PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 04 de janeiro de 2013.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 04 de janeiro de 2013.
Entrevista: Publicada aos sábados
na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADO: LUIZ DARCI CUCOLO
Luiz Darci Cucolo é filho de
Felício Cucolo e Duzolina Regazzo, nasceu a 6 de setembro de 1938, no Bairro
São Bento na fazenda do seu pai, tendo sido registrado no então distrito de
Saltinho. A propriedade rural pertencia a família, seu avô era Luis Cucolo. A
lavoura na época era plantação de fumo. No inicio era fabricado açúcar batido,
depois passou a plantação de fumo. Felicio e Duzolina tiveram sete filhos:
Zenide, Liete, Inês, Luiz, Edelardo, Geraldo e Vilma. Luiz Darci Cucolo é
casado com Maria Alice Rosa da Silva com quem tem um casal de filhos: Júnior e
Ana.
Sua família mudou-se para Piracicaba?
Quando eu tinha de cinco para
seis anos de idade nossa família mudou-se para a cidade. Moramos na Rua
Benjamin Constant em frente a indústria de Vicente Orlando, que adquiriu a casa
onde morávamos. Eu passava na frente da fábrica de bebidas e ficava admirando
aquilo tudo. Tomávamos a famosa
gengibirra. No primeiro quarteirão da Rua Governador Pedro de Toledo, junto a
Avenida Dr. Paulo de Moraes existia a selaria de Artur Gobbo. Lembro-me do
primeiro asfalto feito em Piracicaba, o prefeito Luiz Dias Gonzaga asfaltou a
Avenida Independência da Rua Governador até a Santa Casa de Misericórdia. Onde
é o Teatro Municipal Dr. Losso Neto, havia um córrego onde pegávamos cascudo. Fomos
morar na Rua São Francisco de Assis, quase esquina com a Rua Governador Pedro
de Toledo, na esquina tinha uma casa antiga onde funcionava uma pensão de
propriedade da família Ometto, hoje no local há um edifício. Na frente havia a
fábrica de balas Lider. Eu estudava no Grupo Escolar Barão do Rio Branco.
Com quantos anos você começou a trabalhar?
Aos oito anos
comecei a trabalhar, em frente a Estação da Paulista, de costas para a estação,
do lado esquerdo, havia um salão onde engraxavam-se sapatos. Eram três lugares
para serem ocupados por clientes. Quando chegava o trem eu largava tudo e ia
correndo até a estação, ajudava os passageiros a levarem suas malas até o seu
destino final. Tanto o passageiro como eu íamos a pé.
As cores de
sapatos que predominavam na época quais eram?
Era o preto e
o marrom.
Dali qual foi seu
próximo trabalho?
Fui aprender
ofício, na selaria de Artur Gobbo situada na Rua Governador Pedro de Toledo
entre a Avenida Dr. Paulo de Moraes e Rua Joaquim André. Morávamos ao lado. Ao
lado tinha um terreno vazio onde ficavam dois caminhões que eram utilizados
pela lenhadora de propriedade da nossa família. Eram entregues carvão e lenha.
Ainda na fazenda onde fazíamos fumo fabricávamos também o carvão. Em Piracicaba
a fábrica de carvão ficava atrás de onde hoje é o Colégio Dom Bosco na Cidade
Alta. Ainda na fazenda meus tios derrubavam árvores enormes, eram toras de madeira
carregadas em carros de bois, chegava a ter 16 bois puxando um carro com três
toras de madeira. O primeiro automóvel que vi na minha vida pertencia a um
médico, era movido a gasogênio, tinha dois tubos como dispositivo para o
funcionamento. Ele ia buscar carvão para abastecer o carro.
Com o Artur Gobbo
qual foi a sua atividade?
Fui fazer
arreio, eu tinha uns 10 anos. A linha tinha que ser fabricada para fazer a
costura. Passava cera, enrolava ela. Era um trabalhão danado. Eu estudava no
Grupo Escolar Barão do Rio Branco, ao lado tinha uma lavanderia, me convidaram
para ir trabalhar lá pagando cinco mil réis por mês. Eu retirava as roupas
usadas nas casas dos clientes, depois as levava prontas. Eu tinha uma bicicleta
marca Júpiter, gostava de entregar roupas no Hotel Lago, lá eu ganhava uma
gorjeta. Praticamente entregava só terno, se fosse linho branco era engomado. Na
Rua José Pinto de Almeida tinha um mecânico, eu fui trabalhar lá para aprender,
isso na época que tinha muito Fordinho 1929, no começo lavava peças. Meu tio,
Durval Lavoranti, era vendedor do Café Morro Grande, ele me levou para a
torrefação do Café Morro Grande, eu era ensacador de café, colocava o saquinho vazio na máquina, pisava
em um pedal, dava o peso certo. Eu pesava de 1.500 a 1.600 quilos por dia. Dali
fui trabalhar no Clube Coronel Barbosa, conheci Enio Graner Mortati, que era
diretor do clube, fui trabalhar no escritório, eu tinha de 15 a 16 anos. Eu
tomava conta da secretaria, preenchia os recibos dos associados. Quando eu trabalhava
na torrefação tinha um cheiro forte de café impregnado, o Enio arrumou umas
roupas bonitas, possivelmente usadas, fiquei muito elegante. Eu estava feliz.
