WALTER JOSÉ RODRIGUES
Johannes Gensfleisch zur
Laden zum Gutenberg, mais conhecido como Johannes Gutenberg, desenvolveu um
sistema mecânico de tipos móveis que deu início à Revolução da Imprensa, por volta de 1.440, e que
é amplamente considerado o invento mais importante
do milênio. Através da imprensa a Humanidade
mudou hábitos e costumes. Mudanças de regimes políticos. Os livros foram de suma importância para o
desenvolvimento do conhecimento humano. Vieram outras formas de comunicação,
muito importantes. Atualmente, vivemos um período que ainda não conhecemos seu
alcance pleno. Fala-se muito em Inteligência
Artificial. As conquistas realizadas até o momento, possivelmente tomem rumos
aprimorados, mas ao que parece deve permanecer, com outra roupagem.
Enquanto
assistimos e participamos voluntariamente ou não, dessas mudanças, nos
deleitamos com livros de papel, jornais que além das notícias aprimoradas,
trazem artigos que analisam mais a fundo, aspectos importantes da vida humana. Como
entrevistador, tomei a liberdade de chamar de “Teoria da Prateleira”, onde o
jornal tradicional, o rádio, a televisão, a informática em suas diversas e
múltiplas funcionalidades, cada um ocupa um nicho. Seu espaço. O jornal, o
rádio, as televisões utilizam a informática. A questão básica está no cérebro
dos que produzem conteúdo e alimentam essas fontes de informação.
O
convidado de hoje é um veterano, daqueles que começaram montando letra por
letra para formar uma palavra, e o detalhe é que tinha que ser montado de forma
invertida, para na hora da impressão sair de forma correta!
Walter
José Rodrigues nasceu em Piracicaba, em 20 de agosto de 1965. Vive em Rio das
Pedras a maior parte da sua vida. Seus pais são Valdomiro Rodrigues e Yolanda
Fabian Rodrigues, que tiveram mais duas filhas. Suas irmãs são Maria e Rosângela.
A Rosângela iniciou com ele trabalhando no mesmo ramo de atividade. Com o
passar do tempo ,ela passou a exercer outra profissão.
Você estudou em qual
escola?
Estudei na Escola Estadual "Professora Jaçanã Altair Pereira Guerrini",
em Piracicaba. Inclusive o Sr. João Chiarini foi meu professor.
Como era o
João Chiarini como professor?
Era incrível! O homem sabia de tudo! Era historiador e
advogado. Lá estudei do curso primário até a 5ª. Série. Naquela época, era
relativamente comum os filhos deixarem a escola nessa fase, para ajudarem no
sustento familiar. A princípio aprendiam algum ofício, e tornavam-se
trabalhadores experientes com o aprendizado prático no exercício da função.
Qual era a
atividade profissional do seu pai?
Meu pai era construtor civil. Inclusive trabalhou na
construção do COMURBA.
( O Edifício
Luiz de Queiroz, conhecido popularmente como COMURBA, foi um prédio que começou a ser
construído em 1950 e, em 1964, estava em fase de acabamento, época em que desabou. Com 22
mil metros quadrados, ficava na Praça José Bonifácio, no centro da cidade.
A queda do edifício COMURBA é considerada a maior tragédia da história
da cidade de Piracicaba e foi o primeiro grande acidente de engenharia civil
no Brasil. O edifício COMURBA estava localizado no
centro da cidade de Piracicaba,
onde atualmente funciona o Poupa
Tempo. O prédio possuía uma arquitetura moderna e
era visto como símbolo de desenvolvimento econômico pela cidade. A única parte que não desmoronou foi demolida
no ano de 1974. O COMURBA foi um projeto ousado, um edifício com residência,
escritórios, lojas comerciais e até mesmo um cinema muito luxuoso, o Cine
Plaza. O motivo da sua queda parcial, até hoje não é conclusivo. Além das vidas
ceifadas, a construção de edifícios por décadas ficou estagnada. O trauma foi
muito grande junto à população.
O seu pai sobreviveu
quando desabou praticamente a metade do prédio?
