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terça-feira, dezembro 29, 2015
domingo, dezembro 27, 2015
WILSON TEODORO
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 26 de dezembro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços
eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADO: WILSON TEODORO
Wilson
Aparecido Teodoro nasceu a 10 de maio de 1971 em Piracicaba. Filho de Wilson
Antonio Teodoro e Guiomar Flores Teodoro que tiveram ainda os filhos Fabiano e
Fernando. A família residiu sempre no bairro Paulicéia. Wilson atualmente é
empresário ligado ao ramo das artes marciais na Academia Company Top Fight, Coaching da Confederação Brasileira de
Kickboxing. Para todos
os eventos no território nacional e internacional. Wilson Teodoro é um Mestre
de Artes Marciais.
Você é técnico contratado por diversas entidades esportivas quando são
realizados eventos?
Sou contratado pela Selam -
Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Atividades Motoras. Quando você passa
a ser um treinador que ganha muitos prêmios, automaticamente a Federação vai
colocando você como técnico, quando vamos disputar pelo Estado de São Paulo eu
sou o técnico de São Paulo.
Você estudou aqui no bairro
mesmo?
Estudei na Escola Estadual
Professor Antonio de Mello Cotrim até a oitava série. Minha primeira professora
foi Dona Marta. A seguir fui estudar química no Anglo Piracicaba. Foram quatro
anos, fiz simultaneamente o curso colegial.
Você seguiu a carreira de
Técnico em Química?
Nessa época eu já estava
desenvolvendo-me como atleta e simultaneamente fiz estágio na ESALQ onde
trabalhei no laboratório de solos. Meu chefe era o Professor José Alexandre Melo Demattê. Pelo fato de ser perfeccionista, foram me
segurando dentro do laboratório. Nesse trabalho fiquei por três anos. Eu sabia
fazer todos os processos do laboratório, de análise foliar até análise de
adubo.
Você não
pensou em seguir carreira nessa área?
Pensei, mas o Estado não podia ficar comigo, o Conselho Regional de
Química não admitia a minha permanência como estagiário por tanto tempo, eu
teria que ser funcionário do Estado. Na época houve uma mudança na chefia do
departamento e eu sentia que não era visto com muita simpatia pela nova chefia.
Mesmo eu sendo um funcionário pontual e extremamente dedicado. Cheguei a fazer
os corpos de provas repetidamente por cinco vezes para que reconhecessem que eu
sabia de fato o que estava fazendo. Fiz análises com 1% (um por cento) de erro,
sendo que a tabela permitia até 10% (dez por cento) de erro. Permaneci lá de
1991 a 1993. Em 1993 fui contratado pela Caterpillar. Minha intenção era
trabalhar no laboratório de metalurgia. Fiz o curso de metalurgia na
Metalúrgica Bom Jesus. Fui contratado como rebarbador de peças. Conheci como é
o ambiente em uma grande empresa, o fato de eu ter uma disciplina marcial me
auxiliou muito. Trabalhei por dois contratos, um de um ano e oito meses e outro
de um ano e meio. Eu já havia descoberto outros setores dentro da empresa que
necessitava de elementos cuja capacitação eu tinha. Fui trabalhar no que era
chamado de rolete para montar o scraper. Em três meses eu já estava montando a
caçamba do scraper. De lá fui trabalhar na afiação de brocas. De lá fui
trabalhar com o Jaime, um colega que faleceu em frente a empresa em um acidente
de moto. Era um setor estratégico da logística da empresa. Em 1996 sai da
Caterpillar. Minha mãe disse-me: “- Você não gosta de luta? Porque você não
investe na luta?”
Quando surgiu
essa sua atração pela luta?
A primeira luta
marcial minha foi capoeira. Isso ocorreu no Jardim Esplanada, era o Mestre
Ousado. Ele tinha vindo de Recife. Seu intuito era ficar em São Paulo, tinha
vários atletas formados por ele. Ele estudava química comigo, um dia disse-me
“–Wilson! Você não quer fazer uma luta?” Eu já praticava musculação desde muito
novo. Comecei em 1986. Meu primeiro professor foi o“Maçã”, seu nome era Maciel,
era proprietário da academia Hercules. O segundo foi o Rainha. Fui para a
Academia Clif Alternativa, situada na Rua Treze de Maio, de propriedade do
Bertaglia e do Rainha que acredito ser um dos melhores treinadores de
musculação que conheço, aprendi muita coisa com ele. É muito disciplinador
nessa parte de musculação. Praticamente o que faço hoje na luta. Quando fiz o
Tiro de Guerra em 1990 eu fazia 150 quilos de supino, 200 quilos de
agachamento, eu sempre tive um potencial violento na parte de lutas. Quando o
meu mestre foi embora para Londres ele queria me levar, ele foi conversar com
os meus pais, disse que eu tinha um grande potencial, minha mãe não aprovou,
sequer imaginava seu filho em um país tão distante. Foi quando na Clif
Alternativa, fazendo musculação chegou um professor chamado Antonio Silva. Ele
disse que ia ter uma modalidade chamada Box Tailandês em Piracicaba. Eu via o
Box Tailandês no desenho que passava na televisão o Sawamu. Foi ai que ele
implantou o Muay Thai que
é a mesma coisa que Box Talilandês, Thai Box, Toy Muay, Box in Tailândia. Existem algumas denominações regionais para ao mesmo
esporte. Fui treinar o que na época era mais comum chamar de Box Tailandês. É
muito dinâmico e competitivo. Em 1988 fui campeão regional de Muay Thay.
Nessa época você trabalhava
também?
Trabalhava na Caterpillar e
treinava. Fazia três horas de treino, às vezes saia dali e ia para o Anglo onde
fazia alguns cursos de especialização em química. Os treinos eram de segunda a
segunda, incluindo sábado e domingo. Muitas vezes fazia quatro horas de treino
por dia. Ele fazia o mesmo tempo de
treino que é feito na Europa. O dono da academia é como se fosse seu patrão. Na
Tailândia é chamado de Boss ( patrão, chefe, mestre). Treinava para ser um dos melhores, e para ser
um dos melhores tem que treinar muito, muito mesmo.
Tinha alguma alimentação
especial?
Como eu já tinha tido como
professores o Rainha, o Maçã, eu usava a alimentação da musculação. Eu diluía,
porque o nosso exercício é mais aeróbico e não de hipertrofia. Na época não
tínhamos as opções alimentares que hoje temos.
A questão da suplementação em
determinadas circunstâncias desperta polemicas?
Para alguns atletas de alto nível
como o Jhonatan Teodoro de 20
anos, meu filho, o Marcos Roberto Alves de 19 anos, a Isabella Correr Spadotti
de 11 anos,a suplementação é usada perto
do campeonato, você não pode viver só de suplementação. O Muay Thay é muito
explosivo, o que não se admite é criar a dependência psicológica do suplemento.
O corpo não irá agüentar, não irá conseguir processar tão rápido.
Em determinados meios esportivos há uma polemica muito
grande com relação aos anabolizantes, também popularmente conhecidos como
“bomba”. Qual é a sua opinião?
No Muay Thay não tem nem como utilizar anabolizantes. É
uma boa pergunta, porque há generalização de algumas exceções, principalmente
em determinado tipo de esporte, onde a recuperação do atleta é muito rápida
após uma competição. Nós passamos treinando o ano inteiro para os eventos em um
campeonato consegue-se recuperar entre uma disputa e outra, no máximo setenta
por cento, jamais voltará a forma inicial rapidamente. Nós necessariamente
passamos pelo exame de doping. Se você estiver tomando algum produto que não
esteja relacionado em seu exame médico a medalha ganha pode ser contestada. Um
simples analgésico para uma dor de cabeça, se não for antecipadamente declarado
ao médico, pode ser a causa da perda de uma medalha. Além de multa e punições.
Quando foi a sua primeira luta?
A primeira luta minha foi em 1988, em Campinas, em um
evento denominado “Aberto de Thai Box”. Foi quando me sagrei campeão
conquistando a medalha de ouro. A próxima foi quando o Antonio fez um
campeonato regional aqui em Piracicaba, veio um pessoal de São Paulo, também
fiquei campeão na minha categoria. E assim foi a minha ascensão Tenho 1,84
metros de altura e na época pesava 96 a 97 quilos. Minha categoria era peso
pesado. Um dia o Mestre Antonio disse: “- Wilson, não vou mais poder dar aulas
aqui!”. Isso tirou o nosso chão. Ele
disse que tinha que ir para outra cidade, abrir outro espaço para conhecer a
modalidade. Disse que iria nomear alguém para instrutor. Disse-nos: “Agora vocês vão treinar com meu
professor, com quem eu treinei!”. Chamava-se Paulo de Souza Faria Nicolai. Ele
me telefonou e pediu que eu fosse até Campinas. A academia ficava na Rua Barão
de Jaguara. Quando cheguei já senti o impacto, muitos lutadores, uma academia
enorme. Ele então me disse: “- Agora você irá fazer parte da equipe principal!
Você será a pessoa que irá dar aulas em Piracicaba. Terá que vir treinar em
Campinas, a academia abre de domingo a domingo e o horário está lá embaixo.”
Nessa época você trabalhava em qual empresa?
Trabalhava na Caterpillar. Tomava o ônibus para Campinas
em frente a Caterpillar, treinava em Campinas, pegava o ultimo ônibus de
Campinas à Piracicaba, se não me engano era o das 23:30 horas. Fazia isso as
terças, quinta e sexta feiras e no sábado. Ai chegou um dia que passei a fazer
de segunda a segunda. De vez em quando trabalhava na Caterpillar na parte da
manhã, pegava um ônibus e ficava lá, só voltava no domingo a noite. Treinava,
quando não ficava na casa de amigos dormia em algum hotelzinho ou pensãozinha.