Com o Enio, Dr. Raul Coury, Dr. Salim Simão e alguns investidores, começamos a
tomar conta de uma fazenda localizada na Volta Grande, plantamos 40.000 pés de
goiaba. O projeto de um dos engenheiros agrônomos era adquirir uma máquina para
transformar as frutas em pó. Era só adicionar água e o suco estaria pronto.
Quando foram à Suíça para adquirir a máquina o investimento mostrou-se
inviável. A fazenda foi vendida, quem a adquiriu colocou gado naquela área. Nessa
localidade formei muda de árvores, umas 15.000 mudas. Quando Luciano Guidotti
foi prefeito trabalhei na prefeitura, comecei como ajudante de topógrafo, com o
passar do tempo comecei a observar os desenhistas a fazerem plantas. Um deles,
muitas vezes se ausentava, eu comecei a riscar, com isso aprendi. O engenheiro Dr.
Zimolamy disse que eu iria trabalhar com ele, colocou uma mesa na sala dele,
passei a tomar conta da obra que a prefeitura estava fazendo na Rua Prudente de
Moraes, aonde veio a funcionar a Gráfica Municipal e a Biblioteca Municipal.
Fiz um mapa com dois metros por um metro e pouco, dei busca na prefeitura e fui
colocando os loteamentos que não existiam no mapa. Cássio Paschoal Padovani foi
quem assinou o mapa. Foi criada a seção de planejamento da prefeitura, entre os
cinco ou seis desenhistas eu fui um dos escolhidos. O Arquiteto Dr. João
Chaddad estava com o Dr. Geraldo Quartim Barbosa realizando o loteamento do
bairro Nova Piracicaba. O João Chaddad me citou. Fui para ganhar quase quatro
vezes o meu salário. Comecei a ajudar o João Chaddad a projetar o bairro Nova Piracicaba.
Ruas, lotes, área verde. Dr. Geraldo Quartim Barbosa ficou sabendo que eu sabia
fazer mudas de árvores, disse-me que iria fazer mudas para a Nova Piracicaba.
Fiz 40.000 mudas de árvores. Eu tomava conta do pessoal que plantava as
árvores, davam manutenção às ruas. Eram 18 a 19 funcionários.
Você considera
certo plantar árvores frutíferas?
Não. Se parar
um veículo embaixo da árvore a fruta irá cair sobre ele. O fato de ter fruta no
pé irá trazer incomodo aos moradores próximos. É uma questão cultural.
Quanto tempo você
permaneceu no loteamento da Nova Piracicaba?
Fiquei por
seis anos. Lá havia a colônia de casas que pertenceu ao Engenho Central, foram
demolidas, com muito tato negociei com cada morador para desocuparem essas
casas em troca de outras em lugar que escolheram. Foi realizado um grande
trabalho de terraplanagem. Juntamente com o Lino Vitti colocamos o monumento
que deverá ser aberto em breve quando completar 50 anos. Ali estão documentos,
jornal, fotografia, peças e moedas da época. Na época tive que conseguir quatro
placas de mármore de Carrara. Ao lado tinha outro loteamento que pertenceu ao Mário Arêas Wittier.
Como
você tornou-se proprietário de uma loja de molduras?
Eu estava muito
bem colocado junto a companhia que realizou o loteamento da Nova Piracicaba,
era uma empresa com atividades em outras cidades e eu já estava assumindo
algumas funções nesses locais. Um convite para iniciar uma atividade que
aparentemente iria dar melhores resultados acabou por me trazer grandes
decepções. Essa atividade com molduras começou em 1980. Eu pintava quadros,
tinha adquirido dois quadros de Maria Cecília Neves. Fiz cursos de pintura. Ao terminar um quadro
levava em uma loja de molduras, até que um dia decidi fazer a moldura.
Contratei um senhor de nome Vitório, ele trabalhava em uma loja situada na Rua
do Rosário, fomos para São Paulo comprar molduras. Todo mundo que tinha aula
com a Maria Cecília levava as obras para que eu colocasse a moldura. Quando
montei a loja éramos quatro lojas de molduras.
Como surgiu o
nome Molduras Juana?
A minha
esposa é a responsável por ter esse nome, ela chamava meus filhos Junior, Ana,
para almoçar. Dizia: “Ju, Ana! Vamos almoçar!”. Ficou Juana!
É comum as
pessoas trazerem obras para enquadrar e não voltarem para buscarem?
