sábado, dezembro 07, 2013

ISMAEL BARBOSA DE LIMA (LILLO)


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 07 de dezembro de 2013.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/







ENTREVISTADO: ISMAEL BARBOSA DE LIMA (LILLO)

 

Ismael Barbosa de Lima ainda no berço ganhou do seu pai o apelido que muitos conhecem: Lillo. Do alto dos seus mais de 80 anos de vida trabalha regularmente em uma empresa no Distrito Industrial Leste (Unileste) em Piracicaba. Ali ele é uma espécie de coringa, cuida do almoxarifado, confere produtos que entram e saem da indústria. Dinâmico, carismático, com uma disposição invejável, com sua vivacidade fala entusiasmado do seu trabalho. Seus olhos brilham quando fala da sua família e da sua dedicação à inúmeras obras sociais que realizou na Igreja dos Frades e na Paróquia São José. É músico, ainda se apresenta em um conjunto onde executa violão elétrico, já foi cantor, hoje diz que a pigarra não deixa soltar a voz. Como artista amador apresentou-se em teatro animando a platéia com seus quadros cômicos. Segundo ele, para chegar a essa idade com tanta disposição é preciso antes de tudo estar bem com a vida. Lillo nasceu em Piracicaba, no bairro rural da Volta Grande a 10 de março de 1933. É filho de Joaquim Barbosa de Lima, natural de Minas Gerais e de Ercília Danelon Barbosa que além de Lillo tiveram a filha Rosalina, a primogênita. Lilo é casado com Dirce Zeffa Barbosa de Lima.

O sítio onde seus pais moravam pertencia a eles?

Logo que se casou papai alugou uma casinha no bairro Volta Grande, ele trabalhou como barbeiro, frangueiro. Mesmo depois que mudou para a cidade ainda “frangueirava”. O frangueiro vendia miudezas, nas férias escolares eu ia com ele no carrinho de tração animal. Levavam tamancos, colorau, pó de café, sabão, linha de costura, botão, guarda-chuva, era quase um mercadinho sobre rodas. Levava ainda muitas encomendas, naquele tempo o pessoal de sítio não tinha muito acesso a cidade. Algumas noites meu pai chegava da cidade com toda a mercadoria, ficava até as nove ou déis horas da noite, junto com a mamãe, fazendo a separação de encomendas das pessoas. Duas vezes por semana ele levava o pão, um filãozão de duzentos réis, no sítio havia o pão feito em casa, por incrível que pareça o pessoal do sítio estava tão acostumado com aquele pão queriam o da cidade. Eram panhoconas feitas em casa, uma delícia.  A condução motorizada era escassa. O carrinho do meu pai era tracionado por dois animais, tinha roda de madeira com um aro de ferro. Embaixo do carrinho havia duas gaiolas grandes onde eram colocados os frangos que ele adquiria.  Ele tinha ainda um jacá de bambu que imitava um covo, era colocado na parte posterior do carrinho, em cima do caixão do carrinho, aquilo também vinha lotado de frangos e galinhas. Ele passava no moinho do Filetti, situado na Avenida Dr. Paulo de Moraes, enchia o “caixão de querosene” com palha de arroz para calçar os ovos, não ter o perigo de quebrarem, ali vinha quatro ou cinco dúzias de ovos. Esses ovos eram vendidos em um remetente, que era quem pegava os ovos de vários frangueiros e mandava para São Paulo, para Campinas, eram vendidos no atacado, em Piracicaba ficava muito pouco. Lembro-me dos remetentes Fernando Gutierrez e Família Sanches constituída pelo casal e vários filhos, a empresa situava-se na Rua do Rosário quase esquina com a Rua Ipiranga.

Por quantos anos o seu pai trabalhou como frangueiro?

 Ele trabalhou de oito a nove anos, a linha dele era enorme, logo depois que eu nasci meus pais mudaram-se para a casa dos meus avós paternos, no bairro rural Pau Queimado. Meus avós paternos chamavam-se Ezequiel Barbosa de Lima e Ana Luiza Amaral. Meus avós maternos eram Luiz Danelon e Luiza Pessatti Danelon. Quando eu tinha três anos e meio meus pais mudaram do bairro Pau Queimado para o bairro Campestre, papai foi formar uma linha do Campestre para frente, ele frangueirava durante a semana e aos sábados e domingos atendia como barbeiro.  Fiz o curso primário no Grupo Escolar de Campestre, naquela época existiam muitas colônias: Colônia do Mineiro, Colônia da Fazenda Bela Vista conhecida também por Fazenda Dona Antonia, a Família dos Mellegas que faziam açúcar batido, a Família Schiavolin, ali era quase um vilarejo. Minha primeira professora foi Dona Nena, parece que ela era esposa de Sebastião Rodrigues Pinto, proprietário da Casa Edson, situada em frente a Catedral. Depois tive aula com Dona Helena de Almeida Dutra, essa me marcou muito, foi ela quem me ensinou a fazer versos, a recitar, ela era nossa fã incondicional, eu cantava, recitava, fazia diálogo com outra menina da escola a Ivani Meneghetti, já falecida. Fazíamos os diálogos, uma espécie de teatrinho, para as crianças era uma maravilha.  Para que eu representasse um personagem era só ter uma oportunidade. No terceiro e quarto ano primário a professora foi Olívia Valério, nós a chamávamos de Dona Vica, era irmã do diretor do grupo, Alberto Valério. Dona Vica nos ensinou também religião.  Papai comprou um terreno de um alqueire de terra e construiu uma casa. Ele atendia tanto como frangueiro ou barbeiro. Aos sábados por volta do meio dia ou uma hora da tarde já começava a chegar o pessoal da roça que vinha para cortar o cabelo, fazer a barba. Nessa época eu estava com oito ou nove anos de idade, tocava uma violinha, aprendi a afinar sozinho. Papai tinha uma viola, ele era mineiro que gostava da viola, da catira, de função de viola. Ele ia frangueirar eu pegava a violinha dele e ficava tentando tocar alguma coisa. Desde pequeninho, quando me senti por gente, andando, eu já pegava a viola do meu pai e saía arrastando.

O rádio era comum nas residências rurais?

Naquela época morávamos no mato, não havia rádio, nem energia elétrica. Usava-se lamparina de querosene e água de poço. Conclui o primário aos onze anos, papai saia para franguear eu cuidava da criação, ia “catar pontas”, naquele tempo os Mellega e os Schiavolin faziam açúcar batido íamos buscar pontas de cana-de-açúcar no canavial, trazíamos na carroça, para dar aos animais que voltavam a tarde da frangueação, picava as pontas no cocho junto com farelo, milho. Esse era o meu serviço, ia também cortar um pouco de capim, brincava bastante.

Você ia buscar essas pontas com carrinho de tração animal?

Eu mesmo engatava no carrinho a égua de nome Ruzia. Tinha outra égua de nome Surpresa. Esse nome ela recebeu pelo fato que deu origem a sua aquisição. Papai estava atravessando uma fase difícil no aspecto financeiro, naquela época havia o jogo de bicho, ele fez uma porção de números, pegou o boné da minha cabeça, jogou aqueles papeizinhos dentro do boné, chacoalhou e disse-me; “- Lillo, tire um papelzinho desses ai!”. Tirei, Ele veio para a cidade, vinha trazer ovos. Jogou no bicho, a tarde viu que ganhou o primeiro prêmio. Ele estava precisando de um animal para o carrinho, para poder continuar a franguerar, comprou uma éguinha muito esperta e colocou o nome de Surpresa, pela surpresa que ele teve ao ganhar no jogo do bicho. Tinha ainda duas mulas que ele usava, eram mais reforçadas, a égua é mais para carrinho que não leva muito peso. Para carga pesada tinha que usar burro ou mula. Uma mula chamava-se Amazonas e a outra Menina, esta foi adquirida muito novinha ainda, teve que ser dado um tempo para ela depois começar a trabalhar. O que não faltava no sítio era cachorro. Entre eles tinha um que era um viralatão. Certo dia papai estava retornando para casa, esse cachorro entrou na sombra do caixão do carrinho e cheirava os frangos que estavam na gaiola, além do pão naquele dia papai tinha uns biscoitos, ele jogou um biscoito para o cachorro. Ele acompanhou papai até em casa. Nunca ficamos sabendo quem era o dono desse cachorro, de onde ele tinha vindo, deve ter vindo da Fazenda Milhã, ou da Fazenda Vai-e-Vem, daqueles fundos lá. Era um cachorrão grande, ficou um mestre, chamava-se Avião. Tinha outro cachorro de tamanho médio, era fraco, colocamos o nome de Malandro nele, ele não fazia nada, era folgado. E tinha uma cachorrinha chamada Saa (Com dois a). Depois vieram outros cachorros.

