PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços
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ENTREVISTADO: WALDOMIRO SCARPARI
Waldomiro Scarpari, aos 83 anos, com
uma disposição invejável tem prazer em trabalhar. Fica evidente a sua dedicação
ao seu trabalho e aos seus clientes, embora tenha uma equipe, continua a frente
do seu empreendimento. Entre relógios, peças, vendas e consertos ele faz de
cada cliente um amigo. É comum de forma inesperada alguém entrar para contar
uma novidade, trocar um dedo de prosa, trazer a última piada, o que torna o
lugar aprazível, reina o bom humor. Isso não diminui o profissionalismo com o
qual todos se dedicam. Enfim um local á moda antiga, mas com tecnologia atual. Entre
suas muitas atividades, Waldomiro já foi Juiz de Paz. Talvez tenha sido um dos
raros homens a ter em mãos um cheque assinado em branco, para ser preenchido,
dado pelo Comendador Mário Dedini que comandava um império metalúrgico e
siderúrgico. Waldomiro Scarpari tem uma das qualidades essenciais, que
transforma o homem em um vencedor, a sua humildade.
Waldomiro Scarpari nasceu a 15 de
fevereiro de 1933, a Rua Boa Morte esquina com Rua Joaquim André, ali havia um
hotel de propriedade do seu pai, ficava a menos de duzentos metros da Estação
da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, em Piracicaba, São seus pais
Antonio Scarpari e Andresa Novello Scarpari que tiveram os filhos Pedro,
Milton, Waldomiro, José e Tereza. Waldomiro é casado com Beatriz Scarpari, tem
três filhos: Maria Cristina, Waldomiro e Marisol. Tem sete netos e quatro
bisnetos.
Qual era a atividade do seu pai?
Quando faleceu meu avô ele foi
trabalhar em um sítio no bairro dos Marins, com um tio meu, Mário Fornazier
casado com a irmã da minha mãe.
O senhor chegou a frequentar a escola na área
rural?
Estudei na Escola Rural do Bairro
dos Marins, permaneci na área rural até os oito anos, depois mudei para a
cidade, passei a freqüentar o Grupo Escolar Francisca de Castro na época
situada na Rua do Porto. Quando mudamos para Piracicaba fomos morar no bairro
Paulista, próximo ao armazém do meu tio Vitório Fornazier casado com a irmã da
minha mãe, a Mariquinha, ele era ajudado pelos seus filhos Alcides e Waldemar.
Hoje no local funciona o Supermercado Balan. Naquele tempo a Praça Takaki não
existia, era tudo mato. Nessa época é que conheci José Nassif, uma pessoa
marcante pela sua gentileza e a atenção que dispensava às pessoas. Tanto que eu
era criança e ainda lembro-me dele.
No seu tempo o trem da Companhia Paulista
estava funcionando?
Aos dez anos eu ia carregar mala
dos passageiros que chegavam às nove e cinqüenta da noite. Com nove anos eu
tive a felicidade de ser o primeiro aluno da classe isso me proporcionou tirar
o diploma do curso primário um ano antes do que normalmente era comum. Tive
como professores: Dona Hercília Sertem Ferraz, Professor Altino do Nascimento,
o diretor do grupo era o Seu Canto. Fui engraxate no centro da cidade, lá eu
conheci Pedro Natividade que é um dos maiores advogados de Piracicaba, ele era
engraxate. Já éramos amigos.
O
centro era muito disputado pelos engraxates?
Era difícil ser
aceito pelo grupo, existia uma palavra que os engraxates usavam quando apontava
um cidadão, com a possibilidade de engraxar seu sapato. O primeiro engraxate
que visse o cidadão dizia: “Narete!” Era entendido que aquela pessoa teria seus
sapatos engraxados pelo engraxate que tinha dito a palavra em primeiro lugar.
