domingo, agosto 13, 2017

MARIA GRAZIELA VICTORINO DE FRANÇA HELENE


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado de 29 de julho de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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ENTREVISTADA:


MARIA GRAZIELA VICTORINO DE FRANÇA HELENE

Maria Graziela Victorino de França Helene nasceu em Piracicaba a 16 de outubro de 1951, filha do Dr. Geraldo Victorino de França, professor da Esalq e da sua mãe a professora  Zilda Giordano Victorino de França que tiveram  ainda os filhos Ivana Maria França de Negri, Maria Fernanda França Cabrini e Geraldo Victorino de França Júnior, que é o Bebe Bicentenário pois nasceu em abril de 1967, ele tem até um “diplominha” referente ao fato, “Minha mãe guardava, não sei se ele ainda o conserva”, afirma Maria Graziela.

Em qual escola a senhora iniciou seus primeiros estudos?

Eu morava em Campinas, meu pai trabalhava naquela cidade, estudei até a quarta série no Colégio Imaculada Conceição. Da quinta série em diante estudei no Colégio Nossa Senhora da Assunção, já em Piracicaba, para onde mudamos em 1963. Ali fiz os meus estudos, até completar o curso como normalista. Em 1969 formei-me como professora.

Sua infância foi vivida em Campinas?

A minha infância foi vivida em Campinas, embora estivesse sempre em Piracicaba, a família da minha mãe são todos de Piracicaba. Eu freqüentava muito a casa dos meus avôs. Mantive o laço com Piracicaba, nasci aqui e vinha sempre para cá, tenho uma ligação muito forte com essa terra!

Após a conclusão do curso, tornando-se professora, qual foi a sua próxima etapa?

Fui estudar artes plásticas, estudei em Campinas, aqui em Piracicaba estudei no ateliê do Professor Hugo José Benedetti por um período de três a quatro anos. Fui aluna também do professor Angelino Stella, com quem tive aulas de desenho. O Professor Benedetti gostava muito de retratos. Eu fazia obras em telas, gostava muito de fazer retratos. O primeiro retrato que fiz foi um auto-retrato. Fiz o curso de Belas Artes na Escola de Desenho e Pintura em Campinas.






Em 1967, Piracicaba completava 200 anos de fundação, foi um ano marcante para Piracicaba, e a senhora protagonizou eventos importantes na época?

O Baile das Debutantes era um acontecimento especial, para as participantes assim como para a cidade. Era um evento comum nos maiores centros urbanos do Brasil, sempre tinha um convidado especial, geralmente um galã que estivesse em evidência, no nosso baile a personalidade convidada foi o ator Hélio Souto, Estava fazendo grande sucesso nas novelas da TV TUPI e era casado com uma das filhas da família Morganti de Piracicaba. O Baile das Debutantes em que participei foi em junho de 1967. O presidente do Clube Coronel Barbosa era o Dr. João Tacla, A jornalista Alik Kostakis foi quem apresentou as debutantes. Èramos de 20 a 30 debutantes.

Naquela época era um cerimonial quase obrigatório para as moças da alta sociedade participarem do Baile das Debutantes?

 Nós não iríamos freqüentar o clube a noite sem ser apresentadas à sociedade. Era o nosso primeiro baile! Nós, debutantes, ficamos muito ansiosas com relação a esse acontecimento. Era um momento mágico da vida da moça. A partir dessa apresentação poderíamos passar a freqüentar os bailes, sempre acompanhadas dos pais, todas éramos sempre acompanhadas pelos pais. Era uma época em que a família toda ia aos bailes. Os clubes eram freqüentados pelas famílias.

Infelizmente Piracicaba passou por um grande trauma quando desabou parte de um edifício em construção, o COMURBA ocorrido a 6 de novembro de 1964,quando se deu o fato em que local a senhora se encontrava?

Eu estava no Colégio Assunção, estudando. Essas coisas chegam rapidamente até o nosso conhecimento, as próprias freiras comentaram sobre o assunto. Havia entre nós uma grande preocupação com os parentes, nessa época nossa família morava na Rua Riachuelo. Foi um acontecimento muito forte, a cidade ficou de luto por muito tempo.

A seu ver, os festejos do Bi-Centenário de Piracicaba, foi uma grande virada de página na nossa história?

Com a queda do COMURBA a cidade praticamente parou. Não se construíam mais edifícios, as pessoas estavam temerosas. Aliado a isso havia um turismo negativo, muitas pessoas vinha visitar Piracicaba para ver o que tinha sobrado do edifício, as lajes ainda dependuradas, um espetáculo bizarro, vinham para fotografar o prédio destruído e o que havia restado. ( Por razões técnicas ou de outra natureza, a metade do prédio que restou,com enormes lajes pendentes, perdurou por anos incorporando-se ao cotidiano da cidade). Eu não me conformava com isso, pensava que com tanto lugar bonito na cidade iam tirar fotografias do palco de uma tragédia. Os festejos do Bi-Centenário foram intermináveis, não encerrou em 1967.




     Símbolo do Bi-Centenário de Piracicaba, o cata-vento na faixa foi idealizada pelo grande    mestre Arquimedes Dutra


Em sua juventude, qual era o lazer comum entre os jovens?

Havia, no nosso caso, muitas reuniões na Esalq, os professores e suas famílias reuniam-se em festas: juninas, de Natal, havia muitas festas. A Sra. Anneliese Brieger esposa do Professor Brieger era muito participativa, animava essas festas. Aprendi a tocar piano, na época toda menina tinha que aprender a tocar piano! Aprendi também a tocar acordeom e violão. Na época violão era considerado um instrumento mais utilizado pela boemia. Era tido como instrumento musical masculino, por isso era difícil as mulheres tocarem. Mas nós conseguimos! Gosto muito de música clássica internacional e brasileira, como Ernesto Nazareth, Zequinha de Abreu, Villa Lobos, Chiquinha Gonzaga. Gosto de boa música. Tive professores particulares e freqüentei também a Escola de Música de Piracicaba "Maestro Ernst Mahle. Mais tarde meus filhos também frequentaram essa escola.

Um fato marcante para a cidade e em especial para a senhora ocorreu em 1967?

Deu-se através da minha mãe. Após o Baile das Debutantes, o Dr. João Tacla abriu o concurso para Miss, isso foi no final de junho. Ele telefonou para a minha casa e falou com os meus pais se eu poderia ser a candidta do Clube Coronel Barbosa, cada clube da cidade tinha sua candidata, foram oito candidatas.  Eu tinha só 15 anos! Para mim foi uma honra muito grande. Meus pais concordaram. No inicio fiquei um pouco apreensiva, depois acabei gostando, o Professor Arquimedes Dutra, Dr. Nelson Meirelles, pessoas importantes da cidade, eram os jurados. Foi um período muito intenso, minha mãe tinha dado a luz recentemente ao meu irmão mais novo, minha tia Ermelinda Germano, cuidava do meu irmão, era madrinha dele. Tia  Rosina Antonia Jordão de Mattos (Toninha) ajudava,ela é mãe do Dr. Jairo Ribeiro de Mattos, do Paulo, João e Dalva, eles também frequentavam esses bailes, minha tia Vivica, se revezavam para me levar aos lugares, nunca ia sozinha, era menor, issso aos ensaios, ao encontro com o corpo de jurados. A minha roupa foi feita pela minha tia Antoninha. Ela fez o desenho, criou, e fez a roupa para o desfile de Miss. Fez uma capa bonita. Esse vestido que usei foi copiado depois, vi muitos semelhantes em diversos bailes em que eu ia.

A senhora aos 15 anos, em 1967 foi eleita Miss Bi-Centenário de Piracicaba?

