TÉO
AZEVEDO E THAIS DE ALMEIDA DIAS
TÉO
AZEVEDO E THAIS DE ALMEIDA DIAS
TÉO
AZEVEDO E THAIS DE ALMEIDA DIAS
Recentemente, a Câmara Municipal de
São Paulo, homenageou dois gigantes das legítimas músicas sertanejas e
tradições do folclore brasileiro. Receberam cada um o seu troféu e uma linda
placa dourada. Um ato simbólico de gratidão para ambos que dedicaram as suas
vidas para manterem vivas as raízes da verdadeira cultura nacional, até hoje.
Thais de Almeida Dias recebeu sua placa como gratidão pela criação do programa
“Viola, Minha Viola”. A criação desse programa foi uma iniciativa ousada da sua
parte e que deu muito certo. No início, houve alguma resistência dentro da
própria Fundação Padre Anchieta. Não se cogitava em incluir um programa que
abordasse a cultura popular em uma rede de televisão e rádio voltados para um
público com elevado nível cultural, que valorizava obras clássicas com grandes
nomes, do Brasil e de outros países[U1] .
Thais é escritora, radialista e produtora. Como educadora, pesquisadora,
apaixonada pelo rico folclore brasileiro, Thais percorreu o país de Norte a
Sul, de Leste a Oeste. Desde o mais longínquo povoado até a então Capital
Federal Rio de Janeiro, onde comandou a poderosa Rádio MEC, com cerca de 200
funcionários. Isso em uma época em que as mulheres eram raras em altos cargos
executivos, não tinham o tratamento e valorização que existem hoje. A sua
rígida formação pessoal e sua competência profissional a conduziram para cargos
de relevância. Thais, com sua personalidade marcante, sempre foi muito querida,
embora frequentasse um meio onde algumas pessoas se deixavam levar pela fama e
brilho do momento. Ela nunca perdeu a sua simplicidade natural. Formada em
História pela USP, jornalismo pela Casper Libero e
mestrado em jornalismo. Thais conta: “Como professora primária, fui lecionar na
região da barranca do Rio Paraná, na divisa com o Mato Grosso. Entrei em um
programa desenvolvido pela Universidade de São Paulo que mandava professores
para o Norte e o Nordeste do país. Trabalhei dois anos em São Luiz no Maranhão,
onde voltei a fazer rádio, na Rádio Educadora Rural, de São Luiz.”. Thais em São Paulo era
constantemente convidada para ser jurada em programas de televisão. Sensata,
com conhecimento técnico, ganhou espaço. Conheceu e conviveu com muitas atrizes
famosas, os shows de calouros tornaram-se uma febre, os prefeitos promoviam os
espetáculos, e a banca julgadora era necessariamente composta por Thais. A
célebre Elke Maravilha foi sua colega de júri por anos. Até que a Fundação
Padre Anchieta, que envolvia as Rádios Cultura AM e FM, assim como a TV
Cultura, convidou Thais para ser produtora. Thais quebrou paradigmas. Eram
inegáveis a qualidade e o bom gosto dessas emissoras, porém , abrangiam um
público extremamente seletivo. Com sua forma gentil de tratar, ela introduziu
um programa que abordava a cultura popular. O programa revelou grandes valores,
músicas que são verdadeiras joias. Produziu o programa“ Viola, Minha Viola”.
Agregou mais público para a Emissora. Thais realizou cursos como convidada da
emissora alemã “ Dw – Deutsche Welle” a convite do governo alemão. Thais recebeu uma missão muito
especial: dirigir a Rádio MEC, no Rio de Janeiro. Uma gigante com cerca de 200
funcionários. Com seu carisma e conhecimento, conquistou o coração dos cariocas
e dos ouvintes do Brasil. Há uma entrevista exclusiva no JORNAL “A TRIBUNA
PIRACICABANA” e no “BLOG HISTORIAS DE NASSIF, com Thais, onde ela detalha sua
trajetória profissional.
Teófilo de Azevedo Filho, o Téo Azevedo, nasceu a 02 de julho de 1943 em Alto Belo,
município de Bocaiúva, no estado de Minas Gerais. Além do talento, Téo é a
personificação da célebre frase: “O sertanejo é antes de tudo, um forte”, frase
de Euclides da Cunha, em “Os Sertões”, publicado em 1902. Téo é cantor,
compositor, violeiro, folclorista e repentista, folião de Reis até hoje,
acumulando décadas de participação nesse importante evento regional, que é a
Folia de Reis. Como cantor gravou 23
discos. Téo Azevedo escreveu 13 livros. Já, como compositor , teve suas músicas
gravadas por Sérgio Reis, Luiz Gonzaga, o “Gonzagão”, Dominguinhos, estes últimos
incontáveis vezes tocaram juntos com Téo. Muitos artistas famosos gravaram as
músicas de Téo entre eles Nara Leão, Jair Rodrigues, Zé Ramalho, Christian e
Ralf e Jackson Antunes. Téo Azevedo, ainda menino, cantava repentes na rua e
participava de concursos de calouros em circos e parques. Aos 17
anos iniciou-se como lutador de boxe, chegando a consagrar-se tricampeão
mineiro no início dos anos 1960. Téo Azevedo gravou o primeiro disco no ano
de 1965, no estúdio Discobel, interpretando "Deus Te Salve, Casa
Santa" (Domínio Público) tendo composto mais três estrofes e mudado a
melodia tradicional cantada no norte de Minas Gerais. Essa música, de autor
desconhecido, é na verdade o que também conhecemos como "Cálix Bento"
(adaptado por Tavinho Moura).
Téo lançou em 1978 o LP "Brasil, Terra
da Gente", no qual gravou a música "Viola de Bolso", na qual ele
transpôs versos de Carlos Drummond de Andrade para o ritmo das Folias de Reis.
E, no mesmo ano, com a composição "Ternos Pingos da Saudade", Téo
recebeu o prêmio de melhor melodia, melhor letra e melhor interpretação no
Primeiro Festival de Música Sertaneja, evento promovido pela Rádio Record de
São Paulo.
Em 1979, Téo participou da abertura da Feira do Livro na Praça 7 de Setembro.
Em seguida, foi convidado para gravar "jingles" e "spots"
no lançamento do primeiro Torneio de Repentes de Minas Gerais.
No dia 07 de janeiro de 1980, Téo Azevedo fundou a ARPPNM
(Associação dos Repentistas e Poetas Populares do Norte de Minas), juntamente
com Amelina Chaves, Jason de Morais, Josece Alves, Silva Neto, Pau Terra, João
Martins e o grupo Agreste. Téo foi Presidente da ARPPNM e doou para a mesma
todos os Direitos Autorais das obras de Domínio Público por ele recolhidas e
adaptadas. Voltou
para a carreira artística e fundou a escola de samba Unidos do Guarani e
participou do conjunto de shows e bailes Léo Bahia. Em 1965, gravou seu
primeiro disco, interpretando a música de domínio público “Deus te Salve, Casa
Santa”. Em 1968, foi escolhido O Melhor Compositor Mineiro do Ano pelo jornal
mineiro “O Debate”. No ano seguinte, mudou-se para São Paulo e se tornou
parceiro de Venâncio, da dupla Venâncio e Curumba . Em 1978, foi vencedor do
Primeiro Festival de Música Sertaneja promovido pela Rádio Record de São Paulo
com a toada “Ternos pingos da saudade”, feita em parceria com o poeta Cândido
Canela. Além do prêmio de melhor melodia e de melhor letra, recebeu também o
prêmio de melhor interpretação.
Na
década de 80 lançou seu primeiro livro: “Literatura popular do norte de Minas”,
e depois veio “Plantas medicinais e benzeduras”; “Cultura popular do norte de Minas[U2] ” e “A folia de reis no
norte de Minas”. Musicou um especial sobre Guimarães Rosa para a Rádio
Cultura FM de São Paulo; a peça “A hora e a vez de Augusto Matraga”, de
Guimarães Rosa, com direção de Antunes Filho, e “Festa na roça”, de Martins
Pena, encenada no Teatro Célia Helena em São Paulo. Em 1998, participou da
novela “Serras Azuis”, da TV Bandeirantes e apresentou o programa “Nosso Canto
Nordestino”, na Rádio Record de São Paulo. Apresenta desde 1991 o “Programa Téo
Azevedo” na Rádio Atual, também de São Paulo.
O mineiro Téo Azevedo foi o
vencedor do Grammy Latino 2013. A premiação ocorreu no centro de eventos do
hotel e cassino Mandalay Bay, de Las Vegas, nos Estados Unidos. O cantor e
compositor, natural de Alto Belo, distrito de Bocaiuva, venceu com o álbum
"Salve Gonzagão 100 anos", na categoria melhor álbum de raiz.
Em
2015 recebeu o Título de Cidadão Paulistano, por meio da Câmara de Vereadores
de São Paulo. Téo calcula ter mais de 2.000 músicas gravadas, o que faz dele um
recordista no Brasil. Produziu inúmeros trabalhos em literatura de cordel, 12 livros
sobre cultura popular. Téo Azevedo com 6 anos de idade já trabalhava, engraxava
sapatos e ao mesmo tempo compunha versos de improviso para atrair a freguesia.
Desse modo passou a cantar repentes, e participar de concursos de calouros em
circo e parques. Antonio Silvino era um vendedor de remédios caseiros, a base
de ervas. Ele é considerado por alguns estudiosos, como o revelador de Téo
Azevedo. Foi quem viu naquele menino um grande potencial para atrair clientes.
Téo fazia os improvisos com uma cobra jiboia em torno do seu pescoço. Era
natural haver uma aglomeração em torno de cena tão inusitada. Silvino já tinha
o ambiente próprio para oferecer seus remédios caseiros.
Thais
de Almeida Dias a convite da Rádio Deutsche Welle, realizou diversos cursos na
Alemanha. Téo Azevedo recebeu uma equipe da TV alemã, que gravou horas de seu
trabalho, como documentário. Na Alemanha existem estudiosos que analisam o
trabalho de Téo Azevedo, autor de cerca de 1.000 folhetos de literatura de cordel. A
literatura de cordel, recebeu esse nome em Portugal, onde um barbante ou
cordel, funciona como um varal onde são expostos os folhetos dependurados.
