sexta-feira, abril 13, 2018

LUIZ FERNANDO MAGLIOCCA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 07 de abril de 2018.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/







ENTREVISTADO: LUIZ FERNANDO MAGLIOCCA

 

Luiz Fernando Magliocca nasceu em São Paulo, a Avenida Paulista na Pró-Matre a 13 de abril de 1947. Hoje é cidadão italiano, embora continue residindo no Brasil. É um dos mitos da comunicação brasileira. Seu nome é consagrado e disputado pelos proprietários das maiores redes de comunicação do Brasil. Seus pais são Armando Magliocca, natural de Mococa e sua mãe  Carorlina Curti Magliocca nasceu em São Carlos. Julio Curti, seu avô materno, veio ao Brasil junto com Francesco Antonio Maria Matarazzo por quem foi escolhido para montar a Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IRFM), em forma de sociedade anônima, empresa que tinha como lema: Fides, Honor, Labor (Fé, Honra, Trabalho). Seu avô materno montou as indústrias IRFM em São Paulo, Porto Alegre e assim foi expandindo as fábricas. São histórias que sua mãe contava inclusive suas dificuldades em estudar pelas constantes mudanças de seu pai Julio.


CASAMENTO DE CAROL E ARMANDO MAGLIOCCA.
Era dia dois de fevereiro, em 1945. A Igreja foi a da Imaculada Conceição, em S. Paulo. Lá se vão 73 anos. Eu fui planejado para bem depois.


                                                 Pro Matre 80 Anos

Qual era inicialmente a atividade do seu pai?
Meu pai era guarda-livros em Mococa. Meu avô paterno tinha um armazém de secos e molhados, meu pai era balconista, motorista e guarda-livros no final do mês. Quando meu avô chegou ao Brasil com o nome de Francesco Antonio Magliocca, chegou a Mococa onde tinha um primo chamado Francesco Cucci, lá se estabeleceram. O escrivão disse que tinha que aportuguesar o nome do meu avô: Francisco Antonio Magliocca, ele recusou Antonio, Ficou Francisco Magliocca, virou Seu Chico.  A hegemonia italiana faz com que o filho mais velho vá estudar com isso o primogênito, irmão do meu pai, Dr. José Armando Magliocca foi estudar medicina em Niteroi. Os demais filhos permaneceram trabalhando para que ele estudasse. No total eram oito filhos: José Armando, Maria José, Dejanira, Filelfo, Armando,Yolanda, Argeu, Delfos que faleceu ainda criança. Recentemente estive pesquisando em Mococa assentamentos em cartório, e consta em alguns documentos: “Foi declarante Seu Chico”. Em outro documento está escrito, “Foi declarante fulano de Tal, trabalha com Seu Chico”.
Em São Paulo, ainda criança você morava em que bairro?
Inicialmente nas imediações da Avenida Paulista, depois nós mudamos para o bairro Paraiso. Meu avô paterno já estava morando em São Paulo, foi morar na Vila Clementino, lá tinha chácara, onde passava um riacho, com essa água regavam as plantas. A família Comenale era a dona da chácara. Isso na década de 50. Lembro-me que eu usava o bonde 47, aberto.
Comecei a estudar na Escola São Francisco de Assis, um colégio de freiras muito bem conceituado, ficava na rua atrás da minha casa, a Borges Lagoa. Ali fiz o meu curso primário, quando conclui o curso, fui para o Liceu Pasteur (Lycée Pasteur de São Paulo)
Situado na rua em que eu morava, Diogo de Faria, ali cursei até o segundo ano ginasial, foi onde tive uma excelente base de francês, onde fiz meus primeiros discursos: da Turma, discurso da entronização da imagem de Nossa Senhora, lembro-me que o Sr. Carlos Coury, gerente do Banco do Brasil, doou uma gruta, ele, os filhos, tinham estudado lá. Esse discurso foi meu pai quem escreveu, eu o tenho até hoje guardado. Lembro-me que para fazer esse discurso, tive que subir em uma cadeira senão não seria visto. Eu era sempre convidado a discursar, embora quem escrevia era o meu pai. Minha mãe dizia que as outras senhoras diziam: “Esse menino parece um diabinho na rua, e agora todo certinho, de gravata, imponente!”. Ali também fiz a minha primeira atuação em teatro, a peça de final de ano fiz no Teatro João Caetano nas quais eu acompanhava a apresentação de Memo e Martini, eram dois sócios que locavam o teatro para fazer as apresentações dominicais. Como era atrás da minha casa, eu não saia de lá. Posso até dizer que um pouquinho da minha veia artística tenha nascido ali. Acho que nasceu comigo, era uma chance de por para fora. Na minha família, uma das coisas de que me lembro é dizerem: “O Fernando fala muito bem! Vai ser advogado!”. Eu tinha um tio advogado! Ele era como um espelho para mim. Ele falava muito bem, de um cunho político muito forte, foi braço direito do prefeito, governador e presidente Jânio Quadros.
