PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços
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http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: ADRIANA MARIA TABAI MARTINS
Adriana Maria Tabai Martins
nasceu a 6 de outubro de 1969, em Piracicaba, no bairro Alto, a Rua Antonio
Frederico Ozanam, próximo a Santa Casa de Misericórdia. É filha de Celso Tabai
e Albertina Cecília dos Santos Tabai. Seu pai foi metalúrgico tendo dedicado
sua vida ao trabalho junto a MAUSA, sua mãe trabalhou por 30 anos como
enfermeira na Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba. O casal teve ainda mais
uma filha, Fabiana.
Você iniciou seus estudos em que escola?
Fiz o primário no Grupo Escolar
Barão do Rio Branco, minha primeira professora foi Dona Zélia, no curso
primário. No ginásio tive aulas com o Professor José Salles, um professor que
foi muito importante em meus estudos. O colegial, hoje ensino médio, fiz no
Instituto Piracicabano. Em 1995 formei-me pela UNIMEP em Psicologia.
Você é casada?
Sou casada há 18 anos com Josuel
Martins, temos duas filhas: Larissa e Letícia.
O que a levou a escolher a profissão de
psicóloga?
Costumo dizer que sou muito
intensa na condição de cuidar. A vida toda eu vi minha mãe cuidando muito, pelo
fato de ser enfermeira na Santa Casa.
Tem influência da sua mãe em sua
história profissional?
Acredito que sim, apesar de que
ela cuidava das condições físicas do paciente. Eu sempre a admirei muito. Acredito
que isso foi amadurecendo, no curso colegial, o Instituto Piracicabano tem essa
condição humana, tínhamos aulas de psicologia. Ali me identifiquei muito com as
professoras. Eram duas ou três professoras que lecionavam psicologia, Comecei a
me interessar por essa área. A questionar. Acredito que foi uma paixão pelo
estudo de psicologia. Não me vejo fazendo outra coisa.
O estudo de psicologia é muito
interessante ao mesmo tempo em que é muito abrangente?
A faculdade nos dá uma base para
todas as abordagens. O centro principal, eu considero que seja Freud. Precursor
de toda essa condição de cuidar do humano.
A seu ver Freud revolucionou a
arte e a ciência de conhecer o pensamento humano?
Eu diria que sim. Procuro estudar
muito para me aprofundar cada dia mais e desenvolver uma atuação muito próxima
a necessidade do paciente. Há outras teorias de autores contemporâneos, embora
a origem seja de Freud.
Você atua em que locais em
Piracicaba?
Atuo no Lar dos Velhinhos já há
oito anos. Todos os dias, das 9 da manhã até as três horas da tarde. É um trabalho
de trinta horas semanais. Reportamos-nos a SEMDES- Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Social, vinculada a prefeitura. Tenho atuação clinica em
consultório particular onde atendo há vinte anos fica a Rua Dr. Otávio Teixeira
Mendes, 1704, próximo ao Colégio Dom Bosco da Cidade Alta, o telefone é
34027778.
Lá você atende a pacientes de
todas as faixas etárias?
Após ter
vindo para o Lar dos Velhinhos passei a me interessar muito por essa área de
gerontologia. Hoje atendo muito pessoas de 50,60, 70 anos.
Qual
é o problema mais comum dessas pessoas?
Vejo que com
o envelhecimento as pessoas temem muito a solidão. A morte assusta, não só a
eles, como a todos nós.
A
pessoa passa a sentir que tem restrições naturais a idade?
Elas vão
sendo mais limitadas naquilo que elas faziam antes em função do próprio
envelhecimento mesmo físicos, fisiológicos. Elas vão tendo certas limitações e
terão que se adequar a esse novo jeito de viver.
Quem
impõe essas limitações, a própria natureza ou a própria pessoa contribui muito
para estabelecer as limitações?
É um
conjunto de várias situações. Temos jovens de vinte e poucos anos que estão
muito acomodados. Assim como temos pessoas na casa de 60, 70 anos que estão
muito ativos. Penso que depende muito da condição mental, emocional, do que se propôs
a fazer ao longo da vida. O que ele está fazendo agora. Há uma grande
influencia do histórico da pessoa, do meio do qual ela vem, da sua convivência.
O que faz a diferença é essa pulsão a vida. Querer viver, resgatar aquilo que
ele não conseguiu. Temos casos de pessoas que passaram a ter uma atividade
prazerosa após sessenta anos. Tem uma senhora de oitenta e poucos anos que é
maravilhosa, ela começou a fazer um trabalho manual depois dos sessenta anos.
Isso depende muito do individuo. Assim como há idosos que ao chegarem aos
sessenta anos, em função das próprias perdas da vida ele já não está mais tão
engajado na sociedade. Ele já esta aposentado, já foi tirada dele essa condição
de trabalho. Não há mais o convívio do trabalho, dos amigos. Isso vai trazendo
cada vez mais limitações sociais. Ele fica em uma situação de prostração.
