PROGRAMA
PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 22 de dezembro de 2018.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 22 de dezembro de 2018.
Entrevista:
Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: VICTOR FERREIRA VITOLO (CONTINUAÇÃO)
Victor Ferreira Vitolo
nasceu a 1 de dezembro de 1930, na cidade de Olímpia, é filho de Alberto Vitolo
e Maria Francisca Vitolo. Do alto dos seus 88 anos, pode ser encontrado pela
manhã, em sua caminhada matinal, com passos firmes, raciocínio rápido, descontraído,
carrega consigo a experiência de muitas dificuldades vencidas, graças a um
objetivo estabelecido e perseguido com incessante persistência. Casado em
segundas núpcias com a Dra. Claudete Restani.
A narrativa da sua trajetória envolve décadas, fatos como a perda dos
pais precocemente, já com 12 anos iniciou sua vida como auxiliar de cartório.
Um faz-de-tudo. Fora das vistas do patrão, aprendeu e praticou datilografia. A
máquina de escrever Remington era quase uma entidade intocável. Com a cumplicidade
do seu chefe, o Rochinha, Victor como um predestinado estava dando os primeiros
passos para uma carreira de sucesso. Tornou-se grande conhecedor das lides
cartoriais. Recebeu um convite irrecusável, que logo percebeu que queriam de
fato o seu conhecimento, sem a contrapartida que o atraiu. Removeu-se para o
Décimo Cartório de São Paulo, onde trabalhou como escrevente. Em 1961 foi para
Paranapuã, onde perante o juiz tomou posse como Oficial do Registro Civil (Proprietário). Bacharel em Direito formado em Itu, teve como
professor de Direito Constitucional o atual Preseidente da República Michel
Miguel Elias Temer Lulia.
O senhor chegou a realizar testamentos?
Só fiz um como serventuário público,
de um colega do sub-distrito de Itaquera. Naquela época era o juiz que tinha
que assinar o termo de abertura de todos os livros do cartório. Hoje o próprio
titular autentica as folhas do livro. Quando era procurado para realizar um
documento de testamento, em benefício da pessoa e dos envolvidos, eu
aconselhava que a pessoa fizesse a doação com reserva de usofruto.
A sua família em dezembro de 1961
mudou-se para Paranapuã?
Exatamente! Eu sempre tive muita fé,
e em todos os lugara para onde fui sempre encontrei um amigo. Amigos na vida,
encontramos poucos. No período em que fiquei sózinho em Paranapuã, hospedei-me
em uma pensão da família Salmazi, originária de Olímpia. Fui verificar o
cartório, tinha um escrevente respondendo pelo cartório até ser provido. De
imediato verifiquei que havia muitas falhas técnicas, Fui até o forum e requeri
para o juiz fazer uma correição no cartório. Eu iria assumir, o cartório
ficaria sob a minha responsabilidade. O juiz marcou a data, a pessoa que
trabalhava lá não gostou muito, O juiz chegou, verificou que tinha muita coisa
com rascunho, ou cópia com papel carbono, não havia sido transcrito no livro. O
juiz determinou que eu fizesse todos os atos. Outra falha encontrada foi que
não tinha sido recolhido o valor dos selos de impostos e taxas. O juiz
disse-me: “- O senhor adquiriu os ativos e passivos. Aos poucos vai colocando
tudo em dia”. Não aplicou penalidade nenhuma. Paranapã tinha uma
característica: Trabalhávamos só na safra! Nascia uma criança, ou tinha um
casamento, a pessoa vinha e dizia: “-Seu Victor, nasceu a criança, preciso do
registro”. Eu fazia, e marcava em uma caderneta! Igual a caderneta que os
armazéns usavam. Eu marcava e depois ele me pagavam na safra! Cheguei a fazer
até escritura, a pessoa precisava da escritura para fazer financiamento
bancário. Minha senhora lecionava no Grupo Escolar da cidade, eu comecei também
a ser professor sustituto. Inclusive fui professor do segundo ano escolar da minha
filha mais velha, a Cintia. No final do ano ela não passou, repetiu. Reprovei a
minha filha! Ao lado da escola havia uma padaria que tinha um gerador de
energia para movimentar as máquinas de fazer pão, fornecer luzes e demais
aplicações. Fui lá e perguntei se o dono da padaria poderia fornecer energia.