 

Quando sua família veio para a cidade?

Logo que terminei o primário meu avô paterno faleceu, ele tinha um Box no Mercado Municipal onde comercializava fumo. Meu pai acabou adquirindo da minha avó esse box. Mudamos para a Rua Floriano Peixoto, 558. A casa era alugada por Batista Rapetti. Ele permaneceu um bom tempo ali, mas não se adaptou, resolveu frangueirar de novo, adquiriu um caminhãozinho, um Chevrolet 1928. Esse caminhão só lhe deu dor de cabeça. Vendeu o Chevrolet e comprou um Ford. As despesas eram bem maiores do que era no tempo em que trabalhava com carrinho de tração animal. Surgiu uma vaga para trabalhar como motorista no Lar dos Velhinhos de Piracicaba era para dirigir uma caminhonete zero quilometro. Luciano Guidotti era o provedor do Lar dos Velhinhos, ele que falou com papai, eram muito amigos. Papai trabalhou lá até falecer, ele era motorista, fazia a barba, cortava o cabelo, ele dava banho, fazia curativos. Foi muito útil para o Lar dos Velhinhos. 

Nesse período qual era a sua atividade?

Alguns dias após mudarmos para a cidade fui trabalhar na casa de loucas e utilidades de propriedade de Batista Rapetti, ficava na Rua Governador Pedro de Toledo, 1512, esquina com a Rua Ipiranga, em frente ao Grupo Escolar Barão de Rio Branco. Por dois anos trabalhei lá. Aos onze anos e meio eu era balconista. O Batista Rapetti saia, ia caçar, junto ia seu amigo, dono do Café Triângulo. Na loja ficava a esposa dele, eu e um sobrinho dele chamado Adolfo Beismann, que era um pouco mais velho de que eu. Nós vendíamos e muitas vezes a patroa estava lá dentro da casa nós a chamávamos: “- Dona Carmem!” O nome dela era Carmem Vitória. Ela e seu marido moravam no fundo da loja, ela cuidava da casa, nós dois atendíamos o cliente, vendíamos, sabíamos o preço de tudo. Quando a venda estava feita nós a chamávamos, dizíamos o que o freguês estava levando. Ela aprovava a venda, nós então embrulhávamos as compras. Naquele tempo era tudo no barbante. Não existia durex. Tinha dois rolos de barbante preso e um suporte giratório, ficava em cima do balcão. Embrulhávamos a compra em um jornal, passávamos o barbante cruzando um fio sobre o outro. Não existia sacola plástica, alguns fregueses traziam uma sacolinha de pano com duas bocas, era o chamado “piquá”. As louças eram colocadas em um lado e outros materiais em outra boca do piquá, para não ter perigo de quebrar a louça.

Vendia muitos presentes para casamento?

Vendia! Na época de maio, junho, quando eram celebrados bastantes casamentos vendia-se muito. O Rapetti tinha grande variedade de presentes. Estavam em moda as licoreiras. Um escolhia com alça, outro escolhia com bandeja, o presente para casamento era embrulhado com papel de presente, mas preso com barbante.

As mercadorias vinham pela estrada de ferro?

Vinha pela Companhia Paulista e pela Estrada de Ferro Sorocabana. Eles entregavam na loja. Não sei por quais cargas d’água ele liquidou a loja. Acredito que seja porque estava bem de vida, tinha várias casas de aluguel, sítio em Santa Maria. Com isso perdemos o emprego. Naquela época ganhávamos cento e cinquenta mil réis por mês, eu já estava com 14 anos. No último dia Batista Rapetti nos chamou, pagou nosso salário e deu uma gratificação de duzentos mil réis. Para nós foi como ganhar na loteria esportiva. Meu pai construiu uma casa na Avenida João Conceição, onde por muito tempo foi a Alvarco. Era um terrenão enorme, papai foi um dos primeiros a comprar terreno ali, era do Pacheco Chaves.

Qual foi o seu novo emprego?

Quando o Batista Rapetti parou de trabalhar consegui um emprego no bar em frente a Estação da Paulista. Naquele sobrado que existe até hoje, na esquina da Rua Boa Morte com a Avenida Dr. Paulo de Moraes. Era do Augusto Amstalden, meu tio e padrinho. A esposa do Augusto era irmã da mamãe. O bar fica embaixo e ele morava na parte superior. Quanto sorvete eu fiz ali! Sou de estatura pequena, para servir o sorvete tinha que me debruçar com a barriga sobre o primeiro corpo para alcançar o butijão de sorvete que ficava no segundo corpo. Trabalhei dois anos e meio lá, sem férias, funcionava sem parar, de segunda a segunda.

Qual era o sorvete mais requisitado?

Saía de tudo! Um tio meu, Francisco Danelon, conhecido na cidade por “Tio Chico”,  não media para fazer o sorvete, calculava pela vasilha, às vezes não dava certo. Eu dizia:

  “Tio precisa medir, precisa pesar o açúcar, o senhor está colocando a vontade!”. Como balconista ele era um espetáculo. A limpeza do bar, ele fazia tudo. Ali era servido café, sorvete, lanches. O lanche daquele tempo era uma bengala cortada com a faca, colocava mortadela, salaminho ou queijo. Estava pronto! Não existia chapa, não aquecia. Era lanche frio. Vendia demais! Naquele tempo não existia a Viação Piracicabana, existia a empresa Atilio Gianetti que era carro de praça (Taxi) que levava clientes para São Paulo.  Não existia a AVA que ligava Santa Bárbara, Americana e Campinas a Piracicaba. O trem era o único meio de locomoção, o pessoal de Santa Bárbara e Americana vinha fazer compras em Piracicaba, essas duas cidades eram muito pequenas. Dá para imaginar o movimento que tinha o bar em frente a estação.

Quais eram os horários de partidas e chegadas dos trens?

O primeiro trem saia as 6:35, não sei porque não saía as 6:30 ! Às 9:50 ou 9:55 chegava o trem que vinha de São Paulo, era feita a baldeação em Nova Odessa. Às 14:25 saía outro trem para São Paulo, era o hora que tinha o maior movimento, o pessoal não queria ir embora muito tarde, tinham vindo fazer compras em Piracicaba. O trem das duas e vinte cinco era uma loucura. Eu chegava a ficar com o guarda pó melando de sorvete, de leite. Era servido café, leite, sorvete, lanche, tudo de uma vez só. E o pessoal tinha pressa, queria pegar um lugarzinho no trem, sentar. Às vezes ia gente até no estribo do trem. O Augusto Amstalden ganhou muito dinheiro. As 21:50 chegava um trem de São Paulo, a tarde não vinha trem, a não ser que fosse algum trem especial, algum acontecimento extra. O Augusto não me chamava de Lillo nem Ismael, ele dirigia-se a mim dizendo Jéi. Esse era o apelido do Joel, outro sobrinho. Ele dizia: “-Jéi! O trem está chegando! Pega o bule de café, pega o leite!” O pessoal saía do trem morto de fome. Eles tinham saído de São Paulo em um horário que não tinha como jantar. Quando esse pessoal ia embora o Tio Augusto me dizia: “-Jéi! Abaixa as portas, precisa lavar o salom!”. Embora fosse descendente de suíços ele conviveu com os italianos da Nova Suíça, onde noventa por cento era de descendentes de italianos. Eles tinham o sotaque então diziam: canecom, rojom, cachorrom, tudo com “om”. Às vezes estava na metade da lavagem do salão, batiam na porta, diziam: “- Dá para servir um lanche?”.  O freguês entrava, aquela água do chão ia enxugando, tinha que jogar mais água. Eu saía do bar a meia noite, uma hora da manhã.