Assim
como o jovem anseia em atingir 18 anos para ter os benefícios da maioridade, há
também o anseio da pessoa em aposentar-se?
Quando o
individuo chega a certa idade ele esta cansado da tarefa que ele desempenhou na
vida. Seja ela uma tarefa braçal ou intelectual. Ele quer parar. Os históricos
que eu tenho confirmam a imaginação de que ele parando irá fazer tudo que deseja.
Não é bem isso. Ele idealiza uma aposentadoria em qual ele supõe que irá ter
muita disposição porque irá deixar um trabalho que é cansativo, exaustivo para
ele. Só que não é assim que funciona! Ai
chega o momento em que as queixas são: “-Agora não tenho mais o que fazer,
agora não faço mais nada!”. Após certo tempo ele irá ficar cansado dessa condição
de não ter o que fazer.
As
restrições físicas naturais, onde ele não terá mais a mesma condição de quando
era jovem, pode afetar profundamente o comportamento do individuo?
Vai afetar
na medida em que ele não ira saber lidar com isso. Nesse caso ele irá precisar
de uma ajuda. Quem não sabe lidar com essa condição do corpo que está
envelhecendo, que ele não terá o mesmo desempenho de quando tinha trinta ou
quarenta anos, ele irá ter ali um desconforto que pode levá-lo com certeza a
uma tristeza mais profunda, talvez a uma depressão ou até mesmo a própria
morte.
Há
idosos que através do esporte, de relacionamentos, procuram um retorno à
juventude?
É uma busca
da juventude, e aquilo faz com que ele sinta-se jovem. Ao olhar a imagem de
alguém muito mais jovem do que ele, talvez isso impeça de que ele em algum
momento olhe para a realidade.
Você
aconselha?
Psicólogo
não dá conselho! O que eu penso é poder trabalhar para ele aceitar aquilo que a
vida vai impondo, que é irreversível.
Há
casos em que o individuo busca relações afetivas além daquela que possui. Quase uma busca insana para voltar no tempo.
Qual é a visão psicológica do fato?
Depende
muito das fantasias dele, o que ele está buscando nessa relação. Ele está
envelhecendo. Algumas coisas estão muito disfuncionais. A pessoa mais jovem
pode trazer essa condição mais vivaz, por conta da idade, mas não passa de uma
fantasia, o individuo não irá ter a mesma idade que deseja ter.
Não
haverá um equilíbrio?
Penso que
não. Os riscos a que o individuo incorre são os mais diversos possíveis.
Há um
acréscimo a insatisfação do individuo em relação a épocas anteriores?
Tenho a
impressão de que está aumentando a intolerância a situações que as pessoas
estão passando.
Um
indivíduo aos quarenta anos pode ser considerado idoso?
Depende muito
das condições mentais dele. Atualmente a vida está muito acelerada. As disputas
são mais acirradas.
Quais
são suas formas de lazer preferidas?
Gosto muito de
leitura. Sou bastante ligada à família, gosto de poder ficar em casa, junto a
minha família.
Quem
a procura geralmente vem trazer seus problemas de cunho pessoal. Como é
carregar essa carga? Há alguma forma de relaxamento voltada ao psicólogo?
Na verdade
temos um tripé do qual não podemos abrir mão enquanto desempenharmos nossa
profissão. Existe a análise pessoal, a supervisão, que me ajudam muito. É uma
pessoa com quem troco idéias sobre meus casos clínicos e que me ajuda a pensar
sobre eles. Nosso trabalho é baseado na ética e na confiança. Só posso trabalhar outra pessoa se ela
confiar em mim. Costumo dizer que é um trabalho da dupla. À medida que cresce a
confiança o trabalho flui. Essa relação é restrita, jamais pode ser levada para
outro ambiente qualquer. É um trabalho muito delicado, estamos tratando de
mentes, de pessoas.
Pacientes com Alzheimer é um caso
para tratamento clinico?
Na condição da
psicologia não há muito que se fazer, é um trabalho mais voltado para a área
clinica. O Lar tem a T.O. Terapeuta Ocupacional, normalmente os idosos que tem
Alzheimer vão desenvolver essa condição cognitiva, manual onde é trabalhada a
memória com jogos. A psicologia tem que trabalhar com pessoas que tenham noção
de realidade, e pacientes com Alzheimer não tem um banco de memória. Ficam
preservadas algumas coisas, mas outras não.
Existe
algum método que sinalize a futura ocorrência de Alzheimer no indivíduo?
Não existe uma
prevenção. O que se faz muito é trabalhar os recursos da memória. Assim como o
corpo necessita de uma atividade física, a memória também. Além das atividades
físicas, incentivamos os idosos a fazerem leitura, não importa que tipo de
leitura, desde que para ele dê prazer.
Para
uma família o que significa um portador de Alzheimer em seu meio?
Eu diria que a
família sofre tanto ou mais do que o próprio paciente. Nem sempre a família
sabe lidar com essa situação. Também somos procurados para entender um pouco a
relação daquele idoso com aquela família, o que ele pode fazer. Se ele esta
indo por um caminho que cause menos transtornos e menos danos tanto para ele
como para a família. A família tem que ter muita paciência com o idoso.