Se por ventura ele escolhesse outro engraxate tinha que dar uma porcentagem ao
que gritou “Narete!” primeiro. É uma palavra sem um significado conhecido,
criada há muito tempo, pelos velhos engraxates que ficavam na praça. Eu era um
bom engraxate, tinha clientes famosos, o Ex-Prefeito Nélio Ferraz de Arruda, na
época ele trabalhava na rádio, ele usava um sapato de cromo alemão, super
brilhante. Além de pagar ele sempre dava uma gorjeta. Eu ia de bonde na sexta
feira ou no sábado até a Vila Rezende, para engraxar os sapatos da família
Dedini, do Leopoldo, das irmãs dele, engraxava 10,12 a 15 pares de sapatos
deles. Eles faziam questão que eu almoçasse lá.
Como
foi sua experiência como carregador de mala ainda menino?
Eu tinha uns 10
anos, mas já era bem fortinho. Tinha um casal que vendia miudezas em frente ao
Mercado Municipal no final de semana e durante a semana em frente ao Bar
Americano que ficava ao lado da matriz, onde depois foi construído o Edifício
Gianetti. Ali o Michelle Gianetti tinha um bar, havia uma engraxataria que
pertencia a uns italianos, havia também uma sede onde os carros do Gianetti
paravam. Eram os carros que conduziam as pessoas para São Paulo. Lembro-me dos
Gianetti: Frank, Atílio. Durante o dia eu trabalhava como engraxate e a noite
ia esperar a chegada do trem. Essa mala deveria pesar 10 a 12 quilos, eu
colocava nas costas. O casal ia embora, eu pegava o bonde e dirigia-me até onde
eles ficavam em uma pensão na Rua D. Pedro II, eu descia do bonde na esquina da
Boa Morte com a Rua D. Pedro II, passava ao lado do mercado. Deixava a mala lá
e recebia pelo trabalho. O marido chama-se Raul Costa sua esposa era Dona Rute.
Um dia perguntaram-me se eu não levaria a mala logo pela manhã em frente ao Bar
Americano. Eles vendiam pentes, cintas plásticas, óleo para cabelo, perfume.
Parei de engraxar sapatos e passei a trabalhar para o casal, eu levava a mala,
ajudava a armar a barraca, às vezes ele ia fazer algum negócio ficava a senhora
dele e eu. Com isso comecei a aprender a vender. Quando o Raul não estava na
hora do almoço ela ia almoçar no Bar Americano e eu ficava sozinho na barraca
vendendo. Eu também almoçava como eles no Bar Americano. Lá pelas cinco horas
eu que fechava a barraca e levava na pensão onde eles moravam. Com o passar do
tempo, um dia ele me levou junto para São Paulo, ele comprava em uma rua
algumas coisas depois ia até a Rua 25 de Março. Ele não gostava muito de
carregar peso, eu ia junto para carregar pacotes.
O
senhor com isso foi conhecendo São Paulo?
Com isso, aos
doze anos eu pegava o trem, sozinho, e ia para São Paulo. A locomotiva era a
vapor. Fazia as compras em uma loja de uns espanhóis que me admiravam, me
tratavam muito bem. Diziam “- Você vem sozinho menino, com dinheiro?”. Uma das
vezes eu comprei meia dúzia de navalhas alemãs Solingen, no dia seguinte fui prestar as contas, o meu patrão Raul
quase me mandou embora. Por causa das navalhas, que custava caro. A mulher dele
o aconselhou a ter calma. Domingo às seis horas da manhã já ia montar a barraca
no Mercado Municipal. Ofereci a um senhor uma navalha, dizendo que era alemã,
cabo branco, ele pediu para ver. Dei o preço três vezes a mais do que eu tinha
pago. Ele comprou a navalha. Na segunda feira o Raul nem estava conversando
comigo. A Dona Rute sabia que eu era importante para eles. Às vezes fazia
outros tipos de serviços, como ir buscar pão, leite. A tarde chegou um senhor
dizendo que o cunhado dele havia adquirido uma navalha no dia anterior, ele
também queria uma. No final da semana não tinha mais navalha. Tinha encomenda,
até barbeiro queria comprar navalha. Na terça feira fui a São Paulo buscar
navalhas. No salão de engraxate, ao lado da matriz tinha também a barbearia dos
Righetto. Chegando em São Paulo comprei seis navalhas, os espanhóis ofereceram
relógios de pulso, eu expliquei que o Raul tinha ficado bravo porque eu tinha
comprado as navalhas sem sua autorização, os espanhóis me disseram: “-Com o
relógio vai acontecer a mesma coisa”. Era novidade! Acabei trazendo três
relógios. Cada relógio foi vendido por quatro vezes a mais do que tinha pago.
