PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 16 de maio de 2018
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 16 de maio de 2018
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADA: DEMARISSE MACHADO GOLDMAN
Demarisse Machado Goldman e Frank
Perry Goldman se conheceram, casaram, são dois cientistas sendo que ele trouxe
para o Brasil a cultura da pesquisa científica social, dedicou sua vida à
pesquisa. Ela ainda na ativa, ela faz o que está ao seu alcance. Como todos os
pioneiros, despertam os mais diversos sentimentos, reservados, avessos a
publicidade, contribuíram e contribuem
muito com suas obras para o desenvolvimento sócio-cultural deste continente
chamado Brasil. Com inúmeras obras publicadas, disseminaram idéias e conceitos
inovadores.
A Congregação das Irmãs de São José
surgiu na França, no século XVII, na cidade de Le Puy , com as seis primeiras
Irmãs: Francisca Eyraud, Claudia Chatel, Margarida Burdier, Ana Chalayer, Ana
Vey e Ana Brun sob a orientação do Pe. João Pedro Médaille e do Bispo Dom
Henrique de Maupas. Foi fundada no dia 15 de outubro de 1.650,e espalhou-se
pelo mundo com a missão do “exercício da obras de salvação e perfeição da
misericórdia espiritual e corporal” por intermédio dos trabalhos em hospitais,
direção da casa de órfãs, visita aos pobres e aos doentes e mesmo na instrução
de moças, em plena Revolução Francesa. Um pequeno grupo da Congregação de São
José de Lyon foi enviado em missão à cidade de Chambéry. Tempos depois cresceu,
e tornou-se independente, dando início à Congregação Internacional das Irmãs de
São José de Chambéry. Dessa cidade, outro grupo foi enviado ao Brasil, em 1858,
para a cidade de Itu (SP), com a finalidade de promover a educação feminina.
Posteriormente expandiu suas ações em outras cidades do estado de São Paulo,
nas áreas social, da saúde e da educação. Eram 7 Irmãs, mas uma veio a falecer
sendo sepultada no mar. Na segunda viagem, em 1859, chega Irmã Madre Maria
Teodora Voiron, que com apenas 24 anos de idade fica responsável pela missão das
Irmãs no Brasil, exercendo seu cargo por 60 anos. Muito humana, Madre Maria
Teodora enfrentou barreiras e preconceitos da sociedade, numa época em que
reinava a escravidão negra no Brasil. Junto ao Colégio Nossa Senhora do Patrocínio,
ela ousou abrir a primeira escola para meninas negras, filhas de escravas. O
Colégio Santana teve seu início em 18/12/1892, na Av. Angélica, com cinqüenta
pensionistas e nove órfãs. Sua diretora era a Irmã Maria Virgínia Faraldi, da
Congregação das Irmãs de São José de Chambéry. Em 2009 foi comemorado o
sesquicentenário da chegada de Madre Maria Teodora Voiron no Brasil, a 1ª
Provincial das Irmãs de São José de Chambéry. Em 1894, o Colégio, cujo nome era
Sagrado Coração de Maria, foi transferido para o bairro de Santana, no alto da
colina, passando a chamar-se “COLÉGIO SANTANA” para se diferenciar da
Congregação Sagrado Coração de Maria, que abrira um colégio com este nome na
cidade de São Paulo. Por muito tempo, a Capela Santa Cruz e
o Colégio Santana foram pontos de referência em documentos oficiais da cidade.
Este Colégio, junto com o Observatório Astronômico de Santana, são considerados
marcos culturais do bairro. A partir de 1893, o Padre Roberto Landell de Moura
fazia várias experiências, testando seu aparelho que denominou Telefone Sem Fio
(pois já existia o telefone com fio). Nesta época contava com a colaboração de
uma Irmã da Congregação de São José de Chambéry, que havia chegado da França e
tinha conhecimentos das pesquisas relacionadas. Assim o Colégio Santana entra
para a história das telecomunicações do Brasil e do mundo, pois no solo desta
escola foram feitas as “primeiras experiências de transmissão de voz humana,
sem auxílio de fios, que se tem notícia na história mundial das
telecomunicações.”(Em Piracicaba há uma herma com um busto do Padre Landell de
Moura, na rotatória da Avenida Independência com a Avenida 31 de Março.