Tomava o café da manhã e já entrava na academia, ia até a noite.
Você é casado?
Sou! Minha esposa é Selma Aparecida Paes Teodoro. Temos
um filho, Jhonatan Teodoro.
Como ela vê essa agitação toda?
A partir do momento em que ela nos viu em competição ela
também passou a ser atleta.
Eu continuei a ir treinar em Campinas, Até chegar a um
ponto em que poucos permaneceram treinando, muitos desistiram pelo caminho.
Ficamos em uma meia dúzia, que se tornou o conselho da academia de faixa preta.
Um dia o mestre perguntou se acreditávamos que o Muay Thay poderia nos proporcionar
um padrão de vida confortável. Eu disse-lhe: “Acredito no senhor Mestre!”. Os
outros não acreditavam! Ele dizia que tínhamos que ter as nossas próprias
academias. Eu fui um dos que foi acreditando. Em 1996 tornei-me faixa preta em Muay
Thay. Falei com a minha esposa, meus pais, disse-lhes que a partir daquele dia
iria viver da academia, o Jhonatan tinha um ano, ele nasceu a 21 de dezembro de
1995. Comecei a dar aulas na Academia Atlas, do Toninho. Dei aula na Academia Associação Giatti, na academia Athenas Fitness. O Giatti abriu um dos primeiros centros de artes
marciais de Piracicaba tinha: Karatê com o professor Giatti, Aikidô com o
professor Umberto, Judô com o professor Kleber, Muay Thay com o professor Wilson Teodoro, Tai Chi Chuan com o professor
Ronaldo Massaruto, Kendô, Kenjutsu (luta com espadas), o Zequinha
na Capoeira Angola. Formou-se um grupo de professores de artes marciais, isso
foi em 1997, ficava em um prédio na Rua Santo Antonio, onde anteriormente
tinha sido a Loja Maçônica Piracicaba e mais tarde foi uma escola infantil.
Esse centro de treinamento de artes
marciais existe até hoje em outro local ?
Não existe mais. O professor Giatti montou sua própria
academia. Cada um foi seguindo o seu caminho. Foi quando decidi montar minha
própria academia. Minha primeira academia foi montada em 2010 na Rua Basílio
Machado, 2605, no bairro da Paulista.
Você chegou a ir à Tailândia?
Fui para a Tailândia em 2008.
A sua academia ocupa uma área expressiva, existe mais
alguma academia na cidade?
Atualmente tem outras academias que são co-ligadas a
nossa. Onde atletas meus montaram suas próprias academias. São filiais minhas,
onde sou o coaching deles.
Quantos atletas da Company Top Fight existem hoje em
piracicaba praticando Muay-Thai?
Na central temos cerca de 200 atletas. Próximo ao SESI deve
ter uns 60 atletas. Do Leandro, que é na Vila Rezende são uns 70 atletas. Do
João Paulo, na Rua Treze de Maio, no centro, deve ter mais uns 100. Do Gigante,
no bairro Santa Rosa devemos ter uns 60 alunos. Jhonatan Teodoro, meu filho,
tem em Rio das Pedras uns 80 atletas. Na praça central do bairro Santa
Terezinha, aberta recentemente pelo João, tem uns 35 atletas. Na Rua Edgar Lima
temos outra academia com mais uns 25 atletas, próximo a madereira Naléssio mais
25 atletas. Na Avenida Rio das Pedras tem mais uns 100 alunos. Totalizando
chegamos a cerca de aproximadamente 750 atletas. Temos ainda em Capivari,
Tietê, Rafard, Cerquilho, Jumirim.
Vivemos na atualidade um problema social muito sério, que
é o envolvimento da sociedade e principalmente dos jovens com a dependência
química, seja de qual natureza for. O atleta pode ter esses hábitos?
Não! Atleta nunca é da noite! Os atletas competidores não
tomam bebida alcoólica, não fumam.
Você segue alguma religião?
Sou católico. Tenho muita influência da cultura budista,
mais em função dos mestres. A filosofia que eles têm na Tailândia eu prego
dentro do centro de treinamento. Ela diz que temos que “Doar-se para o esporte
como Buda doou-se para o próximo”. O Muay- Thai tem essa cultura budista, essa
parte filosófica, onde se prega que para ser feliz não há a necessidade de
acumular riquezas e sim ter uma boa saúde, uma boa disciplina espiritual e
mental. Essa é a disciplina que eles me ensinam quando vou para lá.
Há uma faixa etária definida para a prática do esporte?
Para o esporte não. Para a luta em cima do ringue sim.
Começa aos 18 anos e termina aos 40 anos. Tem o tatame, que é outra modalidade,
só que você não causa nocaute. É a modalidade onde o Victor Vagner é o máster.
Chama-se Light
Contact. Tem que
colocar apenas cinqüenta por cento da potência.
A partir de qual idade pode ser praticado esse esporte?
Desde os sete anos. O Kauã é um atleta que começou
treinar quando tinha quatro anos. A Isabella começou a treinar com oito anos
hoje está com onze anos, faz três anos que ela treina. São crianças que já vem
determinadas a treinar Muay-Thai.
Qual é a idade do atleta na faixa etária mais avançada
que treina na academia?
O que tem mais idade tem 51 anos.
O atleta tem o poder de ser letal a um adversário ou em
situação de risco. O que você pode afirmar a respeito?
A arte marcial Muay-Thai tem um poder muito grande com
alto reflexo e alto impacto. O homem desconhece o próprio corpo. Quando
colocamos um ambiente de família dentro da academia, fazemos com que o atleta
prossiga esse trabalho. Quem ingressa na academia já entra pensando como
atleta. Quando quiser encontrar um praticante de Muay-Thai basta vir até a
academia, eles praticamente moram aqui, passam grande parte do seu tempo na
academia. Com isso não sobra tempo para atividades que possam desvirtuar o
comportamento do atleta. Vamos fazer um churrasco na casa de um deles, todo
mundo vai. Vai ter uma festa no Clube de Campo onde vamos promover uma ação
para ajudar alguma entidade, vão todas as academias. Eles não têm muito tempo
para que a mídia, principalmente a televisão, os bombardeie com futilidades.
Nós temos 15 eventos ao ano, todos querem participar. Não nos restringimos a
lutar só em Piracicaba, vamos a todos os lugares do Brasil: Paraná, Rio de
Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Amazonas, Distrito Federal. Quando alguém vai ao
cinema geralmente vão todos ao cinema, juntos. Nosso primeiro evento será no
dia 17 de janeiro de 2016, vão lutar 45 atletas em São Pedro. O pessoal do Rio
de Janeiro estará em Piracicaba no dia 18 de janeiro para fazer seminário
comigo.
Como o público pode ficar sabendo dos eventos?
Pela internet. Temos vários endereços eletrônicos: wilsonteodoro.com.br,
face book companytopfight, instagram wilsonteodoro, you tube wilsonteodoro.
Tenho uns 6.000 seguidores no face.Uma boa parte são estrangeiros.
Quantos idiomas você fala?
Falo um pouco de tailandês, inglês, estou aperfeiçoando o
espanhol. Em 2008 fui para a Tailândia sem saber de nada, sem falar inglês,
permaneci por três meses na Tailândia.
Qual é a visão do tailandês a seu respeito?
No começo viam uma pessoa de porte grande, tatuado.
O que significam essas tatuagens que você tem pelo corpo?
São mantras, nem todos podem ter. Hoje sou considerado
por eles como um professor da Tailândia, um tailandês. Vou para lá todos os
anos. Criei uma identidade tão grande que quando entro na Tailândia sou muito
conhecido. O brasileiro é muito comunicativo, pega na mão, abraça. Cumprimenta.
O piracicabano parece que tem um jeito mais carinhoso com o povo. Quando fiquei
na Tailândia fiquei sozinho, tenho um amigo que mora lá, um brasileiro,
piracicabano, chamado Paulo Kawai, primo do Pedro Kawai, era quem me levava a
todos os lugares. Cheguei à Tailândia usando uma camiseta do XV de Piracicaba,
atrás escrito Wilson Teodoro nas costas, mando fazer na Deffende. O Paulo me viu, olhou, perguntou de onde eu
era. Disse-lhe que era de Piracicaba. Ele perguntou-me se eu conhecia o dono da
Vidraçaria Kawai. Respondi que era pai de um grande amigo chamado Pedro,
fizemos o Tiro de Guerra juntos, eu era número 150 ele 123. Ele foi me levando
a todos os maiores centros de Muay-Thai da Tailândia. O Paulo Kawai fala nove
idiomas. Passei a ter como mestre Khru Pairojnoi que foi mestre de um grande
amigo, Cosmo Alexandre, um brasileiro que foi morar na Tailândia e ficou muito
famoso na Tailândia. Eu estava treinando no mesmo centro de treinamento onde
ele estava. Fui o quarto brasileiro a ir a um lugar onde um brasileiro
tornou-se o rei do Muay-Thay na Tailândia.
segunda-feira, dezembro 21, 2015
ALICE DAS DORES DIAS CARMO
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 12 de dezembro de 2015.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 12 de dezembro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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Alice das Dores Dias Carmo nasceu
na Rua Manoel Dutra, batizada na Igreja do Espírito Santo na Rua Frei Caneca,
fez a sua primeira comunhão na Igreja São João Batista. Foi crismada na igreja
Nossa Senhora Achiropita na Rua 13 de Maio. Casou-se na Igreja Imaculada
Conceição. Filha de José Pedro Dias e Tereza de Jesus Dias nascida em 1892.