Com isso começamos a vender relógios, navalhas. Apareceu um suspensório moderno
Trouxe um jogo de cinco suspensórios de plástico, incolor. Acabei virando o comprador
do Seu Raul. Nesse meio tempo, um senhor de nome Avelino, mandou fazer uma
barraca mais bonita do que a nossa, como se fosse concorrente. Mais tarde esse
Avelino foi dono de uma casa de armas na Rua Prudente de Moraes. Um senhor de
nome Antonio, comprou a barraca do Raul, pagou caríssimo. Nessa época a barraca
já vendia muito, coisas boas, mais caras. Como o Raul tinha parentes em Limeira
mudou-se para lá. Mas me levou para Limeira. Raul tinha um sobrinho em Limeira,
o Hélio que após algum tempo foi para Rio Claro. Em Limeira vendia-se muito
relógio, acontecia de às vezes o relógio dar uma parada. Eu abria o relógio,
mexia, ele começava a funcionar de novo. Tinha um relojoeiro de nome Herculano Khiel, era famosíssimo em
Rio Claro. Quando eu não dava conta do relógio levava para ele. Ele dizia:
“-Isso aqui é fácil, é só fazer isto, mais isto.” Com isso comecei a desmontar
o relógio e a montar. Toda noite eu ia até o Herculano, aprender a trabalhar
com relógio. O Raul vendeu a barraca em Limeira, eu voltei para Piracicaba.
Naquele temo havia muito relógio de bolso, de pulso havia poucos. O Herculano
atendia pessoas que vinham de todos os lugares. Aos domingos fervia de gente
que ia levar ou buscar o relógio. Era um Deus nos acuda! O Herculano convidou-me
para que ficasse na casa dele, com a sua família: esposa, dois filhos e uma
filha. Os filhos às vezes permaneciam na casa de parentes, praticamente ficava
sua esposa, filha, ele e eu. Já no começo eu ia buscar pão, leite, jornal. Era
tratado como um filho. Trabalhava de segunda a segunda. O serviço começou a
render, eu aprendi a trocar eixo, corda. limpar, palitar bem o relógio (palitar
era tirar a sujeira com um palito). Ele tinha uns 200 relógios para consertar, em
pouco tempo consertamos tudo. O cliente não tinha que esperar como antes. Eu
gostava de trabalhar. Permaneci dois anos com o Herculano. Meu pai faleceu, eu
vim embora para Piracicaba. Eles não queriam que eu viesse embora. A empresa de
ônibus que fazia o percurso era a Mesquita.
Arrumei na Avenida Rui Barbosa um salãozinho, isso foi em 1947. Eu tinha
14 anos. Naquele tempo ele deu-me uma nota de quinhentos mil réis. Era
denominada “Carijó”.
Nessa época a Vila
Rezende era o bairro que gerava as riquezas da cidade?
As grandes
empresas estavam estabelecidas na Vila Rezende, como a Dedini, a Codistil, era
o bairro onde o poder aquisitivo era elevado.
Tinha
um restaurante muito famoso o senhor conheceu?
Era o restaurante
da Gigeta Papini. Conheci muito a Gigeta! Tinha uma polenta com frango que era
excepcional. Ficava onde hoje é a loja Monteiro.
Como
foi a formação da clientela?
Toda segunda
feira o Herculano mandava pelo ônibus uma caixa cheia de relógios. A Avenida
Rui Barbosa era duas mãos. Na sexta feira iam todos os relógios prontos e
consertados. A estrada para Rio Claro era de terra, quando chovia não
conseguiam subir o Morro do Boiadeiro. Aqui quando começou a surgir algum
serviço eu tinha uma mesinha que trouxe de casa, umas pinças que o Herculano me
deu, chave de fenda, alicate, consertava despertador, relógio de parede, de
bolso ou de pulso. Às vezes a pessoa trazia, eu consertava, levava na casa do
cliente, ficava lá, depois de 10, 15, 30 dias ele vinha me pagar. Ele esperava
para ver se realmente estava bom. Despertador o Westclock era o mais comum. Tinha
muitos despertadores Veglia, relógio italiano. O Junkers fabricado na Alemanha.