Você morava onde?

Morava na casa em que resido até hoje. Meu pai que a construiu, ele adquiriu o terreno de José Passari, que foi proprietário do Posto de Gasolina do Pampaluche (Panfiglio Passari), situado no inicio da Avenida São Paulo. Hoje conhecido como Posto Sabadim. Pelo cálculo que fiz faz 65 anos que moro aqui, nesta avenida, neste número. Essa casa foi reformada por três vezes. Ampliada. Posso afirmar que meia Piracicaba conhece o Lillo. (CONTINUA)

PEDRO CALDARI


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 30 de novembro de 2013.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/



 
ENTREVISTADO: PEDRO CALDARI

 

Pedro Caldari estará lançando em dezembro próximo um livro em que conta a história da Igreja Imaculada Conceição, também conhecida como Igreja da Vila Rezende. Meticuloso em suas pesquisas faz entre outras revelações a de que o projeto da antiga matriz da Vila Rezende foi do arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo. Pedro Caldari nasceu em Piracicaba, mais especificamente na Vila Rezende a 5 de setembro de 1938. Filho de Ricieri Caldari e Catarina Furlan Caldari, ambos piracicabanos e filhos de italianos originários de Padova. Seus Avós paternos são Pedro Caldari e Carolina Botene Caldari, os avós maternos são Tereza Gallina Furlan e Angelo Furlan.

O seu vinculo com a Vila Rezende sempre existiu?

Nasci e fui criado na Vila Rezende, na antiga Avenida Salaz hoje denominada Avenida Mário Dedini. A casa em que nasci transformou alguns anos depois em mais um galpão das Indústrias Dedini, digo que nasci dentro da Oficina Dedini ! Minha vida toda, inclusive profissional sempre foi vinculada com a Vila Rezende. Estudei o curso primário no Grupo Escolar José Romão, o professor era Leontino Ferreira de Albuquerque, um educador que tinha um amor profundo pelo ensino, contribuiu muito para a formação de centenas de vila-rezendinos.

Após concluir o curso primário qual foi a escola em que você foi estudar?

Fui fazer a “Universidade do Zanin” ! Era assim que nós chamávamos na época a Escola Técnica de Comércio Cristóvão Colombo do professor Pedro Zanuardo Zanin. Situava-se na Praça José Bonifácio, ocupava a sobreloja e nos fundos tinha uma parte da escola que ocupava o térreo. Embaixo de um lado havia um cartório, do outro lado era o estúdio do Cantarelli. Ao lado do cartório existia a Bomboniére do Passarelli, ao lado dele era o Cine Politeama. Antes de funcionar o cinema havia um restaurante que foi demolido para dar lugar ao cinema. Na parte do fundo do cinema havia um salão de snooker. Era o Snooker do Jacaré. Quando o cinema ampliou o Jacaré mudou o snooker para a Rua XV de Novembro atrás da Catedral de Santo Antonio. Lá também era um corredor onde no fundo havia um salão grande. Ali era o principal reduto dos amantes do snooker. Era frequentadíssimo era onde se encontravam os bambas do snooker.

Qual era o meio de transporte utilizado por você para vir da Vila Rezende até a escola de comércio?  

Era o saudoso bonde que infelizmente desapareceu, poderia perfeitamente estar funcionando até hoje, como existe em muitas partes do mundo. Tinhamos três linhas de bonde em Piracicaba: do centro até a Vila Rezende, do centro até a Escola de Agronomia e do centro até a Paulista, essas três linhas se interligavam.

A linha de bonde que da Vila Rezende tinha um desvio, onde exatamente era?

Esse desvio ficava na Rua do Rosário proximo a esquina da Rua Prudente de Moraes, posteriormente passou para a Rua Campos Salles proximo onde hoje existe o viaduto da Rua do Rosário, isso ocorreu quando aumentou-se o número de viagens do bonde. Um bonde vinha da Vila Rezende até a catedral, outro saia da catedral e ia até a antiga estação de trens da Estrada de Ferro Sorocabana que ficava nos confins da Vila Rezende, na Avenida Conceição! Hoje é o início do bairro São Luiz. Chamava-se Estação Barão de Rezende, ficava uns 200 metros depois do Armazém do Valler. Para situar-se melhor, nos dias atuais uns 200 metros adiante de onde hoje há um posto de gasolina, que até ha pouco tempo era de propriedade de Alzira Valler.

Em que ano você concluiu a escola de comércio?

Em 1956 após estudar por quatro anos que equivalia ao ginásio e três anos de curso técnico de contabilidade. Foram sete anos de estudo na Escola de Comércio Cristóvão Colombo, que foi uma grande formadora de contabilistas. Piracicaba tornou-se bastante conceituada por ter bons contabilistas. Os professores que lecionavam nessa escola eram também professores do Sud Mennucci, do Instituto Piracicabano, da própria ESALQ, não só acadêmicos como também catedráticos dessa escola.

Em qual horário você frequentou a Escola do Zanin? 

Inicialmente estudei na parte da manhã, depois por força da necessidade de trabalhar fiz o curso noturno. Comecei a trabalhar em uma idade que se hoje for falar torna-se um escandalo, mas na época não era. Entrei na CODISTIL quando ainda era a antiga Oficina Perissinoto, o fundador foi Augusto Perissinoto, quem deu continuidade após o falecimento do pai foi Waldomiro Perissinoto que posteriormente com o apoio de Mário Dedini passou a constituir a CODISTIL, Construtora de Destilaria Dedini Ltda, uma marca famosa internacionalmente no setor sucroacooleiro. Comecei a trabalhar na CODISTIL quando eu tinha nove anos de idade. Meu chefe imediato era Palmiro Berno, chefe do almoxarifado. Minha primeira função foi de endireitador de pregos. Na época os aprrendizes eram admitidos quando estavam saindo praticamente do curso primário, isso se dava tanto no comércio como na indústria.A ocupação que se dava à quem estava iniciando eram as mais diversas. As mercadorias vinham para as empresas em caixotes de madeira, não se desperdiçava essa madeira, o próprio caixote as vezes era reutilizado ou era desfeito e a madeira aplicada para reuso. Os produtos importados vinham em caixotes de pinho de riga. Naquela época já reaproveitava-se tudo. Digo com muita propriedade que trabalhar desde pequeno não só é salutar, como também de um benefício enorme. Nada melhor do que o trabalho para educar, dar sentido de valor, formar a personalidade, disciplina, despertar o civismo e patriotismo, enfim todos os aspectos do individuo são moldados para transforma-lo em um verdadeiro membro da sociedade. Na época eu e o Augusto Perissinoto tinhamos a mesma idade ele era sobrinho do Waldomiro Perissinoto. Após uma breve passagem endireitando pregos a próxima ocupação foi a de office-boy, onde começou uma iniciação à àrea administrativa, distinguido papéis, destinatários, levar e trazer na devida ordem e cuidado. Aos 17 anos de idade me formei como Técnico em Contabilidade, embora habilitado eu não podia assinar balanços, não tinha atingido a maioridade, mesmo sendo um dos contadores da oficina do Perissinoto, no escritório eramos um grupo de seis funcionários, na oficina trabalhavam de 100 a 120 funcionários, já era uma das associadas do Grupo Dedini. Foi o meu único emprego até a minha aposentadoria, no ano 2000.  Permaneci na empresa por 52 anos. Entrei endireitando prego e saí como diretor finaceiro e administrativo da Dedini S/A  - CODISTIL. Mário Dedini foi uma figura empresarial de grande relevância não só para a economia mas também para a sociedade, para o desenvolvimento urbano, político de Piracicaba.Ele teve uma atuação marcante.