Você chegou a conhecer Jânio Quadros?
Eu não saia da casa do Dr. Gilberto Magliocca, pena que ele faleceu muito novo, e o Jânio esteve no velório do amigo, na casa dele.
Que idade você tinha quando conheceu Jânio?
De uns 14 para 15 anos.
Qual era a sua impressão do Jânio?
Achava que era um cara bacana, batuta. Nunca me liguei no que alguns falavam a respeito dele. Era uma pessoa definitiva no que falava, tinha uma credibilidade muito grande. Sempre fui fã dele. Meu pai, meus tios, tinham amizade com ele. Eu era apenas um garoto.
Jânio tinha um carisma muito grande!
Sem dúvida! Era um líder! Como não sabemos até hoje o que de fato aconteceu, as tais de “forças ocultas” até hoje continuam ocultas! Em vista de tudo que aconteceu depois, descobrindo hoje o Brasil que foi plantado lá atrás, muita gente adivinhava e adiantava o que era e como seria, não acreditávamos, pelo menos eu. Confiei muito, fui muito otimista e principalmente àquelas frases: “Brasil, um país a caminho do seu grande destino!” Só não sabia qual era o grande destino! Mas eu acreditei! Findado o segundo ano ginasial, o meu pai solene e carinhosamente, disse querer oferecer tudo que ele não teve a oportunidade de ter: “-Não tive chance de estudar, não tive bicicleta, não tive carro, nunca andei de avião eu quero oferecer isso para você! Para isso você não pode sair por ai trabalhando, tirando o foco dos estudos, quero que você se forme e daí para frente você será livre!”. Eu me virava, fazia teatrinho, vendia gibi, para ter o meu dinheirinho e fazer as minhas coisas, eu tinha vergonha, com a idade que eu tinha ficar dependendo dele. Meu pai trabalhava muito. Ele disse-me o Professor Dr. Nilo Magalhães Ribeiro, colega de Guaxupé, me chamou para montar uma etapa do colégio que ele dirigia em São Paulo, o Colégio Estadual e Escola Normal Nossa Senhora da Penha. O Colégio Estadual era uma coisa. Escola Normal era outra coisa. Mas para ser Instituto de Educação, ter uma verba maior, e ter um nível considerado o número 1, tinha que expandir. Naquela época quem tinha essas qualificações era o Colégio Estadual de São Paulo e o Caetano de Campos. Ele queria equiparar-se a essas escolas. Ele pediu ao meu pai para montar o curso noturno. Iria se transformar em Instituto de Educação Nossa Senhora da Penha. Meu pai era guarda-livros e normalista. No terceiro ano do ginásio transferi-me para o Estadual da Penha. Quando conheci uma senhora muito brava chamada Maria Amélia Fraga de Toledo Arruda que era tida como a mais impetuosa, difícil, o povo tinha medo dela, ela era professora de francês. Ao chegar lá, tirei uma nota 10! Não tinha grande segredo, eu tinha saído de uma escola francesa! Ela saiu pelos corredores alardeando: “- Consegui dar 10! Consegui dar 10!” A alegria dela foi ter pego uma prova completa. Isso me valeu alguns elogios de todos os professores. Embora o fato de ser filho do Seu Armando, o secretário, era mais um motivo para olharem com certo rigor, se não havia alguma deferência. Quando fui para o colegial,  um dos meus tios, meu padrinho, um famoso engenheiro químico era diretor do Instituto Cenográfico da USP, Argeu Magliocca. Eu achava que deveria ser um químico. Não só porque gostava, achava interessante, ganhei um aparelhinho, um kit, chamado “O Pequeno Químico”, fabricado por uma empresa alemã. Misturava líquido “A” com liquido “B” dava o  “Sangue do Diabo”,  outro saia fumaça, eu achava aquilo lindo e também achava que química era só isso. Com isso optei em fazer o curso científico. Ao final do primeiro bimestre, o Professor Nilo Magalhães Ribeiro me chamou, disse-me: “Gosto muito do seu pai, gosto muito de você, da sua família, mas com essas notas você jamais vai terminar o curso”. Era coisa de 3 em química, 4 em física, 4 em matemática, em compensação inglês 8, português 10. O professor então me disse: “Pela minha experiência você é um aluno da área de ciências humanas. Minha sugestão: troque agora!”. Prosseguiu: “Troque para o clássico. Todas as matérias que você não tem aqui, no clássico vai ter zero: latim, geografia vai ter zero. As notas que você tem aqui eu transfiro. Se você passar com 5 no final está bom.” Nem falei nada para o meu pai, mudei de curso. Ai vem uma coisa curiosa. Fui passar as férias em Aguaí, o governo estava fazendo silos, incentivos para que as pessoas pudessem plantar, criando Casas da Lavoura. O Dr. Venerando Ribeiro do Vale, meu tio, casado com a minha tia Yolanda, foi para Aguaí, comprou uma casa e íamos passar as férias lá. Um rapaz chamado Lucas, evangélico, namorava a minha prima, atravessou a rua com uma caixinha retangular, branca, que me chamou muito a atenção, perguntei o que era aquilo, ele disse-me: um gravador de som. A marca era Philips, a caixinha tinha dois rolinhos de fita, aquela fita passava por um mecanismo que naquela época eu não sabia o que era.  Fiquei muito interessado e perguntei-lhe o que ele fazia com aquilo. Ele disse-me: “Com isso eu faço o culto!”. Durante a apresentação na igreja, eu faço uma preleção, eu uso algumas músicas de fundo. Ele ligou em uma tomada, na casa da minha tia, e dali saiu a música que era tema do filme “Exodus” criada por Ernest Gold cantada por um grande coral. Aquilo ficou impregnado em mim.