Geralmente usam ilustrações com xilogravuras.
Na
casa de Thais , juntamente com Téo e mais algumas pessoas, saboreamos um
delicioso almoço, em um ambiente descontraído e aconchegante . Conversamos
bastante e aproveitamos para conhecer um pouco mais do trabalho do Téo.
Ao tocar o
gado, o que é “apoio” Téo?
O
apoio é o canto improvisado do vaqueiro para guiar e tocar o gado, muito
utilizado no Norte do Estado de Minas Gerais, assim como em direção ao Nordeste
Brasileiro. É como se fosse aqui no Sul do Brasil, o berrante, que também serve
para tocar e guiar o gado. Fiz um filme mostrando o que é o apoio no primeiro
canal de televisão da cidade de Baden-Baden, na Alemanha. Para essa mesma
equipe do Dr. Ralph uns três anos depois eu fiz um outro trabalho. A trilha
sobre Guimarães Rosa.
A
Thais de Almeida Dias, fez um trabalho maravilhoso na Rádio Cultura de São
Paulo que foi muito bonito! Um trabalho histórico. Lima Duarte e outros artistas importantes
contribuíram com os seus talentos. Ela me convidou e eu entrei no meio da
turma!
Você
participou de algum filme?
Nós
fizemos agora um filme de longa-metragem, extraído de um cordel meu, chama-se
“O Homem que casou com a mula”. Não tem nada de pornografia, ele é engraçado! O nome já é engraçado! Foi extraído de
um cordel meu, conta história de um sujeito que era muito feio, cheio de
preconceitos, morava isolado na roça, ele não achava nenhuma mulher que se
interessasse por ele, um dia na beira da estrada tinha uma mula pastando e
relinchando. E a mula pastava e relinchava para ele. Ele achou que a mula
estava rindo para ele! E assim foi, até que ele decidiu que queria casar com a
mula! Procurou o padre, o padre não quis consentir naquele casamento. Procurou
o pastor que também não quis realizar o casamento. Ele então procurou o Pai de
Santo, que também não quis realizar o casamento.
Quem é o
artista principal?
São
quatro artistas, só que o elenco todinho é do Norte de Minas Gerais! Isso
inclui a turma da produção, os atores, a turma da filmagem. Os locais todos são
do Norte de Minas.
E o noivo
da mula?
É
uma pessoa da região.
Essa
filmagem foi feita agora?
Faz
poucos meses. Está em edição. É o primeiro filme extraído de um cordel que fiz.
Esse filme é muito interessante por ter uma parte declamado do cordel e outra
as filmagens em si. Eu também tenho a minha participação nas cenas.
Como anda a literatura de cordel no Brasil hoje?
Eu
acho que anda bem! Claro que muita coisa mudou, mas a Literatura de Cordel está
espalhada pelo Brasil todo, de Norte a Sul. Muitos filmes, muitas peças, foram
baseados na Literatura de Cordel.
A Internet ajudou a Literatura de Cordel?
A
internet é uma faca de dois gumes, ajuda de um lado e não ajuda de outro.
(O
cordel tem uma origem interessante, tem a magia de encantar seus leitores e
ouvintes, trazem o folclore de forma cristalina. Fisicamente assumem as
características de folhetos, é e necessário conhecer muito bem a cultura de um
povo para entender a Literatura de cordel.
Quantas obras de Literatura de Cordel você já publicou, Téo
Azevedo?
De
cordel tenho cerca de 1000 (mil) folhetos publicados no Brasil todo.
Segundo Thais de Almeida Dias, você é especialista em plantas
que curam, sendo que já publicou um livro sobre “Plantas que curam.
Conheço
algumas! Sou da região do Cerrado Brasileiro que é mais rico do que a Mata
Atlântica. O cerrado é o bioma mais rico do Brasil! Mais rico do que a Floresta
Amazônica! O cerrado tem uma vantagem, ele é caridoso, ele é cheio de plantas
medicinais, ali tem muitas benzedeiras que conhecem as propriedades medicinais
de cada planta. Atualmente, a pessoa acometida de algum mal, após diagnosticada,
ela recebe uma receita e vai até uma
farmácia, onde adquire um remédio, que serve para curar aquela moléstia. Esse
remédio “X” serve para o João, o Pedro, o Antonio.
O
curador busca a origem da doença, que para indivíduos diferentes, podem
manifestar a mesma doença, mas por causas diferentes. Cada indivíduo tem uma
natureza própria e única. Essa habilidade requer muitos anos de estudo da
natureza das plantas e seus efeitos, a observação de cada caso, geralmente é
transferida por gerações. Isso não vai de encontro com os avanços técnicos da
medicina. Muitos medicamentos são sintetizados a partir dos efeitos observados
nas plantas. Conheço muitas pessoas do sertão que tem grandes conhecimentos
sobre os efeitos das plantas. Sei também os efeitos que as plantas que existem
no mato podem causar. Pelo menos umas mil plantas, seus efeitos e benefícios eu
conheço. Sei dizer para que serve determinada folha, raízes, quais são
benéficas, quais são perigosas: tóxicas ou venenosas.
Na Escola de Agronomia Luiz de Queiroz, de Piracicaba, Dr.
Walter Accorsi, coordenou a cadeira de Fitoterapia. Desenvolveu muito os
estudos nessa área. O Japão foi um dos países que se interessou muito por esses
estudos. Após o falecimento do Dr. Walter houve um declínio nessas pesquisas.
Eu
não receito nada não! Quando alguma pessoa me procura eu digo: “ O que dizem
que é bom para isso é essa planta, ou essa! ”.
Para curar picada de cobra, qual é uma boa indicação?
Dependendo
da cobra “Babau” ! A Urutu Cruzeiro por exemplo, pode ocasionar o óbito em meia
hora! Nesse caso só Deus pode salvar.
Sabemos que o Brasil é extremamente rico em tudo, inclusive em
vegetação e água .
Minas
Gerais é a “Caixa de Água” do Brasil!
Sabemos que o nosso país é muito rico em minérios, não só na
diversidade como na quantidade. Você que tem tanto contato por todo o Brasil,
como vê a situação do país sob o olhar popular?
Eu
sou de uma família de garimpeiros, meu pai era garimpeiro de cristal, outros
eram de diamantes.
Você nunca teve vocação para o garimpo?
Nunca
tive! Meu negócio foi tocar viola! Eu enrolo na viola!
Você tem um grande talento como repentista! O repente requer um
grau de cultura muito elevado. Raciocínio rápido. Poder de observação aguçado.
O
repente pode parecer muito simples, mas exige métrica, algumas regras básicas,
tem que ser tudo certinho. Tem repentista que aborda a Queda da Bastilha,
Psicologia, outros abordam a Cultura Regional Grega! Cada um vai por um
caminho.
O seu caminho qual é?
Um
tiquinho de cada coisa!
Isso significa que a sua arte agrada a todo tipo de público?
A
gente procura agradar a todos!
Atualmente você tem algum programa?
Eu
me apresento em programas de pessoas que me chamam. Faço algumas palestrazinhas
por aí. Em faculdades. Participei de
muitos programas do Globo Rural. O
aspecto mais importante é o de divulgar a riqueza do folclore brasileiro. Temos
fases, quando vem algo novo na mídia mundial. Algum tempo depois, percebemos
que o folclore brasileiro resiste, permanece e até ganha espaço.
A música sertaneja andou sendo deturpada?
Ai
é outra coisa! A música sertaneja mesmo, vive sendo escondida, mas não morre.
Para quem gosta ela está sempre viva.
Tem música que é intitulada como sertaneja, só que não tem
absolutamente nada de sertaneja.
É
o meio!
O que é o “Sertanejo Universitário?
Isso
é título que eles criaram! Forró Universitário, Sertanejo Universitário,
Pisadinha , vão inventando em cima de ritmos que já existem! Há uma pequena
mudançazinha.
Você conheceu o consagrado Luiz Gonzaga, também conhecido por
Gonzagão?
Conheci!
Ele gravou música minha, eu gravei cantando com ele. Ele gravou as músicas que
fiz, “Maria Cangaceira”, “Maria Bonita”, gravei com ele no disco “
LuizGonzaga , 70 anos de sanfona e simpatia”. No ano em que ganhei o Grammy
Latino, (Prêmio Internacional, que elege os melhores em sua categoria na
América Latina). Esse disco Dominguinhos gravou, com acústica dele e minha, a
letra é minha. Chama-se “ Padroeira da
Visão – Santa Luzia” Luiz Gonzaga nasceu no dia 13 de dezembro de 1912, em Exu,
na divisa entre os estados de Pernambuco e Ceará, na região do Araripe. Essa música
era para ser cantada por Luiz Gonzaga e por mim, mas ele faleceu, acabamos
gravando o Dominguinhos e eu. Dominguinhos é um grande músico, gravou muito
comigo! Eu produzi um disco dele também.
Você conhece Benedito Siviero, que entre muitos sucessos é
compositor da música “Boate Azul”?
Conheço!
É amigo! A gente se encontra, bate papo.
Você tem uma vida muito dinâmica, circula pelo Brasil todo!
Sou
pior do que notícia ruim!
Você tem uma ligação muito forte com a celebração da Folia de
Reis?
Sou
Mestre em Folia de Reis! Completei 50 anos de mestre, passei para outro. Mas
ainda saio no tempo de Folia, na minha terra. A festa tem a parte religiosa e
tem a parte jocosa. São as brincadeiras: Corrida de Jegue, Corrida de Porco,
Corrida de Cachorro, Corrida de Galinha, Corrida de Costas, Corrida de Mulher,
é uma série de brincadeiras.
O pessoal consegue com pouca coisa despertar uma alegria
espontânea?
É
uma alegria gerada da simplicidade.
Téo, como é a sua alimentação?
Como
tanto uma comida típica do Nordeste como um prato típico italiano. Trituro
tudo! Hoje mesmo a Thais de Almeida Dias serviu um almoço espetacular. Comida
internacional!
Quer dizer que você é mineiro de Minas Gerais?
Claro,
uai!
Você
tem mais um jeitão de nordestino do que de mineiro!
Mineiro
do Norte de Minas, já tem esse jeito assim. Meio baiano. É o jeito nosso.