De bolso o Roscoff Patent. Patek Philippe era raro, a
maioria era de ouro. Era um relógio só para pessoa de muita posse. De pulso
eram comuns os relógios Omega, Cima Tissot, Zenith. Meu irmão Zézinho vinha a pé da Rua Alferes
José Caetano, 1572 trazer o almoço, ele passou a observar, a aprender e
tornou-se um grande relojoeiro. Começamos a trabalhar juntos, fui para São
Paulo, comprei uma máquina de lavar relógios chamada Safrany. Ela limpava 12 a
14 relógios em uma cestinha. Ai comecei a trabalhar com o Provenzano que tinha
uma loja na Rua Boa Morte, no começo vinha 10 a 20 relógios, comecei a
trabalhar para a Relojoaria Rubi, para o Gatti, Consomagno, Relojoaria Puzzi.
Chegava a consertar 200 relógios por semana.
O
senhor conheceu Giovanni
(Joane) Ferrazzo ?
Conheci muito! Ele fabricava as vassouras
marca “Elefante” na Avenida Rui Barbosa. Naquela época a linha da Estrada de
Ferro Sorocabana passava paralela a Avenida Rui Barbosa, tinha uma parada próxima
onde hoje é o posto de combustível conhecido popularmente como “Posto da
Velha”.
O senhor
conheceu o Comendador Mário Dedini?
O Seu Mário foi
um grande amigo. Ele tinha por mim uma consideração fora do comum. Fui
presidente da Sociedade Amigos de Vila Rezende por causa dele. Ele me chamou, a
Sociedade estava em uma fase ruim, não tinha uma sede, nós nos reunimos em um
casarão situado na Avenida Rui Barbosa, ali se reunia o Rotary também. O
proprietário, Babico Carmignani cedia o prédio para nosso uso. Conheci a irmã
mais velha do Mário Dedini, a Clementina, era uma pessoa fantástica. Ela teve
um problema de saúde e gostava que eu a visitasse, às vezes ela telefonava e
dizia: “Walmiro, vieni qui”. Eu fui engraxate da família, eles me conheciam há
muitos anos. O Leopoldo Dedini ficou meu cliente. Eu ia para São Paulo trazia Caneta Tinteiro Parker 51, trazia 10, 20
unidades. O Mário não gostava de preta nem de cinza, tinha que ser vermelha ou
azul. Vendi muitos relógios para eles, fiz muitos consertos. Fui a São Paulo, na
Praça do Patriarca, no Unibanco, o gerente era piracicabano. Na época existia a
Morro Velho que vendia ouro mil. Comprava um quilo de ouro, com o cheque do Seu
Mário, em branco, só com a assinatura dele, levava esse ouro em uma firma que
eu já conhecia e transformavam aquele ouro em caixas de relógio, as máquinas eu
já tinha comprado, geralmente Seiko, Orient, automáticos. E depois ia a outra
fábrica para confeccionar as pulseiras. Em 1972 foram fabricados 350 pulseiras
e relógios de ouro, para pessoas que já tinham 25 anos ou mais de serviços
prestados como funcionário da empresa. Foram utilizados dois quilos e meio de
ouro. Eu administrava a liga em que eram feitos para transformar em ouro 750.
Tinha algum desenho no
relógio?
Não. Só
tinha uma gravação no fundo, com o nome da pessoa a data e gravado Oficinas
Dedini. Quem gravava era conhecido como Cheide, hoje mora no Rio Grande do Sul.