A vocação sucroalcooleira de Piracicaba tem suas origens com o Dedini?

Graças a Mário Dedini que surgiu essa vocação. A capacitação industrial de Piracicaba deve-se quase em sua totalidade à Dedini. Não só a Mário Dedini que esteve a testa dos negócios dessa empresa até o seu falecimento em 1972. De 1920 a 1972 Mário Dedini teve uma atividade intensa, o desenvolvimento industrial de Piracicaba esteve atrelado a ele. Evidentemente ele não teve participação no ramo automobilístico. Mesmo as indústrias mecânicas que vieram a participar do esforço automobilístico praticamente foram tuteladas pelo Grupo Dedini. A maioria dos empresários desenvolvimentistas, empreendedores, tiveram seu iniciao como empregados, aprendizes, na Dedini, assim como eu. Receberam de Mário Dedini incentivo e apoio, foi uma incubadora de empresas.   

Você tinha tempo para brincar?

Também brincava! Morando na Vila Resende, desde que aprendi a andar nas ruas do bairro e adjacências do Rio Piracicaba aquilo tudo era nosso quintal! Não havia preocupação, a qualquer hora do dia ou da noite estávamos ali, com jogos infantis, brincadeiras inocentes, correndo atrás dos vagões de cana-de-açucar na época de safra, tudo isso era o nosso parque de diversões. As ruas eram de terra, não tinham calçamento, a Avenida Rui Barbosa era de terra assim como as ruas adjacentes. Não havia a distinção de direção de ruas, era caminho de veiculos, pessoas e animais. Quando chovia era o lamaçal de sempre.

Onde era a chacara do Dr. Kok?

Em frente a Igreja da Imaculada Conceição, onde hoje há um jardim, aquele quarteirão todo era murado e pertencia à Chacara do Dr. Kok, administrador do Engenho Central, uma figura exponencial. Ele era dinamarquês.  A entrada ficava em frente a Igreja Matriz da Vila Rezende, era um portão de ferro, vazado.

Quando foi construída a Igreja Imaculada Conceição?

Começou a ser construida em 1904, agora em 2014 iremos comemorar 100 anos de inauguração da Paróquia da Imaculada Conceição que se deu em 1914. A igreja nasceu da vontade de Dona Lidia de Rezende, filha do Barão de Rezende, Estevam Ribeiro de Souza. Ela construiu a igreja para honrar a memória dos irmãos Luis e Estevam de Rezende que faleceram prematuramente. O Barão de Rezende custeou  a construção da igreja, doando as terras e recursos financeiros. Praticamente toda a Vila Rezende fazia parte da então Fazenda São Pedro, pertencente ao Barão de Rezende, natural do Rio de Janeiro e que tinha se casado com Ana Conceição, filha do Barão de Serra Negra. O Barão de Rezende contratou o projeto arquitetônico e de engenharia à Ramos de Azevedo, que projetou e assumiu a responsabilidade da construção. Foi um dos poucos projetos, senão o único, de templo religioso, católico, que o Ramos de Azevedo assinou. Uma preciosidade arquitetônica e histórica sem precedente.  Que infelizmente se perdeu.  Meus pais casaram-se nessa igreja, eu fui batizado nela, casei-me nela, parte dos meus filhos ali foram batizados.

Pedro. você foi da primeira turma formada pela UNIMEP?

Tive esse previlégio. Em 1964 com um grupo de aproximadamente 248 ingressantes no curso da famosa ECA – Economia, Ciencias Contábeis e Administração, nascedouro do ensino superior no Instituto Piracicabano. Me formei em 1967 era ainda no prédio central da Rua Boa Morte.

Além das suas atividades profssionais, você participa de atividades sociais e filantrópicas de Piracicaba.

Fui um dos primeiros a ser admitido pelo Rotary Club Piracicaba - Vila Rezende, onde permaneci por mais de 20 anos e por duas vezes fui presidente.  A reunião dava-se no Restaurante Grisoto. Fui diretor do Clube de Campo de Piracicaba. Fui diretor do Lar dos Velhinhos de Piracicaba, onde tive a satisfação de colaborar na administração. Tenho um carinho muito grande por essa instituição.

Você é um artista plástico com diversas exposições realizadas.

Tenho algumas centenas de quadros que pintei. Fiz muitas pinturas de natureza morta, aves, em especial pássaros. Usei muito óleo sobre tela, gostei muito do crayon, grafite e do pastel seco, que é uma técnica que se pinta com os dedos.

Quando está pintando uma obra qual é a sensação do artista?

Confesso que as vezes não penso em nada e outras vezes penso em tudo. Acho que o espírito nesse momento se despreende e vaga por muitas dimensões. O artista plastico, assim como o escritor, o musico, quando mergulha em sua arte passa a viver em outra dimensão.

Quando você escreveu sua primeira obra?

É dificil dizer quando comecei a escrever. A partir do momento em que se é alfabezido começa-se a escrever. Tive excelentes professores de português e literatura: Benedito de Andrade, Benedito Cotrin e outros que me  incutiram o hábito da leitura. A pessoa começa a se realizar a partir do momento que começa a transmitir conhecimentos que ela adquiriu, aprimorou e passa adiante. Transmite para outra pessoa o desejo de aprender e de também ensinar.  O aprendizado nunca termina. Fora as muitas peças contábeis, pareceres, justificativas, requerimentos, ofícios e cartas, escrevi dezenas de artigos publicados em jornais. Meu primeiro livro foi Memória da Vila, nessa época eu escrevia para mim mesmo, muitos desses escritos acabaram perdidos. Como colaborador,escrevia para os jornais de Piracicaba. Em uma das reuniões do Rotary, Fortunato Losso Netto, do Jornal de Piracicaba, disse-me: “- Pedro, vamos ter a semana da Pátria, o Rotary irá dar algumas contribuições, patriótica, idelaista. Faça-me um artigo sobre Semana da Pátria”. Nisso um rotariano nato, vila-rezendino, Professor da ESALQ, Ernesto Paterniani, disse-me: “- Pedro, estou aqui reunindo uma colaboração para a Vila Rezende!”. Fiz meu artigo, estava temeroso, sem pretensão. Encabeçando as comemorações da Semana da Pátria, vi meu artigo, logo abaixo do título da matéria. Um belo dia esatava proxima alguma data festiva, alguém do jornal me pediu para fazer um artigo sobre a Vila Rezende, escrevi. Teve uma repercussão excelente. A noite em casa, fiz a primeira crônica sobre a Vila Rezende. Lí, minha esposa leu e disse-me: “-Você esqueceu de fulano.” Nessa história de ter esquecido, trinta dias depois eu tinha um calhamaço de folhas. Em trinta dias tinha escrito o primeirto volume! Isso foi em 1988. Datilografei, me atrevi a ir até Cecílio Elias Neto. Eramos companheiros da ECA. Ele começou a ler. Disse-me: “-Pedro, não sabia que você escrevia!”. Ele me incentivou a publicar. Publiquei pela Edições Paulinas, de São Paulo. O lançamento foi feito no salão paroquial da Vila Rezende. Com prefácio de Cecílio Elias Neto. Em 1991 fiz o segundo volume. Publiquei o terceiro livro, “O Cantar do Passarinho”. Sempre gostei do papacapim, o piracicabano é um fervoroso apreciador do canto do papacapim. Quando surgiu a idéia do vereador Capitão Gomes em criar a ave simbolo de Piracicaba eu o procurei e disse-lhe que para o piracicabano o papacapim é o pássaro simbolo da cidade. O livro seguinte que publiquei foi; “50 Anos do Clube de Campo”. Foi um trabalho que me deu uma enorme satisfação por resgatar o passado do Clube de Campo, isso foi em 2004.