Em que ano foi isso?
Por volta de 1962, Expliquei ao meu pai o que eu queria, ele não entendeu muito bem, fomos ao Mappin, não tinha. Fomos a Mesbla, tinha um gravador italiano da marca Geloso, com teclas coloridas. Meu pai fez o sacrifício de comprá-lo para mim. Meu pai e eu estávamos na Mesbla, no momento em que fechamos a compra e estávamos indo ao crediário, vimos cair papel picado por toda a rua, alguém comentou: “O Jânio renunciou!”. Nesse exato dia, nesse exato momento a TV TUPI de São Paulo entrou no ar em edição extraordinária e deu essa informação. Comecei a elucubrar o que vou fazer? O que posso fazer? Até que surgiu uma idéia: o pessoal do Centro Acadêmico faz um jornal, mimeografado, chamado “O Fofoqueiro”. Era uma página com umas brincadeirinhas, filmes da semana, piadas. Falei com dois colegas: “-Vamos fazer um jornal falado?” Eu gostava de ouvir os jornais das rádios, meus pais ouviam o “Grande Jornal Falado Tupi”. Até que um dia ouvindo a voz de Corifeu de Azevedo Marques que era o líder do Jornal Falado Tupi, passei mal, não podia mais ouvir a voz do Corifeu. Mudamos para a Rádio Bandeirantes e passamos a ouvir o jornal dessa emissora. Eu gostava daquele jeito de fazer as coisas. Muitas vezes me tranquei no quarto, peguei o Jornal “O Estado de São Paulo”, coloquei a mão sobre o ouvido, porque via todo mundo falar assim, não sabia por quê. Com uma régua na mão simulava que estava lendo o jornal. Provavelmente um locutor frustrado estava escondido aí. Falei com uma menina chamada Regina Célia Novais, que era uma colega, convidei-a a fazer um jornal falado. Chamei um rapaz chamado José Norberto Paschoatti, que se tornou depois um grande advogado e foi ser diretor do Departamento Jurídico da RCA Victor, chamei um rapaz chamado Genildo de Oliveira Fonseca, que era tão curioso, brincalhão, espirituoso que ele se assinava 907 , 9 era “G” de Genildo, “0” era o “O” de Oliveira e o “7” o “F” de Fonseca! Ele era o 907! Narrava futebol do Clube Nitroquímica de Guarulhos. Era primo do cantor Antonio Marcos. Na nossa formatura, Antonio Marcos foi gentilmente cantar para nós, como primo do formando. Nossa família mudou-se para a Rua da União, 92. Em um sábado, após umas oito horas e meia, com um bolo fornecido pela minha mãe, conseguimos gravar menos de 10 minutos. Após uma chuva de idéias, escolhemos o nome do jornal “O Boato” e o Genildo completou “Um jornal de fato”. Eu tinha comprado recentemente um sistema de som da Telefunken, enorme, tinha rádio, vitrola, AM, AM Onda Curta, AM Onda Curta 2 e Onda Tropical. O som Stereo ainda não existia, mas o Hi-Fi já. Daí para frente, já de posse do meu gravador Geloso, que tinha um microfone quadradinho, com uma haste metálica, que era para ele ficar em pé. Prendi o microfone na caixa de som, eu falava, subia e descia o som e ainda soltava o disco. Com isso esse jornal de 8 minutos e pouco, levava oito horas para gravar, porque não tinha como editar. Quando errava começava tudo de novo. Comecei a escrever umas idéias no papel que eu não sabia que o mercado da publicidade iria chamar no futuro de teaser. (Técnica usada em marketing para chamar a atenção para uma campanha publicitária). Peguei um caderno de escola e escrevi: “Vem ai O Boato”; “O Boato vai mudar a sua vida”; “Você não vai viver sem O Boato”. Eu ia mais cedo para o colégio, levava fita durex da minha casa, colava no banco, para quando a pessoa fosse sentar ele lia o que estava escrito na fita. Durante uma semana fiz isso, e na minha cadeira também tinha isso. Aprendi a fazer um formato de letra, nos moldes de um cone de sorvete, Dava um aspecto oriental para a letra. Ficava escrito na lousa “O Boato”. Decidimos que o melhor horário para apresentar o jornal seria no intervalo de 15  minutos, apresentamos a idéia aos colegas e pedimos que cedessem 8 minutos, assim