Essas homenagens eram feitas de cinco em cinco anos. Em 1977 a festa foi na
casa do Seu Mário, na Rua Santo Antonio, era um quintal só para as três casas:
do Armando, filho do Seu Mário na Rua Santo Antonio esquina com Rua Treze de
Maio, Seu Mário morava na casa do meio e
na outra casa onde morava Arnaldo Ricciardi hoje funciona o Restaurante
Montesul. Foram feitos 280 relógios e mais um determinado número de medalhas de
ouro para aqueles que completavam trinta anos de serviços prestados às Oficinas
Dedini. Em 1982 foi o último ano em que aconteceu isso, depois Seu Mário
faleceu. Os relógios não eram mais de ouro e sim folhados a ouro. Ai a empresa
começou a ter uma fase não muito boa.
O Comendador Mário chegou a
ver essa fase da empresa?
Viu. A Dedini
forneceu todo aço utilizado na ponte Rio-Niteroi. Naquele tempo ainda tinha a
Estrada de Ferro Sorocabana, passavam 15 a 20 vagões carregados de aço. Ao que
consta, o pagamento desse aço todo era feito de forma defasada do vencimento,
embora os impostos incidentes já tivessem sido recolhidos.
O
senhor conheceu o Comendador Humberto D`Abronzo?
Conheci muito.
Assim como sua irmã Ana, carinhosamente conhecida como Aninha, ela, Renan
Cantarelli, João Vendemiatti, formamos o grupo de pessoas que montamos a
Sociedade Amigos de Vila Rezende. (SAVIRE). Nós fizemos uma comissão para
construir a Escola Estadual Monsenhor Jeronymo Gallo. Fomos falar com o Mario Areas Witier, ele nos doou um
terreno. Trouxemos de São Paulo o pessoal especializado para analisar,
recusaram o terreno. Era um bom terreno,
mas na época o local era impróprio pelo acumulo de água. Procurei o Seu Mário
Dedini, expliquei a ele a situação. Ele pensou e disse: “-Deixa eu pensar uma
coisa Miro, depois eu falo com você”. O terreno onde está situada a
Escola Estadual Monsenhor Jeronymo Gallo era dele, ele doou para a construção da
escola. Fomos a São Paulo falar com o Governador Carvalho Pinto, por intermédio
de Francisco Carlos Neves, filho do Dr. Samuel de Castro Neves, ele era
assessor do governador. O Governador Carvalho Pinto nos atendeu, cuidou da
planta do colégio, cuidou de tudo, conseguimos assim construir a escola. A
SAVIRE distribuía cestas básicas aos carentes. Cada caso era analisado com
muito critério. Fui fundador do Rotary Club da Vila Rezende junto com Jairo Araritaguaba
gerente do Banco Moreira Salles. O Jairo Ribeiro de Mattos, com quem tenho
muita amizade, montou o Conselho de Saúde de Piracicaba, onde eu era diretor,
funcionava atrás do Mercado Municipal, ao lado do Posto de Saúde. Todos os
diretores eram médicos, só eu que não era. Naquele tempo já comecei a dar uns
palpites, como fazer visitas aos bairros, ver se os poços de água estavam
próximos as fossas sépticas, as pessoas não sabiam que poderia haver a
contaminação da água quando essas duas construções estivessem próximas, isso
ocasionava muitos problemas de saúde.
Não havia a rede de esgoto?
Isso
ocorria muito na área rural. Cada diretor trabalhou em uma área, eu escolhi o
bairro do Godinho, onde eu tinha uma chácara. Cada diretor tinha sua atividade
profissional, fazíamos essas ações voluntárias e na medida em que conseguíamos.
Mas fizemos muitas ações nesse sentido. No Godinho famílias inteiras tinham
problemas de saúde, eu dizia “- Vocè está bebendo água com bactérias, fecha o
poço de água e a fossa séptica. Faz o poço em um lugar alto e o banheiro (com
fossa) lá embaixo. Ou constrói um cômodo e faz um banheiro dentro de casa”. O
poço com uma bomba pequena joga a água em uma caixa de água, por gravidade a
água vem até a casa. Muitos fizeram isso. Dezenas de famílias que tinham
problemas de saúde sararam. Como havia sido uma sugestão minha, fizeram questão
que eu fosse o segundo presidente do Conselho de Saúde de Piracicaba. O
terceiro presidente foi o Lodovico Trevisan.