Após esse livro, você lançou algum outro?  

Fiz o terceiro volume de Memória da Vila, que deverá ser lançado no inicio de 2014. Outro que já está saindo da gráfica e deverá ser lançado ainda este ano, é “100 Anos da Paróquia Imaculada Conceição”, tive a satisfação de ser convidado para escrever esse livro. Além dos relatos que eu guardo em minha memória, busquei os livros tombos da paróquia.

Como o interessado pode adquirir um livro desses?

Deve procurar a Paróquia Imaculada Conceição! O escritor que não faz literatura de consumo de massa, que não é industrializado,  encontra dificuldades para publicar.

Você foi presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba em que períodos?

Meu primeiro mandato foi em 1994, após um ano poderia ser reeleito, mas fiz questão de transferir a presidência para o Professor Frederico Pimentel Gomes. Em 2008 assumi a presidência do IHGP, após dois anos fui reeleito em 2010, exerci a função até 2012.

Como você vê o mundo que o cerca?

Eu me caracterizo como  “O Inconformado”, fiquei felicissimo quando da vinda do Papa Francisco ao Rio de Janeiro, não perdi uma fala dele. No dia em que ouvi sua expressão dirigindo-se aos jovens, dizendo: “ -Seja um inconformado, sempre! É do inconformismo que encaminhamos para a perfeição e para a maior aproximação com o nosso Criador!”.    O Papa em sua suma sabedoria manifesta-se dessa maneira, clara e simples, fácil de ser entendida. O dia em que deixarmos de sermos inconformados veremos que a nossa liberdade sob todos os aspectos começou a se findar. Um artista plástico, por exemplo, é um trnsformador. Ele pega uma tela em branco, ou uma folha de papel, ao começar a borra-la, ele estará colocando ali imagens, simbolos, com origem nas profundezas do seu subconsciente. Estará reproduzindo conhecimentos que aprendeu e adicionando seu inconformismo. Se concordar com tudo de nada adianta ler jornal todos os dias.

 

 

 

 

ALICE CALÇAVARA BONAMIN


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 23 de novembro de 2013.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
 


ENTREVISTADA: ALICE CALÇAVARA BONAMIN

 

Alice Calçavara Bonamin nasceu a 13 de setembro de 1930, no então distrito, hoje município de Saltinho, filha de Carlos Calçavara e Maria Packer Calçavara, agricultores, cultivavam cereais: arroz, feijão, milho. A plantação de cana-de-açúcar ainda não tinha as atuais extensões. Carlos Calçavara era arrendatário de uma área de um sítio no sistema de plantio “a terça”, onde o proprietário da terra tinha dois terços do que era produzido na terra arrendada e quem a cultivava tinha o terço restante. Alice é a filha mais velha do casal Carlos e Maria, que tiveram ainda os filhos: Isaura, Fernando, Antonia Benedita, Luiz, Reinaldo e Mário. Alice freqüentou a escola rural até o quarto ano primário, ainda lembra-se do nome da sua professora Maria Antonieta Moraes Dias. Seus avós maternos, Judite e Luiz Packer eram imigrantes alemães. Sua avó sempre contava que veio junto com eles uma cunhada dela, não tinham onde ficar, o que comer e nem o que vestir. A sua bisavó desmanchou um guarda chuva e com o tecido fez um vestidinho para a menina. Isso ocorreu no Brasil. Estabeleceram-se em um sítio na localidade rural denominada Carrinho Leite, próxima ao Arraial São Bento, município de Piracicaba. Ali moravam seus tios e tias, todos da família Packer. Eram nove irmãos.

Como a senhora ia para a escola?

A escola ficava a uns dois quilômetros da minha casa, algumas crianças que eram nossas vizinhas formavam conosco um pequeno grupo e caminhávamos pela estrada de terra, quando chovia íamos amassando o barro.

Com que idade a senhora começou a trabalhar no sítio?

Desde pequena! Quando fiz quinze anos meu pai arrumou um serviço para mim em Piracicaba. Vim trabalhar para uma família de italianos, Júlio Vizioli casado com Emília Vizioli, com eles residia também o pai do Júlio, Emílio Vizioli. Moravam na Rua Benjamin Constant, junto a esquina da Avenida Dr. João Conceição, onde havia o bar de propriedade de Alcides Saipp, A área ocupada pelo bar e pela casa deu lugar ao posto de gasolina que existe atualmente. Na outra esquina, era o armazém do dos sogros do Alcides, o José Del Tedesco e Elza Del Tedesco. Nesse emprego permaneci por oito anos, até me casar. Naquela época aquele trecho da Rua Benjamin Constant era de terra, sem calçamento. Era uma camada de terra solta. Ali passavam muitas conduções, só havia aquela saída e a da Rua do Rosário, quando passava algum veículo levantava uma poeira vermelha, quando chovia formava barro. Era horrível.

A senhora morava com essa família?

Morava. Freqüentava a Igreja dos Frades, as vezes ia a reza a noite e aos domingos sempre ia a missa, umas seis e meia ou sete horas da manhã. Um dos frades que realizava a missa era Frei Liberato de Gries. Naquela época as mulheres cobriam a cabeça com um véu quando iam assistir uma missa. Se fosse solteira usava véu branco, as casadas usavam véu negro. Eu trabalhava os sete dias da semana, algum domingo, eu ia para o sítio na casa dos meus pais. Meu trabalho era lavar e passar roupas, fazer faxina na casa. Era uma casa grande, com quatro dormitórios, enorme. Sempre fui considerada como se pertencesse a família, sentava a mesa com eles, tinha o meu quarto em um dos dormitórios da casa.

Lembra-se do trem da Companhia Paulista?

Lembro-me sim! Passava pelo pontilhão sobre a Rua Benjamin Constant, formávamos um grupinho de meninas, da minha idade mais ou menos, aos domingos íamos até a Estação Paulista, ver o trem sair, aquele povo todo. Os passageiros colocavam vestiam roupas de passeio, bem arrumados. Era habito ter a roupa de passear e a roupa de trabalho. Lembro-me que na casa onde trabalhava tinha um toca discos onde eles colocavam discos com músicas italianas. No início eu não entendia nada, com o passar do tempo de tanto ficar lá escutando acabei entendo bem, não falava italiano, mas passei a entender.

Qual era a comida habitual?

Era uma delícia! Comiam muita massa: macarrão, nhoque. Algumas vezes adicionavam carne ao molho, outras vezes era só molho feito com gordura de porco, colocavam muito queijo. Tudo era cozido no fogão a lenha. Não havia botijão de gás e nem fogão a gás. Com o passar do tempo compraram um fogão elétrico, era muito lerdo.

A que horas a senhora levantava?

Às seis, seis e meia da manhã. Quando eu ia lavar a frente da casa, que era muito grande levantava bem cedo, o sol logo ficava muito forte. A água era encanada, só que não existia o hábito de usar mangueira, usava-se balde. Tudo era muito bem esfregado sem o uso de sabão, apenas água e esfregão. O piso interno da casa era tacos de madeira, após encerar tinha que lustrar usando um escovão pesado. Quanto escovão eu puxei naquela casa! Deixava brilhando! Quando a beirada do assoalho ia ficando meio escura utilizava uma palha de aço para tirar o excesso de cera acumulado. Era uma casa muito grande, serviço para mais de uma pessoa. Na entrada casa havia uma escada de mármore branco, o piso do jardim era de quadriculado feito com mármore preto e branco que formavam desenhos. Tudo era esfregado utilizando apenas água,vassoura e escova, deixava tudo muito bonito. Eu mandava quase todo meu salário para a minha mãe. Foi uma vida de muita luta. Permaneci lá por oito anos.

