PROGRAMA
PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 04 de agosto de 2018
Entrevista:
Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços
eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
( 100 anos de vida)
No sábado, dia 14 de julho, Alice
das Dores Dias do Carmo, recebeu em sua casa mais de 60 pessoas, familiares
amigos. Muitos percorreram centenas de quilômetros só para prestar uma
homenagem à Alice. Moradora de um chalé, no Lar dos Velhinhos de Piracicaba,
Primeira Cidade Geriátrica do Brasil, Alice ganhou uma bela fotografia com
moldura do Presidente do Lar dos Velhinhos, Dr. Jairo Ribeiro de Mattos. O seu
quarto parecia quarto de noiva tal o número de presentes que recebeu. O que causa admiração em Da.
Alice é a sua saúde física e mental. Atualizada, sempre disposta, falante,
ainda faz crochê, tricô, meias de tricô, sem emendas, usa duas ou quatro
agulhas de crochê simultaneamente, faz para seus familiares. E ainda consegue
ter tempo para fazer peças que doa a quem necessita. Tem o seu filho Alberto,
que está sempre ao seu lado. Isso não a impede de utilizar o fogão fazendo
quitutes.
A senhora nasceu em qual cidade?
Nasci em São Paulo, no Bairro
Bela Vista, a Rua Manoel Dutra esquina com a Praça 14 Bis. O Bairro era chamado
também de Bexiga. Filha de José Pedro
Dias e Tereza de Jesus Dias Ambos eram nascidos em Portugal, só que se
conheceram no Brasil. Meu pai veio muito jovem de Portugal, calculo que veio
com vinte e poucos anos. Ele casou-se com vinte e quatro anos. Ambos eram da
província de Trás-os-Montes. Ela nasceu em Bolsendi e ele nasceu em Bagueixe.
Quando a senhora era criança já havia túnel
na Avenida Nove de Julho?
O Túnel da Avenida Nove de Julho
foi inaugurado em 1938. Foi o início da migração do nordestino para São Paulo,
estava sobrando emprego. O túnel foi feito com homens cavando com água até o
joelho. Havia uns quinze a vinte burrinhos tracionando umas caçambas, os
burrinhos vinham um encostadinho no outro, saiam do túnel, os meninos de 14 a
15 anos recolhiam a terra e enchiam a caçambinha, os burrinhos circulavam onde
hoje é a Faculdade Getúlio Vargas, iam até a esquina onde hoje é a Rua Manoel
Dutra com a hoje Praça 14 Bis. A praça era muito baixa, ali eles descarregavam
a terra. Os burrinhos voltavam novamente até o túnel, e assim foi. Eu morava na
Rua São Vicente quando assisti a inauguração do túnel. Foi uma festa muito
bonita. Do lado da Faculdade Getúlio Vargas existem duas
fontes luminosas, ali os trabalhadores faziam umas barraquinhas de madeira,
eles mesmos cozinhavam, lavavam a sua roupa, e ainda mandavam dinheiro para o
norte. Quase nenhum sabia ler, e meu pai tinha um salão de barbeiro na Rua
Manoel Dutra, quase na esquina da Praça 14 Bis. Ali o meu pai lia as cartas
deles e orientava, naquela época tudo que eles viam os camelôs vendendo achavam
que era feito com ouro. Eles diziam “Seu Zé isso aqui é ouro?”. Meu pai dizia:
“Não compre!”. Eles perguntavam: “Por que, mareia?”. (Mareia no caso é oxida,
escurece). Meu pai dizia para não comprarem esses relógios. Meu pai aprendeu a
consertar relógios com quarenta anos. Trabalhava durante o dia no salão de
barbeiro, a noite vinha para casa e consertava relógios. Conservo até hoje a
sua lente de relojoeiro.
Quantos filhos seus pais tiveram?
Eu e meu irmão Alberto que
faleceu com 30 anos.
A senhora estudou inicialmente em qual
escola?
Estudei em um colégio muito
bonito, na Avenida Rangel Pestana bem em frente à Rua do Hipódromo. Inicialmente, foi chamado de Primeiro Grupo
Escolar do Brás passando depois a receber o nome de Grupo Escolar Romão
Puiggari. Não pude continuar os estudos, em 1932 veio uma crise, meu pai perdeu
tudo! Tínhamos casa de móveis na Avenida Celso Garcia, 56, em frente a Rua
Joli, entre a Rua Bresser e a Rua Progresso. Èramos vizinhos ao Cine
Braz-Polyteama, em frente estava o Cine Progresso. Foi no período da Revolução
de 1932, não havia emprego, não havia nada. Morávamos em uma casa grnde, boa,
fomos morar em uma casa composta por um quarto e a cozinha. Os móveis que
tinhamos foram guardados nas casas de amigos, cada um levou um pouco. Dali
fomos morar na Avenida Nove de Julho do lado de lá do túnel, não havia ainda o
Túnel Nove de Julho. Do lado de lá chamava-se Rua Salvador Pires, entre a
Alameda Jaú e Alameda Lorena. Do lado esquerdo da Avenida Nove de Julho no
sentido de quem vai do centro para o bairro, havia chacaras de flores. Até ha
pouco tempo entre a Alameda Lorena e a Rua José Maria Lisboa havia casas no
estilo germânico. Eu trabalhei lá! Meu irmão com 1 ano e 8 meses sofreu
paralisia (poliomelite). Ele era um moço muito bonito, a parte do tronco não
desenvolveu. Eu disse ao meu pai: “Vou trabalhar, e o Alberto, como tem esse
problema físico precisa de um serviço mais leve”. O Alberto acabou de estudar
no Grupo Escolar Rodrigues Alves, na Avenida Paulista, essa escola existe até
hoje.
