domingo, junho 19, 2016

ADRIANA MARIA TABAI MARTINS

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana 
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 



ENTREVISTADA: ADRIANA MARIA TABAI MARTINS

Adriana Maria Tabai Martins nasceu a 6 de outubro de 1969, em Piracicaba, no bairro Alto, a Rua Antonio Frederico Ozanam, próximo a Santa Casa de Misericórdia. É filha de Celso Tabai e Albertina Cecília dos Santos Tabai. Seu pai foi metalúrgico tendo dedicado sua vida ao trabalho junto a MAUSA, sua mãe trabalhou por 30 anos como enfermeira na Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba. O casal teve ainda mais uma filha, Fabiana.
Você iniciou seus estudos em que escola?
Fiz o primário no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, minha primeira professora foi Dona Zélia, no curso primário. No ginásio tive aulas com o Professor José Salles, um professor que foi muito importante em meus estudos. O colegial, hoje ensino médio, fiz no Instituto Piracicabano. Em 1995 formei-me pela UNIMEP em Psicologia.
Você é casada?
Sou casada há 18 anos com Josuel Martins, temos duas filhas: Larissa e Letícia.
O que a levou a escolher a profissão de psicóloga?
Costumo dizer que sou muito intensa na condição de cuidar. A vida toda eu vi minha mãe cuidando muito, pelo fato de ser enfermeira na Santa Casa.
Tem influência da sua mãe em sua história profissional?
Acredito que sim, apesar de que ela cuidava das condições físicas do paciente. Eu sempre a admirei muito. Acredito que isso foi amadurecendo, no curso colegial, o Instituto Piracicabano tem essa condição humana, tínhamos aulas de psicologia. Ali me identifiquei muito com as professoras. Eram duas ou três professoras que lecionavam psicologia, Comecei a me interessar por essa área. A questionar. Acredito que foi uma paixão pelo estudo de psicologia. Não me vejo fazendo outra coisa.
O estudo de psicologia é muito interessante ao mesmo tempo em que é muito abrangente?
A faculdade nos dá uma base para todas as abordagens. O centro principal, eu considero que seja Freud. Precursor de toda essa condição de cuidar do humano.
A seu ver Freud revolucionou a arte e a ciência de conhecer o pensamento humano?
Eu diria que sim. Procuro estudar muito para me aprofundar cada dia mais e desenvolver uma atuação muito próxima a necessidade do paciente. Há outras teorias de autores contemporâneos, embora a origem seja de Freud.
Você atua em que locais em Piracicaba?
Atuo no Lar dos Velhinhos já há oito anos. Todos os dias, das 9 da manhã até as três horas da tarde. É um trabalho de trinta horas semanais. Reportamos-nos a SEMDES- Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, vinculada a prefeitura. Tenho atuação clinica em consultório particular onde atendo há vinte anos fica a Rua Dr. Otávio Teixeira Mendes, 1704, próximo ao Colégio Dom Bosco da Cidade Alta, o telefone é 34027778.
Lá você atende a pacientes de todas as faixas etárias?
Após ter vindo para o Lar dos Velhinhos passei a me interessar muito por essa área de gerontologia. Hoje atendo muito pessoas de 50,60, 70 anos.
Qual é o problema mais comum dessas pessoas?
Vejo que com o envelhecimento as pessoas temem muito a solidão. A morte assusta, não só a eles, como a todos nós.
A pessoa passa a sentir que tem restrições naturais a idade?
Elas vão sendo mais limitadas naquilo que elas faziam antes em função do próprio envelhecimento mesmo físicos, fisiológicos. Elas vão tendo certas limitações e terão que se adequar a esse novo jeito de viver.