Ele forneceu. Coloquei uma bomba de água no poço, uma caixa d`água, nós
tomávamos banho no chuveiro conhecido popularmente como “enforcado”. É um
chuveiro com um depósito de água, o depósito é cheio e através de uma
carretilha erguido acima da cabeça do banhista. Era uma região muito quente,
mas caso desejasse poderia colocar uma parte de água aquecida. Com o depósito
no seu lugar, era só abrir a torneirinha. Funcionava perfeitamente! Estamos
falando de 1962, 1963!
Falar que não havia energia elétrica
naquela região do Estado de São Paulo, nessa época parece uma coisa muito estranha.
Aqui cabe uma observação, Paranapuã
era um distrito pertencente a outro município, Dolcinópolis, onde havia energia elétrica.
Usei um pouco dos meus conhecimentos para transformar Paranapuã em municipio. A
arrecadação do nosso distrito era maior do que a arrecadação de Dolcinópolis.
Eles recebiam a verba e não aplicavam nada em Paranapuã. Comecei a trabalhar
para criar o municipio de Paranapuã. E chegamos lá, em dezembro de 1963
tinhamos criado o municipio! Só que veio a Revolução em março de 1964, tinha
que ser realizada a eleição para primeiro prefeito, primeiro vereador. Com a
Revolução foram suspensas todas as eleições.
O municipio já havia sido criado,
mas não tinha autonomia?
A época das eleições chegaram, mas
ainda dependíamos politicamente de Dolcinópolis. Um povoado chamado Mesópolis,
foi elevado a Distrito. Eu perdi território, lá iria abrir um cartório. Em
Paranapuã ficamos esperando as decisões políticas para realizar as eleições na
cidade. Um grupo me indicou para ser prefeito de Dolcinópolis, Outro grupo
indicou outro candidato. Na convenção eu ganhei. Fui candidato a prefeito.
Lançaram um candidato de Mesópolis, Fomos à rádio, fizemos comícios, carreatas,
estava uma beleza! Uns dias antes das eleições, escreveram nas paredes de
Paranapuã: “Somos assim: a enxada contra a caneta.” Isso em uma região
puramente rural. Outra frase: “ Cuidado com a caneta”. Outra frase: “Ele é um
forasteiro.” Eu tinha muito conhecimento em Jales, lá era a sede da Comarca,
conhecia todos os advogados, inclusive eles me levavam serviço. Captei serviço
na cidade de Jales, onde havia dois outros tabelionatos, até o Oficial da
Comarca quando tinha algum serviço complicado mandava para nosso cartório. Eu
fazia muitos contratos de arrendamentos, tinha um moço, cujo pai havia
conseguido uma área de 1600 alqueires (cada alqueire mede 24,200 metros
quadrados), ele deveria lotear áquela área e implantar uma reforma agrária.
Flávio era o nome do filho, ele foi me procurar no cartório, ele e o pai
moravam em São Paulo. Conversamos por um bom tempo, até que ele me perguntou:
“-Você tem onde morar?” Disse-lhe: “-Estou procurando!” Na fazenda havia uma
casa modesta, que ele havia cedido para as professoras morarem lá. Fomos até a
casa, ele disse: “A partir de dezembro o Seu Victor vai mudar para cá com a
família”. Ele disse ter sido muito bom eu ter ido para Paranapuã, o escrivão
anterior não era dedicado. O pai dele loteou os 1.600 alqueires, em lotes de
10, 20, 30 até 50 alqueires. E vendeu como reforma agrária. Ele fez a cidade
com lotes de 10X25 metros, a corretagem ele passou para mim, comecei a ganhar
um dinheirinho. A casa que ele cedeu para que eu morasse, disse que quando eu
pudesse pagar ele falaria quanto era, ele nunca disse o valor!
Você tem algum hobby?
Era trabalhar! Mas em 1980, nessa
época eu morava em Indaiatuba, em uma ocasião, com uns colegas, fomos pescar no
Rio Coxim, em Mato Grosso do Sul. Estávamos subindo o rio, com uma filmadora eu
estava registrando a nossa aventura. Um barco passou por nós, provocando um
forte movimento de água. Para ter uma visão melhor, eu estava sentado em uma
cadeira de praia...sem ser fixada. Fui lançado na água. Com roupa jeans, mangas
protetoras, botina, afundei, só que sempre tive a instrução para não perder a
calma, sabendo nadar, “boeei” a uns 200 ou 300 metros do barco. Procurei nadar
no sentido do barranco mais próximo. O barqueiro virou a direção do barco, me
alcançou e fui recolhido, todo molhado. Os companheiros queriam encerrar a
pescaria ali, eu fui firme, agradeci a gentileza e disse: “ Vamos continuar a
pescaria!” Continuamos, passamos um dia normal, com uma boa coleta de peixes!