A senhora foi trabalhar em que lugar?
Fui trabalhar na Rua Íris, com um
casal que veio da Holanda, trouxeram uns fogõezinhos chamados “Jacarézinhos”
funcionavam com querosene. Depois minha mãe comprou um. Como eu era uma menina
muito comportada, naquele tempo já havia as “periguetes”, fui admitida. Na
Avenida Nove de Julho tomava o bonde Jardim Paulista que tinha o número 45. Bonde
aberto. Mais tarde é que veio o “Cara-Dura” que era o que carregava verdura dos
verdureiros. A passagem custava um tostão ou seja 100 réis. O outro bonde era
200 réis. O “Cara–Dura” dos verdureiros ia da Praça da Sé até a Penha, Belém,
Belenzinho, era o reduto dos verdureiros. Os verdureiros punham um saco de
verdura e pagavam um tostão. Antes de ir trabalhar com os holandeses na Alameda
Lorena tinha um casal que tinha dois filhos uma menininha e um menininho, fui
tomar conta deles.
Que idade a senhora tinha?
De 13 a 14 anos. Depois é que fui
trabalhar com os holandeses, pegava o bonde e ia até o ponto final do bonde
Jardim Paulista que era próximo a casa do Dr.Philippe Aché, proprietário dos Laboratórios Aché. Uma amiga nossa foi
trabalhar na casa do Dr. Aché, era revestida de pedra, uma casa muito bonita. Em
Portugal minha mãe pegou reumatismo nas mãos. Em dezembro lá cai neve e é tempo
de colher castanhas, eram colhidas a mão. Hoje as máquinas fazem esse trabalho.
Essa moça, nossa amiga, falou com o Dr. Aché sobre o reumatismo da minha mãe.
Ele disse para ir ao seu laboratório que ficava na Liberdade. Eles arrumaram
remédios para a minha mãe.
Que tipo de trabalho a
senhora fazia na empresa do casal holandês?
Meu serviço era sentar com uma
tabuinha no colo, em cima da tábua um papel celofane, tinha torradas holandesas
dos dois lados, eu pegava cinco de cada lado, colocava sobre o papel e passava
cola. Meu serviço era esse, enrolar as bolachas. Tinha uns biscoitinhos
chamados switchback. Eles viam que eu levava lanche, mas eu não era costumada a
comer lanche. O holandês disse a sua mulher para fazer um pouco mais de comida
e me dar um prato. Meu pai descia de bicicleta para economizar 400 réis das
passagens de bonde. Uma vez estava chovendo e o meu pai foi até o ponto final
do bonde, tirou o seu paletó e colocou nos meus ombros, subi no bonde. Veio o
condutor (Era o nome dado ao cobrador de bonde). Disse ao meu pai: “- O senhor
não pode tomar o bonde sem paletó”. Meu pai explicou que tinha oferecido o seu
paletó para sua filha, para proteja-la da chuva. Meu pai teve que descer do
bonde!
A seguir qual foi a atividade profissional do seu pai?