Quem impõe essas limitações, a própria natureza ou a própria pessoa contribui muito para estabelecer as limitações?
É um conjunto de várias situações. Temos jovens de vinte e poucos anos que estão muito acomodados. Assim como temos pessoas na casa de 60, 70 anos que estão muito ativos. Penso que depende muito da condição mental, emocional, do que se propôs a fazer ao longo da vida. O que ele está fazendo agora. Há uma grande influencia do histórico da pessoa, do meio do qual ela vem, da sua convivência. O que faz a diferença é essa pulsão a vida. Querer viver, resgatar aquilo que ele não conseguiu. Temos casos de pessoas que passaram a ter uma atividade prazerosa após sessenta anos. Tem uma senhora de oitenta e poucos anos que é maravilhosa, ela começou a fazer um trabalho manual depois dos sessenta anos. Isso depende muito do individuo. Assim como há idosos que ao chegarem aos sessenta anos, em função das próprias perdas da vida ele já não está mais tão engajado na sociedade. Ele já esta aposentado, já foi tirada dele essa condição de trabalho. Não há mais o convívio do trabalho, dos amigos. Isso vai trazendo cada vez mais limitações sociais. Ele fica em uma situação de prostração.
Assim como o jovem anseia em atingir 18 anos para ter os benefícios da maioridade, há também o anseio da pessoa em aposentar-se?
Quando o individuo chega a certa idade ele esta cansado da tarefa que ele desempenhou na vida. Seja ela uma tarefa braçal ou intelectual. Ele quer parar. Os históricos que eu tenho confirmam a imaginação de que ele parando irá fazer tudo que deseja. Não é bem isso. Ele idealiza uma aposentadoria em qual ele supõe que irá ter muita disposição porque irá deixar um trabalho que é cansativo, exaustivo para ele. Só que não é assim que funciona!  Ai chega o momento em que as queixas são: “-Agora não tenho mais o que fazer, agora não faço mais nada!”. Após certo tempo ele irá ficar cansado dessa condição de não ter o que fazer.
As restrições físicas naturais, onde ele não terá mais a mesma condição de quando era jovem, pode afetar profundamente o comportamento do individuo?
Vai afetar na medida em que ele não ira saber lidar com isso. Nesse caso ele irá precisar de uma ajuda. Quem não sabe lidar com essa condição do corpo que está envelhecendo, que ele não terá o mesmo desempenho de quando tinha trinta ou quarenta anos, ele irá ter ali um desconforto que pode levá-lo com certeza a uma tristeza mais profunda, talvez a uma depressão ou até mesmo a própria morte.
Há idosos que através do esporte, de relacionamentos, procuram um retorno à juventude?
É uma busca da juventude, e aquilo faz com que ele sinta-se jovem. Ao olhar a imagem de alguém muito mais jovem do que ele, talvez isso impeça de que ele em algum momento olhe para a realidade.
Você aconselha?
Psicólogo não dá conselho! O que eu penso é poder trabalhar para ele aceitar aquilo que a vida vai impondo, que é irreversível.
Há casos em que o individuo busca relações afetivas além daquela que possui.  Quase uma busca insana para voltar no tempo. Qual é a visão psicológica do fato?
Depende muito das fantasias dele, o que ele está buscando nessa relação. Ele está envelhecendo. Algumas coisas estão muito disfuncionais. A pessoa mais jovem pode trazer essa condição mais vivaz, por conta da idade, mas não passa de uma fantasia, o individuo não irá ter a mesma idade que deseja ter.