Ao ser eleita assumi uma grande responsabilidade, tinha que representar a cidade em muitos eventos, o fotógrafo Cícero sempre estava documentadando esses eventos. Além dos meus pais, em todos os lugares ia uma comitiva comigo. Ia representar Piracicaba em cidades vizinhas, o prefeito na época era o Comendador Luciano Guidotti. Jornais de São Paulo e outras cidades noticiaram a minha eleição, bem cmo publicaram fotografias, realizaram matérias. A repercussão foi grande. Na época a mídia escrita e falada noticiava a vinda de autoridades até Piracicaba. “O Estádio Municipal foi utilizado para o pouso do helicóptero do Governador do Estado acompanhado de um ministro do Senegal e sua esposa, General Syzeno Sarmento comandante da Segunda Região Militar, um representante do Presidente da República Arthur da Costa e Silva e outras autoridades. A comitiva foi recebida pelo prefeito Luciano Guidotti, pelos deputados Athiê Jorge Coury, Pereira Lopes, Domingos Aldrovandi, Francisco Salgot Castillon seguindo diretamente para o palanque oficial armado na Praça da Catedral, onde se realizou o desfile militar, assistido por grande multidão. Bandeirolas do Brasil e do Estado de São Paulo eram agitadas pelos populares, que se acotelavam em todo o trajeto da parada. O grande cortejo contou com a participação de Tiros de Guerra da região, como o de Limeira, São Carlos, Americana, Rio Claro, elementos do 5º  GCAM, do 2º RO de Itú, as Bandas Marciais da Força Pública de Piracicaba e de Campins. Logo após o desfile o governador e sua comitiva rumaram para o Centro Cultural e Recreativo Cristovão Colombo onde cortou perante grande massa popular a fita inaugural da Exposição Filatélica e Numismática. O governador carimbou oficialmente o selo de Piracicaba sendo a exposição aberta a seguir à visitação pública. A mostra que ficará aberta até o próximo dia 8.” Essa notícia foi divulgada por um jornal local.
COMEMORAÇOES DO BI-CENTENÁRIO DE PIRACICABA EM 1967


CINQUENTA ANOS DEPOIS A MESMA FAIXA, CETRO E COROA DESCANSAM NO TRONO DA ETERNA RAINHA DO BI-CENTENÁRIO



Quem eram os jurados que julgaram as candidatas a Miss Bi-Centenário de Piracicaba?

Eram o Dr. Nelson Meirelles e esposa, Dr. Hugo de Almeida Leme e esposa, Dr. Francisco Antonio Coelho e Sra.,Professor Nélio Ferraz de Arruda e Sra. Capitão Antonio Bruno e Sra.

Em seu intimo havia a certeza de que sairia a vencedora?

Acredito que todas tinham como esperança ganhar em primeiro, segundo lugar. Fui confiante, queria representar bem o clube, como de fato consegui.

A emoção foi muito grande?

A emoção foi muito forte! Uma alegria muito grande, vendo toda aquela festa, todo aquele aparato, a coroa, é um sonho realizado! A coroa é de prata, foi feita especialmente para a Miss Bi-Centenário, o presidente dos festejos, Dr. Rubem mandou gravar uma placa e colocou na coroa com o meu nome. O cetro foi o grande artista Eugênio Nardin que fez. A faixa foi idealizada pelo grande mestre Arquimedes Dutra, uma das particularidades é que na faixa está o símbolo do Bi-Centenário de Piracicaba, o cata-vento. Arquimedes Dutra dizia que como o cata-vento está sempre em movimento, simboliza o movimento e o progresso da cidade. E de fato, de 1967 para frente, como houve muitas festividades, a cidade teve um progresso muito grande. Até então estava estagnada, a tragédia do COMURBA tinha abalado profundamente a população. Foi uma época muito triste. Ao que parece, o ano do Bi-Centenário resgatou o espírito progressista e positivo da cidade. Esse espírito nascido em 1967 continuou nos anos seguintes. A cidade passou a ter mais festas, a ser mais alegre, foi como correr atrás da alegria deixada esses anos todos que haviam passado. Aonde eu ia tinha alguém  me fotografando.
O dinamismo do prefeito Luciano Guidotti colaborou também?

Sem duvida! Ajudou muito! Era um prefeito muito amado pela população. Eu percebia, quando ele ia pelas ruas, o povo gostava muito dele.

Após ter sido eleita houve os festejos da coroação?

Após as atividades protocolares, houve o baile, um baile muito bonito, a primeira dança já como rainha foi com o meu pai. Depois eu dancei com o meu primo Jairo Ribeiro de Mattos.

Como foi retornar a vida normal de estudante sendo a Miss Bi-Centenário?

Minhas colegas me parabenizaram as freiras também gostaram muito, eu conversava muito com elas. Eu tinha uma cabeça muito boa. Continuei a minha vida normal.

Todo esse glamour se não for muito bem administrado pode interferir negativamente pela exposição da pessoa ao público?

Certamente! Houve uma grande exposição na mídia local e regional. Participei bastante de festas. Foi um período em que o carnaval de Piracicaba era tido como o melhor do interior paulista. O afluxo de artistas de renome era muito grande. Conheci vários artistas, como a Pepita Rodrigues, a diretora de cinema Aurora Duarte, irmã do Anselmo Duarte. Fui convidada a fazer cinema, eu disse que não era meu objetivo. Eu queria ser professora, fazer artes plásticas, queria estudar.




O encantamento das telas de cinema ou televisão não a atraiu?

Nem um pouco! Eu gostei mesmo é de ficar em Piracicaba, junto dos meus pais, da minha família. Não queria deixar a minha família de forma alguma e nem sair da minha rotina. Quando fiz 18 anos fui convidada para ser candidata a Miss São Paulo, eu também não quis.

O que o seu pai achou da sua recusa?

Meu pai ficou contente! Nem meu pai e nem a minha mãe queriam que eu fosse candidata.

 O excesso de exposição tem que ser administrado?

Com certeza! Quem está em uma situação dessas tem que estar permanentemente atenta, sempre fui uma pessoa centrada, soube impor respeito e também sempre tratei as pessoas muito bem, com muita educação.

O fato de ter sido eleita Miss Bi Centenário de Piracicaba não a deixou deslumbrada?

Foi muito bom, aproveitei todos os momentos, foi importante para mim. Eu gostei muito. Sempre junto com a minha família conheci outras pessoas, outras cidades, eu tinha essa estrutura, o apoio dos meus pais. Isso para mim era importante.

Com o passar do tempo o seu curso foi concluído e qual foi a próxima etapa?

Depois de concluir meu curso, comecei a expor. Ali que conheci o meu futuro marido. Eu estava expondo no Salão de Belas Artes, o professor Hugo Benedetti expôs um quadro onde eu tinha sido retratada, o meu futuro marido também gostou do quadro e depois me procurou.

Quantos quadros são da sua autoria?

Não saberia dar um número exato, mas já pintei bastante e fiz muitos desenhos, diga-se de passagem, que desenho até hoje. Desenhos com lápis, crayon, faço desenhos com mais rapidez. Faço algumas telas também, só que demoram um pouco mais.

Essas obras estão no mercado de arte?

Tenho alguns quadros no Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes, alguns quadros eu dei como presente à algumas pessoas, nunca comercializei a minha arte. Fazia também algumas esculturas, como a que tenho aqui denominada como “A Espera” em terracota. Tem como inspiração a minha irmã quando estava esperando o meu sobrinho, essa escultura ganhou a menção honrosa.

Como era o Professor Hugo Benedetti?

Um bom professor, nós saiamos, em várias alunas, para fazer pinturas ao ar livre. Fizemos muitas pinturas da Esalq. Era uma turma grande que pintava. Fazíamos as paisagens da cidade, era muito gostoso.

O seu marido conheceu a sua arte, e através da arte quis conhecê-la?

Ele me viu na exposição. Seu nome é Octavio Helene Júnior, na época ele era juiz substituto em Piracicaba. Nos casamos, ele fez carreira, passamos por diversas cidades do interior do estado, ele voltou a Piracicaba, foi diretor do fórum, depois foi para São Paulo, ficou no Tribunal, foi desembargador do órgão especial e aposentou-se quando completou a idade determinada.

Em que ano vocês se casaram?