Um português, natural de Trás-os-Montes que
tinha vindo ao Brasil junto com o meu pai cada um tinha seguido um caminho,
agora se encontraram, o reduto onde os portugueses se encontravam era na
Avenida Tiradentes esquina com o quartel atualmente da Rota- Rondas Ostensivas
Tobias de Aguiar. Esse amigo disse: “Olha Zé Pedro, eu tenho um bar e o armazém
é muito grande, eu vou dividir com madeira, você põe uma cadeira de barbeiro
para começar a trabalhar”. Meu pai cobrava, como se fosse hoje, 50 centavos
para fazer uma barba, para cortar o cabelo, 1,00 real, em dinheiro da época
eram 10 tostões! Ali o meu pai ficou uma temporada. Meu tio morava na Bela
Vista, na Rua Manoel Dutra. Lá faleceu o proprietário de um salão de barbeiro,
que por acaso era amigo do meu pai. Meu pai falou com a viúva, a Rosinha e
disse-lhe: “Olha Rosinha, eu não tenho dinheiro agora, soube que seu marido
faleceu, eu queria comprar o salão”. Ela disse-lhe: “Você fica com o salão e
conforme for ganhando vai me pagando!”. E assim foi, ele já abriu um salão
melhor. Passamos a morar na Rua Manoel Dutra. Ali moravam umas moças que
trabalhavam em uma esquina na Rua Frei Caneca,92. Quase na esquina da Rua Caio
Prado. Era uma fábrica de toalhas chamada Define Frasca, eram dois
sócios e cunhados. Fui trabalhar lá, me colocaram para trabalhar em uma sala
onde vinham rolos de toalhas. Um rapaz apanhava o rolo e colocava sobre uma
mesa enorme, meu serviço era dobrar as pontas das toalhas, eram largas, toalhas
de banho, a cada 2 metros eu apertava um pedal que marcava na toalha “Indústria
Brasileira”. Um outro rapaz ia enrolando as peças marcadas. Permaneci nessa
empresa por quatro anos. Seu Vicente Defini via que eu levava café em uma
garrafinha de Magnésia Bisurada, eram uns vidros azul marinho. Na fábrica havia
uma caldeira onde esquentavam a água para tingir as peças de pano, colocávamos
o café sobre aquilo, esquentava como se fosse em banho-maria. O Seu Vicente
sempre pedia um pouco do meu café. Após quatro anos a fábrica mudou-se para
Mogi das Cruzes. Meu pai não deixava trabalhar longe. Éramos três amigas,
nossos pais portugueses, barbeiros! Elas eram portuguesas, nasceram lá e vieram
para cá.
Conseguiram arrumar outro emprego?
Arrumamos na Rua Augusta, quase na Rua Costa,
era como se fosse um barracão, só tinha seis teares. Ali trabalhei por quatro
anos, quando ele faliu. Aonde tinha sido a fábrica de toalhas, abriu uma
fábrica chamada Santa Terezinha, acho que ainda existe na Vila Formosa. O chefe
era muito exigente, não aceitavam moças que iam pedir emprego na porta da
fábrica. No Morro dos Ingleses tinha uma série de casas de árabes, a família
Maluf tinha uma casa enorme. Um amigo nosso trabalhava em uma vidraçaria e ele
foi lá na casa do Maluf, os banheiros eram inteirinhos de espelhos! Como ele
era uma pessoa bem vista nessa casa ele pediu para o Sr. Maluf se me arrumava
serviço. O Sr. Maluf disse: “-Mas eu não conheço essa moça!”. Esse nosso amigo
disse que se responsabilizava. O Sr. Maluf deu um cartão, disse para levar na
Fábrica Santa Terezinha. O porteiro quando viu o cartão chamou a chefe. Eles me
aceitaram na hora. Trabalhei um ano e meio lá e eles mudaram para Vila Formosa.
O que aconteceu?
Como o prédio era muito grande, uma parte foi
vendida para João (Jean) Nicolau. Ele era mocinho ainda, solteiro, subia em
cima dos teares, com a azeiteira na mão, azeitando os teares, quando aquele
serviço deveria ser feito por um mecânico. Trabalhei lá por dez anos. Lá que
conheci meu marido Roque Pedroso do Carmo, natural de Cotia, tivemos dois
filhos: Alberto Dias Pedroso do Carmo e José Antônio Dias
Pedroso do Carmo. Quando ele entrou eu já trabalhava lá, ele entrou como
ajudante de contramestre.
Como vocês começaram a namorar?
Foi muito interessante! As
grandes fábricas tinham uma área de iluminação com vidros na cumeeira (Parte mais alta do telhado no encontro de duas
águas). Um dia estávamos trabalhando, de repente começou a escurecer demais.
Parecia noite. Começou a trovoar, veio um temporal tão grande, aqueles vidros
quebraram-se todos. Embaixo eram rolos enormes, 200 quilos cada um, eram rolos
de ferro com seda enrolada. Quebrou tudo. Cada um corria sem saber para onde.
Sei que quando acabou a chuva o meu marido estava perto de mim, me abraçando,
tinha moça ajoelhada, dali em diante começamos a namorar. Isso foi no dia de
São Judas Tadeu, dia 28 de outubro de 1949, namoramos por três anos e casamos
dia 14 de fevereiro de 1952 no civil e dia 16 de fevereiro de 1952 na Igreja
Imaculada Conceição quase na esquina da Avenida Paulista com a Avenida
Brigadeiro Luiz Antônio. Meu filho Alberto estudou dez anos naquele colégio.
Quando nasci fui batizada na Igreja do Divino Espirito Santo, na Rua Frei
Caneca.
O
Bexiga tinha muitas personalidades da música, esporte.