Quando você começou, começou aonde?
Foi
no Norte de Minas. Cantava repente nas feiras. O início foi de muita luta. Me
virava da forma que podia, até que vim para São Paulo.
Quando você entrou em uma rádio pela primeira vez?
Foi
em Montes Claros! Na Rádio Sociedade Norte de Minas, ZYD-7, eu tinha uns oito
para nove anos de idade.
Téo, essa vida de trabalhar com a cultura é rentável
financeiramente?
Quem
trabalha com a Cultura Popular, no Brasil, não ganha dinheiro suficiente para
ficar rico. Eu não conheço nenhum que é rico!
Você encontra muitos pseudos folcloristas pelo caminho?
Infelizmente
existem muitos! São pessoas com conhecimento superficial de folclore, usam a
boa-fé alheia para iludir, produzir conceitos sem fundamento. Eu tenho um amigo,
escritor, ele já fez quatro livros de um livro meu! Eu também não entrei com
ação contra ele. São pessoas limitadas,
incapazes de criarem algo, necessitam copiar. São verdadeiros atores
profissionais. E legítimos caras de pau!
Você tem algum projeto para criar um museu do folclore?
Eu
tenho no Centro do Folclore e Cultura Popular, uma Instituição Pública Federal,
situado na Rua do Catete, 179; lá tem algumas peças minhas. Tem uma viola velha
que foi do meu pai, um chapéu de couro meu, faz mais de 30 anos que eles
pediram para colocar lá. Meus folhetos de cordel estão na Universidade Paris-Sorbonne,
na França, com os pesquisadores franceses. Na Alemanha tem pesquisadores que
levaram obras que publiquei. Sei que existem outros países que através de seus
pesquisadores adquiriram obras que publiquei.
Eles traduzem para o idioma deles?
Sei que na Alemanha foi feita a tradução.
Imagino um alemão cantando um cordel, deve ser muito curioso!
Os
alemães respeitam muito a literatura de cordel. Guimarães Rosa é um dos autores
mais lidos na Alemanha. E dos mais traduzidos também. A Alemanha realizou peças
radiofônicas com as obras de Guimarães Rosa. Os livretos de cordel, alguns são sobre
pessoas, outros são peças musicais.
Téo, a seu ver, qual é o futuro do cordel?
A
tecnologia de divulgação pode mudar, mas a essência continua. O professor
Rossini sempre dizia que vai haver o folclore do astronauta como existe hoje o
caipira, complementa Thais de Almeida Dias.
A internet ajuda a divulgação do cordel?
Divulga!
O filme “ O Homem que casou com a mula” está na internet! É um filme com a
duração de 1h15min., A trilha sonora desse filme é toda feita pelo meu sobrinho
Rodrigo Azevedo, faleceu novo.
Téo Azevedo, você veio de São Paulo para Piracicaba hoje,
especialmente para o que?
Vim
fazer uma visita para quem considero a mulher mais importante da História da
Música Sertaneja do Brasil, Thais de Almeida Dias. A Música Sertaneja
Brasileira em sua essência, saiu da cabeça dela, foi ela que impôs a Música
Sertaneja na TV Cultura. Com o tempo, outras emissoras vendo o sucesso dela, a
copiaram. Isso solidificou e divulgou a música sertaneja. Os grandes nomes da música sertaneja foram
pinçados por ela, cada qual em sua vocação artística. Os sucessos que até hoje
são cantados, como o de Inezita Barroso, foi indicada por ela para gravar no
Rio de Janeiro um LP. Naquela época, havia apenas uma música de cada lado do
“bolachão”, moldado em cera de carnaúba. Pela potência da sua voz, Thais
indicou Inezita que gravou duas músicas: de um lado a “Moda da Pinga” e do
outro lado a maravilhosa música “Ronda”. Inezita Barroso estourou! Sérgio Reis
com “Menino da Porteira”, gravou também umas músicas minhas, como “Tocador de
Boi” e “Amansador de Burro Bravo”.
“Oitenta
Anos da Música Caipira no Brasil”, quando a música caipira fez oitenta anos,
baseado em Cornélio Pires que deu origem a sistematização da música caipira em
1931. Cornélio Pires divulgou os caipiras e a música sertaneja, os costumes e a
forma de música. Sérgio Reis cantou a primeira música do disco. Saiu uma música
com a história da vida de Téo Azevedo, escrita por Thais de Almeida Dias. É a
música “Vaqueiro Velho” gravada por Carlos Cesar e Cristiano.
Téo, você foi vaqueiro também?
Fui!
Fui criado na roça, ali tem que fazer de tudo. O vaqueiro virou violeiro. Todo
vaqueiro gosta de uma viola, faz parte da vida. Do dia-a-dia, do mundo em que
vive.
Como o senhor vê o gaúcho?
Ele
tem uma cultura muito rica! A cultura regional deles tem uma poesia rica, bons
poetas, a musicalidade é muito boa, tem influência dos ancestrais europeus, é
muito bonita, tem uma influência maior da Espanha do que de Portugal. Eles
preservam a cultura deles, o CTG – Centro de Tradições Gaúchas é um exemplo
disso. São diferenciais marcantes o churrasco, o chimarrão e a bombacha. Assim
como o pessoal do Norte do Brasil tem como características marcantes o gibão e
o chapéu de couro, além da culinária totalmente diferente. Há cerca de 3 ou 4
décadas, houve um deslocamento em massa de migrantes gaúchos para o norte, levando
hábitos como o churrasco e o Tererê, que é a erva mate em infusão gelada e não quente,
como o chimarrão.
O senhor andava com o gibão?
Quando
era para entrar nas caatingas, tinha que ser usado por causa dos espinhos. A
caatinga tem muito espinho, já no cerrado não tem.
O senhor tinha cavalo bom?
Tinha
cavalo que levava um ano para ficar mais ou menos. Cavalo bom é quarto de
milha, um cavalo de luxo, só para vaqueiro com muitos recursos financeiros. Lá
no sertão não tem isso não!
A seu ver, o Nordeste melhorou?
Para
os pobres melhorou. As caixas d´agua, luz para todos. Tinha gente que nunca
tinha visto a luz de uma lâmpada lá no sertão. Chegava lá, tinha um
legadozinho de palha de coqueiro, uma
porta e uma janela. Teve uma evolução. Foi bom demais. Agora, esse negócio de
política é complicado. Um mete o pau de cá, outro de lá. Eu nem dou bola para
esse povo! Quero saber quem está
fazendo pelo Brasil!
O senhor já foi convidado para subir em algum palanque onde
havia políticos discursando?
Já!
Já subi! Para ganhar dinheiro, fazendo música, cordel, show. De uns anos para
cá não pode mais. Já fiz música para tudo quanto é político que você pode
pensar!
Eles pagavam?
A
empresa que organizava, pagava.
Você foi criador de animais?
Fui
criador de cabritos no Vale do Rio São Francisco. Cheguei a ter 1.000 cabeças!
Lá tem muita gente que mexe com isso até hoje.
Recentemente, a Câmara Municipal de
São Paulo, homenageou dois gigantes das legítimas músicas sertanejas e
tradições do folclore brasileiro. Receberam cada um o seu troféu e uma linda
placa dourada. Um ato simbólico de gratidão para ambos que dedicaram as suas
vidas para manterem vivas as raízes da verdadeira cultura nacional, até hoje.
Thais de Almeida Dias recebeu sua placa como gratidão pela criação do programa
“Viola, Minha Viola”. A criação desse programa foi uma iniciativa ousada da sua
parte e que deu muito certo. No início, houve alguma resistência dentro da
própria Fundação Padre Anchieta. Não se cogitava em incluir um programa que
abordasse a cultura popular em uma rede de televisão e rádio voltados para um
público com elevado nível cultural, que valorizava obras clássicas com grandes
nomes, do Brasil e de outros países[U1] .
Thais é escritora, radialista e produtora. Como educadora, pesquisadora,
apaixonada pelo rico folclore brasileiro, Thais percorreu o país de Norte a
Sul, de Leste a Oeste. Desde o mais longínquo povoado até a então Capital
Federal Rio de Janeiro, onde comandou a poderosa Rádio MEC, com cerca de 200
funcionários. Isso em uma época em que as mulheres eram raras em altos cargos
executivos, não tinham o tratamento e valorização que existem hoje. A sua
rígida formação pessoal e sua competência profissional a conduziram para cargos
de relevância. Thais, com sua personalidade marcante, sempre foi muito querida,
embora frequentasse um meio onde algumas pessoas se deixavam levar pela fama e
brilho do momento. Ela nunca perdeu a sua simplicidade natural. Formada em
História pela USP, jornalismo pela Casper Libero e
mestrado em jornalismo. Thais conta: “Como professora primária, fui lecionar na
região da barranca do Rio Paraná, na divisa com o Mato Grosso. Entrei em um
programa desenvolvido pela Universidade de São Paulo que mandava professores
para o Norte e o Nordeste do país. Trabalhei dois anos em São Luiz no Maranhão,
onde voltei a fazer rádio, na Rádio Educadora Rural, de São Luiz.”. Thais em São Paulo era
constantemente convidada para ser jurada em programas de televisão. Sensata,
com conhecimento técnico, ganhou espaço. Conheceu e conviveu com muitas atrizes
famosas, os shows de calouros tornaram-se uma febre, os prefeitos promoviam os
espetáculos, e a banca julgadora era necessariamente composta por Thais. A
célebre Elke Maravilha foi sua colega de júri por anos. Até que a Fundação
Padre Anchieta, que envolvia as Rádios Cultura AM e FM, assim como a TV
Cultura, convidou Thais para ser produtora. Thais quebrou paradigmas. Eram
inegáveis a qualidade e o bom gosto dessas emissoras, porém , abrangiam um
público extremamente seletivo. Com sua forma gentil de tratar, ela introduziu
um programa que abordava a cultura popular. O programa revelou grandes valores,
músicas que são verdadeiras joias. Produziu o programa“ Viola, Minha Viola”.