Igreja Nossa Senhora Achiropita


Os pais da senhora nasceram no Brasil?
Os pais da senhora nasceram no Brasil?
Sou filha de pai e mãe
portugueses, assim como neta de portugueses. Meu pai é da região de Trás-os-Montes sua atividade profissional lá era
barbeiro.
IMAGENS DE TRÁS-OS-MONTES
Na época havia uma imagem de que no Brasil as libras esterlinas estavam em toda parte, o que era pura ilusão. Meu pai nasceu em 1888, embarcou em um navio e veio para o Brasil, desembarcando em Santos. Foi para São Paulo, no Brás, onde a irmã da minha mãe tinha uma pensão na Rua Marcos Arruda. Morei na Rua João Boemer entre a Rua Itapiraçaba e Rua Santa Clara.
Na época havia uma imagem de que no Brasil as libras esterlinas estavam em toda parte, o que era pura ilusão. Meu pai nasceu em 1888, embarcou em um navio e veio para o Brasil, desembarcando em Santos. Foi para São Paulo, no Brás, onde a irmã da minha mãe tinha uma pensão na Rua Marcos Arruda. Morei na Rua João Boemer entre a Rua Itapiraçaba e Rua Santa Clara.
Que dia a
senhora nasceu?
Nasci no dia 19 de julho de 1918, tenho 97 anos. Minha mãe teve três
filhos, um que faleceu precocemente, outro, o Alberto que foi o precursor da
música na família e eu. Quando eu nasci meu pai era militar, trabalhava no
quartel situado a Rua José Getulio. Naquele tempo meu pai pertencia a então
Guarda Cívica. A farda era bonita, com botões dourados. Logo depois que eu
nasci o meu pai pediu baixa, recebeu menção honrosa.


Ele então decidiu abrir uma casa de móveis. Alguns anos depois minha mãe adoeceu, ela queria ir embora para Portugal. Em 1922 fomos embora para Portugal onde permanecemos por quase três anos. Fomos para Portugal no navio Astúrias, da Mala Real Inglesa, levamos 14 dias de viagem Quando voltamos de Portugal ao Brasil foram 9 dias de viagem, no navio Neptuno. Voltamos para o Brasil em 1925, aonde meu pai era patrão ele foi ser empregado, na casa de móveis. Ficou uns três anos lá até juntar algumas economias, abriu outra vez uma casa de móveis. Em 1932 veio uma crise muito forte, não havia uma casa comercial aberta, ninguém tinha emprego. Nessa época meu pai tinha uma casa de móveis, contava com cinco funcionários. Teve que encerrar as atividades. Calhou que o meu pai vendeu para pessoas que não eram boas pagadoras. Papai perdeu tudo. Morávamos em uma casa onde pagávamos de aluguel oitocentos mil réis, que naquela época era muito dinheiro. Fomos morar em um quarto e cozinha meu pai, minha mãe, meu irmão e eu. Na época eu estava estudando. Meu pai chegou a pagar dívidas cortando cabelo pelo equivalente a um real hoje, e a barba a cinqüenta centavos.

Ele então decidiu abrir uma casa de móveis. Alguns anos depois minha mãe adoeceu, ela queria ir embora para Portugal. Em 1922 fomos embora para Portugal onde permanecemos por quase três anos. Fomos para Portugal no navio Astúrias, da Mala Real Inglesa, levamos 14 dias de viagem Quando voltamos de Portugal ao Brasil foram 9 dias de viagem, no navio Neptuno. Voltamos para o Brasil em 1925, aonde meu pai era patrão ele foi ser empregado, na casa de móveis. Ficou uns três anos lá até juntar algumas economias, abriu outra vez uma casa de móveis. Em 1932 veio uma crise muito forte, não havia uma casa comercial aberta, ninguém tinha emprego. Nessa época meu pai tinha uma casa de móveis, contava com cinco funcionários. Teve que encerrar as atividades. Calhou que o meu pai vendeu para pessoas que não eram boas pagadoras. Papai perdeu tudo. Morávamos em uma casa onde pagávamos de aluguel oitocentos mil réis, que naquela época era muito dinheiro. Fomos morar em um quarto e cozinha meu pai, minha mãe, meu irmão e eu. Na época eu estava estudando. Meu pai chegou a pagar dívidas cortando cabelo pelo equivalente a um real hoje, e a barba a cinqüenta centavos.
O que a
senhora se lembra de 1932?
Lembro-me que morava em uma casa grande, no Brás, na Avenida Celso
Garcia, 56 em frente a Rua Joli, entre a Rua Bresser e a Rua Progresso, tinha o
cinema Brás Polyteama, do outro lado, do nosso lado era o Cine Universo. Era
quase na esquina da Rua Bresser. Estudei no Grupo Escolar Padre Anchieta, na
Avenida Celso Garcia. Minha primeira professora, ainda no Jardim de Infância,
chamava-se Dona Delfina, usava cachinhos nos cabelos. A professora do primeiro
ano foi Dona Luisa. A escola ficava próxima a Rua Santa Rita. Dali fui para a
Escola São João Evangelista. Até onde hoje é o Templo de Salomão é o Brás, a
seguir vem o Belém e mais adiante o Belenzinho. Mudamos para a Avenida Nove de
Julho aos quatorze anos tive que trabalhar para ajudar em casa e eu fui trabalhar
em uma casa na Alameda Lorena.
Vocês moravam
antes ou depois do túnel da Avenida Nove de Julho?
O túnel não existia, era um morro. Em cima havia uma casa de chá muito
bonita, onde hoje é o MASP – Museu de Arte de São Paulo. No sentido centro para
o bairro morávamos após o morro, nós íamos pela Rua Pamplona. Eu comecei a
trabalhar ajudando um casal que veio da Holanda, foram morar na Rua Iris, no
final da Avenida Brigadeiro Luiz Antonio e inicio da Avenida Santo Amaro. Tinha
uma igrejinha que se chamava Igreja Santa Terezinha. Os meus papeis de
casamento foram feitos na Igreja São Gabriel e na Imaculada. A Igreja São
Gabriel era bem pequena. A Igreja Santa Terezinha era na divisa da Avenida
Brigadeiro Luiz Antonio com Avenida Santo Amaro. Ela ainda existe, mas fica em
outra rua. Esse casal abriu uma fábrica de torradas holandesas, aqui chamam switchback. Naquele tempo jamais uma
moça entrava em um escritório para trabalhar, eram só homens. Meu pai abriu um
salão de babeiro, com um espelhinho que até a pouco tempo estava comigo, ficava
no Jardim Paulista, tinha uma casa de pedra, do Dr. Aché, nós fomos morar lá,
uma amiga nossa tinha uma casa com quarto e cozinha, o banheirinho como era
antigamente, lá no fundo do quintal. Meu pai abriu lá o seu salão de barbeiro,
ele tinha um amigo que disse-lhe: “- Zé Pedro, eu tenho um bar, é grande, vou
dividir com madeira de tal forma que cabe uma cadeira de barbeiro.” Meu pai
comprou uma cadeira usada, com aquele espelhinho, ali ele passou a trabalhar de
barbeiro. Eu empacotava as bolachas, o proprietário chamava-se Pete Fanel.
Faziamos torradas redondas e switchback. Nessa época nós estávamos
morando ainda na Avenida Nove de Julho, entre a Rua José Maria Lisboa e a
Alameda Lorena. Do lado da Lorena, após o morro a Nove de Julho chamava-se Rua
Salvador Pires. Do lado direito tinha uma chácara de flores, chamava-se Rose de
France. Do lado esquerdo já tinha casas bonitas, no estilo alemão, que ainda
existem na Rua José Maria Lisboa. Do outro lado havia muitas chácaras de
flores. As ruas eram todas em chão de terra. Nessa época o meu pai adquiriu uma
bicicleta, que mais tarde chegou a levar à Portugal. Ele saia dali de manhã, ia
até ponto final do bonde 45, no Jardim Paulista, lá ele tinha o salão de
barbeiro. Eu ia de bonde para trabalhar com os holandeses. Eles almoçavam e
faziam a comida em um fogãozinho chamado Jacarezinho. Ela me dava comida. Um
dia sai de lá e vim com meu pai, estava chovendo, meu pai tirou o paletó e colocou
nas minhas costas, para eu tomar o bonde. Eu subi, com o paletó dele no ombro,
quando o condutor, que equivale ao cobrador de ônibus hoje, disse ao meu pai: “
– O senhor não pode subir no bonde sem paletó!”. Meu ai explicou que tinha
colocado em meus ombros para me proteger da chuva e do frio. Em seguida ele foi
embora com sua bicicleta, para economizar quatrocentos réis, era duzentos réis
cada passagem. Logo em seguida faleceu o dono de um salão de barbeiro na Rua
Manoel Dutra, na Bela Vista, eram amigos dos meus pais. Meu tio, irmão do meu
pai, morava na Rua Manoel Dutra avisou o meu pai. Conclusão: Meu pai comprou o
salão de barbeiro. Trabalhou uma temporada. O falecido tinha um filho que era
barbeiro também. Um dia a viúva, Dona Rosinha avisou-nos que teríamos que mudar
porque o Rogério é barbeiro também. Meu pai falou com um senhor que era nosso
vizinho, um português, o Seu Magalhães que disse: “-Eu tenho esse salão que foi
um açougue, hoje esta alugado para uma leiteria, e é muito grande, eu faço uma
parede divisória e vocês ficam ai”. Era ao lado da nossa casa, números 112 e
114, isso na Rua Manoel Dutra esquina com Praça 14 Bis. Ficamos morando
bastante tempo ali. Meu pai tocava bandolim, meu irmão tocava violão, banjo,
todo tipo de instrumento de corda, ele ficava com o meu pai no salão e quando
não tinha freguesia meu pai tocava bandolim e ele tocava violão, conclusão:
ficava cheio de gente. Com isso meu pai ficou muito conhecido. Aquele salão
estava pequeno, mais acima, na Manoel Dutra, um armazém fechou, meu pai passou
para lá. Ai sim era um salão de barbeiro bom, bem arrumado. Quando sai da
fabrica de bolacha fui trabalhar na fábrica de toalhas de Vicente Define e
Pascoal Frascar. Nesse prédio na Rua Frei Caneca com a Rua Caio Prado trabalhei
em quatro empresas.
