PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 06 setembro de 2014.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 06 setembro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://blognassif.blogspot.com/
A professora Mercedes Vecchini
simboliza milhares de professoras que exerceram o ensino como uma missão. No
anonimato da sua função, percorreram escolas transpondo obstáculos de toda
natureza. Ensinaram gerações, estabeleceram bases para o desenvolvimento do
nosso país através da educação. Sem nenhum recurso tecnológico tinham como
objetivo fazer com que os alunos raciocinassem. Analisassem e interpretassem
conceitos pré-estabelecidos. Nascida em Piracicaba, a 6 de fevereiro de 1935,
filha de Eugênio Vecchini e Irene Razera Vecchini, que tiveram também o filho
Tarcísio.
Em que bairro de Piracicaba você
nasceu?
Segundo minha mãe dizia, nasci nas
proximidades de onde atualmente é a Avenida Dona Jane Conceição, na época essa
região era tomada em grande parte por plantação de algodão, pertencente à
família Conceição. Andava-se mais utilizando atalhos, as ruas praticamente eram
diferentes dos traçados atuais, o chão era de terra. Onde é atualmente a Rua
Sud Mennucci havia uma rua sinuosa, de terra, e existia uma Santa Cruz muito
reverenciada. (A construção de uma Santa Cruz é um hábito de origem cristã trazido com os colonizadores,
cuja função é sinalizar o lugar onde uma pessoa faleceu, quase sempre em
circunstâncias trágicas, seja por morte natural, por assassinato, um acidente
qualquer ou queda de raio). Na Rua Sud Mennucci esquina com a Avenida João
Conceição havia uma fundição, onde hoje funciona uma imobiliária, o prédio é o
mesmo, foi reformado. Ao lado havia uma escolinha isolada, composta por uma
classe apenas, o prédio era do Sindicato dos Ferroviários da Companhia Paulista
de Estradas de Ferro. A professora que lecionava chamava-se Diva, a casa em que
ela morava na Rua Alferes José Caetano, existe até hoje.
Qual era a atividade do seu pai quando se mudaram para a
Paulista?
Ele era comerciante, tinha uma venda (ou armazém) onde
atualmente é a Loja do Italiano, na Rua do Rosário esquina com a Avenida do
Café. A nossa venda era na frente e a nossa residência era anexa, na parte de
trás do prédio. Em frente onde é a loja Paulistinha existia uma máquina de
beneficiar arroz de propriedade do Grella. Vizinho a nossa venda era o Bar do
Geep (José Tozzi). Na esquina da Rua do Rosário com a Avenida Dr. João
Conceição era o armazém do Bortoletto, na época era um dos raros donos de
telefone nas redondezas. Atualmente é a agência do Bradesco. Na esquina da Rua
do Rosário com a Avenida Dona Jane Conceição era o campo do Jaraguá Futebol
Clube, o campo do MAF ( Abreviatura de Manoel Ambrozio Filho) era mais adiante.
A Família Mori, que teve importante atuação no comércio
de pescados em Piracicaba, estabeleceu-se no bairro após a Familia Vecchini?
Quando eles construíram a casa que pertence a Família
Mori nós já estávamos aqui.
Meu pai e meu tio Pedro tinham uma máquina de beneficiar
arroz e fazer fubá, situava-se no Bairro Santa Terezinha. Ao lado passava o
trem da Estrada de Ferro Sorocabana.
Meu “nono” (avô) Luiz Razera,deu
à nossa família uma casa muito bonita, que existe até hoje, situada um
quarteirão abaixo da Santa Casa de Misericórdia. A Avenida Independência não
tinha calçamento. Moramos um tempo ali. De lá fomos morar em uma região rural entre a Nova
Suissa e o Pau D`Alhinho. Meu pai adquiriu um sítio que tinha pertencido a
família Gozzo. Eles foram muito laboriosos, cultivaram todos os tipos de
frutas. Meu pai levava frutas, beringelas, laranja, banana ao Mercado
Municipal, com uma carroça tracionada pelo cavalo “Lambari”. Nessa chácara
permanecemos por uns quatro anos. Íamos a Escola do Pau D`Alhinho, inclusive
membros da família Totti formávamos um grupo de 7 a 8 crianças que iam juntos
até a escola. Ficava a uma distância de uns cinco quilômetros que percorríamos a
pé. Quando tinha usava chinelo, senão ia descalços. A minha primeira professora
era Dona Araci, ela morava na Rua Boa Morte. Dona Idalina Alcantara Gil também
foi minha professora naquela escola. As duas professoras iam dar aulas de
charrete.