Como a senhora conheceu seu marido Júlio Bonamin?

Na época moças e rapazes circundavam a Praça em frente a Catedral, dizia-se “quadrar o jardim”, eu ia até a praça com umas primas do Júlio, tínhamos muita amizade, que mantemos até hoje,  são elas a Paula, Natividade , Maria Luiza, todas da família Possignolo. Existia o Café Imperial na Praça, o Júlio estava parado na esquina, eu passei ele olhou, perguntei para minhas amigas: “-Quem é esse moço?” . Elas responderam; “- Nosso primo!”. Isso foi em um dia de Santo Antonio. Fazia tempo que ele estava tentando falar comigo. Eu tinha medo, naquele tempo é bem diferente do que é hoje. Naquele dia ele veio conversar comigo, demos uma volta pela Rua Governador Pedro de Toledo, já era namoro! Quando fui embora ele me acompanhou até um pedaço do caminho. Tudo isso a pé. Quando eu ia de bonde para o centro levava trezentos réis, cem réis eram para o saquinho de pipoca e duzentos réis eram para pagar a ida e a volta de bonde. Se sentisse sede não tomava nada. Mas era tudo muito gostoso. Namoramos assim por cinco anos. Algumas vezes, íamos ao Cine São José. O Júlio nasceu a 19 de agosto de 1929.

Nesse período de namoro a senhora conheceu a família do seu futuro marido?

Seus pais moravam em uma propriedade rural no Bairro São Jorge, logo adiante de onde hoje é o terminal de ônibus daquele bairro. Da cidade até lá era perto, vínhamos a pé, era estrada de terra, quando chovia virava lama, ao chegarmos na cidade tínhamos que lavar os pés onde fosse possível, colocava o sapato sujo de barro em saquinho e levávamos conosco. Nem o Morro do Enxofre (Avenida Madre Maria Teodora) tinha qualquer tipo de calçamento ou asfalto. Os filhos mais velhos estavam morando na cidade, os solteiros moravam com os pais. Quando conheci o Júlio ele fazia horta, lá mesmo no sítio onde moravam e entregava no Mercado Municipal. Plantava todo tipo de verduras, legumes.

Em que dia vocês se casaram?

Foi no dia 26 de setembro de 1953 na Catedral de Santo Antonio. Fomos morar junto com a minha sogra chamada Tereza Possignolo Bonamin e do meu sogro Ângelo Bonamin. Naquele tempo era comum os filhos ou filhas que casavam ir morar com os pais, as casas eram grandes. Meu marido era o caçula, tinha que ficar junto aos pais.

Por quanto tempo a senhora e o seu marido permaneceram no sítio?

Permanecemos por três anos. Em 1956 mudamos para a casa que o Júlio mandou construir, na Avenida Dr. Edgard Conceição. Na Paulista não havia água encanada ainda, o Júlio fez um poço, comprou uma bomba que extraia água do poço e levava para um reservatório que servia a casa. O encanamento dentro de casa já existia e funcionava com a água do reservatório. A Rua Dr. Edgard Conceição era de terra nua, para chegar ao leito carroçável havia um barranco onde hoje é calçada. Às vezes eu olho e não consigo entender como ficou nivelado com a rua. Havia poucas casas vizinhas a nossa. Na esquina da Avenida Dr. Edgard Conceição com a Rua do Rosário o Alcides Saipp já tinha montado uma pequena loja de louças. A casa situada ao lado direito de quem olha para a minha casa foi construída antes de nós pela família Roel, do lado esquerdo havia uma casa de propriedade do Gepp (Como era conhecido o lendário José Tozzi). Em frente a nossa casa tem uma casa que na época pertencia à Dúlio Granja (casado com Zoraide Granja), que deixava seu cavalo em um terreno na esquina da Avenida Dr. Edgard Conceição com Rua Sud Mennucci. Na Esquina da Avenida Edgar Conceição com Rua do Rosário já tinha o sobrado da família Nassif. Do outro lado da rua, na esquina também, a residência e o comércio de Isidoro (Nenê) Lopes já existia também. A casa situada em frente a agência do Banco do Brasil, na Avenida Dr. Edgard Conceição já existia e nela morava um senhor a quem chamavam de Patrício. Na Rua Sud Mennucci, aonde mais tarde veio morar o Fustaíno, havia uma Santa Cruz. Quando mudamos para esta casa já tinha nascido minha filha Elisabete. Meu filho Antonio Carlos nasceu quando a minha filha já tinha quatro anos.

Além de cuidar da casa e dos filhos a senhora tinha mais alguma atividade?

Eu costurava camisas para a Casa Três Irmãos, de propriedade dos irmãos Ermelindo, Mário e Otávio. Os funcionários vinham trazer os cortes de camisa em uma bicicleta. Eles forneciam a linha, os botões eu não pregava. Vinha todas as camisas já cortadas era só passar na máquina, a minha era uma máquina Elgin, de pedal. Cheguei a fazer 60 camisas em uma semana. Após algum tempo parei de costurar para a Casa Três Irmãos. Comecei a costurar diretamente para os fregueses, ai eu tinha que cortar o tecido, pregar botões. Aumentei minha renda.  Aprendi tudo na raça, não fiz nenhum curso. Eu tirava a medida por outra camisa que a pessoa já tinha. Até hoje ainda tenho clientes que pedem para costurar uma camisa.

Qual era a atividade do seu marido quando mudaram para a cidade?

Ele foi trabalhar como torneiro para o meu cunhado, Oscar Chiarotti, na Conger, que na época ficava na Avenida São Paulo. Meu marido aprendeu a trabalhar com torno por iniciativa própria, não freqüentou nenhum curso para aprender. Teve uma época que além do almoço eu mandava também o jantar, ele trabalhava também a noite. Havia um senhor que levava a marmita em uma cestinha, ao lado colocava uma fruta ou um pão. (Da. Alice mostra um martelo de aço inox, todo trabalhado, feito pelo seu marido. É uma peça rica em detalhes). Meu marido faleceu em 1995, permanecemos casados por 42 anos.

Na Paulista, logo que a senhora mudou havia muitos terrenos vazios?

Existia sim, e muitos eram utilizados para montarem circos que se apresentava na cidade. Próximo aonde hoje é o Wall Mart existia um largo onde os circos se apresentavam. Onde hoje é o Banco do Brasil, na Avenida Dr. Edgar Conceição, foram montados alguns circos. No terreno baldio que havia na esquina da Rua Da. Jane Conceição com Rua do Rosário, atualmente ocupado por diversas lojas, era um local onde diversos circos e parques foram armados. Ao lado, havia o açougue do Toninho Scarpari, eu comprava carne lá. Não existia padaria por perto, a mais próxima era a Padaria São João, de propriedade de João e Dirce Rossi, localizada na primeira quadra da Rua Alferes José Caetano, logo depois da Avenida Dr. Paulo de Moraes. O prédio existe até hoje. Saíamos da igreja, pegávamos o pão e vínhamos para casa. Havia também a Padaria Cruzeiro, situada na Avenida Dr. Paulo de Moraes. A Mirtes Novelo era a dona da padaria casada com o Guido Sachs.  O Corpo de Bombeiros de Piracicaba ficava do outro lado da rua, uma quadra a frente, na direção de quem vai para a Avenida 31 de Março. A Bica do Morlet era um local onde muitos iam buscar água. Ela existe até hoje, fica na Avenida Dr. Paulo de Moraes, junto ao pontilhão da Rua da Glória.  Onde hoje é varejão era um matagal. Em frente a Padaria Cruzeiro onde existe até hoje uns barracões (Toninho Lubrificantes) era a Serraria do Chico Carretel (Francisco Pellegrino). Eles moravam em um sobradinho na Avenida Dr. João Conceição.  Naquele tempo onde passava a procissão de Corpus Christi as pessoas enfeitavam as janelas, as ruas. A procissão saia da Igreja dos Frades e ia até a Catedral de Santo Antonio. Era um tempo sem telefone, televisão e geladeira praticamente não existia. Aqui em casa cozinhávamos com fogão a lenha. Não havia botijão de gás. Meu cunhado, João Bonamin um dia trouxe uma televisão e instalou em casa. Quando meu marido chegou ficou surpreso com a novidade que seu irmão havia trazido. Era em preto e branco, marca Teleotto.