Foi em 4 de janeiro de 1975, na Igreja Imaculada Conceição, em Piracicaba. Tivemos cinco filhos: Otávio, Ricardo, Graziela, Eduardo e George.

Como foi deixar Piracicaba, onde existe toda uma estrutura familiar e ir para São Paulo?

Antes passamos por diversas cidades, em São Paulo acabei me acostumando com a cidade e seu burburinho. A família do Otávio mora lá também. Nas cidades menores  a vida é mais restrita, eu pintava bastante nessa fase. Tive muitos filhos, cuidava deles. Não deixei a música, com isso minha vida sempre estava com alguma ocupação. Gosto muito de ler, textos, poesias, mas não escrevo, prefiro me expressar através da arte, das cores, das formas.

Qual é a sua visão de Piracicaba da época em que foi Miss, aos 15 anos, e a Piracicaba atual?

Falo que Piracicaba envelheceu também, mas cidade não envelhece, ela só progride, mas não perdeu o encanto. Piracicaba é uma cidade que todo mundo gosta. Quando vemos o Rio Piracicaba, nos emocionamos. (Nesse momento Da. Graziela deixa transparecer forte emoção, sinal do carinho que tem pela cidade). O Engenho é bonito!

A mãe da senhora teve uma influencia fundamental na formação da sólida estrutura familiar?

Teve! Ela era uma pessoa muito culta. Tinha uma visão ampla, dizia: “Tal escola não é suficiente, tem que aprender mais coisas !”. Ela encaminhou-nos para a música, para as artes, sempre comprava livros, desde pequena líamos Monteiro Lobato, todos os classicos infantis. Depois Shakespeare e todos os autores famosos estavamos lendo. Já falei muito bem o inglês e o francês, depois perdi um pouco o traquejo. Na minha época o francês era muito valorizado. Hoje falam muito espanhol. Havia escola de francês. A propria origem do Colégio Assunção tem influência francesa. As freiras nos deram uma boa educação, não era uma coisa tão rígida, mas elas ensinavam. Orientavam, ensinavam a dizer não quando algo não era bom. Trabalhavam com a formação de carater. Eu estudava de manhã e voltava a tarde pelo fato de ser normalista, ficava dois períodos no colégio. Voltava a tarde para fazer os meus estágios, eu gostava muito de criança. Tudo que fosse necessário relativo a desenhos eu fazia. Ajudava nas festas, fazia decoração. Venho de uma família muito religiosa, minha mãe, minha tia, eu, frequentávamos as missas na Catedral de Santo Antonio assim como na Igreja dos Frades.

E os bailes de carnaval de Piracicaba como eram?

Eram maravilhosos! Até 1967 eu ia nos bailes voltados ao publico infantil, eu não podia ir a noite. De 1967 em diante eu precisava da autorização do Juiz de Menores, mesmo assim ia com os pais. Até 18 nos tinha que ser acompanha por uma pessoa adulta. Compravamos aquelas mesas, ia a família inteira. Era muito bom, a confraternização entre primos, primas. Vinha muita peça de teatro, muitos artistas,  Johnny Mathis, Roberto Carlos, Wilson Simonal, Jair Rodrigues, os cantores da Jovem Guarda vinham para cá, lotavam o Teatro São José. Roberto Carlos vinha sempre a Piracicaba.

A senhora lembra-se das lojas do comércio piracicabano da época?

Havia a loja do Seu João Guidotti, era voltada a eletros-domésticos, O Cardinalli, A Casa Portuguesa que era uma loja finíssima. Em dezembro ganhei presentes de Natal da maioria das lojas, meus pais ficaram contentes e surpresos. Eu ia até as lojas, agradecia, tirava fotografias.

Piracicaba era quase uma grande família?

Era! Todos se conheciam, era interessante que os pais iam juntos com os filhos aos bailes, e às vezes os pais se divertiam mais do que os filhos! Meus pais dançavam mais do que eu nos bailes. Atualmente vivemos outros tempos. Um fato curioso, mas próprio da época, é que ficávamos sentadas junto aos pais e era o rapaz quem tirava a moça para dançar. Tinha algumas moças que tomavam o que chamávamos de “chá-de-cadeira”, ninguém tirava para dançar! Algumas vezes estava junto a mesa o presidente ou um diretor do clube, sentada a mesa eu já sabia que não iria dançar, geralmente o rapaz ficava intimidado. Eu então dançava com o meu pai, com o Jairo.

Existia a famosa “taboa”?

Existia também, que era quando a moça recusava-se a dançar com o rapaz que a convidava. Geralmente os rapazes eram muito educados, não havia desavenças maiores.

A senhora dirige veículos?

Dirijo normalmente. Meu primeiro carro foi um “Fusquinha” branco ano 1978! Foi meu marido que deu, tenho até hoje! Tenho o maior carinho por esse carro.

Como é seu olhar sobre a internet?

Uso com moderação, Não tenho facebook. A internet para mim é mais uma ferramenta para pesquisa. Tenho uma característica pessoal que cultivo desde muito jovem, procuro manter minha privacidade. Sempre fui assim. Isso eu aprendi com a minha mãe. As  mulheres da família da minha mãe sempre foram mulheres muito religiosas, fortes, altivas. Elas também se mantinham reservadas. Viviam a vida delas. Gosto de interagir com as pessoas, mas dentro de um limite! Que não seja invasivo.

A Miss Bi-Centenário gosta de cozinhar?

Adoro! Fiz muitos cursos de culinária.

Qual é o prato que os filhos pedem com muita vontade?

Geralmente eles gostam de tudo que eu faço, muitos assados, a famosa “macarronada da mama”, risotos.

A senhora chegou a andar de bonde?

Quando era pequena! Eu ia com meu tio Vicente, Tinha um bonde que saia do centro e ia até a Agronomia era um local onde eu adorava passear quando era pequena. O meu pai nos levava muito lá, só que ele nos levava de carro. Uma particularidade que ficou gravada, era a forma como o cobrador do bonde colocava as cédulas de dinheiro entre os dedos, elas era dobradas pelo meio e ficavam no vão de cada dedo cédulas de valor pré-determinado.  Eu ficava olhando, o cobrador andando de um lado para outro no estribo do bonde. Outra coisa que eu achava muito interessante eram os encostos dos bancos que giravam conforme o destino do bonde. Quando o bonde chegava ao seu destino final, como tinham duas frentes, bastava girar o encosto e os passageiros estavam olhando de frente para o trajeto. A meu ver o bonde deveria continuar  a existir, mesmo que fosse com a finalidade turística, com um trajeto apropriado.

Qual é a sua opinião sobre a juventude atual?

Acredito que a juventude atual não pode ser igual a que existiu anteriormente, ela está vivendo outro tempo, tem a internet, essa velocidade da informação. A dinâmica é maior. Só acho que deviam se preservar um pouco, zelar pela sua intimidade. As pessoas colocam no facebook coisas que ali não é lugar para ser colocado. Isso não é restrito a crianças ou adolescentes, adultos também agem dessa forma. Penso que temos que respeitar a nós mesmos, dar-se valor, para respeitar o outro também. Ai há uma troca.

O nome disso é caráter?

Sim! E tem que ser formado desde pequeno. Ter uma boa formação.

A seu ver, no momento em que estamos passando, os exemplos que vemos estampados em todas as mídias, não são edificantes?

É verdade! Mas nesse caso credito que cada um deve fazer a sua parte. Eu faço a minha parte, construo uma coisa boa para mim, para a minha família. A família é importante demais. A minha família foi muito importante na minha formação.

A senhora ouviu comentários sobre uma coisa, que já praticamente acabou, embora tenha provocado algumas tragédias em determinadas famílias, denominada “Baleia Azul”?

Já ouvi falar a respeito. É uma coisa absurda, não é só um problema físico, chega a ser um problema psíquico grave.

Esse “deixar-se influenciar” é um vácuo?

É um vácuo que existe, na falta de fé, há falta de oração nesse caso.

A senhora é religiosa?