Não haverá um equilíbrio?
Penso que não. Os riscos a que o individuo incorre são os mais diversos possíveis.
Há um acréscimo a insatisfação do individuo em relação a épocas anteriores?
Tenho a impressão de que está aumentando a intolerância a situações que as pessoas estão passando.
Um indivíduo aos quarenta anos pode ser considerado idoso?
Depende muito das condições mentais dele. Atualmente a vida está muito acelerada. As disputas são mais acirradas.
Quais são suas formas de lazer preferidas?
Gosto muito de leitura. Sou bastante ligada à família, gosto de poder ficar em casa, junto a minha família.
Quem a procura geralmente vem trazer seus problemas de cunho pessoal. Como é carregar essa carga? Há alguma forma de relaxamento voltada ao psicólogo?
Na verdade temos um tripé do qual não podemos abrir mão enquanto desempenharmos nossa profissão. Existe a análise pessoal, a supervisão, que me ajudam muito. É uma pessoa com quem troco idéias sobre meus casos clínicos e que me ajuda a pensar sobre eles. Nosso trabalho é baseado na ética e na confiança.  Só posso trabalhar outra pessoa se ela confiar em mim. Costumo dizer que é um trabalho da dupla. À medida que cresce a confiança o trabalho flui. Essa relação é restrita, jamais pode ser levada para outro ambiente qualquer. É um trabalho muito delicado, estamos tratando de mentes, de pessoas.
Pacientes com Alzheimer é um caso para tratamento clinico?
Na condição da psicologia não há muito que se fazer, é um trabalho mais voltado para a área clinica. O Lar tem a T.O. Terapeuta Ocupacional, normalmente os idosos que tem Alzheimer vão desenvolver essa condição cognitiva, manual onde é trabalhada a memória com jogos. A psicologia tem que trabalhar com pessoas que tenham noção de realidade, e pacientes com Alzheimer não tem um banco de memória. Ficam preservadas algumas coisas, mas outras não. 
Existe algum método que sinalize a futura ocorrência de Alzheimer no indivíduo?
Não existe uma prevenção. O que se faz muito é trabalhar os recursos da memória. Assim como o corpo necessita de uma atividade física, a memória também. Além das atividades físicas, incentivamos os idosos a fazerem leitura, não importa que tipo de leitura, desde que para ele dê prazer.
Para uma família o que significa um portador de Alzheimer em seu meio?
Eu diria que a família sofre tanto ou mais do que o próprio paciente. Nem sempre a família sabe lidar com essa situação. Também somos procurados para entender um pouco a relação daquele idoso com aquela família, o que ele pode fazer. Se ele esta indo por um caminho que cause menos transtornos e menos danos tanto para ele como para a família. A família tem que ter muita paciência com o idoso. Perceber que em um momento ele esta sabendo o que está falando, em outro momento não irá saber nem o que fala nem o que faz. Existe uma confusão em que a família se perde.
Há um sinal de aviso de que a pessoa está acometida de algum problema?
Existe. As demências vão acontecendo de uma forma muito sutil, delicada, se a família não estiver atenta, a doença vai ficando cada vez mais acentuada. Um exemplo, esquecer uma chave. É normal. Você volta a um lugar, lembrando que você esqueceu a chave, mas não sabe onde está, é também normal. Quando você volta para o lugar e não sabe nem porque voltou ali, há uma diferença.
O que o tão comentado “TOC”?
TOC é o Transtorno Obsessivo Compulsivo. Já é uma condição mais psíquica.
Existem idosos com TOC?
Existem muitos, principalmente os idosos que foram acumulando coisas. Tem um caso em que a pessoa acumula rolinhos de papel higiênico. Quando termina o papel, fica o rolinho, a pessoa acumula. Ela guardava uma infinidade de rolinhos. Depois passou a guardar rolinhos de papel toalha. Isso causava um transtorno, ao passo que ela ia guardando ia acumulando sujeira. Ela ficava extremamente transtornada.
Há dois tipos clássicos de TOC, o colecionador e o eliminador?
Existe, e piora com a idade. Quem tem que ficar alerta é a pessoa que está ao seu redor e que normalmente não fica muito alerta.
No ritmo acelerado de vida que imprimimos, só iremos perceber que a pessoa faleceu pela rigidez cadavérica?
Em algumas famílias sim. Pela alegada falta de tempo, outra condição é que as famílias mudaram. Tínhamos famílias numerosas, onde um cuidava do outro, hoje praticamente não há mais isso. Em nossa modernidade um casal tem de um a dois filhos, que por motivos diversos, estudo, trabalho, acaba afastando-se também.
A humanidade esta tendo maior longevidade, qual é a importância do trabalho do psicólogo diante desse quadro? É muito comum, periodicamente as pessoas fazerem exames preventivos de rotina. Existe a necessidade de procurar em freqüência semelhante um psicólogo?
Com o passar do tempo diminuiu a intensidade com a qual o individuo omite sua ida a um psicólogo. As pessoas estão muito mais abertas a cuidarem dos aspectos emocionais.
Qual é a diferença entre psiquiatra e psicólogo?
O psiquiatra atua na área médica ele prescreve medicamentos. O psicólogo não receita medicação. O ideal seria que as duas áreas pudessem andar juntas. A medicação cuida do sintoma, e a terapia cuida da causa.
O tratamento psicológico é em longo prazo, não são todas as pessoas que podem arcar com os custos, o que se vê são convênios médicos abordando o assunto de forma precária, há algum motivo em especial?
Infelizmente os convênios remuneram o profissional de psicologia de uma forma muito aquém do valor considerado merecido. Penso que os convênios médicos são fechados à  medicina, no que funcionam muito bem. O que sabemos é que os aspectos emocionais são muito pesados e carecem de um investimento maior.
O idoso carrega problemas vividos em sua infância?
Trazem muitos problemas cuja origem está em sua infância. Isso reflete na vivencia atual. Um ganho que ele tem com a terapia é a disponibilidade de poder falar de uma época muito repressora que ele viveu no passado, sobre as questões que permeavam as condições dele. Ele não podia falar na época e de repente hoje ele tem alguém com quem ele pode falar.
A prática de exercício físico é importante como fator de qualidade de vida psicológica?
Com certeza! Além de amenizar as conseqüências do envelhecimento natural, durante a prática do exercício físico o idoso estará pensando nele, em seu corpo. De alguma forma ele estará integrado com as questões emocionais. A proposta única é o bem estar do idoso, quer na questão física como emocional.
Como o idoso é tratado pelas mais diversas civilizações?
É acima de tudo uma questão cultural Em certos países há empresas ou mesmo o próprio Estado, que preferem investir em crianças e adolescentes visando ter mão de obra no futuro. Tanto os orientais, assim como nossos indígenas, consideram o idoso de uma forma muito relevante, consideram que o idoso carrega muita sabedoria. A grande pergunta é como serão os nossos jovens quando tornarem-se idosos.
A seu ver, as empresas deveriam lançar um novo olhar ao idoso, que se não tem os predicados dos jovens possuem qualidades que podem dar o diferencial necessário para o equilíbrio e melhor desempenho?

Trata-se principalmente de uma questão cultural, muitos países utilizam a experiência, sabedoria. As vantagens de trabalhar com pessoas maduras. Não irão explorar o serviço braçal, mas irão aproveitar aquilo que os idosos aprenderam com a vida. 

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