Um deles é o Ministrinho! Nunca
se ouve falar dele! Era como são hoje Maradona, Neymar. O nome dele era Pedro Sernagiotto nasceu em São
Paulo a 17 de novembro de 1908 faleceu em São Paulo a 05 de
abril de 1965, conhecido como "Ministrinho",
foi um futebolista ítalo-brasileiro
e um dos mais importantes jogadores da história do Palmeiras no período em que a equipe se chamava Palestra
Itália. Ponta-direita, em 1929, foi considerado o jogador mais
popular da cidade de São Paulo,
por meio de uma votação promovida por um jornal da época. Ministrinho foi descoberto pela diretoria do
Palestra Itália jogando futebol nas proximidades da Rua Augusta, onde nasceu e passou a
infância. O Ministrinho era “sapateiro-remendão”tinha sua loja de consertos de
sapatos na Rua Augusta esquina com a Rua Antonia de Queiroz. O Ministrinho
carregava as bolas, quando iam jogar de um lado para outro, punha as bolas em
um saco e levava de bonde, pagava 400 réis de bonde. A família dele morava na
Rua Frei Caneca esquina com a Rua Penaforte Mendes. Ele depois de ganhar nome
no Palmeiras , era querido. Acho que ele deveria ser mais lembrado. Depois que
ele encerrou a carreira como profissional é que passou a trabalhar como
sapateiro-remendão, bem em frente onde meus filhos estudaram, eles mantém
amizades até hoje, muitos vieram aqui no dia do meu aniversário. Tenho o número
do telefone de todos eles.
Após casarem a senhora e seu marido
foram trabalhar onde?
Meu marido
quando solteiro morava na Rua Voluntários da Pátria, em frente a fábrica Klabin
dali ele tomava um bonde até a cidade, depois tomava outro bonde até a Penha, Lá
tomava outro bonde até a fábrica onde trabalhava. A Jean Nicolau mudou-se
adiante da Penha. Meu marido foi trabalhar lá, eu não fui. Na Bela Vista não
tinha mais fábrica. Eu tinha uma amiga que morava em Moema em frente a Igreja
Nossa Senhora Aparecida, o seu marido disse que ali nas proximidades havia uma
fábrica. Decidimos ir até lá. Tomava-se o bonde Santo Amaro, amarelo, fechado.
Quando chegava de um ponto ao outro apitava. Eles falavam de uma estação à
outra. Parecia trem. O bonde passava no meio da rua. Dos lados da rua tinha
como se fosse uma cerca de arame, até com plantas. Só nas ruas em que podia se
travessar havia uma catraca. Carros só atravessavam em determinadas ruas. O
condutor andava pelo meio do bonde cobrando dos passageiros.
Como foi a recepção na
fábrica?
Chegamos,
era um prédio muito bonito, com a bandeira brasileira, o porteiro fez o mesmo
discurso “Aqui não aceitamos funcionários que vem pedir emprego, quem é bom
funcionário quando sai de uma empresa já está empregado em outra.”
Nós dissemos que
conhecíamos os Sr. Armando Crema.
O Armando
Crema era amigo da fábrica que trabalhamos na Rua Augusta. O porteiro o chamou,
quando ele me viu disse-me Bimba! Porque sempre fui magrela. Eu disse-lhe: “Seu
Armando, estamos vindo lá do Seu Pedro Saboldi. Ele disse: “Ce finito”.
Disse-lhe que queríamos trabalhar, ele perguntou quantas éramos. Disse-lhe:
“Por enquanto somos três!” Isso foi no dia 30 de abril. Ele disse: “Dopo domani
(depois
de amanhã) não pode porque é Primeiro
de Maio, mas depois pega a tesourinha e vem”. E assim foi. Eu já namorava com o
meu marido. Ele foi trabalhar lá nos cafundecos! No primeiro ano as minhas
amigas foram para a Argentina, passar as férias lá. A mestra de lá tinha
família na Argentina. Mas antes de irem o Seu Armando falou para uma delas:
“Onde vocês trabalharam não tem um ajudante de contramestre bom?” A Helena
Levolo disse que tinha sim, só que elas estavam indo para a Argentina. Ele
disse para quando elas voltassem falassem com ele. Passados uns 15 dias ele me
disse: “Bimba, a Helena me falou que tinha um ajudante, ele é bom?”. Disse que
era, se quisesse eu o levava no dia seguinte. Meu marido foi jantar em casa, eu
disse-lhe: “Amanhã você não vai trabalhar, vai encontrar comigo lá”. Meu marido
tinha 1,64 metros de altura. Depois de um mês que o meu marido estava lá, o
mestre geral chamado Antônio Capellordi,
disse: “Seu Armando, o fulano não é ajudante, ele já é contramestre!”.
Na mecânica meu marido era maravilhoso. A meninada me torricou a vida, porque
eu era mais velha do que ele 7 anos.