Após quatro anos a sua família mudou-se para Piracicaba?
Inicialmente meu pai adquiriu um
terreno próximo ao hoje Teatro Municipal, construiu uma casa um dos nossos
vizinhos era o Rapetti. Nesse período eu passei a estudar na Escola Normal,
depois Sud Mennucci. Lembro-me da nascente Olho da Nhá Rita, ficava próximo a
Avenida 31 de Março. Íamos pescar guaruzinho com peneira no Ribeirão Itapeva,
era bonito, piscoso, chorei muito quando o cobriram. Em uma determinada época
estava faltando água fizeram um poço artesiano, próximo a Rua da Glória, ficou
conhecida como “Bica do Morlet”. Funciona até hoje. Meu pai comprou o terreno
na esquina da Avenida do Café com a Rua do Rosário e construiu o armazém e a
casa. Isso foi por volta da década de 40.
Nesse período em que estudava,
também trabalhava?
Fui trabalhar no Laticínios
Piracicaba, o Cabrini era o proprietário. Meus pais gostavam de jogar baralho,
jogavam com o casal Cabrini, pais do famoso repórter. A seguir estudei da
quinta até a oitava série no Sud Mennucci. Tive aula com o Professor Otávio, de
matemática, Evaristo, que dava aulas de português, Benedito Dutra Teixeira deu
aula de música.
Você fez o magistério em que
escola?
Fiz na Escola Normal Rural “José
de Mello Moraes”, funcionava no prédio da Zootecnia da Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz. Formei-me professora em 1966. Nós deveríamos escolher escola rural após nos
formarmos.
Qual foi a primeira escola em que
você foi lecionar?
Fui dar aulas em Franco da Rocha,
vizinho a São Paulo. Ia de trem pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro.
Em Franco da Rocha pegava um ônibus e ia até a escola. Lembro-me de um
professor de educação física, muito entusiasmado, montamos uma peça de teatro
chamava-se “Os Loucos Vem de Fora”, os atores eram os professores. Durante a
semana eu permanecia em Franco da Rocha, voltava na sexta feira a tarde. Eu
lecionava de manhã. Nesse período morei em uma residência que tinha
dependências fora do corpo principal da casa. Nessa época comecei a estudar a
noite o curso de Administração Escolar
no bairro da Lapa, em São Paulo. Ia com o subúrbio. Fui removida para Várzea
Paulista, junto com outra professora, a Eurides, ficamos em uma casa de uma
senhora que tinha duas filhas. Na Escola Experimental de Jundiai fiz o segundo
ano de Administração Escolar. Eu decidi fazer um curso de Pedagogia, em
Piracicaba, viajava todos os dias. Saia às cinco e meia da manhã de Piracicaba,
embarcava no Expresso Piracicabano, descia na entrada de Jundiaí, lá eu tinha
em uma garagem, um automóvel Dauphine, quatro portas, preto. Naquela época a
moda era carro de duas portas. A seguir removi para Campinas, inauguramos o
Colégio Costa e Silva situado a caminho da Via D.Pedro I. Lá eu morei em um
pensionato, perto da Igreja do Carmo. Após dois anos, removi para a Usina
Furlan, na SP-304, Rodovia Luiz de Queiroz onde permaneci uns três anos.
Você chegou a ser diretora de
escola?
Por 10 anos fui diretora
substituta. Onde a diretora tirava licença ou férias eu ia substituir. A escola
no Campestre eu que montei. É uma escola de primeira até a quarta série. A
merendeira era Dona Deolinda, filha do Mellega.
E quando você se aposentou o que
você foi fazer?
Uma das decisões que tomei foi
ficar sócia da Friendship
Force International, em bom portugues significa A Força
da Amizade. Conheci muitos países, sendo
que falo apenas um pouco de espanhol.
E através
dessa associação você conheceu praticamente o mundo todo?