O senhor participou de
outras entidades?
Fui
presidente do CDL- Clube dos Diretores Lojistas da Vila Rezende. Conseguimos muitas
melhorias para o bairro. Fui Juiz de Paz do Segundo Subdistrito. Mário Telles
era o cartorário.
Como Juiz de Paz o senhor
deve ter muitos casos para contar!
Aconteceram
muitas coisas, havia um Juiz de Paz substituto, que era o Severiano. Naquele
tempo, quando fazia o casamento eu tinha certa ênfase. (Com ênfase e uma voz de
locutor, Waldomiro repete o que dizia). “De acordo com a vontade que ambos
acabaram de afirmar, perante mim, de vos receberdes por marido e mulher, eu, em
nome da Lei, os declaro casados”. O pessoal começou a querer casar aos
domingos. Aos sábados eu já tinha que ir lá, fazia dez a doze casamentos.
Lembro-me de que fui celebrar um casamento em um determinado bairro na zona
rural, onde o filho de uma das mais tradicionais famílias de Piracicaba iria
casar-se. Foi marcado para o Juiz de Paz estar lá ao meio dia. Fui com o meu
carro, chegando lá já havia muita gente. E o noivo não vinha. Após uma hora de
espera, chamei os responsáveis e perguntei o que estava acontecendo que o noivo
não vinha. Tinha viajado? Não irá vir mais? Disseram que ele teve um mal estar,
mas estava ali. A uma hora e meia da tarde ele apareceu. Completamente bêbado.
Quase não parava em pé. Perguntei-lhe o nome, ele balbuciou. Chamei o
responsável, disse-lhe: “Sou Juiz de Paz, tenho uma responsabilidade, não posso
fazer esse casamento. O homem está completamente bêbado!” Tentaram
contemporizar. Neguei-me a realizar o casamento com o noivo naquelas condições.
Peguei o meu carro e vim embora. Deu o maior sururu. Principalmente pela
importância da família, rádios, jornais, exploraram o assunto. Criticaram-me
muito. Relatei ao Mário o ocorrido, ele
era um homem de poucas palavras, cumprimentou-me pela atitude e disse que ele
iria destituir o Juiz de Paz que realizasse um casamento naquelas condições.
Fui procurado pela mídia. Disse que o noivo tinha tido um mal súbito, não
contei sobre o estado lamentável do mesmo. Em seguida pedi demissão do cargo de
Juiz de Paz.
O senhor foi presidente do
Lar Betel ?
Fui por dois anos, quando assumi
tinha uma série de problemas, quem me pediu para assumir foi Antonietta Rosalina da
Cunha Losso Pedroso, diretora do Jornal de
Piracicaba. Tive a felicidade de ter como diretores: Flávio Risolo, Dalgo
Migliolo, Reinaldo Meneghini. Nino Gobim e seu filho Marco, Comendador Antonio
Lubiani. Esse pessoal me ajudou muito. Conseguimos todos os colchões novos,
roupas de cama, cobertores. Terminamos um pavilhão, contratamos uma jovem que
fazia planejamento de tudo, contratamos também uma nutricionista. Ao lado do
Lar Betel tinha um casarão velho, pedi ao prefeito Adilson Benedito Maluf, nós
ganhamos aquilo lá. Jairo Ribeiro de Mattos era deputado estadual, nos deu uma
Kombi, para fazer mercado, levar idoso para a Santa Casa.
O
senhor participa da ACIPI?
Desde
1970 sou diretor da ACIPI – Associação Comercial e Industrial de Piracicaba.
Conheci muito Telmo Otero, fomos nós que construímos o prédio onde está
instalada a ACIPI. A Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Empresários de
Piracicaba (Coopcred) foi implantada por José Antonio de Godoy que me nomeou
como coordenador da construção em um terreno de 1.350 metros quadrados. Tive
muita colaboração de toda a diretoria. Atualmente sou diretor de Patrimônio da
ACIPI. Já fui diretor de: eventos,
relações públicas. Ser diretor da ACIPI é uma escola, é um laboratório, algo
maravilhoso.
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