Em Paranapuã quanto tempo o senhor
permaneceu?
Fiquei de 1961 até janeiro de 1967.
Eu era o preparador eleitoral de Paranapuã, aumentei o eleitorado. Muitas
pessoas ainda mantinham ao titulo eleitoral com a cidade de origem, não tinham
feito a transferência. Em menos de um ano fomos autorizados a fazer a eleição
em Paranapuã. Fiz uma viagem para São Paulo, para acertar os detalhes da
eleição no Tribunal, fui com José Ribeiro, amigo da política, Viajamos pela
Estrada de Ferro Araraquara, fomos jantar no trem, conversamos, até que ele
disse “-Vamos conversar de homem para homem. Na eleição agora você vai ser
candidato?” Disse-lhe: “- Se me escolherem
novamente serei candidato”. Foi quando ele disse-me: “ Eu vou ser candidato!”.
Disse-lhe: “Nesse caso não serei candidato”. Ele sugeriu, eu aceitei a ser
candidato a vereador. Ganhamos a eleição. Fui eleito com a maioria de votos,
por consequência tornei-me o Presidente da Câmara. Instalamos a Câmara
Municipal de Paranapuã. Naaquela época vereador não tinha salário, não ganhava
nada. Só tinha despesas do próprio bolso. Pedi ao meu Oficial Maior do Cartório
para ser meu secretário na Câmara. Também não ganhava nada. Faziamos duas ou
três reuniões por mês. A noite, no salão iluminado com gerador a diesel. Fui
presidente da Câmara de 21 de março de 1965 a 21 de março de 1966. As coisas
começaram a funcionar normalmente, até que começaram a desandar. O prefeito
nomeou o cunhado dele como tesoureiro da prefeitura, o que é proibido por lei,
nomear parentes até terceiro grau. Eu o alertei. De nada adiantou. Disse-lhe: “
Toda compra acima de “X” só pode ser feita por concorrência pública”. Uns dez
ou quinze dias depois ele apareceu com uma caminhonete novinha. Após assumir o
“puder” como diz um famoso politico, ele tornou-se outra pessoa. Virou um
bicho. Era tudo estrada de terra, precisávamos de uma motoniveladora. Vim na
Caterpillar de Campinas. Ficava em noventa e dois milhões na moeda da época.
Seria paga através de crédito consignado do fundo de participação dos
municipios. A caminhoenete ele devolveu! Eu disse a ele: “ Eu não aprovo isso!”. Dois meses depois ele passou no cartório e me
pegou no fusquinha dele, estavamos na estrada de Jales, chão de terra. Ele
parou, e disse-me: “ Aquele projeto que eu mandei para a Câmara eu quero que
você aprove até amanhã!”. Era para pagar uma motoniveladora usada que ele tinha
comprado. Ela estava no posto do Nenê, no centro de Jales. No dia seguinte fui
ver a motoniveladora. Custou sessenta e dois milhões. Os pneus estavam três
arriados, no chão. Tinham pintado com uma tinta que parecia de parede. Voltrei
para Paranapuã, peguei mais dois vereadores e levei para ver a motoniveladora.
A documentação estava rasurada, era um veículo com mais de doze anos, tinham
alterado a data. Uma falsificação grosseira. Na Câmara expus tudo o que
constatei. Resultado da votação: ¨X” a favor dele, inclusive um vereador era
irmão dele.
O que o senhor fez?
Disse-lhe: “ Está aprovado! Só que vou denunciar!” Fiz um ofício e mandei
para o Presidente da República Humberto de Alencar Castello
Branco. Disse isso publicamente, e o prefeito estava ali fora do prédio. De
fora ele gritou: “Se você me denunciar ou denunciou, uma das mulheres, minha ou
sua vai chorar viuvez”. O povo todo ficava alvoroçado, estava pegando fogo na
política do lugarejo. Eu não tinha intenção nenhuma de matar uma pessoa, não
nasci para isso. Os dois policiais militares de Paranapuã Altervir e Wanderlei
frequentavam o cartório, ali todos se conheciam. Eles disseram-me: “O José
Ribeiro anda dizendo que se for cassado é melhor você se prevenir, porque ele
anda armado”. Comecei a trabalhar no cartório com o revólver em cima da mesa.