Agregou mais público para a Emissora. Thais realizou cursos como convidada da
emissora alemã “ Dw – Deutsche Welle” a convite do governo alemão. Thais recebeu uma missão muito
especial: dirigir a Rádio MEC, no Rio de Janeiro. Uma gigante com cerca de 200
funcionários. Com seu carisma e conhecimento, conquistou o coração dos cariocas
e dos ouvintes do Brasil. Há uma entrevista exclusiva no JORNAL “A TRIBUNA
PIRACICABANA” e no “BLOG HISTORIAS DE NASSIF, com Thais, onde ela detalha sua
trajetória profissional.
Teófilo de Azevedo Filho, o Téo Azevedo, nasceu a 02 de julho de 1943 em Alto Belo,
município de Bocaiúva, no estado de Minas Gerais. Além do talento, Téo é a
personificação da célebre frase: “O sertanejo é antes de tudo, um forte”, frase
de Euclides da Cunha, em “Os Sertões”, publicado em 1902. Téo é cantor,
compositor, violeiro, folclorista e repentista, folião de Reis até hoje,
acumulando décadas de participação nesse importante evento regional, que é a
Folia de Reis. Como cantor gravou 23
discos. Téo Azevedo escreveu 13 livros. Já, como compositor , teve suas músicas
gravadas por Sérgio Reis, Luiz Gonzaga, o “Gonzagão”, Dominguinhos, estes últimos
incontáveis vezes tocaram juntos com Téo. Muitos artistas famosos gravaram as
músicas de Téo entre eles Nara Leão, Jair Rodrigues, Zé Ramalho, Christian e
Ralf e Jackson Antunes. Téo Azevedo, ainda menino, cantava repentes na rua e
participava de concursos de calouros em circos e parques. Aos 17
anos iniciou-se como lutador de boxe, chegando a consagrar-se tricampeão
mineiro no início dos anos 1960. Téo Azevedo gravou o primeiro disco no ano
de 1965, no estúdio Discobel, interpretando "Deus Te Salve, Casa
Santa" (Domínio Público) tendo composto mais três estrofes e mudado a
melodia tradicional cantada no norte de Minas Gerais. Essa música, de autor
desconhecido, é na verdade o que também conhecemos como "Cálix Bento"
(adaptado por Tavinho Moura).
Téo lançou em 1978 o LP "Brasil, Terra
da Gente", no qual gravou a música "Viola de Bolso", na qual ele
transpôs versos de Carlos Drummond de Andrade para o ritmo das Folias de Reis.
E, no mesmo ano, com a composição "Ternos Pingos da Saudade", Téo
recebeu o prêmio de melhor melodia, melhor letra e melhor interpretação no
Primeiro Festival de Música Sertaneja, evento promovido pela Rádio Record de
São Paulo.
Em 1979, Téo participou da abertura da Feira do Livro na Praça 7 de Setembro.
Em seguida, foi convidado para gravar "jingles" e "spots"
no lançamento do primeiro Torneio de Repentes de Minas Gerais.
No dia 07 de janeiro de 1980, Téo Azevedo fundou a ARPPNM
(Associação dos Repentistas e Poetas Populares do Norte de Minas), juntamente
com Amelina Chaves, Jason de Morais, Josece Alves, Silva Neto, Pau Terra, João
Martins e o grupo Agreste. Téo foi Presidente da ARPPNM e doou para a mesma
todos os Direitos Autorais das obras de Domínio Público por ele recolhidas e
adaptadas. Voltou
para a carreira artística e fundou a escola de samba Unidos do Guarani e
participou do conjunto de shows e bailes Léo Bahia. Em 1965, gravou seu
primeiro disco, interpretando a música de domínio público “Deus te Salve, Casa
Santa”. Em 1968, foi escolhido O Melhor Compositor Mineiro do Ano pelo jornal
mineiro “O Debate”. No ano seguinte, mudou-se para São Paulo e se tornou
parceiro de Venâncio, da dupla Venâncio e Curumba . Em 1978, foi vencedor do
Primeiro Festival de Música Sertaneja promovido pela Rádio Record de São Paulo
com a toada “Ternos pingos da saudade”, feita em parceria com o poeta Cândido
Canela. Além do prêmio de melhor melodia e de melhor letra, recebeu também o
prêmio de melhor interpretação.
Na
década de 80 lançou seu primeiro livro: “Literatura popular do norte de Minas”,
e depois veio “Plantas medicinais e benzeduras”; “Cultura popular do norte de Minas[U2] ” e “A folia de reis no
norte de Minas”. Musicou um especial sobre Guimarães Rosa para a Rádio
Cultura FM de São Paulo; a peça “A hora e a vez de Augusto Matraga”, de
Guimarães Rosa, com direção de Antunes Filho, e “Festa na roça”, de Martins
Pena, encenada no Teatro Célia Helena em São Paulo. Em 1998, participou da
novela “Serras Azuis”, da TV Bandeirantes e apresentou o programa “Nosso Canto
Nordestino”, na Rádio Record de São Paulo. Apresenta desde 1991 o “Programa Téo
Azevedo” na Rádio Atual, também de São Paulo.
O mineiro Téo Azevedo foi o
vencedor do Grammy Latino 2013. A premiação ocorreu no centro de eventos do
hotel e cassino Mandalay Bay, de Las Vegas, nos Estados Unidos. O cantor e
compositor, natural de Alto Belo, distrito de Bocaiuva, venceu com o álbum
"Salve Gonzagão 100 anos", na categoria melhor álbum de raiz.
Em
2015 recebeu o Título de Cidadão Paulistano, por meio da Câmara de Vereadores
de São Paulo. Téo calcula ter mais de 2.000 músicas gravadas, o que faz dele um
recordista no Brasil. Produziu inúmeros trabalhos em literatura de cordel, 12 livros
sobre cultura popular. Téo Azevedo com 6 anos de idade já trabalhava, engraxava
sapatos e ao mesmo tempo compunha versos de improviso para atrair a freguesia.
Desse modo passou a cantar repentes, e participar de concursos de calouros em
circo e parques. Antonio Silvino era um vendedor de remédios caseiros, a base
de ervas. Ele é considerado por alguns estudiosos, como o revelador de Téo
Azevedo. Foi quem viu naquele menino um grande potencial para atrair clientes.
Téo fazia os improvisos com uma cobra jiboia em torno do seu pescoço. Era
natural haver uma aglomeração em torno de cena tão inusitada. Silvino já tinha
o ambiente próprio para oferecer seus remédios caseiros.
Thais
de Almeida Dias a convite da Rádio Deutsche Welle, realizou diversos cursos na
Alemanha. Téo Azevedo recebeu uma equipe da TV alemã, que gravou horas de seu
trabalho, como documentário. Na Alemanha existem estudiosos que analisam o
trabalho de Téo Azevedo, autor de cerca de 1.000 folhetos de literatura de cordel. A
literatura de cordel, recebeu esse nome em Portugal, onde um barbante ou
cordel, funciona como um varal onde são expostos os folhetos dependurados.
Geralmente usam ilustrações com xilogravuras.
Na
casa de Thais , juntamente com Téo e mais algumas pessoas, saboreamos um
delicioso almoço, em um ambiente descontraído e aconchegante . Conversamos
bastante e aproveitamos para conhecer um pouco mais do trabalho do Téo.
Ao tocar o
gado, o que é “apoio” Téo?
O
apoio é o canto improvisado do vaqueiro para guiar e tocar o gado, muito
utilizado no Norte do Estado de Minas Gerais, assim como em direção ao Nordeste
Brasileiro. É como se fosse aqui no Sul do Brasil, o berrante, que também serve
para tocar e guiar o gado. Fiz um filme mostrando o que é o apoio no primeiro
canal de televisão da cidade de Baden-Baden, na Alemanha. Para essa mesma
equipe do Dr. Ralph uns três anos depois eu fiz um outro trabalho. A trilha
sobre Guimarães Rosa.
A
Thais de Almeida Dias, fez um trabalho maravilhoso na Rádio Cultura de São
Paulo que foi muito bonito! Um trabalho histórico. Lima Duarte e outros artistas importantes
contribuíram com os seus talentos. Ela me convidou e eu entrei no meio da
turma!
Você
participou de algum filme?
Nós
fizemos agora um filme de longa-metragem, extraído de um cordel meu, chama-se
“O Homem que casou com a mula”. Não tem nada de pornografia, ele é engraçado! O nome já é engraçado! Foi extraído de
um cordel meu, conta história de um sujeito que era muito feio, cheio de
preconceitos, morava isolado na roça, ele não achava nenhuma mulher que se
interessasse por ele, um dia na beira da estrada tinha uma mula pastando e
relinchando. E a mula pastava e relinchava para ele. Ele achou que a mula
estava rindo para ele! E assim foi, até que ele decidiu que queria casar com a
mula! Procurou o padre, o padre não quis consentir naquele casamento. Procurou
o pastor que também não quis realizar o casamento. Ele então procurou o Pai de
Santo, que também não quis realizar o casamento.
Quem é o
artista principal?
São
quatro artistas, só que o elenco todinho é do Norte de Minas Gerais! Isso
inclui a turma da produção, os atores, a turma da filmagem. Os locais todos são
do Norte de Minas.
E o noivo
da mula?
É
uma pessoa da região.
Essa
filmagem foi feita agora?
Faz
poucos meses. Está em edição. É o primeiro filme extraído de um cordel que fiz.
Esse filme é muito interessante por ter uma parte declamado do cordel e outra
as filmagens em si. Eu também tenho a minha participação nas cenas.
Como anda a literatura de cordel no Brasil hoje?
Eu
acho que anda bem! Claro que muita coisa mudou, mas a Literatura de Cordel está
espalhada pelo Brasil todo, de Norte a Sul. Muitos filmes, muitas peças, foram
baseados na Literatura de Cordel.
A Internet ajudou a Literatura de Cordel?
A
internet é uma faca de dois gumes, ajuda de um lado e não ajuda de outro.
(O
cordel tem uma origem interessante, tem a magia de encantar seus leitores e
ouvintes, trazem o folclore de forma cristalina. Fisicamente assumem as
características de folhetos, é e necessário conhecer muito bem a cultura de um
povo para entender a Literatura de cordel.
Quantas obras de Literatura de Cordel você já publicou, Téo
Azevedo?
De
cordel tenho cerca de 1000 (mil) folhetos publicados no Brasil todo.