apresentamos o jornal em um dia marcado. Foi na quinta ou sexta feira, Na segunda feira Luiz Fernando Magliocca foi chamado a diretoria. O Professor Nilo Magalhães Ribeiro reiterou a amizade entre ele e nossa família, disse de forma séria: “A respeito de uma brincadeira que houve outro dia... Eu já me adiantei: “Antes de qualquer coisa, a culpa é minha, a idéia é minha, os colegas me ajudaram porque eu pedi, eles não tem culpa nenhuma, se tiver alguma sanção é a mim que o senhor deve dar”. O diretor então disse: “ A professora de língua portuguesa, ouviu falar, que a repercussão foi muito boa, ela quer dar a última aula do mês para vocês apresentarem quarenta minutos de programa, só que vocês tem que fazer algo ligado ao que ela está ensinando” Na época estudávamos Eça de Queiroz e Singularidade de uma Rapariga Loira. Tivemos que radiofonizar, fui o narrador e um dos vendedores da loja, personagem do romance. Regina Célia foi uma vendedora e a mulher que roubou o anel. Cada um de nós tínhamos dois ou três papéis. Fizemos a radiofonização de 40 minutos de um livro ! Meu pai comprou uma Eletrola Mappin, na compra ganhávamos Coletânea Clássicos Mappin. Eram nada mais, nada menos do que músicas regravadas, instrumental, comecei a tirar idéias de sonoplastia e ai nasceu uma outra vertente da minha vida.
Você utilizando os discos Coletânea Clássicos Mappin continuou apresentando o jornal falado “O Boato”?
Isso foi durante o segundo ano colegial inteiro. No final do ano tive hepatite. Com isso perdi o ano. Meus colegas foram para o terceiro ano colegial, e exigiram que eu continuassse a fazer “O Boato”. Meus novos colegas queriam que eu fizesse também um jornal, assim surgiu também “O Dinâmico”. Terminamos o curso, sendo que ao término do curso eu já tinha uma banda de rock, chamava-se “The Marble Faces” ou seja “Os Caras de Mármore” ao invés de Caras de Pau. Embora eu não tocasse nenhum instrumento, era considerado uma figura importante, tantoque me deram o nome de “Empregário”. Eu era empregado e empresário deles. Achava os locais para eles se apresentarem, montava roupas para eles, acordava quando tinha que viajar, dava xarope quando um ficava com a garganta ruim, mandava a passadeira deixar as roupas de apresentação em ordem. Quando surgiu o discoSgt. Pepper's” dos Beatles que tinha a letra atrás, passei a ser "back vocal". Meu inglês era razoavelmente bom e eu tinha a letra da música na minha frente. Fizemos algumas apresentações, em um ensaio de sábado a tarde, na casa do Deputado Santilli Sobrinho que era de Assis, a esposa dele Maria Aparecida Brando Santilli era assistente do Professor Soares Amora, que era o líder da USP na área de português,  literatura, na Faculdade de Ciências e Letras. Ela disse-me: “Fernando, fiquei sabendo que o Governador Laudo Natel vai assinar um decreto na semana que vem, para a criação de uma escola, que vai ter, curso de rádio, cinema, televisão, teatro, tudo que você gosta! Se eu fosse você iria atrás!” Rolando Morel Pinto que é professor de Assis está sendo convocado para vir aqui em São Paulo, montar um setor. Nessa época eu fazia cursinho, ainda não existiam os famosos cursinhos tão conhecidos atualmente, existia um professor muito famoso, um advogado chamado Geraldo Tolosa, e o Cursinho Tolosa que ficava exatamente onde hoje é uma escadaria da Estação Anhangabaú do Metrô, eu estava fazendo o cursinho para direito. Fui atrás da informação dada pela Dona Cida Santilli, na velha reitoria da USP me inscrevi. Tinha que escolher três cursos dos seis que a Faculdade de Comunicações teria.  