Era comum a família fazer lingüiça em casa?

Nós fazíamos. Meu marido comprava um pedaço de porco e eu, minha sogra, fazíamos. Passava a carne pela máquina de moer, usávamos tripa artificial para fabricar a lingüiça, colocávamos alho, pimenta, sal, ficava uma delícia. Após ensacar a carne na tripa deixávamos curar, ficava muito parecida com um salaminho.

Sem geladeira como era conservada a comida?

Todo dia era feita a comida. Cozinhava todos os dias feijão, arroz. Quando comprávamos um pedaço de porco, fritávamos bem a carne, colocavamos em um caldeirão e cobriamos com banha. Não estragava. Íamos tirando a carne conforme íamos consumindo. Frutas eram compradas no mercado. Geralmente banana, laranja. Frutas como a maçã não era fácil de encontrar. Hoje temos uma grande diversidade de frutas, em abundância. Vivi os tempos de racionamento, óleo de cozinha era fornecido em tambores de 200 litros, onde havia uma torneira, levávamos o litro vazio que era cheio quando comprávamos o óleo. Quem não tinha dinheiro comprava meio litro de óleo.  Os alimentos eram comprados conforme eram consumidos, não se faziam grandes compras, era raro isso acontecer. O leite comprava do Castilho que morava na Rua Sud Mennucci e trazia o leite do seu sítio. O padeiro deixava o pão em casa.  Todo dia trazia uma bengala. Deixava junto a porta, ninguém mexia, o portão ficava aberto para ele entrar.

Eram feitos passeios até o Rio Piracicaba?

Quando acontecia a Festa do Divino nós íamos. Íamos passear no Mirante, não era como é hoje, tudo era muito simples. Pegávamos o bonde em frente a Padaria Cruzeiro íamos até a Vila Rezende, voltávamos até o centro e íamos até a ESALQ. Disso eu tenho saudade. Não sobrava muito tempo para passear, tudo era feito em casa. Desde as roupas para as crianças até mesmo a parte de alimentação, os doces eram feitos em casa, assim como toda alimentação básica tinha que ser preparada em casa.

A senhora se lembra quando iniciou a construção da Igreja São José?

Lembro-me sim. Até então era um local vazio, quando foi colocada a primeira pedra eu estava presente, a minha filha Elisabete tinha três meses de vida. Lembro-me que o primeiro dentista que se estabeleceu na Paulista foi o Dr. Renato Roberto Biral, seu consultório ficava em uma das casas de propriedade de João Sabino Barbosa, na Rua do Rosário, entre a Avenida do Café e a Avenida Dr. Edgard Conceição, no lado direito de quem segue pela Rua do Rosário. 

Em que local a senhora comprava os aviamentos de costura?

Comprava na loja do Ciro Mendes, a Cred Leve, situada na Rua do Rosário entre a Avenida Dr. Edgard Conceição e Avenida do Café. Eu comprava grosa (144) de botões.

O Bar do Geep fornecia os sorvetes consumidos por boa parte dos moradores das imediações?

Exatamente. O sorvete de groselha, logo ao ser consumido deixava a língua vermelha e o sorvete ficava branco, era só gelo! Lembro-me do sardinheiro, ele passava com o carrinho de tração animal vendendo sardinha, nós comprávamos dele. Existe um sobrado em frente a Estação da Paulista, na parte térrea dele havia uma sorveteria de propriedade do Emílio Amstalden, um homem magrinho, o sorvete de lá era muito bom.

Quais são as lembranças que a senhora guarda da Chácara Nazareth?

Eu entrava na Chácara Nazareth porque a minha cunhada morava lá em uma casa bem próxima da casa grande. Meu cunhado, Silvio Bortolazzo trabalhava como caseiro, copeiro, sua esposa Hermínia  Bortolazzo era arrumadeira. Trabalhavam para o Dr. João Pacheco Chaves. Aos domingos a tarde íamos fazer uma visita à eles. É um verdadeiro paraíso, indescritível. Dona Ruth Pacheco Chaves foi quem doou o terreno da Igreja do Bairro São Jorge.

Vizinho a casa da senhora morava um religioso?

Era o então Cônego, hoje Monsenhor Luiz Gonzaga Giuliani que com sua mãe a Sra. Maria Maschietto Juliani residiu por alguns anos na casa da esquina da Avenida Dr. Edgard Conceição com a Rua Sud Mennucci.  Eu convidava às vezes o cônego para vir almoçar em casa, ele vinha sempre eu fazia alguma coisa diferente. Ele dizia: “- Está pensando que vou comer tudo isso!”. Comia muito pouco. Quando o Júlio meu marido veio do hospital, o cônego o levava e trazia para igreja com seu carro, para assistir a novena de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

As farmácias que existia na Paulista eram quais?

Na Rua do Rosário existia a Farmácia São Judas Tadeu do farmacêutico Nelson Alves de Mattos, e na Rua Benjamin Constant a Farmácia do Lico. Ficava próxima ao Posto de Gasolina do Bonachella, situado onde hoje existe uma padaria, na esquina da Rua Benjamin Constant com Avenida Dr. Edgard Conceição. Os meus móveis foram fabricados por João Ferrari Neto e adquiridos há 60 anos, até hoje estão com o selo do fabricante. Eles também fabricavam barcos, estavam estabelecidos na Avenida Dr. João Conceição entre Rua da Glória e Rua Benjamin Constant.

PRISCILA DINIZ LEITE


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 16 de novembro de 2013.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/


 


ENTREVISTADA: PRISCILA DINIZ LEITE



- Cuide-se, cuide de você. Principalmente para você, não para os demais. Quando você perceber, seu estilo de vida estará tão prazeroso que seu olhar, não precisará mais de lifting para ficar em pé. Você usará é claro, afinal as etapas dos cuidados conosco envolvem também nossas rotinas, talvez nossos produtos prediletos... Pouco importa... Uma água fresca no rosto... O mais importante esteja disposto a vestir aquele roupão branco. Coma morangos! Melhor ainda colha-os... Use salto alto dentro de casa quando quiser, não precisa de um evento para isso, faça-o para você. Use suas havaianas para fazer compras... Para ir ao shopping... Faça o jantar assim, já experimentou? Faça o que sentir cuide antes de qualquer coisa do seu eu... Lembre-se o que você fará, não é problema meu apenas faça. Esse é um dever SEU! De você para você mesmo... Seu caráter cuide dele. E depois me conte...


Autora Priscila Diniz


Para quem ainda não conhece Priscila Diniz iniciou-se em sua carreira comportamental com longo trabalho desenvolvido com a Assessoria Relacionar. Muitos se perguntam como alguém em tão pouco tempo de atuação cativou a vida de milhares de pessoas, a resposta da Foccus Fix é: “Tubarões já nascem nadando. Priscila Diniz para nós é um grande tubarão”. Priscila Diniz Leite é natural de Piracicaba onde nasceu em 12 de abril de 1988, filha de Elcio Diniz Leite e Simone Viana Pereira. Tem cinco irmãos. Realizou seus primeiros estudos na “Escola Estadual Prof. Hélio Penteado de Castro”, “Escola Estadual Mons. Jerônymo Gallo” e “Escola Estadual Professor Elias de Mello Ayres”. A seguir iniciou o curso superior de Psicologia na UNIMEP. Priscila lançou o livro “Qual Monstro Te Assombra” na ultima sexta-feira, dia 8 de novembro de 2013.