Segundo Thais de Almeida Dias, você é especialista em plantas
que curam, sendo que já publicou um livro sobre “Plantas que curam.
Conheço
algumas! Sou da região do Cerrado Brasileiro que é mais rico do que a Mata
Atlântica. O cerrado é o bioma mais rico do Brasil! Mais rico do que a Floresta
Amazônica! O cerrado tem uma vantagem, ele é caridoso, ele é cheio de plantas
medicinais, ali tem muitas benzedeiras que conhecem as propriedades medicinais
de cada planta. Atualmente, a pessoa acometida de algum mal, após diagnosticada,
ela recebe uma receita e vai até uma
farmácia, onde adquire um remédio, que serve para curar aquela moléstia. Esse
remédio “X” serve para o João, o Pedro, o Antonio.
O
curador busca a origem da doença, que para indivíduos diferentes, podem
manifestar a mesma doença, mas por causas diferentes. Cada indivíduo tem uma
natureza própria e única. Essa habilidade requer muitos anos de estudo da
natureza das plantas e seus efeitos, a observação de cada caso, geralmente é
transferida por gerações. Isso não vai de encontro com os avanços técnicos da
medicina. Muitos medicamentos são sintetizados a partir dos efeitos observados
nas plantas. Conheço muitas pessoas do sertão que tem grandes conhecimentos
sobre os efeitos das plantas. Sei também os efeitos que as plantas que existem
no mato podem causar. Pelo menos umas mil plantas, seus efeitos e benefícios eu
conheço. Sei dizer para que serve determinada folha, raízes, quais são
benéficas, quais são perigosas: tóxicas ou venenosas.
Na Escola de Agronomia Luiz de Queiroz, de Piracicaba, Dr.
Walter Accorsi, coordenou a cadeira de Fitoterapia. Desenvolveu muito os
estudos nessa área. O Japão foi um dos países que se interessou muito por esses
estudos. Após o falecimento do Dr. Walter houve um declínio nessas pesquisas.
Eu
não receito nada não! Quando alguma pessoa me procura eu digo: “ O que dizem
que é bom para isso é essa planta, ou essa! ”.
Para curar picada de cobra, qual é uma boa indicação?
Dependendo
da cobra “Babau” ! A Urutu Cruzeiro por exemplo, pode ocasionar o óbito em meia
hora! Nesse caso só Deus pode salvar.
Sabemos que o Brasil é extremamente rico em tudo, inclusive em
vegetação e água .
Minas
Gerais é a “Caixa de Água” do Brasil!
Sabemos que o nosso país é muito rico em minérios, não só na
diversidade como na quantidade. Você que tem tanto contato por todo o Brasil,
como vê a situação do país sob o olhar popular?
Eu
sou de uma família de garimpeiros, meu pai era garimpeiro de cristal, outros
eram de diamantes.
Você nunca teve vocação para o garimpo?
Nunca
tive! Meu negócio foi tocar viola! Eu enrolo na viola!
Você tem um grande talento como repentista! O repente requer um
grau de cultura muito elevado. Raciocínio rápido. Poder de observação aguçado.
O
repente pode parecer muito simples, mas exige métrica, algumas regras básicas,
tem que ser tudo certinho. Tem repentista que aborda a Queda da Bastilha,
Psicologia, outros abordam a Cultura Regional Grega! Cada um vai por um
caminho.
O seu caminho qual é?
Um
tiquinho de cada coisa!
Isso significa que a sua arte agrada a todo tipo de público?
A
gente procura agradar a todos!
Atualmente você tem algum programa?
Eu
me apresento em programas de pessoas que me chamam. Faço algumas palestrazinhas
por aí. Em faculdades. Participei de
muitos programas do Globo Rural. O
aspecto mais importante é o de divulgar a riqueza do folclore brasileiro. Temos
fases, quando vem algo novo na mídia mundial. Algum tempo depois, percebemos
que o folclore brasileiro resiste, permanece e até ganha espaço.
A música sertaneja andou sendo deturpada?
Ai
é outra coisa! A música sertaneja mesmo, vive sendo escondida, mas não morre.
Para quem gosta ela está sempre viva.
Tem música que é intitulada como sertaneja, só que não tem
absolutamente nada de sertaneja.
É
o meio!
O que é o “Sertanejo Universitário?
Isso
é título que eles criaram! Forró Universitário, Sertanejo Universitário,
Pisadinha , vão inventando em cima de ritmos que já existem! Há uma pequena
mudançazinha.
Você conheceu o consagrado Luiz Gonzaga, também conhecido por
Gonzagão?
Conheci!
Ele gravou música minha, eu gravei cantando com ele. Ele gravou as músicas que
fiz, “Maria Cangaceira”, “Maria Bonita”, gravei com ele no disco “
LuizGonzaga , 70 anos de sanfona e simpatia”. No ano em que ganhei o Grammy
Latino, (Prêmio Internacional, que elege os melhores em sua categoria na
América Latina). Esse disco Dominguinhos gravou, com acústica dele e minha, a
letra é minha. Chama-se “ Padroeira da
Visão – Santa Luzia” Luiz Gonzaga nasceu no dia 13 de dezembro de 1912, em Exu,
na divisa entre os estados de Pernambuco e Ceará, na região do Araripe. Essa música
era para ser cantada por Luiz Gonzaga e por mim, mas ele faleceu, acabamos
gravando o Dominguinhos e eu. Dominguinhos é um grande músico, gravou muito
comigo! Eu produzi um disco dele também.
Você conhece Benedito Siviero, que entre muitos sucessos é
compositor da música “Boate Azul”?
Conheço!
É amigo! A gente se encontra, bate papo.
Você tem uma vida muito dinâmica, circula pelo Brasil todo!
Sou
pior do que notícia ruim!
Você tem uma ligação muito forte com a celebração da Folia de
Reis?
Sou
Mestre em Folia de Reis! Completei 50 anos de mestre, passei para outro. Mas
ainda saio no tempo de Folia, na minha terra. A festa tem a parte religiosa e
tem a parte jocosa. São as brincadeiras: Corrida de Jegue, Corrida de Porco,
Corrida de Cachorro, Corrida de Galinha, Corrida de Costas, Corrida de Mulher,
é uma série de brincadeiras.
O pessoal consegue com pouca coisa despertar uma alegria
espontânea?
É
uma alegria gerada da simplicidade.
Téo, como é a sua alimentação?
Como
tanto uma comida típica do Nordeste como um prato típico italiano. Trituro
tudo! Hoje mesmo a Thais de Almeida Dias serviu um almoço espetacular. Comida
internacional!
Quer dizer que você é mineiro de Minas Gerais?
Claro,
uai!
Você
tem mais um jeitão de nordestino do que de mineiro!
Mineiro
do Norte de Minas, já tem esse jeito assim. Meio baiano. É o jeito nosso.
Quando você começou, começou aonde?
Foi
no Norte de Minas. Cantava repente nas feiras. O início foi de muita luta. Me
virava da forma que podia, até que vim para São Paulo.
Quando você entrou em uma rádio pela primeira vez?
Foi
em Montes Claros! Na Rádio Sociedade Norte de Minas, ZYD-7, eu tinha uns oito
para nove anos de idade.
Téo, essa vida de trabalhar com a cultura é rentável
financeiramente?
Quem
trabalha com a Cultura Popular, no Brasil, não ganha dinheiro suficiente para
ficar rico. Eu não conheço nenhum que é rico!
Você encontra muitos pseudos folcloristas pelo caminho?
Infelizmente
existem muitos! São pessoas com conhecimento superficial de folclore, usam a
boa-fé alheia para iludir, produzir conceitos sem fundamento. Eu tenho um amigo,
escritor, ele já fez quatro livros de um livro meu! Eu também não entrei com
ação contra ele. São pessoas limitadas,
incapazes de criarem algo, necessitam copiar. São verdadeiros atores
profissionais. E legítimos caras de pau!
Você tem algum projeto para criar um museu do folclore?
Eu
tenho no Centro do Folclore e Cultura Popular, uma Instituição Pública Federal,
situado na Rua do Catete, 179; lá tem algumas peças minhas. Tem uma viola velha
que foi do meu pai, um chapéu de couro meu, faz mais de 30 anos que eles
pediram para colocar lá. Meus folhetos de cordel estão na Universidade Paris-Sorbonne,
na França, com os pesquisadores franceses. Na Alemanha tem pesquisadores que
levaram obras que publiquei. Sei que existem outros países que através de seus
pesquisadores adquiriram obras que publiquei.
Eles traduzem para o idioma deles?
Sei que na Alemanha foi feita a tradução.
Imagino um alemão cantando um cordel, deve ser muito curioso!
Os
alemães respeitam muito a literatura de cordel. Guimarães Rosa é um dos autores
mais lidos na Alemanha. E dos mais traduzidos também. A Alemanha realizou peças
radiofônicas com as obras de Guimarães Rosa. Os livretos de cordel, alguns são sobre
pessoas, outros são peças musicais.
Téo, a seu ver, qual é o futuro do cordel?
A
tecnologia de divulgação pode mudar, mas a essência continua. O professor
Rossini sempre dizia que vai haver o folclore do astronauta como existe hoje o
caipira, complementa Thais de Almeida Dias.
A internet ajuda a divulgação do cordel?
Divulga!
O filme “ O Homem que casou com a mula” está na internet! É um filme com a
duração de 1h15min., A trilha sonora desse filme é toda feita pelo meu sobrinho
Rodrigo Azevedo, faleceu novo.
Téo Azevedo, você veio de São Paulo para Piracicaba hoje,
especialmente para o que?
Vim
fazer uma visita para quem considero a mulher mais importante da História da
Música Sertaneja do Brasil, Thais de Almeida Dias. A Música Sertaneja
Brasileira em sua essência, saiu da cabeça dela, foi ela que impôs a Música
Sertaneja na TV Cultura. Com o tempo, outras emissoras vendo o sucesso dela, a
copiaram. Isso solidificou e divulgou a música sertaneja. Os grandes nomes da música sertaneja foram
pinçados por ela, cada qual em sua vocação artística. Os sucessos que até hoje
são cantados, como o de Inezita Barroso, foi indicada por ela para gravar no
Rio de Janeiro um LP. Naquela época, havia apenas uma música de cada lado do
“bolachão”, moldado em cera de carnaúba. Pela potência da sua voz, Thais
indicou Inezita que gravou duas músicas: de um lado a “Moda da Pinga” e do
outro lado a maravilhosa música “Ronda”. Inezita Barroso estourou! Sérgio Reis
com “Menino da Porteira”, gravou também umas músicas minhas, como “Tocador de
Boi” e “Amansador de Burro Bravo”.