Eram: : Biblioteconomia;Cinema;Jornalismo;Rádio e Televisão; Relações Públicas e Teatro. Escolhi: Rádio e TV; Jornalismo e Relações Públicas. Fiz o vestibular para direito, entrei na primeira chamada para Direito no Mackenzie. Fiz vestibular para a Escola de Comunicações Culturais que depois mudou o nome para Escola de Comunicações e Arte. Entrei na primeira convocação em primeiro lugar em Rádio e Televisão. Fui fazer as duas faculdades. Isso foi em 1967. A USP já era na Cidade Universitária. Como não tinha espaço para a faculdade, eles cederam dois meios andares do auditório e algumas salas não tinham muitas classes, era uma classe e todos juntos, as aulas gerais eram dadas no auditório, eram seis turmas de 30 alunos, totalizando 180 alunos, Isso para as aulas gerais. E as  aulas específicas só iriam começar no segundo ano. Tínhamos noções de cada coisa: cinema, teatro rádio, televisão. No segundo ano precisava desse auditório pra 180 alunos e mais outro auditório de 180 para a nova turma. E as aulas específicas. Apaixonei-me muito pela área, inclusive por televisão que eu não sabia nada a respeito. Tive a sorte de observar um acordo da TV Educativa, que seria mais tarde a Fundação Padre Anchieta, o Governo do Estado tinha acabado de comprar dos Diários Associados uma televisão chamada TV Cultura. E não sabiam o que iam fazer com aquilo. Como não tinham câmera, não tinham nada, começaram a pedir emprestadas as câmeras da USP. Lá na USP tínhamos acabado de receber da Ford Foundation um grupo de três câmeras apenas, com alavanca que trocava a lente, imensa, pesada. Ali começamos a fazer os trabalhos de aluno. Sendo que a tarde, como não havia a aula, a TV Cultura começava a fazer o piloto do Curso de Madureza , que viria a ser aprovado ou não, pelo MEC, para depois ir ao ar. Comecei a bisbilhotar com todos os funcionários da TV Cultura, o que significava cada detalhe dos equipamentos. Quando cheguei no terceiro ano, tranquei a faculdade de Direito no Mackenzie. Não dava tempo, tinha que fazer trabalhos de gravações, eu fui só me dedicar a USP. Ficava o dia inteiro, só ia dormir na minha casa. Eu não tinha carro, mas tinha uma colega que fazia biblioteconomia que me levava no fusquinha dela. Ali desenvolvi outro trabalho, pegamos um intervalo, pedimos a um rapaz chamado Walter, era um técnico que fazia instalações de aparelhos: “-Walter não dá para você colocar televisores?”. Entenda-se televisor como monitor. Pedimos para colocar na entrada da reitoria. Queremos inventar um telejornal. No intervalo da aula saíamos correndo e íamos fazer uma apresentação. Fomos falar com o diretor Prof. Mário Guimarães Ferri. Ele autorizou, instalamos dois ou três televisores no pátio, bolamos um jornal, o colega Murilo Marques Belezia, natural de Itapeva, não a paulista mas a paranaense, ele deu o nome de “Momenta” ao jornal, plural de momentum, começamos a captar tudo que a USP fazia,produzia e mandava por mimeografo, Noticias da USP, não era a Voz do Brasil, não era nada no sentido de transmitir o original, ou o que o patrão quer, mas era uma maneira de tirarmos idéias. Ali montamos um primeiro tele-jornal, e que por falta de pessoas, um colega apresentava, Maria Helena Rennó fazias duas câmeras, eu fazias as vezes: direção de TV e sonoplastia. Em função disso quando cheguei no terceiro ano da faculdade, tinha uma matéria chamada Técnicas de Som e Sonoplastia. Como é praxe em qualquer faculdade, a pessoa para dar aulas tem que no mínimo ser graduada em outra coisa, e Técnica de Som e Sonoplastia apesar de ter grandes nomes como Laurindo Salvador, Salatiel Coelho, a quem reverencio até hoje. Eles só tinham curso primário. Quando levantaram tudo que estava perto deles e não tinha ninguém para dar aula e o curso ia começar, reuniram-se e sortearam alguém. O diretor Eduardo Peñuela Cañizal me chamou e disse-me: “Acho que a única maneira de termos esse curso é você dar aulas para os seus colegas.”. Disse-lhe:”-Mas  não sei nada!”