Todas meninas novas, ficamos 56 anos casados! Depois de um mês já era
contramestre, Quando me casei eu ganhava 2.500,00 e meu marido 2.000,00 no
dinheiro da época. Acabamos levando para a empresa de 10 a 15 amigas que
trabalharam conosco anteriormente. Meu marido além de eficiente não era
brincalhão, as meninas diziam: “Alice! Seu marido é antipático!”. Ele me dizia:
“Se eu der risada das brincadeiras delas, elas não me respeitam”. Essas
fábricas trabalham com produção. Continuei trabalhando mais uns quatro ou cinco
anos. Quando meu filho Alberto tinha um ano e dois meses, nasceu o José
Antônio, meu marido falou: “Alice, agora você não vai trabalhar mais”. Meu
marido ficou lá 22 anos. Em frente era a fábrica de garrafas térmicas Termolar.
Havia uma certa disputa
entre funcionários?
Nós que
trabalhamos com o Nicolau, um patrão muito exigente, tínhamos adquirido hábitos
muito profissionais. A mão sempre muito limpa, quando entrei fui fabricar cetim
para forrar sapato de madame. Fazíamos com seda vinda do Japão e da China,
tecido de seda para fabricar paraquedas. Quando entrei perguntaram-me se eu
transpirava nas mãos. Eu disse que não. “É que a senhora vai trabalhar com uma
fazenda que não pode ser lavada. Conforme a senhora faz o tear automaticamente
vai para a loja”.
Recebia em dinheiro o
salário?
No dia em
que recebíamos, meu marido e eu tomávamos um taxi! Nós descíamos do bonde na
Igreja de Moema, tinha que andar quatro quarteirões até chegar na fábrica.
Naquela época o ônibus passava pela Avenida Nove de Julho, passava atrás da
Igreja de Moema e ia para o Aeroporto de Congonhas. Eram ruas todas de barro. As
vezes o Sr. Manoel nos dava uma carona por quatro quarteirões. O Seu Armando
morava um quarteirão adiante da fábrica. Antigamente na Padaria Palestra na Rua
Treze de Maio, todos os dias íamos comprar um quilo de pão, eles davam um
cartão, juntávamos 60 cartões eles davam um saco de farinha vazio, eram sacos
de material bom, o pessoal fazia lençol, toalhas. Eu pegava aquele saco, minha
mãe lavava, alvejava, engomávamos para não ficar mole, aquilo eu amarrava ao
lado dos teares, o fio era tão fino que as vezes a gente precisava deitar sobre
os teares. Com a unha dava nó de tecelã. Os sacos impediam que encostássemos na
seda. Durante o horário de serviço não saiamos de jeito nenhum. Entrávamos as
sete horas, sete horas já estávamos lá. Se tocasse o apito das sete horas e o
funcionário estivesse do lado de fora, já perdia o dia. Seu Armando dizia:
“Vocês antes das sete horas já estão aqui, essas moças que moram em volta da
fábrica, as sete e dez é que vem vindo”. Umas moças moravam no Belém, na Penha,
em frente ao Cemitério Quarta Parada, iam trabalhar lá. A Fiação Indiana era um indústria muito grande, ia da Avenida Ibirapuera até a rua
de trás. Quem quisesse trabalhar lá tinha aluguel bem baratinho. Algumas moças
vinham de lá. O Seu Armando disse que ia pagar o ônibus para nós que morávamos
distante da fábrica. Chegamos a pegar taxi para chegar no horário. O porteiro
viu, ele ficava no meio da rua que era reta, íamos correndo, fazíamos sinal ele
já marcava o cartão. O Seu Armando chegou a pagar taxi para mim e meu marido.
Havia as invejosas. Naquele tempo o pagamento era em dinheiro, dentro de um
envelope. Quem fazia o pagamento era a Flora Montanaro. Ela vinha com uma
bandeja, ao invés de chamar o funcionário em seu escritório. Os envelopes que
ele dava para o nosso ônibus, ao invés de ela dar junto, ela separava, depois
de distribuir os pagamentos, ela balançava os envelopes, todo o pessoal no
salão ficava olhando. Perguntaram por que o pessoal da Jean Nicolau tinha um
envelope extra. Ela disse: “Ele paga a condução para elas!”. Algumas moças
disseram que iam nos agredir no caminho. Tinha uma que era muito minha amiga,
avisou-me. Contei ao Seu Armando, ele disse: “Olhe bem o rosto de cada uma,
quem fizer alguma coisa contra vocês estará despedida”. Eu disse a Dona Clara,
que tinha falado com o Seu Armando. A Dona Clara falou para elas, dali em
diante fomos bem tratadas por todas. Quando ele queria mudar alguma coisa na
fábrica que envolvesse o pessoal convidava todos para ir até a sua casa. Hoje,
onde era a fábrica, funciona o Shopping Ibirapuera.
Quando a senhora deixou a fábrica aonde ficava a sua residência?
Na Rua
Rocha, 293, morei 25 anos nessa casa. As vezes íamos ao Teatro Maria Della
Costa.
Já tinha a Escola de
samba Vai-Vai?