“Oitenta
Anos da Música Caipira no Brasil”, quando a música caipira fez oitenta anos,
baseado em Cornélio Pires que deu origem a sistematização da música caipira em
1931. Cornélio Pires divulgou os caipiras e a música sertaneja, os costumes e a
forma de música. Sérgio Reis cantou a primeira música do disco. Saiu uma música
com a história da vida de Téo Azevedo, escrita por Thais de Almeida Dias. É a
música “Vaqueiro Velho” gravada por Carlos Cesar e Cristiano.
Téo, você foi vaqueiro também?
Fui!
Fui criado na roça, ali tem que fazer de tudo. O vaqueiro virou violeiro. Todo
vaqueiro gosta de uma viola, faz parte da vida. Do dia-a-dia, do mundo em que
vive.
Como o senhor vê o gaúcho?
Ele
tem uma cultura muito rica! A cultura regional deles tem uma poesia rica, bons
poetas, a musicalidade é muito boa, tem influência dos ancestrais europeus, é
muito bonita, tem uma influência maior da Espanha do que de Portugal. Eles
preservam a cultura deles, o CTG – Centro de Tradições Gaúchas é um exemplo
disso. São diferenciais marcantes o churrasco, o chimarrão e a bombacha. Assim
como o pessoal do Norte do Brasil tem como características marcantes o gibão e
o chapéu de couro, além da culinária totalmente diferente. Há cerca de 3 ou 4
décadas, houve um deslocamento em massa de migrantes gaúchos para o norte, levando
hábitos como o churrasco e o Tererê, que é a erva mate em infusão gelada e não quente,
como o chimarrão.
O senhor andava com o gibão?
Quando
era para entrar nas caatingas, tinha que ser usado por causa dos espinhos. A
caatinga tem muito espinho, já no cerrado não tem.
O senhor tinha cavalo bom?
Tinha
cavalo que levava um ano para ficar mais ou menos. Cavalo bom é quarto de
milha, um cavalo de luxo, só para vaqueiro com muitos recursos financeiros. Lá
no sertão não tem isso não!
A seu ver, o Nordeste melhorou?
Para
os pobres melhorou. As caixas d´agua, luz para todos. Tinha gente que nunca
tinha visto a luz de uma lâmpada lá no sertão. Chegava lá, tinha um
legadozinho de palha de coqueiro, uma
porta e uma janela. Teve uma evolução. Foi bom demais. Agora, esse negócio de
política é complicado. Um mete o pau de cá, outro de lá. Eu nem dou bola para
esse povo! Quero saber quem está
fazendo pelo Brasil!
O senhor já foi convidado para subir em algum palanque onde
havia políticos discursando?
Já!
Já subi! Para ganhar dinheiro, fazendo música, cordel, show. De uns anos para
cá não pode mais. Já fiz música para tudo quanto é político que você pode
pensar!
Eles pagavam?
A
empresa que organizava, pagava.
Você foi criador de animais?
Fui
criador de cabritos no Vale do Rio São Francisco. Cheguei a ter 1.000 cabeças!
Lá tem muita gente que mexe com isso até hoje.
Recentemente, a Câmara Municipal de
São Paulo, homenageou dois gigantes das legítimas músicas sertanejas e
tradições do folclore brasileiro. Receberam cada um o seu troféu e uma linda
placa dourada. Um ato simbólico de gratidão para ambos que dedicaram as suas
vidas para manterem vivas as raízes da verdadeira cultura nacional, até hoje.
Thais de Almeida Dias recebeu sua placa como gratidão pela criação do programa
“Viola, Minha Viola”. A criação desse programa foi uma iniciativa ousada da sua
parte e que deu muito certo. No início, houve alguma resistência dentro da
própria Fundação Padre Anchieta. Não se cogitava em incluir um programa que
abordasse a cultura popular em uma rede de televisão e rádio voltados para um
público com elevado nível cultural, que valorizava obras clássicas com grandes
nomes, do Brasil e de outros países[U1] .
Thais é escritora, radialista e produtora. Como educadora, pesquisadora,
apaixonada pelo rico folclore brasileiro, Thais percorreu o país de Norte a
Sul, de Leste a Oeste. Desde o mais longínquo povoado até a então Capital
Federal Rio de Janeiro, onde comandou a poderosa Rádio MEC, com cerca de 200
funcionários. Isso em uma época em que as mulheres eram raras em altos cargos
executivos, não tinham o tratamento e valorização que existem hoje. A sua
rígida formação pessoal e sua competência profissional a conduziram para cargos
de relevância. Thais, com sua personalidade marcante, sempre foi muito querida,
embora frequentasse um meio onde algumas pessoas se deixavam levar pela fama e
brilho do momento. Ela nunca perdeu a sua simplicidade natural. Formada em
História pela USP, jornalismo pela Casper Libero e
mestrado em jornalismo. Thais conta: “Como professora primária, fui lecionar na
região da barranca do Rio Paraná, na divisa com o Mato Grosso. Entrei em um
programa desenvolvido pela Universidade de São Paulo que mandava professores
para o Norte e o Nordeste do país. Trabalhei dois anos em São Luiz no Maranhão,
onde voltei a fazer rádio, na Rádio Educadora Rural, de São Luiz.”. Thais em São Paulo era
constantemente convidada para ser jurada em programas de televisão. Sensata,
com conhecimento técnico, ganhou espaço. Conheceu e conviveu com muitas atrizes
famosas, os shows de calouros tornaram-se uma febre, os prefeitos promoviam os
espetáculos, e a banca julgadora era necessariamente composta por Thais. A
célebre Elke Maravilha foi sua colega de júri por anos. Até que a Fundação
Padre Anchieta, que envolvia as Rádios Cultura AM e FM, assim como a TV
Cultura, convidou Thais para ser produtora. Thais quebrou paradigmas. Eram
inegáveis a qualidade e o bom gosto dessas emissoras, porém , abrangiam um
público extremamente seletivo. Com sua forma gentil de tratar, ela introduziu
um programa que abordava a cultura popular. O programa revelou grandes valores,
músicas que são verdadeiras joias. Produziu o programa“ Viola, Minha Viola”.
Agregou mais público para a Emissora. Thais realizou cursos como convidada da
emissora alemã “ Dw – Deutsche Welle” a convite do governo alemão. Thais recebeu uma missão muito
especial: dirigir a Rádio MEC, no Rio de Janeiro. Uma gigante com cerca de 200
funcionários. Com seu carisma e conhecimento, conquistou o coração dos cariocas
e dos ouvintes do Brasil. Há uma entrevista exclusiva no JORNAL “A TRIBUNA
PIRACICABANA” e no “BLOG HISTORIAS DE NASSIF, com Thais, onde ela detalha sua
trajetória profissional.
Teófilo de Azevedo Filho, o Téo Azevedo, nasceu a 02 de julho de 1943 em Alto Belo,
município de Bocaiúva, no estado de Minas Gerais. Além do talento, Téo é a
personificação da célebre frase: “O sertanejo é antes de tudo, um forte”, frase
de Euclides da Cunha, em “Os Sertões”, publicado em 1902. Téo é cantor,
compositor, violeiro, folclorista e repentista, folião de Reis até hoje,
acumulando décadas de participação nesse importante evento regional, que é a
Folia de Reis. Como cantor gravou 23
discos. Téo Azevedo escreveu 13 livros. Já, como compositor , teve suas músicas
gravadas por Sérgio Reis, Luiz Gonzaga, o “Gonzagão”, Dominguinhos, estes últimos
incontáveis vezes tocaram juntos com Téo. Muitos artistas famosos gravaram as
músicas de Téo entre eles Nara Leão, Jair Rodrigues, Zé Ramalho, Christian e
Ralf e Jackson Antunes. Téo Azevedo, ainda menino, cantava repentes na rua e
participava de concursos de calouros em circos e parques. Aos 17
anos iniciou-se como lutador de boxe, chegando a consagrar-se tricampeão
mineiro no início dos anos 1960. Téo Azevedo gravou o primeiro disco no ano
de 1965, no estúdio Discobel, interpretando "Deus Te Salve, Casa
Santa" (Domínio Público) tendo composto mais três estrofes e mudado a
melodia tradicional cantada no norte de Minas Gerais. Essa música, de autor
desconhecido, é na verdade o que também conhecemos como "Cálix Bento"
(adaptado por Tavinho Moura).
Téo lançou em 1978 o LP "Brasil, Terra
da Gente", no qual gravou a música "Viola de Bolso", na qual ele
transpôs versos de Carlos Drummond de Andrade para o ritmo das Folias de Reis.
E, no mesmo ano, com a composição "Ternos Pingos da Saudade", Téo
recebeu o prêmio de melhor melodia, melhor letra e melhor interpretação no
Primeiro Festival de Música Sertaneja, evento promovido pela Rádio Record de
São Paulo.
Em 1979, Téo participou da abertura da Feira do Livro na Praça 7 de Setembro.
Em seguida, foi convidado para gravar "jingles" e "spots"
no lançamento do primeiro Torneio de Repentes de Minas Gerais.
No dia 07 de janeiro de 1980, Téo Azevedo fundou a ARPPNM
(Associação dos Repentistas e Poetas Populares do Norte de Minas), juntamente
com Amelina Chaves, Jason de Morais, Josece Alves, Silva Neto, Pau Terra, João
Martins e o grupo Agreste. Téo foi Presidente da ARPPNM e doou para a mesma
todos os Direitos Autorais das obras de Domínio Público por ele recolhidas e
adaptadas. Voltou
para a carreira artística e fundou a escola de samba Unidos do Guarani e
participou do conjunto de shows e bailes Léo Bahia. Em 1965, gravou seu
primeiro disco, interpretando a música de domínio público “Deus te Salve, Casa
Santa”. Em 1968, foi escolhido O Melhor Compositor Mineiro do Ano pelo jornal
mineiro “O Debate”. No ano seguinte, mudou-se para São Paulo e se tornou
parceiro de Venâncio, da dupla Venâncio e Curumba . Em 1978, foi vencedor do
Primeiro Festival de Música Sertaneja promovido pela Rádio Record de São Paulo
com a toada “Ternos pingos da saudade”, feita em parceria com o poeta Cândido
Canela. Além do prêmio de melhor melodia e de melhor letra, recebeu também o
prêmio de melhor interpretação.