. Ao que ele respondeu-me: “-Todo mundo fala que você gosta, pega a grade, estuda e vai dar aulas para eles”. Transformei-me em um professor momentâneo durante um semestre dando aulas aos meus pares. Inclusive grandes nomes que estão ai no rádio e na televisão foram meus colegas. Estavam lá: Ethevaldo Mello de Siqueira, Walter Sampaio (João Walter Sampaio Smolka). Jose Possi Neto, irmão de Zizi Posssi, um grande diretor de teatro. Todos foram meus alunos. No terceiro ano, os que tinham rádio e TV tinham matérias conjuntas. Tenho a lista dos 100 primeiros alunos da ECA. Para concluir, em meu diploma eu tenho um “X” nessa matéria, não tenho nem zero nem dez. Dei nota aos colegas, mas não pude ter nota. Em 1969, um grupo de três pessoas da TV Cultura foram visitar a Escola de Comunicações acompanhadas pela Professora Dra.Nelly de Camargo reuniram todos os alunos do penúltimo ano, comunicaram que iam abrir três vagas para alunos de comunicação. Esse emprego é estagiário não remunerado. Os três visitantes eram José Bonifácio Coutinho Nogueira, Oswaldo Sangiorgi, e outro rapaz de prenome Hélio. Eles viram três trabalhos, sem saber o nome, fui agraciado sem que eles soubessem que era meu. Fui estagiar na TV Cultura. Isso foi a 15 de novembro de 1969. Quando tenho a minha primeira marcação de carteira profissional.Na TV Cultura fiquei por oito anos. Criei um programa musical, na TV Cultura a nossa cruz era fazer produção de aulas. A TV Cultura só tinha curso de madureza e assemelhados. Para mim a sorte bafejou amplamente, me deram um curso de francês. Eu já era apaixonado pela língua francesa. Com isso me dei muito bem, fiz 3 séries de 90 programas. Só aumentava e crescia, consulado francês feliz, todo mundo doando filmes.   
Tinha Videoteipe?
O Videoteipe nasceu em 1969. Nós não tínhamos aparelhos suficientes para tudo isso. Os filmes que passavam eram os originais. Alguns programas eram gravados. Para passar aquilo ao ar era muito maluco, tinha que tirar as fitas, alguém tinha que rebobinar mais tarde, já tinha que entrar outro programa. O videoteipe era um da marca AMPEX enorme. Não podia amassar a fita. Era um carretel em cima do outro. Não havia intervalo comercial. Tinha um Bray Tela com uma fotografia do Palácio Bandeirantes, que era uma fotografia recortada, colada na madeira, e um buraquinho embaixo onde ficava um relógio, o locutor da época era um gaúcho de voz aveludada, dizia: “Em São Paulo 19 horas e 30 minutos, no Palácio dos Bandeirantes é hora de (tal coisa), TV Cultura. E ai vinha a seqüência. Eles falavam isso para fazer a ligação do Palácio Bandeirantes recém-inaugurado com a TV Cultura. Após 4 anos na TV Cultura, no dia 14 de abril de 1972, recebi 4 filmes clips, fui assisti-los em uma sala de projeção em que cabiam 6 pessoas. Quando olho para trás, está cheio de crianças, todos olhando para aqueles filmes. Como eram todos office-boys, um foi chamando outro, eu pensei: “-Isso aqui é para jovem!”. Mediante os quatro filmes levados por José Roberto Povea, um divulgador da RCA Victor, montei um programa. Ofereci a minha chefe, Dona Nydia Lícia ela disse que iria pensar, tendo em vista a linha de programação que a TV Cultura seguia. Enquanto eu produzia uma série chamada “Efemérides” dentro de um curso obrigatório: Educação Moral e Cívica, nessa área de “Efemérides” eu contava a História do Brasil. Estava na maquiagem a filha de Nydia Lícia, era atriz. Perguntei-lhe se ela conhecia determinado cantor ? Ela disse que adorava. Perguntei se ela imaginava ver um filme com ele. Naquela época era comum, quem tinha condições financeiras, ter um projetor de 16 milímetros em casa. Eu emprestei a ela. Na segunda-feira Dona Nydia Lícia me chamou e disse: “- Luiz Fernando vamos fazer um pilotinho daquele programa?” Chamei uma voz que eu idolatrava, Não o conhecia,era locutor da Rádio Difusora, liguei e perguntei-lhe se ele poderia fazer um teste na TV Cultura. Ele foi!.
Qual foi a reação dele?