O livro que está lançando aborda qual assunto?

É um livro de psicologia, é um livro de auto-ajuda.

Como surgiu a idéia de fazer esse livro?

Desde muito nova escrevo, ainda menina comecei a escrever. Escrevi páginas sobre cada tema.  Fui até uma gráfica para encadernar meus escritos, após lerem deram-me a sugestão de publicar o que estava escrito. Foi gratificante ouvir isso, mas não era o meu intuito realizar essa publicação naquela época. Eu escrevia porque gostava de escrever. Um conhecido do meu pai levou meu livro até uma editora de São Paulo. A editora interessou-se pelo livro, foi feito um contrato.

Como surgiram os temas que você aborda no livro?

No início eram referentes a minha observação do cotidiano: relacionamentos afetivos, amizades, famílias, comecei a escrever essas observações. Tive o privilégio de poder estar fora das situações e poder analisá-las. Sou incapaz de dar uma opinião a respeito de alguma coisa sem ser convidada a opinar. Quando digo algo a respeito uso de muita cautela, sempre com muita sinceridade. Eu queria colocar no livro situações que normalmente a autocensura não permite que sejam ditas. Não escrevia para os outros lerem, escrevia por sentir satisfação em escrever. Quando falamos algo não tem como corrigir o que foi dito. A palavra escrita pode ser corrigida. O que está narrado no livro é coerente com a minha forma de pensar e ser. Muitas vezes ao observar alguma situação  percebia que ela já tinha ocorrido com outras pessoas, era um fato cotidiano. Achava interessante escrever sobre o que tinha visto e guardar aquelas anotações para meu uso em psicologia, se no futuro ocorrer algum caso semelhante eu teria anotado o fato e seu desfecho.

Isso significa que as pessoas com quem você se relaciona tornam-se alvos de análises involuntárias?

Não! Não estou o tempo todo olhando com olhar observador. Muito pelo contrário. Não gosto que imaginem que escrevo sobre as coisas que me incomodam, não é isso que faço. Apenas escrevo sobre o cotidiano.

Você lembra-se qual foi o primeiro texto que escreveu? Que idade tinha na época?

Foi com a idade de 15 anos, comecei a escrever sobre as coisas certas e as erradas. Sobre o caráter do ser humano. Digitava em meu computador. Salvava. Mais tarde ia ler de novo e concordava com o que tinha escrito. Eu escrevia para eu mesma ler.  Sinto que tenho a necessidade de escrever para ter a segurança de que pensei muito para chegar a uma conclusão. Escrever é uma válvula, quando escrevo chego a uma conclusão de forma muito rápida, vou mais rápido para onde quero chegar. Se estiver preocupada com alguma coisa escrevo, dali a pouco vem uma luz. Não consigo fazer apenas uma coisa, não que eu não tenha foco, isso eu tenho.

Quais são os seus objetivos ao lançar esse livro?

O primeiro objetivo eu já alcancei: publicá-lo. Foi lançado em Piracicaba no dia oito de novembro deste ano, já tenho contrato com a Livraria Cultura para lançá-lo em São Paulo. Foi feito um contrato com a Amazon.com e estão sendo realizados os últimos acertos com a Livraria Nobel para também distribuir o livro.

Você tem um assessor?

Tenho o Marcos Ambrósio. Ele que conseguiu com que uma das livrarias patrocinasse o coquetel de lançamento do livro.

Qual é o publico alvo do seu livro “Qual Monstro Te Assombra”?

Não consigo precisar exatamente qual faixa etária se enquadra, depene muito de cada individuo. Pelas minhas observações ao redor dos trinta anos é uma faixa que se interessou muito pelo meu trabalho. Isso não significa que pessoas de outras idades não possam se interessar. O livro em determinada parte abrange pais e filhos, eu até escrevo: “-Se você estiver cansado vai tomar um café e dá para seu filho ler!” O livro é bem simples. Muita gente que leu o livro disse-me: “-Priscila, esse livro é você falando!”.

Há projeto de novos lançamentos de livros escritos por você?

Pretendo lançar a “Edição Especial” de “Qual Monstro Te Assombra” que é o volume I acrescido de mais alguns tópicos, e “Qual Monstro Te Assombra” Vol. II.

Você tem um blog?

Tenho, o acesso pode ser feito pelo endereço www.autoraprisciladiniz.webnode.com .

Em sua opinião toda pessoa que gosta de escrever deve procurar publicar seus escritos?

O que importa é a mensagem que um livro transmite. Por diversas vezes, ainda que o desejo de publicar o livro fosse muito grande, recuei . A realização de estar escrevendo e ter conseguido chegar ao objetivo é uma satisfação grandiosa. O que vier depois é uma conseqüência do trabalho. Usei as ferramentas que tinha em mãos. Através do blog Priscila Deniz, www.autoraprisciladiniz.webnode.com, recebo temas escolhidos pelos visitantes do blog, desenvolvo um trabalho em cima desse tema. Estou com um tema para desenvolver sobre o relacionamento na terceira idade. Achei o máximo isso. Desenvolvo, isso leva um pouco de tempo, o tema me traz todo o resto. Isso me remete aos tempos de estudos na Escola Estadual Prof. Hélio Penteado de Castro, tive que fazer uma redação sobre drogados, escrevi tentando me colocar no lugar da pessoa, ver o que o mundo achava daquilo, o que nós achamos, a parte social, física e mental. Coloquei com as minhas palavras. A professora chamou a minha avó (A avó paterna Aparecida Diniz casada com Dirceu Diniz Leite) com quem eu morava, perguntando se eu tinha algum problema com drogas, alguém na família, ela achava que aquilo tudo não podia ter sido criado por mim. Minha avó disse-lhe: “–Ela gosta de mesmo de escrever! Não se preocupe, ela é mesmo desse jeito!”. Sempre fui assim, o tema me trás toda a inspiração.
Você lê muito?
Leio e já li muito. Gosto da obra “Mentes Perigosas - O psicopata mora ao lado”. da médica psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva. Ela aborda aspectos que diferem os psicopatas das pessoas normais. É um livro de pesquisa.
Você se aprofunda no estudo de psicologia?
Continuo. Sempre!
Como você vê a relação de muitas pessoas através de meio eletrônico, as chamadas redes sociais?
As pessoas criam um mundo imaginário, onde tudo é bom, as pessoas só enxergam os aspectos positivos, quando essas pessoas que se comunica pela internet se encontrarem nas ruas irão falar sobre o que foi abordado na rede social, elas não têm outra vida além daquela. Irão dizer: “-Eu vi que você fez aquilo, colocou isso ou aquilo”. É outro mundo! São paralelos. Aquele é o que você quer mostrar. O mundo que a gente vive é o mundo da realidade.  Na internet só é a parte boa da realidade. Torna-se um mundo fantasioso. Faz com que a pessoa fique tão fixada naquilo que acaba perdendo o contato com outra pessoa. Ele perde a noção do que é ou não para ser dito. Essas pessoas que se comunicam mais pela rede social têm dificuldades de comunicação interpessoal. Alguém que não tenha rede social o encontro com essa pessoa é diferente. Vai ter uma conversa boa. As pessoas na rede passam a achar que podem fazer tudo, passa a ser normal fazer qualquer coisa.
Você é palestrante?
Dei palestras para funcionários de indústrias metalúrgicas. São motivacionais, comportamentais. Dependia da pauta colocada eu desenvolvia a palestra. Em grupos de prestadores de serviço na área de saúde.

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