Meu
estava trabalhando na parte que não desabou! Deve ter sido o maior susto da
vida dele. A mesma sorte não teve o meu tio, que estava trabalhando na parte
que desabou, e ele faleceu.
O seu pai é natural de
Piracicaba?
Não.
Meu pai nasceu na Espanha, veio de Málaga para o Brasil. A minha mãe era
brasileira, descendente de italianos. O meu pai é vivo até hoje.
Como um legítimo
espanhol, seu pai deve ser bastante enérgico?
Naquela
época, o chefe da família era quem ditava as ordens. Por tradição, os espanhóis
são pessoas que zelam pelas condutas de seus familiares.
Você aprendeu a falar
espanhol com seu pai?
Não!
Ele tem o domínio da língua portuguesa.
Quando tinha que chamar
a atenção de alguém, era em espanhol?
Na
hora de dar bronca, se estivesse muito bravo, era em espanhol! (Risos). Mas ele
é um homem muito bom e justo.
Após a queda do
COMURBA, o seu pai possivelmente ficou muito abalado?
Ficou. Só que era uma época
em que a sobrevivência dependia do trabalho. Ele teve que se refazer e seguir
em frente. Foi quando ele foi trabalhar com o famoso arquiteto Walter Naime. O meu nome é
Walter por inspiração do meu pai no nome
Walter Naime!
Com quantos anos de
idade você começou a trabalhar?
Comecei
a trabalhar com 10 anos de idade.
Nos dias atuais você
com essa idade não poderia trabalhar!
Eu
ia para a escola na parte da manhã e após o almoço, trabalhava em uma oficina
de mecânica e funilaria de veículos.
Eu varria a oficina, lavava peças, era
conhecida como Oficina do Castelo, situava-se na Rua Saldanha Marinho, quase no
final da rua, próximo ao ribeirão Piracicamirim, afluente do Rio Piracicaba.
Vocês moravam em qual rua?
Morávamos na Rua Francisco França do Amaral,
da onde eu morava até a oficina tinha a distância de uns sete quarteirões. A
distância da minha casa até a escola era meia quadra. Eu nasci naquela casa. O
quintal da nossa casa tinha o fundo próximo ao Ribeirão Piracicamirim. Ficava
entre a ponte do Jardim Brasília e a ESALQ.
Ali dava para nadar sossegado?
Era uma água limpa! Tinha uma variedade de
peixes.
Você chegou a pegar muito peixe no Ribeirão Piracicamirim?
Quando era moleque, por incrível que pareça,
com um cabo de vassoura dávamos um golpe em bagre e o pegávamos. O bagre vinha
no barranco do Piracicamirim, com o cabo de vassoura abatíamos os peixes! (Digo
ao Walter que todo pescador tem uma boa história, rimos bastante!). Descia o
ribeirão de bóia (Câmara de ar de pneu de veículos, utilizada para flutuar na
água), era uma diversão saudável. Os jovens da época tinham um contato muito
próximo com a natureza.
Trabalhando na oficina você passou a gostar de mecânica?
Ganhei conhecimento, tanto que até hoje eu
mesmo dou manutenção no meu carro.
Na época o Fusca era o carro mais popular, mas também tinha
concorrentes?
Foi a época do Fusquinha, Gordini, DKW,
Opala, Maverick com motor V-8, canadense. Dodge Charger, Volkswagen SP2, VW Puma GTE. Foi uma época
romântica, só quem viveu esse período sentiu o significado marcante desse
período.
Você chegou a assistir as corridas de carros que existiam em
Piracicaba?
Na Avenida
Independência, logo depois da Igreja São Judas Tadeu, o pessoal fazia “racha”. Havia
o Simca Chambord, o Simca Esplanada e outros. Todos com escapamento
aberto; na época a polícia era mais tolerante. Aquelas disputas eram vistas
como aceitáveis, até certo ponto. O DKW era um carro que corria bem, para a
época. A porta do motorista e do passageiro ao lado abriam no sentido contrário
ao das portas de outros carros. Era popularmente chamada de “porta suicida”.
Quanto tempo você
trabalhou na oficina?
Foram uns quatro anos. Daí, parti para o ramo
da gráfica.
