domingo, junho 19, 2016

WALDOMIRO SCARPARI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 



ENTREVISTADO: WALDOMIRO SCARPARI

Waldomiro Scarpari, aos 83 anos, com uma disposição invejável tem prazer em trabalhar. Fica evidente a sua dedicação ao seu trabalho e aos seus clientes, embora tenha uma equipe, continua a frente do seu empreendimento. Entre relógios, peças, vendas e consertos ele faz de cada cliente um amigo. É comum de forma inesperada alguém entrar para contar uma novidade, trocar um dedo de prosa, trazer a última piada, o que torna o lugar aprazível, reina o bom humor. Isso não diminui o profissionalismo com o qual todos se dedicam. Enfim um local á moda antiga, mas com tecnologia atual. Entre suas muitas atividades, Waldomiro já foi Juiz de Paz. Talvez tenha sido um dos raros homens a ter em mãos um cheque assinado em branco, para ser preenchido, dado pelo Comendador Mário Dedini que comandava um império metalúrgico e siderúrgico. Waldomiro Scarpari tem uma das qualidades essenciais, que transforma o homem em um vencedor, a sua humildade.
Waldomiro Scarpari nasceu a 15 de fevereiro de 1933, a Rua Boa Morte esquina com Rua Joaquim André, ali havia um hotel de propriedade do seu pai, ficava a menos de duzentos metros da Estação da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, em Piracicaba, São seus pais Antonio Scarpari e Andresa Novello Scarpari que tiveram os filhos Pedro, Milton, Waldomiro, José e Tereza. Waldomiro é casado com Beatriz Scarpari, tem três filhos: Maria Cristina, Waldomiro e Marisol. Tem sete netos e quatro bisnetos.
Qual era a atividade do seu pai?
Quando faleceu meu avô ele foi trabalhar em um sítio no bairro dos Marins, com um tio meu, Mário Fornazier casado com a irmã da minha mãe.
O senhor chegou a frequentar a escola na área rural?
Estudei na Escola Rural do Bairro dos Marins, permaneci na área rural até os oito anos, depois mudei para a cidade, passei a freqüentar o Grupo Escolar Francisca de Castro na época situada na Rua do Porto. Quando mudamos para Piracicaba fomos morar no bairro Paulista, próximo ao armazém do meu tio Vitório Fornazier casado com a irmã da minha mãe, a Mariquinha, ele era ajudado pelos seus filhos Alcides e Waldemar. Hoje no local funciona o Supermercado Balan. Naquele tempo a Praça Takaki não existia, era tudo mato. Nessa época é que conheci José Nassif, uma pessoa marcante pela sua gentileza e a atenção que dispensava às pessoas. Tanto que eu era criança e ainda lembro-me dele.
No seu tempo o trem da Companhia Paulista estava funcionando?
Aos dez anos eu ia carregar mala dos passageiros que chegavam às nove e cinqüenta da noite. Com nove anos eu tive a felicidade de ser o primeiro aluno da classe isso me proporcionou tirar o diploma do curso primário um ano antes do que normalmente era comum. Tive como professores: Dona Hercília Sertem Ferraz, Professor Altino do Nascimento, o diretor do grupo era o Seu Canto. Fui engraxate no centro da cidade, lá eu conheci Pedro Natividade que é um dos maiores advogados de Piracicaba, ele era engraxate. Já éramos amigos.
O centro era muito disputado pelos engraxates?                
Era difícil ser aceito pelo grupo, existia uma palavra que os engraxates usavam quando apontava um cidadão, com a possibilidade de engraxar seu sapato. O primeiro engraxate que visse o cidadão dizia: “Narete!” Era entendido que aquela pessoa teria seus sapatos engraxados pelo engraxate que tinha dito a palavra em primeiro lugar. Se por ventura ele escolhesse outro engraxate tinha que dar uma porcentagem ao que gritou “Narete!” primeiro. É uma palavra sem um significado conhecido, criada há muito tempo, pelos velhos engraxates que ficavam na praça. Eu era um bom engraxate, tinha clientes famosos, o Ex-Prefeito Nélio Ferraz de Arruda, na época ele trabalhava na rádio, ele usava um sapato de cromo alemão, super brilhante. Além de pagar ele sempre dava uma gorjeta. Eu ia de bonde na sexta feira ou no sábado até a Vila Rezende, para engraxar os sapatos da família Dedini, do Leopoldo, das irmãs dele, engraxava 10,12 a 15 pares de sapatos deles. Eles faziam questão que eu almoçasse lá.