Venho de uma família com base religiosa muito forte. A oração é muito importante, ela constrói o seu caráter. Você faz uma conexão com o divino que existe dentro de todo mundo. É só procurar! Minhas avós, tias, pais, sempre foram muito religiosas, além de ir a igreja tiveram sempre muita fé, então tudo que pediam conseguiam. Todos nós temos nossos momentos de dificuldades, tristeza, perda. Isso faz parte da vida. Procuro através da religião acreditar em coisas melhores, é um lenitivo, um conforto. Pode observar que as pessoas que não tem nada em que acreditar elas tem uma vida diferente. Até na saúde dessa pessoa. Afeta a saúde. A pessoa que medita, que ora, tem uma vida melhor. Não que ela terá uma longevidade maior, mas terá uma qualidade de vida melhor.

A tão em moda “depressão” existe se a pessoa se deixar abater?

Não deve deixar-se abater, temos que acreditarmos que estamos nesta vida por alguns anos, essa passagem é um aprendizado. Aprendemos coisas boas. Sofremos. Não existe nenhuma pessoa que não tenha sofrido na vida. Só que temos que tirar proveito de tudo que acontece na nossa vida. Temos que tirarmos uma lição. Quando fui Miss Bi-Centenário também tirei uma lição, de tudo que me foi oferecido só tirei as coisas boas. O que me ofereceram que achei que não era bom, eu descartei. Mesmo tendo muitos achando que seria uma vantagem para mim.

Naquela época era uma adolescente, já tinha esse discernimento?

Sim, com 15 anos já tinha essa consciência. Eu sabia que queria ter uma família, eu queria construir. A educação que recebi foi essencial. A rotina pode até ser entediante, mas é importante, se você não construir tijolo por tijolo, dia a dia, como irá construir um prédio? Temos que ser otimista, termos disciplina interior. É mais importante ser alguma coisa do que ter. Quando você tem, você perde, não terá aquilo para a vida toda. Quando você é , é para toda eternidade.

Cada povo tem sua forma própria de pensar, é a característica do povo. Japoneses, alemães, americanos, cada povo tem uma identidade, qual é a identidade do brasileiro?

Não tem! É um povo alegre, vive o dia. A pessoa tem que viver o presente, pensar no futuro, o passado é muito bom, recordar um pouco, mas a pessoa não pode viver do passado. Passado já passou. Não podemos desenterrar coisas ruins! Quando passou uma coisa ruim, você já enterrou, já cimentou, coloca um colorido ali, pronto, não desenterra mais. Aprende. Tirou alguma lição dali? Tirou algum proveito? Tirou! Então não desenterra! Quando podemos lembrar coisas boas é ótimo rememorar coisas boas. Mas não viver disso! Temos que viver o presente já com um olho no futuro! Quando encontramos uma dificuldade achamos ruim, mas na realidade ela serve para a pessoa crescer. Se conseguir superar você ganhou mais auto-estima, autoconfiança, para a próxima dificuldade. Aqui vamos subindo degraus. Cada degrau tem a sua dificuldade, a sua facilidade, tem tudo de bom, como tem as coisas que não são boas, mas você tem que resolver aquilo. Quem vai resolver o que está dentro de você? Você mesmo! Não tem uma pessoa de fora que irá resolver. Sabedoria é saber viver com as dificuldades, com as alegrias, tirar sempre uma coisa boa, uma lição. Um proveito de tudo que você viveu.

 

ADOLPHO CARLOS FRANÇOSO QUEIROZ



PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 22 de julho de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO:
 ADOLPHO CARLOS FRANÇOSO QUEIROZ


 

Adolpho Carlos Françoso Queiroz possui graduação em Comunicação Social Publicidade e Propaganda pela Universidade Metodista de Piracicaba (1980); mestrado em Comunicação pela Universidade de Brasília (1992) ; doutorado em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (1998) e pós doutorado em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (2009). Atualmente é professor do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Publicidade e Propaganda, atuando principalmente nos seguintes temas: comunicação, marketing político, propaganda política, publicidade e propaganda . Ex- presidente da INTERCOM, Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, fez parte do Conselho Curador da entidade; um dos fundadores e atual Presidente de Honra da POLITICOM, Sociedade Brasileira dos Pesquisadores e Profissionais de Comunicação e Marketing Político; diretor administrativo e financeiro da ABP2, Associação Brasileira dos Pesquisadores de Publicidade e Propaganda; membro do Conselho Fiscal da SOCICOM, Federação das Associações Científicas de Comunicação do Brasil; sócio da ABCOP, Associação Brasileira dos Consultores Políticos e atual Presidente do Conselho Consultivo do Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Adolpho Carlos Françoso Queiroz nasceu em Piracicaba a 18 de setembro de 1956 é filho de Adolpho Carlos de Souza Queiroz, funcionário público municipal e Maria Zélia Françoso Queiroz, funcionária pública municipal, atualmente aposentada que tiveram também a filha Lia Raquel Françoso Queiroz.

Seus primeiros estudos foram feitos em qual escola?

Fiz uma parte do primário no Instituto Sud Mennucci e outra parte no Grupo Escolar Barão do Rio Branco. No final dos anos 60, o Sud Mennucci teve um problema inusitado, um formigueiro de proporções gigantescas, colocou em risco uma parte da estrutura do prédio. Por precaução muitos dos alunos foram deslocados para o Grupo Escolar Barão do Rio Branco, até que o problema foi resolvido. Com isso terminei o curso primário no Barão do Rio Branco e o ginásio e colegial voltei a estudar no Sud Mennucci.

Nessa época você morava em que local da cidade?

Eu morava no Edifício Lúcia Cristina , na Rua XV de Novembro, em frente ao atual INSS. Logo na esquina havia o Supermercado Pão de Açúcar, atualmente Supermercado Jaú, no andar superior havia a Rádio A Voz Agrícola do Brasil. Essa esquina antes de ser supermercado foi a padaria do Seu Arthur Azevedo. O Lúcia Cristina é um dos edifícios pioneiros de Piracicaba. O meu pai trabalhava na prefeitura, que na época ficava no centro, mais precisamente no palacete que foi do Barão de Serra Negra, posteriormente demolido e hoje é utilizado como estacionamento da Câmara Municipal de Piracicaba, na esquina da Rua São José com Rua Alferes José Caetano. Depois construíram o prédio maior ao lado, e por um período foi alugada a casa da esquina com a Rua do Rosário com a Rua São José onde funcionou o gabinete do prefeito. A seguir o prefeito Adilson Benedito Maluf construiu o edifício onde atualmente funciona o Centro Cívico, nas proximidades da Rua do Porto.

O seu pai conheceu o prefeito Luciano Guidotti?

Ele trabalhou sob a liderança de Luciano Guidotti. Meu pai era fiscal de rendas da Prefeitura Municipal. Um fato marcante da minha infância é que no dia da sua nomeação ele me levou junto. Eu devia ter de quatro a cinco anos. Alguns anos depois eu estava junto as minhas primas que trabalhavam no Centro de Reabilitação, quando o prefeito Luciano Guidotti chegou. Se não me engano Dona Hilda Gobbo era uma das lideranças. Ela disse: Prefeito, estamos precisando de tais coisas, e foi relatando. Luciano Guidotti enfiou a mão no bolso, tirou um maço de dinheiro e disse: “-Veja o que dá para fazer!”. Dinheiro dele, pessoal, em espécie. Luciano Guidotti era muito desprendido. Criou-se certo folclore sobre a figura de Luciano Guidotti, mas era um grande empreendedor pelo que sabemos. Tenho uma lembrança muito positiva a respeito dele.

Como você ingressou no jornalismo?