Na
década de 80 lançou seu primeiro livro: “Literatura popular do norte de Minas”,
e depois veio “Plantas medicinais e benzeduras”; “Cultura popular do norte de Minas[U2] ” e “A folia de reis no
norte de Minas”. Musicou um especial sobre Guimarães Rosa para a Rádio
Cultura FM de São Paulo; a peça “A hora e a vez de Augusto Matraga”, de
Guimarães Rosa, com direção de Antunes Filho, e “Festa na roça”, de Martins
Pena, encenada no Teatro Célia Helena em São Paulo. Em 1998, participou da
novela “Serras Azuis”, da TV Bandeirantes e apresentou o programa “Nosso Canto
Nordestino”, na Rádio Record de São Paulo. Apresenta desde 1991 o “Programa Téo
Azevedo” na Rádio Atual, também de São Paulo.
O mineiro Téo Azevedo foi o
vencedor do Grammy Latino 2013. A premiação ocorreu no centro de eventos do
hotel e cassino Mandalay Bay, de Las Vegas, nos Estados Unidos. O cantor e
compositor, natural de Alto Belo, distrito de Bocaiuva, venceu com o álbum
"Salve Gonzagão 100 anos", na categoria melhor álbum de raiz.
Em
2015 recebeu o Título de Cidadão Paulistano, por meio da Câmara de Vereadores
de São Paulo. Téo calcula ter mais de 2.000 músicas gravadas, o que faz dele um
recordista no Brasil. Produziu inúmeros trabalhos em literatura de cordel, 12 livros
sobre cultura popular. Téo Azevedo com 6 anos de idade já trabalhava, engraxava
sapatos e ao mesmo tempo compunha versos de improviso para atrair a freguesia.
Desse modo passou a cantar repentes, e participar de concursos de calouros em
circo e parques. Antonio Silvino era um vendedor de remédios caseiros, a base
de ervas. Ele é considerado por alguns estudiosos, como o revelador de Téo
Azevedo. Foi quem viu naquele menino um grande potencial para atrair clientes.
Téo fazia os improvisos com uma cobra jiboia em torno do seu pescoço. Era
natural haver uma aglomeração em torno de cena tão inusitada. Silvino já tinha
o ambiente próprio para oferecer seus remédios caseiros.
Thais
de Almeida Dias a convite da Rádio Deutsche Welle, realizou diversos cursos na
Alemanha. Téo Azevedo recebeu uma equipe da TV alemã, que gravou horas de seu
trabalho, como documentário. Na Alemanha existem estudiosos que analisam o
trabalho de Téo Azevedo, autor de cerca de 1.000 folhetos de literatura de cordel. A
literatura de cordel, recebeu esse nome em Portugal, onde um barbante ou
cordel, funciona como um varal onde são expostos os folhetos dependurados.
Geralmente usam ilustrações com xilogravuras.
Na
casa de Thais , juntamente com Téo e mais algumas pessoas, saboreamos um
delicioso almoço, em um ambiente descontraído e aconchegante . Conversamos
bastante e aproveitamos para conhecer um pouco mais do trabalho do Téo.
Ao tocar o
gado, o que é “apoio” Téo?
O
apoio é o canto improvisado do vaqueiro para guiar e tocar o gado, muito
utilizado no Norte do Estado de Minas Gerais, assim como em direção ao Nordeste
Brasileiro. É como se fosse aqui no Sul do Brasil, o berrante, que também serve
para tocar e guiar o gado. Fiz um filme mostrando o que é o apoio no primeiro
canal de televisão da cidade de Baden-Baden, na Alemanha. Para essa mesma
equipe do Dr. Ralph uns três anos depois eu fiz um outro trabalho. A trilha
sobre Guimarães Rosa.
A
Thais de Almeida Dias, fez um trabalho maravilhoso na Rádio Cultura de São
Paulo que foi muito bonito! Um trabalho histórico. Lima Duarte e outros artistas importantes
contribuíram com os seus talentos. Ela me convidou e eu entrei no meio da
turma!
Você
participou de algum filme?
Nós
fizemos agora um filme de longa-metragem, extraído de um cordel meu, chama-se
“O Homem que casou com a mula”. Não tem nada de pornografia, ele é engraçado! O nome já é engraçado! Foi extraído de
um cordel meu, conta história de um sujeito que era muito feio, cheio de
preconceitos, morava isolado na roça, ele não achava nenhuma mulher que se
interessasse por ele, um dia na beira da estrada tinha uma mula pastando e
relinchando. E a mula pastava e relinchava para ele. Ele achou que a mula
estava rindo para ele! E assim foi, até que ele decidiu que queria casar com a
mula! Procurou o padre, o padre não quis consentir naquele casamento. Procurou
o pastor que também não quis realizar o casamento. Ele então procurou o Pai de
Santo, que também não quis realizar o casamento.
Quem é o
artista principal?
São
quatro artistas, só que o elenco todinho é do Norte de Minas Gerais! Isso
inclui a turma da produção, os atores, a turma da filmagem. Os locais todos são
do Norte de Minas.
E o noivo
da mula?
É
uma pessoa da região.
Essa
filmagem foi feita agora?
Faz
poucos meses. Está em edição. É o primeiro filme extraído de um cordel que fiz.
Esse filme é muito interessante por ter uma parte declamado do cordel e outra
as filmagens em si. Eu também tenho a minha participação nas cenas.
Como anda a literatura de cordel no Brasil hoje?
Eu
acho que anda bem! Claro que muita coisa mudou, mas a Literatura de Cordel está
espalhada pelo Brasil todo, de Norte a Sul. Muitos filmes, muitas peças, foram
baseados na Literatura de Cordel.
A Internet ajudou a Literatura de Cordel?
A
internet é uma faca de dois gumes, ajuda de um lado e não ajuda de outro.
(O
cordel tem uma origem interessante, tem a magia de encantar seus leitores e
ouvintes, trazem o folclore de forma cristalina. Fisicamente assumem as
características de folhetos, é e necessário conhecer muito bem a cultura de um
povo para entender a Literatura de cordel.
Quantas obras de Literatura de Cordel você já publicou, Téo
Azevedo?
De
cordel tenho cerca de 1000 (mil) folhetos publicados no Brasil todo.
Segundo Thais de Almeida Dias, você é especialista em plantas
que curam, sendo que já publicou um livro sobre “Plantas que curam.
Conheço
algumas! Sou da região do Cerrado Brasileiro que é mais rico do que a Mata
Atlântica. O cerrado é o bioma mais rico do Brasil! Mais rico do que a Floresta
Amazônica! O cerrado tem uma vantagem, ele é caridoso, ele é cheio de plantas
medicinais, ali tem muitas benzedeiras que conhecem as propriedades medicinais
de cada planta. Atualmente, a pessoa acometida de algum mal, após diagnosticada,
ela recebe uma receita e vai até uma
farmácia, onde adquire um remédio, que serve para curar aquela moléstia. Esse
remédio “X” serve para o João, o Pedro, o Antonio.
O
curador busca a origem da doença, que para indivíduos diferentes, podem
manifestar a mesma doença, mas por causas diferentes. Cada indivíduo tem uma
natureza própria e única. Essa habilidade requer muitos anos de estudo da
natureza das plantas e seus efeitos, a observação de cada caso, geralmente é
transferida por gerações. Isso não vai de encontro com os avanços técnicos da
medicina. Muitos medicamentos são sintetizados a partir dos efeitos observados
nas plantas. Conheço muitas pessoas do sertão que tem grandes conhecimentos
sobre os efeitos das plantas. Sei também os efeitos que as plantas que existem
no mato podem causar. Pelo menos umas mil plantas, seus efeitos e benefícios eu
conheço. Sei dizer para que serve determinada folha, raízes, quais são
benéficas, quais são perigosas: tóxicas ou venenosas.
Na Escola de Agronomia Luiz de Queiroz, de Piracicaba, Dr.
Walter Accorsi, coordenou a cadeira de Fitoterapia. Desenvolveu muito os
estudos nessa área. O Japão foi um dos países que se interessou muito por esses
estudos. Após o falecimento do Dr. Walter houve um declínio nessas pesquisas.
Eu
não receito nada não! Quando alguma pessoa me procura eu digo: “ O que dizem
que é bom para isso é essa planta, ou essa! ”.
Para curar picada de cobra, qual é uma boa indicação?
Dependendo
da cobra “Babau” ! A Urutu Cruzeiro por exemplo, pode ocasionar o óbito em meia
hora! Nesse caso só Deus pode salvar.
Sabemos que o Brasil é extremamente rico em tudo, inclusive em
vegetação e água .
Minas
Gerais é a “Caixa de Água” do Brasil!
Sabemos que o nosso país é muito rico em minérios, não só na
diversidade como na quantidade. Você que tem tanto contato por todo o Brasil,
como vê a situação do país sob o olhar popular?
Eu
sou de uma família de garimpeiros, meu pai era garimpeiro de cristal, outros
eram de diamantes.
Você nunca teve vocação para o garimpo?
Nunca
tive! Meu negócio foi tocar viola! Eu enrolo na viola!
Você tem um grande talento como repentista! O repente requer um
grau de cultura muito elevado. Raciocínio rápido. Poder de observação aguçado.
O
repente pode parecer muito simples, mas exige métrica, algumas regras básicas,
tem que ser tudo certinho. Tem repentista que aborda a Queda da Bastilha,
Psicologia, outros abordam a Cultura Regional Grega! Cada um vai por um
caminho.
O seu caminho qual é?
Um
tiquinho de cada coisa!
Isso significa que a sua arte agrada a todo tipo de público?
A
gente procura agradar a todos!
Atualmente você tem algum programa?
