrada do Mogy-Guassú, mais tarde chamado de ramal de Descalvado, porque, apesar do seu isolamento, apresentava condições técnicas mais favoráveis para a saída da nova linha. A estação foi inaugurada em 11 de agosto de 1876, no mesmo dia da abertura da estação de Rio Claro, como um barraco de madeira, como a maioria das estações daquele tempo. Seu nome viria da existência por ali de cordeiros - ou seja, fabricantes de cordas, embora hoje em dia se aceite como mais provável a herança do nome, pela estação, da antiga fazenda Cordeiro. Mesmo com o isolamento, somente cinco anos mais tarde se pensou nos funcionários do local, de acordo com o relato de 1881: "Em Cordeiro tambem se construiu um rancho de madeira para os empregados dalli, visto não haver commodidade alguma naquelle logar". Dois anos depois, construiu-se um botequim na estação - não seria este ainda, no entanto, aquele que foi conhecido pelos freqüentadores da estação até os anos 1990. Em 1914, o prédio foi reformado e ampliado, ganhando um botequim novo em forma de quiosque, no centro do triângulo formado pelo prédio da estação e as plataformas de embarque de cada uma das duas linhas. O quiosque tornou-se famoso pela sua beleza e arquitetura. Cordeiros tornou-se, então, mantendo basicamente o mesmo prédio de 1883, uma das estações mais belas da Paulista. Em 1916, com a modificação das linhas de bitola larga da Paulista, continuou como uma estação do tronco principal, mas a linha para Descalvado se tornou a partir daí o ramal de Descalvado, e o tronco seguia para Rio Claro e São Carlos. Nos anos 1940, a cidade emancipou-se com o nome de Cordeirópolis. A partir de fevereiro de 1977, os trens de passageiros para o ramal de Descalvado não circularam mais. Cordeirópolis continuou a atender os passageiros do tronco, com a estação seguindo ativa até 1995. O abandono pesado veio em seguida. Mesmo embarcando uma quantidade muito diminuta de passageiros até março de 2001, quando passou por ali o último trem de passageiros da nefasta Ferroban, o prédio foi sendo invadido aos poucos por mendigos, que causaram dois grandes incêndios, um, em 1993, que destruiu totalmente o belo quiosque de madeira, e teria sido causado por um funcionário da Fepasa descontente, e outro em 1995, depois do fechamento da estação no início de abril, que destruiu o interior da casa de controle, do outro lado da plataforma em relação ao prédio da estação. Aliás, ainda pode se ler no dístico pintado na casa de controle, o nome Cordeirópolis, e, por baixo dele, apagado, o nome antigo: Cordeiro. Sem portas e janelas, e um prédio totalmente vazio e depredado, a estação de Cordeirópolis parece gritar por socorro para cada trem que passa por ali (Do livro de Ralph Mennucci Giesbrecht - "Caminho para Santa Veridiana" - Ed. Cidade, 2003). Em fevereiro de 2004, a Prefeitura acertou a compra do prédio, já nas últimas, com a Rede Ferroviária Federal, sua proprietária desde a extinção da Fepasa, em troca das dívidas existentes. No entanto, desde então, a estação está cada vez mais em frangalhos. Alguns edifícios do imenso pátio foram recuperados. O belo e histórico prédio da estação e a cabine de controle, bem como o armazém das locomotivas, não foram. Notar que o prédio da estação de Cordeirópolis é o mesmo, com algumas reformas, desde a inauguração da estação, em 1876. É ele o prédio de estação mais antigo das linhas da hoje extinta Companhia Paulista. Ao que tudo indica, o milagre esteve perto: em 2009, começaram obras para a restauração do prédio da estação. Mas logo pararam e a estação degradoi-se mais ainda. Em novembro de 2014, a estação estava cercada, de forma a restringir o acesso de vândalos. Porém, continua do mesmo jeito, abandonada e arruinada.   Ralph Mennucci Giesbrecht

sexta-feira, agosto 21, 2015

JOSÉ CARLOS CATALINI



PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 22 de agosto de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: 



JOSÉ CARLOS CATALINI


José Carlos Catalini nasceu a 1 de março de 1963, a Rua Boa Morte, 1932 em Piracicaba. Filho de Luiz Catalini e Lúcia Brunelli Catalini, que tiveram também os filhos Cláudio e Marlene. José Carlos tem uma filha, Rayanna.