(Segundo historiadores, Landell de Moura é o inventor do rádio, sendo que o
italiano Marconi recebeu o mérito). As Irmãs do Colégio Santana
mobilizaram-se para a instalação da 1ª linha telefônica no bairro, conseguindo
que, em 16/03/1912, que a Companhia Telefônica instalasse o 1º aparelho da
região, com ligação direta para a cidade em seu prédio. Demarisse Machado Goldman nasceu
a primeiro de outubro, na cidade de Santa Cruz das Palmeiras, filha de João
Aranha Machado e Ana Eufrosina Aranha Machado, tiveram quatro filhos: Luis,
Laura, José e Demarisse. Seu pai era proprietário de fazenda, falecendo quando
Demarisse ainda era criança. Sua mãe casou-se em segundas núpcias com José
Marolo.
De Santa Cruz das Palmeiras a família
mudou-se para que cidade?
Moramos por algum tempo em Duartina, depois
mudamos para São Paulo. Eu passei um tempo residindo com meus tios Graciliano
Leme e Laura Leme.
Em qual escola a senhora fez os seus estudos?
Fiz os meus estudos no Colégio
Santana, na Rua Voluntários da Pátria, em São Paulo. Cheguei lá pela primeira
vez em um domingo, subi as escadarias de mármore branquinho. Quando entrava em
férias viajava pela Estrada de Ferro Companhia Paulista e pela Estrada de Ferro
Sorocabana também. Eu não viajava muito, estava quase sempre interna. O
uniforme era composto por sai azul marinho, pregueada, blusa branca todos os
dias, havia a blusa para dia festivo, ou de saída. Era um uniforme todo
bordado, muito bonito. Usavam-se meias brancas, com sapatos pretos. Por muito
tempo estudei e toquei piano.
A que horas da manhã levantavam?
Assistia a missa todos os dias,
as 5:45. Tomava café, as 10:00 horas saia para o pátio interno para dar uma
voltinha e já voltava para estudar. Naquela época a região era formada por
chácaras. Estudei todo o período escolar no Colégio Santana, depois fiz a
Escola Normal na atual Escola
Estadual “Padre Anchieta”, antiga Escola Normal “Padre Anchieta”, localizada na
capital paulista, no bairro do Brás. Ia para a escola de bonde.
Era um colégio comandado por freiras?
A convite do
governo brasileiro, com o apoio dos grandes proprietários de terras, as Irmãs
de São José para estabelecerem-se no Brasil.
A senhora chegou a
tomar chá no Salão de Chá do Mappin Stores da Praça Ramos?
Quando estudante no Colégio
Santana, cantei no Teatro Municipal de São Paulo. Comecei a namorar o meu
marido Frank Perry Goldman no Mappin! Meu marido deu a vida dele pelo Brasil! Ele
queria conhecer o Brasil, começou a estudar na Universidade da Virginia (EUA),
o diretor dele na universidade não queria que ele saísse de lá, ele começou a
escrever para o Brasil, em português, enfim, ele veio para o Brasil, a
principio para São Paulo. Veio para a Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Ele já
veio falando português, a primeira vez conversamos no Mappin Stores, ele tinha chegado ao Brasil fazia pouco tempo, perguntei-lhe: E
já fala português?” Ele respondeu-me: “Eu me defendo!” Achei interessante.
Casamos a 8 de dezembro de 1954. Em 1945 não existia a USP, não existia nada
disso. Ele queria trabalhar com esse pessoal, principalmente ensinar pesquisa.
A pesquisa desde aquele tempo era com Perry Goldman. Não existiu uma pessoa que
dedicou tanto a vida à pesquisa. É um fato reconhecido em muitas localidades
onde esteve presente. O livro “Big Metrópole, América Do Sul” é
um estudo de uma metrópole que consta entre as maiores da América do Sul. O
processo de desenvolvimento rápido da urbanização, industrialização e
comunicação moderna originou o estudo feito por Frank Perry Goldman sobre a
cidade de São Paulo. Dr. Frank Perry Goldman utilizou em sua tese de doutorado
“A imigração norte-americana para o
Brasil após a Guerra Civil” defendida em 12/05/1961teve
como orientador Sérgio Buarque de Holanda. Anualmente é realizado o Ciclo de Palestras de Gerontologia “Professor Dr.
Frank Perry Goldman”, na Unesp em Rio Claro.
A senhora lecionou no
Colégio Santana?