Já! Lembro-me do jogador de futebol “Ministrinho”, era do Palmeiras, nunca fizeram homenagens para ele. Era um rei do futebol, morava na esquina da Rua Pena Forte Mendes. O Ministrinho era sapateiro remendão, sua casa era em frente ao colégio de freiras onde meus filhos estudavam. Quando não tinha guarda para atravessar a criançada lá ia ele com aquele avental, ficava no meio da rua atravessando as crianças. Quando eles jogar em outros lugares ele que carregava o saco das bolas.
Na fábrica de tecidos quantos anos a senhora trabalhou?
Seus pais, os
dois portugueses, não é uma coincidência
muito grande virem a se conhecerem e casarem no Brasil ?
Foi! A minha tia Maria casada com Manoel João, irmã da minha mãe, veio
de Portugal para o Brasil antes do que a minha mãe. Abriram uma pensão nas
imediações de onde é a ROTA, na Avenida Tiradentes. Ali era o reduto dos
soldados. Após juntarem um dinheirinho, foram a Portugal para buscar uma irmã
para ajudar a trabalhar. Meus avós tiveram 10 filhos, minha mãe era uma das
mais novas. Trouxeram minha mãe para cá, ela tinha 20 anos. Ela preveniu a
minha mãe que iria trabalhar fora, e que era costume na época que a empregada
doméstica só ia em sua casa ver a família de 15 em 15 dias, geralmente no
domingo após o almoço. Ela foi trabalhar na casa da família Paula Souza. Lá ela
conheceu Washington Luís, a esposa dele era Dona Sofia. Ela trabalhava em uma
rua que mais tarde veio a se chamar Washington Luís. Naquela época em Portugal
havia o José do Telhado, equivalente português ao célebre italiano Gino Amleto
Meneghetti. Aqui tinha o Tenente Galinha, era um
homem de complexões físicas avantajadas, a polícia fazia de tudo para
prendê-lo, não conseguia. Nessa ocasião Washington Luís era ministro da justiça. Alguns tinham
rádio galena, inclusive meu pai, meu marido chegou a fazer rádio galena, mas já
havia rádio a venda em lojas. A noticia que o radio dava era que tinham prendido o Tenente Galinha. Um
deficiente físico, que tinha um caso amoroso com a mulher do Tenente Galinha o
matou, graças as indicações dadas por ela.
A senhora lembra-se da
revolução do liderada pelo General Isidoro Dias a
Revolução de 1924?
Lembro-me da musica: Quem fala que é
legalista/Legalista é uma banana/ Eu sou filha do Isidoro/ E sobrinha do Cabana
(Tenente João Cabanas). Víamos movimentos de tropas.
A senhora viu o Zeppelin quando ele esteve em São
Paulo?
Vi o Graf Zeppelin ele veio, ficou uns quinze minutos
parados. O dono da firma deixou que saíssemos da empresa e ver, era uma coisa
muito diferente, parecia de alumínio, o sol batendo nele. Antigamente os rapazes que não iam servir o exército
faziam a linha de tiro, meu pai tinha um empregado que aos sábados eles iam
fazer as instruções, praticavam, no Anhangabaú a noite, hoje um dos locais mais
movimentados da cidade. Faziam duas vezes por semana.
A senhora
viveu a Revolução de 1932 também?
Essa foi difícil pelo racionamento de alimentos.
Sabe como foi
feita a Avenida Nove de Julho?
Com enxadão! Naquela época é que o pessoal do norte começou a vir para
São Paulo. Tinha emprego a vontade. Eles trabalhavam dentro do túnel com água
pelo joelho. Na Praça 14 Bis tinha umas bocas de lobo altas. Tinha mais ou
menos uns vinte ou trinta burrinhos que puxavam aquelas caçambinhas,
carrocinhas, os burrinhos iam um encostado no outro, chegavam a Rua Manoel
Dutra, os burrinhos já sabiam, paravam, ali tinha uns rapazinhos que esvaziavam
a terra. Ai os burrinhos iam devagarinho até a boca do túnel. Lá tornavam a
encher as caçambinhas. Do lado onde é a fonte luminosa, a Escola Getulio
Vargas, o pessoal vindo do norte fez as casinhas em volta, barracos. Ali faziam as suas comidas, dormiam. O pouco
que eles ganhavam ainda mandavam para o norte. Eles recebiam as cartas de lá e
não sabiam ler, o meu pai era maravilhoso. Nessa ocasião papai era barbeiro no
começo da Manoel Dutra, eles levavam as cartas para o meu pai ler e escrever as
cartas para eles. Eles diziam: “Seu Zé é o nosso pai!”. Reclamavam que não
dormiam a noite, não traziam quase roupas, não dormiam porque os pés não
esquentavam. Meu pai dizia: “ Antes de dormir, vocês tomam um banho e colocam
os pés em uma água bem quente, embrulham os pés em uma folha de jornal, assim
vocês esquentam. Assim que fizeram o Túnel da Avenida Nove de Julho. Eu fui a
inauguração do túnel, até guardei uns tijolinhos de lá. A inauguração foi uma
grande festa, veio até pessoal do Rio de Janeiro.
A senhora
lembra-se do dia em que se casou?
No civil casei-me no dia 14 de fevereiro de 1952 e no dia 16 casei-me
na igreja. Meu pai me fez um casamento maravilhoso, com dois salões de festa..
Quantos
filhos vocês tiveram?
Dois, o Alberto e o José Antonio, nomes dos dois avós, do meu pai e do
meu sogro. Casei-me velha, tinha 32 anos. Fui na Tecelagem Santa Branca,
comprei sete ou oito metros de pano e mandei fazer o vestido. Depois com o pano
do vestido fiz uma colcha.
Meu marido e eu trabalhávamos na mesma empresa, os irmãos dele também
trabalhavam lá. Começamos a namorar e todo o mundo era contra porque eu era a
mais velha do que as demais. Como falam hoje, naquela época já tinha as
“periguetes”. Meu marido era mocinho, novinho, bonito, ele era ajudante de
contramestre e eu tecelã. Eu já ganhava mais do que ele. Esperei ele completar
25 anos dia 15 de janeiro, eu tinha 32 anos, senão ficava feio, com menos de 25
anos ele era muito jovem ainda. Meu desejo era casar com uma festa e um vestido
de noiva de cauda, tudo isso eu tive. Só uma coisa que eu tive e não esperava é
que casei-me no domingo de carnaval, acabamos de casar no dia seguinte
embarcamos para o Rio de Janeiro, minha cunhada morava lá, ficamos 18 dias no
Rio de Janeiro. Passei o carnaval. Fui ao Morro da Urca, Pão de Açúcar, Cristo
Redentor, Niterói. Deus me deu tudo que eu queria.
Navios: o Asturias de 1925

1925-1957
Porque Achiropita?
Como o título de Nossa Senhora Achiropita é tão diferente dos nomes
conhecidos atribuídos à Mãe de Jesus Cristo, devemos explicar muitas
vezes seu significado. Sempre o fazemos contando uma bonita história,
que pertence à tradição do povo italiano, vindo da Calábria para o
Brasil, no final do século XIX.
Eis a nossa história:
No ano de 580 um certo capitão Maurício enfrentou uma grande tempestade em alto mar. Gritava por socorro a Nossa Senhora e prometeu que, se fosse salvo com sua tripulação, construiria um santuário em sua homenagem. Desviado pelos ventos, por milagre, conseguiu salvar-se e, na aldeia em que atracou, encontrou um monge que lhe disse: “Não foram os ventos que o trouxeram para este lugar. Foi Maria, para que lhe construa um santuário, quando o senhor for eleito imperador”. A profecia cumpriu-se e o santuário foi construído em Rossano - Calabro.
Um artista da região iniciou uma pintura da imagem de Maria. Ocorria, no entanto, que tudo o que pintava durante o dia, desaparecia durante a noite. Assim, colocaram um vigilante para impedir a entrada de possíveis intrusos, que estivessem danificando a pintura.
Numa certa noite, uma formosa mulher, com uma criança no colo, pediu para entrar e rezar. Após insistir, obteve a permissão. Que mal poderia fazer aquela gentil senhora?
Passaram longos minutos e a mulher não saía da igreja. Quando o vigilante entrou, viu a imagem da mulher e do menino estampada no lugar da pintura. Por esta razão o vigilante saiu gritando pelas ruas: Nossa Senhora Achiropita! Nossa Senhora Achiropita! (A-kirós-pita - não pintada por mãos humanas).