Um dia encontrei-me com Roberto Rollemberg, era deputado federal, ele
convidou-me para sentarmos e conversarmos. Então disse-me: “Sou seu amigo,
tenha cuidado com o Zé Ribeiro, ele disse-me que se receber um IPM (Inquérito
Policial Militar) ele te mata”. Um dia fui ao Fórum levar um documento para o Juiz Dr.
Joaquim Ribeiro do Val. Ele disse-me “-Está um buchicho que o Zé Ribeiro está
muito bravo com você”. Expliquei ao Dr. Joaquim toda a história, as bravatas do
Zé Ribeiro que dizia: “-Eu sou o prefeito, eu é que mando!”. “O meu papel como
vereador é a de fiscalizar os atos do prefeito. Assim como a Assembleia
Legislativa fiscaliza o Governo do Estado, o Congresso fiscaliza o Governo
Federal”
Qual foi a sua atitude?
Diante das circunstâncias, o mais razoável seria usar a inteligência a
meu favor. Poderia destruir a minha vida se agisse por impulso. Em dezembro,
peguei meu Volkswagen e passei por muitas cidades, disse à minha mulher: “Você
vai escolher onde quer morar!”. Ela escolheu Indaiatuba. Ela passou a lecionar
em um grupo escolar de Indaiatuba. Pedi para o Oficial Maior ficar cuidando do
cartório. Sai de Paranapuã com a minha família e a mudança, sem avisar ninguém.
Quando o povo descobriu que eu tinha ido embora queriam ir me buscar, foram
dissuadidos pelo Edmundo, o Oficial Maior. Eu tinha sido secretário da
Associação de Escreventes e Fiéis em São Paulo, arrumei uma casa em Indaiatuba
que pertencia a um amigo dessa época. Os vizinhos ajudaram a descarregar a
mudança! Tirei licença da Câmara de Paranapuã, naquele tempo os cartórios
abriam aos sábados, entrei no Primeiro Cartório de Notas e Registro de Imóveis,
perguntei quem era o serventuário, era o Seu Lita, o nome dele era Luiz Teixeira
de Camargo, ele perguntou-me o que eu sabia fazer de cartório. Disse-lhe que
sabia fazer tudo. Ele disse que estavam precisando de alguém para fazer
serviços de fórum. Na segunda-feira comecei a trabalhar como auxiliar, enquanto
não me exonerasse de Paranapuã não poderia ser nomeado em Indaiatuba. Ele tinha
um filho, José Luiz Teixeira de Camargo. o Zé Lito, era o oficial maior. O
Edmundo vinha todo mês, prestava contas. Renunciei ao cargo de vereador, pedi
demissão do cartório e fui nomeado escrevente em Indaiatuba.
Como estava a situação política em Paranapuã?
Em
Indaiatuba recebi um comunicado para participar de um IPM em Dolcinópolis. Fui
para lá, só que antes pernoitei em Jales. Lá tinha muitos amigos, disseram que
as coisas estavam feias lá em Paranapuã. Fui até Dolcinópolis, um
tenente-coronel e um escrivão me receberam, perguntaram-me se eu tinha feito a
representação, disse que sim, confirmei. Peguei meu carrinho e vim embora.
Gostava de viajar a noite.
Que fim levou o IPM?
Não sei, porque o José Ferreira
faleceu em um acidente com a caminhonete da prefeitura dirigida por um
funcionário. O vice-prefeito assumiu.
E em Indaiatuba?