Eu tinha uns quinze anos de idade quando meu pai faleceu. Minha mãe passou a trabalhar no IPASP, na prefeitura, eu tive meu primeiro emprego em “O Diário”. A minha mãe trabalhava no IPASP que nessa época localizava-se a Rua Prudente de Moraes, entre a Rua Tiradentes e a Rua Luiz de Queiroz, todos os dias ela passava em frente ao “O Diário”, nessa época situado no Edifício Terenzio Galesi, onde atualmente funciona um banco . Um dia minha mãe se encheu de coragem e entrou em “O Diário”, explicou a situação, que o meu pai havia falecido, embora eu fosse muito novo gostava muito de ler, escrever, eu era datilógrafo! O Cecílio Elias Neto disse para que fosse até lá. Com cinco minutos de conversa, ele disse-me que iria dar-me uma oportunidade como repórter. A partir de então me encantei com o campo de jornalismo. Lembro-me que fiz uma bela reportagem sobre o Museu Prudente de Moraes. Da. Helena Benetton era diretora do museu. Presidente da Associação dos Amigos do Museu. Quem fez as fotografias foi o Aldano Benetton, filho dela. O João Chiarini também me “adotou” na época, eu conversava muito com ele. Isso que está sendo feito hoje eu já fiz em 1970 em “O Diário”, dois ou três domingos, mostrando um pouco dos monumentos da cidade. Comecei a gostar do campo de humor gráfico, em 1973 fui por minha conta e risco cobrir a primeira instalação do Salão de Humor do Mackenzie. Pedi a máquina de fotografia ao Cecílio, fui de ônibus para lá. Publiquei. o Alceu Marozzi Righetto, o Roberto Antonio Cêra (Cerinha) viram, O Carlos (Carlinhos) Colonnese viu também a matéria. Acharam muito interessante,  e surgiu a idéia de fazer um salão de humor também em Piracicaba. Era a época do jornal “O Pasquim”, um período difícil da intervenção militar. “ O Pasquim” era uma leitura de muito impacto à minha geração que estava começando a gostar de política.

Nessa época “O Diário” criou uma página denominada “Recados”?   

Era comandada pelo Cerinha, como se fossem as notas do Pasquim. Pílulas de texto pequeno. Antes do Orkut, do Facebook, do WhatsApp, do Twitter de 140 caracteres,  “Recados” era uma forma de comunicação bem diversificada. Seguia um pouco a linha do Pasquim. Ali havia muitos colaboradores: Caetano Ripoli, Cerinha, Alceu, Padre José Maria Almeida, Padre Pettan, João Maffeis, de vez em quando o próprio Cecílio escrevia, Marisa Bueloni, havia uma rede de colaboradores, era uma página muito lida. Pode-se dizer que era “O Pasquim” de Piracicaba na época, uma página ousada para o tempo. O Cecílio como jornalista dava muita liberdade para todos nós, em termos culturais, políticos. Ele construiu uma equipe de colaboradores, jornalistas muito aguerridos. Seguimos muito o estilo do Cecílio de fazer críticas. Foi uma fase muito boa, o Araken desenhando, o Jago na diagramação e nos desenhos também.  “O Diário” foi inovador na implantação do sistema offset, foi o terceiro jornal no Estado de São Paulo, tínhamos “O Cruzeiro do Sul” de Sorocaba, o jornal “A Franca” de Franca, “O Diário” foi o terceiro jornal, antes de “Folha”, do “Estadão”, do próprio “Jornal de Piracicaba”. Houve um empenho muito grande das lideranças políticas da época, o Cecílio estava muito envolvido com o José Aldrovandi que era Presidente da Associação dos Fornecedores de Cana e outras lideranças da cidade que acabaram bancando as máquinas.

Era um equipamento caríssimo.

Eram muito caros, equipamentos importados do Canadá. Houve a necessidade de treinar a equipe técnica para imprimir o jornal, foi uma mudança radical para a época.

A dinâmica do jornal passou a ser muito grande?

Muito maior, recebíamos informações internacionais das agencias como a United Press International (UPI), ANSA, tinhamos um produto jornalístico que mesclava Piracicaba e o mundo. ”O Diário” foi um jornal de vanguarda.


                43º Salão Internacional de Humor de Piracicaba - Vídeo de Abertura

A HISTÓRIA DO SALÃO INTERNACIONAL DE HUMOR DE PIRACICABA - TV CULTURA – 2001
Nesse período, há algumas passagens que são quase folclóricas, como a delegação de Piracicaba que foi ao jornal “O Pasquim” no Rio de Janeiro?

“O Diário” havia mudaddo da Rua Prudente de Morais para a Rua São José, em um prédio moderno, onde anteriormente funcionava a loja de máquinas e equipamentos de Tuffi Elias, pai do Cecílio Elias Neto. Foi em frente a esse prédio que Alceu Marozzi Righetto fez a proposta de fazer o Salão de Humor de Piracicaba, após ter lido a reportagem do Salão de Humor do Mackenzie que eu havia feito. Ele disse que ia convidar o Carlinhos Colonnese, iriamos conversar com o “Fagundinho” como era carinhosamente chamado o Cordnador de Turismo Luiz Antônio Fagundes. O prefeito era Adilson  Benedito Maluf. Pretendíamos que a prefeitura nos ajudasse a fazer o Salão. Isso foi em fevereiro, era carnaval. Logo em seguida, em um sábado de carnaval, o Alceu, o Colonnese e eu fomos entrevistar o pessoal que veio fazer parte do júri do carnaval de Piracicaba daquele ano, isso foi em 1974. Na piscina do Hotel Beira Rio começamos a conversar, e uma das pessoas que nos deu mais atenção na época foi um jornalista do jornal Ultima Hora, chamado José Maria do Prado. Conversamos bastante sobre cultura, carnaval, estávamos a vontade, quando o Alceu disse: “Zé, será que você não marca com alguém em São Paulo, vamos um dia para lá, para que alguém possa nos ajudar a organizar o “Salão do Humor” pretendemos fazer um Salão de Humor em Piracicaba, na hora o Zé Maria disse que era muito amigo do Zélio Alves Pinto, irmão do Ziraldo, que era um dos diretores do Pasquim. O Alceu queria chegar ao Pasquim mas não tínhamos uma forma clara de como entrar. Alguns dias depois, conversamos com o Fagundinho, com o Luiz Mattiazzo que era o Chefe de Gabinete do prefeito Adilson, a principio não havia verba disponível para realizar o Salão. Um dia o Alceu me chamou, assim como  o  Carlinhos Colonnese e disse que o Fagundinho queria conversar conosco. O pessoal do Clube Orquidófilo de Piracicaba que iria fazer uma tradicional  exposição no Teatro São José, estava com alguma dificuldade, e parece que tem uma “fortuna” de 10.000 cruzeiros para fazermos o salão. O Alceu acionou o José Maria do Prado, que entrou em contato com o Zélio, marcamos um almoço em um restaurante em São Paulo. O Zélio gostou muito da idéia. Convidou-nos para ir tomar o café na sua casa, assim conheceríamos o seu ateliê, fomos, tomamos o café, lembro=me do Zélio ter fincado um compasso em cima do mapa do Estado de São Paulo, a ponta seca em Piracicaba e com o grafite começou a desenhar círculos de raios cada vez mais abertos em torno da cidade de Piracicaba, dizendo: “Olha só o poder de disseminação que nós temos com relação ao salão para projetar Piracicaba nacional e internacionalmente!”. Uns dias depois o Zélio ligou para o Alceu dizendo: “Consegui que o  Ziraldo receba vocês no Pasquim situado a Rua Saint Germain. Era um casarão antigo, parecia uma vila. A secretária do Pasquim era a Dona Nelma. Normalmente as sextas-feiras era fechamento do Pasquim, estavam todos presentes: Ziraldo, Jaguar, Paulo Francis, Henfil. Ai vai dar para mostrar o projeto para toda a turma. O Mattiazzo emprestou o famoso automóvel Galaxie preto do prefeito Adilson, com o motorista do Adilson, o Kaoro, um japonês, que nunca tinha ido ao Rio de Janeiro. Fomos o Alceu, o Carlos Colonnese e eu para apresentarmos o projeto. Nisso já tínhamos convidado o Zélio para fazer o cartaz do Salão de Humor, e ele fez. Esse primeiro cartaz ficou um ícone. Passamos no Seu Julio Romano, que comercializava pinga em garrafão, compramos cinco garrafões e levamos. Todos apreciavam uma cachaça boa, mas era a predileção do Jaguar. Seu Júlio tampou os garrafões com rolha, amarrou, quando chegamos próximos a Campinas, a pressão forçou a saída das rolhas, como champanhe. O aroma da cachaça invadiu o interior do veiculo, fomos de Campinas ao Rio de Janeiro aromatizados pelo odor da legitima cachaça. Chegamos quase inebriados ao destino. Assim que chegamos, após as devidas apresentações, o Jaguar já emborcou um dos galões, tomou uma talagada de bom tamanho. Emendando: “É a melhor pinga do Brasil!” A pinga foi nas devidas proporções o nosso espelhinho de índio. O pessoal do Pasquim entrou de cabeça, pediram o cartaz do Zélio, na época tinha que fazer clichê. Prontificaram a publicar no Pasquim. O Jaguar chamou o Fortuna, para fazerem o regulamento do Salão. Eles perceberam a ousadia de uma cidade como Piracicaba, a ousadia daquele grupo de jovens.