Ainda muito jovem fui
convidada pelas irmãs para lecionar lá. Muitos anos depois, representei o
Brasil na Assembléia Mundial do Envelhecimento, Frank representou a Europa
nesse evento, em 1982.
A senhora mudou-se de
São Paulo para o interior?
Sempre morei um pouco
em São Paulo e um pouco no interior.
Em que ano a senhora aposentou-se?
Tenho a impressão de que não me
aposentei até agora! Continuo trabalhando! Gosto de escrever, de participar. Não
gosto de publicar.
Quantos livros a senhora já escreveu?
Não sei quantos, nunca parei de
escrever, tenho um bom número deles. (Nesse momento vejo um dos seus últimos
lançamentos, com capa de muito bom gosto cujo nome é: “Um tributo à amizade”,
bilíngüe (português/inglês). Para minha surpresa, sobre a mesa o famoso livro
de Frank Perry Goldman “BIG METRÓPOLE, América do Sul”, também com uma capa de
excelente expressão).
A senhora tem fluência em português e inglês?
Tenho! Lecionei inglês. Fiz
pedagogia aqui em Piracicaba, na ESALQ. Ia fazer o mestrado, cheguei a fazer
oito matérias, só que nessa época meu marido adoeceu, nós sempre escrevemos
juntos. Gosto de lecionar, na UNESP mesmo vamos fazer o lançamento de um livro,
gosto muito de ler em inglês.
A senhora dirigia veículos?
Dirigia, meu marido tinha o carro
dele e o meu primeiro carro foi um Fusca , ano 1960, azul. Tenho carteira de
motorista americana também. Morei dois anos em Santa Bárbara, Califórnia.
Como foi a sua vida nos Estados Unidos?
Maravilhosa! Escrevi um livro sobre
a minha sogra. Ela e o marido tiveram uma participação ativa durante a Segunda
Guerra Mundial. Tive a oportunidade de estudar em Miami, Califórnia. Nos
Estados Unidos tive uma vida tranqüila, dirigia carro normalmente. Nem eu nem o
meu marido temos dupla cidadania. A UNESCO convidou-nos para ir até a França.
Qual é a diferença que a senhora sente dos
dias atuais e do passado?
Eu aceito o que me é oferecido.
Assim como enfrentei a Assembléia Mundial do Envelhecimento posso participar de
qualquer lugar. Visitei o Papa, visitei o Oriente, visitei onde pude.
Como a senhora vê o futuro do Brasil?
Acho que o Brasil está um pouco
confuso. A Itália decide e sabe o que quer. Os Estados Unidos decide e sabe o
que quer. E nós?
Falta educação?
Também falta emprego. As
Universidades do interior é que estão segurando a situação.
Qual é a mensagem que a senhora dá aos
jovens?
Acho que eles devem obter as
melhores informações, sem informação, sem sabedoria ninguém faz nada. Só fica
copiando tudo.
A senhora assiste televisão?
Assisto, mas prefiro ler, na
televisão temos muitos extremos, alguns difíceis de aceitar.
A seu ver, há a necessidade do povo
brasileiro refletir mais sobre si mesmo?
As pessoas com quem tenho contato
estão estudando, procuram melhorar, achei que a UNESP de Rio Claro, por
influência do meu marido é muito importante. Frank foi muito bem,
principalmente porque ele começou a lecionar pesquisa. Aqui o que precisava,
segundo ele, é pesquisa. E foi isso que foi feito.
Com a espiritualidade e experiência de vida,
além do grande conhecimento científico, a senhora chegou a conclusão sobre a
nossa existência?
Isso não é muito fácil de
responder! Podemos ver que nós todos
temos a mesma base, e dessa base podemos melhorar ou piorar. Do começo ao fim. Gosto
de sentir o que vem de bom de dentro de outras pessoas.
2 comentários:
Trabalho fantástico! Parabéns.
Não conheci a Sra. Demarisse. Meu interesse por seu artigo foi com o objetivo de obter alguma informação sobre o Professor Dr. Frank Perry Goldman, que tive o privilégio de conhecer. Isso em Rio Claro, SP, na condição de funcionário da então Faculdade de Filosofia, Ciencias e Letras de Rio Claro. Creio que ele já tenha falecido, mas fiquei surpreso de saber que sua esposa ainda está viva. Grato alguma informação complementar.
Referente ao comentário acima:
ideonor.novaes@yahoo.com
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