Como foi sua experiência como carregador de mala ainda menino?
Eu tinha uns 10 anos, mas já era bem fortinho. Tinha um casal que vendia miudezas em frente ao Mercado Municipal no final de semana e durante a semana em frente ao Bar Americano que ficava ao lado da matriz, onde depois foi construído o Edifício Gianetti. Ali o Michelle Gianetti tinha um bar, havia uma engraxataria que pertencia a uns italianos, havia também uma sede onde os carros do Gianetti paravam. Eram os carros que conduziam as pessoas para São Paulo. Lembro-me dos Gianetti: Frank, Atílio. Durante o dia eu trabalhava como engraxate e a noite ia esperar a chegada do trem. Essa mala deveria pesar 10 a 12 quilos, eu colocava nas costas. O casal ia embora, eu pegava o bonde e dirigia-me até onde eles ficavam em uma pensão na Rua D. Pedro II, eu descia do bonde na esquina da Boa Morte com a Rua D. Pedro II, passava ao lado do mercado. Deixava a mala lá e recebia pelo trabalho. O marido chama-se Raul Costa sua esposa era Dona Rute. Um dia perguntaram-me se eu não levaria a mala logo pela manhã em frente ao Bar Americano. Eles vendiam pentes, cintas plásticas, óleo para cabelo, perfume. Parei de engraxar sapatos e passei a trabalhar para o casal, eu levava a mala, ajudava a armar a barraca, às vezes ele ia fazer algum negócio ficava a senhora dele e eu. Com isso comecei a aprender a vender. Quando o Raul não estava na hora do almoço ela ia almoçar no Bar Americano e eu ficava sozinho na barraca vendendo. Eu também almoçava como eles no Bar Americano. Lá pelas cinco horas eu que fechava a barraca e levava na pensão onde eles moravam. Com o passar do tempo, um dia ele me levou junto para São Paulo, ele comprava em uma rua algumas coisas depois ia até a Rua 25 de Março. Ele não gostava muito de carregar peso, eu ia junto para carregar pacotes.
O senhor com isso foi conhecendo São Paulo?
Com isso, aos doze anos eu pegava o trem, sozinho, e ia para São Paulo. A locomotiva era a vapor. Fazia as compras em uma loja de uns espanhóis que me admiravam, me tratavam muito bem. Diziam “- Você vem sozinho menino, com dinheiro?”. Uma das vezes eu comprei meia dúzia de navalhas alemãs Solingen, no dia seguinte fui prestar as contas, o meu patrão Raul quase me mandou embora. Por causa das navalhas, que custava caro. A mulher dele o aconselhou a ter calma. Domingo às seis horas da manhã já ia montar a barraca no Mercado Municipal. Ofereci a um senhor uma navalha, dizendo que era alemã, cabo branco, ele pediu para ver. Dei o preço três vezes a mais do que eu tinha pago. Ele comprou a navalha. Na segunda feira o Raul nem estava conversando comigo. A Dona Rute sabia que eu era importante para eles. Às vezes fazia outros tipos de serviços, como ir buscar pão, leite. A tarde chegou um senhor dizendo que o cunhado dele havia adquirido uma navalha no dia anterior, ele também queria uma. No final da semana não tinha mais navalha. Tinha encomenda, até barbeiro queria comprar navalha. Na terça feira fui a São Paulo buscar navalhas. No salão de engraxate, ao lado da matriz tinha também a barbearia dos Righetto. Chegando em São Paulo comprei seis