                    Como surgiu o Salão Internacional de Humor de Piracicaba

Como foi a reação em Piracicaba?

Voltamos e logo começamos a divulgar. Surgiu um novo problema, em Piracicaba não tínhamos onde fazer o Salão. Na época o Mário Terra era colunista social de “O Diario”. Era também diretor social do Clube Coronel Barbosa. O presidente na época era o Dr. Heitor Montenegro, professor da ESALQ. Uns dias depois, o Mário voltou meio chateado, e comunicou-nos  de que o pessoal do Clube Coronel Barbosa estava com receio, a exposição tinha um caráter político. A idéia inicial era fazer no Teatro São José. O Clube se propôs a bancar o coquetel da abertura do Salão, iriam fazer uma divulgação. O Mário Terra tinha um amigo, o Renan Cantarelli que era gerente do Banco Itaú, o qual havia adquirido o Banco Português, que funcionava na Praça José Bonifácio, ao lado da Banca de Revistas do Gianetti, da Rádio Difusora, o Alceu mencionou que era uma exposição de arte, para comemorar  o aniversário de Piracicaba, Quando o Renan ficou sabendo que era o Salão de Humor já não tinha mais como adiar. Só que ele estabeleceu um prazo máximo para ser retirado do prédio. Com isso o Primeiro Salão de Humor abriu em um sábado, 26 ou 27 de agosto, e ficou só 15 dias, vieram para Piracicaba Jaguar, Fortuna, Ziraldo, Zélio e Wilde Weber que era cartunista do “Estadão”. O Pasquim mandou os trabalhos censurados, montamos com esses trabalhos uma mostra paralela.


      SALÃO DE HUMOR DE PIRACICABA - TV CULTURA 1998 - A HISTORIA



Após fazer o Primeiro Salão de Humor de Piracicaba, qual era a intenção? Prosseguir?

Nós não tínhamos a expectativa de fazer o Segundo.

Teve algum tipo de censura?

Houve um episódio que eu chamaria de surreal. O Capitão Alfredo Mansur era diretor do Tiro de Guerra e era o chefe indireto do SNI Serviço Nacional de Informações em Piracicaba. Era um militar bastante socializado a cultura de Piracicaba. Em um dos dias o Alceu me chamou e mostrou que algum visitante tinha colocado uma fita adesiva preta em cima de um determinado cartum. Como se quisesse dizer censurado. O Alceu criu a lenda de quem tinha feito aquilo foi o Capitão Mansur. O SNI tinha censurado o Salão! Passados esses anos todos e conhecendo o espírito anárquico do Alceu, eu diria que foi ele mesmo quem colocou o adesivo! Para criar um clima. Os artistas do Pasquim foram muito bem recebidos em Piracicaba. Saíram deslumbrados com Piracicaba. E voltaram muitas vezes depois.


                                      Salões de Humor de Piracicaba 1974 1975


Hoje nós estamos em qual Salão?

Vamos abrir agora no dia 26 de agosto o Salão de numero 44. É o Salão de Humor mais antigo do mundo! Na época em que abrimos o salão as referencias eram o Salão de Lucca na Itália, que não existe mais, o Salão de Toronto no Canadá e o Salão de Tóquio no Japão, que também não existem mais. Nesse livro que fiz recentemente sobre a História do Primeiro Salão do Mackenzie conseguimos identificar hoje no Brasil a existência de 126 Salões de Humor.

Quantos trabalhos vocês receberam no ano passado e quais são as expectativas para esse ano?

No ano passado recebemos quase 3.000 trabalhos, a expectativa é mais ou menos próxima a isso esse ano. São selecionados cerca de 400 trabalhos. O trabalho mais difícil é o da comissão de seleção. A comissão de seleção se reúne dias 28,29 e 30 no Hotel Center Flat,

Qual é a importância do cartum?

Ele fala por si próprio, independente da nacionalidade ou regime político em que o artista vive. É uma linguagem universal. É ácido, contundente, provocador.

O Delfim Neto é um colecionador de caricaturas?

É ! E é um sábio. Sempre foi um sujeito criticado, por trabalhar com uma área difícil que é a economia, ele imitou outro craque da área chamado Getulio Vargas. Faziam criticas do Getulio ele mandava chamar o autor, dizia que queria comprar a arte, com isso virou um colecionador dos seus desafetos. O Delfim é hoje um dos maiores colecionadores de caricaturas e cartuns. Quem sabe um dia ele empreste esse material para expormos em Piracicaba, eu sei que ele tem muitos amigos em Piracicaba. Podemos até mandar um fotógrafo para fotografar o material. Isso para evitar qualquer risco de extravio. Sei que o Barjas é um grande colecionador de charges e caricaturas, tem muitas obras do Erasmo Spadoto.

O Erasmo tem um humor mordaz?

Mordaz! É uma capacidade de reação ao momento. O Barjas era prefeito, recebeu uma verba para pintar o Estádio Barão de Serra Negra. Houve uma especulação de que ele iria pintar o estádio de amarelo e azul, que são as cores do seu partido PSDB. O Erasmo fez uma charge de um assessor perguntado ao Barjas. Como irá se chamar o estádio após a pintura: “ Barjão de Serra Negra” ou “Barão de Serra Negri”? .O artista gráfico tem um poder de síntese que nós jornalistas não possuímos.

Quantos livros sobre cartuns você já editou?

No campo de cartum já editei seis livros. Fiz o primeiro do Erasmo sobre as capivaras; do Luciano Veronezzi que publica na Gazeta de Piracicaba; do Edson Rontani, “A História do Nhô Quim”; fizemos três livros de trabalhos vencedores do Salão: “Balas Não Matam Idéias”; “Caixara de Forfe” e o “Risadaria no Salão”. A partir deste ano com a instituição da AHA (Associação dos Amigos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba) Estamos lançando uma coleção de livros sobre humor gráfico. Quem gostar de humor, e queira filiar-se pode entrar em contado através do e-mail adolpho.queiroz@mackenzie.br. Podem participar pessoas de toda a região. Temos também o “Salãozinho” para crianças de 7 a 14 anos. Este ano tivemos 4.000 trabalhos inscritos.