Esta é a devoção Mariana que nossos irmãos italianos trouxeram para o Brasil e que nós veneramos como protetora e Mãe de nossa comunidade. Sua festa é celebrada no dia 15 de agosto, dia da Assunção de Nossa Senhora. No Brasil, só existe uma igreja dedicada a Nossa Senhora, com o título de Achiropita que se encontra em São Paulo no bairro da Bela Vista - Bixiga. Sua festa é a maior comemoração religiosa da cidade. Que a Mãe de Deus, Achiropita, nos proteja como filhos e cuide de nós com amor!
Eis a nossa história:
No ano de 580 um certo capitão Maurício enfrentou uma grande tempestade em alto mar. Gritava por socorro a Nossa Senhora e prometeu que, se fosse salvo com sua tripulação, construiria um santuário em sua homenagem. Desviado pelos ventos, por milagre, conseguiu salvar-se e, na aldeia em que atracou, encontrou um monge que lhe disse: “Não foram os ventos que o trouxeram para este lugar. Foi Maria, para que lhe construa um santuário, quando o senhor for eleito imperador”. A profecia cumpriu-se e o santuário foi construído em Rossano - Calabro.
Um artista da região iniciou uma pintura da imagem de Maria. Ocorria, no entanto, que tudo o que pintava durante o dia, desaparecia durante a noite. Assim, colocaram um vigilante para impedir a entrada de possíveis intrusos, que estivessem danificando a pintura.
Numa certa noite, uma formosa mulher, com uma criança no colo, pediu para entrar e rezar. Após insistir, obteve a permissão. Que mal poderia fazer aquela gentil senhora?
Passaram longos minutos e a mulher não saía da igreja. Quando o vigilante entrou, viu a imagem da mulher e do menino estampada no lugar da pintura. Por esta razão o vigilante saiu gritando pelas ruas: Nossa Senhora Achiropita! Nossa Senhora Achiropita! (A-kirós-pita - não pintada por mãos humanas).
Esta é a devoção Mariana que nossos irmãos italianos trouxeram para o Brasil e que nós veneramos como protetora e Mãe de nossa comunidade. Sua festa é celebrada no dia 15 de agosto, dia da Assunção de Nossa Senhora. No Brasil, só existe uma igreja dedicada a Nossa Senhora, com o título de Achiropita que se encontra em São Paulo no bairro da Bela Vista - Bixiga. Sua festa é a maior comemoração religiosa da cidade. Que a Mãe de Deus, Achiropita, nos proteja como filhos e cuide de nós com amor!
Navios: o Asturias de 1925
Em setembro de 1925, nas páginas do jornal A Tribuna de Santos/SP, surgiu um artigo não assinado, provavelmente inspirado em material de divulgação da própria armadora,
que transcrevemos parcialmente para dar ao leitor o feeling da época. O Asturias em 1932, passando defronte ao Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro O Asturias é, no gênero, a unidade mais eficiente que se conhece até hoje. A engenharia naval inglesa, incontestavelmente a mais apercebida e aparelhada no que concerne à sua especialidade, tem, na nova construção, um dos seus mais legítimos títulos de glória. O Asturias é a prova mais eloquente. Lancemos um rápido olhar sobre os detalhes mais importantes desse novo transatlântico de 22 mil toneladas de registro bruto. É o maior e mais possante navio a motor do mundo, sendo acionado por seis motores de duplo efeito, de oito cilindros a quatro tempos, motores que são os maiores a diesel até hoje construídos para navios. Estes motores desenvolvem mais de 20 mil cavalos-vapor, transmitidos a dois eixos. O Asturias, que está destinado à linha sul-americana, satisfaz todos os requisitos do Ministério do Comércio e da Legislação Naval da Espanha. As suas principais dimensões são: comprimento de 655 pés (200 metros), boca (largura) de 78 pés (24 metros), possuindo luxuosas instalações para 1.740 passageiros e tripulantes. O navio tem proa direita e popa de cruzador e conta 11 anteparas estanques, que o dividem em 12 compartimentos. O casco duplo é contínuo de proa a popa, podendo ser lastreado com água doce ou salgada. Com essa magnífica unidade, fica a Mala Real Inglesa enriquecida de mais um transatlântico, que a coloca perfeitamente em harmonia com o espantoso desenvolvimento que vão alcançando os países da América do Sul." O transatlântico inglês Asturias atracado em Santos, no cais do Armazém 16 (Bagagem), nos anos 1920/30 26 de fevereiro de 1926 - Capitaneado pelo comodoro E. W. E. Morrison, o transatlântico zarpa de Southampton com destino ao Brasil e ao Prata. Nesta viagem inaugural já se denotam dois grandes problemas que perseguiriam o Asturias até 1934: baixa velocidade e alta vibração da estrutura, fazendo sofrer os passageiros pela trepidação e pelo excessivo rumor. Janeiro de 1927 - Primeira viagem entre Southampton e Nova Iorque, rota que serviria ocasionalmente. Em 1934, a Royal Mail Lines decide trocar os motores, seja do Asturias, seja do seu quase gêmeo, o Alcantara, com a finalidade de lhes dar mais potência e velocidade. Foram necessários quatro meses de estaleiro para se proceder a mudança no Asturias, pois toda a casa de máquinas teve de ser remodelada para permitir a instalação dos novos motores, maiores em dimensão do que os originais. Aproveitou-se para substituir os hélices originais a quatro pás por outros de três pás, a proa foi encompridada três metros e seu desenho ligeiramente modificado. Outra alteração importante consistiu em aumentar a altura das duas chaminés originais em cinco metros cada uma. Em setembro de 1934, o Asturias ficou pronto, realizando novas provas de mar, quando alcançou velocidades superiores a 19 nós. Com as modificações internas efetuadas, a nova capacidade do transatlântico passou a ser de 330 passageiros em primeira classe, 220 em segunda e 768 em terceira. Aprovada a reforma pelos engenheiros navais, o Asturias foi, em seguida, enviado para realizar um longo cruzeiro, de vários meses de duração, saindo de Southampton para o Mediterrâneo, Canal de Suez, Extremo Oriente, Pacífico Sul, Estreito de Magalhães e retorno à Inglaterra via Atlântico Sul. O período entre 1935 e 1939 constituiu o ápice da qualidade de serviço dos dois grandes transatlânticos na Rota de Ouro e Prata. A cada uma de suas viagens, seja no sentido Norte ou no sentido Sul, os lugares a bordo eram reservados com, ao menos, dois meses de antecedência. O Asturias navegando na costa brasileira, em cartão postal da época, vendo-se as duas chaminés O Astúrias prestou, inicialmente, serviço em patrulhas no Atlântico Norte nas águas próximas à costa ocidental da Grã-Bretanha, sendo deslocado para o Atlântico Sul, após o encontro naval entre o corsário alemão Thor e o Alcantara, acontecido em julho de 1940. Após permanecer oito meses nesse teatro de guerra, o Asturias foi recolhido ao estaleiro da US Navy (Marinha dos Estados Unidos) em Newport News (EUA), para ser submetido a mais uma reforma. Novos canhões foram instalados no lugar dos antigos e o navio recebeu uma catapulta e um avião de reconhecimento. O Asturias no cais do armazém 16 do porto de Santos Foto: J.C. Rossini Terminado o conflito, o Asturias foi rebocado, inicialmente até Gibraltar, onde pôde ser feito trabalho provisório de consertos de maior urgência. Em seguida, levado para a Inglaterra, foi reformado inteiramente e reconvertido em navio de passageiros para o transporte de emigrantes. Nessa função, realizou viagens entre a Grã-Bretanha e a Austrália até 1953, ano em que foi novamente transformado em navio-transporte de tropas, repatriando soldados que haviam participado da Guerra da Coréia. Sua longa carreira de 32 anos chegou ao fim em setembro de 1957, quando foi demolido no Porto de Faslane (Inglaterra). O Asturias no Estuário de Santos, em pintura do inglês Kenneth Denton Shoesmith (1890-1939 "Asturias - Este cartão-postal mostra o navio inglês Asturias, em frente à costa do Rio de Janeiro. O cartão é um original da Royal Mail Steam Packet Company, editado com base em pintura do artista Bernard R. Lachevre e publicado pelos editores Raphael Tuck & Sons. O navio, de 22.071 toneladas e 192,16 metros de comprimento, transportava 408 passageiros em primeira classe, 200 em segunda e 674 em terceira (imigrantes). Fazia a linha entre Southampton e Buenos Aires desde fevereiro de 1926. Foi lançado ao mar, em 7 de julho de 1925, nos estaleiros de Harland & Wolff, de Belfast, Irlanda. Foi o segundo navio da armadora em esse nome; o primeiro era de 1908. Este era gêmeo do Alcantara II. No início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, serviu como navio de transporte de tropas inglesas. Em julho de 1943 foi torpedeado pelo submarino italiano Gagni, na costa da África do Sul. Ficou abandonado por algum tempo e em 1947 voltou a ser navio de transporte de tropas, até que em 1949 passou a conduzir imigrantes para a Austrália. Foi demolido em 1957".
Imagem: Acervo José Carlos Silvares/fotoblogue Navios do Silvares (acesso:
13/3/2006)
|
Outros nomes: nenhum Bandeira: britânica Armador: Royal Mail Steampship Lines País construtor: Inglaterra Estaleiro construtor: Harland & Wolff (porto: Belfast) Ano da viagem inaugural: 1925 Tonelagem de registro bruto: 22.000 Comprimento: 200 m Boca (largura): 24 m Chaminés:2 Mastros: 2 Passageiros: 1740 MACEDO DE CAVALEIROS - PORTUGAL O bom gatunoMeneghetti se transformou numa lenda em São Paulo por praticar roubos e sempre conseguir escapar.