E como você deu essa mudança de atividade?
Eu via panfletos, analisava, e cada vez mais
minha curiosidade em saber como eram feitos, foi aumentando. Com isso, fui
trabalhar na Gráfica Bandeirantes, situada na Rua 10 de Novembro, no Bairro
Alto, próxima a Igreja São Judas Tadeu. O proprietário era Salvio da Silva
Penteado.
A gráfica fazia de tudo?
Fazíamos talões de notas fiscais, folhetos,
cartões de visitas, impressos em geral. Foi ali que comecei a gostar do ofício.
Comecei como tipógrafo, pegava letra por letra e íamos escrevendo de
ponta-cabeça, ou seja, as letras eram montadas de tal forma que ao serem
impressas sairiam como normalmente lemos. O texto era montado como se fosse
colocado um espelho na frente.
Tem que ter muita habilidade para fazer isso?
Tem sim. Não podia cometer nenhuma falha. O
cuidado era redobrado quando se tratava de talões de notas fiscais. Não podia
ter nenhuma falha. Era um trabalho longo. Não trabalhávamos à noite.
Para fazer a montagem de uma nota fiscal
gastava um dia. A tipografia não tinha a opção de fazer as ilustrações
artísticas que hoje muitas vezes estão disponíveis a um toque de computador.
No período eleitoral aumentava o serviço?
Em época de eleições trabalhávamos bastante.
Era o período de “safra” das tipografias!
Teve algum acontecimento que você jamais tivesse imaginado?
Eu nunca imaginei que um dia seria um
tipógrafo! Quando iniciei, foi necessário colocar um banquinho para que eu
subisse e alcançasse o material que necessitava. Eu tinha 14 anos de idade. Eu
era um menino franzino.
Quanto tempo você ficou na gráfica?
Foi por aproximadamente 1 ano. Recebi uma
proposta para trabalhar na Gráfica Riopedrense, ganhando 5 vezes mais do que eu
ganhava lá. Na época, tipógrafo era contado a dedo! Quem tinha um tipógrafo,
procurava segurar, quem não tinha, ofertava valores significativos. Era uma
função valorizada e o profissional tinha que ser muito habilidoso. Poucos
tinham a paciência, atenção, e até mesmo vocação para esse tipo de trabalho.
As máquinas de impressão exigiam muita atenção também?
Na época eram máquinas manuais. A Minerva,
era a mais conhecida. Ela abre, o operador coloca o papel, ela fecha, imprime e
abre para o operador puxar o papel impresso. Era tudo manual, não era
automatizado como é hoje. Ela só tinha um motor para poder abrir e fechar no
processo de impressão.
Era um equipamento perigoso?
Era. Naquela época, nem imaginava o risco que
existia. Se na hora em que a prensa for acionada pegar a mão ou o braço,
possivelmente o dano seria irreversível.
A seu ver, com a autoridade de quem começou a trabalhar muito
cedo, o trabalho do menor, em atividades que não ofereçam riscos é importante
para a formação do seu caráter?
Sem dúvida! Estudar e trabalhar
simultaneamente só fortalece o indivíduo. Infelizmente, o sistema educacional
público está em um nível muito ruim. O aluno, com as exceções de regra, não tem
a formação necessária. E não tem idade para poder trabalhar. Passa a ter uma
vida ociosa, nos anos mais importantes da sua formação. Isso pode comprometer o
seu futuro.
Nessa época, você trabalhava, ajudava nas despesas da família, e
nos fins de semana qual era a sua diversão predileta?
Naquela época havia muitos parques. Era comum
os jovens irem passear lá, e também havia o flerte, tempo em que tinha o correio
elegante, o alto falante anunciava “ – O moço de camisa azul e calça branca
oferece a próxima música para a moça de vestido azul claro, de cabelos pretos”.
Assim como uma moça também oferecia uma música para algum rapaz que ela estivesse
paquerando! Geralmente havia pequenos grupos de rapazes e moças, e essa
brincadeiras acabavam virando uma torcida. Nossa diversão era simples, às vezes
até mesmo ingênua, mas éramos felizes!