Até que idade você residiu a Rua Boa Morte?
Residi lá até os 35 anos. A casa existe até hoje, fica bem em frente ao Lar Escola Maria Nossa Mãe. Ali aprendi a conviver com o barulho do bonde. Tenho até um episódio pitoresco, eu era criança deveria ter uns sete anos, minha mãe estava lavando a calçada, usando a mangueira, eu peguei a mangueira e joguei água nos passageiros do bonde. A reação dos passageiros não foi muito agradável! Colocávamos nos trilhos do bonde tampinha de metal, tiradas ao abrir refrigerantes, bebidas. Gostávamos de ouvir o barulho que as rodas faziam ao passar sobre elas. Muitas vezes o motorneiro (condutor) parava o bonde para tirar as tampinhas da linha. Muitas vezes ia passear de bonde, ia até a garagem, que ficava na Avenida Dr. Paulo de Moraes, logo após a Rua da Glória, do lado esquerdo. Lembro-me do trem da Companhia Paulista. A estação ficava  aproximadamente a duas quadras da minha casa. Ao lado da minha casa ficava a fábrica de bebidas do Thomaz Del Nero, que foi meu padrinho, ele engarrafava a então famosa Caninha 18. Lembro-me de que havia dois tonéis enormes de madeira onde era depositada a aguardente.

Você morava em frente ao Lar Escola Maria Nossa mãe, um local em que abrigava meninas. Você lembra-se desse período em que o Lar Escola funcionava como internato?
Lembro-me sim! Elas moravam no Lar Escola. Inclusive tem um primo nosso que adotou uma menina que residia lá. Ele tinha sete filhos homens, queria ter uma filha. Ele foi o fundador do primeiro trailer de lanches que abriu em Piracicaba, isso foi em 1978, ficava na Rua Governador Pedro de Toledo entre  a Rua Riachuelo e Rua Floriano Peixoto. Tanto que o seu filho, Marco, mais conhecido como Sule, é proprietário do “Rei do Chope” e anuncia: “Há 37 anos o melhor lanche da cidade”.
Você estudou em qual escola?
Estudei no “Barão do Rio Branco” onde fiz o primário e o ginásio. Minha primeira professora foi Dona Maria Helena. Lembro-me ainda da Dona Mafalda, Dona Nininha, o “Cridão” que era o zelador. O diretor era José Wander Parsia. Após concluir o ginásio fui estudar o colegial no Instituto de Educação Sud Mennucci. Após concluir fui cursar Histologia (ciência que estuda os tecidos biológicos), na Unimep.

O seu pai, Luiz Catalini, foi pioneiro em uma atividade na cidade?
Na época meu pai e meu tio José Catalini fundaram uma empresa especializada em demolições. Meu avô, Giacomo Cataline era “grameiro”, vendia grama. Ele era natural da Itália. O primeiro depósito da empresa de demolição foi na Rua Joaquim André, atrás da Igreja dos Frades. Isso foi em 1957. Até então, acredito que era o próprio pedreiro quem fazia a demolição dos prédios. Não sei dizer o que era feito desses materiais todos, uma vez que não havia um depósito específico para o material que era retirado das demolições.
Como o seu pai e o seu tio retiravam os produtos frutos das demolições?