Quem me recebe em outro país nem
imagina como sou. Quando chego em visita a outro país fico hospedada na casa de
uma família que faz parte da Friendship
Force International. Procuro agir com muita educação,
respeitando os hábitos e costumes dessa família. Sempre fui muito bem recebida
em todos os paises em que estive. O tempo de permanência é de sete dias, e eles
fazem questão de mostrar todos os detalhes da cidade que estamos visitando. Um
país que me marcou muito foi a Hungria, em particular sua capital Budapeste (em húngaro Budapest) Localiza-se nas margens do rio
Danúbio Sua região
metropolitana, também chamada de Grande Budapeste. Budapeste foi
fundada em 1873 com a
fusão das cidades de Buda na
margem direita do Danúbio, com Peste, na
margem esquerda.
Você recebeu visitantes
internacionais em sua casa?
Recebi, inclusive uma australiana
muito simpática. Quando estive na Austrália também fiquei encantada com os
país, o eucalipto cor de rosa, plantado em jardins, praças. Fui para Itália,
fiquei um mês em Genebra, já por iniciativa minha. Estive na França. Na
Inglaterra me perdi, lá eu fiz o sistema opcional. Funciona da seguinte forma,
uma semana você permanece na casa de alguém como convidado, caso queira fazer o
opcional dai é por conta própria. Como turista normal.
Estou vendo que você tem um carro em
excelente estado de conservação, você dirige ainda?
Dirijo! O maior problema é sair da
garagem, a rua em que moro tem um trânsito intenso e muito rápido. Infelizmente
muitos motoristas não se importam com nada. Dou sinal de braço, perna (risos),
ninguém respeita! A circulação urbana está muito agressiva. Para a área rural
eu vou, visito familias amigas.
Você pratica alguma atividade
física?
Na Estação Idoso “José Nassif”, na
Estação da Paulista, existe uma academia, eu andei frequentando. Uma das
atividades que gosto muito é participar do coral.
Que voz você faz?
Sou soprano no Coral da Terceira
Idade na Estação. O ensaio é toda segunda feira das duas horas até as quatro
horas da tarde.
Você se considera uma pessoa ativa?
Acho que estou meio limitada, talvez
o fato de não estar em contato com tantas pessoas como sempre estive também
ajuda a criar uma zona de conforto, a uma certa acomodação, que não é muito
saudável.
Você está com uma camiseta do
Projeto Rondon, qual é a razão?
É que em 1973 eu fiz parte do
Projeto Rondon, sou da turma 33. O Projeto Rondon foi criado em 1967 e durante as décadas de 70 e 80,
permaneceu em franca atividade, tornando-se conhecido em todo Brasil. O
projeto promovia atividades de extensão universitária levando
estudantes voluntários às comunidades carentes e isoladas do interior do país,
onde participavam de atividades de caráter notadamente assistencial, O Projeto
Rondon foi retomado pelo governo
federal em 2005, mais de quinze anos depois de sua extinção.
Para qual localidade você foi?
Fui para Cruzeiro do Sul, no Acre.
Tenho minha familha lá! Eles já ficaram uma semana na minha casa, eu já fui
duas ou tres vezes de volta para lá. Fiz uma grande amizade com a Gisalda, que
conheci lá e mora em Cruzeiro do Sul. Ela é paisagista do municipio. É mães de
dois filhos padres: um marista e um espiritano. Agora se quiser ir por via
rodoviária para Cruzeiro do Sul já é posssível. Ficou pronta a ponte do Rio
Juruá, é muito linda!
Pelo Projeto Rondon quanto tempo
você permaneceu lá?
Ficamos um mês. Fui na área da
educação.
Como eram as coisas lá naquela
época?
Lá existe o Campus Avançado. Fomos
em doze pessoas: duas da área de educação, dois agrimensores, dois engenheiros,
dois dentistas, e mais quatro pessoas de outras áreas. Fomos de avião, a Força
Aerea Brasileira que nos levou. Foi a primeira vez que entrei em um avião. Tive
a oportunidade de conhecer a cabine dos pilotos, os instrumentos do avião. Foi
uma aula de aviação!
Um comentário:
Taí uma referência !! Pessoa avançada. Professora da vida!
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