A Gráfica Riopedrense existe até hoje?
Existe! Quando vim trabalhar, ela era
administrada por Antonio Generoso e Waldir Rizzato. Imprimiam notas fiscais,
folhetos, que eram o carro chefe da maioria das gráficas. Fizemos revistas para
o Clube Cristóvão Colombo e para a Agrotec. Fizemos livros também, mas a
questão é que os livros tinham um custo muito alto.
Quantos anos você trabalhou nessa gráfica?
Em torno de 30 anos! Lá, com o tempo, eu
passei a trabalhar com impressão offset. Ela teve também uma máquina de
linotipo. Um profissional vinha de Capivari para operá-la. Ela tinha uma
caldeira do lado, o linotipista ia digitando, fazia as barras de chumbo, de
tempo em tempo ele tomava leite, saía ao ar livre, o vapor de chumbo saía da
caldeira, eram necessários esses cuidados. Não trabalhei na digitação da
linotipo, trabalhei na digitação quando mudou de fotografia para o fotolito. Eu
digitava tudo na máquina, colava tudo na base, fotografava, era uma máquina grande,
com um fole enorme, retocava para tirar coisinhas erradas, passava para o
filme, para depois passar para a chapa e seguir o processo de impressão. Essa
máquina não tinha caldeira, mas tinha os produtos utilizados para revelação,
que também são tóxicos.
Foi bem pioneiro?
Foi! Revolucionário! Porém durou pouco tempo.
Logo passou para o sistema Ctp. Ctp é a sigla da
expressão inglesa "Computer to
Plate". É o processo direto de
gravação da chapa de impressão a partir de um arquivo eletrônico,
dispensando-se o uso de fotolitos. É feita a separação das cores. É tudo muito
rápido.
Após 30 anos na gráfica Riopedrense , você
saiu?
Na realidade, nesse período
muita coisa mudou. A evolução técnica é inegável. Um processo de trabalho que
exigia uma qualificação profissional muito elevada, com novos equipamentos foi
simplificando o trabalho do profissional, a tecnologia, após implantada, já
poderia ser operada por uma pessoa qualificada, mas sem as exigências
necessárias pelos sistemas anteriores. Na busca de redução de custos, a minha
qualificação tinha um custo elevado, segundo a empresa. Resumindo, a tecnologia
substituindo a habilidade manual e intelectual do ser humano. Fui dispensado!
Você é casado?
Sou, minha esposa é a
Leonice. Tenho quatro filhos, sendo que um deles faleceu recentemente em
acidente com seu caminhão.
Após deixar a gráfica onde trabalhou em torno
de três décadas, o que você fez?
Eu não podia ficar parado.
Peguei um currículo e fui até a Tribuna Piracicabana, entreguei ao Sr. Evaldo, fiz
um teste, e ele abriu as portas para que eu ingressasse na Família Tribuna. Eu
considero uma família. Considero o Sr. Evaldo não um patrão apenas, mas sim um
pai. Um dos seus filhos, o Evaldinho, trabalhamos juntos nas oficinas gráficas
da Tribuna, considero como um irmão.
Em “A Tribuna Piracicabana” trabalha-se
com muita ética profissional e amor pelo trabalho que se está fazendo, e isso
gera o conceito elevado e a credibilidade angariados por ela.
Eu costumo falar que temos
duas famílias, a que vive em nossa casa e a família Tribuna.
Seus filhos já estão crescidos?
O mais novo está com 16
anos. As outras duas filhas já formaram famílias. O que faleceu em acidente de
caminhão tinha 24 anos. Era solteiro, vivia junto comigo aqui.
Há quanto tempo você está na Tribuna?
Estou há 15 anos.
Antes do advento da internet, os jornais se
pautavam pelo serviço de rádio escuta, onde havia permanentemente pessoas que
só faziam isso. O rádio era o primeiro veículo a informar. Na busca da última
notícia, ou uma notícia importante, o chamado “furo de reportagem”, gerou-se o
hábito de muitos jornalistas, aqui considerando-se o corpo técnico também, em
“virar a noite” trabalhando. Com o avanço da tecnologia isso mudou?