A Vai-Vai
era em uma casa em que morei na Rua Rocha, no fim da Rua Rocha era um riozinho
que vinha lá de cima da Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, agora é uma rua.
Eles ensaiavam ali?
Em outubro
começam os ensaios, ninguém dormia! Meu marido levantava cedo, morando ali ele
entrava as sete horas, ele dormia com um travesseiro colado em cada ouvido.
Eles ensaiavam ali e iam desfilar na cidade. Uma vez o pessoal da Bela Vista
reuniu-se e disseram: “Quem aguenta o barulho e a bagunça de vocês é o bairro,
quando é para desfilar vocês vão desfilar na cidade?”. A partir desse dia eles
davam uma volta na Rua Treze de Maio e depois iam para a cidade.
Vocês nunca desfilaram?
Não! Meu
marido quando era solteiro tocava cavaquinho em um conjunto de cinco rapazes.
Se fantasiavam, fantasia de pobre é todos usarem roupas iguais, juntavam
casais, íamos primeiro no Brás, ali era o forte do carnaval, também na cidade e
no Largo da Concórdia. Até a Rua Bresser. Nós morávamos ali com a casa de
móveis, o meu pai acolhia os amigos que iam ver o corso, ele colocava um tábua
encostada na parede, ali sentavam e ficavam vendo a folia. As serpentinas eram
tantas nos carros, eles tinham rodas raiadas (como as bicicletas) os carros
paravam porque as rodas não viravam mais. Encostavam, já naquele tempo vinha o
pessoal tirar aquilo para vender, como papel.
Lembro-me quando meu pai
tinha casa de móveis e vendia também armas.
As armas
ficavam fechadas em uma vitrine. Meu pai vendia também máquinas de costura. Ele
pegava uma máquina que estivesse bem maltratada, consertava, colocava os
adesivos da Singer, a máquina saia da mão dele novinha. Nunca se dava a arma na
mão do comprador. Meu pai estava doente, ele disse a um moço que o ajudava:
“Seu Antônio, você fica na loja”. E eu ficava lá também. Chegou um senhor e
queria um revólver, Seu Antônio como não era acostumado a servir freguês, pegou
o revolver e deu na mão dele. A nossa casa
era nos fundos da loja. Seu Antônio se descuidou por uns instantes, o freguês
entrou, meu irmão e a minha mãe estavam no quintal, ele pediu licença e entrou
no banheiro, quando ele saiu de lá meu irmão disse: “-O homem se matou!”. Minha
mãe não acreditou. Meu irmão disse ter visto a camisa dele suja de sangue.
Minha mãe foi lá na frente, perguntou ao Seu Antônio o que tinha acontecido.
Ele disse: “O homem disse que deu um tiro, devolveu o revolver, disse que o
mesmo não presta. Só que eu vi que ele estava com a camisa com sangue.
Perguntei-lhe aonde ele iria com a roupa daquele jeito”. O candidato a suicida
disse: “Se a arma fosse boa me deixava no lugar”. Seu Antônio disse-lhe: “Você
não vai chegar nem na esquina vai ser preso”. Ali perto tinha batalhão. Não
demorou muito chegou a polícia com ele. O meu pai foi chamado, o policial disse
ao candidato a suicida: “-Você sabe que poderia prejudicar essa família?” Ele
respondeu: “Não! Eu tenho uma carta aqui dizendo porque eu estava me matando”.
O resultado foi uma dor de cabeça bem grande para todos que viram. O revolver
foi apreendido, era uma arma pequena, o cano dobrava sobre o cabo, próprio para
pôr no bolsinho que os homens usavam na calça.
A senhora conheceu Gino
Amleto Meneghetti?
Meneghetti eu conheci! Minha amiga trabalhava na
loja “A Exposição” na Praça Patriarca esquina com a Rua São Bento. O pessoal
que trabalhava lá, de vez em quando podiam visitar tecelagens, abrigos, cadeias.
Ela me convidou, fomos todos fazer uma visita à penitenciária. Tomamos café da
manhã, almoçamos, visitamos as dependências, o Meneghetti ninguém chegava
perto, ele cuspia na gente, xingava. Fui ao cinema deles, as cadeiras não tem
encosto. Lá atrás ficava um guarda, na frente outro. Fui onde faziam colchões,
onde faziam bolas. Tinham oficinas de tudo.
A senhora viu o Zeppelin?
Vi! O
Zeppelin parou bem na direção do “Escadão” O Jean Nicolau deu ordem para fechar
a firma e todo mundo saiu, dava a impressão de que o Zeppelin estava bem em
cima da gente.
Era grande?
Enorme! Parecia
ter sido feito de alumínio. O sol batia ele até brilhava. Ficamos uns quinze
minutos olhando, tiramos fotografia.
Dava para ver se tinha
alguém dentro?
Isso não
dava para ver, nem sabíamos se tinha passageiros. Nós estamos conversando,
parece que estou vendo-o. Foi uma cena marcante.