O Seu Lita era titular do Cartório
de Registro Civil e Anexos. Indaiatuba passou a ser Comarca ele teve o direito
de escolher o cartório que ele quizesse: Primeiro, Registro de Imóveis, Anexos,
Tabelionato, ele não quiz o Registro Civil. O Rochinha foi nomeado para o
Registro Civil, eu continuei despachando com o juiz, fiz juri. Os criminosos
presos em flagrante negavam com total convicção. Negar o mal feito é regra
geral. Talvez se a confissão abrandasse a pena alguns confessariam. O Rochinha
foi aposentado compulsóriamente. Aí entrei no concurso. Eu já tinha sido
convidado a ser candidato a prefeito de Indaiatuba. Era muito bem relacionado
com o povo. Não aceitei por aconselhamento familiar. Eu desejava ir para São
Paulo. Descobri que havia um distrito de São Paulo chamado Itaim-Paulista. O
Tribunal não abria o concurso porque o local estava subordinado ao Cartório de
São Miguel Paulista. Fui falar com o presidente da Assembléia Lagislativa Luis
Carlos Santos. Expliquei todos os detalhes, era um local com mais de 100.000
habitantes, sem cartório. Fui até o Palácio dos Bandeirantes, dali a uma semana
saiu o decrete para instalar o Cartório de Itaim-Paulista e responder
cumulativamente pelo Cartório de Indaiatuba. Um outro amigo, João Genésio de
Almeida, escrevente do Sexto Tabelião de São Paulo, viu o decreto me nomeando,
fui para São Paulo, em seguida fomos para Itaim-Paulista, procurar um salão
para instalar o cartório. Achamos um que estava para alugar, o proprietário
tinha construido para ele colococar um cartório! Quando soube, ficou pasmo, acabou
alugando. Fui até a Corregedoria, me deram posse. O João Genésio deu-me a chave
da sua caminhonete para trazer metade dos móveis que eu tinha em Indaiatuba. E
funcionários? Como eu iria arrumar pessoas aptas? Escrevente você não arruma
num estalar de dedos. Conversei com duas funcionárias do meu cartório, aluguei
um apartamento para as duas, e trouxe também o José Messias Bertolino, que era
um menino que começou a trabalhar comigo aos catorze anos. Uma moça que passou
lá, viu que tinha sido instalado um cartório , contratei ela também. Ela
trabalhava no Cartório de São Miguel Paulista, trouxe mais duas funcionárias. A
primeira vez que fui visitar o Cartório de São Miguel Paulista o Oficial
(proprietário) do cartório achou que era um velhinho caquético, pelo número de
pontos que eu tinha acumulado em minha carreira! Pedi afastamento de
Indaiatuba, deixei o Oficial Maior. Fui exonerado do cartório de Itaim Paulista
e nomearam uma pessoa de Itaquaquecetuba. Fui falar
com o juiz, expliquei o fato. Os advogados foram até a rádio, fizeram um
manifesto, em meio dia conseguiram seiscentas assinaturas a meu favor. Mandaram
uma cópia para o juiz também. O juiz perguntou quanto eu gastei até o momento,
com aluguéis de dois apartamentos, um para mim e outro para funcionárias, do
prédio, enfim minhas despesas. Calculei em 90.000 reais. O juiz mandou chamar o
cartorário recém empossado. Apresentou-nos um ao outro, Disse-lhe: “O senhor
Victor gastou para instalar o cartório, trazer funcionários, fora os
aborrecimentos. O senhor tem que depositar 90.000 reais para exercer o cargo de
interino”. “Ele respondeu: “Eu não tenho nem 9.000 reais doutor, me arrumaram
isso aí!”. O juiz perguntou: “Então o senhor não vai tomar posse?”. Ele disse:
“De jeito nenhum!” Após algumas providências o juiz me nomeou. Continuei lá,
comecei a fazer propaganda do cartório. Paguei para um carro com alto-falante,
anunciar o cartório. Conseguimos, o Messias trouxe a sua família. Nisso abriu o
concurso para assumir o cartório. Eu entrei, tinha a melhor pontuação, busquei
cartas de referências de juízes, desembargadores. Fui nomeado. Fiquei por oito
anos quando completei 50 anos de serviço em cartório pedi a aposentadoria, isso
foi em dezembro de 1992. Deu mais porque no período em eu trabalhava não tinha
férias, licença-prêmio, não sai de licença. Fui Comissário de Menores em Olímpia
e São Roque.
Na
comemoração dos 105 anos de nosso Lar dos Velhinhos, denominado Primeira
|Cidade Geriátrica do Brasil, o ilustre presidente Dr. Jairo Ribeiro de Mattos
pediu a todos os moradores e beneméritos a colaborarem na edição 1906-2011, o que
fizemos conforme consta nas páginas 83 e 84 o artigo “A Procura”.
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