Eu sou o primeiro a chegar
na área de impressão. Sou eu que tenho que preparar o material. Quem define o
horário é a necessidade de trabalho. Se o meu horário de trabalho normalmente
inicia-se às 18 horas, mas a quantidade de trabalho é maior, eu entro às 17
horas.
Atualmente como funciona a impressão de um
jornal?
O jornal é montado nos
computadores da redação. É transmitido para os computadores do setor de impressão.
O jornal vem para mim em PDF (Portable Document Format), é um arquivo que
representa na tela do computador páginas de um documento eletrônico. Do PDF
passo para o CTP (CTP significa
"Computer-to-Plate", que é um processo utilizado na indústria gráfica
para a produção de chapas de impressão diretamente a partir de arquivos
digitais). A gravação na chapa é feita através de uma máquina a laser. O que é
colorido faço a separação das cores, faço ali na máquina, ela entende o que eu
pedi e separa uma cor para cada chapa, por exemplo uma cor para a chapa azul,
uma do magenta(vermelho), amarelo e o preto. Na máquina de impressão a chapa
azul vai onde tem a tinta azul, outra máquina tem a placa magenta, outra tem a
cor amarela e outra a cor preta, com as tintas em suas respectivas cores.A cor
sobre cor dá o colorido.O jornal passa uma vez em cada unidade de cor, para dar
a cor final. Com a mesma matriz ou chapa, posso fazer 20 exemplares de jornal
até por exemplo 40.000 exemplares, com a mesma matriz.
É um trabalho bem técnico e que exige um
conhecimento razoável?
Sim, alguma falha minha e eu posso
comprometer tudo.
Atualmente, quantos exemplares de jornal podem ser
produzidos por hora?
Existem máquinas que fazem 20.000
exemplares por hora. Até mais! Depende da tecnologia da máquina. Só que a
demanda de mercado não está correspondendo à necessidade de tiragens
gigantescas.
A seu ver, o jornal deverá continuar existindo,
porém voltado a artigos com qualidade, sem o tratamento superficial e vago como
é tratado em alguns meios de comunicação?
Compartilho da mesma opinião. O
jornal deverá permanecer, mas não será como era. Apenas ouvindo você não
entende uma matéria como se estivesse lendo. Ao ler é como penetrar na matéria
exposta. Apenas ouvindo, um pequeno vacilo faz com que perca o contexto.
Você lembra-se de um jornal chamado Notícias
Populares?
Lembro-me! Era um jornal que
diziam que se expremesse ,sairia sangue! As manchetes eram as notícias mais
terríveis possíveis. Era um jornal que vivia da desgraça alheia. Até que
acabou. Tudo tem o seu preço.
Qual é a primeira noticia que o leitor procura?
Tem aqueles que desejam ver como
será o seu dia, e vão imediatamente para o horóscopo! Só que o dia da gente , somos
nós mesmos que o fazemos! Tem outros que querem saber quem morreu! Esses
procuram a seção de necrologia! Antigamente, os jornais traziam receitas
culinárias, as mulheres gostavam, e geralmente faziam o que a receita indicava.
Os pequenos anúncios perderam espaço para a internet, porém quando havia um anúncio
de venda por exemplo, o risco de acontecer alguma coisa com quem queria comprar
era bem menor. Hoje a pessoa vê um anúncio na internet, tem tal carro para
vender, em tal lugar. Pode ser uma
cilada.
Você casou-se em Rio das Pedras?
Não, nós nos casamos em
Piracicaba. Minha esposa morava em Rio das Pedras, onde nasceu. Moramos um
tempo em Piracicaba e eu trabalhava em Rio das Pedras. Mudamos para Rio das
Pedras e agora trabalho em Piracicaba. Eu me considero mais Riopedrense do que
Piracicabano. Desde os 15 anos trabalhei aqui, estou com quase 60 anos, a minha
relação com Rio das Pedras, entre trabalho e residência são de quase 45 anos.
Sou um cidadão Riopedrense!
Mesmo trabalhando em Piracicaba,
adotei Rio das Pedras como minha cidade.