Eu disse-lhe que não tinha verba, se der certo eu contrato-o. Deu certo, Dárcio Arruda foi fazer as falas, cerca de 5 minutos. O resto era junção de pedaços de filmes, eu tinha aprendido na faculdade a fazer um a montagem especial, quadro a quadro, e ali usei essa técnica e fiz um programa que durou 25 minutos. Foi para uma fita denominada “Fita de Emergência”. Escrito “TV2 POP SHOW”, foi o nome que eu achei que devia dar. Chegou um sábado, que era dia de filme, a equipe de Waldir Bonnas que era o diretor de cinema nosso, falhou, não sei dizer quem, falhou na minutagem, talvez tenha copiado errado ou talvez tenha sido enganado pela origem. O filme que deveria ter 150 minutos não tinha. Tinha 130 minutos. Acabou o filme o chefe do controle mestre saiu gritando: “Pelo amor de Deus me arruma 20 minutos de qualquer coisa!”. A idéia era sempre pegar alguma coisa de consulado ou alguma coisa de emergência. O Luiz da videoteca disse: “- Tem um negócio que o Magliocca gravou outro dia, não sei o que é!”. “TV2 Pop Show” estreou sem nenhum aviso, chamada, sem ninguém saber, nem o criador dele! Foi para o ar das 19:00 às 19:30. Sábado. Não deixa de ser um horário bom. O telefone não parava de tocar, e no sábado era atendido pela central técnica. Ele fez o relatório, entregou como todo fim de semana. Dona Nydia Lícia me chamou. Quando cheguei lá ela disse-me: “-Luiz Fernando, nós tivemos boas informações a respeito do trabalho que você fez! Podemos pensar em fazer alguma coisa para o futuro.”. No sábado seguinte, a programação normal, com filme, o telefone não parava de tocar, queriam ver o programa que tinha estreado no sábado passado. Na segunda-feira Dona Nydia me chamou e disse-me: “-Luiz Fernando, vamos pensar em fazer um programa por mês, especial!”.
Você vibrou?
Só que eu não tinha filme suficiente, teria que pedir para as gravadoras. Foi ai que descobri o filão, que era possível conseguir os filmes de outras gravadoras. Na realidade as gravadoras estavam de olho nesse filão. O único detalhe é que não sabiam com quem falar. Jorge Gardia, então diretor artístico da TV TUPI, da Rádio Difusora e da Rádio Tupi de São Paulo, chamou Dárcio Arruda e disse-lhe para escolher ou Tupi ou Educativa. Na Difusora Dárcio fazia rádio, Jorge Gardia deu-lhe um programa de musica pop na TV TUPI. A semelhança do que eu tinha criado. Tive que sair correndo atrás de outro locutor para fazer aquele eventual programa mensal. Descobri Henrique Regis, que tinha uma voz bonita, marcante. Trabalhava na Rádio Excelsior. A TV2 Pop Show estreou a 12 de abril de 1972 e ficou no ar por 16 anos, depois do futebol era o segundo programa em audiência. Quando eu sai recebeu o nome de Som Pop, recebeu um apresentador, Kid Vinil.
Por que você saiu da Cultura?
Walter Guerreiro, produtor independente estava criando um estúdio, “Studio Free”, ele me propôs um programa nos moldes do Pop Show, chamou para apresentação Antonio Celso,  diretor da Rádio Excelsior de São Paulo, “A Máquina do Som”. Antonio Celso me levou para a Rádio Excelsior para fazer o “Som Pop”. Eu era professor da ECA, sou o primeiro ex-aluno da ECA a ser chamado para ser professor da ECA. Me formei em 1970, em 1971 estava dando aula. De manhã aula, a tarde TV Cultura, a noite Rádio Excelsior. Permaneci na Rádio Excelsior por três anos, saí da rádio. Tirei férias, estava na praia com minha família, quando meu pai chegou com o recado de que eu deveria telefonar no sábado as 21:00 horas para o Dárcio Arruda. Ele tinha sido convocado para ser apresentador do telejornal da TV TUPI, liguei de uma cabine telefônica do Guarujá, e o Dárcio me disse que segunda-feira eu deveria estar em uma reunião às 10 horas da manhã a Rua Afonso Bovero, 52.
Como foi essa reunião?
O Sr. Helvio Mencarini diretor superintendente do Grupo Associados, fui convidado a ser diretor da Rádio Difusora. Eu tive a grande chance de por em prática as minhas idéias. Fui a Cultura e pedi demissão. Durante 30 anos fui professor, 14 anos da USP e 16 anos na FAAP. Nos mesmos 30 anos eu estava trabalhando em algum setor de rádio.
Você permaneceu na rádio até quando?
Até fechar! Nos anos 80 faliram a TV TUPI, Rádio Tupi, tive o desprazer de ser o último diretor da Rádio Tupi, quando recebi do DENTEL o aviso de que seria lacrado o transmissor, quem levou o cinegrafista para filmar o desligamento da antena para tirar do ar em definitivo a Rádio Tupi, para passar na TV TUPI a noite.
Você prosseguiu na área?