No inicio eles não tinham nenhum meio de transporte, pagavam o frete para terceiros. Após algum tempo conseguiram adquirir um pequeno caminhão. Da Rua Joaquim André eles mudaram para a Rua Benjamin Constant, onde hoje é a Casa Rosário. Antigamente ali não existia nada, era um terreno baldio. Mais tarde eles mudaram o depósito para a Rua Santa Cruz esquina com a Rua São Francisco de Assis e José Pinto de Almeida. Meu pai alugava aquele terreno, o proprietário era o Pedro Cobra. Atualmente está sendo construído um edifício no local pela arquiteta Bia Coury. Ao lado havia o Piacentini que trabalhava com álcool, que mais tarde sofreu um incêndio e atualmente é uma academia de ginástica. Hoje vejo muitas obras sendo realizadas pela arquiteta Bia Coury, quando éramos crianças ela brincava conosco no jardim em frente ao então Colégio Assunção. No Lar Escola ajudávamos as irmãs a cuidarem do jardim, fazíamos pequenos serviços. Elas nos davam às vezes pirulitos, cenouras, produto da horta que elas cultivavam.
Com quantos anos você começou a trabalhar?
Com 11 anos meu pai já me levava junto com ele, para ajudar a carregar tijolos. Na época tínhamos um caminhão GMC. Minha mãe não gostava, Dizia: “- O menino é criança Luiz! Imagine! Deixe-o brincar, quando crescer um pouco mais ele vai!”. Meu pai respondia: “Está na hora dele começar a trabalhar, tem que ensinar ele a trabalhar! Ele não deve ficar com a mente vazia e começar a fazer coisas erradas!”.
Você passou a gostar de trabalhar com demolições?
Já faz 32 anos que meu pai faleceu, eu continuo a trabalhar nesse ramo, comecei com 11 anos, hoje estou com 52, são 41 anos que trabalho nessa atividade.
O cliente que deseja demolir uma casa, qual é o procedimento?
Geralmente a pessoa quer que faça a demolição, tire todo o material, para ele construir um prédio novo. Alguns querem ficar com o material, nesse caso cobramos pela demolição realizando todo o trabalho de limpeza da área. Geralmente a pessoa não quer nada.
Com a onda de novas construções você deve ter tido muito serviço ultimamente?
Tenho bastante trabalho, mas hoje já tem muitas empresas nesse setor. Alguns até sem a devida experiência ou conhecimento.
A demolição é um serviço que deve ser feito por profissionais do ramo?
Tem que ter conhecimento para não fazer coisas erradas. Como por exemplo, causar danos ao vizinho. Tem que saber como vai demolir para evitar acidentes pessoais. Muitas construções que vamos demolir estão tomadas por cupins. O grande perigo é no alto, o madeiramento. Há casas que ainda tem o madeiramento feito com coqueiro. Se não me falha a memória, na Rua Joaquim André com a Rua José Pinto de Almeida ainda tem uma casa cujo madeiramento é com coqueiro. As telhas são aquelas feitas por escravos, “feitas nas coxas”. As telhas são desiguais, variam conforme a coxa do escravo que a fez, havia o escravo mais gordo e o mais magro. É conhecida por telha comum, telha nacional ou telha caipira.
Quando chove há a penetração de água com o uso dessas telhas?
De forma alguma! É a melhor telha que existe! O problema dela hoje é o trânsito pesado das nossas ruas. Os caminhões passam, elas trepidam e escorrega um pouquinho. De vez em quando tem que mandar uma pessoa subir no telhado e ajeitar as telhas em seu devido lugar. Ela não é como a telha paulistinha que tem uma garrinha que fica na ripa.
Você já pegou algum tijolo diferente?
Quando a casa é muito antiga sempre aparecem tijolos com algumas iniciais. Como por exemplo, LC, com uma cavidade em forma de losango no meio do tijolo. Aquele tijolo com a suástica nazista, mostrado na televisão eu nunca vi aqui em nossa região.
Quanto pesa um tijolo normal?
Cerca de um quilo e setecentas gramas.
Qual foi o tijolo mais pesado que você pegou até hoje?