Já disseram para você: “Mas você viaja todos os
dias?”.
Já! Só que daqui à Piracicaba são
de 10 a 15 minutos. O pessoal que mora em Piracicaba, muitas vezes demora mais
tempo para chegar ao trabalho do que eu!
Você tem algum hobby?
Eu gostava muito de jogar bola.
Jogava de centro-avante. Só que depois a gente vai pegando uma certa idade, é
aquele negócio, vamos poupar o corpo, o espírito é jovem, mas o corpo está na
validade correspondente. Tem que aceitar. Envelhecer com alegria!Quem envelhece
é o corpo, o espírito é sempre igual! O pessoal às vezes fala: “-Nossa que
velho rabugento!”. Não! A pessoa já era assim! Ele só ficou mais, não tem como
mudar o espírito de jovem para um espírito idoso! O espírito será sempre jovem,
só que a gente tem os limites, o idoso não irá sair correndo até a esquina !
Tem idade para tudo e tem pessoas que não respeitam
a idade.
Exatamente! Vive em busca do
perigo.
Um jovem que queira trabalhar em gráfica ou em
jornal , você aconselha?
Sim, aconselho a trabalhar, a
pessoa irá aprender mais do que na própria escola! Através do jornal você
conhece a literatura, conhece tudo! O português correto! Jornal não pode ter
erro, principalmente ortográfico. O jornal tem que trabalhar com a verdade, não
pode trabalhar com narrativas. Não pode criar uma notícia! Algo que não
aconteceu. Tem que trabalhar com a realidade, aquilo que se tem certeza. Foi
pesquisado, confirmado. O uso das palavras tem que ser cuidadosamente
observado. Caso contrário, corre-se o risco de ser processado de forma devastadora
por calúnia. Por citar coisas indevidas.
Você frequentava cinemas?
Eu gostava! Frequentei o
Politeama, o Rivoli e o Cine Arte, que recebeu o nome do ator Sebastião Bernardes de Souza Prata, o Grande Otelo, e
localizava-se na sala instalada no Teatro Municipal de Piracicaba Dr. Losso
Netto. Eu gostava muito de assistir os filmes da Sala Grande Otelo. Era mais
envolvido com teatro, cultura, tinha um nível muito elevado.
Você chegou a participar de alguma peça de
teatro?
Eu e toda a minha família, participamos
do teatro aqui de Rio das Pedras “Paixão de Cristo”. Este ano, não
participamos, devido ao falecimento do meu filho. O meu filho que faleceu, também
participava. O teatro era a vida dele! Ele que dava uma injeção de ânimo para
nós participarmos.
Você interpreta qual personagem?
O de soldado romano, assim
como os meus filhos. Meu neto e o meu genro também participam. A família
inteira se dedica a interpretação da Paixão de Cristo no intuito de evangelizar
as pessoas que estão assistindo.
Como você vê a vida?
Tive que primeiro me achar,
saber as razões e propósitos da minha existência, para depois encontrar isso
nas pessoas. O mal se paga com o bem, a gente nunca paga o mal com o mal. O mal
não está em mim, o mal está na pessoa que o faz. É uma filosofia de vida.
Eu diria que é uma filosofia muito acertada.
Mudando um pouco nossa conversa, quando jovem, você
chegou a frequentar os carnavais em Rio das Pedras?
Cheguei a frequentar a
Sociedade Cultural Riopedrense por um bom tempo. Eu morava em Piracicaba, mas
estava sempre em Rio das Pedras, então o meu círculo de amizade era maior por
lá. Era um tempo em que a amizade prevalecia. Naquela época, você ia ao
carnaval e tocavam as marchinhas. Era uma delícia. Os trajes eram sem nenhuma
ousadia. Existia uma disputa de blocos, onde a criatividade era premiada.
Você é um piracicabano que se tornou Riopedrense
há 45 anos?
Sou Riopedrense, nascido em
Piracicaba.
Com seu conhecimento, círculo de amizade,
família e residência em Rio das Pedras, já recebeu o título de Cidadão
Riopedrense?
Já pensei nisso! Mas ainda
não me legitimaram com esse título!