navalhas, os espanhóis ofereceram relógios de pulso, eu expliquei que o Raul tinha ficado bravo porque eu tinha comprado as navalhas sem sua autorização, os espanhóis me disseram: “-Com o relógio vai acontecer a mesma coisa”. Era novidade! Acabei trazendo três relógios. Cada relógio foi vendido por quatro vezes a mais do que tinha pago. Com isso começamos a vender relógios, navalhas. Apareceu um suspensório moderno Trouxe um jogo de cinco suspensórios de plástico, incolor. Acabei virando o comprador do Seu Raul. Nesse meio tempo, um senhor de nome Avelino, mandou fazer uma barraca mais bonita do que a nossa, como se fosse concorrente. Mais tarde esse Avelino foi dono de uma casa de armas na Rua Prudente de Moraes. Um senhor de nome Antonio, comprou a barraca do Raul, pagou caríssimo. Nessa época a barraca já vendia muito, coisas boas, mais caras. Como o Raul tinha parentes em Limeira mudou-se para lá. Mas me levou para Limeira. Raul tinha um sobrinho em Limeira, o Hélio que após algum tempo foi para Rio Claro. Em Limeira vendia-se muito relógio, acontecia de às vezes o relógio dar uma parada. Eu abria o relógio, mexia, ele começava a funcionar de novo. Tinha um relojoeiro de nome Herculano Khiel, era famosíssimo em Rio Claro. Quando eu não dava conta do relógio levava para ele. Ele dizia: “-Isso aqui é fácil, é só fazer isto, mais isto.” Com isso comecei a desmontar o relógio e a montar. Toda noite eu ia até o Herculano, aprender a trabalhar com relógio. O Raul vendeu a barraca em Limeira, eu voltei para Piracicaba. Naquele temo havia muito relógio de bolso, de pulso havia poucos. O Herculano atendia pessoas que vinham de todos os lugares. Aos domingos fervia de gente que ia levar ou buscar o relógio. Era um Deus nos acuda! O Herculano convidou-me para que ficasse na casa dele, com a sua família: esposa, dois filhos e uma filha. Os filhos às vezes permaneciam na casa de parentes, praticamente ficava sua esposa, filha, ele e eu. Já no começo eu ia buscar pão, leite, jornal. Era tratado como um filho. Trabalhava de segunda a segunda. O serviço começou a render, eu aprendi a trocar eixo, corda. limpar, palitar bem o relógio (palitar era tirar a sujeira com um palito). Ele tinha uns 200 relógios para consertar, em pouco tempo consertamos tudo. O cliente não tinha que esperar como antes. Eu gostava de trabalhar. Permaneci dois anos com o Herculano. Meu pai faleceu, eu vim embora para Piracicaba. Eles não queriam que eu viesse embora. A empresa de ônibus que fazia o percurso era a Mesquita.  Arrumei na Avenida Rui Barbosa um salãozinho, isso foi em 1947. Eu tinha 14 anos. Naquele tempo ele deu-me uma nota de quinhentos mil réis. Era denominada “Carijó”.
Nessa época a Vila Rezende era o bairro que gerava as riquezas da cidade?
As grandes empresas estavam estabelecidas na Vila Rezende, como a Dedini, a Codistil, era o bairro onde o poder aquisitivo era elevado.
Tinha um restaurante muito famoso o senhor conheceu?
Era o restaurante da Gigeta Papini. Conheci muito a Gigeta! Tinha uma polenta com frango que era excepcional. Ficava onde hoje é a loja Monteiro.




Como foi a formação da clientela?