Eu
me apresento em programas de pessoas que me chamam. Faço algumas palestrazinhas
por aí. Em faculdades. Participei de
muitos programas do Globo Rural. O
aspecto mais importante é o de divulgar a riqueza do folclore brasileiro. Temos
fases, quando vem algo novo na mídia mundial. Algum tempo depois, percebemos
que o folclore brasileiro resiste, permanece e até ganha espaço.
A música sertaneja andou sendo deturpada?
Ai
é outra coisa! A música sertaneja mesmo, vive sendo escondida, mas não morre.
Para quem gosta ela está sempre viva.
Tem música que é intitulada como sertaneja, só que não tem
absolutamente nada de sertaneja.
É
o meio!
O que é o “Sertanejo Universitário?
Isso
é título que eles criaram! Forró Universitário, Sertanejo Universitário,
Pisadinha , vão inventando em cima de ritmos que já existem! Há uma pequena
mudançazinha.
Você conheceu o consagrado Luiz Gonzaga, também conhecido por
Gonzagão?
Conheci!
Ele gravou música minha, eu gravei cantando com ele. Ele gravou as músicas que
fiz, “Maria Cangaceira”, “Maria Bonita”, gravei com ele no disco “
LuizGonzaga , 70 anos de sanfona e simpatia”. No ano em que ganhei o Grammy
Latino, (Prêmio Internacional, que elege os melhores em sua categoria na
América Latina). Esse disco Dominguinhos gravou, com acústica dele e minha, a
letra é minha. Chama-se “ Padroeira da
Visão – Santa Luzia” Luiz Gonzaga nasceu no dia 13 de dezembro de 1912, em Exu,
na divisa entre os estados de Pernambuco e Ceará, na região do Araripe. Essa música
era para ser cantada por Luiz Gonzaga e por mim, mas ele faleceu, acabamos
gravando o Dominguinhos e eu. Dominguinhos é um grande músico, gravou muito
comigo! Eu produzi um disco dele também.
Você conhece Benedito Siviero, que entre muitos sucessos é
compositor da música “Boate Azul”?
Conheço!
É amigo! A gente se encontra, bate papo.
Você tem uma vida muito dinâmica, circula pelo Brasil todo!
Sou
pior do que notícia ruim!
Você tem uma ligação muito forte com a celebração da Folia de
Reis?
Sou
Mestre em Folia de Reis! Completei 50 anos de mestre, passei para outro. Mas
ainda saio no tempo de Folia, na minha terra. A festa tem a parte religiosa e
tem a parte jocosa. São as brincadeiras: Corrida de Jegue, Corrida de Porco,
Corrida de Cachorro, Corrida de Galinha, Corrida de Costas, Corrida de Mulher,
é uma série de brincadeiras.
O pessoal consegue com pouca coisa despertar uma alegria
espontânea?
É
uma alegria gerada da simplicidade.
Téo, como é a sua alimentação?
Como
tanto uma comida típica do Nordeste como um prato típico italiano. Trituro
tudo! Hoje mesmo a Thais de Almeida Dias serviu um almoço espetacular. Comida
internacional!
Quer dizer que você é mineiro de Minas Gerais?
Claro,
uai!
Você
tem mais um jeitão de nordestino do que de mineiro!
Mineiro
do Norte de Minas, já tem esse jeito assim. Meio baiano. É o jeito nosso.
Quando você começou, começou aonde?
Foi
no Norte de Minas. Cantava repente nas feiras. O início foi de muita luta. Me
virava da forma que podia, até que vim para São Paulo.
Quando você entrou em uma rádio pela primeira vez?
Foi
em Montes Claros! Na Rádio Sociedade Norte de Minas, ZYD-7, eu tinha uns oito
para nove anos de idade.
Téo, essa vida de trabalhar com a cultura é rentável
financeiramente?
Quem
trabalha com a Cultura Popular, no Brasil, não ganha dinheiro suficiente para
ficar rico. Eu não conheço nenhum que é rico!
Você encontra muitos pseudos folcloristas pelo caminho?
Infelizmente
existem muitos! São pessoas com conhecimento superficial de folclore, usam a
boa-fé alheia para iludir, produzir conceitos sem fundamento. Eu tenho um amigo,
escritor, ele já fez quatro livros de um livro meu! Eu também não entrei com
ação contra ele. São pessoas limitadas,
incapazes de criarem algo, necessitam copiar. São verdadeiros atores
profissionais. E legítimos caras de pau!
Você tem algum projeto para criar um museu do folclore?
Eu
tenho no Centro do Folclore e Cultura Popular, uma Instituição Pública Federal,
situado na Rua do Catete, 179; lá tem algumas peças minhas. Tem uma viola velha
que foi do meu pai, um chapéu de couro meu, faz mais de 30 anos que eles
pediram para colocar lá. Meus folhetos de cordel estão na Universidade Paris-Sorbonne,
na França, com os pesquisadores franceses. Na Alemanha tem pesquisadores que
levaram obras que publiquei. Sei que existem outros países que através de seus
pesquisadores adquiriram obras que publiquei.
Eles traduzem para o idioma deles?
Sei que na Alemanha foi feita a tradução.
Imagino um alemão cantando um cordel, deve ser muito curioso!
Os
alemães respeitam muito a literatura de cordel. Guimarães Rosa é um dos autores
mais lidos na Alemanha. E dos mais traduzidos também. A Alemanha realizou peças
radiofônicas com as obras de Guimarães Rosa. Os livretos de cordel, alguns são sobre
pessoas, outros são peças musicais.
Téo, a seu ver, qual é o futuro do cordel?
A
tecnologia de divulgação pode mudar, mas a essência continua. O professor
Rossini sempre dizia que vai haver o folclore do astronauta como existe hoje o
caipira, complementa Thais de Almeida Dias.
A internet ajuda a divulgação do cordel?
Divulga!
O filme “ O Homem que casou com a mula” está na internet! É um filme com a
duração de 1h15min., A trilha sonora desse filme é toda feita pelo meu sobrinho
Rodrigo Azevedo, faleceu novo.
Téo Azevedo, você veio de São Paulo para Piracicaba hoje,
especialmente para o que?
Vim
fazer uma visita para quem considero a mulher mais importante da História da
Música Sertaneja do Brasil, Thais de Almeida Dias. A Música Sertaneja
Brasileira em sua essência, saiu da cabeça dela, foi ela que impôs a Música
Sertaneja na TV Cultura. Com o tempo, outras emissoras vendo o sucesso dela, a
copiaram. Isso solidificou e divulgou a música sertaneja. Os grandes nomes da música sertaneja foram
pinçados por ela, cada qual em sua vocação artística. Os sucessos que até hoje
são cantados, como o de Inezita Barroso, foi indicada por ela para gravar no
Rio de Janeiro um LP. Naquela época, havia apenas uma música de cada lado do
“bolachão”, moldado em cera de carnaúba. Pela potência da sua voz, Thais
indicou Inezita que gravou duas músicas: de um lado a “Moda da Pinga” e do
outro lado a maravilhosa música “Ronda”. Inezita Barroso estourou! Sérgio Reis
com “Menino da Porteira”, gravou também umas músicas minhas, como “Tocador de
Boi” e “Amansador de Burro Bravo”.
“Oitenta
Anos da Música Caipira no Brasil”, quando a música caipira fez oitenta anos,
baseado em Cornélio Pires que deu origem a sistematização da música caipira em
1931. Cornélio Pires divulgou os caipiras e a música sertaneja, os costumes e a
forma de música. Sérgio Reis cantou a primeira música do disco. Saiu uma música
com a história da vida de Téo Azevedo, escrita por Thais de Almeida Dias. É a
música “Vaqueiro Velho” gravada por Carlos Cesar e Cristiano.
Téo, você foi vaqueiro também?
Fui!
Fui criado na roça, ali tem que fazer de tudo. O vaqueiro virou violeiro. Todo
vaqueiro gosta de uma viola, faz parte da vida. Do dia-a-dia, do mundo em que
vive.
Como o senhor vê o gaúcho?
Ele
tem uma cultura muito rica! A cultura regional deles tem uma poesia rica, bons
poetas, a musicalidade é muito boa, tem influência dos ancestrais europeus, é
muito bonita, tem uma influência maior da Espanha do que de Portugal. Eles
preservam a cultura deles, o CTG – Centro de Tradições Gaúchas é um exemplo
disso. São diferenciais marcantes o churrasco, o chimarrão e a bombacha. Assim
como o pessoal do Norte do Brasil tem como características marcantes o gibão e
o chapéu de couro, além da culinária totalmente diferente. Há cerca de 3 ou 4
décadas, houve um deslocamento em massa de migrantes gaúchos para o norte, levando
hábitos como o churrasco e o Tererê, que é a erva mate em infusão gelada e não quente,
como o chimarrão.
O senhor andava com o gibão?
Quando
era para entrar nas caatingas, tinha que ser usado por causa dos espinhos. A
caatinga tem muito espinho, já no cerrado não tem.
O senhor tinha cavalo bom?
Tinha
cavalo que levava um ano para ficar mais ou menos. Cavalo bom é quarto de
milha, um cavalo de luxo, só para vaqueiro com muitos recursos financeiros. Lá
no sertão não tem isso não!
A seu ver, o Nordeste melhorou?
Para
os pobres melhorou. As caixas d´agua, luz para todos. Tinha gente que nunca
tinha visto a luz de uma lâmpada lá no sertão. Chegava lá, tinha um
legadozinho de palha de coqueiro, uma
porta e uma janela. Teve uma evolução. Foi bom demais. Agora, esse negócio de
política é complicado. Um mete o pau de cá, outro de lá. Eu nem dou bola para
esse povo! Quero saber quem está
fazendo pelo Brasil!
O senhor já foi convidado para subir em algum palanque onde
havia políticos discursando?
Já!
Já subi! Para ganhar dinheiro, fazendo música, cordel, show. De uns anos para
cá não pode mais. Já fiz música para tudo quanto é político que você pode
pensar!
Eles pagavam?
A
empresa que organizava, pagava.
Você foi criador de animais?
Fui
criador de cabritos no Vale do Rio São Francisco. Cheguei a ter 1.000 cabeças!
Lá tem muita gente que mexe com isso até hoje.