Os jornais paulistanos do dia 14 de junho de 1970 traziam uma notícia
pequena, mas que surpreendeu muita gente: no dia anterior, Gino Amleto
Meneghetti fora preso tentando entrar numa casa da Rua Fradique Coutinho
909, na Vila Madalena. Levava nas mãos uma lanterna, uma talhadeira e
um pé de cabra, ferramentas típicas de arrombadores de portas e janelas.
Tudo isso seria muito comum se o homem que fora detido não tivesse 92
anos de idade! Liberado por falta de provas, Meneghetti sustentou, com
histórias como essa, seu status de figura mitológica da história de São
Paulo.
Gato dos Telhados, Ladrão Nobre, Bom Ladrão, Grande Ladrão, Homem Gato e
Homem de Borracha foram algumas das alcunhas que ele ganhou da
imprensa, por sua habilidade de andar sobre as casas, de entrar nelas
pelos telhados e roubar ricos – sempre sem usar a violência –, e de
fugir espetacularmente dos presídios. Foram dezessete escapadas desde a
infância, passada em Pisa, na Itália, onde a pobreza o levou a cometer
os primeiros furtos.
Nascido em 1878 – segundo ele mesmo; para alguns biógrafos, seu
nascimento se deu em 1888 –, Gino chegou homem feito à capital paulista,
depois de desembarcar em Santos no ano de 1913. Já tinha um histórico
de roubos, prisões e fugas na Itália e na França, e veio para o Brasil
porque era, segundo contava, um homem marcado na sua terra. Histórias de
sucesso de uma tia e de outros italianos que viviam em São Paulo o
atraíram e o incentivaram a buscar o sustento na cidade de maneira
honesta. Mas sua vida boêmia atrapalhava tudo. O dinheiro que Meneghetti
ganhava na fábrica de chocolates Falchi era pouco para seus hábitos de
frequentador da noite e apreciador do vinho chianti.
Por isso, Gino largou o emprego e foi morar numa pensão, onde encontrou
o amor de sua vida, Concetta Tovani, e conterrâneos que o reconduziram
aos roubos. Passou a vender revólveres repassados por eles, que diziam
ser contrabandistas de armas. Armas que, na verdade, eram roubadas.
Meneghetti caiu numa armadilha policial, e em março de 1914 foi preso
pela primeira vez em território brasileiro, e condenado a oito anos de
prisão.
Na cadeia, junto com outros presos, tentou cavar um túnel, mas um
detento delatou o plano e o acusou de ser o mentor da ideia. Por isso, o
italiano foi colocado nu em um poço, fechado por cima com uma grade.
Foi aí que começou sua fama: numa noite fria do mês de julho de 1915,
ele escalou o poço com um pé em cada parede e conseguiu arrancar uma das
barras de ferro, mas o espaço aberto era pequeno. Mesmo assim, ele
atravessou o vão apertado, deixando pedaços de pele nas barras, fugiu
pelo telhado e desceu perto do Jardim da Luz. Era uma hora da manhã. Nu,
no meio da garoa paulistana, conseguiu despistar um guarda e seguiu
rumo à casa da tia para obter roupas.
Os jornais fizeram grande estardalhaço, e ele passou a ser um homem
procurado. Abusado, voltou a praticar furtos e deixava recados nas casas
roubadas. Como no palacete da baronesa de Arary, onde ele a alertou
para que escolhesse melhor seu fornecedor, pois suas joias eram quase
todas falsas. Também escrevia com frequência cartas para os jornais
gozando a polícia. Atitudes como essas o tornaram um mito, uma espécie
de Robin Hood de São Paulo. No entanto, embora ajudasse os pobres –
segundo algumas lendas, ele comprava alimentos para pessoas humildes que
chegavam aos armazéns sem dinheiro suficiente –, não praticava seus
furtos com essa finalidade.
Mas havia um outro motivo para a sua fama: ele nunca praticava qualquer
ato de violência. “Jamais roubei um pobre. Só me interessa tirar dos
ricos, e tirar joias, que são bens supérfluos que só servem para
alimentar a vaidade”, dizia, coerente com seus ideais anarquistas.
Quando criança,na Itália, Meneghetti já se sentia injustiçado por ser
muito pobre, enquanto havia ali perto pessoas muito ricas, que
desperdiçavam comida. Ele foi criando uma “consciência de classe” desde
essa época. Leu muito, estudou. Já chegou ao Brasil adepto do
anarquismo.
Seus furtos ocorreram em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, em toda a
Região Sul e até no Uruguai. Foi preso em vários estados, mas sempre
conseguia fugir e voltar para São Paulo. Relatos fantasiosos diziam que
ele usava molas nos pés para poder escapar da polícia saltando da rua
para os telhados quando ficava acuado. Seu heroísmo era reforçado porque
ele fazia com a polícia o que os pobres, constantemente perseguidos e
discriminados, gostariam de fazer.
Cansada, em 1926 a polícia armou um cerco em torno da casa na Rua dos
Gusmões, no Centro da cidade, onde moravam sua mulher e seus filhos.
Meneghetti sabia da armadilha, mas uma noite, um tanto alcoolizado,
resolveu procurar a família. Acabou encurralado e, como sempre, subiu no
telhado atrás de uma rota de fuga. Mas todo o quarteirão estava
cercado. “Havia mais policiais do que paralelepípedos”, disse ele
posteriormente. Informada, a população correu em massa para lá. Cerca de
50 mil pessoas, segundo os jornais, esperavam para ver como Meneghetti
conseguiria fugir. Numa das várias tentativas de alvejá-lo, o delegado
Waldemar Dória acabou sendo atingido por uma bala e morreu. O ladrão foi
acusado do crime, coisa que negou até o fim da vida. Mais tarde ficou
provado que ele tinha razão, pois foram tiros de calibre 38 que
acertaram Dória nas costas – Gino portava um revólver 32. Algum desafeto
do delegado o matou, aproveitando a ocasião.
Às 11h15 da manhã, Meneghetti finalmente se entregou. O fascínio
daqueles que o viam como um herói bandido popular subitamente se
transformou em ódio, enquanto a população o vaiava e fazia ameaças.
Muito torturado, Gino foi posto numa cela da “Bastilha do Cambuci”, um
presídio de péssima fama, para onde eram enviados os inimigos do
regime.Mesmo assim, sozinho numa cela, era vigiado 24 horas por dia.
Ficou trancafiado até que fosse construída, especialmente para ele, uma
cela blindada. Sua agonia era tanta que havia momentos em que ele
gritava repetidamente “Io sono um uomo” (eu sou um homem), para reclamar
do tratamento desumano ao qual vinha sendo submetido. Mas sempre que o
ladrão começava a protestar, um policial se aproximava do cárcere,
cuspia e jogava fezes em sua direção, antes de submetê-lo a mais uma
sessão de tortura.
Com medo de ser envenenado, Meneghetti “lavava a comida” que recebia.
Certa vez, contou ao jornalista Orlando Criscuolo (1917-1992)que, quando
um rato entrava em sua cela pelo buraco do esgoto, ele o deixava comer
um pouco de sua comida, tampava o buraco e esperava para ver se o roedor
não morria. Só depois é que Gino se alimentava. Quem morreu de infarto
nessa época foi Concetta, que deixou os filhos Lenine e Espártaco –
nomes que homenageavam o revolucionário russo de 1917 e o líder de uma
revolta de escravos na Roma antiga – com parentes. Libertado 18 anos
depois, em 1944, ele encontrou uma cidade diferente, cheia de
arranha-céus e inviável para um gato dos telhados. Mesmo assim, o mito
persistia; prova disso foi a multidão que o esperava na saída da cadeia.
Para que pudesse viver “honestamente”, Meneghetti foi trabalhar em uma
banca de jornal, mas não abandonou o hábito de roubar. Acabou sendo
preso várias outras vezes, até 1970.
Numa das suas saídas da cadeia, na década de 1950, ele foi morar uns
dias na casa de Criscuolo, que se tornara seu amigo. A mulher do
jornalista, Iracema, ciente da fama do ladrão, ficou com medo. Mas o
homem que recebeu em casa era um sujeito simpático, cortês, culto, que
gostava de contar histórias para crianças. Por conta desse perfil, sua
fama chegou a outros países. Quando o escritor e filósofo Albert Camus
(1913-1960) esteve em São Paulo em 1949, ele fez questão de incluir em
seu roteiro uma visita ao ladrão, que passava uma temporada encarcerado.
Na despedida, o autor francês perguntou se podia fazer alguma coisa por
ele. Meneghetti respondeu: “Sim, me dê um cigarro”.
O ladrão, que adotou vários nomes falsos e declamava versos do poeta
italiano Dante Alighieri (1265-1321), passou seus últimos anos pobre,
dependendo dos filhos, até morrer de trombose em 1976, aos 98 anos.
Entre uma prisão e outra, Gino chegou a acumular fortunas, mas cada
centavo que obteve foi confiscado pela polícia. Até hoje, Meneghetti é
visto pelos paulistas como um exemplo do “bom ladrão”: amado pelos
pobres e temido pelos ricos. Anarquista, admirador da Revolução Russa,
respeitador das mulheres e das crianças, venerado e odiado – e nem por
isso vingativo –, ele dizia: “Só não fiz em São Paulo o que eu não
quis”. E, ao contrário de muitos homens supostamente honestos, tinha a
sua ética: “Sempre detestei homens que malbaratam o dinheiro público”.
Mouzar Benedito é jornalista e autor do livro Meneghetti, o gato dos telhados (Boitempo Editora, 2010).