Toda segunda feira o Herculano mandava pelo ônibus uma caixa cheia de relógios. A Avenida Rui Barbosa era duas mãos. Na sexta feira iam todos os relógios prontos e consertados. A estrada para Rio Claro era de terra, quando chovia não conseguiam subir o Morro do Boiadeiro. Aqui quando começou a surgir algum serviço eu tinha uma mesinha que trouxe de casa, umas pinças que o Herculano me deu, chave de fenda, alicate, consertava despertador, relógio de parede, de bolso ou de pulso. Às vezes a pessoa trazia, eu consertava, levava na casa do cliente, ficava lá, depois de 10, 15, 30 dias ele vinha me pagar. Ele esperava para ver se realmente estava bom. Despertador o Westclock era o mais comum. Tinha muitos despertadores Veglia, relógio italiano. O Junkers fabricado na Alemanha.  De bolso o Roscoff Patent. Patek Philippe era raro, a maioria era de ouro. Era um relógio só para pessoa de muita posse. De pulso eram comuns os relógios Omega, Cima Tissot, Zenith.  Meu irmão Zézinho vinha a pé da Rua Alferes José Caetano, 1572 trazer o almoço, ele passou a observar, a aprender e tornou-se um grande relojoeiro. Começamos a trabalhar juntos, fui para São Paulo, comprei uma máquina de lavar relógios chamada Safrany. Ela limpava 12 a 14 relógios em uma cestinha. Ai comecei a trabalhar com o Provenzano que tinha uma loja na Rua Boa Morte, no começo vinha 10 a 20 relógios, comecei a trabalhar para a Relojoaria Rubi, para o Gatti, Consomagno, Relojoaria Puzzi. Chegava a consertar 200 relógios por semana.



O senhor conheceu Giovanni (Joane) Ferrazzo ? 
 Conheci muito! Ele fabricava as vassouras marca “Elefante” na Avenida Rui Barbosa. Naquela época a linha da Estrada de Ferro Sorocabana passava paralela a Avenida Rui Barbosa, tinha uma parada próxima onde hoje é o posto de combustível conhecido popularmente como “Posto da Velha”.
O senhor conheceu o Comendador Mário Dedini?
O Seu Mário foi um grande amigo. Ele tinha por mim uma consideração fora do comum. Fui presidente da Sociedade Amigos de Vila Rezende por causa dele. Ele me chamou, a Sociedade estava em uma fase ruim, não tinha uma sede, nós nos reunimos em um casarão situado na Avenida Rui Barbosa, ali se reunia o Rotary também. O proprietário, Babico Carmignani cedia o prédio para nosso uso. Conheci a irmã mais velha do Mário Dedini, a Clementina, era uma pessoa fantástica. Ela teve um problema de saúde e gostava que eu a visitasse, às vezes ela telefonava e dizia: “Walmiro, vieni qui”. Eu fui engraxate da família, eles me conheciam há muitos anos. O Leopoldo Dedini ficou meu cliente. Eu ia para São Paulo trazia Caneta Tinteiro Parker 51, trazia 10, 20 unidades. O Mário não gostava de preta nem de cinza, tinha que ser vermelha ou azul. Vendi muitos relógios para eles, fiz muitos consertos. Fui a São Paulo, na Praça do Patriarca, no Unibanco, o gerente era piracicabano. Na época existia a Morro Velho que vendia ouro mil. Comprava um quilo de ouro, com o cheque do Seu Mário, em branco, só com a assinatura dele, levava esse ouro em uma firma que eu já conhecia e transformavam aquele ouro em caixas de relógio, as máquinas eu já tinha comprado, geralmente Seiko, Orient, automáticos. E depois ia a outra fábrica para confeccionar as pulseiras. Em 1972 foram fabricados 350 pulseiras e relógios de ouro, para pessoas que já tinham 25 anos ou mais de serviços prestados como funcionário da empresa. Foram utilizados dois quilos e meio de ouro. Eu administrava a liga em que eram feitos para transformar em ouro 750.
Tinha algum desenho no relógio?