                                   O Pasquim - A Subversão do Humor - PARTE1



 
                                   O Pasquim - A Subversão do Humor - PARTE2



                                   O Pasquim - A Subversão do Humor - PARTE3



                                 O Pasquim - A Subversão do Humor - PARTE4




                                         A Subversão do Humor - PARTE5



                                 



MARCELO MAGRO MAROUN – SOCIEDADE BENEFICENTE SÍRIO LIBANESA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 15 de julho de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/










ENTREVISTADO: MARCELO MAGRO MAROUN
SOCIEDADE BENEFICENTE SÍRIO LIBANESA

 

A Sociedade Beneficente Sírio Libanesa, localizada em Piracicaba, é uma das mais tradicionais entidades do gênero no Brasil. Fundada a 16 de novembro de 1902 sua sede localiza-se a Rua Governador Pedro de Toledo, 1045, centro. Com horário de funcionamento de segunda a sexta feira das 9 às 12 horas e das 13 às 18 horas. Sábado das 9 às 13 horas. Inicialmente constituída só por imigrantes do Líbano cuja independência deu-se a 22 de novembro de 1943 e da Síria que se tornou independente como país a 17 de abril de 1946, hoje tem entre seus associados não só os imigrantes como também seus descendentes e agregados. A principio muito conservadora, restringia os associados apenas a imigrantes, sendo a sua magnífica sede suficiente para abrigá-los com conforto. Recentemente adquiriu uma área de 1.307,81 metros quadrados em local de fácil acesso e que proporcionará aos associados o espaço necessário às suas atividades. Como uma grande família, consta em seu quadro cerca de 350 associados. É necessário registrar que embora não sejam associados formalmente há um número bem maior de descendentes de imigrantes dessas duas nações, sendo sempre irmanados pela própria origem. Empreendedores, dinâmicos, festivos, emotivos, participantes, comunicativos, trazem em sua carga genética a cultura milenar de um povo. Muitos sírio-libaneses ocupam cargo de destaque em nossa cidade. A diretoria do biênio 2016/2017 é composta pelo Presidente Marcelo Magro Maroun; Vice-Presidente Tufi Buchidid; Primeiro Secretário Marco Aurélio Barbosa Mattus; Segundo Secretário Antonio Carlos Mellega; Primeiro Tesoureiro Francisco Aparecido Rahal Farhat; Segundo Tesoureiro Antonio Sérgio Calil;  Orador Oficial Elia Yussef Nader; Diretora Social Sylvana Zein; Diretora de Biblioteca Sandra Maria Elias Silva; Diretor de Patrimônio Nassif Elias Buchidid; Diretor Administrativo e Diretor de Sede Jorge Sallum Nassin. Além da diretoria há as comissões e departamentos compostos por associados. A seguir Marcelo Magro Maroun relata mais alguns detalhes.








O senhor nasceu em Piracicaba?

Nasci a 18 de janeiro de 1971, em Piracicaba, Meu pai Georges Naief Maroun era natural do Líbano, faleceu em 2012, minha mãe chama-se Mercedes Magro Maroun. Tiveram os filhos: Mateus, Angélica e Marcelo. Sou casado com Luciana Cristina Maroun, temos dois filhos: Marcelo e João Vitor.

O inicio dos seus estudos foi em qual escola?

O curso primário foi na Escola Estadual Dr. João Conceição, o ginásio foi na Escola Estadual Barão do Rio Branco, o curso colegial estudei no Colégio Anglo. Em seguida cursei Direito na Unimep, ao terminar a graduação procurei especializar-me em Direito Público, Direito Administrativo. Quer seja em licitações, contratos ou até mesmo em Direito Urbanístico, área onde fiz a minha especialização. Hoje ocupo o cargo de Procurador Jurídico do Município de Piracicaba.

Qual era a atividade do seu pai?

Ele sempre atuou no comércio. Ele chegou do Líbano com 18 anos de idade, como todo bom libanês, começou a mascatear. Até que montou um estabelecimento a Rua Benjamin Constant e depois a Avenida São Paulo, atuando no comércio até seus últimos dias de vida.

Atualmente o senhor é o Presidente da Sociedade Beneficente Sírio Libanesa, como é essa experiência?

Em 2013 e 2014 pertenci a diretoria, como diretor financeiro, cargo que continuei a ocupar nas gestões do presidente Elia Yossef Nader e posteriormente continuei na mesma função na gestão do presidente Antonio Sérgio Calil. No biênio 2016 e 2017 fui eleito por aclamação para tornar-me o presidente da entidade, com muita honra. Em novembro deste ano estaremos comemorando 115 anos. Temos estimulado a participação dos descendentes: filhos, netos, bisnetos, eles estão associando-se a Sociedade Beneficente Sírio Libanesa. Embora envolva pessoas residentes em nossa cidade, mantemos contato com outras entidades semelhantes, particularmente as localizadas em São Paulo. Há um contato com a entidade congênere de Campinas.


                                                        BANDEIRA DA SÍRIA






A origem da SBSL deu-se ao acaso?

Quando os imigrantes sírios e libaneses chegavam ao Brasil enfrentavam muitas barreiras, entre elas o idioma, costumes. Havia uma necessidade de confraternizarem-se com aqueles que haviam chegado ao Brasil anteriormente. Com a finalidade de terem um local onde pudessem reunir-se, assim como prestar a ajuda mútua, foi criada a SBSL. Logo a seguir, como demonstração de gratidão à terra que os acolheu de forma tão gentil e generosa, passaram a interagir com todos os demais segmentos. Com outras entidades congêneres, formadas por imigrantes de outras nações. Isso tem sido uma constante durante toda essa trajetória de mais de um século. Temos atualmente como meta, auxiliar nossos irmãos mais necessitados, independente da sua nacionalidade.

Qual é a relação da SBSL com a Igreja Ortodoxa?

Existe a missa Ortodoxa, que é realizada todo último domingo de cada mês, as 18 horas, na Igreja Dom Bosco Assunção, a Rua Boa Morte.  È celebrada no Rito Ortodoxo, algumas partes da celebração é feita em árabe. Geralmente quem celebra é o Padre Pedro Henrique Marsiglia que vem da Igreja São Jorge da cidade de Santos. As vezes é celebrada por um padre que vem da cidade de São Paulo.  Há uma forma de conduzir a celebração de maneira que todos acompanhem e compreendam, acabam também assimilando uma nova forma de cultura. Temos também a Missa Maronita, sempre foi realizada no penúltimo domingo de cada mês, anteriormente era celebrada na Igreja da Catedral, ela passou a ser celebrada na tradicional Igreja São Benedito, as 9:00 horas da manhã, o celebrante é o Monsenhor Jamil Nassif Abib.

Como é a relação diplomática com as representações dos dois países aqui no Brasil?

Ao menos uma vez por ano fazemos uma visita aos respectivos consulados, assim como para a Igreja Ortodoxa e para a Igreja Maronita. Os Maronitas são os Cristãos Católicos Orientais que devem seu nome a São Maron.

Um dos grandes dramas que a humanidade vive hoje é com relação o grave conflito no Oriente Médio e a massa de refugiados. Embora distantes, como é vista essa questão aqui no Brasil?

No Brasil, nos relacionamos muito bem, árabes entre si, e com relação a outros povos também imigrantes ou descendentes. Sou muito amigo, inclusive colega de profissão do Dr. Marcelo Rosenthal, que é  judeu. Tive a honra de cumprimentá-lo, abraçá-lo, em um evento onde se comemorou a independência da Síria e a Semana da Cultura Árabe.  realizada anualmente entre março e abril, na Câmara Municipal de Piracicaba, uma iniciativa do Capitão Gomes. Menciono esse fato para destacar que na própria SBSL temos sírios e libaneses, a questão dos refugiados só podemos tratar abraçando-os. Só para exemplificar, de forma mais explicita, ajudamos mensalmente o estudante S.B. (O seu nome por extenso encontra-se a disposição para que todos que possam ter interesse acessem), refugiado sírio, que estuda na Faculdade de Odontologia de Piracicaba. Ajudamos com o aluguel do pensionato e no início ajudamos inclusive na sua alimentação. Ele nos procurou, era seu desejo cursar odontologia. Ele esteve em São Paulo, foi encaminhado à Unicamp, que tem cláusulas específicas para refugiados em seu estatuto, mobilizamos a SBSL de Piracicaba junto a FOP, o assunto foi levado à esferas superiores da faculdade e foi determinada a sua inclusão após uma série de considerações, avaliações e ritos. A SBSL de Piracicaba tem feito não só o apoio material, mas também o acompanhamento do seu desenvolvimento e adaptação.