Foi um tijolo de uns seis quilos e quinhentos gramas. Estava em uma fazenda, quem me arrumou esse tijolo foi o Roberto Aragon. O tijolo media uns vinte e dois centímetros de largura por uns trinta e cinco centímetros de comprimento. Os tijolos grandes que existem em Piracicaba medem vinte e nove centímetros por quatorze centímetros. Pesam em torno de quatro quilos e quinhentos gramas.
Em frente ao Lar Escola existia um sobrado, da família Aguiar, a demolição foi feita por vocês?
Foi. Isso deve fazer uns trinta anos. Sobrado dá bastante trabalho, porque o sobrado tem concreto. Quebramos tudo na marreta, hoje se usa martelete.
Qual foi a casa mais antiga que vocês demoliram?
Acredito que tenha sido a casa situada a Rua Rangel Pestana, ao lado das Lojas Marisa. Era feita de pau-a-pique ou barrote, amarrada com cipó. Inclusive teve uma parede que caiu na rua. Não houve dano maior porque tomamos a precaução de irmos bem cedo para iniciar a demolição quase de madrugada. Nós percebemos que era uma construção estranha. Inclusive o cupim conseguiu comer o pau-a-pique. Antigamente podia fazer isso. Hoje a legislação está bem mais rigorosa, não pode fazer barulho antes das oito horas da manhã.
Quanto tempo você demora em demolir uma casa com uns cento e vinte metros de construção?
Uns vinte e cinco dias mais ou menos. Isso se for tirar tudo com cuidado. Se a pessoa tem pressa a demolição é feita mais rapidamente, só que nesse caso cobramos pela demolição. Tem que colocar uma equipe maior vai haver muita perda de material, temos que colocar máquinas.
A questão da reciclagem de material está funcionando?
Funciona! O próprio descarte de entulho tem lugar apropriado para ser feito. Para o proprietário regulamentar a construção nova ele tem que apresentar a documentação referente a demolição feita anteriormente.
Há casos de pessoas que contratam um pedreiro e ele mesmo faz a demolição, se não for um contrato com uma empresa atualmente a legislação é muito rígida nesse sentido?
O risco de ocorrer um acidente de fato existe. Se não houver um contrato com uma empresa responsável o proprietário poderá ter sérios problemas.
Você tem alguma história inédita que tenha acontecido?
Tenho algumas, uma delas ocorreu em Rio Claro. A noite alguns gatunos entraram em uma loja maçônica, acenderam umas velas para enxergarem melhor, acabaram incendiando o prédio. Queimou tudo! Não tinha mais nada! Madeiramento, telhado, tudo caiu. Pratos antigos de porcelana quebraram-se todos. Não havia mais nada no local. Havia um sótão e lá tinha um caixão de defunto! Quando o empregado comunicou-me, imaginei que fosse uma brincadeira dele. Ele pediu que jogasse uma corda, joguei, quando olhei, vi que ele estava descendo o caixão de defunto, inteiro! Com visor. Só não tinha nada dentro.
Foi um susto?
Foi um susto grande, não sabíamos se tinha algo dentro. Graças a Deus estava vazio. Naquela época tínhamos uma caminhonete Toyota, trouxemos para Piracicaba o caixão dentro da Toyota. Por onde passávamos com aquele caixão o pessoal ficava assustado. Não era normal. Isso foi em 1985.
O que vocês fizeram com o caixão?
Ele ficou aqui guardado. Por uns dois ou três anos. Como todo mundo que vinha comprar material via o caixão, eu tinha que explicar a mesma história, eu fiquei enjoado. Veio uma pessoa, um vizinho, pediu o caixão acabei dando. Ele disse que iria vender, no fim transformou aquilo em um brinquedo, colocava os amigos dentro Tanto fizeram que acabaram destruindo o caixão. Outra ocasião um empregado achou uma caixinha de música, era toda de ouro, estava em um porão. Ele não sabia que era uma caixinha feita com ouro, acabou dando para a sua filha brincar, certo amigo desse empregado, espertalhão, percebeu que a caixinha era ouro. Acabou indo a uma loja, adquiriu uma boneca e trocou. Nem eu sabia que era uma caixinha de ouro. É interessante que cada casa antiga que você pega ela já vem com muitas lendas. Demolimos mais de trezentas casas. O antigo Banco do Estado de São Paulo foi demolido por nós. Meu tio, José Catalini, demoliu o Hotel Central. 