Continuei dando aulas, fui chamado por uma empresa chamada LEC de Carlos Colesanti e Luiz Casalli para ser gerente de marketing e de produção da empresa deles. No terceiro mês, recebi uma ligação do Sr. Antonio Augusto Amaral de Carvalho Filho conhecido na vida artística como “Tutinha”, dizendo: “-Dá uma subida aqui!”. Isso significava que iria andar três quadras e meia e estar na Jovem Pan. Fui lá, ele disse que iria montar uma Rádio FM, queria que eu coordenasse a rádio. Disse-lhe quanto era o meu salário. Ele disse que aquele valor ele não poderia pagar. Eu disse-lhe que então não faríamos negócio. Ele reagiu em altos brados”-Mas eu quero você aqui!”, disse e deu um soco na mesa, que era do Sr. Fernando Vieira de Mello. O ambiente ficou tenso, todo mundo olhou. Ele insistindo: “Mas você vai trabalhar na Jovem Pan!”. Eu voltei para o meu humilde lugar. Dois dias depois ele me chamou novamente. Acertamos o valor que eu havia definido. Me tornei o primeiro Diretor Artístico da Jovem Pan 2, o FM mais ouvido de São Paulo, que entrou no ar no dia 25 de setembro de 1981 e eu estreei em 17 de outubro de 1981. Permaneci por três anos e meio na Jovem Pan. Fui chamado para dirigir a Rádio Cidade, onde permaneci por 4 anos, tive a idéia de trazer o Menudo para o Brasil. A Transamérica me chamou para trabalhar com ela, fui Diretor Nacional da Rede Transamérica. Por motivos profissionais sai da rádio, abri a minha empresa de comunicação, o Tutinha me chamou, para ser o chefe de promoções, criamos gincanas, peruinhas da pan, uma série de coisas que foram sucesso absoluto na época. Em paralelo recebo uma chamada da Rádio Bandeirantes para fazer um programa com a minha empresa, a Publinter, e a Voz da América, vai ser um programa gerado em Washington, você produz o programa na sua casa, e vem dirigi-lo na Bandeirantes no final de semana. É o primeiro programa via satélite, regular, todo sábado as 10 horas da manhã. Pedi demissão de novo na Jovem Pan e assumi essa produção independente. Como eu precisava falar com Washington todos os dias, o Tutinha tinha acabado de comprar um equipamento de ponta: "facsimile" ou simplesmente Fax, eu quis comprar um igual.  Comprei um , que guardo como relíquia. Durou 10 anos. Com isso montei um programa, que foi t]ao bem que fez a Rádio Bandeirantes entrar em primeiro lugar de audiência. Chamava-se “USA-Um Sábado Alegre”. Depois de absoluto sucesso aos sábados, por três meses, eles me propõe a direção da Rádio Bandeirantes. Fiquei pensando: Como vou dirigir Fiori Giglioti, José Paulo de Andrade? Durante quase 10 anos fui diretor da Rádio Bandeirantes. Criei a Rede de Rádio Bandeirantes como ela é hoje. Em seguida a Rádio Capital me chamou, onde fiquei por um ano. Eu participava todo mês de abril de um Congresso Internacional chamado NAB Show. Recebi um convite da NAB Show, comprei duas passagens só de ida, para mim e para minha mãe. Vendi carro,casa, móveis no sistema família muda, fui para Las Vegas onde tinha o congresso, depois Los Angeles, Florida onde aluguei um apart-hotel, na Collins,1411. Paguei três meses antecipado, tinha que ser assim. Abri uma empresa Publinter International Incorporation ela virou filial da minha empresa brasileira. Daí nasce uma luz: TV Globo Internacional, eu me meto a fazer textos para a TV Globo. A empresa representante de TV Globo em Boston perguntou se eu não queria ser representante deles na Flórida. Comecei a fazer comercial, vender comercial, produzir comercial. Produzi comerciais de produtos locais para a TV Globo, utilizei Leila Cordeiro e Eliakim Araújo, Dárcio Arruda, eu mesmo fiz dublagem, locução. Ali eu fui repórter da Rádio Trianon de São Paulo. Reporter internacional da revista Chic e Famosos. Permaneci nos EUA de 1 de abril de 1988 até 23 de dezembro de 2003 quando vim para São Paulo trazer a minha mãe para uma festa de Natal da família. Nessa festa, na Rua do Símbolo, conheci Sula Miranda, que era vizinha do meu primo. Desenvolvi outro braço da emprsa que são as trilhas sonoras, passei a representar 54 empresas, com clientes como TV Record, SBT, TV Cultura uma parte de Rede TV, e um pouco de efeito sonoro da Globo. Faço palestras. Hoje tenho um livro pronto: “Luiz FM, A História do Rádio Por Quem Fez Parte Dela”. 

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