A senhora morou na
Europa?
Fiquei quase
três anos morando em uma aldeia próxima a Macedo de Cavaleiros, uma das
lembranças é quando falecia algum parente os homens ficavam sem fazer a barba
até a missa de sétimo dia. Minha mãe tinha dois ou três anos quando o pai dela
morreu, minha avó Maria Clara, criou dez filhos, sem marido, que se chamava
Manoel. Ela morava em uma casa boa, naquele lugar era a segunda melhor casa.
Essa casa ainda existe. Quando alguém vai para lá forneço o endereço para que
visitem. Entrando na aldeia aonde a minha mãe nasceu, a última casa da rua, lá
se chama eira, onde se bate o feijão, aqui é terreiro. No fim da eira a casa da
minha avó é a última casa do lado direito, do lado esquerdo é a igreja.
Que idade a senhora
tinha quando morou em Portugal?
Tinha uns 14
anos. Quando estávamos lá houve uma crise financeira, meu ai disse à minha mãe:
“Vamos embora senão aqui vamos perder tudo”. Quando chegamos em Lisboa para vir
para cá, dois navios faziam muitas viagens: Astúrias e Netuno. Chegando ao
Brasil, a loja onde o meu era o proprietário, ele foi trabalhar como empregado.
Trabalhou uns quatro ou cinco anos, aí que ele abriu a segunda casa de móveis.
Quando a senhora veio
morar no Lar dos Velhinhos de Piracicaba?
Dia 20 de
agosto de 2018 completo três anos de moradia no Lar. Minha neta já morava aqui,
estudou na Esalq, conheceu o marido na Esalq, ela falava que achava aqui muito
bonito, Nós queríamos ver. Gosto daqui, só que morei 97 anos em São Paulo!
Morava perto do centro da cidade. Se eu visse no jornal: “Ensina-se isso aqui
grátis”. Amanhã eu já estava lá. Sempre fui muito ativa. Na Rua Rocha, quando
mudei de lá, só em um quarteirão tinha treze prédios. O prédio Edifício Henrique Cunha Bueno é
um prédio muito bonito, foi feito em um morro, não sei como fizeram. Batiam
estacas, nem dormíamos a noite. A Rua Rocha era plana, atrás tinha um morro
quase esquina com a Manoel Dutra. Ali havia um riozinho, encheram aquele morro,
plainaram o terreno. Batendo estacas dia e noite. De um lado da Rua Rocha havia
muitas mulheres que eram lavadeiras, muitas mulheres criaram os filhos lavando
roupas para gente rica. Do lado de lá era o Clube Lusitana.
E a Igreja Nossa
Senhora Achiropita?
Um grande
artista iniciou uma pintura da imagem de Maria. Ocorria, no entanto, que tudo o
que pintava durante o dia, desaparecia durante a noite. Assim, colocaram um
vigilante para impedir a entrada de intrusos, que estivessem danificando a
pintura. Numa certa noite, uma formosa mulher, com uma criança no colo, pediu
para entrar e rezar. Após insistir, obteve a permissão. Passaram longos minutos
e a mulher nada de sair da igreja. Quando o vigilante entrou na igreja, viu a
imagem da mulher e do menino estampada no lugar da pintura. Assim, Maria
Achiropita: a-kirós-pita (não pintada por mãos humanas). O vigilante saiu
gritando pelas ruas: Nossa Senhora Achiropita! No Brasil, só existe uma igreja
dedicada a Nossa Senhora Achiropita que se encontra no bairro da Bela Vista.
Dia 15 de agosto é dia de Nossa Senhora Achiropita, na Rua Conselheiro Carrão o
mês de agosto inteiro aquelas senhoras italianas se vestem com traje regional,
o mês inteiro o serviço delas é fazer comida, bolo, salgadinhos. É uma
quermesse, quem fica nas barraquinhas são voluntários. Ali a minha mãe deixava
ir, os padres faziam cinema lá. Era bem organizado. Na Imaculada eu ia por
causa dos filhos, o Alberto já tocava, era muito querido.
A
senhora tem muito bom humor!
Eu não
sou daquelas velhas ranzinzas, posso não gostar de uma coisa, não brigo com
ninguém, aceito tudo.
Como
é completar 100 anos, lúcida, com a saúde perfeita?
Me sinto
normal! Faço crochê com duas e com quatro agulhas, esta peça que estou fazendo
é dos velhinhos em tricô. Manta que faço de resto de lã. Faço fisioterapia,
levanto a perna formando 90 graus.
E a alimentação da
senhora como é?