Perceber que em um momento ele esta sabendo o que está falando, em outro
momento não irá saber nem o que fala nem o que faz. Existe uma confusão em que
a família se perde.
Há um
sinal de aviso de que a pessoa está acometida de algum problema?
Existe. As
demências vão acontecendo de uma forma muito sutil, delicada, se a família não
estiver atenta, a doença vai ficando cada vez mais acentuada. Um exemplo,
esquecer uma chave. É normal. Você volta a um lugar, lembrando que você
esqueceu a chave, mas não sabe onde está, é também normal. Quando você volta
para o lugar e não sabe nem porque voltou ali, há uma diferença.
O que
o tão comentado “TOC”?
TOC é o
Transtorno Obsessivo Compulsivo. Já é uma condição mais psíquica.
Existem
idosos com TOC?
Existem muitos,
principalmente os idosos que foram acumulando coisas. Tem um caso em que a
pessoa acumula rolinhos de papel higiênico. Quando termina o papel, fica o
rolinho, a pessoa acumula. Ela guardava uma infinidade de rolinhos. Depois
passou a guardar rolinhos de papel toalha. Isso causava um transtorno, ao passo
que ela ia guardando ia acumulando sujeira. Ela ficava extremamente
transtornada.
Há
dois tipos clássicos de TOC, o colecionador e o eliminador?
Existe, e piora
com a idade. Quem tem que ficar alerta é a pessoa que está ao seu redor e que
normalmente não fica muito alerta.
No
ritmo acelerado de vida que imprimimos, só iremos perceber que a pessoa faleceu
pela rigidez cadavérica?
Em algumas
famílias sim. Pela alegada falta de tempo, outra condição é que as famílias
mudaram. Tínhamos famílias numerosas, onde um cuidava do outro, hoje
praticamente não há mais isso. Em nossa modernidade um casal tem de um a dois
filhos, que por motivos diversos, estudo, trabalho, acaba afastando-se também.
A
humanidade esta tendo maior longevidade, qual é a importância do trabalho do
psicólogo diante desse quadro? É muito comum, periodicamente as pessoas fazerem
exames preventivos de rotina. Existe a necessidade de procurar em freqüência
semelhante um psicólogo?
Com o passar do
tempo diminuiu a intensidade com a qual o individuo omite sua ida a um
psicólogo. As pessoas estão muito mais abertas a cuidarem dos aspectos
emocionais.
Qual
é a diferença entre psiquiatra e psicólogo?
O psiquiatra
atua na área médica ele prescreve medicamentos. O psicólogo não receita
medicação. O ideal seria que as duas áreas pudessem andar juntas. A medicação
cuida do sintoma, e a terapia cuida da causa.
O
tratamento psicológico é em longo prazo, não são todas as pessoas que podem
arcar com os custos, o que se vê são convênios médicos abordando o assunto de
forma precária, há algum motivo em especial?
Infelizmente os
convênios remuneram o profissional de psicologia de uma forma muito aquém do
valor considerado merecido. Penso que os convênios médicos são fechados à medicina, no que funcionam muito bem. O que
sabemos é que os aspectos emocionais são muito pesados e carecem de um
investimento maior.
O
idoso carrega problemas vividos em sua infância?
Trazem muitos
problemas cuja origem está em sua infância. Isso reflete na vivencia atual. Um
ganho que ele tem com a terapia é a disponibilidade de poder falar de uma época
muito repressora que ele viveu no passado, sobre as questões que permeavam as
condições dele. Ele não podia falar na época e de repente hoje ele tem alguém
com quem ele pode falar.
A prática
de exercício físico é importante como fator de qualidade de vida psicológica?
Com certeza!
Além de amenizar as conseqüências do envelhecimento natural, durante a prática
do exercício físico o idoso estará pensando nele, em seu corpo. De alguma forma
ele estará integrado com as questões emocionais. A proposta única é o bem estar
do idoso, quer na questão física como emocional.
Como
o idoso é tratado pelas mais diversas civilizações?
É acima de tudo
uma questão cultural Em certos países há empresas ou mesmo o próprio Estado,
que preferem investir em crianças e adolescentes visando ter mão de obra no
futuro. Tanto os orientais, assim como nossos indígenas, consideram o idoso de
uma forma muito relevante, consideram que o idoso carrega muita sabedoria. A
grande pergunta é como serão os nossos jovens quando tornarem-se idosos.
A seu
ver, as empresas deveriam lançar um novo olhar ao idoso, que se não tem os
predicados dos jovens possuem qualidades que podem dar o diferencial necessário
para o equilíbrio e melhor desempenho?
Trata-se
principalmente de uma questão cultural, muitos países utilizam a experiência,
sabedoria. As vantagens de trabalhar com pessoas maduras. Não irão explorar o
serviço braçal, mas irão aproveitar aquilo que os idosos aprenderam com a vida.
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