MENEGHETTI, O GATO DOS TELHADOS
Mouzar Benedito resgata a história de
Gino Meneghetti, o anti-herói italiano que ganhou notoriedade por seus
roubos e fugas espetaculares em São Paulo
“Minha primeira visão do mundo foi a cidade de Pisa, com sua torre
inclinada. Tal como a torre, também o meu destino estaria sempre
inclinado, cai-não-cai”. A frase de Gino Amleto Meneghetti já indica a
trajetória incomum desta personagem da vida real. A história do larápio
que fez fama na Pauliceia de meados do século XX será retomada na obra Meneghetti: o gato dos telhados, de Mouzar Benedito, que será lançada na próxima quinta-feira, dia 28.Gino Meneghetti chegou em São Paulo pela onda de migração dos muitos italianos que vieram ao Brasil em busca de trabalho. Mas logo ficou claro que sua trajetória teria pouco de comum com a de maior parte de seus conterrâneos. Com uma linguagem irreverente, o jornalista Mouzar Benedito resgata a lendária “carreira” de Meneghetti, que foi avidamente acompanhada pela sociedade da época e gerou muitas histórias transmitidas até hoje na capital. Conhecido por roubar somente dos ricos e por sua politização contestadora, Meneghetti fez sua fama por empreender assaltos, fugas da polícia, por suas passagens pela prisão e por protagonizar muitos “causos” na cidade. A pesquisa biográfica de Marcel Gomes e Antonio Biondi complementa o retrato de um dos maiores larápios que São Paulo já conheceu. A obra traz ainda a história em quadrinhos, criada em 1976 por Luiz Gê para o jornal Versus, que inspirou o curta metragem de Beto Brant sobre a história do italiano. Na próxima quinta-feira, a Livraria da Vila recebe o autor, os pesquisadores e o cartunista para uma noite de autógrafos entre 19h e 22h. O lançamento será realizado na unidade da livraria localizada justamente em uma das casas que foi alvo do larápio no século passado – na Rua Fradique Coutinho, nº 915 (São Paulo). |
ALICE DAS DORES DIAS CARMO ( CONTINUAÇÃO DA ENTREVISTA)
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 19 de dezembro de 2015.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 19 de dezembro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: ALICE DAS DORES DIAS CARMO
ENTREVISTADA: ALICE DAS DORES DIAS CARMO
(
CONTINUAÇÃO DA ENTREVISTA)
Alice das Dores Dias Carmo nasceu
a 19 de
julho de 1918, tem 97 anos neste ano de 2015. Memória e disposição privilegiada
a faz depositaria de parte da história recente. Continuando a narrar fatos da
sua vida, transcritos no sábado passado, Da. Alice brinda os leitores com
preciosas lembranças, aos que conheceram locais e fatos uma doce lembrança, aos
que agora tomam conhecimento um enriquecimento cultural.
De que região de Portugal era a
mãe da senhora?
Era de Macedo de Cavaleiros e o meu
pai era de Bagueixe. Lá
são denominadas aldeias o que no Brasil denominamos de bairros. Quando minha
mãe chegou ao Brasil os bondes eram puxados por burros. Logo depois foram
colocados os bondes elétricos. O bonde levava 22 minutos para fazer o trajeto.
Saia do Largo do Correio. O ponto final era na Rua Formosa. O bonde dava a
volta na Avenida São João, passava na porta do Correio, atravessava a Praça da
Bandeira, subia a Rua Santo Antonio até a Rua Major Diogo, entrava a esquerda,
na próxima rua entrava a direita na Rua São Domingos, na primeira a esquerda
era a Rua Conselheiro Ramalho, ia até a esquina da Rua Brigadeiro Luiz Antonio.
Lá ele subia dois quarteirões até a Rua Santa Madalena, vinha pela Rua Rui
Barbosa, Rua Manoel Dutra, atravessava a Conselheiro Ramalho, entrava a
esquerda na Rua Major Diogo, pegava a Rua Santo Antonio e já ia para a cidade
outra vez. Às vezes a gente vinha dormindo, dependendo de onde estávamos já
sabíamos que rua vinha a seguir. Havia
cinco bondes na Bela Vista. Era tão rápido esse percurso que quando um bonde
vinha pela Rua Conselheiro Ramalho, esquina com a Rua Manoel Dutra, o condutor
dava sinal para o motorneiro parar o bonde antes de chegar ao próximo ponto
porque senão não dava tempo de cobrar. Alguns homens iam do outro lado do bonde
para não pagar!
A senhora tem vontade de voltar
para Portugal?
Para passear sim. A casa da minha
avó permanece como era antes. Lá as casas são feitas com cantaria, que aqui
chamaríamos de pedra.
A senhora estudou no período em
que morou em Portugal?
Estudei pouco, eu sempre gostei
de ler, ler muito. Eu queria ir para a escola, mas não podia. Meu pai fez um
banquinho com três pezinhos chamado tripeça. Fiz amizade com a professora Dona
Elisa, eu pegava o meu banquinho embaixo do braço e ia junto com ela. Como não
havia carteira escolar sobrando, ela colocava perto da escrivaninha dela. Eu
ficava ali com ela. Eu tenho uma colcha de linho que me foi dada pela minha
avó. Ela plantou o linho, é uma planta semelhante ao arroz, ela colheu o linho,
dá muito trabalho, tem que lavar, esfregar, até que a minha avó fez um fio,
usavam uma varinha, na cintura as mulheres usavam como se fosse um saquinho,
para dar firmeza à varinha. O linho passa por um processo que fica semelhante a
um algodão. Colocava-se um tubinho de fios e movimentava-se de um lado para
outro. Aqui, tive uma irmã que com os pés mexia aquele tear. A roupa da casa da
minha avó era toda feita em casa. A roupa dos homens, por dentro a capa era
forrada com lã de carneiro. Minha mãe aos quarenta anos foi aprender a bordar a
máquina. Antigamente vinha para o Brasil muita coisa da Argentina, dentro dos
pneus de caminhões, os motoristas traziam e vendiam.
A senhora costura até hoje?
Costuro para mim!
A senhora usa máquina de costura?
Costuro a máquina.
E para colocar a linha na agulha
da máquina a senhora aos 97 anos tem alguma dificuldade?
O meu médico Dr. Chakur fez essa
mesma pergunta disse-lhe: “-Chamo os bombeiros!”. Às vezes peço ao meu filho,
outras vezes pego algo branquinho, um pano ou papel, coloco ao fundo e com a
claridade dá para ver perfeitamente o orifício da agulha por onde deve entrar a
linha.
A senhora é bem saudável.
Sou! Aos 92 anos eu fiz duas pontes e
safena. Alimento-me bem, como de tudo, não sou de comer prato de trabalhador
braçal, não tenho diabetes. De manhã levanto, como um pãozinho com manteiga ou uma
fatia de queijo. Uma xícara de café com leite. Não repito. Entre o café da
manhã e o almoço eu como uma fruta. Hoje comi duas ameixas vermelhas depois que
almocei. Só duas coisas que não gosto: carne seca e dobradinha. Ao termino da
refeição como uma fruta, uma fatia de mamão. Eu acho falta de doce e como doce,
como uma fatia pequena, pode ser uma fatia de bolo.
A senhora cozinha?
Cozinho! Anteontem fiz bolo e
patê de sardinha. Nunca bebi nem fumei. Meu marido fumava meus filhos também
passaram a fumar. Em Portugal, todo o mundo tomava vinho tinto, sem que alguém
se embriagasse. Lembro-me que na terra da minha mãe, Macedo de Cavaleiros, o
que dava era castanha, noz, avelãs. O forte era a castanha.
A senhora acompanhava os
movimentos musicais da época?
Tinha uma revista chamada
“Carioca” que falava tudo sobre os músicos, as três irmãs: Linda, Dircinha e
Odete Batista, sendo que eram estrelas consagradas, e as irmãs Linda e Dircinha
faleceram vivendo muito tempo um quadro de extrema penúria. A Linda Batista
tinha uma relação de amizade muito forte com Getulio Vargas assim como a vedete
Virginia Lane.
A senhora lembra-se da época de
Getúlio Vargas?
Lembro-me sim, do que passamos na
época da Revolução de 1932. Não havia pão, o pão que comíamos era misturado com
farinha de mandioca. Ia a meia-noite para a fila da padaria para pegar um
pãozinho. Quando fomos à Portugal o reumatismo manifestou-se em minha mãe, no
final do ano em Portugal é muito frio. Dezembro e janeiro eram os mêses em que
comiam castanhas. Na casa da minha avó abatiam-se três porcos por ano, eles
eram alimentados com castanhas. Primeiro dá a castanha crua, com casca e tudo.
Com o passar do tempo eles ficavam enjoados, então se tirava a casca e
cozinhava a castanha para dar aos porcos. A carne do porco é muito diferente da
que temos aqui no nosso interior onde os porcos geralmente são alimentados
inclusive com restos de comida. Na casa da minha avó tinha muitas castanheiras,
uma árvore grande, forte, para colher apanha-se da árvore o ouriço, com uma
luva, dentro tem duas a três castanhas. Um desses castanheiros caiu pero da
casa da minha avó, todos os dias ela regava aquilo lá, dali é que saiam seis ou
sete tipos de cogumelos.
E o bacalhau?