Como de
tudo, menos duas coisas: carne seca e miolo. Seja doce ou salgado, não sou de
comer prato de pedreiro. Todos os dias como frutas, levanto tomo café, quem
levanta primeiro faz o café, ou eu ou o Alberto, como um pãozinho com manteiga
ou queijo, uma xicara de café com leite, entre o café da manhã e o almoço gosto
de comer uma fruta. Almoço, as vezes vou deitar um pouco. Entre o almoço e o
jantar geralmente eu como alguma coisa. Senão as seis ou sete horas tomo um
café com leite, o Alberto prepara umas torradas. Tenho até uma tábua muito bem
feita, meu neto me comprou, é uma almofada, em cima da almofada é uma mesa. As
vezes o Alberto vai buscar um prato de sopa no refeitório do Lar. Deito as onze
horas, meia-noite. Não tomo absolutamente nada além de muita água, estou sempre
tomando um golinho de água, com isso bebo bastante água. Gosto de sopa, não sou
gulosa, posso até gostar de alguma coisa, mas se achar que não irá me fazer
bem, eu não como. Minha mãe me ensinou: nunca sair da mesa desabotoando o
cinto. Saia da mesa que se precisar comer mais, cabe.
E a que horas a senhora
acorda?
Ai são
outros quinhentos! Nem eu nem ele temos horário para acordar. Já acordamos cedo
por muito tempo! Trabalhei quatro anos em uma firma na Rua Augusta, eu entrava
as seis horas da manhã. Nessa ocasião minha mãe estava doente, estava em
Santos, é um lugar maravilhoso para quem tem reumatismo, por causa da água que
contém iodo. Ela sofria muito com o reumatismo, ia sempre para Santos,
inclusive tínhamos família lá. Eu entrava as seis horas, meu pai com o salão de
barbeiro, meu irmão era relojoeiro no Largo do Tesouro. As 5:40 eu já saia de
casa. Não tinha hora de almoço, saia as duas horas da tarde, eram oito horas
corridas, a gente levava um lanche, trabalhando e comendo um lanche. As duas
horas da tarde saía, vinha, meu pai pegava comida na pensão, quando eu chegava
as duas e meia em casa a primeira coisa que eu fazia era esquentar aquela
comida que o meu pai deixava. Almoçava e já começava a passar roupa, o salão do
meu pai era muito conhecido porque lavávamos todas as toalhas com sabão e
passava. Meu pai usava uma vez só a toalha, já ia para lavar. Eu já começava a
lavar as toalhas. Começava a fazer o jantar para mim e para o meu pai, o meu
irmão jantava na cidade. Meu pai vinha do salão com aquele monte de toalhas,
naquela época não havia sabão em pó, só tínhamos o sabão Lux, que usávamos para
lavar lingerie. Fervíamos água com sabão, colocava as toalhas naquela água
quente, deixava. De manhã levantava as cinco horas, meu pai também levantava,
ia perto do tanque, ele era muito carinhoso, eu lavava as toalhas, ele
estendia. Quando chegava as duas horas da tarde estava tudo sequinho. Todos os
dias fazia isso, Eu devia ter dezessete anos nessa época. As vezes ia ao Cine
Rex, situado na Rua Rui Barbosa com Conselheiro Carrão. As vezes a indústria
pedia para fazermos hora extra. Quando chegava à noite meu pai dizia: “Alice,
vocês trabalharam o dia inteiro, vai chamar a Sofia, vão ao cinema!” O cinema
acabava as 9 horas às 10 horas da noite você não via nenhuma moça na rua. A
moça que frequentasse salão de baile naquele tempo era falada. Eu gostava de
dançar valsa, bolero. Minha amiga que morava em frente ao Lusitana, esquina da
Rua Treze de Maio com a Rua Manoel Dutra, era um salão de baile. Minha mãe ia
comigo na casa da minha amiga. Minha mãe ficava lá dentro conversando, eu e a
minha amiga ficávamos na janela, olhando os outros do outro lado da ria
dançando! Meu irmão tocava todos instrumentos de corda e o meu pai tocava
bandolim. Quando não tinha freguês no salão o meu pai tocava bandolim e meu
irmão violão. A rua ficava animada, o pessoal ia descendo e parando ali para
escutar.
Quantos netos a senhora
tem?
Tenho dois
filhos, cinco netos e duas bisnetas.
A senhora é religiosa?
Sou
católica, rezo o meu terço, ganhei terço do Vaticano. Rezo, de manhã quando
levanto: “Vamos agradecer o sono que Deus nos deu, não só a mim, mas a todos da
minha família e a todos que me cercam”. Vamos deitar? Agradeça tudo que Deus te
deu durante o dia. Está nervosa? Fica calma! Rezar faz bem para a alma! Aquele
terço, uma Ave Maria, uma prece, acalma. Não sou raivosa, não tenho raiva de
ninguém, se me fazem um mal qualquer, eu sinto, mas não sou vingativa. Seja
carinhoso com as pessoas. Meu pai quando ia ao centro sempre me trazia alguma
coisa: um livro, um presente. Ele fazia isso mesmo depois que eu estava casada.
Ele nunca se esqueceu de mim.