Ali havia muito material importado. Os lavatórios eram ingleses. Demolimos o Quarto Cartório, inclusive refletiu na Capela Passo do Senhor do Horto, uma construção muito antiga, de barro, foi motivo de muita preocupação para nós. A famosa lanchonete Daytona, ícone da juventude de certa época, anos 70, foi nós que demolimos.
O que mais atrapalha uma demolição?
É a chuva, o vento. Primeiro tira-se o telhado, coloca-se a bica, que é uma espécie de canaleta de madeira, muitas vezes tem que emendar várias tábuas de cinco metros, ali as telhas escorregam uma a uma, alguém segura a telha embaixo, quando é muito alto a pessoa que segura a telha embaixo usa luvas.
Você já demoliu casas sofisticadas, com lustres importados?
Já tive casos assim. Isso foi em uma época em que as coisas antigas não eram tão valorizadas. Na Rua José Pinto de Almeida, entre a Rua Prudente de Moraes e a Rua São José, havia uma casa antiga, com lustres de cristais. Os tijolos antigos do Colégio Piracicabano fomos nós que fornecemos, são frutos de demolição.
Qual é mais caro, o milheiro do tijolo antigo ou do novo?
O tijolo antigo tem um custo maior. Há pouco tempo vieram uns portões que foram feitos na forja pelo Seu Antonio Caputo, pai do Giovani Caputo, que faz até hoje esses trabalhos artesanais. Ele estava fazendo uns lustres para a atriz Regina Duarte.
Ao fazer uma demolição qual é aproximadamente o índice de perda de material?
Sabendo tirar, se for uma construção bem antiga, a perda gira em torno de sete por cento. Se for construção moderna a perda é bem maior.
Você recebe a visita de muitas pessoas famosas, interessadas em coisas antigas?
Vem muita gente famosa, o Paulinho da dupla Cesar e Paulinho já esteve aqui, Craveiro e Cravinho, Dr. Daruge. Enfim pessoas de bom gosto que procuram coisas antigas.
Qual é a sua indicação para tratamento de cupim?
Material contaminado com cupim tem o local apropriado para descarte. Alguns estudiosos do assunto às vezes solicitam se temos algum material para fornecer com o intuito de analisarem. Geralmente são estudantes da ESALQ.
Não há tratamento para exterminar o cupim?
Existem muitos produtos que dizem exterminar o cupim, a meu ver, dependendo do comprometimento da madeira é inútil tentar tratar. Se for passível de tratamento o cupinicida pode auxiliar e até resolver. Na Rua Governador Pedro de Toledo havia o Bazar do Cego, fomos demolir só que havia um enxame muito grande, era uma colméia gigante, segundo disseram ela existia há mais de quinze anos. Pedimos auxílio ao pessoal da Escola de Agronomia, eles conseguiram levar a colméia embora. Já tomei muita picada de abelha, já cheguei a pular do telhado, por causa de abelhas, aquelas caboclas, quase todos os telhados que chegávamos para demolir tinham a abelha cabocla. Antigamente noventa por cento dos telhados tinha esse tipo de abelha. Hoje parece que sumiram.
E escorpião?
Conforme a região de Piracicaba, encontramos bastante. Uma ocasião, no Jardim Colonial encontramos em uma demolição mais de quarenta escorpiões. Tivemos que colocar luvas para poder mexer nas telhas. Encontramos muitas aranhas nessas casas. Geralmente as caranguejeiras.



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