O bacalhau é mais encontrado nas
cidades. O bacalhau do Porto é tradicional. Quem nasce no Porto chamam-se
tripeiros. E quem nasce em Lisboa é conhecido como alfacinha. Porto é do mesmo
tipo de São Paulo, trabalhadores, só pensam em trabalhar. E Lisboa é como o Rio
de Janeiro, mais o movimento de turistas. Tenho uma prima que ainda tem uma
casa em Macedo de Cavaleiros, terra da minha mãe, nos chamamos de “Casa das
Avós”, todas as avós saíram dali. Os netos são criados ali. Reúnem-se lá. Esses
dias ela me ligou dizendo que tinha adquirido um apartamento no Porto, no
bairro chamado Gandra, isto porque no Porto não faz tanto frio como na aldeia. Popularmente, os tamancos têm as
designações de socos. Lembro-me de meu pai ter comprado os socos (tamancos),
brincarmos com as bolas de neve.
São Paulo teve bondes abertos e fechados, estes pintados de
vermelho, que valeu o apelido dado pelo povo de “camarão”. A senhora lembra-se
deles?
Lembro-me do bonde aberto. Pagava-se 200 réis! O “Cara Dura”
era um tostão, era o bonde dos verdureiros, que tinham grandes hortas na Zona
Leste, colocavam as verduras em sacos e vinham lá do fim da Zona Leste até a
Penha, ali embarcavam no “Cara Dura” que era um bonde que só carregava
verdureiros. Isso me faz lembrar de que os meninos gostavam de andar no “Cara
Dura” para economizar. Quando fomos para Portugal não viajamos de primeira
classe, mas tomávamos as refeições na primeira classe. Isso porque meu pai era
barbeiro, andava com a malinha com as ferramentas necessárias ao ofício, ele
subia ao primeiro andar, fazia a barba da tripulação, não cobrava nada. Na
volta trazia a comida da primeira classe. Nós estávamos no convés do navio, os
moleques lá embaixo, nadando, pedindo dinheiro, frutas. Isso eu vi fazerem,
mostravam moedas para eles, iam do outro lado do navio e jogavam as moedas, os
moleques iam por baixo do navio e iam pegar a moeda. A moeda demorava em
afundar. Mergulhavam e passavam debaixo do casco do navio. Lembro-me de um dia
em que veio um temporal muito forte, nós não tínhamos cabine. Antes de
viajarmos, meu pai fez duas cadeiras espreguiçadeiras, dessas de praia, muita
gente fazia isso, levamos no convés, meu pai e minha mãe iam deitados naquelas
cadeiras. O navio mesmo emprestava cobertor para se cobrirem. No dia desse
temporal mandaram todo o mundo que estava no convés deitar no chão. A água do
mar entrava de um lado do navio e passava para o outro lado. Lembro-me muito
bem da força que tem a água em alto mar. Atualmente existem muitos produtos
para limpar o chão, na época só tinha a creolina. Um marinheiro jogava a
creolina e esfregava, outro jogava a água. Caia em uma canaleta que jogava fora
do navio.
A senhora lembra-se de algum fato muito marcante com algum
passageiro?
Faleceu uma senhora, viajante,
nossa amiga. Hoje há meios de conservar o corpo até a primeira cidade onde
possa desembarcar, mas naquela época não havia meios apropriados para a
conservação do corpo, eles fabricavam um caixão, de tal forma que entrasse
água, na descida do caixão o navio quase parou, desceram com corda,
devagarinho, até chegar à água. Colocavam materiais que fizesse o caixão ficar
pesado, quando chegou à linha da água o navio apitou. O caixão afundou com o corpo
da nossa amiga.
Havia certo conforto no navio?
A primeira vez em que vi um
beliche foi no navio.
A senhora lembra-se de letras de
músicas famosas?
Lembro-me da letra da musica “A
Mulher Que Ficou Na Taça” com Francisco Alves, composição dele e de Orestes
Barbosa: Fugindo da nostalgia/Vou procurar alegria/Na ilusão dos cabarés/Sinto beijos no meu rosto/E bebo por meu desgosto/Relembrando o que
tu és/E quando bebendo espio/Uma taça que esvazio/Vejo uma visão
qualquer/Não distingo bem o vulto/Mas deve ser do meu culto/O vulto dessa
mulher.../Quanto mais ponho bebida/Mais a sombra colorida/Aparece ao meu olhar/Aumentando o
sofrimento
No cristal em que, sedento/Quero a paixão sufocar/E no anseio da desgraça/Encho mais a minha taça/Para afogar a visão/Quanto mais bebida eu ponho/Mais cresce a mulher no
No cristal em que, sedento/Quero a paixão sufocar/E no anseio da desgraça/Encho mais a minha taça/Para afogar a visão/Quanto mais bebida eu ponho/Mais cresce a mulher no
sonho/Na taça, e no coração.
Como é bonita essa música, outro dia estava me lembrando. A
melodia era linda, a letra. A gente acha que antigamente as letras tinham nexo.
Gostava muito das musicas do Carlos Galhardo, musica que foi tocada quando
casei. Onde hoje é chamada de Praça da Bandeira era chamado de Largo do Piques,
ali enchia de água que era uma beleza!
Não existia ainda o túnel popularmente chamado de “Buraco do
Adhemar”?
Isso veio depois de muitos anos. Na Avenida São João havia os corsos no carnaval. Como era bonito! A força do corso era na Avenida Celso Garcia, onde nós morávamos.
Isso veio depois de muitos anos. Na Avenida São João havia os corsos no carnaval. Como era bonito! A força do corso era na Avenida Celso Garcia, onde nós morávamos.
Os carros enchiam tanto as rodas
de serpentina que eles encostavam-se a uma travessa qualquer, para tirar, já
tinha gente com sacos para pegar e vender o papel para reciclagem. Os carros
eram quase todos de capota abaixada, o pessoal ia sentado na capota,
iluminavam, era bonito! Meu pai tinha casa de móveis na Avenida Celso Garcia,
aquele pessoal que morava nas ruas transversais onde não havia o corso ia até a
minha casa, onde meu pai colocava uma tábua encostada na parede, para os amigos
sentarem ali e ficarem assistindo o carnaval.
A família mudou-se para a Bela
Vista?
Nós morávamos ao lado da Vila
Pirani, próximo ao Pastifício João Caruso. Nós morávamos na Rua Rocha, eu
estava no terraço costurando, três pontos de ônibus adiante já era a Praça da
Bandeira. A cada pouco voava um papel meio queimado. Estranhei aquilo. A cada
cinco minutos escutava a sirene de uma ambulância. Ali era a passagem das
ambulâncias para a Rua Itapeva, Rua Pamplona. Fui até o quintal e vi o vento
trazendo muito papel queimado. Fui até a frente de casa, a molecada toda
correndo, fomos até a Avenida Nove de Julho. Ali dava aflição! Eu vi aquele
pessoal lá em cima, no Edifício Joelma, nós embaixo gritávamos: Não! Não! Que
não se jogassem. Eles se jogavam sim. Helicópteros pousavam em cima da Câmara
Municipal de São Paulo, resgatavam a s pessoas e levavam para os hospitais.
Um parente da senhora destacou-se
pela força física?
Meu avô, pai da minha mãe,
levantava um sino de 25 arrobas, cada arroba tem 15 quilos, isso em Portugal.
Na localidade já tinham feito uma igreja, iam colocar o sino, lá havia feiras
uma vez por mês, e o sino exposto. Todos admirando –o. Meu avô suspendeu o sino
por três vezes. Quando ele vinha do campo com o carro de boi carregando lenha
ou mantimento, se por acaso entrasse uma roda em um buraco qualquer, ele com o
ombro levantava o carro. Minha mãe mesmo era grandona, não eram gordos, mas
eram fortes. Tanto que quando minha mãe casou o padre deu a aliança para minha
mãe colocar no dedo do meu pai. Ele disse ao padre: “- Essa aliança não é
minha, a minha é a pequena!”. Quando voltamos à Portugal levamos um gramofone.
A senhora lembra-se da Gazeta?
A senhora lembra-se da Gazeta?
Inicialmente
ela ficava próxima a Rua Brigadeiro Tobias, depois que ela foi para a Avenida
Paulista, ali ela tinha uma sirene que ao meio dia tocava, todos sabiam que
horas eram. Nessa época eu morava na Rua Rocha. Quando mudamos a Rua Rocha era
barro. Pegado onde era o Edifício Joelma, na Rua Santo Antonio, teve um crime
pavoroso. Um dentista assassinou duas irmãs, a mãe e depois pôs fim a própria
vida. Eu tinha uma amiga que trabalhava na Praça Patriarca na loja “A Exposição”,
após o crime ter ocorrido, foi em uma manicure que passou a funcionar na casa.
Ela disse-me: “– Alice, eu estava esperando para ser atendida, lembrei-me do
crime que havia ocorrido ali, levantei-me e fui embora”. Lembro-me que na
esquina da Avenida São João, em frente ao correio, havia um sinaleiro, ali
ficava um guarda debaixo daquele sol de arrebentar, a cada duas horas era
substituído, com uma manivela movimentavam o semáforo, dirigindo o trânsito.
Em
1954 foi comemorado o Quarto Centenário de São Paulo, a senhora lembra-se?
Foi uma festa linda! A famosa chuva de
prata! (Ao cair da noite do dia 10 de julho de
1954, ocorreu a tão comentada “chuva de prata”, A idéia era jogar triângulos
prateados ao povo.) Vieram os fuzileiros navais do Rio de Janeiro, tocando e
cantando, nós ficávamos na boca do túnel da Avenida Nove de Julho assistindo.
Era muito bonito. Eu gostava de ver as apresentações de fanfarras em 7 de
setembro no Vale do Anhangabaú. Lembro-me que meu pai me levava para ver a
chegada de navios em Santos. Quando chegou o navio português “Santa Maria”, ele vinha vindo a
noite, parecia uma cidade! Era lindo! Conheci o navio português “Serpa Pinto”.
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