Não. Só tinha uma gravação no fundo, com o nome da pessoa a data e gravado Oficinas Dedini. Quem gravava era conhecido como Cheide, hoje mora no Rio Grande do Sul. Essas homenagens eram feitas de cinco em cinco anos. Em 1977 a festa foi na casa do Seu Mário, na Rua Santo Antonio, era um quintal só para as três casas: do Armando, filho do Seu Mário na Rua Santo Antonio esquina com Rua Treze de Maio, Seu Mário  morava na casa do meio e na outra casa onde morava Arnaldo Ricciardi hoje funciona o Restaurante Montesul. Foram feitos 280 relógios e mais um determinado número de medalhas de ouro para aqueles que completavam trinta anos de serviços prestados às Oficinas Dedini. Em 1982 foi o último ano em que aconteceu isso, depois Seu Mário faleceu. Os relógios não eram mais de ouro e sim folhados a ouro. Ai a empresa começou a ter uma fase não muito boa.
O Comendador Mário chegou a ver essa fase da empresa?
Viu. A Dedini forneceu todo aço utilizado na ponte Rio-Niteroi. Naquele tempo ainda tinha a Estrada de Ferro Sorocabana, passavam 15 a 20 vagões carregados de aço. Ao que consta, o pagamento desse aço todo era feito de forma defasada do vencimento, embora os impostos incidentes já tivessem sido recolhidos.
O senhor conheceu o Comendador Humberto D`Abronzo?
Conheci muito. Assim como sua irmã Ana, carinhosamente conhecida como Aninha, ela, Renan Cantarelli, João Vendemiatti, formamos o grupo de pessoas que montamos a Sociedade Amigos de Vila Rezende. (SAVIRE). Nós fizemos uma comissão para construir a Escola Estadual Monsenhor Jeronymo Gallo. Fomos falar com o Mario Areas Witier, ele nos doou um terreno. Trouxemos de São Paulo o pessoal especializado para analisar, recusaram o terreno.  Era um bom terreno, mas na época o local era impróprio pelo acumulo de água. Procurei o Seu Mário Dedini, expliquei a ele a situação. Ele pensou e disse: “-Deixa eu pensar uma coisa Miro, depois eu falo com você”. O terreno onde está situada a Escola Estadual Monsenhor Jeronymo Gallo era dele, ele doou para a construção da escola. Fomos a São Paulo falar com o Governador Carvalho Pinto, por intermédio de Francisco Carlos Neves, filho do Dr. Samuel de Castro Neves, ele era assessor do governador. O Governador Carvalho Pinto nos atendeu, cuidou da planta do colégio, cuidou de tudo, conseguimos assim construir a escola. A SAVIRE distribuía cestas básicas aos carentes. Cada caso era analisado com muito critério. Fui fundador do Rotary Club da Vila Rezende junto com Jairo Araritaguaba gerente do Banco Moreira Salles. O Jairo Ribeiro de Mattos, com quem tenho muita amizade, montou o Conselho de Saúde de Piracicaba, onde eu era diretor, funcionava atrás do Mercado Municipal, ao lado do Posto de Saúde. Todos os diretores eram médicos, só eu que não era. Naquele tempo já comecei a dar uns palpites, como fazer visitas aos bairros, ver se os poços de água estavam próximos as fossas sépticas, as pessoas não sabiam que poderia haver a contaminação da água quando essas duas construções estivessem próximas, isso ocasionava muitos problemas de saúde.
Não havia a rede de esgoto?
Isso ocorria muito na área rural. Cada diretor trabalhou em uma área, eu escolhi o bairro do Godinho, onde eu tinha uma chácara. Cada diretor tinha sua atividade profissional, fazíamos essas ações voluntárias e na medida em que conseguíamos. Mas fizemos muitas ações nesse sentido. No Godinho famílias inteiras tinham problemas de saúde, eu dizia “- Vocè está bebendo água com bactérias, fecha o poço de água e a fossa séptica. Faz o poço em um lugar alto e o banheiro (com fossa) lá embaixo. Ou constrói um cômodo e faz um banheiro dentro de casa”. O poço com uma bomba pequena joga a água em uma caixa de água, por gravidade a água vem até a casa. Muitos fizeram isso. Dezenas de famílias que tinham problemas de saúde sararam. Como havia sido uma sugestão minha, fizeram questão que eu fosse o segundo presidente do Conselho de Saúde de Piracicaba. O terceiro presidente foi o Lodovico Trevisan.