Tivemos outra situação em que o refugiado O.A.A. (Reservamos o direito de colocar só as iniciais para preservar a individualidade da pessoa) esteve aqui por um período, percebemos que ele estava profundamente traumatizado com tudo que havia vivenciado, sua saída da Síria, deixando família, pátria, amigos. Fizemos tudo que estava ao nosso alcance, inclusive com o auxílio de profissionais da área da saúde física e mental, além do apoio fraternal, de amizade, carinho. Os traumas de uma guerra são devastadores ao ser humano. Sua iniciativa foi  de solicitar meios pra locomover-se à outro país, onde iria encontrar-se com uma família conhecida. De forma solidária o ajudamos com muito prazer. São exemplos de situações que a SBSL está atuante,
                                                  BANDEIRA DO LÍBANO




Na parte cultural, além dos tracionais eventos típicos, há também as aulas de árabe?

As aulas são ministradas pelo Dr. Elia Youssef Nader, libanês, advogado, e orador oficial da SBSL. As aulas tiveram inicio em agosto de 2016, são ministradas uma vez por semana, todas s quartas-feiras das 19:30 às 21 horas. Os alunos são os associados e o publico em geral. O valor das mensalidades é simbólico, um quilo de alimento não perecível que é doado a entidades assistenciais de Piracicaba. Tivemos a satisfação de recebermos a inscrição de pessoas que não tinham a menor relação com a nossa cultura ou nossos países. Isso mostra o grau de interesse que existe sobre uma região de cultura milenar. Hoje todos os nossos alunos se forem ao Líbano ou à Síria irá comunicar-se de tal forma a entender e ser entendido através do idioma. Nós sempre comemoramos o Dia Internacional da Mulher, o Dia das Mães e o Dia dos Pais. Este ano, por decisão até mesmo, de contenção de despesas, vamos fazer o Dia da Família, a nosso ver o bem mais precioso que todos têm, será no dia 28 de julho. Novembro é um mês muito especial para nós, comemoramos a independência do Líbano assim como o aniversário da Sociedade Beneficente Sírio Libanesa de Piracicaba. Uma data muito importante para nós é também a data da independência da Síria, 17 de abril, celebrada na Semana da Cultura Árabe. Este ano, no mês de abril, abrimos as portas da SBSL para qualquer cidadão que quisesse conhecer um pouco mais da cultura árabe: trajes típicos, fotografias, filmes, músicas, conhecer a nossa tradicional sede, um patrimônio tombado.

Começou no inicio de abril e estendeu-se durante o mês todo,  tivemos as missas maronita e ortodoxa, durante a semana que celebramos a cultura árabe, realizamos um jantar, fomos homenagear nossos irmãos que já partiram. Durante o mês todo de abril tivemos sempre algum evento que resgatasse a cultura, as nossas tradições, nossas origens.
                                                                   DAMASCO


Existe um projeto para ampliar a sede?

Sempre ouvi na SBSL , como diretor, e até mesmo anteriormente principalmente pelo meu pai que foi também presidente da SBSL, acredito que foi no ano de 1985. Queriam adquirir um novo local, eles viam que os sócios estavam ficando mais idosos, com isso s limitados, e na sede temos uma escada em madeira que é uma obra de arte, no entanto, pelo fato de ser uma escada com muitos degraus, dificulta o acesso de associados. Alguns presidentes de gestões anteriores buscaram soluções práticas, foram realizados estudos, até mesmo experimentos que pareciam solucionar a questão da escada. De nada adiantou. Com a devida concordância dos ex-presidentes, ex-diretores, e atuais administradores, concluímos que deveria ser dada uma solução. Foram feitas pesquisas na cidade em busca de um imóvel ideal que tornasse realidade a nossa intenção. Encontramos um terreno com quase 1.500 metros quadrados localizado a Avenida Laranjal Paulista. Já estamos trabalhando no projeto da futura construção.

O objetivo é fazer uma sede campestre ou uma sede social?

É uma sede onde pretendemos realizar algumas reuniões, realizarmos todas as nossas reuniões festivas, todos os nossos eventos, deixarmos um espaço para churrasqueira. Há ainda a perspectiva de locação do salão para eventos. O número de salões disponíveis para locação em Piracicaba é inferior a demanda. A Sociedade é Beneficente, nós pretendemos arrecadar dinheiro para poder praticar com mais intensidade a beneficência. Se alguém precisar de uma cadeira de rodas nós temos o dinheiro para adquirir. Esse tipo de solidariedade nunca deixou de existir na SBSL. Em março de 2016 fizemos doação para a Catedral de Santo Antonio. Em maio doamos leite longa vida, arrecadados no evento do Dia das Mães, foram dados para as Meninas dos Olhos de Deus de Piracicaba, adolescentes que de uma forma ou outra foram maltratados. Doamos no mesmo mês leite longa vida para a APAE Associação de Pais e Amigos de Excepcionais de Piracicaba. Nesse mesmo mês de maio fizemos a doação de 96 caixas de medicamentos conforme listagem solicitada para o Banco de Remédios de Piracicaba. Ainda no mês de maio através de colaboração com o Lions Clube Piracicaba Cruzeiro do Sul ajudamos em um evento denominado Almoço Porco na Fornalha, com a venda de convites. Em agosto de 2016 doamos 222 litros de leite longa vida, arrecadados no Dia dos Pais e doados para a Casa do Bom Menino. Fizemos uma doação para a Igreja Ortodoxa que desenvolve diversos trabalhos em São Paulo. Teve a Páscoa Forense, ajudamos adquirindo convites e ajudando em outras despesas que eles tiveram de custos. Em setembro de 2016 fizemos uma doação para a Fraternidade Cristã que assiste pessoas com deficiência. Em novembro de 2016 fizemos a doação de 444 litros de leite longa vida para a Creche Ada Dedini Ometto, resultantes de um evento que fizemos na solenidade de aniversário da SBSL e Independência do Líbano. Nesse mesmo mês fizemos uma doação para o Chá Beneficente da Associação Ilumina. Fizemos uma aquisição beneficente para o Centro de Reabilitação de Piracicaba, no mês de novembro. Em  dezembro de 2016 A SBSL fez a doação de um auxilio para a aquisição de cestas de Natal feita pela Conferência de Santo Antonio da Sociedade de São Vicente de Paula. Em maio de 2017 foram arrecadadas 180 unidades de leite longa vida , durante a Semana de Cultura Árabe e doadas à Escola de Mães. Em maio de 2017 através de compra de convites, voltamos a ajudar outro evento Porco na Fornalha, promovido pelo Lions Clube Piracicaba Cruzeiro do Sul.


                                                                    LÍBANO

Essas entidades são selecionadas com qual critério para receberem doações?

Eles normalmente encaminham um ofício. Nós também costumamos procurar junto ao Fundo Social da Prefeitura as entidades mais necessitadas. Não é uma deliberação do presidente da SBSL. Levo o assunto para uma sessão ordinária, ou convoco uma sessão extraordinária, a pauta é votada, sempre é aprovada, estamos lá pra fazer isso. Salvo algo que extrapole o que podemos fazer. Se não temos como atender integralmente, procuramos ajudar parcialmente, em caso de necessidade.

Como o senhor vê a imigração árabe para o Brasil?

Eu diria que historicamente ela é fundamental. Da mesma forma como os brasileiros contribuíram muito com os libaneses, com os sírios, com os árabes, eu acredito que nós retribuímos isso. Hoje você pode pegar em todos os segmentos: quer seja na política, medicina, engenharia, advocacia, jornalismo, nós temos uma representatividade. Vamos pensar desde o inicio, mascateamos, abrimos comércio, geramos empregos, abrimos empresas, incrementamos o comércio, a parte econômica e financeira do Brasil, assim como outros imigrantes colaboraram os japoneses, italianos, alemães, enfim toda gama de imigrantes que veio para o Brasil. Temos muito orgulho do que o nosso povo já contribuiu, contribui e contribuirá para com o Brasil. Sempre não se esquecendo da acolhida que recebemos dos brasileiros. Pessoalmente atribuo tudo à minha família aos meus filhos e a minha esposa. Sempre afirmo que ao lado de um grande homem sempre há uma grande mulher.

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