Tenho um
local onde tem mais de quinhentas obras, certificados, diplomas,
fotografias, enquadrados e os donos não
vem buscar. Com isso perco o vidro que não dá a medida certa para outra
aplicação e a moldura é a mesma coisa. Muitas vezes a moldura já saiu fora de
linha depois de tanto tempo aqui.
Moldura tem
moda?
Se tem! Hoje
a moda é branca e preta.
Moldura de gesso
é muito usada?
Aqui não
entra gesso. É uma moldura extremamente frágil.
Qual é o maior
quadro que você já fez até hoje?
Fiz dois
quadros de cinco metros por seis metros, sem vidro.
Você faz
restauração de quadros?
Restauro quadros.
Já apareceu quadro de Joaquim Dutra, furado pelo cabo de vassoura de uma
empregada descuidada.
Um casal pode
ter divergência quanto a permanência de um quadro em casa?
Isso existe.
Geralmente um deles traz o quadro até a loja e diz: “-Vê se vende isso ai que
não quero saber dessa coisa na minha casa!”. Eu só pego se for quadro de
artista famoso.
Se a pessoa muda
de crença religiosa ela pode querer se desfazer de toda obra que relembre sua
crença anterior?
Isso pode
ocorrer, só que esse tipo de arte eu não comercializo. Quando se trata de
gravura nem pego para vender.
No
caso de um quadro de notável valor artístico qual é o procedimento padrão?
Ele fica na
minha reserva, só será mostrado aos colecionadores.
Piracicaba
tem muitos colecionadores de arte?
Tem. Há um que
tem mais de 2.000 quadros. Além de ter a fazenda, aluga uma casa só para expor
seus quadros. São colocados no chão, nem chegam a ser dependurados.
Quadro
não é um item de fácil comercialização?
Se for de um
pintor famoso torna-se fácil sua comercialização, principalmente para quem atua
no ramo.
Pessoas
de baixo poder aquisitivo apreciam arte?
Alguns gostam,
mas não tem o fascínio próprio do colecionador. Para admirar um quadro há a
necessidade de entender a arte. As pessoas mais humildes gostam de gravuras.
O que
é uma gravura?
É a uma
reprodução em papel. Ele acha mais bonito. Vai gostar de imagens de veículos,
fotos, e são quadros relativamente caros.
Um
modismo são as fotos antigas da cidade, isso pegou?
Há uma procura
muito grande. Geralmente alguém vai abrir um restaurante, uma pizzaria e coloca
uma foto antiga da cidade.
Você
sente-se realizado com a sua atividade?
Em parte sim. Trabalhamos
muito. As coisas mudaram, a economia do país mudou. Eu sentia muita alegria em
trabalhar, levantava as três horas da manhã e ia para a loja, trabalhando com
afinco e esperando os funcionários chegarem. Eu queria entregar as encomendas.
Ainda procedo da mesma forma, entregar rapidamente o serviço.
A
procura de quadros de arte aumentou ou diminuiu?
Diminuiu. O
enquadramento de diplomas, certificados, gravuras, aumentou.
Você
já fez algum trabalho para cemitério?
Já! A pessoa
trouxe a fotografia do finado, coloquei a moldura de alumínio com vidro em
ambas as faces, tudo muito bem vedado com uma fina mangueira plástica. Já fiz
inclusive com a fotografia de um cão, cujo dono o estimava muito e colocou a
foto do animal junto ao seu tumulo no cemitério dos animais. Outro caso foi uma
pedra que trouxeram da Rússia, foi feito um trabalho especial onde a mesma foi
colocada em uma moldura. É comum as pessoas trazerem tigelas, pratos de valor
sentimental e colocar em molduras. Um dos fatos marcantes foi um alemão que não
mora mais em Piracicaba, ele trouxe 30 moedas de ouro maciço para serem
colocadas em uma moldura. O grau de confiança que ele depositou em mim foi
muito grande, aquilo tinha um alto valor financeiro.
Você
tem algum hobby?
Adoro pescar.
Fui diversas vezes com o Jorge Martins para o Mato Grosso. Gosto de sentar no
barco e ficar pescando com sondal.
Você
conheceu sua esposa em que cidade?
Eu a conheci em
Cerquilho, namoramos onze anos, casamos a 25 de janeiro. Morei em Cerquilho, o
Graner Mortati me levou para lá, eu desenhei a praça em frente a igreja. Fui locar o desenho no chão.
Quantos
prêmios você já ganhou em pintura?
Ganhei três
menções honrosas, um prêmio em Araras, um prêmio em Limeira. Juntamente com
Eugenio Nardin, João Chaddad, Manoel Martho criamos o Salão Almeida Junior. Eu
era o primeiro secretário, como não tinha sede, não tinha nada, ficava aqui na
minha loja, eu transportava em uma caminhonete os quadros que iam para serem
expostos. Organizamos tudo, a partir do nada. Consegui um lugarzinho na
Pinacoteca para transformar em sede do Salão Almeida Junior. Com o passar do
tempo deixei para que outras pessoas tomassem a frente na manutenção do Salão
Almeida Junior.
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