O senhor participou de outras entidades?
Fui presidente do CDL- Clube dos Diretores Lojistas da Vila Rezende. Conseguimos muitas melhorias para o bairro. Fui Juiz de Paz do Segundo Subdistrito. Mário Telles era o cartorário.
Como Juiz de Paz o senhor deve ter muitos casos para contar!
Aconteceram muitas coisas, havia um Juiz de Paz substituto, que era o Severiano. Naquele tempo, quando fazia o casamento eu tinha certa ênfase. (Com ênfase e uma voz de locutor, Waldomiro repete o que dizia). “De acordo com a vontade que ambos acabaram de afirmar, perante mim, de vos receberdes por marido e mulher, eu, em nome da Lei, os declaro casados”. O pessoal começou a querer casar aos domingos. Aos sábados eu já tinha que ir lá, fazia dez a doze casamentos. Lembro-me de que fui celebrar um casamento em um determinado bairro na zona rural, onde o filho de uma das mais tradicionais famílias de Piracicaba iria casar-se. Foi marcado para o Juiz de Paz estar lá ao meio dia. Fui com o meu carro, chegando lá já havia muita gente. E o noivo não vinha. Após uma hora de espera, chamei os responsáveis e perguntei o que estava acontecendo que o noivo não vinha. Tinha viajado? Não irá vir mais? Disseram que ele teve um mal estar, mas estava ali. A uma hora e meia da tarde ele apareceu. Completamente bêbado. Quase não parava em pé. Perguntei-lhe o nome, ele balbuciou. Chamei o responsável, disse-lhe: “Sou Juiz de Paz, tenho uma responsabilidade, não posso fazer esse casamento. O homem está completamente bêbado!” Tentaram contemporizar. Neguei-me a realizar o casamento com o noivo naquelas condições. Peguei o meu carro e vim embora. Deu o maior sururu. Principalmente pela importância da família, rádios, jornais, exploraram o assunto. Criticaram-me muito. Relatei ao Mário  o ocorrido, ele era um homem de poucas palavras, cumprimentou-me pela atitude e disse que ele iria destituir o Juiz de Paz que realizasse um casamento naquelas condições. Fui procurado pela mídia. Disse que o noivo tinha tido um mal súbito, não contei sobre o estado lamentável do mesmo. Em seguida pedi demissão do cargo de Juiz de Paz.
O senhor foi presidente do Lar Betel ?
Fui por dois anos, quando assumi tinha uma série de problemas, quem me pediu para assumir foi  Antonietta Rosalina da Cunha Losso Pedroso, diretora do Jornal de Piracicaba. Tive a felicidade de ter como diretores: Flávio Risolo, Dalgo Migliolo, Reinaldo Meneghini. Nino Gobim e seu filho Marco, Comendador Antonio Lubiani. Esse pessoal me ajudou muito. Conseguimos todos os colchões novos, roupas de cama, cobertores. Terminamos um pavilhão, contratamos uma jovem que fazia planejamento de tudo, contratamos também uma nutricionista. Ao lado do Lar Betel tinha um casarão velho, pedi ao prefeito Adilson Benedito Maluf, nós ganhamos aquilo lá. Jairo Ribeiro de Mattos era deputado estadual, nos deu uma Kombi, para fazer mercado, levar idoso para a Santa Casa.
O senhor participa da ACIPI?
Desde 1970 sou diretor da ACIPI – Associação Comercial e Industrial de Piracicaba. Conheci muito Telmo Otero, fomos nós que construímos o prédio onde está instalada a ACIPI. A Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Empresários de Piracicaba (Coopcred) foi implantada por José Antonio de Godoy que me nomeou como coordenador da construção em um terreno de 1.350 metros quadrados. Tive muita colaboração de toda a diretoria. Atualmente sou diretor de Patrimônio da ACIPI.  Já fui diretor de: eventos, relações públicas. Ser diretor da ACIPI é uma escola, é um laboratório, algo maravilhoso.


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